Vamos tentar dar uma resposta a uma pergunta que nós, especialmente os padres, nos devemos colocar: O que devemos saber sobre a actividade extraordinária do diabo? Porque há muita ignorância a esse respeito. A Associação Internacional de Exorcistas (AIE), com sede em Roma, organizou o primeiro curso de formação em Espanha sobre o Ministério do Exorcismo.
Se quisermos apontar algo característico do diabo, poderíamos dizer que ele tem uma grande "virtude": ele é um trabalhador incansável. Ele nunca se cansa, e tem muito cuidado em fazer o seu trabalho conscienciosamente. E como é que o faz? Há uma actividade nele que é mais vulgar e que todos nós sofremos: as tentações, é claro. Mas há outra actividade mais "especializada" e essa é a sua extraordinária acção. Para abordar estas questões, no final de Setembro de 2019, foi realizado o Primeiro Curso de Formação em Espanha sobre o Ministério do Exorcismo.
A realidade misteriosa e a providência divina
Ao abordar esta complexa realidade da extraordinária acção do diabo sobre as pessoas (animais e lugares), abordamos o complexo tema do mal no mundo e no homem.
Não é uma questão tão marginal como poderia parecer. A Sagrada Escritura está cheia daquela misteriosa realidade do mal, do mal, que faz o homem pensar, que tenta encontrar uma explicação para situações adversas. Olhando através dos livros da Bíblia, poderíamos voltar ao sofrimento do povo de Deus na escravatura no Egipto, ao nepotismo de Antioquia III Epifanes a tentar helenizar o povo para o fazer esquecer as suas tradições... ao exemplo mais conhecido da acção directa do diabo: o livro de Job.
A resposta a todas estas perguntas sobre o mal, a sua origem e consequências, é claramente dada por São Paulo na sua carta aos Romanos: é o pecado que introduz o mal no mundo. Mas esta explicação, em contraste com outras concepções religiosas, não implica que o mal seja um princípio ao mesmo nível que o bem. Porque Deus é o Bem supremo, e o mal, explica Agostinho, não é senão a falta do bem. O diabo não é um deus mau, mas um ser angelical, criado por Deus, que se tornou mau por causa do seu pecado, tal como definido pelo Quarto Conselho Lateranense.
A Sagrada Escritura explica-nos os acontecimentos humanos à luz de um plano divino de salvação e, neste plano, o mal aparece como um instrumento para a salvação da humanidade, uma vez que, sem deixar de ser mau, é usado pela sabedoria divina para trazer um bem maior. Assim é que Cristo aceita a Cruz, que não é nada menos que um meio de tortura até uma morte ignominiosa, a fim de a converter, pela sua doação, num instrumento para a salvação da humanidade.
Um grande sofrimento
Dentro deste contexto, e sempre iluminados pela Cruz de Cristo, abordamos esta misteriosa realidade: a extraordinária acção do diabo nas pessoas. O "maligno", a causa do mal, procura apenas o nosso sofrimento. Na sua oposição a Deus, ele quer ferir o homem, criado à sua imagem e semelhança. É difícil compreender porque é que esta Acção Extraordinária está a ter lugar. A única explicação possível é colocá-la no âmbito da Providência divina, e considerá-la um mistério que só se tornará claro no final.
O que está dentro de cada pessoa que é atacada desta forma extraordinária pelo diabo? Sofrimento. Sofrimento que se experimenta de diferentes maneiras, dependendo das causas e da vida de fé da pessoa que sofre com isso. Mas ao mesmo tempo, aquele que é atacado de forma extraordinária pelo inimigo também pode experimentar uma maior proximidade de Deus na sua vida. Deus, não devemos esquecer, faz-se mais claramente presente na vida daqueles que mais precisam dele.
Os santos, tais como São João Maria Vianney ou São Pio de Pietralcina, explicam como foram abusados pelo inimigo. Havia uma permissão divina que os fazia crescer em santidade, semelhante ao que aconteceu com Job na Bíblia. Em qualquer caso, Deus estabelece limites para o inimigo, mostrando-lhe até onde pode ir com a pessoa a quem submeteu. É evidente que ele não pode agir para além do que Deus lhe permite fazer, afinal de contas ele é uma criatura.
