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As mulheres no centro do trabalho de Manos Unidas em África

As mulheres, como esta mulher queniana, foram as principais protagonistas do trabalho de Manos Unidas no continente africano e receberam especial atenção nos projectos devido ao aumento da violência contra elas durante o confinamento. 

Maria José Atienza-16 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto
Leituras dominicais

Leituras para o Domingo 12 do Tempo Comum

Andrea Mardegan comenta as leituras para o 12º Domingo do Tempo Comum 

Andrea Mardegan-16 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

Chega a noite e Jesus pregou junto à margem do lago, contou várias parábolas, depois explicou-as aos seus discípulos em privado; curou os doentes, expulsou os demónios.

Multidões de pessoas vieram ter com ele: ele nem sequer teve tempo para comer. Ele está muito cansado, mas não se importa e diz aos seus discípulos: "Vamos atravessar para a outra margem".. É o Oriente, habitado por povos pagãos. Jesus não se dá descanso e quer ir a outras aldeias para trazer a sua palavra. Os discípulos mandam a multidão embora e levam-no embora. "com eles, como eu estava, no barco", poupando-lhe novos empregos.

Tal como estava": desgastado pela fadiga. Jesus, confiando na sua experiência como pescador, desiste, não aguenta mais, e agora que outros estão a pensar em remar e conduzir o barco, aproxima-se da almofada na popa, inclina-se para trás e desmaia num sono profundo. 

O Papa Francisco assinalou a 27 de Março de 2020 na Praça de São Pedro que esta é a única vez que o Evangelho descreve Jesus a dormir. Na sua essência, para além de refeições e jantares, o Evangelho não se detém tanto na descrição de aspectos da vida quotidiana do Senhor. Os poucos que ele diz ajudam-nos muito: percebemo-lo mais próximo das nossas vidas. No fundo desta narrativa está a história de Jonas a dormir com um mar tempestuoso, mas a descontinuidade é que aqui o protagonista adormecido é o mesmo que acalma a tempestade com o seu comando. Só Deus comanda o mar, os ventos e as tempestades, como nos lembra Job: "Quem fechou o mar entre duas portas, quando saiu a correr do ventre da sua mãe, quando o vesti com nuvens e o envolvi numa nuvem escura, quando estabeleci um limite? Ou, como o salmista relata: "A tempestade baixou em silêncio, as ondas do mar caíram em silêncio. À vista da calma eles regozijaram-se, e ele conduziu-os até ao porto desejado." (107, 28-30). 

Os discípulos têm alguma fé nele e despertam-no para os salvar, mas com base na desconfiança: "Não se importa que estejamos perdidos? A sua fé ainda não está plena e firme, como Jesus lhes diz: "Ainda não tem fé?". Jesus ordena que o mar esteja calmo, como o diabo a sair do homem na sinagoga: Marcos usa o mesmo verbo (cf. Mc 1, 25). É compreensível que eles se perguntem: "Quem é este?". Dão um passo mais próximo da fé de que Jesus realmente se preocupa com eles, e preparam-se para o verem a dormir na cruz e no túmulo. Também aí terão dificuldade em acreditar que a tempestade da cruz será resolvida na calma da ressurreição. 

Este episódio ajuda-nos a pedir ao Senhor que aumente a nossa fé no poder de Deus, que se manifesta na fraqueza da humanidade que o Verbo encarnado quis assumir, e na da sua Igreja, nas tempestades da história.

Vaticano

"Mesmo no mais doloroso dos nossos sofrimentos, nunca estamos sós".

O Papa Francisco concluiu hoje a sua catequese sobre a oração. Na reunião realizada no pátio de São Damasco no Palácio Apostólico do Vaticano, o Santo Padre concentrou-se na oração de Jesus durante a sua Paixão. Um momento, salientou o Papa, em que "a oração de Jesus se tornou ainda mais intensa e frequente".

Maria José Atienza-16 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 6 acta

O Papa quis salientar como "aquelas últimas horas vividas por Jesus em Jerusalém são o coração do Evangelho, porque o acontecimento da morte e ressurreição - como um relâmpago - ilumina todo o resto da história de Jesus", pois representam "a salvação total, a salvação messiânica, aquela que dá esperança na vitória definitiva da vida sobre a morte".

Oração de intimidade no meio do sofrimento

O Papa quis centrar a sua catequese na oração de Cristo no meio do terrível sofrimento da sua Paixão e morte na Cruz. Momentos em que, assaltado pela angústia mortal, Jesus volta-se para Deus chamando-o "Abba", "esta palavra aramaica - a linguagem de Jesus - exprime intimidade e confiança". Precisamente quando sente a escuridão que o rodeia, Jesus fura-a com aquela pequena palavra: Abba! Jesus reza também na cruz, envolto na escuridão pelo silêncio de Deus. E no entanto a palavra 'Pai' aparece mais uma vez nos seus lábios", salientou o Papa Francisco, acrescentando que "no meio do drama, na dor atroz da alma e do corpo, Jesus reza com as palavras dos salmos; com os pobres do mundo, especialmente com os esquecidos por todos".

"Na última parte da sua viagem, a oração de Jesus torna-se mais fervorosa".

O Papa Francisco também se debruçou sobre outro ponto, ligado à catequese da semana passada: a oração de intercessão que Cristo faz por cada um de nós, a chamada "oração sacerdotal" que Jesus dirige ao Pai no momento "em que a Hora se aproxima, e Jesus faz o último trecho da sua viagem, a sua oração torna-se mais fervorosa, e também a sua intercessão em nosso favor".

Uma oração que nos recorda, o Santo Padre quis sublinhar, que "mesmo no mais doloroso dos nossos sofrimentos, nunca estamos sós. A graça de não rezarmos apenas, mas de, por assim dizer, termos sido "rezados", já somos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai, na comunhão do Espírito Santo". Uma ideia que ele também retomou na sua saudação aos peregrinos de diferentes línguas após a catequese.

Texto completo da catequese

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Nesta série de catequeses temos recordado em várias ocasiões como a oração é uma das características mais evidentes da vida de Jesus. Durante a sua missão, Jesus mergulha nela, porque o diálogo com o Pai é o núcleo incandescente de toda a sua existência.

Os Evangelhos testemunham como a oração de Jesus se tornou ainda mais intensa e frequente na hora da sua paixão e morte. De facto, estes acontecimentos culminantes constituem o núcleo central da pregação cristã, o kerygma: as últimas horas vividas por Jesus em Jerusalém são o coração do Evangelho não só porque os evangelistas reservam proporcionalmente mais espaço para esta narrativa, mas também porque o acontecimento da morte e ressurreição - como um relâmpago - lança luz sobre todo o resto da história de Jesus.

Ele não era um filantropo que cuidava de sofrimentos e doenças humanas: ele era e é muito mais. Nele não há apenas bondade: há salvação, e não uma salvação episódica - aquela que me salva de uma doença ou de um momento de desânimo - mas salvação total, salvação messiânica, aquela que dá esperança na vitória definitiva da vida sobre a morte.

Nos dias da sua última Páscoa, encontramos Jesus, portanto, totalmente imerso em oração. Ele reza dramaticamente no jardim do Getsémani, assaltado pela angústia mortal. Mas Jesus, precisamente nesse momento, dirige-se a Deus chamando-lhe "Abba", papá (cf. Mc 14,36). Esta palavra aramaica - a linguagem de Jesus - exprime intimidade e confiança. Precisamente quando sente a escuridão à sua volta, Jesus penetra-a com aquela pequena palavra: Abba! Jesus reza também na cruz, envolto na escuridão pelo silêncio de Deus. E mais uma vez a palavra "Pai" aparece nos seus lábios. É a oração mais audaciosa, porque na cruz Jesus é o intercessor absoluto: reza pelos outros, por todos, mesmo por aqueles que o condenam, sem que ninguém, excepto um pobre malfeitor, tome o seu partido. "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).

