No final de um curso no outro dia, um dos participantes abordou-me para partilhar algumas preocupações. Ela disse-me que hoje em dia não há pessoas, ou pelo menos não se ouve pessoas a falar de amor ao trabalho. Era uma vez", continuou, "dizer que fazia o seu trabalho com vocação e com amor era uma expressão de orgulho pessoal; agora, no entanto, se o disser, provavelmente será menosprezado.
Pode haver alguma verdade nisso, não sei se há muito ou pouco.
Os seres humanos têm dois tipos de amor: os que podem ser perdidos e os que não podem ser perdidos. Entre estes últimos estão, por exemplo, o afecto pela cidade de nascimento e o amor pelos próprios filhos. Estes são amores que, sem fazer nada, são mantidos.
Entre os que se podem perder estão, entre outros, o amor pelo parceiro e o amor ao trabalho ou o amor a Deus. Eles não estão sozinhos. Têm de ser cuidadas.
No início deslumbram-se e os sentimentos são muito fortes, - apaixonar-se ou encontrar um bom emprego, ou uma conversão, por exemplo - mas, com o passar do tempo, o entusiasmo desvanece-se e pode-se estar mais concentrado no negativo do que no positivo. Se não se luta para manter estes amores, para os amar, para os querer, para pôr a própria vontade em amá-los, em suma, se não se luta para ser livre no amor - pelo qual se terá de usar, além dos sentimentos, inteligência e vontade - é provável que surjam sentimentos negativos que podem impedir que se continue a amar (ver colaboração anterior).
Mesmo que o sentimento se perca, o amor não se perde. Se assim fosse, os seres humanos não seriam livres porque não poderiam escolher os seus amores, uma vez que dependem de algo que eu não controlo: o sentimento.
Se só virmos o negativo quando perdermos o sentimento, a vida tornar-se-á dura. Acontece na esfera profissional (concentramo-nos mais no que não funciona) e na esfera pessoal, estamos mais conscientes dos defeitos dos outros do que das suas virtudes, na nossa relação com Deus, podemos estar mais conscientes do que é dispendioso do que amá-Lo.
Estes são sinais de estar concentrado nos sinais negativos, de aviso de que a habituação está a prejudicar esse amor em particular.
A liberdade tem muito a ver com viver um pouco fora dos sentimentos.
A questão que se coloca temerosamente, o que pode ser feito para evitar que isto aconteça?
Do meu ponto de vista, só há uma solução, e acredito sinceramente que não há outra, e que é a de obter formação.
Aprendizagem. O que a formação faz é que ao cair, se levanta de novo. Se parar o treino, ficará no terreno. A rotina começará o seu trabalho de corrosão.
Quando vivemos desta forma, um pouco acima dos nossos sentimentos, percebemos todas as coisas positivas na nossa vida profissional e pessoal e na nossa relação com Deus. A nossa visão será mais equilibrada.
Não podemos esquecer que em todos os amores haverá alturas em que teremos de ir contra a maré. A vida é assim.
Vale a pena viver a vida como ela é. O que não gera qualquer auto-motivação é viver como um escravo dos sentimentos.
Ouça o podcast "Classes de amores e sentimentos".