Um caso recente é o de Anneliese Michel, dramatizada no cinema sob o pseudónimo de Emily Rose. Ela percebe que Deus lhe está a pedir permissão para ser possuída pelo diabo. Há uma motivação clara por detrás disto: que, na atmosfera de incredulidade sobre este assunto, ela pode ajudar outros a descobrir a presença de Satanás, que está a trabalhar no mundo. O Senhor permite-o e conta com a sua aceitação: com a sua vontade rendida de ir até ao fim, até à morte.
Modos de acção inimigas
Há muitas maneiras pelas quais o inimigo se dirige para tentar tomar conta das pessoas. Desde o mais grave, onde a pessoa faz um pacto com o diabo e até o assina, até ao mais comum, onde, por acção ou omissão, a pessoa deixou o maligno entrar na sua vida. Estas pessoas experimentam em si mesmas o domínio que o diabo vem a ter sobre elas. Nas situações mais graves este domínio pode ser quase absoluto: o diabo por vezes permanece escondido durante anos e torna-se presente quando a pessoa se aproxima de Deus. Nesta situação, o inimigo não tem outra escolha senão manifestar-se para não perder o poder sobre a pessoa. Também nestes casos, podem existir vexações em que, sem estar possuída, a pessoa sofre danos no seu corpo ou nos seus pensamentos e imaginações, o que causa confusão e tortura.
Não há uniformidade na terminologia utilizada para se referir a todos estes casos. Tradicionalmente, fala-se de "amarrado", "pythonisos", "lunáticos", "vejados", "facturados", "energúmenos"... Mais especificamente, as palavras "possuído" e "obcecado" têm sido usadas indistintamente, que são talvez as mais difundidas.
Hoje existe uma tendência para distinguir entre quatro "categorias": vexado, obcecado, possuído e infestado (neste caso aludindo a um lugar). No entanto, não existem fronteiras reais entre uma característica e outra, uma vez que várias podem estar presentes ao mesmo tempo.
1. vexação
É a acção diabólica destinada a atacar fisicamente a pessoa, para semear o desânimo e o desespero. De certa forma, é para travar uma guerra de desgaste sobre essa pessoa. O corpo tem a dignidade de ser a morada do Espírito Santo, por isso o inimigo vai contra o corpo. Tem múltiplas manifestações: marcas físicas, cheiros, doenças inexplicáveis... até mesmo agressões sexuais podem ocorrer, desde o toque a todo o tipo de aberrações através dos chamados demónios incubus ou succubus. Se a vontade os rejeita, nunca há qualquer responsabilidade moral, como no caso da violação. O demónio leva o que é "devido" nos reinos esotéricos.
2. Obsessão
É a acção diabólica pela qual uma pessoa é psicologicamente atormentada. Afecta indirectamente o intelecto e a vontade (que são intocáveis), afecta a memória, as faculdades imaginativas e estimativas. Vê-se imagens, ou ouve-se sons insistentes... No início o intelecto vê-as como absurdas, mas é incapaz de as rejeitar. Podem fazer com que a pessoa mal durma, e fazê-la pensar que está louca. Outras vezes pode experimentar explosões de antipatia, ódio, angústia, desespero, raiva ou desejo de matar... Provoca imagens de blasfémia quando vai receber a Sagrada Comunhão. Ou figuras monstruosas de Cristo, da Virgem e dos Santos, alterando, na pessoa que sofre com isso, a forma de perceber. Embora a pessoa tente rejeitá-los, não o consegue fazer.
