O Papa inicia a carta aos judeus recordando que "estamos a viver tempos de dolorosas tribulações" e que "as guerras e as divisões estão a aumentar em todo o mundo". "Estamos, de facto, como já disse há algum tempo, numa espécie de 'guerra mundial em pedaços', com graves consequências para a vida de muitas populações", disse o Santo Padre.
A este respeito, Francisco referiu-se à situação que se vive atualmente em Terra SantaTambém a Terra Santa, infelizmente, não foi poupada a esta dor e, desde 7 de outubro, está mergulhada numa espiral de violência sem precedentes". O Papa exprimiu a sua dor perante estes acontecimentos: "O meu coração está dilacerado pelo que está a acontecer na Terra Santa, pela força de tanta divisão e ódio".
"Estes sentimentos exprimem uma proximidade e um afeto especiais pelos povos que habitam a terra que testemunhou a história da Revelação", continua o documento.
O Santo Padre lamentou ainda que esta situação tenha conduzido a algumas atitudes anti-semitas no mundo: "Infelizmente, porém, é preciso dizer que esta guerra produziu também na opinião pública mundial atitudes de divisão, que por vezes conduzem a formas de antissemitismo e de antijudaísmo".
A ligação entre católicos e judeus
Perante esta situação, Francisco recordou a estreita relação que une os católicos aos judeus: "Não posso deixar de reiterar o que os meus antecessores também disseram claramente em várias ocasiões: a relação que nos une a vós é especial e única, sem nunca obscurecer, evidentemente, a relação que a Igreja tem com os outros e o compromisso com eles também".
Este vínculo faz com que a Igreja rejeite ainda mais fortemente o antissemitismo: "O caminho que a Igreja percorreu convosco, antigo povo da aliança, rejeita todas as formas de antijudaísmo e antissemitismo, condenando inequivocamente as manifestações de ódio contra os judeus e o judaísmo como um pecado contra Deus".
Rejeição do antissemitismo atual
O Papa manifestou assim a sua preocupação com as actuais atitudes anti-semitas: "Juntamente convosco, nós, católicos, estamos profundamente preocupados com o terrível aumento dos ataques contra os judeus em todo o mundo. Esperávamos que o 'nunca mais' fosse um refrão ouvido pelas novas gerações, mas agora vemos que o caminho a percorrer exige uma cooperação cada vez mais estreita para erradicar estes fenómenos".
Francisco sublinhou depois a sua proximidade à Terra Santa: "O meu coração está perto de vós, da Terra Santa, de todos os povos que aí vivem, israelitas e palestinianos, e rezo para que o desejo de paz prevaleça sobre todos. Quero que saibais que estais perto do meu coração e do coração da Igreja. À luz das numerosas comunicações que recebi de vários amigos e organizações judaicas de todo o mundo e da vossa carta, que muito apreciei, sinto o desejo de vos assegurar a minha proximidade e o meu afeto".
Oração pelo regresso dos reféns
O Santo Padre explicou também que está a rezar pelo regresso dos reféns e pelo fim da guerra: "Abraço todos e cada um de vós, especialmente aqueles que estão consumidos pela angústia, pela dor, pelo medo e até pela raiva. As palavras são tão difíceis de formular perante uma tragédia como a que ocorreu nestes últimos meses. Juntamente convosco, choramos os mortos, os feridos, os traumatizados, suplicando a Deus Pai que intervenha e ponha fim à guerra e ao ódio, a estes ciclos intermináveis que põem em perigo o mundo inteiro. De modo especial, rezamos pelo regresso dos reféns, alegrando-nos por aqueles que já regressaram a casa e rezando para que todos os outros se lhes juntem em breve".
Esperança e apelo à paz
Além disso, no final do documento, o Papa convida-nos a não perder a esperança: "Acrescento ainda que nunca devemos perder a esperança numa paz possível e que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para a promover, rejeitando todas as formas de derrotismo e de desconfiança. Devemos olhar para Deus, a única fonte de esperança certa. [Em tempos de desolação, temos grande dificuldade em ver um horizonte futuro onde a luz substitui a escuridão, onde a amizade substitui o ódio, onde a cooperação substitui a guerra. Mas nós, como judeus e católicos, somos testemunhas desse horizonte. E devemos construí-lo, começando em primeiro lugar na Terra Santa, onde juntos queremos trabalhar pela paz e pela justiça, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para criar relações capazes de abrir novos horizontes de luz para todos, israelitas e palestinianos".
Concluindo a sua carta aos judeus, o Papa salientou que os judeus e os católicos "devem empenhar-se neste caminho de amizade, solidariedade e cooperação na procura de formas de reparar um mundo quebrado, trabalhando juntos em todas as partes do mundo, e especialmente na Terra Santa, para recuperar a capacidade de ver no rosto de cada pessoa a imagem de Deus na qual fomos criados".
Ainda temos muito a fazer em conjunto para garantir que o mundo que deixamos aos que virão depois de nós seja um mundo melhor, mas estou confiante de que podemos continuar a trabalhar em conjunto para este objetivo.