Vaticano

Papa Francisco apela à compunção na Quinta-feira Santa

Nesta Quinta-feira Santa, o Papa Francisco convidou todos os católicos a reflectirem sobre a compunção, um arrependimento autêntico que olha para a misericórdia de Deus e não para as nossas faltas.

Paloma López Campos-28 de março de 2024-Tempo de leitura: 3 acta
Papa Francisco

Papa Francisco durante a Missa Crismal de Quinta-feira Santa (CNS photo / Lola Gomez)

No seu homilia da Missa do Crisma este quinta-feira santaO Papa Francisco olha para São Pedro, "o primeiro pastor da nossa Igreja". O Pontífice traça em voz alta o caminho de Simão Pedro até Jesus, para aprofundar a "compunção". No início, diz, São Pedro "esperava um Messias político e poderoso, forte e decidido, e perante o escândalo de um Jesus fraco, preso sem resistência, declarou: 'Não o conheço'".

No entanto, depois de ter negado Cristo três vezes, Francisco explica que São Pedro conheceu Jesus quando "se deixou trespassar sem reservas pelo seu olhar". Nesse momento, "de 'não o conheço' passará a dizer: 'Senhor, tu sabes tudo'".

O Santo Padre sublinha aqui, dirigindo-se aos sacerdotes, que a cura do coração é possível "quando, feridos e arrependidos, nos deixamos perdoar por Jesus; estas curas acontecem através das lágrimas, do choro amargo e da dor que permitem redescobrir o amor". Em suma, através da compunção.

Compunção, verdadeiro arrependimento

Trata-se de um termo, diz o Papa, que "evoca uma picada. A compunção é 'uma punção no coração', uma picada que o fere, fazendo correr lágrimas de arrependimento". Mas não é "um sentimento que nos derruba no chão", adverte Francisco. A compunção é "um ferrão benéfico que arde por dentro e cura".

O Pontífice explica ainda que a compunção não é "sentir pena de si mesmo", pois isso é "tristeza segundo o mundo". A compunção, sublinha Francisco, "é arrepender-se seriamente de ter entristecido Deus com o pecado; é reconhecer que estamos sempre em débito e nunca em crédito; é admitir ter perdido o caminho da santidade, não ter acreditado no amor d'Aquele que deu a vida por mim".

Assim entendida, a compunção permite-nos "fixar o olhar no Crucificado e deixarmo-nos comover pelo seu amor que perdoa e eleva sempre, que nunca desilude as esperanças de quem n'Ele confia". E o Papa insiste que este arrependimento "alivia a alma dos seus fardos, porque actua sobre a ferida do pecado, tornando-a pronta a receber precisamente aí a carícia do médico celeste".

Encontro com Cristo e uns com os outros

Por isso, Francisco assegura-nos que a compunção é o antídoto contra a dureza de coração. "É o remédio, porque nos mostra a verdade de nós mesmos, de modo que a profundidade da nossa pecaminosidade revela a realidade infinitamente maior do nosso perdão". E o Papa insiste que "cada um dos nossos renascimentos interiores nasce sempre do encontro entre a nossa miséria e a misericórdia do Senhor".

O Santo Padre fala também da solidariedade, "outra caraterística da compunção". Graças a este sentimento no nosso coração, em vez de julgarmos os outros, "choramos os seus pecados". "E o Senhor procura, sobretudo entre os consagrados a Ele, aqueles que choram os pecados da Igreja e do mundo, fazendo-se instrumentos de intercessão por todos".

Francisco repete esta ideia, assegurando-nos que "o Senhor não nos pede que julguemos com desprezo aqueles que não acreditam, mas que amemos e choremos por aqueles que estão longe". Portanto, "adoremos, intercedamos e choremos pelos outros. Deixemos que o Senhor faça maravilhas. Não tenhamos medo, Ele surpreender-nos-á".

A compunção como graça de Deus

O Papa adverte que "numa sociedade secularizada, corremos o risco de ser muito activos e, ao mesmo tempo, de nos sentirmos impotentes". Acabamos por "perder o entusiasmo", "fechamo-nos em queixas" e fazemos com que "a grandeza dos problemas prevaleça sobre a imensidão de Deus". No entanto, o bispo de Roma encoraja-nos a não perder a esperança, porque "o Senhor não deixará de nos visitar e de nos reerguer".

Em conclusão, Francisco recorda que "a compunção não é fruto do nosso trabalho, mas é uma graça e, como tal, deve ser pedida na oração". E o Papa dá dois conselhos a este respeito. "O primeiro é não olhar para a vida e para o chamamento numa perspetiva de eficácia e de imediatismo", mas olhar "para o conjunto do passado e do futuro". "Do passado, recordando a fidelidade de Deus", e "do futuro, pensando no destino eterno a que somos chamados".

O segundo conselho do Pontífice "é redescobrir a necessidade de nos dedicarmos a uma oração que não seja comprometida e funcional, mas gratuita, serena e prolongada". Para concluir a sua homilia, o Papa encoraja-nos a "sentir a grandeza de Deus na nossa pequenez de pecadores, a olhar para dentro de nós mesmos e a deixarmo-nos trespassar pelo seu olhar", tal como São Pedro.

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