Vaticano

Papa despede-se da Hungria com um apelo à esperança

Domingo, 30 de Abril, foi o último dia da viagem apostólica do Papa Francisco à Hungria. Durante o dia, o Santo Padre celebrou a Santa Missa e encontrou-se com representantes culturais e académicos.

Paloma López Campos-30 de Abril de 2023-Tempo de leitura: 6 acta
Papa Hungria

Papa Francisco durante o encontro com representantes do mundo académico (CNS photo/Vatican Media)

Às 18 horas, um avião descolou da Hungria para levar o Papa Francisco de volta a Roma. Depois de alguns dias completos na nação húngara, o Santo Padre despediu-se numa cerimónia sem discurso no aeroporto internacional de Budapeste.

Apenas algumas horas antes, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa na Praça Kossuth Lajos, onde se encontra o Parlamento húngaro. Durante a homilia, o Papa convidou todos os participantes a contemplar a figura do Bom Pastor, Jesus Cristo, tomando a as leituras de hoje. Por esta razão, ele notou duas acções de Jesus que, como o EvangelhoEle trabalha para as suas ovelhas: primeiro chama-as, depois leva-as para fora".

O chamamento de Deus

Esse chamamento inicial do Senhor é a origem da vida nova. "No início da nossa história de salvação não somos nós com os nossos méritos, as nossas capacidades, as nossas estruturas; na origem está o chamamento de Deus, o seu desejo de nos alcançar, a sua preocupação por cada um de nós, a abundância da sua misericórdia que nos quer salvar do pecado e da morte, para nos dar vida em abundância e alegria sem fim.

O Papa sublinhou que Cristo, muito antes de qualquer um de nós poder responder, "carregou as nossas iniquidades e suportou as nossas faltas, reconduzindo-nos ao coração do Pai". Não só isso, mas "ainda hoje, em todas as situações da vida, naquilo que trazemos no coração, nas nossas deambulações, nos nossos medos, no sentimento de derrota que por vezes nos assalta, na prisão da tristeza que ameaça aprisionar-nos, Ele chama-nos".

Do chamamento universal de Deus nasce uma das características essenciais da Igreja: a catolicidade. Como explicou Francisco na sua homilia, "esta é a catolicidade: todos nós, cristãos, chamados pelo nome pelo Bom Pastor, somos convidados a acolher e a difundir o seu amor, a tornar o seu redil inclusivo e nunca exclusivo. E, por isso, todos somos chamados a cultivar relações de fraternidade e colaboração, sem nos dividirmos entre nós, sem considerarmos a nossa comunidade como um ambiente reservado, sem nos deixarmos arrastar pela preocupação de defender o espaço de cada um, mas abrindo-nos ao amor recíproco".

Uma Igreja em movimento

O Papa explicou depois a segunda acção de Cristo narrada no Evangelho. "Primeiro somos reunidos na família de Deus para nos tornarmos seu povo, mas depois somos enviados ao mundo para que, com coragem e destemor, sejamos anunciadores da Boa Nova, testemunhas do amor que nos regenerou.

É o próprio Senhor que "nos impele a sair ao encontro dos nossos irmãos e irmãs. E recordemo-lo bem: todos nós, sem excepção, somos chamados a isso, a deixar as nossas comodidades e a ter a coragem de ir ao encontro de todas as periferias que precisam da luz do Evangelho".

O Papa saúda o povo depois da Santa Missa (CNS photo/Vatican Media)

Mas o que é que significa realmente ser uma Igreja em saída? O Santo Padre resumiu-o numa única frase durante o sermão: "sair" significa para cada um de nós tornar-se, como Jesus, uma porta aberta.

Francisco insistiu nesta ideia, fazendo um apelo dirigido a todos. "Por favor, abramos as portas! Procuremos também nós - com as nossas palavras, os nossos gestos, as nossas actividades quotidianas - ser como Jesus, uma porta aberta, uma porta que nunca se fecha na cara de ninguém, uma porta que permite entrar e experimentar a beleza do amor e do perdão do Senhor".

Por fim, o Papa quis dirigir uma palavra de encorajamento a todos os cristãos e, em especial, aos húngaros. Pediu que "nunca desanimemos, nunca nos deixemos roubar a alegria e a paz que Ele nos deu; não nos fechemos nos problemas ou na apatia. Deixemo-nos acompanhar pelo nosso Pastor; com Ele, as nossas vidas, as nossas famílias, as nossas comunidades cristãs e toda a Hungria brilharão de vida nova".

Santa Maria, Rainha e Padroeira

O Santo Padre rezou o Regina Caeli e fez uma breve meditação, como faz quando preside à oração a partir do Vaticano. Nas suas palavras, agradeceu aos representantes políticos, diplomatas e autoridades pela sua presença. Dirigiu-se também aos sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas, membros do clero e representantes de outras religiões para lhes agradecer a sua colaboração e assistência.

