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Perspectivas pastorais num contexto rural

Há quase dois anos, como pároco, pastoreio 9 aldeias na região de Ribera del Duero, em Burgos, uma bela zona da província de Burgos, em Espanha... Corrijo-me: quando estava a escrever estas linhas, o bispado chamou-me para me dizer que mais duas aldeias tinham sido acrescentadas à minha lista. Assim, com Roa, a maior, existem agora 11 aldeias.

Alfredo Pérez Bustillo-21 de Fevereiro de 2019-Tempo de leitura: 5 acta

Neste ainda curto espaço de tempo estou a ter a oportunidade de me aproximar de uma realidade pastoral peculiar, que eu não conhecia tão directamente antes. Digo peculiar e não difícil, porque a dificuldade é hoje uma característica comum em todo o trabalho de evangelização.

Se os fiéis "já não vêm

Se há alguns lugares onde se pode encontrar a característica da "Igreja que sai" que o Papa Francisco tanto aprecia, este pode ser um deles. Por duas razões principais.

A primeira razão é que as pessoas aqui vivem em centros populacionais dispersos; de facto, há demasiadas aldeias para muito poucas pessoas.

E a segunda razão é porque, com excepção das confrarias, praticamente todas as formas de apostolado organizado (movimentos apostólicos, grupos litúrgicos, etc.) desapareceram. Isto aconteceu mesmo na maior das aldeias que sirvo, a cidade de Roa (com cerca de 2.300 habitantes), com a excepção da catequese infantil e da Cáritas.

Quanto às confrarias, são muito numerosas, especialmente nesta última aldeia, mas em geral estão muito afastadas da vida da paróquia. É nesta situação que entra em jogo a qualificação de "Igreja em movimento". Uma característica da atitude pastoral que se tornou agora necessária é dada pela constatação de que os fiéis já não "vêm": devemos sair ao seu encontro e aproveitar todas as oportunidades para "estar presentes".

A este respeito, descobri que a forma mais directa e eficaz de alcançar este objectivo é visitar os doentes. Estão sempre gratos por isso, e isso também lhes cria a oportunidade de se aproximarem dos sacramentos e de conhecerem as suas famílias. Outra vantagem é que, desta forma, o próprio padre "força" a não se fechar num escritório.

Demasiadas tarefas para o pároco

Infelizmente, e embora possa parecer o contrário, cuidar de tanta gente ocupa muito tempo a fazer tarefas administrativas que há muito tempo ficam exclusivamente sobre os ombros dos párocos: o cuidado das igrejas, a administração dos poucos rendimentos, o cuidado das propriedades paroquiais..., e o aquecimento, e o "fornecimento" de pequenas coisas e material que a liturgia exige.

Nestas tarefas, sinto que falta ao bispado a provisão de pessoal leigo para cuidar de tudo (mas principalmente da conservação das igrejas), permitindo assim ao padre colocar o seu coração e cabeça apenas no cuidado pastoral do povo.

Despertar dos evangelistas

Mas visitar os doentes não é suficiente. É evidente que precisamos de novas experiências pastorais a que chamamos "primeira proclamação", indo ao coração do Evangelho, como fizeram os Apóstolos e os primeiros cristãos. Resumiria isto na necessidade urgente de despertar para todos
o evangelizador dentro de cada baptizado. A este respeito, estabeleci duas tarefas para mim próprio por enquanto

A primeira é aproximar-se das confrarias, para as envolver mais na vida das paróquias. Temos organizado reuniões regulares de confrarias, que realizamos todas as segundas-feiras do mês. E no futuro, estamos a planear ir às confrarias penitenciais, para que elas se sintam mais responsáveis pela Quaresma e pela Semana Santa. Ao mesmo tempo, também nos encontramos com as irmandades marianas em Maio e Outubro. Obviamente, tudo isto na maior das cidades que frequento.

Que problemas pastoris surgem nas aldeias mais pequenas? Nestes, as visitas aos doentes e idosos são sempre possíveis. A principal dificuldade é o número de missas dominicais e a abundância de festivais populares.

Até hoje, cada aldeia ainda tem a sua missa dominical (sou ajudado por um padre que está a estudar na diocese), porque sempre foi assim. As missas são celebradas todos os domingos em aldeias entre as quais existem distâncias irrisórias (apenas 5, 6, ou 7 quilómetros). Não é fácil encontrar uma solução, devido à forte resistência das pessoas para se moverem: a maioria deles são muito velhos e argumentam que sempre tiveram massa.

