Vaticano

O Papa deixa a Mongólia na Casa da Misericórdia e olha para a China

O Santo Padre Francisco despediu-se do país da Mongólia, deixando o seu coração na nova Casa da Misericórdia da capital, um centro abrangente para a assistência aos mais vulneráveis, como mulheres, crianças e sem-abrigo, e olhando para o gigante chinês, onde ainda nenhum Papa pôs os pés.

Francisco Otamendi-4 de setembro de 2023-Tempo de leitura: 5 acta

O Papa na Casa da Misericórdia a 4 de setembro ©OSV

O Papa dedicou as suas últimas horas em Ulaanbaatar, a capital da Mongólia, à inauguração e bênção da Casa da Misericórdia, que "se propõe como ponto de referência para um grande número de acções de caridade; mãos estendidas para os irmãos e irmãs que têm dificuldade em navegar pelos problemas da vida".

"É uma espécie de porto onde se pode atracar, onde se pode encontrar uma escuta e uma compreensão", disse o Papa Francisco durante a sua visita ao centro, que inaugurou e abençoou esta manhã.

O Papa dirigiu-se depois para o aeroporto internacional de Chinggis Khaan, em Ulaanbaatar, para um encontro com o Papa. cerimónia de despedida da Mongólia, e apanhou o avião para Roma.

Na Casa da Misericórdia, o Papa teve um encontro com os reunião com os trabalhadores da caridade, presidida pelo Prefeito Apostólico de Ulaanbaatar, Cardeal Giorgio MarengoEra um missionário da Consolata, a quem o Santo Padre dedicou muitas expressões de afeto durante a viagem.

Andrew Tran Le Phuong, S.D.B. Depois de se referir à assistência às pessoas necessitadas, o diretor acrescentou: "Na Casa de Misericórdia procuramos a interligação com todos aqueles que partilham os valores da compaixão amorosa e da responsabilidade social partilhada, num espírito de sinodalidade. Fazendo eco do que Sua Santidade tem dito em várias ocasiões, gostaríamos de estar do lado daqueles que não têm o direito de falar ou não são ouvidos".

A Irmã Verónica Kim, das Irmãs de S. Paulo de Chartres, que está atualmente a trabalhar na Clínica de Santa Maria, na Mongólia, e outra mulher, Naidansuren Otgongerel, sétima de uma família de oito irmãos, que falou em nome das pessoas com deficiência e que iniciou o seu caminho de fé com a ajuda dos Missionários da Consolata, deram também o seu testemunho. 

No final do encontro, após a recitação da Avé Maria, a bênção e o cântico final, o Santo Padre benzeu a placa que dará o nome ao centro de caridade. 

Casa da Misericórdia: assim se define a Igreja

No seu discurso na Casa da Misericórdia, o Papa começou por dizer que, desde as suas origens, a Igreja "demonstrou com as suas obras que a dimensão caritativa é o fundamento da sua identidade. Penso nos relatos dos Actos dos Apóstolos, nas muitas iniciativas tomadas pela primeira comunidade cristã para concretizar as palavras de Jesus, dando vida a uma Igreja construída sobre quatro pilares: comunhão, liturgia, serviço e testemunho. É maravilhoso constatar que, após tantos séculos, o mesmo espírito permeia a Igreja na Mongólia".

Recordou ainda que "desde que os primeiros missionários chegaram a Ulaanbaatar, nos anos 90, sentiram de imediato o apelo à caridade, que os levou a cuidar de crianças abandonadas, irmãos e irmãs sem-abrigo, doentes, pessoas com deficiência, prisioneiros e todos aqueles que, na sua situação de sofrimento, pediam para ser acolhidos".

Gosto muito do nome que lhe quiseram dar: Casa de la Misericordia (Casa da Misericórdia). Nestas duas palavras está a definição da Igreja, que é chamada a ser uma casa acolhedora onde todos podem experimentar um amor superior, que comove e toca o coração; o amor terno e providente do Pai, que nos quer na sua casa como irmãos e irmãs".

O verdadeiro progresso das nações

Depois de sublinhar a importância do voluntariado para a realização desta tarefa, o Papa Francisco reiterou uma ideia subjacente: "O verdadeiro progresso das nações não se mede pela riqueza económica, muito menos por aqueles que investem no poder ilusório dos armamentos, mas pela capacidade de cuidar da saúde, da educação e do crescimento integral do povo. Por conseguinte, gostaria de encorajar todos os cidadãos mongóis, conhecidos pela sua magnanimidade e altruísmo, a empenharem-se no voluntariado, colocando-se à disposição dos outros".

