Vaticano

"A chamada de Deus traz consigo uma missão à qual estamos destinados".

O Papa Francisco realizou uma audiência geral no pátio de São Damaso, onde comentou a Carta de São Paulo aos Gálatas, neste novo ciclo de catequese, com especial ênfase no facto de se ser "um verdadeiro apóstolo não por mérito próprio, mas por apelo de Deus".

David Fernández Alonso-30 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
audiência do papa francisco

Foto: ©2021 Catholic News Service / U.S. Conference of Catholic Bishops.

O Papa Francisco iniciou o ciclo da catequese comentando a Carta de São Paulo aos Gálatas, que "vamos entrando pouco a pouco". "Vimos que estes cristãos", começa o Santo Padre, "se encontram em conflito sobre a forma de viver a fé. O Apóstolo Paulo começa a sua Carta recordando-lhes as suas relações passadas, o seu desconforto à distância e o amor imutável que tem por cada um deles. Contudo, não deixa de assinalar a sua preocupação de que os Galatianos devem seguir o caminho certo: é a preocupação de um pai, que gerou as comunidades na fé. A sua intenção é muito clara: é necessário reafirmar a novidade do Evangelho, que os Gálatas receberam da sua pregação, a fim de construir a verdadeira identidade sobre a qual fundar a sua própria existência".

O Papa sublinha o profundo conhecimento do mistério de Cristo por parte do Apóstolo. "Desde o início da sua carta, ele não segue os argumentos baixos dos seus detractores. O apóstolo "voa alto" e mostra-nos também como nos comportarmos quando surgem conflitos dentro da congregação. De facto, é apenas no final da carta que se torna claro que o cerne da controvérsia que surgiu é o da circuncisão, portanto da principal tradição judaica. Paulo opta por ir mais fundo, porque o que está em jogo é a verdade do Evangelho e a liberdade dos cristãos, que é uma parte integrante do mesmo. Ele não se detém na superfície dos problemas, pois somos frequentemente tentados a encontrar de imediato uma solução ilusória para conseguir que todos cheguem a acordo sobre um compromisso. Não é assim que funciona com o Evangelho e o Apóstolo optou por seguir o caminho mais árduo. Ele escreve: "Pois procuro agora o favor dos homens ou o favor de Deus, ou tento agradar aos homens? Se eu ainda estivesse a tentar agradar aos homens, já não seria um servo de Cristo" (Gal 1,10)".

"Em primeiro lugar, Paulo sente o dever de recordar aos Gálatas que é um verdadeiro apóstolo não pelo seu próprio mérito, mas pelo apelo de Deus. Ele próprio conta a história da sua vocação e conversão, que coincide com o aparecimento do Cristo Ressuscitado durante a viagem a Damasco (cfr. Actos 9,1-9). É interessante notar o que diz da sua vida antes deste acontecimento: "Persegui ferozmente e devastei a Igreja de Deus, e como ultrapassei no judaísmo muitos dos meus compatriotas contemporâneos, superando-os no zelo pelas tradições dos meus pais" (Gal 1,13-14). Paulo ousa afirmar que estava acima de todos os outros no judaísmo, era um verdadeiro fariseu, zeloso "pela justiça da Lei, irrepreensível" (Fil 3,6). Por duas vezes, sublinha que tinha sido um defensor das "tradições dos pais" e um "defensor convicto da lei".

"Por um lado, insiste, sublinhando que tinha perseguido ferozmente a Igreja que tinha sido um "blasfemador, um perseguidor e um insolente" (1 Tm 1:13); por outro lado, mostra a misericórdia de Deus para com ele, o que o leva a sofrer uma transformação radical, bem conhecida por todos. Ele escreve: "Mas as igrejas da Judeia que estão em Cristo não me conheceram pessoalmente. Apenas o tinham ouvido dizer: "Aquele que em tempos nos perseguiu proclama agora a boa nova da fé que então desejava destruir" (Gal 1,22-23). Paulo mostra assim a verdade da sua vocação através do contraste impressionante que tinha sido criado na sua vida: de um perseguidor de cristãos porque não observavam as tradições e a lei, ele tinha sido chamado a tornar-se apóstolo para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo".

"Pensando na sua história, Paul está cheio de admiração e reconhecimento. É como se quisesse dizer aos Galatianos que podia ser tudo menos apóstolo. Tinha sido educado desde criança para ser um observador irrepreensível da lei mosaica, e as circunstâncias tinham-no levado a lutar contra os discípulos de Cristo. Contudo, algo inesperado aconteceu: Deus, na sua graça, tinha-lhe revelado o seu Filho morto e ressuscitado, para que pudesse tornar-se um arauto entre os pagãos (cfr. Gal 1,15-6)".

"Os caminhos do Senhor são inescrutáveis", exclamou o Papa. "Tocamo-lo com as nossas mãos todos os dias, mas especialmente se pensarmos nos momentos em que o Senhor nos chamou. Nunca devemos esquecer o tempo e a forma como Deus entrou nas nossas vidas: para nos mantermos fixos nos nossos corações e mentes que se encontram com a graça, quando Deus mudou a nossa existência. Quantas vezes, perante as grandes obras do Senhor, a questão surge espontaneamente: como é possível que Deus use um pecador, uma pessoa frágil e fraca, para realizar a Sua vontade? Contudo, não há nada de acidental, porque tudo foi preparado no desígnio de Deus. Ele tece a nossa história e, se correspondermos com confiança ao seu plano de salvação, nós concretizamo-lo. O apelo traz sempre consigo uma missão à qual estamos destinados; é por isso que nos é pedido que nos preparemos seriamente, sabendo que é o próprio Deus que nos envia e nos sustenta com a sua graça. Deixemo-nos conduzir por esta consciência: o primado da graça transforma a existência e torna-a digna de ser colocada ao serviço do Evangelho".

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