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A oração. A conversa que alimenta a alma 

Em preparação para o Jubileu de 2025, o Papa Francisco dedicou o ano de 2024 à oração, convidando-nos a "redescobrir o grande valor e a absoluta necessidade da oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo".

Jaime Sanz Santacruz-17 de outubro de 2024-Tempo de leitura: 12 acta
Oração

No dia 21 de janeiro de 2024, no final da oração do Angelus, o Papa Francisco apelou à Ano de OraçãoO Jubileu de 2025, a que chamou o "Jubileu do Jubileu Mundial", será celebrado por ocasião do Jubileu de 2025.evento de graça para experimentar a força da esperança de Deus".

Este é um ano em que celebramos o primeiro quarto do século XXI. Um século irrepetível para todos e em que muitos acontecimentos tiveram lugar: uma guerra na Europa à nossa porta; o conflito na Terra Santa, que pôs o mundo inteiro em cheque; uma pandemia que deixou muitos mortos e doentes pelo caminho; a irrupção da inteligência artificial, acessível a todos e que tanto assusta como abre um mundo incrível de possibilidades; e a emergência, com grande força, de uma antropologia que destrói os valores da família e provoca um individualismo feroz em que o nosso mundo está hoje mergulhado. 

A par disso - no meio de uma sociedade afastada de Deus, que foge aterrorizada dos valores - existe um desejo humano inato de espiritualidade, muitas vezes provocado pelo cansaço e pela obsolescência dos bens materiais, que não satisfazem as ânsias do coração humano.

No meio desta "balbúrdia", o Papa apela a um Ano de Oração, como forma de contrariar o poder desta massa que foge de Deus, que não o conhece ou que já não é seu amigo.

Necessidade de oração

É necessário rezar? Podemos viver sem experimentar a nossa relação com Deus? É certamente possível viver - e, de facto, muitas pessoas vivem - longe de Deus, virando-lhe as costas ou vivendo como se Deus não existisse, como diz o Catecismo da Igreja Católica a propósito da constituição apostólica Gaudium et Spes: "Muitos [...] dos nossos contemporâneos ou não se apercebem de todo desta união íntima e vital com Deus ou rejeitam-na explicitamente, a tal ponto que o ateísmo deve ser considerado um dos problemas mais graves do nosso tempo" (Catecismo da Igreja Católica, CIC, n. 2123).

Podemos pensar que a sua perda. Viver uma vida empobrecida não ajuda a desfrutar de todas as possibilidades que o homem tem, que ultrapassam as das restantes criaturas e que dão conteúdo à expressão criados à sua imagem e semelhançaEncontramo-lo na Sagrada Escritura. Não nos encontramos, portanto, perante uma necessidade existencialsem o qual não podemos viver uma vida material, mas a algo que enriquece a vida de tal forma que a transforma e molda num nível superior, a que poderíamos chamar espiritual.

O que é que acontece? Se não sabemos, não queremos ou não podemos rezar, perdemos enormes possibilidades de alargar a nossa dimensão humana, de nos relacionarmos com o Criador e com a criação, de descobrirmos muitas coisas sobre nós próprios que melhorariam a nossa existência. O nível em que ficaríamos seria muito básico, e não aquele em que estaríamos a viver. pro, a que deveríamos aspirar. A pobreza a que as nossas vidas estariam condenadas seria tremendamente limitadora.

Se satisfizermos esta necessidade, a nossa existência ganha uma nova dimensão, que a enriquece exponencialmente. 

À medida que Deus se torna mais presente nas nossas vidas, ganhamos os dons do conhecimento e da sabedoria, que nos permitem conhecê-Lo e conhecer a realidade que nos rodeia. 

Formas de rezar

Há muitas formas de rezar. Na realidade, todas elas formam uma única e mesma realidade, que se manifesta de formas diferentes. 

Poder-se-ia dizer que há tantas formas como pessoas, porque se há uma coisa que a oração é é pessoal. Desconfiai dos métodos, dos modos e das formas rígidas e estipuladas para a oração. Cada um reza à sua maneira, como ri à sua maneira, chora à sua maneira, goza ou sofre à sua maneira. 

