O Senhor usa as imagens de uma ovelha, de um pastor e de um rebanho de ovelhas, tanto porque são familiares aos seus ouvintes, numa sociedade então muito rural, como porque descrevem muito bem o novo tipo de comunidade que ele está a criar.
Ele poderia ter dito: "Eu sou o rei leão e vós sois os leões da prole."O que teria dado uma ideia muito diferente: que somos chamados a ser selvagens e cruéis, dominando o nosso ambiente pela força. Mas não é esse o tipo de comunidade que Cristo quer inaugurar.
A escolha da ovelha como imagem de Jesus não é, portanto, uma mera coincidência. Vivemos num mundo altamente individualista, no qual, cada vez mais, as estruturas sociais - a família, o sentido de nação - estão a desmoronar-se. Por isso, é essencial que reforcemos a nossa convicção de que somos Igreja, de que pertencemos à Igreja Católica e de que formamos uma verdadeira comunidade, um verdadeiro rebanho.
Não somos apenas um grupo de indivíduos que se apresentam no mesmo edifício, à mesma hora, todos os domingos. Isto é verdade também porque o Evangelho de hoje não é tão suave como pode parecer à primeira vista. Jesus fala de si mesmo como o pastor misericordioso, mas fá-lo num contexto de ameaça e de crise. É o pastor que se defende do lobo que ataca, que dá a sua vida em sacrifício pelas ovelhas. A ovelha que se julga forte, que pode avançar sozinha, que se afasta, corre o sério risco de ser devorada pelo lobo, a não ser que o Bom Pastor a apanhe primeiro.
O Evangelho de hoje ensina-nos que somos chamados a ser ovelhas, com todos os aspectos positivos que esta imagem implica: a comunidade, a unidade, o deixar-se guiar e proteger por Cristo Bom Pastor e a humildade de reconhecer a nossa necessidade de proteção, mesmo que a imagem das ovelhas possa ofender o nosso orgulho. Somos chamados a ser ovelhas no sentido de que ser católico significa ser conduzido pela Igreja, ser guiado, ensinado e alimentado... Neste mundo individualista, somos chamados a ser felizes por fazer parte de um rebanho, de uma comunidade, da qual beneficiamos e para a qual contribuímos: a Igreja e, dentro dela, a nossa família, na qual também actuamos como bons pastores - ou ajudantes de Cristo - uns para os outros. Devemos resistir à tentação de nos libertarmos de todas as amarras. Essa liberdade é ilusória e auto-destrutiva. Só no rebanho de Cristo encontraremos proteção.
Homilia sobre as leituras do IV Domingo de Páscoa (B)
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.