O filósofo escocês Alasdair MacIntyre (1929/-) publicou a sua obra "After Virtue" em 1981. Nela, recorda a "Ética a Nicómaco", de Aristótelesque o seu esquema teleológico assenta em três elementos:
a) O homem tal como ele é.
b) O homem tal como ele poderia ser se compreendesse a sua natureza essencial.
c) Um conjunto de regras éticas.
As regras éticas ordenam as diferentes virtudes e proíbem os seus vícios contrários, ensinando-nos a realizar a nossa verdadeira natureza e a atingir o nosso verdadeiro fim.
Estas regras pressupõem: uma conceção da essência e da finalidade do homem como animal racional, cuja razão nos ensina qual é a nossa verdadeira finalidade e como alcançá-la.
Para MacIntyre, este esquema entrou em colapso no século XVII com o aparecimento da conceção protestante e jansenista de que o pecado original, ao corromper totalmente a razão, a privou da sua capacidade de compreender o fim do homem. Desde então, "foram impostos limites estritos aos poderes da razão. A razão é cálculo; pode estabelecer verdades de facto e relações matemáticas, mas nada mais. No domínio da prática, só pode falar de meios. Deve calar-se sobre os fins".
Os filósofos do Iluminismo, privados dessa conceção normativa e teleológica da natureza humana, basearam a sua ética nos imperativos categóricos da razão prática (Kant) ou na maximização do prazer (Hume). Para MacIntyre, este fracasso, que deu origem a Nietzsche e a todo o irracionalismo moderno, deixa a escolha atual limitada entre a teoria aristotélica das virtudes e o amoralismo irracionalista.
MacIntyre, após um relato histórico da valorização das virtudes humanas (as virtudes supremas nas sociedades heróicas descritas por Homero: a fortaleza ou a lealdade; as virtudes, como o amor ou a humildade, trazidas pelo cristianismo) opta por uma ética da virtude na tradição aristotélico-tomista, consciente da importância de redescobrir o valor das virtudes humanas.
O filósofo americano Peter Kreeft (1937/-) tenta mostrar que a ciência natural e a filosofia são duas ordens de conhecimento distintas mas complementares.
A ciência tenta responder à pergunta: quais são as propriedades físicas das coisas? A filosofia tenta responder à pergunta: qual é a natureza última do real? As suas questões mais importantes:
-O que é que é, a questão metafísica.
-O que é este ser que se interroga sobre o que é, ou, mais simplesmente, o que é o homem, uma questão antropológica?
-O que fazer e o que não fazer é uma questão ética.
-Como é que sabemos? é uma questão epistemológica.
As respostas a estas questões dependem umas das outras, estão interligadas. Não podemos determinar que conduta convém ao homem se não soubermos o que o homem é, e o que o homem é depende do que é ser.
Desde Sócrates até ao início do século XX, manteve-se a ideia de que a procura da verdade era uma das tarefas mais nobres do homem e que a razão era o principal recurso para essa procura.
Desde o início do século XX, assistimos à sementeira de um pensamento nietzschiano em que a vontade prevalece sobre a razão: em vez de tentarmos compreender o real para nos adaptarmos melhor, somos convidados a criar os nossos próprios valores e as nossas próprias verdades para os impor ao real. Não devemos submeter-nos ao real, ao que é, mas sim moldá-lo de acordo com os nossos desejos e ambições, utilizando as poderosas tecnologias que a ciência coloca à nossa disposição.
A natureza humana é concebida como uma realidade que pode ser modificada de acordo com as circunstâncias ou preferências de cada um. Tudo o que nos rodeia, incluindo o nosso corpo, é uma matéria-prima que pode ser manipulada à vontade.
A própria noção de natureza é abolida e substituída pela ideia de que cabe a cada indivíduo definir por si próprio o que é natural e o que não é, instaurando assim um culto supremo da autonomia individual que encontra uma das suas expressões mais claras no acórdão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de 1992, no caso Planned Parenthood v. Casey, que estabeleceu o direito de cada indivíduo a definir a sua própria conceção da existência, do sentido, do universo e do mistério da vida humana.
Este culto da autonomia humana está na origem dos direitos ao aborto e ao suicídio assistido, reconhecidos em muitos países. Segundo uma versão da teoria ou ideologia do género, para além de negar que o corpo humano tenha uma natureza, afirma que só somos homens ou mulheres na medida em que o consentimos. A distinção entre masculino e feminino nos seres humanos seria puramente arbitrária, uma construção social resultante de relações de poder. Esta antropologia é dominada pela supremacia da subjetividade sobre a objetividade.
É da natureza humana perceber o livre arbítrio?
A ideia de que o ser humano não tem livre arbítrio tem as suas raízes na Reforma Protestante do século XVI. Nos "Loci communes" de Melanchthon e na "Institution de la religion chrétienne" de Calvino, a salvação não tem nada a ver com a prática das virtudes, porque não tem nada a ver com a liberdade humana. Segundo Melanchthon, a conduta virtuosa não pode contribuir em nada para a salvação eterna, porque essa conduta é apenas uma consequência feliz da salvação pela fé, na qual só Deus está envolvido.
Esta interpretação protestante abriu caminho ao materialismo científico, que salienta que o homem é parte integrante do mundo natural e não pode libertar-se do determinismo universal que rege o mundo da natureza. Admitir a existência do livre arbítrio equivaleria a negar a universalidade do princípio de causalidade e, portanto, das leis científicas.
Para Kreeft, as nossas escolhas, mesmo que não sejam determinadas, são influenciadas por numerosos factores externos (o ambiente social ou físico), corporais (hereditariedade) ou espirituais (motivações). Em todo o caso, é possível resistir a essas influências ou tentações.
As ciências sociais e humanas ajudam-nos a descobrir não as causas que determinam mecanicamente o comportamento humano, mas os factores que o condicionam ou favorecem.