Não podemos classificar a oração, a atividade mais sublime que o homem pode realizar - a relação com Deus - num único estilo, numa única maneira ou numa única técnica. Em vez disso, podemos inspirar-nos na experiência dos santos, para que, olhando para a forma como eles rezavam, possamos rezar à nossa maneira, seguindo o seu exemplo e ensinamento. Este é o poder do testemunho. 

Oração vocal, meditação e oração contemplativa

A Igreja distingue tradicionalmente três formas gerais de oração: a oração vocal, a meditação e a oração contemplativa. 

A frase vogalque o próprio Jesus nos ensinou com o Pai NossoÉ humano e muito adequado para rezar com outras pessoas. Une os sentimentos, porque é feita com o coração, que deve necessariamente estar presente. Recitar palavras sem sentido é para pessoas sem sanidade, e não prestar atenção ao que está a ser dito não é apropriado para seres inteligentes. 

Do meditação oração o Catecismo, no número 2705, diz que "é, acima de tudo, uma busca. O espírito procura compreender o porquê e o como da vida cristã, para aderir e responder ao que o Senhor lhe pede".. É preciso uma atenção difícil de canalizar e que pode ser feita com a ajuda de um livro como "....o Evangelho, as imagens sagradas, os textos litúrgicos do dia ou da época, os escritos dos Padres espirituais, as obras de espiritualidade, o grande livro da criação e da história, a página do "hoje" de Deus", observa o Catecismo. 

Exige uma resposta pessoal, como vimos, para aplicar à própria vida a vontade concebida por Deus e para compreender a razão da nossa existência, para saber interpretá-la à luz do que o Criador previu. 

Quem melhor define o oração contemplativa é Santa Teresa: "A oração mental não é outra coisa, na minha opinião, senão tentar ser amigo, enquanto estamos muitas vezes sozinhos com aquele que sabemos que nos ama (Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, 8). Esta conhecida expressão é extraordinariamente bela e revela as principais caraterísticas desta forma de rezar: no âmbito da amizade, feita de forma pessoal e com a linguagem do amor. Como é difícil enquadrar este tipo de oração num modelo específico, numa forma particular de rezar! O amor não pode ser classificado, porque os sentimentos com que começa podem conduzir aquele que ama em direcções insuspeitadas. 

Neste modo de oração, o tempo pára e é difícil de determinar. "Não se faz a contemplação quando se tem tempo, mas tira-se tempo para estar com o Senhor", recorda também o Catecismo. É a oração por excelência, a que melhor se adapta ao nosso crescimento espiritual para conhecermos mais e melhor Deus. 

Este diálogo pessoal, para tentarmos ser amigos, é um meio extraordinário de enriquecimento pessoal, porque bebemos da mesma fonte que o Criador, falamos pessoalmente com Ele e descobrimos o Seu amor por nós. 

A exigência do amor é a exigência da oração, porque o amor move o mundo e o homem, e torna-o capaz de dar o melhor de si. Quem reza acaba por se apaixonar por Deus, porque descobre o quanto O ama. 

Para rezar bem

Como é que eu sei que rezo bem? Na realidade, não existe um mecanismo para conhecer a qualidade da nossa oração. É verdade que, à medida que ela nos transforma, se notamos os seus efeitos na nossa vida, isso significa que estamos a rezar bem. 

É evidente que o silêncio necessário à oração exige esforço. Silenciar o telemóvel e as notificações de mensagens; fazer com que a nossa memória não nos impeça de nos concentrarmos na conversa que estamos a tentar ter com Deus; fazer o esforço de pensar no que Deus nos está a dizer neste diálogo particular, é muito exigente. 

"É necessária uma atenção que é difícil de canalizar", afirmou. diz o Catecismo. Ele torna-a complicada, e não nos engana dizendo que é simples. É por isso que é necessário um lugar, um tempo de preparação e uma certa paz no ambiente para que a oração se desenrole nas melhores condições possíveis. Então, tudo o que sair sairá, porque não esqueçamos que se trata de uma conversa com Deus: Deus e tu, tu e Deus, apenas. Quem tem mais para dizer - e coisas muito mais interessantes para dizer - é o Espírito Santo, que é quem actua em nós quando rezamos. 

