Os seres humanos têm direitos... e responsabilidades!
Com o aparecimento de várias iniciativas para a defesa dos direitos humanos, parece que nos esquecemos de que estes são indissociáveis dos deveres. A nossa sociedade exige direitos, o que é legítimo, evidentemente, mas sofremos quando esperamos que eles sejam respeitados em relação a nós próprios, mas não em relação aos outros. Esta realidade é agravada quando, para além disso, chamamos direitos aos nossos desejos.
Recentemente, uma mulher madura veio ao meu consultório, angustiada com a chegada iminente da sogra a sua casa. Ela chorava: "Porque é que ela tem de vir? Eu tenho o direito de ser feliz.
Acompanhei com empatia os seus sentimentos e, pouco a pouco, abrimo-nos a uma reflexão profunda sobre o amor na família. A certa altura da conversa, ela revelou o que lhe ia no coração e na consciência:
"Toda a minha vida fui rejeitada pela minha sogra e agora que ela está doente não tenho vontade de a ver. Mas eu amo o meu marido e sei que seria precioso para ele se eu mostrasse alguma compaixão. Sei que ele fica magoado com a minha frieza e não quero ser assim, mas no fundo do meu coração não me apetece aproximar-me. O que posso fazer?
Na sua carta aos Romanos, S. Paulo exorta-nos a dar vida à nossa fé através de certas atitudes fundamentais: "Tende o mesmo sentimento uns para com os outros, não sejais arrogantes nos vossos pensamentos, mas sede condescendentes com os mais pequenos. Não sejais sábios na vossa própria opinião. Nunca retribuais a ninguém mal por mal. Se possível, na medida em que depender de vós, estai em paz com todos os homens" (Rom, 12, 16-18).
Isto, que parece utópico, pode ser alcançado com determinação pessoal: "Vou fazer o que está certo, mesmo que não me apeteça". Atualmente, graças aos progressos da neurociência, confirma-se que é possível mudar os nossos sentimentos e atitudes modificando os nossos comportamentos e pensamentos. Por outras palavras, não devemos fazer depender as nossas acções dos nossos sentimentos; todos nós podemos escolher as nossas reacções, pensando nas consequências e seleccionando a melhor resposta a cada circunstância.
O neurologista alemão Eduard Hitzig, já no final do século XIX, concebeu o que hoje conhecemos como o alfabeto emocional. Detectou uma correlação entre certos sentimentos e atitudes.
Afirmou que os sentimentos "R" geram atitudes "D":
-Raiva, ressentimento, rancor, rejeição
Geram atitudes "D":
-Depressão, desânimo, desalento, desesperança, desespero
Em contrapartida, os sentimentos "S" produzem atitudes "A":
-Serenidade, sociabilidade, sonolência, sorriso, sabedoria
Geram atitudes "A":
-Amor, amizade, apreço, encorajamento, proximidade
De acordo com as observações do Dr. Hitzig, o nosso cérebro pode ser moldado: o cérebro é um "músculo" fácil de enganar; se sorrirmos, ele pensa que estamos felizes e faz-nos sentir melhor.
Por isso, será necessário encarar as intempéries com bons olhos e fazer o que é correto, mesmo que não nos apeteça, o que nos dará maturidade emocional. Esforcemo-nos por praticar as virtudes humanas, esta foi a caminhada dos santos, e nós somos chamados a ser santos.
Quando a Palavra de Deus nos pede para retribuir o mal com o bem, é porque, conhecendo a nossa natureza humana, nos recomenda que façamos o que é melhor para nós, e não o que os nossos ressentimentos ditam.
Escutar a voz do Criador e obedecer-lhe torna-nos verdadeiramente livres e felizes.