No meio do drama, na dor excruciante da alma e do corpo, Jesus reza com as palavras dos salmos; com os pobres do mundo, especialmente com os esquecidos por todos, pronuncia as trágicas palavras do Salmo 22: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste" (v. 2). Na cruz cumpre-se o dom do Pai, que oferece o amor sem reservas do seu Filho como o preço da nossa salvação: Jesus, carregado de todo o pecado do mundo, desce ao abismo da separação de Deus. No entanto, ele volta-se para ele e grita: "Meu Deus!

Jesus permanece imerso na sua filiação mesmo nesse momento extremo, até ao seu último suspiro, quando diz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23,46). Jesus reza, portanto, nas horas decisivas da sua paixão e morte. Com a ressurreição, o Pai responderá à sua oração.

Jesus também reza de uma forma muito humana, demonstrando a angústia do seu coração. Ele reza sem nunca abdicar da sua confiança em Deus Pai.

Para mergulhar no mistério da oração de Jesus, tão intensa nos dias da Paixão, podemos deter-nos naquela que é a oração mais longa que encontramos nos Evangelhos e que é chamada a "oração sacerdotal" de Jesus, narrada no capítulo 17 do Evangelho de João. O contexto ainda é pascal: estamos no final da Última Ceia, na qual Jesus institui a Eucaristia. Esta oração - explica o Catecismo - "abraça toda a Economia da criação e salvação, bem como a sua Morte e Ressurreição" (n. 2746). À medida que a Hora se aproxima, e Jesus faz a recta final da sua viagem, a sua oração, e também a sua intercessão em nosso favor, torna-se mais fervorosa.

O Catecismo explica que tudo se resume nessa oração: "Deus e o mundo, a Palavra e a carne, a vida eterna e o tempo, o amor que se dá e o pecado que o trai, os discípulos presentes e aqueles que acreditarão nele através da sua palavra, a humilhação e a sua glória" (n. 2748). As paredes do Cenáculo estendem-se para abraçar o mundo inteiro; e o olhar de Jesus não cai só sobre os discípulos, seus convidados, mas olha para todos nós, como se ele quisesse dizer a cada um de nós: "Rezei por vós, na Última Ceia e no bosque da Cruz".

Mesmo no mais doloroso dos nossos sofrimentos, nunca estamos sozinhos. Isto parece-me a coisa mais bela a recordar, concluindo este ciclo de catequeses dedicado ao tema da oração: a graça de não rezarmos apenas, mas de termos sido "rezados", por assim dizer, já somos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai, na comunhão do Espírito Santo.

Temos sido amados em Cristo Jesus, e também na hora da paixão, morte e ressurreição tudo nos foi oferecido. E assim, com a oração e com a vida, só podemos dizer: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e para sempre, para todo o sempre. Ámen.

Caros irmãos e irmãs:

Hoje concluímos a nossa catequese sobre a oração. Uma das características mais evidentes da vida de Jesus é o seu diálogo com o Pai em oração e, como testemunham os Evangelhos, este diálogo tornou-se ainda mais intenso na hora da sua paixão e morte. No Jardim das Oliveiras, Jesus reza com medo e angústia, e dirige-se a Deus como "Abba", ou seja, "Papa", uma palavra aramaica que expressa intimidade e confiança.

Também na escuridão e no silêncio da cruz Jesus invoca a Deus como Pai. Nisso

momento, no meio de uma dor excruciante, Jesus é o intercessor absoluto. Ele implora pelos outros, por todos, mesmo por aqueles que o condenam. Ele implora com palavras dos salmos, unindo-se com os pobres e esquecidos do mundo. Ele dá vazão à angústia do seu coração de uma forma muito humana, sem deixar de confiar plenamente no Pai, consciente da sua filiação divina até ao seu último suspiro na cruz, quando entrega a sua alma nas mãos do Pai. A fim de entrarmos no mistério da oração de Jesus, voltamo-nos para a chamada "oração sacerdotal", encontrada no capítulo 17 do Evangelho de João. O contexto desta oração é pascal.

Jesus dirige-se ao Pai no final da Última Ceia, onde institui a Eucaristia. Na sua oração ele vai para além dos comensais, intercede e abraça o mundo inteiro, o seu olhar estende-se a todos nós. Isto lembra-nos que, mesmo no meio do maior sofrimento, não estamos sós, já fomos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai, em comunhão com o Espírito Santo.

Saúdo cordialmente os fiéis de língua espanhola, dos quais são tantos. Ao concluirmos estas catequeses sobre a oração, não esqueçamos que Jesus não só nos "amou" primeiro, mas também "rezou" por nós primeiro. Jesus rezou por nós primeiro. Ç

Portanto, com a nossa oração e a nossa vida, digamos-Lhe: Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e para sempre, para todo o sempre. Ámen. Deus vos abençoe. Muito obrigado.

Espanha

"As irmandades trazem esperança a milhares de pessoas e levam-nas à fé".

Paloma Saborido é uma mulher cristã e um membro da irmandade através de e através. "Nazareno desde os três anos de idade", este professor universitário nascido em Malaga é muito claro que a missão das irmandades e confrarias é "evangelizar na rua com um meio particularmente belo e atraente".

Maria José Atienza-16 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 6 acta

A cidade espanhola de Málaga acolherá, no próximo mês de Setembro, o IV Congresso Internacional de Irmandades e Grémios. Um evento que fará da capital andaluza o "epicentro do debate e da reflexão sobre a religiosidade popular", como o Paloma Saborido, presidente do comité científico deste congresso para a Omnes.

Para esta mulher de Málaga, o Congresso Internacional, que terá lugar na "sua casa" dentro de alguns meses, é um momento privilegiado para "treinarmo-nos e dar informação real sobre as irmandades e irmandades a outros movimentos da Igreja". Queremos mostrar que não somos apenas estéticos, mas que sabemos o que estamos a fazer; que temos a nossa missão na Igreja".

Falar com Paloma Saborido é mergulhar totalmente no Caminho Tomista da Beleza como um caminho para Deus, mas como é que uma pessoa que vive a fé como membro da Irmandade a vive sem cair no mero esteticismo?

Paloma Saborido Sánchez

 -Sou um membro da irmandade desde que nasci. Sou nazareno desde os meus três anos de idade. Vivo a minha fé da forma como os meus pais me ensinaram, transmitindo-a através das cofradias e irmandades. E esta é a minha fé, a minha fé cristã. Rezo a algumas esculturas, que sei serem feitas de madeira, mas que me servem como instrumento para chegar a Deus. Isto é o que a maioria das irmandades faz".

Uma coisa deve ser tida em conta. As irmandades e irmandades fazem um espectáculo na rua que não é escondido de ninguém. É um espectáculo de luz, sons, cores e aromas. É impressionante. E quanto melhor for este espectáculo, dentro dos limites racionais que nos são impostos pelo presente, melhor seremos capazes de levar a cabo a missão que temos. Somos um meio, a missão que temos hoje na nossa Igreja é evangelizar: mostrar a paixão de Cristo e a mensagem que Cristo, através da sua paixão, quer que recebamos. Este é o nosso fim, e nós usamos este meio e a Igreja usa este meio.

Vivo a minha fé da forma como os meus pais me ensinaram, comunicando-a através das confrarias e irmandades.

Paloma Saborido

Devemos ser muito claros que as irmandades e confrarias têm "muitas perspectivas", como diz o antropólogo Isidoro Moreno: turísticas, sociológicas, artísticas, económicas... e todas elas fazem parte da Semana Santa, mas nós irmandades somos, antes de mais nada, cristãos. O que colocamos nas ruas, de graça, dando a nossa família, o nosso dinheiro, o nosso esforço... fazemo-lo apenas para transmitir a mensagem de Cristo e conhecemo-lo. Talvez por vezes, como a estética é enganadora, haja alguém que tenha sido capaz de permanecer nisso. Sabemos que temos de usar essa beleza como um meio para chegar a Deus. Há aqueles que se aproximam das irmandades pela cultura, pela arte, pela música ou porque lhes dá algo para comer, e já se estão a aproximar, há um segundo passo e é que o que oferecemos é a mensagem de Cristo.

