O que chama a atenção no Evangelho de hoje é o esforço que Jesus faz para curar o homem que lhe é apresentado, que era surdo e tinha dificuldade em falar. "Levou-o para longe do povo e, quando ficou sozinho, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe na língua com a saliva. E, olhando para o céu, suspirou e disse-lhe: "Effeta (isto é, "abre-te").". O homem ficou curado e passou a ouvir e a falar livremente. Porque é que Jesus fez tudo isto? Não era a sua prática habitual. Normalmente, curava no local, com uma simples palavra.
Uma possibilidade é que o estado físico do homem exprimisse um estado espiritual: uma falta de sinceridade, uma falta de vontade de se dar a conhecer. Há pessoas que passam a vida a esquivar-se à verdade. Não querem ouvi-la nem dizê-la. A sinceridade é a abertura à verdade.
Muitas vezes, as pessoas evitam a verdade procurando o anonimato, perdendo-se de várias maneiras: na multidão, numa festa, no trabalho, nas redes sociais... Tudo em vez de se confrontarem consigo mesmas, com a sua consciência, com Deus. E aqui Jesus leva o homem à parte, para longe da multidão. Precisamos de falar com Jesus a sós, de ser honestos com ele, de o deixar dizer-nos o que precisamos de ouvir, sem nos esquivarmos nem o negarmos. Jesus põe os dedos no ouvido do homem, como se tivesse de se esforçar mais para curar a sua surdez. Como se Deus tivesse de se "esforçar mais" para falar àqueles que não o querem ouvir.
Segue-se a fase seguinte do milagre: Jesus com saliva tocou na sua língua. Este homem não era completamente mudo. No Novo Testamento, encontramos outras pessoas possuídas por um "demónio mudo". Não conseguem dizer uma palavra. É a pior condição: pessoas que não falam, que não pedem ajuda. Mas este homem não era assim tão mau. Tinha apenas um problema de fala. Espiritualmente falando, há pessoas que dizem algo sobre o problema, mas não tudo, uma parte dele, mas não tudo.
Depois ficamos a saber: "Olhando para o céu, suspirou e disse: Effetá (ou seja, "abrir")". Este suspiro pode exprimir a dor de Deus perante a insinceridade humana. Ele entristece-se com a nossa resistência à sua graça. É o suspiro de Deus por aqueles que ele quis ajudar mas que o rejeitaram.
Tudo isto nos ensina a importância de sermos honestos nas áreas em que Deus nos quer ajudar: confissão, orientação espiritual, com os nossos pais, professores e guias, e também, quando necessário, com especialistas médicos que têm os conhecimentos necessários para nos ajudar.
Homilia sobre as leituras de domingo 23º Domingo do Tempo Comum (B)
O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.