Na sua meditação, quis colocar todos os húngaros sob a protecção da Virgem Maria. Incluiu toda a Europa nesta petição, dizendo: "A partir desta grande cidade e deste nobre país, gostaria de confiar mais uma vez ao seu coração a fé e o futuro de todo o continente europeu, em que tenho pensado nestes dias, e em particular a causa da paz".

O Papa continuou a sua oração: "Tu és a Rainha da paz, infunde no coração dos homens e dos responsáveis das nações o desejo de construir a paz, de dar às jovens gerações um futuro de esperança, não de guerra; um futuro cheio de berços, não de túmulos; um mundo de irmãos, não de muros".

E concluiu com as seguintes palavras: "Pedimos-vos pela Igreja na Europa, para que encontre a força da oração; para que descubra em vós a humildade e a obediência, o ardor do testemunho e a beleza do anúncio. A vós confiamos esta Igreja e este país".

Cultivar o conhecimento

Durante o seu último encontro, o Papa Francisco reuniu-se com representantes do mundo da cultura e do mundo académico. No início do seu discurso, tomando como imagem o rio Danúbio, fez uma pausa para falar da cultura, que "num certo sentido é como um grande rio: flui através de várias regiões da vida e da história, ligando-as entre si, permite-nos navegar pelo mundo e abraçar países e terras distantes, sacia a mente, rega a alma e faz crescer a sociedade. A própria palavra cultura deriva do verbo cultivar. O conhecimento implica uma sementeira quotidiana que, penetrando nos sulcos da realidade, dá frutos".

O Papa inspirou-se em vários exemplos dos escritos de Romano Guardini para falar de cultura. Perante uma análise sombria que poderia ser feita sobre o facto de o conhecimento e a técnica serem usados apenas para obter poder, Francisco apelou a que as universidades se tornassem o oposto. "A universidade é, de facto, como o próprio nome indica, o lugar onde o pensamento nasce, cresce e amadurece aberto e sinfónico. É o templo onde o conhecimento é chamado a libertar-se dos limites estreitos do ter e do possuir para se tornar cultura, ou seja, o cultivo do homem e das suas relações fundamentais: com o transcendente, com a sociedade, com a história, com a criação".

Cultura e contemplação

A cultura, bem entendida, "aprofunda a contemplação e forma pessoas que não estão à mercê das modas do momento, mas bem enraizadas na realidade das coisas. E que, humildes discípulos do saber, sentem que devem ser abertos e comunicativos, nunca rígidos e combativos".

Desta forma, exclui-se o imobilismo, porque "quem ama a cultura nunca está satisfeito, mas tem dentro de si uma sã inquietação. Ele procura, questiona, arrisca e explora; sabe sair das suas certezas para se aventurar humildemente no mistério da vida, que se harmoniza com a inquietação e não com o hábito; está aberto a outras culturas e percebe a necessidade de partilhar conhecimentos".

Conhecer-se a si próprio

Juntamente com a cultura, cresce o auto-conhecimento. O Papa recordou a frase do oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo". "Mas o que é que significa conhecer-se a si mesmo? Significa saber reconhecer os próprios limites e, consequentemente, refrear a presunção de auto-suficiência. Faz-nos bem, porque é sobretudo ao reconhecermo-nos como criaturas que nos tornamos criativos, mergulhando no mundo, em vez de o dominarmos. E enquanto o pensamento tecnocrático persegue um progresso que não admite limites, o homem real também é feito de fragilidade, e muitas vezes é justamente aí que ele compreende que depende de Deus e que está ligado aos outros e à criação.

Para resumir a ideia, Francisco disse que "conhecer-se a si mesmo exige que se conjuguem, numa dialéctica virtuosa, a fragilidade e a grandeza do homem. Da maravilha deste contraste emerge a cultura, nunca satisfeita e sempre em busca, inquieta e comunitária, disciplinada na sua finitude e aberta ao absoluto. Gostaria que cultivásseis esta descoberta apaixonada da verdade".

A procura da verdade

O Papa concluiu o seu discurso convidando todos a procurar a verdade, rejeitando as ideologias. "Foi Jesus Cristo que disse: "A verdade libertar-vos-á".

Por esta razão, o Santo Padre explicou que "a chave para aceder a esta verdade é um conhecimento nunca desligado do amor, relacional, humilde e aberto, concreto e comunitário, corajoso e construtivo. É isto que as universidades são chamadas a cultivar e a fé a alimentar. Desejo, pois, que esta e todas as universidades sejam um centro de universalidade e de liberdade, uma obra fecunda de humanismo, uma oficina de esperança.

Uma visita curta e frutuosa

Depois do encontro na universidade, Francisco dirigiu-se ao aeroporto internacional de Budapeste para embarcar no voo das 18h00 com destino a Roma, dando assim por terminada a sua viagem apostólica à Hungria.

O Papa Francisco despede-se da Hungria no Aeroporto Internacional de Budapeste (CNS photo/Vatican Media)
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