Desde os primeiros séculos do cristianismo e, antes disso, com a preservação da memória do povo judeu, os lugares santos têm sido objeto de tutela e veneração.
As tradições orais transmitidas de geração em geração foram muitas vezes apoiadas cientificamente por investigações e escavações arqueológicas, especialmente nos últimos dois séculos.
A peregrinação à Terra Santa é mais do que uma viagem; é, de certa forma, uma viagem ao Evangelho, pelo que é particularmente útil fazê-la com guias que combinem ambos os aspectos, como "Pegadas da nossa fé", publicado pela Fundação. Saxum.
Entre os muitos lugares sagrados que são guardados entre os Israel e PalestinaAlguns deles destacam-se pelo seu interesse devocional, arqueológico e histórico.
A casa de Maria em Nazaré
A Basílica da Anunciação, em Nazaré, ergue-se sobre os vestígios de locais de culto cristãos que remontam aos primeiros séculos do cristianismo.
Nas pesquisas arqueológicas efectuadas pelo Studium Biblicum Franciscanum antes da construção da atual basílica, foi encontrado um edifício dedicado ao culto, no qual se encontravam numerosos grafitos cristãos datados de finais do século I e do século II. Entre eles, encontra-se uma inscrição "Ave Maria" em grego. As análises efectuadas às paredes desta casa, parcialmente escavada na rocha, como era habitual na época, ligam-nas às conservadas na basílica de Loreto, em Itália.
A Gruta de Belém
A localização da gruta de gado onde Cristo nasceu já era conhecida em meados do século II. Belém foi anunciada por Miqueias como o local de nascimento do Messias e o nascimento de Cristo está registado no Evangelho de Lucas (Lc 2,1-7).
Para além da localização da gruta transmitida pelos primeiros cristãos, as autoridades romanas quiseram "apagá-las", construindo sobre elas templos pagãos ou bosques sagrados, como foi o caso da gruta de Belém. Estas tentativas de silenciamento não só falharam, como também marcaram de alguma forma os locais mais importantes.
A gruta em questão encontra-se atualmente no interior de uma basílica do século IV, num piso inferior, por baixo do presbitério. Trata-se de uma escavação na rocha, comum na Judeia do século I para guardar material de pastoreio ou animais. A fenda na rocha, preservada de um lado, é, segundo a tradição, o primeiro lugar onde o Filho de Deus repousou na terra. Atualmente, o local é assinalado por uma estrela de prata.
Templo de Jerusalém
O local do Templo de Jerusalém tem sido um dos mais estudados de todos os sítios da Terra Santa. É o local mais sagrado para os judeus e tem também um significado especial para os seguidores da religião muçulmana.
O primeiro grande templo de Jerusalém foi mandado construir por David e foi o seu filho Salomão que o concluiu e consagrou no décimo primeiro ano do seu reinado, ou seja, por volta de 960 a.C. (Reis 5:15-7).
Embora existam numerosas fontes que falam deste templo, a investigação arqueológica não conseguiu encontrar vestígios significativos deste enorme e rico edifício.
Após o regresso do povo judeu a Jerusalém, iniciou-se a construção do segundo templo, mais modesto, que foi dedicado no ano 515.
A partir de 20 a.C., Herodes, o Grande, começou a restaurar e a ampliar o Templo de Jerusalém. Foi neste grande templo que São José e a Virgem Maria foram apresentar Jesus quase recém-nascido.
Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas registam a profecia de Cristo sobre a destruição do Templo. Uma realidade constatada por muitos dos que a ouviram, pois no ano 70 o templo foi incendiado pelas legiões romanas durante o cerco de Jerusalém. Meio século depois, sobre as ruínas foram erguidos monumentos com estátuas de Júpiter e do imperador. Estudos e escavações, que ainda prosseguem, permitiram reconstruir virtualmente este grande templo.
Em Jerusalém, parte dos muros dessa construção ainda se mantém, embora o mais conhecido seja o troço ocidental do muro conhecido como Muro das Lamentações: com cerca de 60 metros de comprimento e cerca de 20 metros de altura. Desde o século XIV, é o lugar sagrado de oração dos judeus por excelência. Este muro é o mais próximo do local do Santo dos Santos, que os peritos colocam linearmente sob o solo atualmente ocupado pela Cúpula da Rocha da Mesquita de al-Aqsa.
