ColaboradoresÁlvaro Sánchez León

Boa gente

Há muito mais pessoas boas do que parece ser o caso, se julgarmos pelo seu aspecto ou pelo que alguns meios de comunicação nos mostram. Pessoas comuns, como o leitor ou o autor desta coluna.

2 de Dezembro de 2017-Tempo de leitura: 2 acta

Veja. Vi um homem colocar várias pilhas velhas num contentor de reciclagem. Com cuidado. E é preciso curvar-se, porque a operação não é confortável. 

Também vi uma senhora a apanhar os excrementos do seu cão com a ilusão - pode-se ver, pode-se sentir - de que não restam restos no pavimento. E não havia ninguém por perto. Só eu estava a olhar pela janela.

Vi uma jovem que abdicou do seu lugar a uma mulher grávida. No metro. Ela deu o seu lugar com um sorriso e uma pergunta: Quantos meses está grávida? 6 meses. Muito encorajamento. Piscar o olho. Piscar o olho.

Tenho visto - por rumores - Morat a cantar na cirurgia de uma criança que precisa de uma medula óssea. O pequeno José María ficou entusiasmado. E eles foram, ao vivo. Sem imprensa.

Tenho visto um cavalheiro a esforçar-se ao máximo para separar os desafios de lixo da sua santa morada. Sacos coloridos. Vários contentores. Um puzzle adequado apenas para pessoas com encanto.

Vislumbrei um "bom dia" para o quiosque. Um "obrigado" ao homem que varre as ruas do meu bairro. Um "é claro" para o farmacêutico. Um "cuidado" para o médico de família. Um "Mamã, amo-te de todo o coração" mais um beijo numa das poucas cabines telefónicas que restam vivas no planeta. smartphone.

Tenho visto cartas manuscritas que continuam a cair através da caixa das cartas. Jovens num lar de idosos, com as suas palavras bem intencionadas, escutando sem serem pagos. O cinema social. Jornalismo empenhado. Cultura activa contra as desigualdades, as liberdades de burca, o consumismo sem alma e o merda de pisador do poder.

Há pró-vida que deixam os seus idem por transformar as gravidezes indesejadas em futuros esperançosos. Sem o inferno. Com o coração. Falam-me disso: ali, à porta da rua, um sábado após outro sábado de frio, calor, ou indiferença. 

Há protectores de animais que também trabalham arduamente para cuidar da natureza.

Ouvi, vi, toquei e falei com boas pessoas. Que não aparecem nas análises estridentes das sociedades contemporâneas, onde aqueles que matam, roubam e violam direitos emergem cada vez mais com menos e menos impunidade. 

Boa gente, mesmo que o Fito só cante sobre bandidos. Mesmo que a notícia seja uma morgue de humanismo descafeinado. Boa gente. Como você. 

Boa gente! É preciso dizê-lo com mais frequência. Porque o que vemos na rua é mais real do que o que vemos na rua. echan na televisão. Natal branco. Natal branco aberto 365 dias por ano. É a sua vez.

O autorÁlvaro Sánchez León

Jornalista

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