Ecologia integral

Nuncio Auza: conversão verde e "reservas" à Agenda 2030

Monsenhor Bernardito Auza, núncio apostólico em Espanha, apelou a "uma responsabilidade partilhada no cuidado da criação e sobriedade no uso dos bens", no início da Quaresma. Por outro lado, explicou que as "reservas" da Santa Sé sobre pontos da Agenda de 2030 se deviam aos termos "aborto" e "género".

Francisco Otamendi-21 de Fevereiro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta
Auza

Mons. Auza na mesa de abertura do Congresso da Razão Aberta @UFV

O núncio em Espanha, Arcebispo Bernardito Auza, reviu e comentou os documentos em que os Papas recentes se referiram à ecologia integral, desde São Paulo VI à encíclica do Papa Francisco Laudato si'.

A conferência do Núncio em Espanha teve lugar na Universidade Francisco de Vitoria (UFV), no âmbito da apresentação do VI Congresso Aberto da Razãoque tem lugar numa base bianual.

Revendo "um conceito usado por João Paulo II em 2001, que é também um elemento central da ecologia integral, conversão ecológica", disse Nuncio Auza, pode-se ver que "a ecologia integral é para nós, crentes cristãos católicos, uma questão ética e moral, e também uma questão religiosa, espiritual".

Uma conversão

"A fundação, o princípio fundamental, porque temos uma responsabilidade partilhada, é a obrigação de cuidar do ambiente, da criação. É o imperativo moral e religioso. Não vamos cuidar do ambiente porque existe um problema. Para nós, quer haja mais ou menos problemas, temos uma responsabilidade partilhada de cuidar do ambiente, porque acreditamos que esta é a criação que o Senhor nos confiou, de cuidar, e também de gozar, para o nosso bem. Essa é a base", acrescentou.

"Podemos dizer", como São João Paulo II, acrescentou o núncio, "que traímos o Senhor, que nos confiou a criação e que não fizemos bem. Este é o conceito de conversão. Com a consciência colectiva, praticamente falando, de que não fizemos bem, temos de voltar atrás, este é o conceito de conversão, desta conversão ecológica".

"Podemos dizer que temos de nos afastar de certos comportamentos, e converter-nos a um bom comportamento. A crise ecológica, para nós, tem de ser vista também como um apelo a uma profunda conversão interior". "Uma conversão, e já estamos também no campo moral e teológico", que "precisa de pelo menos duas acções: uma de aversão, de fuga, de se afastar dos comportamentos".

De que vamos ser convertidos? O Núncio Auza citou aqui algumas atitudes que o Papa nos oferece. "Por exemplo, um individualismo desenfreado, uma cultura de gratificação plena e imediata, ganância, falta de moderação, falta de solidariedade para com os necessitados. 

A segunda acção é "a acção de conversão, de mudança", prosseguiu ele. "Um movimento em direcção ao bem". O Santo Padre menciona a responsabilidade partilhada no cuidado da criação, a sobriedade na utilização dos bens, e uma participação cada vez mais activa em acções para cuidar do ambiente".

"Penso que isto é muito oportuno hoje, porque amanhã vamos começar a Quaresma, o período espiritual de conversão. Que a nossa conversão seja também benéfica para a nossa casa comum, o planeta", acrescentou Monsenhor Bernardito Auza. 

Santa Sé e Agenda 2030

O núncio em Espanha foi apresentado pelo reitor da Universidade Francisco de Vitória, Daniel Sada, que fez a primeira pergunta, sobre a Santa Sé e a Agenda 2030. Monsenhor Auza, na sua palestra sobre ecologia integral, tinha recordado a data de publicação da encíclica do Papa Francisco, Laudato sí', em 24 de Maio de 2015.

"Não foi por acaso que um documento de tão grande alcance foi publicado nas fases finais das difíceis negociações intergovernamentais sobre a Agenda 2030.

Os últimos meses foram difíceis, e o "Laudato si" saiu, que foi lido por praticamente toda a gente. O seu objectivo específico estava em vista da cimeira de Paris em Dezembro de 2015. 

"Este documento", revelou o núncio, "teve e continua a ter um impacto muito grande e muito positivo nos debates e políticas ambientais internacionais". Sou testemunha disso, tendo estado presente em todas as conferências em todo o mundo, antes do Acordo de Paris, e antes da agenda de 2030, especialmente nas fases decisivas das negociações intergovernamentais", afirmou.

Recordar o discurso do Papa Francisco à Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, a 25 de Setembro de 2015, foi talvez uma das razões pelas quais o núncio levou algum tempo a responder à Agenda 2030. E também, naturalmente, porque Monsenhor Auza trabalhou na Secretaria de Estado da Santa Sé e foi mais tarde Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas (ONU) a partir de 2014 até à sua chegada a Espanha. 

O núncio recordou que a Santa Sé expressou a sua posição sobre a Agenda 2030 em várias ocasiões. Ela inclui de forma proeminente a erradicação da pobreza e da fome, a educação, os desafios ambientais, e a promoção da paz, que a Santa Sé obviamente partilha. E há dois pontos (aborto e género), sobre os quais a Santa Sé exprimiu "reservas" no processo. 

A Agenda 2030 não incluiu finalmente o termo "aborto ou direito ao aborto", disse o núncio. Quanto ao termo "género", incluído no ponto 5, "a Santa Sé compreende o termo género na sua base biológica: masculino e feminino". "Preferimos outros termos que captem a ideia de poder como serviço, em vez de empoderamento e capacitação".

Por exemplo, falar de promoção, de promoção". O núncio salientou também que a Espanha pode ser o único país do mundo onde existe um Ministério para a Agenda 2030.

O autorFrancisco Otamendi

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