Como assinalou, fraternidades, irmandades de todos os tipos: de paixão, de glória... usam "a beleza como meio para chegar a Deus". São Tomás de Aquino defendeu-o como um meio privilegiado para alcançar a Verdade, mas não acha que o perigo de permanecer na estética é constante?

-Nós, confrarias e irmandades, temos uma missão. Rino Fisichella, a quem tive a sorte de ouvir em Lugano (Suíça) no Primeiro Fórum Pan-Europeu de Confrarias, disse várias vezes, "vocês têm a missão de evangelizar na Igreja, como padres, de evangelizar na rua". Para tal, temos um meio extremamente belo. Se mostrarmos o melhor que pudermos que a Paixão e a Ressurreição de Cristo, essa mensagem pascal, tanto melhor alcançaremos o nosso objectivo.

Para além disto, especialmente este ano, vimos a extensão do trabalho das irmandades e confrarias que se concentraram no que tinham de fazer nesta situação: ajudar. Por toda a Espanha, nas cidades e vilas, as irmandades voltaram a sua atenção para ajudar os mais necessitados através de campanhas de Natal, recolhendo material de regresso às aulas, fazendo vestidos para os trabalhadores da saúde, recolhendo alimentos... tem sido impressionante.

Durante a pandemia, o trabalho das irmandades e irmandades centrou-se no que tinham de fazer nesta situação: ajuda.

Paloma Saborido

Um facto é claro no nosso próprio país: em zonas onde há fraternidades e irmandades, mais de metade das crianças são baptizadas, há uma vida cristã maior; não é assim em zonas onde não têm muita presença, será que estão conscientes de que são "uma barreira à secularização", como alguns bispos os descreveram?

-As irmandades e confrarias são o movimento da Igreja Católica, por assim dizer, com mais possibilidades de chegar a mais pessoas. Simplesmente devido à sua "plurinaturalidade" de cultura, arte e turismo, alcançamos mais pessoas do que qualquer outra, e isto permite-nos evangelizar mais pessoas. Evangelizamos pelo nosso exemplo, pelo nosso modo de vida, pelo que pregamos do princípio ao fim, e não apenas no dia da procissão. Lembro-me de um exemplo que aconteceu na minha irmandade a Polinica de Málaga: tivemos um grupo de jovens no qual participaram muitos jovens: tivemos adoração nocturna, participámos activamente na Missa... vieram três irmãos, mas nunca receberam a comunhão... um dia, o irmão mais velho perguntou-lhes sobre isto e eles disseram-lhe que não tinham sido baptizados e pediram para receber os sacramentos da Iniciação Cristã porque queriam ser assim, como os irmãos com quem partilharam o seu tempo. Esta é a única razão pela qual o esforço e o tempo que se dedica a isto faz sentido. A nossa existência como confrades faz sentido para que estas pessoas se aproximem de Deus e da Igreja.

Isto acontece em todo o mundo. Recentemente entrei em contacto com uma confraria no México com experiências semelhantes de aproximação à fé. Nesta sociedade revolucionada, atingida por uma pandemia que tem causado tanto sofrimento, as irmandades e confrarias têm a capacidade de inspirar as pessoas e de as atrair para a fé de Cristo e da Igreja.

A nossa existência como confrades faz sentido, a fim de aproximar estas pessoas de Deus e da Igreja.

Paloma Saborido

Centrando-se no Congresso a realizar em Málaga em Setembro próximo, porque é que Málaga foi escolhida para este encontro?

-O Grémio de Irmandades de Málaga ofereceu-se, já no III Encuentro Internacional de Hermandades, para acolher o próximo encontro como parte das actividades para celebrar o seu 1º Centenário, uma vez que é o primeiro agrupamento do mundo.

Foi-me pedido pela Associação para ser o director científico. Isto não era novidade para mim, pois há muito tempo que promovíamos o primeiro Curso Universitário sobre Formação Integral em Gestão de Irmandades e Irmandades que é leccionada numa universidade pública e da qual já estamos a preparar a quarta edição, realizámos cursos de Verão, etc.

Na concepção do programa No final da reunião concordámos que o debate deveria centrar-se na religiosidade popular, na Semana Santa como movimento na religiosidade popular e na análise da missão evangelizadora das irmandades e confrarias, especialmente através dos dias da Semana Santa.

Como estruturou este objectivo no Congresso?

-O IV Congresso Internacional de Irmandades e Irmandades estrutura esta reflexão sobre a religiosidade popular em três painéis ligados pelo fio da missão evangelizadora das Irmandades e Irmandades.

No primeiro dia falaremos sobre a religiosidade popular como fundamento e base da Semana Santa. A conferência inaugural será dada por Monsenhor Rino FisichellaPresidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização da Santa Sé, que se concentrará na religiosidade popular como fonte de evangelização e depois falaremos desta religiosidade popular através de oradores tanto do campo antropológico como teológico: como se está a desenvolver hoje em dia, as suas fontes...

No segundo dia, o foco será a representação do momento histórico da Paixão de Cristo. Nesse dia teremos dois eixos: uma mesa redonda sobre os personagens secundários da paixão, na qual abordaremos a função evangelizadora destes personagens, também o papel da mulher na paixão de Cristo, ou como o papel, a mensagem destes personagens secundários foi transferida para o imaginário... Na segunda parte centrar-nos-emos na figura de Cristo na sua paixão através de três apresentações: analisando o seu processo judicial, o sofrimento físico e o momento da ressurreição, através das últimas investigações que foram realizadas sobre o Santo Sudário, para as quais teremos os seguintes oradores. Paolo Di LazzaroDirector Adjunto do Centro Internazionale di Studi sulla Sindone

No terceiro dia, como não poderia deixar de ser, centrar-nos-emos na representação da religiosidade popular. Não só conheceremos as representações do Levante, as castelhanas, mas também como esta religiosidade popular é representada em áreas tão diferentes das nossas como a Europa Central ou Itália, México ou iconografia bizantina.

A religiosidade popular e especialmente as irmandades e confrarias são um dos movimentos mais fortes no seio da Igreja Católica.

Paloma Saborido

Creio que este é um Congresso importante, não só devido à força do tema ou à estatura dos oradores, entre os quais se encontram tanto confrades como aqueles que não o são de todo, mas também porque queremos ter um debate profundo sobre a religiosidade popular. Hoje em dia, a religiosidade popular e especialmente as irmandades e confrarias são um dos movimentos mais fortes dentro da Igreja Católica. Mostramos que somos cristãos de uma forma clara e palpável e que isso move muitas pessoas e é importante dar-lhe a importância que tem, tal como o Papa Francisco.  

Ecologismos encíclicos, não ecologismos de salão

Quando o Papa Francisco publicou a encíclica "Laudato Si" há mais de cinco anos, não faltou "ataque ao mercado" ou "teologia neo-hippie" para uma encíclica que introduziu, se não de uma forma original, então especificamente, o cuidado pela criação como parte do Magistério da Igreja.

16 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

Obviamente, a publicação de uma encíclica não é um feito mesquinho: estamos a falar das questões que fazem parte da vida cristã enquanto tal, ou seja, a materialização da fé, dos sacramentos, da moral... tudo o que molda, de uma forma ou de outra, a existência dos católicos e, portanto, o seu apostolado em termos da sua missão como pessoas baptizadas no mundo.

Considerar "Laudato Si" como algo como um conjunto de medidas superficiais cobertas com rótulos ecológicos e de flores felizes é uma leitura limitada e materialista do documento.

Mª José Atienza

Desde então, vimos como, juntamente com o Papa, cresceu na Igreja um movimento que visa tornar eficaz este apelo. A tarefa ecológica não é outra senão cuidar daquilo que Deus, não esqueçamos, criou para nós e aquilo para que nós, não esqueçamos, devemos continuar a trabalhar: o equilíbrio natural - a ecologia.

