O congresso O encontro teve início com a intervenção de um dos bispos auxiliares de Santiago, D. Alberto Lorenzetti, que encorajou os presentes a "saberem adaptar-se ao seu público quando anunciam a fé em Jesus". Referiu que, hoje, este diálogo não é fácil porque, em vez de falar ao mundo de um Deus desconhecido, como fez Paulo em Atenas, é necessário falar de um Deus esquecido e estamos perante o desafio de chegar ao coração das crianças e dos jovens.
Apresentar Cristo
O Padre Lucas Buch, da Universidade de Navarra, sublinhou a ideia de manter uma relação cordial e pessoal com os estudantes, falando-lhes de coração para coração.
Explicou que a tarefa de um professor de religião não é demonstrar Cristo, mas apresentá-Lo. A primeira coisa é rezar pelos alunos - porque é Cristo que tem de ser apresentado -, tentar viver o que se ensina, porque em grande medida o que as crianças acreditam sobre Cristo dependerá do que vêem nos seus professores, e finalmente, propor Cristo de tal forma que as crianças sejam capazes de O reconhecer.
Sabe-se se uma pessoa é cristã não porque ela é capaz de expor muito bem a fé cristã, mas porque ela caminha nessa verdade. A principal forma de um professor de religião transmitir Cristo é vivê-lo. Como dizia o Papa Paulo VI: "O homem contemporâneo escuta mais as testemunhas do que os mestres, ou, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas".
Transmitir a fé com esperança
Ao longo do congresso, a necessidade de educar com esperança foi sublinhada várias vezes. Klaus Dröste, decano da Faculdade de Psicologia e de Ciências Humanas da Universidade de San Sebastian, sublinhou que muitas vezes falta esperança aos jovens porque não vêem a sua vida como algo de grande, algo que vale a pena viver. É importante abrir-lhes perspectivas de eternidade. Esta esperança permitir-lhes-á ancorar o seu coração em Deus e pôr em ordem a sua vida, apesar de todos os problemas que têm atualmente.
Se um jovem descobrir isso, poderá reler a sua história, as suas calamidades, as suas frustrações, os seus êxitos, os seus fracassos, as suas qualidades sob uma nova luz. Aprenderá que de tudo pode sair um bem.
Noutra conferência, Dom Lucas definiu a missão do professor de religião com dois verbos: despertar e transmitir. Por um lado, despertar os alunos, acompanhá-los na descoberta do talento que Deus lhes deu, esperar com eles o despertar da sua vocação e, por outro lado, transmitir a fé com esperança, especialmente a esta geração pós-milenar. Como é sabido, muitos jovens têm a sensação de que o que acontece não depende deles, mas de factores externos, talvez porque o mundo em que vivemos é demasiado complexo e pensam que não podem mudar nada do que acontece. Tudo isto se cristalizou de alguma forma num pessimismo generalizado, que também tem a sua expressão em problemas de saúde mental.
Numa sociedade como a nossa, onde cada um é encorajado a ser autossuficiente, o cristianismo tem esta mensagem revolucionária: desde o momento da nossa conceção, somos dependentes dos outros. Dizer a um aluno: és feito para amar e ser amado, porque Deus é amor, uma comunhão de pessoas, pode abrir grandes horizontes.
Luzes para salas de aula
Os professores de religião são chamados a manter viva a Palavra de Deus, nomeadamente o Evangelho, e a fazê-la ressoar no coração dos jovens. No entanto, há o desafio de a fazer compreender, porque se trata de um texto muito conciso. Don Lucas sugeriu que se lesse a Escritura em conjunto e se resolvessem as dúvidas que surgissem.
A caridade é também uma forma inquestionável da presença de Cristo, e a aula de religião é uma área que pode oferecer a oportunidade de experimentar a misericórdia, ou seja, de se aproximar de alguém necessitado, de um doente, de um idoso, de alguém para ajudar.
Contar a história dos santos, cujas vidas só podem ser compreendidas à luz de Deus, também nos aproxima de Cristo, porque o Senhor brilha neles. Cada aluno pode encontrar num santo a sua inspiração, aquilo que o toca profundamente.
O caminho da beleza
Andrea Torres, um filósofo, disse que a beleza deve acompanhar o ensino da religião porque é Deus que se manifesta nela. Além disso, Deus criou o mundo inteiro para o bem da humanidade, para que O possamos conhecer e desfrutar. Esta ideia pode dar esperança aos jovens.
Dom Lucas Buch insistia que a beleza também nos fala de uma realidade que transcende o puramente mundano, o puramente útil, e por isso é também um canal para Cristo. Talvez a própria aula de religião possa ser uma oportunidade para os alunos fazerem uma experiência de beleza, para aprenderem a apreciar uma obra de arte, o que pode ajudar Cristo a estar presente nas suas vidas. Mostrando a beleza, pode-se educar a sensibilidade e o gosto pela grande beleza. Neste sentido, o uso de imagens, poesia ou música oferece um caminho.
Falar da eternidade
No congresso, foi salientado que se pode falar da morte e das verdades eternas com sensibilidade. É necessário fazê-lo, porque é aí que está ancorada a esperança. Como salientou Don Lucas, num contexto multicultural, é importante falar claramente sobre o que é a proposta cristã, evitando visões simplistas da vida eterna. É importante mostrar que essas verdades têm um sentido e nos ajudam a viver de uma determinada maneira.
À luz do julgamento, por exemplo, o professor pode ensinar a cultivar a memória, a fazer perguntas que nos permitam construir uma vida com sentido.
O inferno pode ser entendido, como diz Dostoievski, como o sofrimento de não ser capaz de amar. Pode ser trazido para a vida atual, falando com os alunos sobre o ressentimento, sobre não querer perdoar, não querer amar alguém. Deve ser claramente distinguido do purgatório, onde há esperança e desejo de amor. Pode ajudar a compreender isto, comentando que é possível rezar pelos defuntos e procurar a comunhão com aqueles que se encontram neste estado.
Finalmente, para se referir ao Céu, o professor precisa de muita criatividade para ver como pode oferecer aos seus alunos experiências de comunhão, por vezes simplesmente aprofundando as que eles já têm, para os assimilar ao Céu, onde não há lugar para o isolamento.
A proposta cristã
Por fim, Don Lucas propôs que, perante os grandes anseios que residem no coração dos homens (ser amado, manter relações profundas, ser alguém, ajudar os outros) - anseios que são apoiados por pressupostos ambientais (individualismo e necessidade de desempenho, autossuficiência e hipersexualidade, emotivismo como critério para avaliar se algo é bom ou mau, superproteção) - há uma proposta cristã a fazer aos jovens: a consciência de que Deus nos amou primeiro, o desígnio da comunhão, o convite a fazer parte de uma história de amor que se entrelaça com as nossas histórias e a convicção de que há mais alegria em dar do que em receber. Em suma, trata-se de mostrar a beleza da nossa fé.