3. Possessão
É a acção de um espírito que exerce, no momento da crise, um controlo despótico, fazendo-o mover-se, falar... Aproveita-se do seu corpo, sem que a vítima, conscientemente ou não, possa fazer alguma coisa para o evitar. Nestes casos, a pessoa tem de se envolver na luta contra o inimigo (rezando, juntando-se à oração que é feita por ela). A pessoa sente uma presença permanente no seu interior, mesmo que não haja manifestações especiais. Ele pode levar uma vida normal, mas por vezes com dificuldades. Estas dificuldades ocorrem especialmente na vida espiritual. A existência ou não de uma vida normal pode ser um critério de discernimento quanto à existência ou não de posse. Quando existem problemas graves, tem de ser feito um trabalho duplo juntamente com um especialista (psicólogo, psiquiatra). Podem manifestar-se mais em tempos de stress (Natal, Quaresma...). É bom recomendar um director espiritual que não seja o próprio exorcista. Estas manifestações devem ser distinguidas de uma desordem de personalidade: linha de boro, esquizofrenia, dupla personalidade, TOC...
Em momentos de crise ou transe, uma transformação pode ser observada nos olhos e na boca do doente, como o demónio delineia na pessoa as características da sua acção. É necessário estar atento e observá-lo a fim de o descobrir e comandar. O malvado não deixará de utilizar técnicas dissuasivas para bloquear ou desconcertar o exorcista e tentar esconder-se e passar despercebido.
É aconselhável utilizar sacramentais (por exemplo, a cruz, água exorcizada) e relíquias. O demónio não deve sentir nada, afinal, ele é um anjo caído, mas para o bem do exorcista e daqueles que estão com ele, estes objectos religiosos afectam-no pela acção divina, pela união com o corpo da pessoa que foi vexada (que é, afinal de contas, uma imitação da encarnação). A união com a pessoa possuída não é uma união moral. A união moral é com a alma em pecado mortal ou com a alma de quem lha vendeu.
A salvação, vida em santidade, não é incompatível com o ser possuído por uma pessoa. Tal como a doença física não impede a acção da graça nos sacramentos, também a posse não impede o crescimento em santidade.
4. Infestação
Neste caso, o espírito do mal permeia a matéria. Nestas situações, a bênção é de grande ajuda, o que protege as coisas e os lugares da má acção. As casas e quartos são os locais mais comuns onde isto acontece. Há várias maneiras: seres fantasmas, ruídos, movimentos, animais, insectos... A pessoa irritada sente a acção do inimigo onde quer que ele esteja. No caso da casa infectada, afecta aqueles que têm contacto com o local, e nunca fora dele. Esta bênção é uma oportunidade para o exorcista evangelizar as pessoas ligadas àquele lugar.
Para esclarecer algumas ideias
Face a todas estas realidades, devemos evitar cair em extremos, com simplificações que nos levam a acreditar que as coisas que nos podem acontecer, ou a outros, estão todas no reino da psiquiatria, porque o que está por detrás delas é uma visão meramente racionalista destas realidades. Ou, pelo contrário, culpar o diabo por todas as coisas que acontecem e não se voltar para outros meios que Deus colocou ao nosso alcance para as esclarecer. Em qualquer dos casos estaríamos a negligenciar as nossas responsabilidades na procura da verdade das coisas.
A primeira coisa a saber é que o diabo não pode agir na parte superior da alma, por isso há sempre espaço para a liberdade humana, embora em alguns casos o domínio do diabo possa ser particularmente grave.
Nos casos de posse, a acção do diabo nem sempre é visível. Pelo contrário, ocorre em momentos "críticos", quando o doente experimenta, por exemplo, uma falta de controlo sobre os seus membros, ou experimenta uma rejeição da religião, ataques de pânico quando vê o demónio, uma tendência para a autodestruição através de distúrbios alimentares, perda de sono, automutilação (corte, etc.) ou mesmo suicídio.
Contudo, na maioria das vezes, o inimigo permanece escondido, tornando a tentação ainda mais eficaz, de modo que é apenas quando a pessoa se aproxima de Deus, como resultado do exercício da sua liberdade e atraída pelo Seu Amor, que a sua presença se torna mais explícita. O que move o espírito impuro é impedir a pessoa de progredir na sua vida de piedade filial para com o Senhor. Pode acontecer, nestes casos, que uma pessoa piedosa comece a experimentar sintomas estranhos e descubra que, por detrás deles, existe uma actividade extraordinária do diabo.