Quando essa oração muda a minha vida pouco a pouco, quando cada vez que rezo saio mais feliz e mais disposto a melhorar naquilo que o Espírito me faz ver, quando noto mais a sua ajuda e a sua intervenção na minha vida, a oração transforma a minha vida e fá-la parecer um pouco mais com aquilo que Deus quer para ela. 

Gratidão, louvor, petição e reparação

Há quatro maneiras de nos relacionarmos com os outros: agradecer, louvar, pedir e pedir perdão quando agimos mal ou agimos mal. Deve ser exatamente o mesmo com Deus. 

-Dar graças significa apreciar o que nos dão, o que fazem por nós. É uma forma magnífica de ganhar intimidade e amizade com os outros. Quando damos graças, estamos a apreciar o que recebemos e a estabelecer uma relação de proximidade com aqueles que partilharam connosco um bem que nos deram.

-Louvor significa apreciar a grandeza daquele que é superior, daquele que nos ama e nos dá o seu amor. É justo fazê-lo, para além de ser gratificante e enriquecedor. O louvor une-nos àquele que adoramos e, na forma como o realizamos, ao cuidado da liturgia.religio-, manifestamos o nosso amor.

-Pedimos para com os outros continuamente e reparamos desculpar-se Ele perdoa-nos as nossas ofensas, o que nos leva a perdoar como somos perdoados. Ganhamos humildade ao pedir perdão e ao perdoar, porque damos menos importância a nós próprios e reconhecemos a nossa miséria e a nossa inutilidade. 

Estas quatro formas de oração estarão continuamente presentes na nossa relação pessoal de amizade com Deus, surgirão espontaneamente e com a naturalidade de quem se relaciona com um ente querido que nos ama. Vale a pena perguntarmo-nos se há muito tempo não rezamos nenhuma delas, se há muito tempo não louvamos, reparamos ou pedimos perdão a Deus, ou se rezamos muitas orações sem pedir nada a Deus. Uma relação normal com Ele conduzirá a uma simples alternância destas quatro atitudes, sempre motivadas pelo amor, que se transformará em gratidão pelo que Deus está a fazer em mim.

Algumas questões práticas

Sem pretender ser exaustivo, gostaria de detalhar algumas questões práticas sobre a forma de rezar que podem ajudar aqueles que são novos nesta arte ou aqueles que querem melhorar e aprofundar os seus conhecimentos.

-Local de oração. Não há lugares melhores do que outros para rezar, porque, como disse o Senhor, "...".onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles". (Mateus 18, 20). Por conseguinte, qualquer lugar pode ser adequado para nos ligarmos a Deus, que está em todo o lado. 

A presença eucarística de Jesus no tabernáculo é um maravilhoso foco de atração que nos faz ver que Deus está fisicamente ali, connosco, e facilita muito o diálogo com Ele. Não será sempre o melhor lugar, mas é muito difícil que não o seja. 

O importante é que, onde quer que estejamos, estejamos suficientemente calmos para nos envolvermos nessa conversa lenta e calma".com aquele que sabemos que nos ama".

-Tempo adequado. A duração desta oração deve ser determinada por cada um de nós, talvez com a ajuda e o conselho daquele que nos acompanha no caminho para Deus. Nalguns casos, a nossa oração pode durar mais tempo, noutros casos pode ser mais curta, consoante o que for mais útil para cada um de nós. Devemos ter em conta que o momento adequado para a oração é determinado pelo Senhor, aquele a quem nos dirigimos.

-Com ou sem livro? Um livro de espiritualidade ou a leitura de uma passagem do Evangelho, como dissemos no início, podem ser de grande ajuda para aprofundar um tema sobre o qual queremos dialogar ou refletir na presença do Senhor.

O que não convém é substituir a leitura pela conversa, porque isso seria um exercício espiritual diferente. Algumas ideias destes livros podem servir para iniciar o diálogo ou para comentar com o Senhor o que estes parágrafos nos sugerem, mas não para o substituir. Trazer algo para iniciar a oração, ou recorrer a estes textos quando o assunto se esgota, pode certamente ser uma grande ajuda. 

