Vaticano

A Quaresma é "um tempo de conversão" e de "liberdade", diz o Papa

O Papa Francisco publicou a sua mensagem para a Quaresma de 2024, com o tema "Através do deserto, Deus conduz-nos à liberdade".

Loreto Rios-1 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Foto de NEOM no Unsplash

O Papa Francisco publicou hoje o seu mensagem para a Quaresma de 2024Este ano, terá início a 14 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas. O Domingo de Ramos será celebrado no dia 24 de março, e a Quinta-feira Santa e a Sexta-feira Santa nos dias 28 e 29 de março, respetivamente.

Da escravatura à liberdade

O Papa abre a sua mensagem quaresmal deste ano explicando que, desde o momento em que Deus se revela ao povo de Israel, anuncia a liberdade: "'Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egipto, de um lugar de escravidão' (Ex 20,2). Abre-se assim o decálogo dado a Moisés no monte Sinai. O povo sabe bem de que êxodo Deus está a falar; a experiência da escravidão está ainda impressa na sua carne".

Neste contexto, Francisco observa que o povo de Israel recebeu os mandamentos como um caminho para a liberdade, e não simplesmente como um conjunto de regras a seguir: "(O povo de Israel) recebeu as dez palavras da aliança no deserto como um caminho para a liberdade. Chamamos-lhes 'mandamentos', sublinhando a força do amor com que Deus educa o seu povo".

O Santo Padre sublinha ainda que este caminho para a liberdade é um processo que amadurece gradualmente, não se alcança de um dia para o outro, e que todos nós estamos neste caminho: "Tal como Israel no deserto traz ainda dentro de si o Egipto - tem muitas vezes saudades do passado e murmura contra o céu e contra Moisés - assim também hoje o povo de Deus traz dentro de si laços opressivos que deve decidir abandonar".

O Papa indica alguns sinais para detetar estes "laços": "Apercebemo-nos disso quando nos falta a esperança e vagueamos pela vida como num deserto desolado, sem uma terra prometida para a qual possamos partir juntos".

O deserto, a promessa de algo novo

No entanto, este deserto, este estado aparentemente negativo, pode ser transformado em algo mais belo do que era antes, como uma terra que está a ser preparada para que nela floresça um pomar: "A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto se torna de novo - como anuncia o profeta Oséias - o lugar do primeiro amor (Os 2,16-17)". Nesta perspetiva, o Papa sublinha que o deserto é uma fase da pedagogia divina com o homem: "Deus educa o seu povo a abandonar a escravidão e a experimentar a passagem da morte para a vida".

Mas este conceito pode permanecer "um caminho abstrato", adverte Francisco. "Para que a nossa Quaresma seja também concreta, o primeiro passo é querer ver a realidade. Quando, na sarça ardente, o Senhor atraiu Moisés e lhe falou, revelou-se imediatamente como um Deus que vê e sobretudo escuta: "Vi a opressão do meu povo no Egipto e ouvi as suas queixas contra os seus opressores; conheço os seus sofrimentos. Desci para os libertar dos egípcios, para os tirar desta terra, para os levar para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel" (Ex 3,7-8)" (Ex 3,7-8).

"Onde está o teu irmão?

O Papa convida-nos a interrogarmo-nos se este grito nos atinge também a nós: "Também hoje, o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu. Perguntemo-nos: chega também a nós, abala-nos, comove-nos? Muitos factores afastam-nos uns dos outros, negando a fraternidade que nos une desde o início".

Outras perguntas úteis para o exame de consciência apontadas por Francisco são: "Onde estás?" (Gn 3,9) e "Onde está o teu irmão?" (Gn 4,9).

O Santo Padre convida-nos a refletir sobre elas e alerta para uma possível saudade do "domínio do Faraó", ou seja, da escravidão, mesmo que seja "um domínio que nos deixa exaustos e nos torna insensíveis". Porque, "embora a nossa libertação já tenha começado com o batismo, permanece em nós um desejo inexplicável de escravidão. É como uma atração pela segurança do que já vimos, em detrimento da liberdade".

