Em 24 de novembro, a Omnes organizou um fórum no Universidade Villanueva com Jacques Philippe. O tema da sessão foi "Precisamos de Deus?
Durante a sua intervenção, o conhecido autor espiritual desenvolveu quatro pontos-chave sobre as consequências de termos excluído Deus das nossas vidas. Para dar um tom de esperança à sessão, Philippe começou por afirmar que "parece que o homem abandona Deus, mas Deus não abandona o homem". Por isso, mesmo que as consequências da "morte do Pai" sejam traumáticas, existe a possibilidade de regressar a Ele.
A primeira ideia essencial que Jacques Philippe quis transmitir foi que "afastar-se de Deus é também afastar-se da fonte da verdade". Ao perder a estabilidade e a solidez proporcionadas por Deus, "caímos no subjetivismo, cada um cria a sua própria verdade".
Daí surge um perigo para o qual o autor alertou, que é a tentação de criar religiões à medida. E não só. A longo prazo, isso conduz à "solidão, um individualismo que marca profundamente o mundo atual".
Liberdade e misericórdia
Em segundo lugar, Philippe denunciou a mentira do ateísmo, que afirma que "Deus é o inimigo da liberdade". Tirar o Pai da equação, explicou o orador, não é apenas uma mentira, mas ao retirar Deus das nossas vidas, retiramos também a misericórdia.
Baseando-se na parábola do filho pródigo do Evangelho, Jacques diz: "Uma vez proclamada a morte de Deus, o que é que acontece? A casa fica vazia. Não há ninguém para te acolher, para te dizer que tens o direito de ser feliz".
Tirar o Pai da nossa vida implica que "já não há perdão para os nossos pecados, porque o homem não se pode perdoar a si próprio. Ele pode encontrar desculpas, pode apoiar-se em desculpas psicológicas, mas não pode perdoar os seus pecados". O que é que acontece então? O orador diz claramente: "o homem está sozinho com o peso dos seus erros".
O problema da liberdade
Os efeitos desta situação na nossa sociedade atual são terríveis, afirmou Philippe. Atualmente "não há lugar para o fracasso, não há lugar para a fragilidade". Os homens, incapazes de serem fracos, tornaram-se obcecados pelo sucesso. Colocámos "um fardo excessivo sobre os ombros humanos".
Perante uma vida em que o erro não é tolerado, explica o orador, "o exercício da liberdade humana torna-se difícil". Dois excessos diferentes abrem-se diante de nós. "Por um lado, a irresponsabilidade mais absoluta; por outro lado, o excesso de responsabilidade, o ónus das nossas decisões sozinho.
Jacques salienta que, tendo rejeitado Deus, "temos muitas opções para escolher, mas não temos ninguém que nos acompanhe". Isto torna-se imediatamente uma "fonte de angústia". Nós, homens, estamos conscientes de que "temos liberdade, mas não temos ninguém que nos ajude a discernir". E, mais uma vez, Philippe alerta para o perigo disto: "a liberdade pode tornar-se problemática".
Curar as feridas
A terceira chave de que o orador falou diz respeito à esperança. "Privarmo-nos de Deus é privarmo-nos da esperança no futuro. Quando se vive sem a revelação de Deus, que é o sentido da nossa existência, a vida torna-se pesada, estreita".
Quando se tem o Pai, explica o autor, não há tragédias finais, pois sabemos que o Senhor, quando o encontrarmos, "curar-nos-á completamente". E não é só isso. Philippe encoraja todos os presentes a terem esperança, porque "num instante Deus pode salvar o que estava perdido".
Esta ideia tem também uma consequência muito prática na vida quotidiana. "O que é que nos impede de perdoar?", perguntou o orador à audiência. "Por vezes, o que nos impede de perdoar é o facto de termos a sensação de que o mal que nos foi feito pelo outro é irremediável. É aí que a fé vem ajudar-nos, porque se Deus existe, todas as feridas podem ser curadas".
Ódio a si próprio
Por fim, Jacques Philippe alertou todos para uma consequência clara, hoje em dia, da expulsão de Deus da nossa vida. "O homem contemporâneo é incapaz de se reconciliar consigo mesmo. Sem esperança, sem misericórdia e sem a possibilidade de perdão, o homem não consegue sequer amar-se a si próprio.
"Pensámos que, ao eliminar Deus, estávamos a eliminar a culpa. O que aconteceu foi exatamente o contrário. A culpa é cada vez maior. O ser humano vê a sua pobreza como uma tragédia. Philippe explica que "o homem só se pode aceitar a si próprio através dos olhos de Deus". E vai mais longe: "Quando o homem se afasta de Deus, acaba por se odiar a si próprio, porque deixa de ter razões para se amar".
Jacques Philippe terminou a sua intervenção encorajando todos a reencontrarem a esperança e a estarem firmes na certeza de que "a liberdade que Deus dá ao aceitar a sua presença na nossa vida é imensa".