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Mamã Antula, uma santa argentina para a Igreja universal

No dia 11 de fevereiro, o Papa Francisco canonizou a primeira santa da Argentina, Mama Antula, uma freira do século XVIII que se dedicou à evangelização através dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola.

Marcelo Barrionuevo-10 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Mamã Antula ©OSV

No dia 11 de fevereiro, dia da festa de Nossa Senhora de Lourdes, o Santo Padre Francisco canonizará uma mulher nascida num lugar distante do porto de Buenos AiresSantiago de Estero, a primeira diocese da Argentina.

Desta forma, um Papa jesuíta canonizará uma mulher que fez do espírito inaciano o seu caminho de santidade. Tal como Cura Brochero, um santo padre das colinas de Córdoba, na Argentina, "Mama Antula" fez dos exercícios espirituais o caminho para o encontro com Deus, trabalhando incansavelmente para evangelizar a partir da experiência de procurar e encontrar a vontade de Deus, tal como ensinada pelo santo de Loyola.

Investigadores históricos e religiosos garantiram, em diálogo com os meios de comunicação social que cobriram a canonização, que María Antonia de Paz y Figueroa tentou "chegar a todos os necessitados, apelando a todas as classes sociais" e descreveram o seu trabalho como uma das "mais fortes expressões de evangelização popular no país".

Nascida em 1730, em Santiago del Estero, Mamã Antula era descendente de uma família importante e iniciou a sua prática religiosa aproximando-se dos jesuítas "com uma decisão livre e espontânea que brotava do amor, fruto da sua vocação cristã", segundo a historiadora Graciela Ojeda de Río, que desde 1980 se dedica à divulgação da vida desta beata.

"É uma mulher de fé, uma leiga, comprometida com a Igreja. Era como as primeiras beatas da história, muito cultas, que liam, se educavam e serviam a sociedade sem olhar a quem, e procuravam ir ao encontro de todos os necessitados, chamando todas as classes sociais", comenta ainda o historiador.

Depois de um processo que começou em 1767, os jesuítas foram expulsos da região. No entanto, Mama Antula continuou a sua pregação em várias províncias do país, uma viagem que a obrigou a percorrer mais de 5.000 quilómetros.

Nunca podemos esquecer o contexto histórico e geográfico de cada santo. Mamã Antula começou a sua obra numa realidade inóspita, sem meios e com a única convicção que a sua fé e a consciência da missão que tinha recebido lhe davam. Ela não se tornou burguesa na sua vida, mas "saiu para as periferias do seu tempo" para aproximar Deus de todos os homens e mulheres do seu tempo.

A pregação da Mamã Antula

Começou a sua pregação aos 49 anos de idade e "Percorreu milhares de quilómetros por campos, aldeias e cidades, vilas e subúrbios à procura de corações", diz Aldo Marcos de Castro Paz, membro da Junta de História Eclesiástica da Argentina, que escreveu o retrato documental da Beata. "A sua obra é uma das expressões mais fortes da evangelização popular no nosso país. Numa época regida pelas honras da linhagem, da etiqueta, da herança e da hierarquia, ela conseguiu que homens e mulheres frequentassem os mesmos retiros, que todos comessem o mesmo pão", acrescenta de Castro Paz.

O perito sobre a santa comenta ainda que ela "ajudou as comunidades autóctones a construir o seu próprio sentido de identidade nacional", ao mesmo tempo que "promoveu a dignidade do trabalho", instruindo as mulheres no trabalho e os homens na construção das suas próprias casas.

Em Mama Antula vemos uma antecipação do papel de liderança das mulheres na sociedade e na Igreja. Com o seu génio feminino, como dizia São João Paulo II, a mulher sustenta os valores e as tradições do povo. Não devemos esquecer que a Mamã Antula assume aquela "determinação determinada" de que fala Santo Inácio depois da expulsão dos Jesuítas. Na Igreja, são as mulheres que sustentam a fé e as tradições.

Uma mulher de oração

Mama Antula é canonizada no âmbito do "Ano de Oração" que o Papa iniciou em janeiro de 2024. O seu grande apostolado através dos Exercícios Espirituais é o seu modo eficaz de evangelização. Os retiros, mesmo para pessoas muito simples, são uma experiência íntima com o próprio Deus. Ele nunca deixou de trabalhar um dia para levar homens e mulheres ao encontro do Pai misericordioso.

Com a sua chegada a Buenos Aires, em 1779, a construção da Santa Casa de Exercícios Espirituais foi um dos principais objectivos da Beata. Cintia Suárez, pesquisadora da santa, destaca que ela conseguiu construí-la em terrenos doados e com fundos provenientes das esmolas dos fiéis.

"Ela queria ajudar, servir um sector desfavorecido e esquecido da sociedade, mas não como freira. De facto, não fez voto de obediência, fez voto de castidade e pobreza, mas não de obediência a nenhuma ordem", explica Suárez.

Os exercícios espirituais consistem em meditações que incluem o silêncio, leituras e conversas com um sacerdote.

"Isto porque os jesuítas tinham a certeza de que Deus trabalhava pessoalmente com cada pessoa e que os homens e as mulheres tinham a possibilidade de comunicar diretamente com ele através do seu espírito e do seu intelecto", diz Ojeda de Río, responsável pelas visitas guiadas à Santa Casa dos Exercícios Espirituais.

Comprometida com os seus colaboradores

Mama Antula "foi uma pioneira na defesa dos direitos humanos porque se mobilizou a favor do povo, dos índios, dos mulatos, numa época em que as classes sociais não se misturavam e o escravo não andava na rua principal", diz o historiador Suárez.

Refere-se também aos órfãos que a Beata acolheu, aos quais deu o apelido de "São José", o mesmo apelido que adoptou quando iniciou a sua carreira eclesiástica. "Conseguiu que fizessem retiro pessoas que na vida civil estavam separadas pelo sistema de castas: cor da pele, diferentes ofícios, funções e dignidades do século XVIII americano".

Os santos foram sempre testemunhas do princípio da Encarnação: souberam unir a presença de Deus à dignificação do humano e tomar o humano como mediação para o divino.

Que esta santa argentina seja um instrumento para valorizar mais a presença feminina na Igreja, na história e no mundo.

O autorMarcelo Barrionuevo

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