Entendido no seu sentido genuíno, com uma visão teológica da vida, o planeta e o homem, como criaturas, são um reflexo do seu Criador e, portanto, acreditar em Deus, querer fazer o que Deus nos chama a fazer, implica uma reflexão integral sobre este mundo, sobre o significado último das coisas e da existência.

Considerando Laudato Si' como algo como um conjunto de medidas superficiais cobertas com rótulos amigo do ambiente y happyflower é o resultado de uma leitura limitada e materialista do documento. A própria encíclica aponta para o perigo de "uma ecologia superficial ou aparente que consolida um certo entorpecimento e uma alegre irresponsabilidade".

Não se trata apenas de encher as igrejas com painéis solares (algo muito louvável naquelas que o podem fazer) mas de participar em mudanças de paradigma vitais relacionadas com o desperdício de alimentos em casa, o consumismo da moda, ou o que gastamos nas férias (e depois a Igreja não deveria pedir-me para atirar um euro todos os domingos...). O apelo de "Laudato Si" está longe de gritar slogans ambientalistas enquanto o grava com um telemóvel de última geração. O apelo de "Laudato Si" visa lutar contra esta "cultura descartável, que afecta tanto os seres humanos excluídos como as coisas que rapidamente se tornam lixo".

Um bom exercício poderia ser, agora que o Papa nos convidou a todos para esta plataforma "Laudato Si" durante os próximos sete anos, reler a encíclica à luz dos dez mandamentos. Compreenderemos, talvez, que não podemos amar a Deus acima de todas as coisas se não amarmos as pessoas do nosso mundo e não tivermos "em conta a natureza de cada ser e as suas ligações mútuas num sistema ordenado". Proteger a vida do princípio ao fim é ecologia, encorajar a maternidade e ajudá-la a cumprir-se a si mesma é ecologia. Reutilizar roupa ou esperar um mês para comprar a última pastilha, uma simples T-shirt, comer o resto do pão e não deitá-lo fora é ecologia... Sim, ecologia, mais activista do que muitos outros; é mais em casa, não slogans, ao alcance de todos, sim, mas acção empenhada.

O autorMaria José Atienza

Diretora da Omnes. Licenciada em Comunicação, com mais de 15 anos de experiência em comunicação eclesial. Colaborou em meios como o COPE e a RNE.

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Vaticano

"Partilha A Campanha da Viagem termina, mas a missão continua".

Cardeal Luis Antonio G. Tagle, Presidente da Caritas Internationalis, juntamente com o Secretário-Geral da Caritas Internationalis e o Secretário do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, encerraram a campanha. Partilhar a viagem que o Papa Francisco abriu em 2017 e que visava gerar uma cultura de encontro e acolhimento para migrantes e refugiados.

Maria José Atienza-15 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

A conferência de imprensa para concluir a Campanha começou com a intervenção do Cardeal Luis Antonio G. Tagle. Tagle, que salientou que Partilhar a Viagem foi "um grande momento de encontro, de solidariedade e, sobretudo, uma expressão do amor da Igreja pelos migrantes". Cristãos, muçulmanos, hindus, seguidores de outras religiões e os sem religião foram acolhidos como pessoas humanas.

O prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e presidente da Caritas Internationalis salientou que embora a campanha tenha formalmente terminado, "a missão continua", especialmente numa altura em que a pandemia pode "intensificar o egoísmo e o medo de estranhos".

Aumento do esforço durante a pandemia

Neste sentido, Aloysius John, Secretário-Geral de Caritas InternationalisRecordou que o principal objectivo da campanha era "viver o imperativo moral de acolher e oferecer hospitalidade aos migrantes e refugiados que fogem da injustiça, sofrimento, violência e pobreza em busca de uma vida digna".

O Secretário-Geral da Caritas Internationalis recordou algumas das acções que, durante estes quatro anos, foram promovidas a partir do epicentro da Cáritas para "partilhar a mensagem de que a migração é uma oportunidade de abrir os nossos braços para acolher o estrangeiro" e valorizou os esforços que, em todo o mundo, foram feitos "para dar apoio aos migrantes e refugiados, especialmente durante a pandemia da SIDA-19, permitindo-lhes o acesso a alimentos, necessidades básicas, vestuário e, acima de tudo, cuidados de saúde".

De forma especial, quis destacar o trabalho da Cáritas em zonas de conflito como o Líbano, onde o centro de migrantes "apoiou trabalhadores migrantes que foram presos no país, incapazes de regressar aos seus países de origem devido às restrições de viagem impostas pela pandemia da COVID-19 e ainda sofrem os efeitos das sequelas da explosão química, da qual os seus empregadores também foram vítimas"; o trabalho da Cáritas Jordânia no cuidado dos migrantes e refugiados sírios com alimentos e assistência médica ou o trabalho inestimável da Cáritas Bangladesh com os milhares de refugiados Rohingya que procuram segurança no Bangladesh.

O Secretário-Geral da Caritas Internationalis convidou também a comunidade a juntar-se à iniciativa acendendo uma vela virtual de esperança no website de Caritas Internationalis  e partilhando uma mensagem de solidariedade com milhões de pessoas deslocadas, que transmitirão ao Papa Francisco.

Também os religiosos Maria de Lourdes Lodi RissiniNo seu discurso por videoconferência, a Coordenadora Nacional da Cáritas para a África Austral destacou o trabalho da Cáritas na África do Sul. Neste sentido, assinalou, por exemplo, o trabalho realizado nessa área para levar as crianças indocumentadas para o sistema educativo sul-africano ou a atenção às mulheres que, quando chegam ao país depois dos seus maridos, descobrem que formaram outra família e não têm recursos para viver ou a atenção aos milhares de pessoas que ficaram na rua e sem trabalho devido à Covid.

Direito a viver em paz nas suas terras

Pela sua parte, Monsenhor Bruno-Marie DufféO Secretário do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral recordou os quatro verbos com os quais o Papa Francisco chama a comunidade cristã a acolher migrantes e que "nos comprometem a empreender com eles uma viagem moral, social, política, legal e espiritual: Acolher, Proteger, Promover e Integrar".

Salientou também que "a dignidade da pessoa humana, princípio fundamental da Doutrina Social Católica, é o que dá sentido e tradução moral aos direitos humanos de todas as pessoas". Particularmente importante foi o seu apelo a "trabalhar com os países de origem dos migrantes e apoiar programas de desenvolvimento humano integral" porque "há o direito primário a ser bem-vindo, mas também o direito de regressar à sua pátria, a terra dos seus antepassados e da sua comunidade, para aí viver em paz".

A campanha "Partilhar a Viagem - Partilhar a Viagem"começou em 2017 com o objectivo de sensibilizar a comunidade cristã para a realidade da migração e de abrir os nossos braços para gerar uma cultura de encontro, para nos interrogarmos e repensarmos como acolhemos os outros.

O próprio Papa Francisco salientou nas suas observações iniciais que "a viagem é feita em dois: aqueles que vêm à nossa terra e nós, que vamos ao seu coração, para os compreendermos, para compreendermos a sua cultura, a sua língua. O próprio Cristo pede-nos que acolhamos os nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados de braços abertos, de braços bem abertos. Recebê-los precisamente desta forma, com os braços bem abertos". 

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Álvaro, o piscar de olhos de Deus

Muitos meios de comunicação social estão actualmente a relatar a nova aventura de Álvaro Calvente, um adolescente de Málaga com uma deficiência intelectual devido à síndrome de Syngap1, que fará a peregrinação ao Santuário Real de Guadalupe de 16 a 23 de Junho, juntamente com o seu pai e o seu padrinho, por ocasião do Ano Jubilar de Guadalupe.

15 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

No ano passado, a peregrinação a Santiago de Compostela que ele narrou no Twitter através do seu relato @CaminodeAlvaroA onda de afecto e devoção que despertou em todo o mundo foi tal que até o Papa Francisco lhe escreveu uma carta de agradecimento.. Nele lhe disse que "no meio da pandemia que estamos a viver, com a sua simplicidade, alegria e simplicidade, conseguiu pôr em marcha a esperança de muitas das pessoas que conheceu pelo caminho ou através de redes sociais".