Cafarnaum: a sinagoga e a casa de Pedro
A sinagoga de Cafarnaum, juntamente com a sinagoga de Magdala, recentemente descoberta, é uma das sinagogas mais bem conservadas e de maior valor artístico que se conhecem.
Os vestígios descobertos mostram um edifício rico, bastante grande, construído em pedra calcária branca e profusamente decorado nas suas colunas e arcos. Embora estes vestígios datem aproximadamente dos séculos IV-V, esta sinagoga foi construída no local de uma sinagoga anterior, do século I, cujo pavimento de pedra foi encontrado sob a nave central da sala de oração e na qual Jesus terá rezado e ensinado (Mc 1,21-28; Lc 4,31-37).
A poucos metros desta sinagoga, encontra-se uma basílica de finais do século V, construída sobre uma estrutura octogonal que, segundo a tradição antiga, se situa no local da casa de São Pedro, onde Jesus curou a sua sogra (Mt 8,14-15; Mc 1,29-31; Lc 4,38-39). As escavações confirmaram que a basílica se situa, de facto, sobre uma antiga habitação do século I a.C., constituída por uma série de quartos ligados por um pátio.
Piscina de Bethesda ou Betzata
Embora não seja um centro de devoção, a exatidão com que é descrito este conjunto de piscinas, encontrado em sucessivas escavações nos séculos XIX, XX e XXI, faz deste enclave um dos locais mais interessantes como confirmação, em pedra, das Escrituras.
Situada no local exato onde as Escrituras a localizam, as suas ruínas encontram-se hoje no bairro muçulmano de Jerusalém, a poucos metros da Porta dos Leões (conhecida como Porta das Ovelhas, por onde o gado entrava para ser abatido no Templo). As escavações revelam uma piscina dividida por um muro que criava duas bacias separadas, o que demonstra a grande construção desta piscina, que o evangelista João descreve como tendo "cinco pórticos" (Jo 5,1-3).
O local da crucificação e do enterro de Jesus
A grande maquete do Museu de Israel, que mostra a disposição de Jerusalém no tempo do Segundo Templo, mostra os limites das muralhas da cidade de Jerusalém.
cidade na altura. Estes limites deixam de fora, como narram os Evangelhos, a rocha com a forma semelhante à de uma caveira que sobressaía de uma pedreira na parte nordeste da cidade (Mt 27,32-56; Mc 15,21-41; Lc 23,26-49; Jo 19,17-30). Foi neste local que se deu a crucificação e a morte de Cristo e, a poucos metros, sobre uma rocha, a sepultura do corpo do Senhor.
Esta zona da cidade santa tem sido objeto de pesquisas e escavações arqueológicas que revelaram várias salas, zonas e locais de enterramento que seguem a linha narrada nas Sagradas Escrituras.
A conquista romana enterrou esta zona sob um templo pagão, o que a tornou excecionalmente bem conservada. No século IV, com a cristianização do Império, estes lugares sagrados voltaram a ser um local de veneração cristã.
A primeira basílica construída sobre o Santo Sepulcro data desta data e as escavações revelaram três áreas: um mausoléu circular à volta do túmulo; um pátio, onde a rocha do Calvário foi colocada ao ar livre; e uma basílica com cinco naves e um átrio. O túmulo foi isolado da rocha, cortando-a e construindo a edícula que o protege. Em 2016, com o último restauro da atual edícula (datada de 1810), as placas de mármore foram retiradas e sobrepostas até chegarem à pedra original. Atualmente, todo o local, desde o túmulo de Jesus até ao local da crucificação, faz parte do complexo do templo.
Para além de se poder tocar na cavidade da Cruz no que é hoje a Capela do Calvário, logo abaixo, na Capela de Adão, pode ver-se parte da rocha original.
"Tocar" o Evangelho
Pôr os pés na Terra Santa é, de certa forma, entrar pessoalmente na vida do Evangelho. Como assinala Jesús Gil, sacerdote e autor de "Passos da Nossa Fé", "os Evangelhos são lidos com outros olhos depois de se ter passado pela Terra Santa. Lembro-me de ter lido a um grupo em Cafarnaum o início do Evangelho segundo Marcos, do versículo 14 do primeiro capítulo ao versículo 12 do segundo. Ouvido ali, à sombra dos sicómoros, entre as ruínas da sinagoga e da casa de Pedro, de repente fez sentido, tornou-se vivo. Uma pessoa disse-me: "Esta parte do Evangelho é verdadeira. E se esse pedaço é verdadeiro, então todo o Evangelho é verdadeiro".