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Eucaristia: o encontro pessoal com Cristo

Cristo está agora fisicamente presente na Eucaristia, não apenas na celebração da Missa, mas para além dela. Se o encontro com Cristo a pessoa é central para a fé cristã, pode-se perguntar porquê, durante a maior parte do dia, as igrejas estão completamente vazias.

Emilio Liaño-26 de Maio de 2022-Tempo de leitura: 5 acta
Eucaristia

Foto: Um padre dá a bênção na Igreja Nossa Senhora do Bom Conselho em Nova Iorque ©CNS foto/Brendan McDermid, Reuters

Tradução do artigo para italiano

Neste artigo propomos uma reflexão sobre o cristocentrismo eucarístico, em continuidade com o cristocentrismo defendido por autores como Ratzinger, segundo os quais: "Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas por um encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, portanto, uma orientação decisiva" (Bento XVI, Deus Caritas Est, n. 1).

Em resumo, pode dizer-se que o cristocentrismo é uma visão em que o cristianismo se afirma como uma religião de encontro com uma pessoa e não como uma religião de fazer ou agir. O que é central para o cristianismo é o encontro pessoal na fé com o Deus que se torna homem.

Não se pode dizer que esta questão seja uma novidade absoluta, uma vez que a ênfase eucarística da abordagem cristocêntrica vai na mesma direcção que a Igreja sempre ensinou. Neste sentido, não é muito original porque a Igreja tem sublinhado insistentemente o valor central da Eucaristia.

Contudo, neste momento parece apropriado promover um novo esforço para aproximar as pessoas de Jesus Cristo e, especialmente, no Eucaristia.

O ponto de partida: uma ocorrência comum

Antes de mais, é de salientar que o cristocentrismo eucarístico não é o fruto de uma análise teórica. Uma visão puramente reflexiva da questão não nos permite compreendê-la na sua verdadeira dimensão. É agora uma experiência comum que as igrejas estão vazias em tantos lugares, pelo menos em alguns países mais desenvolvidos economicamente e onde tem havido uma forte tradição católica.

Não se trata de olhar para o declínio do número de fiéis na Missa, que é acompanhado pela presença regular de tantos outros que vêem a Missa como o acto central da sua relação com Deus, e isso em si mesmo é muito positivo.

O problema não está na Massa, mas fora dela.

Infelizmente é uma experiência frequente que nas igrejas, fora das celebrações litúrgicas, não há praticamente ninguém presente. Esta escassez de pessoas tem significado que as igrejas não são lugares muito seguros e por vezes é melhor que estejam fechadas para evitar maiores danos.

Este facto deveria dar-nos uma pausa para reflectir, pois pode ter consequências importantes.

Se as igrejas fossem apenas templos que preservassem uma série de objectos de culto, ou objectos artísticos, o vazio das igrejas não teria muita relevância.

Contudo, para além de todos os objectos que se podem encontrar nas igrejas, guardam também a presença de Cristo na Eucaristia.

A Eucaristia não é apenas mais uma coisa num templo como uma estátua ou um quadro. A Eucaristia é o centro do templo e a sua causa. Há templos para celebrar a Eucaristia e para que a Eucaristia seja reservada para o culto aos homens.

Encontro pessoal com a Eucaristia

Quando Cristo pôs os pés na terra há cerca de dois mil anos, pediu às pessoas para O ouvirem e para depositarem a sua confiança Nele. Se Cristo viesse hoje à terra como homem, como o homem que habitava uma parte deste mundo, teríamos a obrigação de ir ao Seu encontro.

Ou seja, para aqueles que têm fé de que Cristo é Deus, a sua presença terrena deveria ser um apelo convincente a vê-lo em carne e osso, com o seu olhar, as suas palavras, gestos, etc.

Bem, Cristo está agora fisicamente presente na Eucaristia, à nossa espera tão ansiosamente como quando ele viveu na terra.

Christocentrismo, portanto, afirma a necessidade de encontrar o Cristo-Deus, porque é essa Pessoa que define a essência da religião.

Agora, além disso, acrescentamos que o encontro com Cristo-Deus deve ter lugar na Eucaristia, e não apenas na celebração da Missa.

