Educação

A Universidade Francisco de Vitória lança um Instituto do Perdão

O objetivo da entidade académica é promover a investigação sobre o perdão nas esferas escolar, familiar, terapêutica e social através de um Instituto do Perdão. Ps professores da Universidade salientaram a importância de compreender o perdão para além das exigências da justiça, o que permitirá às pessoas ultrapassar bloqueios emocionais e dor.  

Francisco Otamendi-2 de março de 2024-Tempo de leitura: 4 acta
Universidade do Perdão

A Universidade Francisco de Vitória apresenta um Instituto do Perdão @UFV

Os observadores e analistas têm-se referido frequentemente à necessidade do perdão como forma de resolver conflitos, ou no seu rescaldo, na sequência da violência terrorista, em actos isolados ou ao longo de anos, e mesmo no rescaldo de guerras e conflitos em todo o mundo, e do impacto significativo que tiveram nas pessoas.

A nível pessoal, e também no família e social, mesmo apenas de um ponto de vista estritamente psicológico, já não ético ou moral, foi sublinhada a importância do perdão para alcançar a paz interior e exterior. O perdão, diz-se, melhora a saúde física e mental; o ressentimento e o ódio corroem.

Esta semana, o Universidade Francisco de Vitoria (UFV) apresentou o Instituto do PerdãoO centro académico refere: "uma iniciativa pioneira no meio universitário, com um dia em que foi possível analisar o conceito de perdão e explicar como funciona em projectos específicos".

"O objetivo é oferecer um espaço de investigação, formação e transferência de conhecimentos no campo do perdão", explicou a Dra. Clara Molinero, directora do Instituto e da Licenciatura em Psicologia da UFV, que participou no evento juntamente com a Dra. María Prieto Ursúa, da Universidade de Comillas, Saray Bonete, investigadora e professora da Licenciatura, e Robert Enright, pioneiro da investigação sobre o perdão nos EUA, segundo a Universidade.

Perspetiva multidisciplinar

Clara Molinero explicou que a iniciativa surge da "necessidade de explorar o perdão numa perspetiva multidisciplinar e aberta, incluindo outras disciplinas como a psicologia, a educação, a filosofia, a teologia e a sociologia, entre outras".

"É possível aprender a perdoar e a pedir perdão, e quem não precisa de ultrapassar um bloqueio ou um ressentimento por um mal recebido? Todos somos potenciais beneficiários do Instituto, porque não se destina apenas a ajudar doentes com perturbações graves, mas toda a gente, porque todos precisamos de perdão", afirmou Jorge López, diretor da Faculdade de Educação e Psicologia.

"As principais linhas são a criação de instrumentos de medida que permitam examinar as mudanças após um trabalho de aprendizagem do perdão; um trabalho de intervenção em que desenvolvemos conteúdos e avaliamos as mudanças que ocorrem", sublinha a investigadora Saray Bonete, que explica que estão a trabalhar com reclusos, mas também em escolas e universidades "para formar os estudantes universitários no seu trabalho profissional para utilizarem o perdão como estratégia de resolução de conflitos". 

Profundidade emocional e psicológica do perdão

A inauguração também serviu de plataforma para discutir como o perdão pode ser uma ferramenta poderosa para o bem-estar emocional e a saúde mental. María Prieto Ursúa, autora do livro "Perdão e Saúde", salientou a complexidade do processo de perdão "especialmente quando se trata de perdoar a si próprio depois de ter cometido actos que causaram danos significativos a outros".

O Dr. Prieto identificou três componentes principais no processo de perdoar a si próprio: assumir a responsabilidade, reparação interpessoal (embora, em alguns casos, esta possa ser simbólica ou não diretamente com a vítima) e reparação intrapessoal, que envolve um trabalho profundo sobre a forma como nos vemos a nós próprios depois do ato cometido.

No contexto de querer pedir desculpa à vítima, Prieto sublinhou a importância de respeitar os desejos e as necessidades da vítima, mesmo que isso signifique não ter contacto direto para pedir perdão. O verdadeiro cuidado para com a vítima implica, por vezes, respeitar as barreiras estabelecidas, reconhecendo que a necessidade de perdão do infrator não deve sobrepor-se à necessidade de segurança e conforto da vítima.

Noutras universidades

O estudo do perdão começou no campo da psicologia em alguns universidades, bien como un área de investigación de modo interdisciplinar en el marco de un órgano de más amplio contenido, en colaboración con expertos de otras entidades universitarias, o bien con un Instituto propio sobre el perdón, también interdisciplinar, como en el caso que comentamos de la Universidad Francisco de Vitoria.

No Universidade de NavarraO estudo do perdão, por exemplo, emergiu como uma área de investigação que revela a sua influência multifacetada nas relações interpessoais, na saúde mental e no bem-estar emocional, explica o centro académico.

"Os estudos mostram que as pessoas que têm uma atitude positiva em relação ao perdão têm menos patologia mental, usam menos drogas psicotrópicas e têm um limiar de tolerância à dor e ao sofrimento mais elevado. Isto significa que usam menos analgésicos e ainda menos serviços de saúde", escreveu. Javier Schlatterespecialista do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Clínica Universidad de Navarra em Madrid, no seu livro "Feridas no coração. O poder curativo do perdão".

No domínio da Universidade CEU San PabloPodemos citar, a título de exemplo, o doutor honoris causa Marcelino Oreja, um dos pais da Transição em Espanha, que no dia 5 de outubro do ano passado, ao receber o prémio, disse que recebia "com grande emoção este reconhecimento e estou enormemente grato pela data escolhida; neste mesmo dia, mas em 34, o meu pai foi assassinado". "O dia 5 de outubro é assinalado todos os anos no calendário familiar para recordar o meu pai. A minha mãe sempre me incutiu o sentimento de perdão apesar da dor causada".

É de recordar que o filósofo francês Remi Brague propôs o "perdão" face à difusão da cultura do cancelamento no Congresso de Católicos e Vida Pública de 2021.

O Universidade de Comillas tem vários especialistas em questões relacionadas com o perdão que leccionam na própria universidade e que também fazem investigação com outros centros académicos, como é o caso do professor acima mencionado María Prieto Ursúa ou o professor Pilar Martinezentre outros.

O autorFrancisco Otamendi

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