Vaticano

Etiqueta cristã para discípulos digitais

Em 2009, o Papa Bento XVI falou da importância da etiqueta mediática e aconselhou os meios de comunicação social a promoverem "uma cultura de respeito, diálogo e amizade".

Jennifer Elizabeth Terranova-29 de junho de 2023-Tempo de leitura: 4 acta
Meios de comunicação social

(Unsplash / Aman Pal)

O Dicastério para a Comunicação publicou recentemente um documento intitulado ".Rumo à presença plena. Uma reflexão pastoral sobre o envolvimento com as redes sociais("Towards Full Presence. Uma reflexão pastoral sobre o envolvimento nas redes sociais), que oferece conselhos e orientações à comunidade religiosa para navegar nas redes sociais.

O documento foi assinado pelo seu prefeito leigo Paolo Ruffini e pelo seu secretário argentino Monsenhor Lucio A. Ruiz, que incluiu excertos de muitos dos discursos do Papa Francisco nas anteriores Jornadas Mundiais das Comunicações Sociais.

Talvez devêssemos mudar o nome da canção "Life is a Highway" para "Life is a Digital Highway", porque não há volta a dar: estamos a assistir à digitalização da Igreja.

Mas a questão é: como é que nós, como indivíduos e como comunidade de fé, vivemos no mundo digital como "vizinhos amorosos" que estão genuinamente presentes e atentos uns aos outros na nossa viagem partilhada ao longo destas "auto-estradas digitais". Embora tenham sido dados grandes passos na era digital, esta questão ainda não foi abordada.

Novo espaço digital

Desde o seu aparecimento, os redes sociais experimentaram as suas próprias dores de crescimento, e muitos cristãos fiéis estão à procura de "orientação e inspiração" à medida que a cultura digital continua a influenciar as suas trajectórias individuais e colectivas.

As propostas são oportunas, mas não pretendem ser "orientações precisas" para o ministério pastoral neste espaço; o objetivo e a esperança são "promover uma cultura de vizinhança" num espaço onde os desafios são inevitáveis. E a Igreja reconhece que o mundo digital é uma parte significativa da identidade e do modo de vida da maioria das pessoas, pelo que a "questão já não é a de saber se nos devemos envolver com o mundo digital". A questão agora é como é que os seguidores de Cristo se comportam no mundo digital e permanecem fiéis aos ensinamentos de Jesus e... não ao Twitter.

Em 2009, o Papa Bento XVI falou da importância da etiqueta mediática e aconselhou que os meios de comunicação social deveriam promover "uma cultura de respeito, diálogo e amizade". Do mesmo modo, o Papa Francisco compreende que o "espaço" digital em que todos estamos imersos mudou a forma como a humanidade recebe o conhecimento, "difunde a informação e desenvolve relações".

Além disso, a Igreja tem plena consciência de que os meios digitais são, de facto, um instrumento eficaz e "poderoso para o seu ministério". Não houve melhor prova disso do que durante a pandemia de Covid-19, quando o mundo enfrentou a sua praga moderna, e foi nesse espaço digital que os assustados, os solitários, os doentes e os sofredores se reuniram e encontraram refúgio e esperança.

A reflexão colocou aos fiéis questões como as seguintes "Que parte das nossas relações digitais é fruto de uma comunicação profunda e verdadeira, e que parte é apenas moldada por opiniões inquestionáveis e reacções apaixonadas? Que parte da nossa fé encontra expressões digitais vivas e refrescantes? E quem é o meu 'próximo' nas redes sociais?".

Um novo mundo

O texto refere ainda que enquanto alguns nasceram nesta cultura digital, outros, descritos como "imigrantes digitais", ainda se estão a adaptar. Quer se trate de um profissional digital ou de um novato, "online" versus "offline" já não faz parte do vocabulário do discípulo digital, referindo que "a nossa cultura é agora uma cultura digital".

Dado que as redes sociais desempenham um papel fundamental na formação dos nossos valores, crenças, linguagem e pressupostos sobre a vida quotidiana, a reflexão sugere que estejamos conscientes das "armadilhas da autoestrada digital". Por exemplo, as redes sociais podem ser perigosas quando confiamos nelas para nos validar e adoptamos comportamentos incompatíveis com os valores cristãos, pelo que temos de estar conscientes da ética dos círculos digitais em que nos reunimos.

Neste "ecossistema, as pessoas são convidadas a confiar na autenticidade das declarações de missão das empresas de redes sociais", que afirmam aproximar as pessoas e criar espaços saudáveis de partilha de ideias.

No entanto, com demasiada frequência, as empresas estão mais preocupadas com o "lucro". Além disso, as redes sociais "transformaram os utilizadores em consumidores... e os indivíduos são simultaneamente consumidores e mercadorias". Mais frequentemente, muitas pessoas "aceitam por sua conta e risco termos de acordo" que raramente lêem ou compreendem.

O texto recorda-nos que devemos também estar conscientes de outros perigos, como "encorajar comportamentos extremos" num ambiente que pode ser um terreno fértil para a violência, o abuso e a desinformação. E embora o fosso digital seja real e não possa ser ignorado, podemos combater e encontrar soluções para o "descontentamento digital".

O Bom Samaritano online

A reflexão oferece um bom conselho: "Para humanizar os ambientes digitais, não devemos esquecer aqueles que são "deixados para trás". Só podemos ver o que está a acontecer se olharmos na perspetiva do homem ferido na parábola do Bom Samaritano. Tal como na parábola, em que nos é dito o que o ferido viu, a perspetiva dos marginalizados e feridos digitais ajuda-nos a compreender melhor o mundo atual, cada vez mais complexo".

Também recorda aos cristãos que devem ser parte da solução e não do problema. Devemos perguntar-nos: "Como podemos criar experiências em linha mais saudáveis, onde as pessoas possam conversar e ultrapassar desacordos num espírito de escuta mútua?

Acrescenta que temos de ser "ouvintes intencionais". E recorda: "O discípulo que encontrou o olhar misericordioso de Cristo experimentou algo mais. Ele sabe que comunicar bem começa com a escuta e a consciência de que o outro está diante de mim. A escuta e a consciência têm como objetivo favorecer o encontro e ultrapassar os obstáculos existentes, incluindo o da indiferença....".

O documento está repleto de lembretes de que, como cristãos, devemos encarnar as virtudes de Cristo e cuidar do nosso "próximo ferido", e ser a mudança que esperamos encontrar. "E pode ser que, a partir da nossa presença amorosa e genuína nestas esferas digitais da vida humana, se abra um caminho para aquilo que S. João e S. Paulo desejaram nas suas cartas: o encontro face a face de cada pessoa ferida com o Corpo do Senhor, a Igreja, para que, num encontro pessoal, de coração para coração, as suas feridas e as nossas possam ser curadas e "a nossa alegria seja completa" (2 Jo 12).

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