Vaticano

Francisco apela a uma "Igreja aberta a todos" na abertura do Sínodo

O Santo Padre traçou esta manhã, em memória de São Francisco de Assis, o perfil da Igreja que deseja, na missa de abertura da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, na Praça de Pedro. Uma "Igreja de portas abertas a todos", que vê a humanidade com misericórdia, que escuta e dialoga, que acolhe, e que "não é rígida, nem morna, nem cansada". O Sínodo "não é um parlamento polarizado, mas um lugar de graça e de comunhão", afirmou.

Francisco Otamendi-4 de outubro de 2023-Tempo de leitura: 5 acta

Os grupos de trabalho do Sínodo reunidos na sala ©CNS photo/Lola Gomez

O Papa Francisco presidiu esta manhã na Praça de São Pedro, acompanhado pelos novos cardeais e pelos membros do Colégio Cardinalício, o Missa de abertura da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na qual ofereceu aos 464 participantes na Sínodo e a todos os fiéis um perfil da Igreja que ele quer nestes tempos, cuja caraterística central deve ser uma "Igreja cujas portas estão abertas a todos, a todos, a todos", repetiu em três ocasiões.

Na homilia do Papa, baseada no olhar misericordioso de Jesus e nas pegadas de S. Francisco de Assis, a quem chamou "testemunha da paz e da fraternidade", destacam-se talvez dois ou três parágrafos em que ele delineia de forma particular a sua visão da Igreja.

"Esta é a questão fundamental. Esta é a tarefa principal do Sínodo", sublinhou num momento central da sua reflexão: "voltar a colocar Deus no centro do nosso olhar, ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia. Uma Igreja unida e fraterna, que escuta e dialoga; uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda aqueles que procuram o Senhor, que sacode saudavelmente os indiferentes, que põe em marcha itinerários para instruir as pessoas na beleza da fé".

Dissipar os "medos

"Uma Igreja que tem Deus no centro e que, por isso, não cria divisões no interior, nem é dura no exterior. É assim que Jesus quer a sua Igreja, a sua Esposa". "O olhar de bênção de Jesus convida-nos a ser uma Igreja que não enfrenta os desafios e os problemas de hoje num espírito de divisão e de conflito, mas que, pelo contrário, volta o seu olhar para Deus que é comunhão e, com admiração e humildade, o abençoa e adora, reconhecendo-o como seu único Senhor". 

Uma ideia que se completa com as suas palavras finais na homilia da Celebração Eucarística: "E se o santo Povo de Deus com os seus pastores, vindos de todo o mundo, alimenta expectativas, esperanças e até alguns receios acerca do Sínodo que estamos a iniciar, recordemos mais uma vez que não se trata de um encontro político, mas de uma convocação no Espírito; não de um parlamento polarizado, mas de um lugar de graça e de comunhão".

"O Espírito Santo desfaz muitas vezes as nossas expectativas para criar algo de novo que ultrapassa as nossas previsões e negatividades. Abramo-nos e invoquemos o Espírito Santo. Ele é o protagonista. E caminhemos com Ele, com confiança e alegria", disse o Romano Pontífice.

Uma Igreja "que se torna um colóquio" (S. Paulo VI)

"O olhar acolhedor de Jesus convida-nos também a ser uma Igreja acolhedora, não uma Igreja de portas fechadas", sublinhou o Papa. "Nos tempos complexos de hoje, surgem novos desafios culturais e pastorais, que exigem uma atitude interior cordial e amiga, para que nos possamos confrontar sem medo. No diálogo sinodal, nesta bela "marcha no Espírito Santo", que realizamos juntos como Povo de Deus, podemos crescer na unidade e na amizade com o Senhor para observar com o seu olhar os desafios actuais; para nos tornarmos, para usar uma bela expressão de São Paulo VI, uma Igreja que "se torna colóquio" (Carta Encíclica Ecclesiam suam, n. 34)". 