Desfaz três mitos

Por fim, o Papa disse: "Gostaria de refutar alguns 'mitos'. Em primeiro lugar, o mito de que só as pessoas ricas podem dedicar-se ao voluntariado. A realidade diz o contrário: não é necessário ser rico para fazer o bem, de facto, são quase sempre as pessoas comuns que dedicam o seu tempo, saber e coração a cuidar dos outros. 

"Um segundo mito que deve ser desmentido é o de que a Igreja Católica, que se distingue no mundo pelo seu grande empenhamento na promoção social, faz tudo isso por proselitismo, como se cuidar dos outros fosse uma forma de os convencer e de os pôr 'do seu lado'. Não, os cristãos reconhecem os necessitados e fazem o que podem para aliviar o seu sofrimento porque vêem Jesus, o Filho de Deus, e nele a dignidade de cada pessoa, chamada a ser filho ou filha de Deus".

"Gosto de imaginar esta Casa da Misericórdia", acrescentou o Papa, "como o lugar onde pessoas de diferentes 'credos', e também não crentes, unem os seus próprios esforços aos dos católicos locais para levar alívio compassivo a tantos irmãos e irmãs na humanidade".

Iniciativas de solidariedade social, não empresas

Por fim, "um terceiro mito a desmontar é o de que o que conta são apenas os meios financeiros, como se a única forma de cuidar dos outros fosse contratar pessoal assalariado e equipar grandes estruturas", acrescentou Francisco, 

"A caridade exige, sem dúvida, profissionalismo, mas as iniciativas caritativas não devem transformar-se em empresas, antes devem preservar a frescura das obras de caridade, onde os necessitados encontram pessoas capazes de escuta e compaixão, para além de qualquer tipo de retribuição". 

O Papa terminou contando um episódio de Santa Teresa de Calcutá. Parece que uma vez um jornalista, vendo-a debruçada sobre a ferida malcheirosa de um doente, lhe disse: "O que está a fazer é muito bonito, mas pessoalmente não o faria nem por um milhão de dólares". Madre Teresa sorriu e respondeu: "Eu também não o faria por um milhão de dólares; faço-o pelo amor de Deus! 

Peço que este estilo de gratuidade seja a mais-valia da Casa da Misericórdia", e agradeceu "o bem que fizeram e farão". E, como sempre faz, pediu orações para o Papa.

Dias de oração e de fraternidade

Já lá vão quatro dias intensos de reflexão, oração e fraternidade sincera, em que o Papa começou por se encontrar com as autoridades na sala "Ikh Mongol" do Palácio do Governo, dizendo-lhes que vinha como "peregrino da amizadeCheguei em bicos de pés e com o coração alegre, desejoso de ser humanamente enriquecido pela vossa presença".

À tarde, depois desse primeiro dia de descanso, o Santo Padre encontrado com os bispos, sacerdotes e religiosos desta pequena comunidade católica com apenas 1.500 baptizados, na qual sublinhou a relação pessoal com o Senhor, necessária para levar a cabo a missão e a devoção aos irmãos. 

No domingo, Francisco teve um encontro ecuménico e inter-religioso com líderes de várias confissões, no qual sublinhou o primado do amor sobre a riqueza ou o poder, e à tarde celebrou a Eucaristia para os católicos da Mongólia, que contou com a presença de algumas dezenas de católicos chineses.

A surpresa dos prelados chineses

No final da Santa Missa no pavilhão Steppe Arena houve uma surpresa quando o Cardeal Jhon Tong, bispo emérito de Hong Kong, e o atual bispo, Stephen Chow Sau-yan, jesuíta, que receberá o cardinalato no final do mês, apareceram de mãos dadas com o Papa Francisco, que explicou ter chegado com dezenas de pessoas. Nas últimas horas, tinha sido noticiado que o regime chinês tinha proibido a deslocação de qualquer bispo do continente e que o veto se estenderia, portanto, a todos os fiéis católicos que quisessem atravessar a fronteira.

O Papa aproveitou a ocasião para enviar "calorosas saudações ao nobre povo chinês". "Peço aos católicos chineses que sejam bons cristãos e bons cidadãos", acrescentou Francisco, como referiu no seu telegrama de saudação ao Presidente Xi Jinping, quando este sobrevoava o céu chinês a caminho da Mongólia. 

O autorFrancisco Otamendi

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