O documentário "Madre no hay más que una", uma homenagem à maternidade através do exemplo de seis mães específicas, foi lançado na sexta-feira, 20 de outubro: Ana, BlancaIsa, Olatz, María e Bea. Realizado por Jesús García ("Medjugorje, la película") e produzido pela Gospa Arts, "Madre no hay más que una" mostra os testemunhos destas seis mães numa altura em que há cada vez menos nascimentos e até os casais que têm muitos filhos são julgados.
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Em Omnes entrevistámos Ana, uma das protagonistas, doutorada em Filologia que se dedica à investigação de manuscritos e manuscritos antigos. Há alguns meses, apareceu em ABC porque não foi autorizada a entrar no comboio com os seus quatro filhos.
O que significou para si a maternidade?
Foi uma surpresa avassaladora que perdura até aos dias de hoje. Nunca imaginei que a maternidade pudesse redimensionar a minha vida de tal forma, enchendo tudo de uma nova plenitude. Os meus filhos ajudaram-me a olhar de forma renovada e grata para os meus próprios pais, a maravilhar-me ainda mais com o mistério que é a vida, e até a compreender mais profundamente o seu significado: olho para os meus filhos e compreendo rapidamente que estou aqui para amar e ser amada, que tenho um valor e uma beleza inalienáveis porque fui chamada à existência. Além disso, viver com eles permite-me redescobrir a criança que há em mim, ajuda-me a tornar-me pequeno, simples, alegre.
Como é que a vossa vocação matrimonial vos faz crescer na vossa relação com Deus?
O meu casamento é o maior presente que recebi de Deus, dele nasceram os nossos filhos: a forma como encontrei o meu marido contra todas as probabilidades e a forma como ele me complementa faz-me ter a certeza absoluta de que há um Deus providente que nos fez cruzar; o meu marido é o meu lugar de descanso, a ajuda necessária, a minha maior alegria.
Ao mesmo tempo, a oportunidade de doação mútua que o matrimónio significa ajuda-me a compreender a dinâmica do dom em que a nossa vida encontra o seu sentido mais profundo: sou feito para dar a minha vida e sei-o porque nesta doação um ao outro experimentamos cada vez mais felicidade.
Na sociedade atual, é frequente a ênfase ser colocada no facto de a maternidade significar renunciar a outras coisas, como o crescimento profissional. Partilha desta opinião?
Para mim, o primeiro erro desta diatribe é ter colocado a família e o trabalho no mesmo sítio, como se a conciliação entre os dois estivesse em pé de igualdade. A minha maternidade e a minha responsabilidade moldam-me ontologicamente, mas não o meu trabalho, que amo e que vivo como uma missão, mas que não está de modo algum em pé de igualdade com o meu marido e os meus filhos.
Para mim, é o contrário, penso que o trabalho deve ser adaptado à família, aos seus ritmos e necessidades, na medida do possível. Além disso, se os meus filhos trouxeram alguma coisa para o meu trabalho, foi a possibilidade de o viver de uma forma muito livre, sem colocar nele a forja da minha autoestima; a minha vida já é plena, independentemente do meu desempenho profissional. De facto, a expressão "realização profissional" nunca me convenceu; entre outras coisas, porque não me realizo a mim própria: estou em relação com os outros, que fazem de mim uma mulher, uma mãe e também uma professora.
Qual foi o maior desafio de ser mãe?
Para mim, o maior desafio, a maior dificuldade, é compreender que não posso libertar os meus filhos do sofrimento, que é algo que explico no filme; é muito difícil para mim, embora saiba que é assim e que, de facto, não devo cair na ilusão ou na armadilha de tentar mantê-los numa bolha. Para uma mãe, o sofrimento de um filho dói mais do que o seu próprio sofrimento.
¿PPorque é que acha que as pessoas deviam ver este filme?
Penso que este filme é uma dádiva, porque mostra que a entrega, o cansaço, a renúncia a si próprio, longe de serem um inimigo na busca da felicidade, são o seu trampolim. Entristece-me que cada vez mais falemos dos filhos como um fardo, em vez de falarmos de uma dádiva imensa que nunca teremos vida suficiente para contemplar, compreender ou agradecer. Penso que vivemos numa sociedade que propõe um conceito de felicidade muito hedonista e individualista, para o qual a maternidade é apresentada como um obstáculo; e, nesse sentido, parece-me que o testemunho de cada uma das mães que aparecem no filme consegue mostrar que a alegria mais profunda se esconde entre as fraldas e o cansaço, mas também entre os risos, os abraços e as conversas preciosas antes de dormir.