O sorriso de Deus
Para um jovem de 6 anos, Javier era bastante ousado. Numa manhã de Verão, depois dos cereais, vestiu calções e uma camisa Osasuna e saiu de casa. "Vou e volto" gritou ele para avisar a sua mãe (ela olhou para cima da revista e sentiu novamente aquele toque de orgulho pela recente iniciativa do seu filho de sair e jogar futebol). Mas o plano era diferente: depois de uma corrida de 30 minutos, o rapaz chegou finalmente à loja na Avenida Carlos III.
-Olá, Javi. Aqui outra vez?
Magdalena, a vendedora, que era cerca de 20 anos mais velha que ele, tinha-o saudado com os olhos no seu telemóvel. O rapaz preferiu esperar por ela: reparou nos cabelos pretos a jacto que lhe caíam de ambos os lados do rosto; gostou da cor do avental dela, pois contrastava com o castanho do rosto e dos braços. Ela pensava que os seus olhos eram grandes e belos, mas eles estavam a perder a vida: por esta altura estavam cansados, severos, quase aborrecidos; especialmente porque a tinta não conseguia esconder uma mancha roxa que se estendia abaixo do seu olho esquerdo; o rapaz estava a olhar para ela ali mesmo, enrugando o nariz, quando ela se preparava para o atender.
- Veio para comprar a barra de chocolate, não veio? -repreendeu-o quando se virou para as prateleiras para escolher uma e aproveitou o movimento para cobrir a sua bochecha com uma cortina de cabelo. Depois encostou-se ao balcão e acrescentou num tom reprovador: "Javito, em vez de vir aqui todos os dias... não seria melhor para si pedir à sua mãe um pouco mais de dinheiro para comprar uma barra de chocolate? bolsa maior? Porque vive um pouco longe, não é verdade?
-Não...
- Está a caminhar ou a apanhar o autocarro?
-É apenas um par de maçãs, não é nada.
A rapariga fechou os olhos e suspirou.
-Vá lá, são 20 cêntimos", informou-a sem convicção quando recuperou o seu semblante altivo. Vens de novo amanhã?
- penso que sim, e vou dizer-vos porquê", disse o rapaz defensivamente. Mas antes de poder terminar, esticou o braço para lhe dar a moeda e permaneceu para verificar o tesouro que recebeu em troca.
-Hmm? -Sentiu o aguilhão da curiosidade e fingiu que estava a classificar através da caixa.
-Engoleu com dificuldade, colocou a barra de chocolate no bolso, olhou-a nos olhos, "Vim porque gosto de te ver.
Os olhos de Madalena cintilaram.
-Javi! Vem cá, deixa-me dar-te um beijo!
O rapaz arredondou o balcão ao seu encontro, ela beijou-o na testa e deixou-o corado. Javi não conseguia superar o seu espanto e, assim que chegou a si, sentiu-se exposto e começou a fugir. Passou pela porta automática com passos rápidos, mas com o sorriso crescente de um toureiro a sair pela Puerta Grande.
O rapaz tinha-se afastado cerca de 10 metros quando, de repente, precisou de voltar para trás.
-Desculpe", desculpou-se da porta, com chocolate na mão, a cara complexada. Esqueci-me de uma coisa: queres metade?
Os olhos de Madalena cintilaram.
-Não, obrigado. É tudo seu.
-Oh, muito bem", respondeu o rapaz, visivelmente aliviado. Agur! - acrescentou, com um sorriso tão puro que Magdalena viu nele uma imagem do sorriso de Deus.
A rapariga correu a encostar-se ao lado da porta para olhar para Javi. "Ay, Javito", suspirou ela enquanto o rapaz descia a Avenida Carlos III, caminhando como um bêbado, como um bom bêbado, ao contrário de Javi, que era um rapazinho. ele... "Porque não me apercebi disso antes, é óbvio! Mas só me apercebi agora, graças a este pequeno... O Reino dos Céus pertence a tais como estes", lembrou-se ele próprio. Correu para a casa de banho, agarrou no cabelo para lavar a cara e remover a tinta, colocou a cara no espelho para verificar o estado do hematoma, e depois, determinada, chamou o namorado.