Na Libéria, há um pároco que nos fala de uma Igreja que não esperamos. O Padre Lorenzo Snider chegou a este país da África Ocidental, encravado entre os gigantes da Costa do Marfim e da Serra Leoa, há pouco mais de quatro anos.
Este missionário, de origem italiana e pertencente à Sociedade das Missões Africanas, vive na pequena aldeia de Foya com a sua comunidade, composta por um outro padre italiano, uma leiga portuguesa e uma família de voluntários franceses.
A população que servem pertence ao grupo étnico Kissi, um milhão de pessoas presentes não só na Libéria mas também em alguns dos países vizinhos. Em todo o distrito de Foya, apenas 3% da população é católica, enquanto a grande maioria é cristã protestante, especialmente pentecostal. Uma situação semelhante, em termos de proporções, à que se verifica em todo o país.
Paróquias missionárias centradas na Eucaristia
Para o Padre Snider, ser uma minoria católica num país onde também há muçulmanos com um 15% e animistas com um 19% é um verdadeiro desafio. A minha paróquia - explicou o padre ao Omnes - é uma comunidade de discípulos missionários. Em virtude do nosso batismo, cada um de nós deve encorajar e acompanhar os nossos irmãos e irmãs, deixando que as nossas almas sejam tocadas pelos pobres e tentando, em conjunto, vencer os medos e os egoísmos.
O principal meio para o conseguir é a centralidade que a comunidade do Padre Snider dá à Eucaristia dominical. "Mas não é só isso. Damos também importância às iniciativas que vêm de baixo e estamos também muito atentos às relações", explica o religioso.
As relações, motor da evangelização
Na pequena comunidade de Foya, como no resto da Libéria, as relações humanas e pessoais são a força motriz de toda a sociedade. E, acrescenta o missionário, para a Igreja Católica representam o coração da evangelização: "A encarnação da Palavra", diz ele, "dá-se no campo da partilha da vida. Quando partilhamos a nossa existência com os outros, descobrimos a beleza do Evangelho vivido. Mas também a nossa fragilidade e a dos outros.
O Padre Snider cita alguns exemplos de membros da sua própria comunidade que sempre se empenharam em construir relações. "Fiquei comovido", diz ele, "quando a organização de mulheres católicas em Foya tomou a iniciativa e foi visitar mulheres na Guiné e na Serra Leoa, criando um tecido de amizade e de intercâmbio internacional de fé.
A isto junta-se a história dos rapazes da Organização das Crianças Católicas, que em poucos anos se tornaram animadores dos seus pares. "Estes rapazes percorrem muitas vezes quilómetros de estradas de terra batida para visitar e animar outros grupos de jovens em aldeias mais pequenas", conta o pároco com alegria e gratidão.
Curar feridas
A paróquia do Padre Snider também lida com as feridas não cicatrizadas causadas pelas duas guerras civis que eclodiram, uma em 1989 e outra em 1999, que provocaram a fuga de quase metade da população e destruíram infra-estruturas básicas. E tenta acalmar a dor ainda muito forte das consequências da epidemia de Ébola que fez milhares de vítimas entre 2014 e 2016.
Para além das iniciativas de solidariedade e de caridade destinadas à população local, o missionário organiza a formação de animadores litúrgicos e o acompanhamento dos catecúmenos. Uma grande atenção é dedicada ao mundo da educação", diz ele. Aqui em Foya e nas comunidades vizinhas de Kolahun e Vahun, a nossa equipa de catequistas segue cerca de mil alunos que frequentam as escolas católicas. Entre eles, há também crianças que são ajudadas com bolsas de estudo.
"Ecumenismo de rua
O que não falta em Foya é também o diálogo inter-religioso. O Padre Snider faz questão de sublinhar que, apesar de estarem em minoria, os católicos encontram formas de organizar momentos informais de encontro e confraternização com líderes de outras igrejas cristãs e de outras religiões.
"Para dar um exemplo", recorda o pároco, "há alguns dias celebrámos um casamento entre dois católicos: uma dúzia de pastores protestantes ligados a uma ou outra família estavam também presentes na missa. O cortejo nupcial que depois percorreu a cidade era composto por quatro carros. Quem eram os condutores? Eu e três outros pastores protestantes. Chamei-lhe ecumenismo de rua.