Vaticano

"Se Deus é um Pai, porque não nos ouve Ele?

O Papa Francisco reflectiu, durante a audiência de quarta-feira, 26 de Maio, no pátio de São Damasco, sobre a aparição, por vezes, de que Deus não ouve as nossas orações.

David Fernández Alonso-26 de Maio de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
o papa francis na audiência

Foto: ©2021 Catholic News Service / U.S. Conference of Catholic Bishops.

O Papa Francisco realizou uma audiência geral no pátio de San Damaso, com um número reduzido de fiéis devido a restrições sanitárias.

Francisco começou a sua catequese reflectindo sobre a razão pela qual parece que Deus não responde aos nossos pedidos: "Há uma resposta radical à oração, que deriva de uma observação que todos fazemos: rezamos, pedimos, mas por vezes parece que as nossas orações não são ouvidas: o que pedimos - para nós próprios ou para os outros - não acontece. Se, além disso, a razão pela qual rezámos foi nobre (como a intercessão pela saúde de uma pessoa doente, ou pela cessação de uma guerra), o não cumprimento parece-nos escandaloso. "Algumas pessoas deixam de rezar porque pensam que a sua oração não é ouvida" (Catecismo da Igreja CatólicaSe Deus é Pai, porque não nos ouve Ele? Aquele que nos garantiu que Ele dá coisas boas às crianças que Lhe pedem (cfr. Mt 7,10), porque não responde ele aos nossos pedidos"?

"Pai nosso

"O Catecismo", diz Francisco, "oferece-nos uma boa síntese da questão". Adverte-nos para o risco de não vivermos uma experiência autêntica de fé, mas de transformarmos a nossa relação com Deus em algo mágico. Na verdade, quando rezamos, podemos correr o risco de não sermos aqueles que servem a Deus, mas de fingir que é Deus que nos serve (cf. n. 2735). Aqui está, então, uma oração que é sempre exigente, que quer dirigir os acontecimentos de acordo com a nossa concepção, que não admite outros planos para além dos nossos desejos. Jesus, contudo, teve grande sabedoria ao colocar nos nossos lábios o "Pai Nosso". É apenas uma oração de petições, como sabemos, mas as primeiras que proferimos estão todas do lado de Deus. Eles pedem o cumprimento não do nosso plano, mas da Sua vontade em relação ao mundo. É melhor deixá-lo fazê-lo: "Seja santificado o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade" (Mt 6,9-10)".

"O apóstolo Paulo lembra-nos que nem sequer sabemos o que é apropriado pedir (cfr. Rm 8,26). Quando rezamos devemos ser humildes, para que as nossas palavras sejam de facto orações e não um vanilóquio que Deus rejeita. Também é possível rezar pelas razões erradas: por exemplo, para derrotar o inimigo na guerra, sem nos perguntarmos o que Deus pensa dessa guerra. É fácil escrever numa faixa "Deus está connosco"; muitos estão ansiosos por garantir que Deus está com eles, mas poucos têm o cuidado de verificar se eles estão de facto com Deus. Na oração, é Deus que nos deve converter, não nós que devemos converter Deus".

Orações mergulhadas no sofrimento

"No entanto", continuou o Papa, "permanece um escândalo: quando as pessoas rezam com um coração sincero, quando pedem bens que pertencem ao Reino de Deus, quando uma mãe reza pelo seu filho doente, porque é que às vezes parece que Deus não ouve? Para responder a esta pergunta, é necessário meditar calmamente sobre os Evangelhos. As passagens da vida de Jesus estão cheias de orações: muitas pessoas feridas no corpo e no espírito pedem-lhe que as cure; há quem lhe peça um amigo que já não possa andar; há pais e mães que lhe trazem filhos e filhas doentes... Todas elas são orações cheias de sofrimento. É um coro imenso que invoca: "Tem piedade de nós".

"Vemos que por vezes a resposta de Jesus é imediata, mas em outros casos é adiada no tempo. Pensemos na mulher cananéia que implora a Jesus pela sua filha: esta mulher tem de insistir durante muito tempo antes de ser ouvida (cfr. Mt 15,21-28). Ou pensemos também no paralítico transportado pelos seus quatro amigos: inicialmente Jesus perdoa os seus pecados e só num segundo momento o cura no corpo (cfr. Mc 2,1-12). Portanto, em algumas ocasiões, a solução para o drama não é imediata".

A única chama da fé

O Papa reflectiu sobre o milagre da filha de Jairo: "Deste ponto de vista, a cura da filha de Jairo merece uma atenção especial (cfr. Mc 5,21- 33). Há um pai que está a ficar sem fôlego: a sua filha está doente e por esta razão pede a ajuda de Jesus. O Professor aceita imediatamente, mas a caminho da casa ocorre outra cura, e depois vem a notícia de que a rapariga está morta. Parece ser o fim, mas Jesus diz ao pai: "Não tenhas medo; tem apenas fé" (Mc 5,36). "Continua a ter fé": a fé sustenta a oração. E de facto, Jesus despertará esta criança do sono da morte. Mas durante um certo tempo, Jairus teve de caminhar no escuro, com a única chama da fé".

Francisco assegurou que o Senhor "Até a oração que Jesus dirige ao Pai no Getsémani parece permanecer inaudita. O Filho terá de beber o cálice da Paixão ao máximo. Mas o Sábado Santo não é o capítulo final, porque no terceiro dia há a ressurreição: o mal é senhor do penúltimo dia, nunca do último. Pois pertence apenas a Deus, e é o dia em que todos os anseios humanos de salvação serão satisfeitos".

Boletim informativo La Brújula Deixe-nos o seu e-mail e receba todas as semanas as últimas notícias curadas com um ponto de vista católico.
Banner publicitário
Banner publicitário