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Cristocentrismo eucarístico II

O autor reflecte e propõe uma série de noções com o objetivo de convidar a uma maior aproximação à Eucaristia.

Emilio Liaño-18 de junho de 2023-Tempo de leitura: 6 acta
eucaristia

Este artigo dá seguimento a um artigo publicado com o título "Eucaristia: o encontro pessoal com Cristo". A verdade é que, embora o título esteja correto, não era o inicialmente proposto, que era "Cristocentrismo Eucarístico", como se intitula o presente artigo. Por isso decidi escrever um segundo artigo que retomasse a noção do seu título para insistir um pouco mais nestas ideias.

No primeiro texto já foi dito que tanto o Cristocentrismo como a Eucaristia não são temas novos na Igreja e que ambos têm recebido muita atenção por parte de teólogos e pastores. No entanto, não costumam ser tratados em conjunto, o que me parece ser útil para uma melhor compreensão de ambos.

Gostaria também de recordar que algo que esteve na origem destes artigos foi a escassa presença dos cristãos nos templos fora das celebrações litúrgicas ou de outras práticas pastorais comunitárias. Não quero com isto dizer que a presença nestes eventos seja errada, ou que não devam ser convocados, mas que, para além deles, é necessário um acompanhamento mais regular de Deus na Eucaristia, que ficou ali para estar connosco.

Nesta linha, estas duas noções são novamente sublinhadas para nos convidar a uma maior aproximação à Eucaristia. As reflexões serão breves, porque não se trata de as sustentar com grandes argumentos, mas apenas através de apelos, que é basicamente o que Cristo faz quando nos procura.

1. cristocentrismo

O cristocentrismo, como vimos no artigo anterior, tem como objetivo colocar a pessoa de Cristo no centro da religião cristã. Mas será que pode ser de outra forma? Claro que sim.

Uma forma relativamente fácil de compreender o cristianismo é através das acções dos seus seguidores. Por exemplo, o cristianismo é a religião em que se tem de ir à missa, porque é aí que se celebra a morte do Homem-Deus e onde ele obteve a salvação de todo o género humano. A isto poderíamos acrescentar muitas outras acções que podem ter mais ou menos importância.

Outra forma de compreender o cristianismo poderia ser através do decálogo que vincula os cristãos. Os cristãos identificar-se-iam então por obedecerem aos mandamentos dados por Deus. Tudo isto é compreensível porque, quando alguém de boa vontade entra em contacto com o cristianismo, pergunta frequentemente o que é preciso para ser cristão. Espera-se então uma resposta normativa.

No entanto, quando se pergunta o que está no cerne do cristianismo, olhando para o Novo Testamento, a resposta curta é acreditar no evangelho. E o que é que há para acreditar? Que Cristo, o homem que deu a sua vida por nós, é Deus. O cristocentrismo tenta colocar esta realidade no centro da nossa religião, colocando ordem sobre outras questões que podem ter a sua relevância, mas que devem sempre ficar em segundo plano em relação a esta verdade mais central.

A religião cristã é a esperança na vinda de um messias salvador que traz o perdão e a alegria. A fé diz-nos que este messias morreu e ressuscitou para nunca mais morrer. Portanto, Cristo vive e, se uma vez deu a sua vida por nós, não podemos agora pensar que ele é indiferente às nossas vidas. Cristo vive e quer estar connosco, ao nosso lado. Agora não há nada que o impeça de o fazer, exceto a nossa vontade.

Infelizmente, podemos pensar que Cristo espera algo de nós, mas não sabemos que o que ele espera somos nós próprios. Cristo tem uma vontade e um entendimento, uma língua para falar e um coração que deseja muitas coisas, incluindo as nossas. É uma falta de fé pensar que Cristo não pode comunicar connosco, e mais ainda pensar que não o faz. Isso é falso porque Cristo não abandona nenhuma das Suas criaturas pelas quais deu o Seu sangue.

Talvez seja verdade que, nos nossos dias, seja mais difícil descobrir onde está Jesus. Trata-se de uma barreira provavelmente muito difundida e que nos pode parecer imponente, mas que não devemos temer de forma alguma, porque a ultrapassamos assim que nos colocamos na presença de Deus, dirigindo-nos diretamente a ele. Mas eu não sinto nada? Talvez não haja nada a sentir. Se julgarmos a nossa relação com Deus a partir dos nossos sentimentos, é bem possível que ela seja um pouco deficiente, porque compreenderá muitas coisas a partir do sítio errado. Cristo não procura preencher os nossos sentimentos, mas chegar ao nosso coração, ou, por outras palavras, que nós cheguemos ao seu coração.

Avançar nesta direção ajuda a reconstruir a nossa relação com Deus. Para irmos ao encontro de Deus, precisamos da sua graça, que significa em si mesma ser agradável aos olhos de Deus. A Virgem Maria é cheia de graça. E essa graça só nos pode ser dada por Deus. Cristo não nos pede que sejamos capazes de ir ter com Ele, nem que tenhamos a força ou mesmo o desejo de ir ter com Ele. Pede-nos simplesmente que vamos a Ele com sinceridade, de coração, porque Ele faz o resto.