Meditando sobre as palavras de Jesus no Evangelho, Francisco acrescentou: "É uma Igreja "de jugo suave" (Mt 11,30), que não impõe fardos e que repete a todos: "Vinde, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, vinde vós que vos perdestes ou que vos sentis longe, vinde vós que fechastes a porta à esperança, a Igreja está aqui para vós, a Igreja das portas abertas a todos, a todos, a todos", reiterou de várias maneiras.

Uma Igreja que não é "nem rígida nem morna".

Os traços da Igreja, segundo Francisco, alertam também para certas tentações que podem surgir. O Papa comentou. "Irmãos e irmãs, Povo santo de Deus, diante das dificuldades e dos desafios que nos esperam, o olhar de Jesus, que abençoa e acolhe, livra-nos de cair em algumas tentações perigosas: a de ser uma Igreja rígida, a de ser rígida contra o mundo e olhar para o passado; a de ser uma Igreja morna, que se rende às modas do mundo; a de ser uma Igreja cansada, voltada para si mesma". 

Nesta altura, referiu-se ao santo da pobreza, São Francisco de AssisSigamos os passos de S. Francisco de Assis, o santo da pobreza e da paz, o "louco de Deus" que trazia no seu corpo as chagas de Jesus e, para se revestir d'Ele, despojou-se de tudo. São Boaventura conta que, enquanto rezava, o Crucifixo lhe disse: "Francisco, vai reparar a minha casa" (Legenda maior, II, 1)". 

Armas do Evangelho: "humildade, unidade, oração, caridade".

"O Sínodo serve para nos recordar que a nossa Mãe Igreja está sempre a precisar de purificação, de ser "reparada", porque somos todos um Povo de pecadores perdoados, sempre a precisar de voltar à fonte, que é Jesus, e de nos pormos de novo a caminho pelas sendas do Espírito para que o seu Evangelho chegue a todos", acrescentou o Santo Padre.

"Francisco de Assis, num período de grandes lutas e divisões entre o poder temporal e o poder religioso, entre a Igreja institucional e as correntes heréticas, entre os cristãos e os outros crentes, não criticou nem atacou ninguém, mas apenas abraçou as armas do Evangelho: a humildade e a unidade, a oração e a caridade. Façamos nós também o mesmo!

"Jesus não é vencido pela tristeza".

Ao traçar este perfil, o Papa inspirou-se em particular numa passagem do Evangelho de São Mateus, para dar ânimo perante a tristeza ou o desânimo. O Evangelho narra "um momento difícil da missão de Jesus, que poderia ser descrito como uma desolação pastoral", disse Francisco. As dúvidas de João Batista, as cidades que não se convertiam, as pessoas que o acusavam de ser comilão e beberrão... No entanto, "Jesus não se deixa vencer pela tristeza, mas levanta os olhos para o céu e bendiz o Pai porque revelou aos simples os mistérios do Reino de Deus".

"Colocar Deus no centro do nosso olhar".

Francisco citou alguns dos seus antecessores. Além de S. Paulo VI, na sua referência a uma Igreja "que se torna colóquio", fê-lo também com S. João XXIII, no seu discurso de abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, a 11 de outubro de 1962, quando sublinhou que "é necessário, antes de mais, que a Igreja não se afaste do sagrado património de verdade recebido dos Padres; mas, ao mesmo tempo, deve olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo atual, que abriram novos caminhos ao apostolado católico".

No início da sua homilia, o Santo Padre referiu-se também a Bento XVI que, dirigindo-se à 13ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2012, disse: "A questão para nós é: Deus falou, quebrou verdadeiramente o grande silêncio, mostrou-se, mas como podemos levar esta realidade aos homens de hoje, para que se torne salvação?

A resposta foi mencionada no início destas linhas, quando Francisco referiu que "a questão fundamental", "a tarefa principal do Sínodo" é "voltar a colocar Deus no centro do nosso olhar, ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia".

O autorFrancisco Otamendi

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