Aqueles de nós que tiveram a sorte de conhecer Álvaro desde criança e de partilhar a sua vida de fé com ele já sabíamos o que este jovem era capaz de transmitir. Desde muito jovem, a Eucaristia tem sido o momento mais feliz da sua vida. Conheço crianças que desfrutaram de um dia na Eurodisney menos do que o que Álvaro é capaz de experimentar numa celebração da Santa Missa.  

Celebrá-lo com ele ao nosso lado é experimentar de perto o mistério, o banquete celeste em que o céu e a terra estão unidos. Um grande banquete em que Deus nos dá tudo e só podemos acolher este presente do céu, o maná que chove sobre nós. Deus não lhe deu o talento para falar claramente, mas os seus gestos de recolhimento e louvor, de acordo com o momento da missa, proclamam muito claramente a todos aqueles que com ele partilham que algo de grande está a acontecer na comunidade reunida.

Mas a Eucaristia é apenas o momento culminante de uma vida que é uma liturgia inteira. Como todas as crianças da sua idade, ele gosta de jogar futebol, nadar no mar e correr no campo, mas em todas as ocasiões tem Deus em mente e convida aqueles que o rodeiam a não O esquecerem e a amá-Lo acima de tudo.

Claro que a explicação fácil é falar sobre os comportamentos repetitivos e as fixações das crianças com deficiência, mas quem não tem um monotema, uma obsessão, um problema a que continuam a voltar?

Como todas as crianças da sua idade, ele gosta de jogar futebol, nadar no mar e correr no campo, mas tem sempre Deus em mente e convida aqueles que o rodeiam a não O esquecerem.

Antonio Moreno

Prefiro pensar em Álvaro como um presente de Deus à sua família e ao mundo inteiro, porque "as coisas tolas do mundo Deus escolheu para humilhar os sábios, e as coisas fracas do mundo Deus escolheu para humilhar os poderosos" (1 Cor 1,27). Como aquelas figuras em "O Olho Mágico" em 3D que estavam escondidas atrás de uma ilustração colorida e que só se conseguia ver se se olhava profundamente para o papel, Álvaro é uma mensagem escondida para um mundo que só quer ver o que está mesmo debaixo do seu nariz.

Numa ocasião, ouvi o pai de Álvaro dizer que, se ele pudesse escolher hoje nascer sem uma deficiência, não o escolheria, "porque então deixaria de ser Álvaro". E era necessário que Álvaro fosse como ele é para que tantos de nós possam ver, para além da ilustração colorida, um Deus tridimensional que é real e que nos pisca o olho com cumplicidade.

Tenha uma boa caminhada, Álvaro!

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

Evangelização

"A teologia é a fé da Igreja que procura compreender aquilo em que acredita".

Antes de ser uma disciplina académica, Teologia é o conhecimento vivo e por vezes exaltado sobre Deus que o Espírito Santo oferece a todos os baptizados que vivem de acordo com a sua inspiração.

Juan Antonio Martínez Camino-15 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 5 acta

A teologia tem sido sempre para todos os baptizados. Nos últimos tempos, até a teologia académica se tornou mais facilmente acessível a todos. Isto é uma bênção. É bom que os leigos estejam cientes disto e sejam encorajados a estudar teologia.

A Igreja será enriquecida pela sua participação activa neste serviço, que é tão importante para a vitalidade da comunidade eclesial e para a sua missão evangelizadora. Mais ainda, quando hoje o número de fiéis ordenados para o ministério apostólico está a diminuir, que são a maioria e mesmo quase exclusivamente dedicados ao estudo da teologia.

Natureza da Teologia

O que é Teologia? Certamente, é uma disciplina académica. Mas antes disso, a Teologia é o conhecimento vivo e por vezes exaltado sobre Deus que o Espírito Santo oferece a todos os baptizados que vivem de acordo com a sua inspiração.

A Igreja reconheceu isto de uma forma especial ao declarar Santa Teresa de Jesus, Catarina de Siena, Teresa de Lisieux e Hildegard de Bingen como médicos da Igreja. Desde 1970, o ano do doutoramento dos dois primeiros, a doutrina católica que mesmo os fiéis que não são pastores nem estudaram teologia, como no caso destes santos, podem ser grandes teólogos, foi oficialmente reavivada.

A todos o Espírito Santo oferece o dom da sabedoria, ou seja, o excelente conhecimento de Deus. Claro que também aos homens, embora até agora - por razões de justiça e oportunidade - apenas as mulheres tenham sido oficialmente reconhecidas como tendo um doutoramento sem serem pastoras ou terem estudado teologia.

Estudos de teologia

Os estudos teológicos, por outro lado, são uma ciência prática. O seu objecto não é o mero conhecimento, mas o conhecimento da fé. A teologia é a fé da Igreja que procura compreender aquilo em que acredita. A teologia católica parte do princípio básico de que só Deus fala bem de Deus. Se é impossível conhecer uma pessoa humana sem a ter escutado, seria ainda mais impossível conhecer Deus se ela própria não se tivesse comunicado, ou sem a sua comunicação realizada. Na verdade, Deus comunica de muitas maneiras. Toda a criação fala do Criador. Mas o Verbo eterno, encarnado, é a sua comunicação pessoal e plena. Esta é a fé da Igreja, a cuja compreensão é dedicado o esforço secular da Teologia. A teologia académica é o esforço sistemático para conhecer Jesus Cristo à luz da fé e com todos os instrumentos do conhecimento humano.

S. Paulo já fala da teologia infundida pelo Espírito. São Pedro exortou os cristãos a "darem uma razão para a esperança". A teologia académica tem aí o seu germe, mas desenvolver-se-á à medida que a fé se estabelecer nas várias culturas, a começar pela greco-romana. São Justino e Santo Irineu já eram grandes teólogos nos primeiros séculos da Igreja. São Jerónimo e Santo Agostinho foram mestres que lançaram as bases para o desenvolvimento da ciência da fé com os meios do conhecimento humano do seu tempo.

Na Idade Média, a teologia esteve no centro do desenvolvimento das instituições universitárias então criadas e que sobreviveram até aos dias de hoje. São Tomás de Aquino ensinava em Paris. Palência, Valladolid e Salamanca são o berço da universidade entre nós, juntamente com as escolas catequéticas destas Sé Catedral e com o ímpeto dos mestres das ordens religiosas.

Actualmente, nos países anglo-saxónicos, a Faculdade de Teologia ainda faz parte da universidade.

Juan Antonio Martínez CaminoPresidente da Subcomissão Episcopal para as Universidades e a Cultura

Actualmente, os estudos de teologia foram retirados da universidade em países que adoptaram o sistema do Iluminismo francês nos seus sistemas académicos, como é o caso em Espanha. Mas nos países anglo-saxónicos a Faculdade de Teologia ainda faz parte da universidade.

Uma das perspectivas da excelente biografia de Bento XVI, escrita recentemente por Peter Seewald, é precisamente a da gestação deste grande teólogo, que se tornaria papa, dentro das instituições académicas alemãs, tanto eclesiásticas como estatais: primeiro no Colégio Teológico da Diocese de Munique em Freising; depois na Faculdade de Teologia da Universidade de Munique, provisoriamente localizada em Fürstenried, logo após o fim da guerra. Em Freising, o muito jovem Ratzinger estudou com colegas estudantes que, como ele, aspiravam a ser ordenados sacerdotes. Em Fürstenried, por outro lado, teve colegas leigos que se ajudaram mutuamente no seu trabalho académico. Entre eles, o caso de Esther Betz, filha do fundador de um grande jornal alemão, estudante de teologia de 1946 e mais tarde assistente do Professor Schmaus, é impressionante. Esta mulher, uma mulher de negócios, finalmente, como o seu pai, no mundo da edição e do jornalismo, manteve a sua amizade com o seu companheiro de estudo até à sua morte, mesmo quando ele já era Papa. A correspondência entre os dois teólogos é uma das fontes mais originais da biografia de Seewald.

