Depois de ter falado do mistério da Igreja em que se deve acreditar, a Carta aos Efésios prossegue explicando que este mistério tem de se viver (Ef 4, 1 - 6, 17). Esta vida cristã tem um carácter eclesial e é apresentada como a vida do NOVO HOMEM e do filhos da luz. Os princípios que o regem são dados em Ef 4,20-24 (cf. Cl 3,5-10); os versículos seguintes ilustrarão estes princípios com o que evitar e o que fazer (Ef 4,25 - 5,20).
Não a forma de vida dos pagãos
"Por isso digo e testifico no Senhor, que já não viveis como os gentios vivem, nos seus pensamentos vãos, a sua mente escurecida, a sua mente alienada da vida de Deus, por causa da ignorância em que estão cegos pela cegueira dos seus corações. Indolentes, entregaram-se à perversão, para trabalharem toda a imundícia com a ganância."(Ef 4,17-19).
A nova vida do Crentes gentílicosA carta é-lhes dirigida principalmente, e é apresentada em oposição ao comportamento do "Gentios que não acreditam em Cristo".. Esta vida é caracterizada por "ter uma mente sombria". e por "vivendo à parte de Deus".. A nova vida não é uma mudança de identidade (ainda são gentios), mas de mentalidade e comportamento (já não devem viver como pagãos).
A razão pela qual os gentios incrédulos levam uma tal vida pode ser encontrada no "....ignorância". e no "endurecimento". dos seus corações. E daí a sua acção: "indolência, perversão e impureza".. Estas palavras retomam formas bíblicas e judaicas de ver (Sb 14,22; 15,11; Filo, Decálogo 8; Flavius Josephus, Antiguidades judaicas 10, 142), também presente no Novo Testamento (Actos 17, 30; 1 Pet 1, 14; 2, 15; cfr. Rom 1, 21-24).
Para se renovarem e se vestirem
"Você, por outro lado, não foi assim que aprendeu Cristo.-Se de facto o ouvistes e tiverdes sido ensinados segundo a verdade que está em Jesus, a abandonar a conversa anterior do velho homem, que é corrupto segundo a sua luxúria sedutora, a ser renovado no espírito da vossa mente e a vestir o novo homem, que é criado segundo Deus em verdadeira justiça e santidade."(Ef 4, 20-24).
A nova vida dos crentes é sublinhada pelo contraste com a vida do pagãos. Estes vv. 20-24 estão assim em oposição aos v. 18: em frente ao v. 18: em frente ao v. 20-24 ignorância (culpado = dureza de coração) dos pagãos é falado do conhecimento de Cristo. A seguir, o Acção cristã (Ef 4, 25 - 5, 20) deve ser contrastada com a trabalho pagão descrita em Ef 4, 19.
A carta estabelece uma ligação essencial entre a nova vida e o conhecimento de Cristo. Estes vv. 20-24 fazem referência insistente à catequese baptismal: "..." (vv. 20-24).aprendeu, já ouviu falar, foi-vos ensinado".. A carta usa a expressão Cristo da aprendizagem para sublinhar que o objectivo da catequese é apresentar uma pessoa viva para ser conhecida e ter uma relação pessoal com Cristo, em quem lemos o plano divino para a humanidade (cf. 1 Cor 2,2; Gl 2,20; Fil 1,21). Cristo é o Evangelho que ouvistes e vos foi ensinado, um Ressuscitado que não pode ser separado de Jesus, filho de Maria, que viveu entre os homens, foi rejeitado e morreu na cruz. Aquele homem, que é a verdade do Cristo glorioso, é aquele que eles devem aprender a conhecer. O conhecimento de Jesus Cristo é assim necessário não só para o crescimento eclesial, mas é também o fundamento da conduta moral dos crentes, pois nele formamos um homem novo.
O conteúdo do ensino recebido refere-se a sair, renovar y casaco. Antes de mais, fala sobre o negativoO primeiro ponto: é necessário livrar-se do velho, ou seja, de tudo o que, segundo Col 3:8, é raiva, paixão, malícia, blasfémia e conversa desonesta. Depois fala do positivoem oposição directa ao v. 17: os pagãos são governados por pensamentos vãosenquanto que ser cristão é caracterizado por um renovação espiritual da inteligênciaou seja, da parte superior do intelecto. Isto permite ao crente conhecer Cristo e vestir o homem novo (cf. 1 Ts 5,8; Gl 3,27; Rm 13,14; 1 Cor 15,43, 53-54; 2 Cor 5,3-4; Cl 3,10; Ef 6,11). A expressão "que foi criado de acordo com Deus".que se refere à criação de Adão (cf. Sb 9,1-3; 2,23; Si 17,1; 33,10), confirma que o criador da nova humanidade é o próprio Cristo, cumprindo assim o plano de Deus para a humanidade.
A imagem do casacoFinalmente, não se refere a algo meramente externo, como é o caso da roupa. A carta fala de um desinvestir e um casacoEsta é uma referência à mudança moral, porque a forma de agir expressa, como o vestuário, a personalidade, a forma de ser de uma pessoa. E para deixar claro que não é algo externo, Paul acrescenta do "homem novo".O crente está revestido de um novo ser, um ser renovado por Cristo, como pessoa individual e como membro da Igreja. É desta forma que o cristão se torna a luz do mundo (Ef 5,8), perante a qual as trevas são removidas, ao ressuscitar com Cristo e ser iluminado por ele (Ef 5,14).
Professor do Novo Testamento, Universidade de Navarra.