Perante este facto, o Papa propõe estas questões para reflexão: "Desejo um mundo novo e estou disposto a romper os meus compromissos com o antigo? Porque, segundo o Santo Padre, um dos males mais importantes do nosso tempo é a falta de esperança: "O testemunho de muitos irmãos bispos e de um grande número de pessoas que trabalham pela paz e pela justiça convence-me cada vez mais de que o que deve ser denunciado é a falta de esperança. É um impedimento para sonhar, um grito mudo que chega ao céu e toca o coração de Deus. É como a saudade da escravatura que paralisa Israel no deserto, impedindo-o de avançar.

A batalha espiritual

A Quaresma, porém, pode ser o momento ideal para decidir "não voltar a cair na escravidão": "Deus não se cansa de nós. Acolhamos a Quaresma como um tempo forte em que a sua Palavra se dirige de novo a nós. [É um tempo de conversão, um tempo de liberdade. O próprio Jesus, como recordamos todos os anos no primeiro domingo da Quaresma, foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser provado na sua liberdade. Durante quarenta dias, ele estará diante de nós e connosco: é o Filho incarnado. Ao contrário do Faraó, Deus não quer súbditos, mas filhos. O deserto é o espaço em que a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravatura. Na Quaresma, encontramos novos critérios de julgamento e uma comunidade com a qual empreender um caminho nunca antes percorrido".

Este regresso à liberdade implica também uma atitude de combate, pois a vida cristã é, antes de mais, uma batalha espiritual: "Trata-se de uma luta, que o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto nos dizem claramente. À voz de Deus, que diz: "Tu és o meu Filho muito amado" (Mc 1,11) e "Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20,3), opõem-se, de facto, as mentiras do inimigo".

Nesta linha, o Papa alerta também para o perigo dos "ídolos": "Sentir-se omnipotente, reconhecido por todos, aproveitar-se dos outros: cada ser humano sente dentro de si a sedução desta mentira". Também nós podemos ser escravos da riquezaPodemos ficar apegados ao dinheiro, a certos projectos, ideias, objectivos, à nossa posição, a uma tradição e até a algumas pessoas. "Estas coisas, em vez de nos conduzirem, paralisam-nos", adverte Francisco.

Agir é também parar

Nesta sociedade acelerada e desenfreada, o Santo Padre convida-nos também a mudar o ritmo durante estes quarenta dias: "É tempo de agir, e na Quaresma agir é também fazer uma pausa. Parar na oração, acolher a Palavra de Deus e parar, como o samaritano, diante do irmão ferido. O amor a Deus e ao próximo é um só amor. Não ter outros deuses é deter-se diante da presença de Deus, na carne do próximo.

Por isso, o Papa recorda que tanto a oração, como a esmola e o jejum, propostos para estes dias, "não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: livrarmo-nos dos ídolos que nos pesam, livrarmo-nos dos apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará.

Além disso, a Quaresma faz-nos redescobrir "a dimensão contemplativa da vida", que "mobilizará novas energias", levando-nos ao encontro dos outros: "Na presença de Deus, tornamo-nos irmãs e irmãos [...]; em vez de ameaças e inimigos, encontramos companheiros de viagem. Este é o sonho de Deus, a terra prometida para a qual marchamos para sair da escravatura.

Citando um discurso que proferiu na JMJ de Lisboa, o Papa salientou que é verdade que vivemos num tempo com muitos desafios, mas encorajou-nos a pensar "que não estamos em agonia, mas em trabalho; não estamos no fim, mas no início de um grande espetáculo".

"A fé e a caridade tomam esta pequena esperança pela mão", conclui o Papa, "ensinam-na a caminhar e, ao mesmo tempo, é ela que a arrasta para a frente".

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