Quando me fazem a pergunta: O que posso fazer para impedir o diabo de agir mais facilmente na minha vida ou na vida dos outros? A primeira coisa a saber é que aqui no Ocidente, a secularização aumentou o sentido da magia na vida, e isto leva muitos a voltarem-se cada vez mais para os clarividentes, o espiritualismo, as técnicas orientais e as bruxas para descobrir o futuro ou como remédio para uma situação de vida complicada. Neste sentido, pode haver o perigo de levar a cabo estas práticas e depois recorrer ao exorcista como se ele ou ela fosse um mágico capaz de remover qualquer mal.
A experiência diz-nos que alguns tipos de pecados favorecem a acção extraordinária do inimigo: pecados mortais não confessados ou não arrependidos, injustiças, recusa de perdão, ataque à fé dos pequenos, aborto, participação ou assiduidade em sessões de espiritismo, ocultismo, esoterismo ou magia, amuletos ou talismãs que são consagrados com rituais, astrologia com invocações aos espíritos, objectos de magia, máscaras ou "divindades" dos países que se visita, ritos assistenciais como macumba, vodu e outros, new age, reiki, ou associações que envolvam um rito oculto de iniciação, música com um convite satânico à necrofilia, suicídio ou blasfémia... Há pessoas dedicadas a Satanás que oferecem tais coisas nos seus concertos. E, por último, o mau feitiço como causa instrumental para prejudicar outros (ir a feiticeiros, xamãs... para lhes pedir uma "obra" contra uma pessoa específica). Em todos estes últimos há um claro pecado contra a fé, porque a acção de Deus é posta em causa para procurar "outras alternativas".
Não podemos acreditar que, sempre que algumas destas situações surjam, o diabo aja necessariamente de uma forma extraordinária. Não devemos esquecer que existe também uma providência divina que impede muitas acções demoníacas. Mas temos de ser muito claros quanto à necessidade de sermos muito cautelosos no flerte com o mundo oculto e fugir de tudo o que foi discutido nas linhas anteriores, ou pior.
Como lidar com ele
Quando alguém experimenta "coisas estranhas", a sua primeira reacção é pensar que está louco, que, se o disserem, nunca se acreditará, que o que lhes está a acontecer não pode ser explicado. Quando são capazes de dizer a um amigo, ou a um padre, aquele que recebe esta confiança tem de saber ouvir e pedir a luz de Deus para discernir, ele ou outra pessoa que saiba destes assuntos. Será necessário ver se a pessoa necessita de tratamento médico ou ajuda espiritual. Se for o primeiro caso, é a verdade que liberta, já que um tratamento médico adequado pode evitar que a pessoa caia numa desordem obsessiva.
Acompanhar a pessoa é a chave. Não podemos esquecer que a pessoa em questão é alguém que sofre e precisa de ser tratada humanamente, como qualquer outra pessoa em necessidade. Com o tempo, podemos descobrir como ajudá-los a ver se os sintomas que aparecem são mais típicos de uma perturbação psiquiátrica ou, pelo contrário, correspondem a uma acção extraordinária do diabo.
Um exemplo específico de uma doença psiquiátrica é o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo Obsessivo). Se estamos a lidar com um doente psiquiátrico, a doença tem normalmente uma causa e o seu aparecimento é lento e progressivo, enquanto que sintomas semelhantes podem ter uma origem demoníaca e, nestes casos, aparecer subitamente.
Com uma visão racionalista há quem negue a actividade exorcista de Jesus, confundindo os casos narrados pelos evangelistas com sintomas de algum tipo de doença. Para responder a esta objecção basta ler atentamente que em caso de doença o Senhor cura a doença, enquanto no caso de exorcismos ele dirige-se directamente ao demónio como uma criatura que responde pessoalmente ao seu comando e assim traz a libertação.
