Nós, humanos, somos muito bons a culpar os outros. Podemos passar a vida a pensar que a culpa é sempre dos outros e que a culpa também é de Deus. Ele não está presente quando precisamos dele. Não responde às nossas orações. Muitas vezes não lhe somos fiéis e acontecem-nos coisas más, e culpamo-lo por elas, esquecendo que as más acções têm necessariamente más consequências. Pecamos e esperamos que Deus nos deixe impunes.
A primeira leitura de hoje dá-nos um bom resumo da história do antigo Israel. Vemos a sua constante infidelidade. Deus continuava a enviar profetas para os chamar ao arrependimento e eles continuavam a ignorá-los. No fim, a paciência de Deus esgotou-se. Mas podemos pensar que, se Deus é tão amoroso como nos dizem que é, a sua paciência nunca se deveria esgotar. A paciência de Deus é verdadeiramente infinita e ele exerce-a mesmo quando nos deixa sofrer. Não é que Deus castigue quando perde a paciência. Ele exerce a paciência mesmo no castigo, o que também faz parte da sua misericórdia.
Deus permitiu a destruição do templo de Israel e a deportação de muitos, e foi um período terrível na história de Israel. O sofrimento do seu povo no exílio é expresso no salmo de hoje. Mas Deus também assegurou que um resto sobrevivesse e, como explica a primeira leitura, também inspirou um governante posterior, o rei persa Ciro, a permitir que os exilados judeus regressassem e reconstruíssem o templo. Israel merecia a destruição total pela sua constante infidelidade. Foram-lhes simplesmente infligidos alguns golpes duros. Deus deu-lhes outra oportunidade.
O Evangelho termina com um apelo a sermos honestos, pelo menos connosco próprios. Não podemos esperar um Deus que nos dê sempre coisas boas, enquanto nós o ignoramos, pecando de todas as maneiras possíveis, sem sequer nos darmos ao trabalho de pedir perdão. É isto que o Evangelho quer dizer quando afirma que "... temos de ser honestos connosco próprios.a luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à luz, porque as suas acções eram más.". As pessoas não querem aceitar a sua culpa porque isso pode exigir uma mudança de vida. Preferem viver na escuridão. "Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para não ser acusado das suas obras.". Sejamos honestos connosco próprios e com Deus e, assim, "venhamos à luz". Culpemo-nos a nós próprios e não a Deus. Culpando Deus, fugimos à nossa responsabilidade e vivemos uma mentira. Culpando-nos a nós próprios e pedindo perdão a Deus - sobretudo através do sacramento da Confissão - abrimo-nos à sua misericórdia, sem nunca a tomarmos por garantida.
Homilia sobre as leituras do IV Domingo da Quaresma
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.