Talvez façamos um esforço num dia, ou em vários dias, e depois pensemos que mais tarde deve ser mais fácil, porque já fomos generosos durante mais ou menos tempo. Este tipo de pensamento acaba por se desvanecer, porque Cristo quer que nos aproximemos dele uma e outra vez, e que deixemos tudo o resto no seu coração. Não estou a dizer que ir ao coração de Cristo seja fácil, mas é um lugar aberto e acolhedor, desde que nos aproximemos dele. O coração de Cristo só se fecha quando desistimos, e só enquanto o deixarmos abandonado. O facto de este caminhar para Cristo não ser fácil diz-nos também que devemos caminhar para Ele pouco a pouco, de acordo com as nossas forças. Cristo não tem pressa porque tem toda a nossa vida à nossa frente. Pede-nos apenas que nos aproximemos dele com a intenção de o encontrar pessoalmente, de procurar o seu rosto.

2. Eucarística

O segundo termo é eucarístico. Quando descobrimos que Cristo tem um coração que nos ama, perguntamo-nos onde o podemos encontrar e a resposta é na Eucaristia.

Não podemos esquecer que Deus pode ser abordado em todo o lado, e Jesus também. É claro que não precisamos de nenhuma circunstância especial ou de um lugar específico para nos dirigirmos a Deus, mas Jesus quis permanecer com a humanidade até ao fim dos tempos, e fê-lo numa presença material na Eucaristia.

Jesus está nos tabernáculos à espera que cheguemos, não para ver passar o tempo. Jesus na Eucaristia quer que o encontremos. Quando alguém entra numa igreja, Ele deseja que olhemos para Ele, que Lhe digamos alguma coisa. Pode acontecer que muitas vezes passemos indiferentes, como se o sacrário fosse apenas mais uma pedra no templo, mas isso não deixa o Seu coração indiferente. Jesus, o grande amante, permaneceu materialmente na terra para que sentíssemos o seu amor. Na verdade, ninguém pode dizer que hoje Deus se esqueceu da humanidade, porque isso significa apenas que não compreendeu o que é a Eucaristia.

Por outro lado, a Eucaristia é o grande remédio para todas as nossas necessidades. Se sentimos que estamos tristes, ou que a vida não nos está a correr bem, ou tantas coisas que nos podem fazer sofrer, a nossa solução é ir ao Tabernáculo. O Tabernáculo vem realizar um grande desejo de Jesus de estar connosco, e vem também resolver todas as nossas necessidades, físicas, morais, pessoais, familiares, profissionais, etc. O Tabernáculo é o melhor lugar para estar, porque é onde Deus se dá a nós de forma plena, segundo a sua vontade.

Talvez notemos que a ida ao Tabernáculo é dispendiosa, o que não nos deve surpreender, porque temos vindo a deixar que a indiferença perante esta realidade divina se insinue cada vez mais. Por isso, por vezes, podemos aproximar-nos do Tabernáculo e sentir vontade de sair da Sua presença, ou pensar em coisas que nada têm a ver com Ele, distraindo a nossa mente. Como dissemos antes, precisamos de saber que Ele só nos pede que entremos na Sua presença e nos voltemos para Ele. O resto deixamos nas Suas mãos. Só temos de perseverar nessa intenção e rectificá-la quando a virmos a correr mal.

O tabernáculo não deve ser reduzido a um lugar onde se vai rezar. Isso pode ser bom, mas é insuficiente. O tabernáculo é o lugar onde nos dirigimos a Deus, onde o invocamos para aceder à sua Presença. A partir do cristocentrismo, a Eucaristia é o lugar onde podemos descobrir o rosto do Homem-Deus. Na Eucaristia, Jesus quer uma verdadeira relação de intimidade connosco, e não simplesmente que passemos o tempo rezando algumas orações. Temos de saber que para descobrir o rosto de Jesus, ou para sermos íntimos dele, é preciso ir uma e outra vez com o espírito de encontro com ele.

Quando vamos ao Tabernáculo com o desejo sincero de nos aproximarmos d'Ele, Jesus muda o nosso coração, mas pouco a pouco, de acordo com o Seu tempo, e não de acordo com o que pensamos ter feito, devido ao esforço que fizemos. Não é uma boa prática exigir algo a Deus, porque é Ele que sabe realmente do que precisamos. Facilmente nos deixamos enganar por tantas ninharias, porque somos muito ignorantes sobre as coisas de Deus. Temos de ir ao Tabernáculo com a intenção de dar, sem querer receber nada em troca, senão encontramos logo demasiadas razões para nos irmos embora, entre as quais o mal-estar que nos invade. No entanto, e isto está ao alcance de todos, ir ao Tabernáculo com o único objetivo de Lhe agradar muda a nossa vida.

3. Conclusões

A conclusão deste artigo é simples. Tem apenas o objetivo de nos encorajar a não deixar Jesus encurralado nas igrejas. Basta ir o mais que pudermos, melhor se for todos os dias, enquanto a nossa generosidade e as nossas forças o permitirem.

Não se trata de passar muitas horas por dia, mas de passar o máximo de tempo possível com aquele que sabemos que nos ama e que nos quer ao seu lado.

O autorEmilio Liaño

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