Quando uma pessoa é manipulada ou atacada pelo inimigo, deve ser ajudada a recuperar a sua liberdade e a sua capacidade de aceitar o amor divino. É por isso que precisam sempre de ser acompanhados. Qualquer exorcista sabe que este acompanhamento é, em qualquer caso, indispensável, porque a pessoa, especialmente no início, precisa de alguém ao seu lado para o ajudar, antes ou depois de cada sessão.
O exorcismo faz parte da tradição da Igreja e, como tal, tem um carácter positivo, pode-se mesmo dizer alegre, porque é o fruto da acção do Espírito Santo.
A pessoa deve experimentar a doçura do acolhimento de Cristo, que compreende a sua situação, enquanto outros podem não confiar neles e pensar que são loucos. Não esqueçamos que o Senhor convidou o cansado e sobrecarregado a vir até Ele (cf. Mt 11,28).
O que é o exorcismo?
O exorcismo é uma acção (palavras e gestos) que visa expulsar e expulsar demónios de pessoas, lugares ou coisas. Não é um ministério que tenta colocar-se acima de outras realidades, nem perseguir bruxas, mas obedecer ao comando de Cristo, executando as suas próprias obras. A Igreja reconhece isto desta forma, e por isso existe um ritual que marca a forma de lidar com este problema.
Jesus lutou contra a acção ordinária e extraordinária do diabo, tanto no deserto, quando foi tentado no início da sua vida pública, como nos exorcismos que fez ao longo do seu ministério para levar a Boa Nova a todos.
O ritual é como a medicina, é preciso saber quando e quanto utilizá-lo. Como não é um rito mágico, é muito importante levar a pessoa a entrar em contacto com Deus, sem antecipar nada. O que é necessário para ajudar realmente, repetimos, é tentar excluir qualquer coisa natural (psíquico, psiquiátrico...). Não se deve esquecer que, em qualquer situação que possa levantar suspeitas, é necessário fazer um discernimento que, em muitas ocasiões, não é de todo fácil.
Em muitos casos, este ministério torna-se uma obra de primeira evangelização. As pessoas querem compreender o que lhes está a acontecer, libertar-se do que lhes está a acontecer, e podem recorrer ao exorcista como uma espécie de curandeiro. Esta situação torna possível apresentar Jesus Cristo como o único Salvador.
Em que consiste a libertação?
É um milagre, uma acção de Deus fora das leis da natureza, levando à expulsão do autor do mal, uma criatura angélica que se afastou de Deus e é muito mais poderosa do que os homens. Mesmo o demónio mais "insignificante" é bastante poderoso, mas o poder divino é sempre maior do que qualquer ser criado.
Quais são as características da libertação?
-É um facto verificável empiricamente.
-Que não é algo que acontece por causas naturais.
-Nem acontece devido a causas preternaturais (acção demoníaca destinada a enganar as pessoas).
-Deixe que seja trabalhado pelo próprio Deus.
Deve ficar claro que o autor é apenas Deus. O exorcista é seu ministro, e também um ministro da sua Igreja, já que trabalha com o apoio de toda a Igreja. Deve, portanto, ser licenciado pelo Bispo, que é o primeiro exorcista da sua diocese.
O primeiro a confiar no plano de Deus é o exorcista, de modo a não desesperar e deixar Deus, que tem um plano para a pessoa, agir.
Nenhum "rex sacra" - coisa sagrada - pode trabalhar por si só sem a acção de Deus. E, com excepção dos Sacramentos, que são sustentados por um compromisso divino, Deus não é obrigado a agir através destas coisas sagradas (tais como uma relíquia ou uma imagem de Deus, da Virgem ou dos Santos). Isto ajuda a compreender que não há maior eficácia na utilização de um ou outro ritual, de uma ou outra oração. Qualquer ânsia por parte do padre de tomar a ribalta põe um travão à acção de Deus, ao tentar suplantar-O e, nestes casos, a ineficácia do exorcismo impede, da parte de Deus, um mal maior da parte do padre.
