Livros

A inteligência artificial é insuficiente

O livro Novo humanismo para a era digital apresenta propostas baseadas em obras de Miguel de Cervantes e de outros autores clássicos que, no quadro do humanismo renascentista, podem ser frutuosas no início do terceiro milénio: a "era digital".

Antonio Barnés-9 de setembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Foto de Andrea de Santis no Unsplash

Deus, o mundo e o homem (os principais objectos da filosofia, segundo Kant) são realidades complexas. O que podemos dizer sobre elas é polifónico, nunca unívoco, muitas vezes análogo. Daí que as respostas da chamada inteligência artificial possam ser UMA resposta, mais ou menos correcta ou mesmo brilhante, mas não AS respostas. A contribuição de um programa de inteligência artificial pode ser útil, mas é sempre insuficiente.

Novo humanismo para a era digital

TítuloNovo humanismo para a era digital
AutorAntónio Barnés
Editorial: Dykinson
Páginas: 224
Madrid: 2022

Há ciências do espírito e ciências da natureza. Há o domínio da liberdade e o domínio da necessidade. O espírito ultrapassa a natureza; e a liberdade ultrapassa a necessidade. No domínio do espírito e da liberdade, a inteligência artificial é ainda mais insuficiente, porque é um espaço mais polifónico, menos unívoco. Imaginemos pedir a um programa de inteligência artificial que explique as diferenças entre a poesia de Espronceda e a de Bécquer. E imaginemos que obtemos uma resposta muito precisa. Pois bem, há espaço para mais 100 respostas acutilantes, porque a comparação entre os dois poetas gera discursos múltiplos, não fechados, diga-se de passagem.

Dom Quixote ficou obcecado por uma nova técnica (a imprensa), que permitia multiplicar os livros, e por um género (a cavalaria) cuja retórica permitia ao leitor mergulhar num universo virtual. O que salvou Dom Quixote? A amizade de Sancho e as suas leituras humanistas. A nossa era digital exige uma educação humanista que contrarie a tendência para procurar na tecnologia as verdades que a mente humana aspira a encontrar. É isso que o livro "Novo humanismo para a era digital"(Madrid, Dykinson, 2022), publicado pelo autor do presente artigo.

"Novo humanismo para a era digital" apresenta propostas baseadas em obras de Miguel de Cervantes e de outros autores clássicos que, no quadro do humanismo renascentista, podem ser frutuosas no início do terceiro milénio: a "era digital". A admiração pela beleza do homem e da mulher; a abertura à transcendência; a consciência de que somos um mundo abreviado... são legados humanistas de valor duradouro. O homem é um ser em busca de sentido, e uma visão humanista pode satisfazer esse desejo. A globalização, a burocratização do Estado, o reducionismo inerente aos media e às redes sociais transformam o ser humano num sujeito produtor-consumidor escravizado pela tecnologia. A humanismoO livro, uma síntese bem sucedida do mundo greco-romano e da civilização judaico-cristã, não disse a última palavra, mas apresenta um corpo aberto de ideias que encorajam a liberdade e a responsabilidade pessoais.

Grandes obras do passado como "Antígona" (Sófocles), "Hamlet" (Shakespeare) ou "Dom Quixote" trazem ar fresco a uma cultura bipolar e narcisista como a nossa. Questões apaixonantes como a relação entre a palavra e a imagem, a tradução, o bilinguismo, o diálogo, a identidade, o messianismo político, o progresso, o mito da caverna, os modelos antropológicos, a Bíblia, o amor, a sanidade e a virtude desfilam nestas páginas.

O proeminente sociólogo Amando de Miguel, recentemente falecido, afirma no prólogo que a ligação contínua da Internet "representa a oportunidade para o estabelecimento de uma verdadeira civilização humanista. É a que se apregoa neste livro, com uma formidável espessura de saber, reunindo as tradições grega, romana e medieval. Sem tudo isto, a Europa moderna e científica não poderia ter existido. O que é comum a tantas camadas de conhecimento é a curiosidade. Somos tentados a suspeitar que a civilização que nos espera neste terceiro milénio significará o desaparecimento dos livros. Perante a possibilidade de tal catástrofe, esta obra barnesiana é uma espécie de tábua de salvação sobre os livros que devem ser preservados como ouro.

O autorAntonio Barnés

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