-Levo o meu telemóvel para a oração ou fico sem ele? Um elemento claramente distorcedor - não só para a oração, mas para qualquer diálogo com uma pessoa - é o telemóvel. Estamos sempre a receber mensagens ou a ser distraídos. Evitá-lo é, sem dúvida, a melhor opção. 

As desculpas de que "é aí que anoto as resoluções e ideias que obtenho na minha oração", se as houver, ou "é aí que anoto algumas notas sobre as quais quero falar com o Senhor", podem ser verdadeiras, mas é sempre bom colocar a modo avião durante esse tempo, para que nada nos distraia, ou tomar notas em papel, para não perdermos o fio à meada com as distracções que o telemóvel nos pode causar.

-De que é que estou a falar? Da vossa própria vida. O tema da sua oração deve ser o tema da sua vida. Diz-lhe o que vai no teu coração, as tuas esperanças e desejos, os teus sonhos e ilusões, as tuas preocupações e alegrias. 

Em certas circunstâncias, as luzes que recebeste e os horizontes que se abriram na tua vida podem ser uma boa maneira de iniciar esse tempo de conversa com Ele, que te conduzirá pelos caminhos divinos que o Senhor deseja. 

Os acontecimentos que o marcaram, as recordações do passado, um projeto que vai empreender, serão também, evidentemente, o conteúdo da sua oração. 

-Como é que me dirijo ao Senhor? Naturalmente, porque Deus é o vosso Pai, e o Senhor é um homem com um coração de carne como o vosso. Familiaridade e confiança, como Jesus demonstrou com os apóstolos e quer também ter convosco. 

O Evangelho é o melhor sítio para aprendermos como devemos tratar Jesus. Os apóstolos contaram-lhe as suas alegrias e tristezas, as suas descobertas - e as suasSenhor, até os demónios se submetem a nós em teu nome. (Lucas 10, 17). 

Por vezes, os seus planos não são muito sobrenaturais, mas consultam o Mestre: "Não vou ser uma pessoa sobrenatural.Queres que façamos descer fogo do céu para os eliminar?" (Lucas 9,54) Também nós podemos perguntar-Lhe as nossas dúvidas, dizer-Lhe com simplicidade os nossos pensamentos para os contrastar com os Seus, e Ele falar-nos-á e far-nos-á ver ideias em que nunca tínhamos pensado.

-É possível rezar falando com Nossa Senhora ou com um santo? Claro que sim. Através dos seus textos ou conversando diretamente com eles, aprendendo com o seu exemplo, com a sua maneira de seguir Cristo. O santo em quem mais confiamos, de quem mais gostamos, ou cuja vida conhecemos melhor e com quem mais nos relacionamos, pode ajudar-nos a falar com eles e a aprender a seguir melhor o Senhor. 

-Tenho de rezar todos os dias? E se eu não rezar um dia, acontece alguma coisa? A resposta é óbvia: como é que pode acontecer alguma coisa se não rezarmos? O perigo é que, se deixarmos de rezar dia após dia, acabamos por perder um hábito que nos custou a consolidar e que teremos de voltar a adquirir. 

A coerência é uma ajuda, mas não é a única. Mas a oração diária é muito útil, rezar por rezar Também não faz muito bem. No entanto, ajuda-nos fazê-lo ao mesmo tempo, se possível no início do dia, como nos ensinou Jesus com o seu exemplo, que se levantava de manhã cedo para rezar (cf. Mc 1,35).. A oração é uma boa maneira de começar o dia, de dar um sentido sobrenatural a tudo o que vamos fazer e de renovar a oferta que fizemos pela primeira vez das nossas obras a Deus. 

-Como é que Deus fala comigo? De muitas maneiras. Por vezes, podem vir-lhe à mente recordações; noutros momentos de oração, verá com nova clareza ideias em que não tinha pensado ou aspectos da sua vida em que não tinha reparado até então; novas luzes, horizontes e iniciativas; coisas do passado pelas quais pedir perdão; um grande desejo de agradecer ao Senhor por algo que ele lhe deu..., etc. Estes são alguns dos palavras que Deus vos dirige na oração. O Senhor não as pinta na parede, nem costuma pronunciá-las claramente e em voz alta, mas, com a sua delicadeza caraterística, fá-las parecer ideias nossas, para não se impor à nossa livre correspondência. 