Os leigos têm as portas de todas as instituições académicas completamente abertas para o estudo da teologia. Naturalmente, os seminários diocesanos e os centros de estudos dos próprios religiosos, apenas para leigos que aspiram ao sacerdócio ou membros das respectivas congregações. Mas as Faculdades de Teologia e os Institutos Superiores de Ciências Religiosas, distribuídos por toda a Espanha, admitem todos aos seus diplomas oficiais, desde que satisfaçam os requisitos académicos indispensáveis.

Todas as faculdades (excepto as faculdades internas das congregações religiosas) têm como estudantes oficiais leigos. Nos Institutos Superiores de Ciências Religiosas, que têm cerca de 4.000 estudantes, o número de estudantes nas faculdades é de cerca de 1.000.

estudantes, quase todos os estudantes são leigos. Em alguns lugares, o estudo oficial da teologia é mesmo facilitado especialmente para os leigos que têm um diploma universitário e já estão a trabalhar na sua profissão. Posso testemunhar o interesse e benefício com que os meus alunos desta categoria estudaram teologia nos anos em que fui professor no TUP (Theologia Universitaria para posgraduados), um programa conducente ao grau de Bacharel em Teologia (com reconhecimento civil como Licenciado) oferecido à noite por uma Universidade Pontifícia em Madrid.

Razões para estudar teologia

Porquê estudar teologia se não pretende ser ou não é um sacerdote ou religioso? Todos podem ter motivações pessoais a guardar para si próprios. Mas há dois tipos de objectivos que justificam o estudo da teologia num dos vários níveis académicos em que pode ser estudada.

Em primeiro lugar, porque uma pessoa baptizada que está consciente do tesouro que é a fé professada deseja muitas vezes conhecê-lo mais e melhor do que na primeira catequese. Isto é especialmente verdade para aqueles que cultivaram o seu espírito através de outros tipos de estudo.

A teologia ajuda a viver melhor a fé, a apreciá-la mais, a defendê-la dos ataques da cultura dominante, pouco amiga da vida cristã e, claro, a preparar-se para a missão apostólica própria de cada baptizado, na família, na profissão e na vida social em geral.

Em segundo lugar, os leigos estudam teologia a fim de poderem exercer cargos ou missões na Igreja que têm sido frequentemente desempenhadas por padres, mas que não estão reservadas a eles. Há muitos deles. Deixem-me mencionar apenas alguns. O ensino de Teologia a todos os níveis, desde as cátedras em faculdades e centros de ensino superior, às aulas de religião em escolas estatais ou de iniciativa social para crianças e escolas secundárias; em todas estas áreas há necessidade de bons profissionais em Teologia, incluindo leigos.

A teologia ajuda a viver melhor a fé, a apreciá-la mais, a defendê-la contra os ataques da cultura dominante.

Juan Antonio Martínez CaminoPresidente da Subcomissão Episcopal para as Universidades e a Cultura

O desempenho de vários cargos na missão eclesiástica e na administração: tribunais, cúrias diocesanas e cúrias de institutos de vida consagrada, paróquias, etc. Mesmo na vida civil, a teologia pode ser um complemento valioso para trabalhos relacionados com o direito, ciências da saúde ou vários tipos de consultoria.

A teologia sempre esteve intimamente ligada à fé cristã, que é uma amiga da razão e do conhecimento. Inversamente, a civilização ocidental está tão profundamente enraizada na fé cristã que as suas características mais nobres dificilmente poderiam sobreviver sem a seiva do cristianismo. Nada impede os leigos de serem protagonistas nesta grande história de evangelização e cultura.

O autorJuan Antonio Martínez Camino

Bispo auxiliar de Madrid. Presidente da Subcomissão Episcopal para as Universidades e a Cultura.

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Vaticano

Compreender a resposta do Papa ao Cardeal Marx

Conhecendo a Carta de Francisco ao Povo de Deus na Alemanha é uma premissa chave para compreender o significado completo da resposta do Santo Padre ao pedido de demissão do Arcebispo de Município-Frísia.

José M. García Pelegrín-14 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 5 acta

A resposta do Papa à demissão do Cardeal Marx da sede episcopal de Munique e Freising, originalmente escrita em espanhol (argentino) e cuja tradução oficial em alemão é particularmente pesada devido ao excesso de literalismo - por exemplo, ele derrama literalmente o ditado "tener esqueletos en el armario", enquanto que a metáfora em alemão seria "tener cadáveres en el sótano" ("ter cadáveres na cave" ("Leichen im Keller haben"); e o mesmo vale para "pôr a carne no espeto" que, traduzido literalmente, é ininteligível (a expressão alemã equivalente seria "alles in die Waagschale werfen", "para atirar tudo na balança") - surpreendeu pela sua velocidade... e, pelo menos para o próprio Cardeal, pela sua recusa em aceitar a demissão.

Mas não é só a velocidade que surpreende, mas também a diferença com a falta de resposta da arquidiocese de Colónia. Como já relatámos, quando o relatório de peritos sobre abusos A 18 de Março, os bispos auxiliares de Colónia, Dominik Schwaderlapp e Ansgar Puff, bem como o actual arcebispo de Hamburgo, Stefan Hesse (chefe do departamento de pessoal de 2006 a 2012 e vigário geral de 2012 a 2014 em Colónia), demitiram-se da diocese. O facto de não ter respondido até agora pode estar relacionado com a visita apostólica ordenada pelo Papa Francisco a 28 de Maio nas pessoas do bispo de Estocolmo, Cardeal Anders Arborelius, e do presidente da Conferência Episcopal dos Países Baixos, D. Johannes van den Hende, que está programada para terminar em meados do mês. O Papa provavelmente não quis responder aos pedidos de demissão até ter o resultado da visita, que, além de afectar os três bispos acima mencionados, responde sobretudo aos crescentes pedidos de demissão do próprio Arcebispo de Colónia, o Cardeal Woelki.

Seguindo a mesma lógica, Francis poderia ter esperado até que o relatório sobre o mesmo assunto relativo ao Cardeal Marx fosse tornado público, especialmente no que diz respeito ao período em que foi bispo de Trier (2002-2007) - em 2019, Marx admitiu que em 2006 tinha omitido tratar do caso de um padre acusado de ter cometido vários abusos; o Ministério Público abriu um processo contra o padre, mas arquivou-o, apesar de indicações claras, porque o estatuto de limitações tinha expirado. O resultado do relatório é esperado "no Outono". Saber-se-á então se Marx tem pessoalmente "esqueletos no guarda-roupa" (ou "cadáveres na cave").

O Papa sublinha que "concorda consigo ao descrever como uma catástrofe a triste história do abuso sexual e a forma como a Igreja lidou com ele até há pouco tempo". Francisco aponta o caminho que deve ser seguido para superar a crise: "É o caminho do Espírito que devemos seguir, e o ponto de partida é a humilde confissão: cometemos erros, pecamos. Não seremos salvos por sondagens nem pelo poder das instituições. Não seremos salvos pelo prestígio da nossa Igreja, que tende a esconder os seus pecados; não seremos salvos pelo poder do dinheiro ou pela opinião dos meios de comunicação social (tantas vezes estamos demasiado dependentes deles). Seremos salvos abrindo a porta àquele que o pode fazer e confessando a nossa nudez: 'pequei', 'pecámos'... e chorando, e gaguejando o melhor que pudermos que 'se afaste de mim um pecador', o legado que o primeiro Papa deixou aos Papas e aos Bispos da Igreja".

A ligação entre as cartas

A carta do Papa ao Cardeal Marx está em perfeita sintonia com o que Francisco escreveu, em 29 de Junho de 2019 - a festa dos Santos Pedro e Paulo, que também é significativa - ao "Povo de Deus em peregrinação na Alemanha", onde foi dito: "Assumir e sofrer a situação actual não implica passividade ou resignação e muito menos negligência, pelo contrário, é um convite a fazer contacto com aquilo que em nós e nas nossas comunidades é necrótico e precisa de ser evangelizado e visitado pelo Senhor. E isto requer coragem porque o que precisamos é muito mais do que uma mudança estrutural, organizacional ou funcional.

