Sagrada Escritura

O Bom Samaritano (Lc 10, 25-37) 

Neste texto, Josep Boira discute a parábola do Bom Samaritano na qual a universalidade da fraternidade humana proposta pelo cristianismo é explicada de uma forma paradigmática.

Josep Boira-24 de Setembro de 2022-Tempo de leitura: 4 acta
Samaritano

Uma das características do Evangelho de Lucas é a ênfase no Deus misericordioso. As parábolas do capítulo 15 (ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo) são emblemáticas a este respeito. Esta misericórdia é encarnada por Jesus Cristo, quando ele é movido e atende às necessidades dos outros (cf. Lc. 7 13; 11, 14; 13, 10; etc.). Mas Jesus exige que os seus discípulos também pratiquem a mesma misericórdia. As palavras do Sermão da Montanha ("...") são as mesmas que as palavras do Sermão da Montanha.sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito".(Mt 5, 48) tem uma nova nuança no discurso na planície: "sê misericordioso como o teu Pai é misericordioso".(Lc 6,36). Este ensinamento é magistralmente narrado na parábola do Bom Samaritano.

Como é que....?

Um médico da Lei é "levantado"e disse a Jesus "para o tentar".: "O que posso fazer para herdar a vida eterna"? (Lk. 10, 7, 25). Estas parecem ser duas atitudes incompatíveis: "tentação". o Mestre e querer "herdar a vida eterna".. Mas Jesus quer agarrar a oportunidade, porque por detrás deste interrogatório tentador - uma questão radical - pode esconder um desejo sincero de verdade e maior coerência. A resposta do Mestre muda os papéis: o médico torna-se o questionador e o questionado: "O que foi escrito na Lei? Como se lê?" (Lc 10,26), Jesus responde-lhe. Estas duas questões parecem referir-se em primeiro lugar ao que a Escritura diz e em segundo lugar à forma como deve ser interpretada. 

O escriba responde apenas à primeira pergunta, referindo-se a dois textos da Escritura: ".Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma e com todas as tuas forças e com toda a tua mente. [Dt 6, 5], e o seu vizinho como você [Lev 19:18]". O Mestre elogia-o e convida-o a praticar o que já sabe. Mas o médico quer justificar-se a si próprio perguntando quem é o seu vizinho. A resposta, uma parábola, servirá para esclarecer a segunda pergunta do Mestre: Como se lê as Escrituras? O amor de Deus é inquestionável, mas a prática do amor de vizinhança pressupõe uma posição, que, aos olhos do médico, parece ser questionada. Ainda assim, a questão é colocada, e o diálogo pode continuar.

Um samaritano

A parábola está perfeitamente colocada. Um homem desce de Jerusalém para Jericó e é agredido por bandidos e deixado meio morto. Coincidentemente, um padre também ia pelo mesmo caminho, e vendo o homem, evitou aproximar-se dele, talvez para preservar a pureza legal (cf. Lev 5:3; 21:1). Também um levita passou, viu-o e também não se aproximou dele. Ambos, como se regressassem do exercício da sua função sacerdotal em Jerusalém, não são capazes de combinar o amor ao próximo com o serviço de Deus. No entanto, um terceiro homem, considerado desprezível por ser samaritano, passa por ele e vê-o, "movido à compaixão".mais literalmente "as suas entranhas foram movidas".. A sequência dos três caracteres é a mesma: eles passam por ele e vêem-no. Os dois primeiros evitam o encontro, o terceiro "tem compaixão". É o mesmo verbo que Lucas usa quando Jesus viu a mãe viúva cujo único filho estava a ser levado para ser enterrado. "O Senhor viu-a e teve compaixão por ela". (Lc 7, 13). 

Esta é a palavra-chave da parábola: "comissura". (em gr: splanjnizomai), em forte contraste com "passado por". O samaritano, a partir do movimento interior do coração, passou à acção: "Veio ter com ele e vestiu as suas feridas, deitando óleo e vinho sobre elas. Ele colocou-o no seu próprio cavalo, levou-o à estalagem e cuidou dele pessoalmente. No dia seguinte, retirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: "Cuida dele, e tudo o que gastares a mais dar-te-ei no meu regresso"". (Lc 10,34). 

Quem é o meu vizinho?

No final da parábola, a questão de Jesus inverte os termos da pergunta do médico. Queria saber até onde vai o preceito do amor de vizinhança: há limites? Há pessoas que são excluídas deste vizinho? No entanto, Jesus diz-lhe: "Qual dos três acha que foi o vizinho daquele que caiu nas mãos dos ladrões"? (Lk. 10, 36). Não se trata de saber quem é o meu vizinho, mas de ser o próprio vizinho pela forma como se age: ser movido à compaixão perante o sofrimento dos outros e fazer o que se pode para o aliviar. 

Face a um relato tão claro, o médico não hesita em identificar aquele que se comportou como vizinho, e responde com a ideia chave do texto, desta vez utilizando uma palavra sinónima: "Aquele que teve piedade dele". (Lc 10, 37, em gr: eleos). Jesus conclui com uma resposta semelhante ao primeiro convite: "Continuem então, e façam o mesmo". (Lc 10,37). É fácil imaginar um sorriso no rosto de Jesus em relação ao convite, vendo que o médico foi capaz de rectificar a sua atitude inicial. 

Com a sua compaixão, Jesus encarna o Deus cuja misericórdia é infinita (cf. Sl 136). Além disso, ao mostrar o samaritano cuidando do pobre ferido e convidando o estalajadeiro a fazer o mesmo nos dias seguintes, Jesus, na sua paixão e morte, encarna a figura do samaritano, tomando sobre si as nossas enfermidades e suportando as nossas tristezas (cf. Is 5,4). E assim os dois mandamentos estão unidos em acção: a adesão amorosa a Deus reflecte-se no comportamento de próximo dos outros, tomando Jesus como nosso modelo, pois foi Ele que se fez próximo de todos os homens.

O autorJosep Boira

Professor da Sagrada Escritura

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