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O Magistério dos Papas em Conflitos Armados

Papas pela paz em tempos de guerra. De Bento XV e Pio XII a Francisco é o título do encontro, promovido pelo Comité do Papa Pacelli - Associação Pio XII, que teve lugar no Instituto Maria Santissima Bambina, em Roma. O objectivo da sessão era de reflectir sobre o magistério dos Papas nos conflitos armados.

Antonino Piccione-24 de Junho de 2022-Tempo de leitura: 4 acta

Tradução do artigo para inglês

O encontro, presidido por Dominique Mamberti, Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica, contou com a presença de Massimo de Leonardis, Professor de História das Relações Internacionais (Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão); Johan Ickx, Director do Arquivo Histórico da Secretaria de Estado do Vaticano (Secção para as Relações com os Estados); e Andrea Tornielli, Director Editorial dos Meios de Comunicação Social do Vaticano. O magistério dos Papas nos conflitos armados não é uma questão menor nascida da guerra na Ucrânia.

O novo livro do Papa

As reflexões do Papa Francisco contidas na sua recente publicação Contra a guerra. A coragem de construir a paz (publicado por Solferino), mostram o a necessidade de fraternidade e denunciar o absurdo da guerra. Estas páginas estão impregnadas do sofrimento das vítimas na Ucrânia, dos rostos daqueles que sofreram com o conflito no Iraque, dos acontecimentos históricos de Hiroshima e do legado das duas guerras mundiais do século XX.

Francisco identifica na ganância pelo poder, nas relações internacionais dominadas pela força militar, na ostentação de arsenais militares, as profundas motivações para as guerras que ainda hoje mancham o planeta de sangue. Confrontos que semeiam morte, destruição e ressentimento e trazem novas mortes e novas destruições, numa espiral à qual só a conversão dos corações pode pôr fim.

O Magistério Pontifício sobre a Guerra

O diálogo como arte política, a elaboração da paz, que parte do coração e se estende ao mundo, a proibição de armas nucleares e o desarmamento como opção estratégica são os indícios concretos que Francisco nos confia para que a paz se torne verdadeiramente o horizonte comum sobre o qual construir o nosso futuro. Pois nada verdadeiramente humano pode nascer da guerra.

O pontífice segue na esteira do magistério dos seus antecessores: o apelo com que em 1962 São João XXIII apelou aos poderosos do seu tempo para travar uma escalada de guerra que poderia ter arrastado o mundo para o abismo do conflito nuclear; a força com que São Paulo VI, falando em 1965 na Assembleia Geral das Nações Unidas, disse: "Nunca mais guerra! Nunca mais a guerra"; os muitos apelos à paz de São João Paulo II, que em 1991 chamou à guerra "uma aventura sem retorno".

Desde o início do meu serviço como Bispo de Roma", lê a introdução ao volume, "falei da Terceira Guerra Mundial, dizendo que já estamos a vivê-la, embora ainda em pedaços. Estas peças têm-se tornado cada vez maiores, soldando juntas. Há muitas guerras no mundo neste momento, causando imensa dor, vítimas inocentes, especialmente crianças. Guerras que provocam a fuga de milhões de pessoas, obrigadas a abandonar as suas terras, as suas casas, as suas cidades destruídas para salvar as suas vidas. Estas são as muitas guerras esquecidas que reaparecem de tempos a tempos perante os nossos olhos desatentos".

A loucura da guerra

Longe de ser a solução para os conflitos, para Francis a guerra "é loucura, a guerra é um monstro, a guerra é um cancro que se alimenta de si mesmo, engolindo tudo". Além disso, a guerra é um sacrilégio, que "causa estragos na coisa mais preciosa da nossa terra, a vida humana, a inocência dos pequenos, a beleza da criação".

A solução é antes a proposta pela encíclica Fratelli tutti: utilizar o dinheiro gasto em armas e outras despesas militares para criar um Fundo Mundial para eliminar de uma vez por todas a fome e promover o desenvolvimento dos países mais pobres, a fim de evitar atalhos violentos ou enganosos. Uma proposta que o Santo Padre sente a necessidade de renovar "ainda hoje, especialmente hoje". Porque "as guerras devem ser travadas, e só cessarão se nós deixarmos de as alimentar".

Pio XII e os judeus

Outro livro -Pio XII e os judeus (Rizzoli 2021) - é susceptível de oferecer a oportunidade de esclarecer a obra de Pio XII, com referência às intervenções desejadas pelo Pontífice, coordenadas pelo Secretário de Estado, Cardeal Luigi Maglione, e realizadas por altos prelados como Domenico Tardini e Giovanni Battista Montini (o futuro Paulo VI). "Os documentos não publicados de Pio XII", escreve Ickx, "contrariam a falsa narrativa anteriormente aceite por muitos".

O Papa, de facto, "organizou uma rede de rotas de fuga para pessoas em perigo e supervisionou uma rede de padres que operam em toda a Europa com um único objectivo: salvar vidas sempre que possível". Esta é a chamada lista de Pio XII, a "série judaica" no arquivo histórico da Secretaria de Estado. Uma série em particular, directamente do seu nome (os outros têm o nome de países específicos), contém cerca de 2.800 pedidos de intervenção ou ajuda e testemunha até que ponto o destino destas pobres pessoas estava próximo do coração do Papa. A série mostra o destino de mais de 4.000 judeus, alguns dos quais baptizados como católicos mas de origem judaica (mas a partir de um certo ponto nem sequer o baptismo impediu as deportações).

Os pedidos abrangeram o período de 1938 a 1944 e intensificaram-se durante os anos cruciais da guerra. Nem sempre foi possível salvar toda a gente, mas a "série judaica" "prova para além de qualquer dúvida razoável", diz Icks, "que Pio XII e a sua equipa fizeram o seu melhor para oferecer assistência também aos da fé judaica.

O autorAntonino Piccione

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