Os diferentes tipos de "exorcismo
O exorcismo pode ser Simples (Leão XIII: sobre lugares), Menor (Rito do Baptismo, e escrutínio dos ritos do Rito da Iniciação Cristã dos Adultos) ou Solene (Exorcismo Maior, para actos extraordinários). Por outro lado, haveria o privado.
Existem exorcismos que não são realizados com o ritual, que são chamados exorcismos privados, também conhecidos como orações de libertação. A sua eficácia é assegurada pela promessa de Cristo, embora, nestes casos, dependa da disposição das pessoas presentes. Pode ser realizado por sacerdotes ou leigos (como foi feito por Santa Catarina de Siena). É lícito quando o diabo está a causar tormento ou vexação a uma pessoa. O discernimento prévio é sempre necessário para se estar convencido de que se trata de uma actividade extraordinária do diabo. No caso de um padre, é aconselhável ter a aprovação do seu bispo se ele o vai fazer continuamente. Neste caso, há que ser muito prudente, uma vez que o diabo é vingativo. O perigo desta forma de agir é a falta de bom discernimento (como se pode tratar como acções do diabo o que são problemas mentais). Há também perigo na falta de um bom acompanhamento do caso (não acompanhamento como a Igreja tem de fazer nestes casos). Ou transformando esta acção em algo fora da vida da Igreja (com o perigo de se acreditar ser um autêntico mediador entre Cristo e a pessoa em causa, sem estar unido ao seu Corpo, que é a Igreja).
A Congregação para a Doutrina da Fé, num documento sobre as Orações de Libertação, 29/09/1985 declara: É proibido aos fiéis leigos utilizar o exorcismo de Leão XIII, nem podem pôr as mãos na cabeça das pessoas afectadas, uma vez que estes gestos estão reservados aos sacerdotes..
A eficácia do exorcismo público é também apoiada pelo apoio de toda a Igreja, uma vez que se trata de uma acção litúrgica. É por isso que falamos de "Ex opere operantis Ecclesiæ". Podemos ter a certeza de que, como todas as orações, mesmo que o seu efeito não seja apreciado, é sempre eficaz. A libertação total nem sempre é alcançada, mas pelo menos haverá uma libertação parcial que levará à libertação total. O padre e os seus companheiros têm a garantia de protecção divina contra qualquer acção demoníaca. A aparente ineficácia de um exorcismo pode não vir da força do demónio, mas da pessoa afectada, no seu processo de conversão e santidade, ou de outras pessoas que Deus quer aproximar d'Ele. Nestes casos, onde Deus não "quis" a eficácia total do exorcismo, é necessário estar convencido de que Deus quer a libertação, mas não a qualquer preço. O que Ele quer é que o milagre da libertação seja perpetuado nos fiéis e que estes perseverem no caminho de Cristo.
Tenhamos presente que nem sempre existe uma noção clara de tudo o que tem a ver com o inimigo, de facto, há muitas pessoas que não acreditam nela e pensam que é um resquício de superstições medievais. Ou que estes "casos" podem ser explicados pela ciência. Mas como quisemos deixar claro, muitas páginas da Bíblia, e mais especificamente do Novo Testamento, refutam isto. A Igreja, por ordem de Cristo, tem de exercer uma caridade solícita e delicada para que ninguém se sinta abandonado e, portanto, tem de enfrentar estas situações que causam tanta dor e sofrimento na pessoa que as está a experimentar. A tentação é "desprezar estes assuntos de ânimo leve". Quando não se sabe como agir, não se pode simplesmente cair no cepticismo; é preciso ajudar a encontrar uma pessoa conhecedora que possa orientar e dirigir estes casos. É, em última análise, uma questão de fé em Deus e no seu poder.
Esta é a preocupação da Igreja em rezar pelos seus filhos: aproximá-los de Cristo e perseverar no Seu Caminho até ao fim dos seus dias aqui na terra.