Tenho em mente a ideia de realizar um encontro com uma ou duas pessoas de cada aldeia, aquelas que mais se sentem ligadas à sua paróquia, para dar a conhecer o trabalho que cabe aos poucos padres, e para lhes mostrar as necessidades pastorais deste pequeno território. A maioria deles mal sabe o que está a acontecer pastoralmente na aldeia seguinte. E assim, uma vez que vemos claramente a situação, espero poder organizar em conjunto uma pastoral mais coerente com a realidade e mais realista com as possibilidades. Além disso, pode ser uma forma de se ajudarem uns aos outros.

O um-a-um

Há provavelmente muitas mais iniciativas que poderiam ser tomadas. A vida leva-o, e eu tento manter-me actualizado sobre as experiências pastorais da Nova Evangelização, como é o caso dos Cursos Alfa, que talvez pudessem ser realizados também neste ambiente.

No entanto, o método que nunca falha é o encontro pessoal e informal com as pessoas, na rua, nos mercados ou nas mil e uma ocasiões que viver entre eles lhe dá. É quando se faz amizade com as pessoas que a oportunidade de as aproximar de Deus se torna verdadeiramente real. Nos dois anos que já passaram, entre os fiéis destas paróquias conheci mais, muito mais, situações pessoais do que, por exemplo, nos quatro anos que passei numa paróquia em Burgos de 7.000 habitantes.

Aqui está um ao pé da rua. Tento encontrar qualquer desculpa para sair, especialmente no Verão.

Conhece-se sempre alguém que se conhece, cumprimenta-se quase toda a gente e eles cumprimentam-no. Aproximo-me dos grupos de pessoas mais velhas sentadas no ar fresco. E, claro, o tema da religião vem frequentemente à baila. De passagem, é-lhe dada a oportunidade de dizer uma palavra de esclarecimento, um convite, uma palavra de encorajamento, uma piada, etc. Mas neste "ministério de rua" há ainda mais interesse. As pessoas não vêm ao escritório por quase nada. Há várias pessoas que, depois de se encontrarem e me cumprimentarem na rua, me fazem perguntas, surge uma preocupação, etc. Desta forma, fiz amizade com os fiéis que tento ajudar regularmente nas suas situações pessoais que requerem orientação. Obviamente, já todos nos apercebemos que são os problemas familiares que fazem as pessoas sofrer mais. E mesmo, oh milagre gordo, vejo-me com os rapazes e raparigas que foram confirmados nestes dois anos. Eu digo "grande" porque a maioria dos párocos diz que nem sequer os vê. Vejo-os na rua, vários deles, e vou de vez em quando ter com eles e saúdo-os e lembro-lhes que Deus também está com eles na missa dominical, por exemplo. Tento não ser um incómodo, não ser um "mau rapaz", como por vezes dizem, nem com eles nem com mais ninguém.

Porque acontece que em muitas ocasiões, quando o vêem, algumas pessoas aproximam-se de si e dizem mais ou menos: "Queria falar contigo, ou contigo".. E eles explicam-me a sua preocupação, ou o seu problema. Compreendo que a figura do padre ainda desperta um certo interesse. Ele representa o religioso, por vezes o eclesial, por vezes uma pessoa de confiança, a quem se pode contar problemas que nem sequer contaria aos seus amigos. Não é a derradeira maravilha pastoral, mas no final, esta forma de conhecer pessoas é muito eficaz, dá oportunidades maravilhosas de amizade e de ter um "escritório na rua" onde, mesmo que apenas por alguns minutos, se pode realmente seguir a vida das pessoas. É claro que também tem havido amizades mais estabelecidas e a oportunidade de aprofundar as questões. Para dar apenas um exemplo, o caso de uma pessoa que se encontra em processo de anulação do seu casamento nasceu aqui. Desde o momento em que me falou do seu caso vi, sem ser um perito, que se tratava de um caso de livro de texto. Está a correr bem, e ele poderá regularizar a sua situação actual. O mesmo se poderia dizer de ter sido capaz de se aproximar da vida das confrarias, um mundo peculiar do qual nada sabia. Estou a tentar torná-los mais pastorais e a servir a evangelização dos seus membros.

Luz do Espírito Santo

Creio que precisamos de confiar estas questões muito mais ao Espírito Santo, para iluminar toda a gente, a fim de encontrar formas que conduzam a um cuidado pastoral mais eficaz, que não se reduza apenas aos domingos.

Deve lembrar-se que outras iniciativas pastorais podem e devem também ser realizadas durante a semana. A seu tempo, será necessário revezar-se para as missas dominicais. E, se for viável, aos domingos, quando o padre não está presente, seria bom poder ter celebrações da Palavra.

O autorAlfredo Pérez Bustillo

pároco em 11 aldeias da diocese de Burgos

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