Na Eucaristia temos a certeza de que Ele encontra verdadeiramente a Sua humanidade e a Sua divindade.

Se Cristo permaneceu na Eucaristia, é porque Ele quer estar connosco. É por isso que não devemos ficar indiferentes quando as nossas igrejas estão vazias fora dos acontecimentos litúrgicos; é um sinal de que Cristo-Eucarista tem pouco valor para nós. Talvez a nossa fé tenha arrefecido e só acreditamos, com fé efectiva, na presença de Cristo no sacrifício da Missa, mas não no que está implícito pela sua presença real constante no Tabernáculo.

Acompanhamento de Jesus-Eucaristo

Deve ficar claro que quando se fala em acompanhar Jesus na Eucaristia não se refere à necessidade de ter mais actos de adoração, exposições com o Santíssimo Sacramento, etc., que são coisas muito boas, mas não são aquilo a que este artigo se refere.

Nem a solidão dos tabernáculos é resolvida por uns poucos que estão sempre nas igrejas para que nunca fiquem vazias. Este não é o caminho a seguir.

Pelo contrário, trata-se da necessidade de muitos virem aos tabernáculos das suas igrejas porque é Jesus que os espera com paciência sem limites. Pode dizer-se que a obrigação pertence a toda a comunidade crente. Aqueles que pensam que estão excluídos deste dever já demonstram que têm pouca fé na Eucaristia.

Cristo permaneceu na Eucaristia para que nós viéssemos até Ele. E o que devemos fazer antes da Eucaristia? Primeiro, simplesmente estar lá; segundo, falar com Ele; e terceiro, ouvi-Lo.

Cristo, que é um Deus dos vivos e não dos mortos, está vivo com a capacidade de nos ouvir e de falar connosco. Podemos falar com Jesus em todo o lado? Claro, mas temos de o fazer de preferência onde Jesus prefere, ou seja, onde ele ficou.

Claro que podemos falar com um ente querido ao telefone, mas não denotaria amor falar ao telefone em vez de na sua presença física. Pois Cristo prefere falar connosco cara a cara, fisicamente.

E se nos perguntarmos com que frequência devemos estar com Jesus-Eucarista, ou por quanto tempo, quanto tempo? Aqui, logicamente, não existe uma regra fixa: depende das obrigações familiares e sociais, etc., que o próprio Jesus quer que cumpramos.

Em qualquer caso, é aconselhável ir diariamente ao Tabernáculo. A hora? Tudo o que Deus inspira a cada um de nós e tudo o que a nossa generosidade nos dá. Não é necessário passar muitas horas à frente de Jesus no Tabernáculo. Não, é uma questão de estar lá muitas vezes (em muitos dias), de acordo com as nossas circunstâncias e força, a fim de ter um diálogo com o Senhor (em muitos casos, alguns minutos são suficientes).

Na comunhão eucarística há duas dimensões a considerar. A primeira é permanente e tem a ver com a nossa relação pessoal com Jesus. Nesta relação é essencial compreender que Jesus quer estar com cada um de nós e não se importa se O esquecemos num dia ou no dia seguinte.

A segunda dimensão é temporal e está relacionada com o abandono maciço de Jesus na Eucaristia. Deveria ser um incentivo para tentarmos consolar Jesus na sua solidão. E aqui, embora a nossa contribuição pessoal possa parecer insignificante face à indiferença de tantos, devemos pensar que o nosso tratamento o alivia porque Jesus não deseja o amor de muitos, mas o amor de cada um, a começar pelo nosso próprio amor.

Nós, cristãos, estamos enraizados na Igreja, geralmente através das paróquias. Assim, uma tarefa que poderíamos assumir como crentes é a de ver como cuidamos de Jesus Eucarístico que está presente no tabernáculo da nossa paróquia. Estar com Deus, a Eucaristia, é o melhor investimento que podemos fazer do nosso tempo.

Embora se tenha falado de obrigação ou necessidade, nesta tarefa de acompanhar a Eucaristia não há outra obrigação que não seja a do nosso amor. É o amor que está em jogo, não o cumprimento de um dever.

O autorEmilio Liaño

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