A actual carta ao Arcebispo de Munique começa precisamente por falar de coragem: "Antes de mais nada, obrigado pela vossa coragem. É uma coragem cristã que não tem medo da cruz, não tem medo de se humilhar perante a terrível realidade do pecado". Embora o Papa não mencione agora expressamente "mudança estrutural, organizacional ou funcional", está implícito quando encoraja a confessar "pequei", a procurar a conversão pessoal.

O Papa também não se refere agora expressamente à "Via Sinodal"; fê-lo na referida carta de 2019 - que, segundo o Cardeal Kasper numa entrevista recente, os representantes da Via Sinodal deveriam ter levado mais a sério. Aí ele explicou - citando expressamente a Constituição Conciliar Lumen Gentium e o Decreto Christus Dominus de S. Paulo VI - o que deve ser realmente a sinodalidade: "Sinodalidade de baixo para cima, ou seja, o dever de cuidar da existência e do bom funcionamento da Diocese: os conselhos, as paróquias, a participação dos leigos... (cf. CCC 469-494), começando pela diocese, já que não é possível ter um grande sínodo sem ir à base...; e depois a sinodalidade de cima para baixo, o que nos permite viver de uma forma específica e singular a dimensão colegial do ministério episcopal e do ser eclesial. Só assim poderemos alcançar e tomar decisões sobre questões essenciais para a fé e para a vida da Igreja".

A ligação entre o carta ao Cardeal Marx e a Carta ao Povo de Deus na Alemanha convida-nos a ler na mesma linha as passagens da carta ao Arcebispo de Munique na qual ele nos recorda que a reforma necessária nestas circunstâncias "começa por si mesmo". A reforma na Igreja tem sido feita por homens e mulheres que não tiveram medo de entrar em crise e se deixaram reformar pelo Senhor. Este é o único caminho, caso contrário não seremos mais do que 'ideólogos reformistas' que não arriscam a sua própria carne".

Ambas as cartas recordam que a reforma necessária nestas circunstâncias "começa por si mesma".

José M. García Pelegrín

Em qualquer caso, o Papa não subscreve a tese expressa por Marx na sua carta de demissão de que a Igreja "se encontra num impasse". Se alguma coisa, este "impasse" é devido - como até agora o editor-chefe de Die TagespostOliver Maksan - que a Igreja na Alemanha "está presa numa camisa de forças" porque o Cardeal Marx "aderiu à agenda político-eclesiástica e ao tratamento dos abusos com a Via Sinodal" para formar um "emaranhado inextricável".

De facto, o Cardeal Marx é um dos principais responsáveis pela fixação que - como o Caminho Sinodal demonstra - existe numa grande parte dos leigos "oficiais", e mesmo em parte da hierarquia na Alemanha, ao ligar o tratamento do abuso sexual a um caminho que visa superar "estruturas de poder", enquanto reivindica "reformas" estruturais, uma posição que Francisco - na sua Carta ao Povo de Deus na Alemanha - descreve como uma "tentação" e um "novo Pelagianismo": "Lembro-me que na reunião que tive com os vossos pastores em 2015 lhes dizia que uma das primeiras e grandes tentações a nível eclesial era acreditar que as soluções para os problemas presentes e futuros viriam exclusivamente de reformas puramente estruturais, orgânicas ou burocráticas, mas que, no fim de contas, não tocariam em nada os núcleos vitais que exigem atenção". Para citar a sua própria Exortação Apostólica Evangelii GaudiumEle acrescentou: "Este é um novo Pelagianismo, que nos leva a depositar a nossa confiança nas estruturas administrativas e organizações perfeitas".

Para lembrar - mais uma vez - que a reforma deve ser fruto de uma conversão pessoal, a carta do Papa Francisco ao Cardeal Marx poderia contribuir para libertar a Igreja na Alemanha do "colete-de-forças", ou para quebrar o nó górdio do emaranhado acima mencionado. Naturalmente, isto exigiria mais atenção por parte dos responsáveis pela Via Sinodal do que a que deram à Carta ao Povo de Deus na Alemanha.

Teologia do século XX

Legados e desafios teológicos

Temos um património formidável para estudar não só com a devoção arqueológica de quem admira o passado, mas como inspiração e apoio para os novos desafios na vida da Igreja.

Juan Luis Lorda-14 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 7 acta

Neste artigo recordaremos com que teologia do fermento é feita. Resumiremos então as contribuições da teologia do século XX. Iremos analisar os novos desafios. E a partir daí, vamos finalmente encontrar algumas linhas de trabalho. 

O fermento da teologia

A teologia tem quatro motivos que a fazem crescer em cada época.

1. A "fé que procura compreender", de acordo com a frase imortal de Santo Anselmo: fides quaerens intellectum. Não nos limitamos a repetir as palavras da mensagem, mas queremos compreendê-las de modo a alimentá-las e combiná-las com a nossa experiência. Os cristãos acreditam na unidade do conhecimento, porque o mesmo Deus que fez o universo se revelou na nossa história e usou as nossas palavras. 

2. A fé é ensinada. Isto requer ordenar o seu conteúdo e explicá-lo de acordo com o nível dos ouvintes, desde a catequese até à formação de futuros sacerdotes e cristãos a nível académico. Quando é ensinado, é aprendido. O esforço de ensinar, especialmente aos padres, moldou historicamente a teologia. 

3. A fé enfrenta dificuldades internas e externas. A história mostra as dissensões e a perda da comunhão, que são heresias. Normalmente requerem muito discernimento teológico. E o mesmo acontece com mal-entendidos e críticas externas: requerem clareza que deu origem a apologética cristã. Tem de ser combinado com as outras fontes, a fim de não focar a teologia apenas nas questões disputadas. 

4. As Escrituras devem ser autenticamente interpretadas. Por um lado, a Igreja já recebeu e possui a mensagem, e nós não estamos dependentes da última interpretação. Mas as Escrituras são uma testemunha fiel do Apocalipse, e a sua leitura atenta e piedosa é uma inspiração constante.

As grandes renovações da teologia do século XX 

No século XIX, a separação da Igreja e do Estado nos países católicos afectou e continua a afectar a vida da Igreja. Ao mesmo tempo, pela graça de Deus, teve lugar um renascimento espiritual e religioso, que no século XX deu origem a um grande número de teólogos entusiastas e a uma era dourada de faculdades teológicas. Assim, para além da grande teologia patrística dos séculos III a V e do clássico escolasticismo dos séculos XI a XIII, houve uma terceira grande época, abrangendo os séculos XIX (Newman, Möhler, Scheeben) e, acima de tudo, os séculos XX.

Quatro grandes fermentos inspiraram esta renovação: um melhor conhecimento da Bíblia, a recuperação da teologia dos Padres, a renovação litúrgica e a influência do pensamento personalista, entre outros.

1. Os estudos bíblicos contribuíram com imensa erudição sobre a história, linguagem e contextos da Bíblia; sobre os grandes conceitos bíblicos de enorme importância teológica (História da salvação, Pacto, Messias, Reino, Ruah....); e sobre as instituições hebraicas que são a base do sentido tipológico (Qhal Yahveh, festas, culto, templo, prática sinagógica...). Há ainda trabalho a ser feito para resumir esta riqueza, que tende a ser dispersa e também produziu uma certa confusão sobre o núcleo da mensagem bíblica. 

2. O regresso aos Padres, representado emblematicamente pela colecção Fontes: Chrétiennes e pelo trabalho de De Lubac e Daniélou, foi reforçada pelos contactos com a teologia russa no exílio (Lossky, Berdiaev) e com a teologia oriental (Congar). Tornou possível focar a teologia nos mistérios, como Scheeben tinha feito, e construir o tratado sobre a Igreja. Significou o fim do escolasticismo manualista, que foi apresentado como a única forma possível de teologia católica. E tornou possível a purificação da tradição tomística através do regresso às suas fontes perenes (a obra de São Tomás de Aquino) e um melhor conhecimento da sua história e contexto (Chenu, Grabmann) e da sua filosofia (Gilson). 