-Quando tenho demasiadas ideias na cabeça, o que é que faço? Eliminar alguns e guardar outros. É necessária uma certa ordem na conversa, para não saltar de uma coisa para outra, e tentar ordenar, como se fosses um agente de trânsito, aquilo de que falas na oração com o Senhor. Cada um deles é importante e são, sem dúvida, luzes a explorar neste ou noutro momento do vosso diálogo pessoal com Ele.

-Quando parece que tudo remete para o mesmo acontecimento do passado, que me tortura e me atola e em que não consigo parar de pensar, será que estou a rezar bem? Sim, mas temos de aprender a deixá-lo nas mãos de Deus, a tentar ver uma solução e a aceitá-la, para podermos avançar. Repetir os acontecimentos do passado não ajuda, porque, como dizia Santo Agostinho, devemos confiar o passado à misericórdia de Deus, o futuro à sua providência e encher o presente com o amor de Deus.

-É possível rezar enquanto se canta ou ouve música? Tem de ser algo religioso? Claro que ajuda, porque, como diz a frase atribuída ao santo de Hipona, "quem canta reza duas vezes". A música eleva o espírito, e não precisa de ser necessariamente religiosa, aplicando canções de amor ao Senhor, em vez de a uma criatura em particular. O mesmo acontece com a poesia, a prosa poética ou outra literatura que pode sempre ser aplicada à vida espiritual. 

-Para que a oração seja proveitosa, será que tenho de definir um objetivo? Não tem de ser assim. A oração não é leitura, meditação e objetivo. Não se trata de aplicar uma técnica, mas de ter uma conversa amorosa com o Senhor, da qual pode ou não sair luz e propósito, ideias e afectos, sentimentos e razões. Deus quer que eu me apaixone por Ele e, até agora, não se inventou nenhuma técnica para o fazer, a não ser a conversa amorosa com a pessoa amada, os pormenores amorosos que se pensam e se fazem pela pessoa amada.

A oração é contagiosa

É um dos mistérios da oração que, sendo claramente uma ação pessoal, tem efeitos sobre os outros: é contagioso. Num determinado ambiente, quando uma pessoa reza, os outros beneficiam da sua oração. Não só porque as relações nesse grupo de pessoas - seja uma família, um grupo de amigos ou colegas de trabalho - melhoram, mas porque a comunhão dos santos é real e tremendamente eficaz. 

A oração é uma fonte de graça, não só pessoal mas também colectiva. Lembro-me que, quando vivia em Barcelona, costumava ir esquiar com um grupo de amigos para uma estância de esqui em Girona. Quando acabávamos, costumávamos parar numa aldeia muito pequena, que tinha duas coisas muito boas: uma bela igreja românica sempre aberta - onde costumávamos rezar um pouco no regresso - e uma senhora que fazia em casa uns deliciosos ovos estrelados com chouriço.

Num desses dias, quando estávamos a rezar antes da ceia, reparámos num vulto que se movia ao fundo da capela-mor, que pensámos - pelo menos eu pensei - ser uma escultura da igreja. No entanto, era o padre, que tinha estado todo aquele tempo ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento. Era um homem mais velho, com a sua batina e um sorriso encantador, feliz por nos ver ali a rezar com as nossas roupas de esqui. Aquela aldeia era a mais cristã de toda a província, porque tinha um padre santo que rezava por todos, incluindo nós.

A oração não muda apenas a nós, muda o ambiente em que vivemos, porque rezamos pelos outros, contamos naturalmente ao Senhor o que nos está a acontecer e falamos com Ele e pedimos-Lhe por cada uma das pessoas que amamos.

Que este ano dedicado à oração nos estimule a apreciar a extraordinária importância de cada um destes momentos e nos encoraje a fazê-lo melhor e a perceber que estar a sós com Deus é um luxo espantoso, que devemos aproveitar e desfrutar.

O autorJaime Sanz Santacruz

Pároco da Sagrada Família de Ventanielles (Oviedo)

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