3. Paralelamente ao regresso aos Padres, e com sinergias frutuosas, desenvolveu-se a teologia litúrgica (Dom Gueranger, Guardini, Casel). Transformou a sacramentologia, contribuiu para a compreensão do mistério da Igreja e inspirou o Concílio Vaticano II. Mas esta renovação não deve ser confundida com a aplicação pós-conciliar, por vezes improvisada e espontânea, das modas litúrgicas. Em grande medida, a formação teológica autêntica dos cristãos, de acordo com a vontade do Concílio, continua pendente. 

4. A inspiração personalista destacou algo muito importante. A ideia de pessoa, que é tão cultural e juridicamente relevante, tem uma história teológica. Existe uma contribuição cristã sobre a dignidade do ser humano como imagem de Deus, chamada a ser identificada em Cristo, que ainda é muito relevante. Além disso, a ideia de que a pessoa implica uma relação, tanto na Trindade como nos seres humanos, permite-nos compreender a realização das pessoas no duplo mandamento da caridade, e inspira modelos de coexistência. Como a Trindade, existe a comunhão dos santos na Igreja e no Céu, e a das famílias, e a de qualquer comunidade humana autêntica. Ajuda também a aprofundar a relação pessoal do ser humano com Deus (Eu e Tu), e a renovar a ideia da alma como um ser amado pessoalmente por Deus, com uma relação eterna. 

Conselho e período pós-conciliar 

Este florescimento espectacular inspirou o Concílio Vaticano II que, promovido por João XXIII, procurou relançar a vida da Igreja e a evangelização. Estabeleceu as directrizes e renovou a vida da Igreja em muitos pontos, que são os princípios orientadores do nosso tempo. 

Infelizmente, seguiu-se uma enorme crise pós-conciliar que reduziu a prática cristã e as vocações nos países católicos ocidentais a pelo menos um sexto do que eram. A teologia menos focalizada desempenhou um papel na deriva (Holanda), mas a causa principal foi uma interpretação tendenciosa e uma aplicação precipitada e mal orientada dos desejos do Conselho. É necessário um julgamento calmo para compreender o que aconteceu e para revalidar a interpretação autêntica, como fizeram João Paulo II e Bento XVI.

Por outro lado, a enorme redução do número de candidatos ao sacerdócio deixou muitas faculdades europeias a um mínimo. 

Alguns desafios ambientais

A teologia encontra-se assim num contexto muito diferente do anterior. Em países com tradição católica, ainda vivem como "igrejas estabelecidas", ou seja, identificadas com os costumes, cultura, festas e ritmos de uma nação. Não são igrejas de missão, não têm tais instituições e hábitos, mas mantêm o culto e a catequese, com cada vez menos pessoas. A estrutura eclesiástica, com o seu património, é ainda enorme, mas está a esvaziar, o que também cria um problema financeiro. O clero encolhido pode ser sustentado pelos fiéis encolhidos, mas os edifícios não. Não é o problema principal, mas absorve muita energia. 

Na velha Europa cristã ainda vivemos o ciclo da Modernidade, com a separação da Igreja e do Estado. A par dos aspectos positivos de uma maior liberdade e autenticidade cristã, há uma secularização que está a ser prosseguida como um programa político. Na educação teológica, este processo precisa de ser devidamente contabilizado. 

Quase todo o século XX foi dominado pela espantosa expansão mundial do comunismo. Isto significava perseguição da Igreja nos países comunistas e críticas intensas em todo o mundo. Era também uma tentação para muitos cristãos, que sentiam que o comunismo encarnava aspectos do Evangelho de forma mais autêntica do que a própria Igreja. Outro aspecto permanece por estudar. 

O quase milagroso desaparecimento do comunismo, no tempo de João Paulo II, deixou o enorme vácuo pós-moderno. Mas o impacto da revolução russa de 17 foi substituído pelo da revolução francesa de 68, que falhou na sua utópica tentativa de transformar as sociedades burguesas, mas transformou os costumes sexuais, e provocou um novo motivo de alienação da fé, o que provocou uma crise na recepção de Humanae vitae. Além disso, deu origem à ideologia do género, que exerce pressão cultural e política sobre a vida da Igreja e contrasta com a mensagem cristã sobre sexo e família. Parece que nos encontramos no limiar de uma nova perseguição onde não haverá mártires. Temos de discernir sobre as objecções e encontrar a língua para nos exprimirmos. 

Desafios de formação e informação 

No passado, as famílias cristãs, a catequese nas paróquias rurais e as escolas católicas nas cidades conseguiram transmitir a fé cristã com um grau muito elevado de eficácia e identidade. Já não é este o caso. A irrupção da televisão em todas as casas e, mais recentemente, as redes sociais mudaram a educação familiar: o que aparece na televisão e nas redes torna-se a norma e o modelo social em vez dos pais. A fé só é transmitida em famílias muito empenhadas. 

Por outro lado, a catequese normal está fora de qualquer proporção ao volume de informação e formação que qualquer criança recebe noutras áreas do conhecimento. E tanto as escolas católicas, geralmente religiosas, como os seminários sofreram com a crise pós-conciliar com uma perda de pessoal e problemas de orientação. Há um paradoxo crescente de que a maioria dos cristãos são informados sobre a vida da Igreja nos meios de comunicação não cristãos. Este é um grande desafio para uma Igreja que é, por natureza, evangelizadora. 

Desafios específicos para a teologia 

O balanço não é muito encorajador, e a dimensão dos problemas é esmagadora. Mas a Igreja vive pela fé, esperança e caridade. E é conduzido na história pelo seu Senhor, que, em cada época, suscita os carismas necessários. A teologia não pode viver no limbo da inércia académica, mas deve ligar-se a estas exigências peremptórias. Recordando as quatro leveduras que assinalámos no início, é urgente:

1. compreender a fé também em relação à nossa cultura humanista e científica actual;

2. Formar novas gerações de sacerdotes para responderem às exigências da evangelização. Manter e sintetizar a riqueza do nosso património, acrescentando o melhor da teologia do século XX que se encontra ao nível do nosso tempo. E para superar a tendência acumulada que tem ocorrido nos tratados teológicos, tentando resumir todas as dificuldades do passado;

3. Responder às grandes objecções do nosso tempo. As que decorrem da crítica à Modernidade, as do materialismo científico; e hoje em dia, a ideologia do género, onde é necessário discernir e encontrar a linguagem certa para dialogar e apresentar a mensagem cristã sobre sexo e família de forma atractiva. Problemas internos como a contestação interna e o cisma de Lefevbre também precisam de ser abordados;

4. focalizar e resumir a teologia bíblica de modo a alimentar a teologia e a formação sacerdotal e cristã.

Outras tarefas mais concretas:

5. defender a interpretação autêntica do Concílio Vaticano II e alargar a sua aplicação;

6. contribuir para o compromisso ecuménico e para o diálogo inter-religioso que o Conselho encorajou;

7. estudar a história recente em pelo menos quatro pontos: o ciclo da Modernidade, com as suas inspirações cristãs e as suas distâncias; a crise pós-conciliar; a influência marxista; e o diálogo com as ciências;

8. enfrentar o enorme desafio da formação cristã. Embora a teologia se concentre no ensino académico, precisa de se abrir a outros espaços. E isto tem muitas exigências de estilo e linguagem. 

Conclusão 

Nem tudo são inconvenientes. Temos um património intelectual muito rico de compreensão do mundo e do ser humano, que contrasta com o imenso vazio deixado pelas ideologias do século XX ou com a trivialidade do consumismo global. Nunca estivemos numa situação intelectual tão forte, mesmo que seja tão fraca nos meios de comunicação social. 

Há pontos felizes de convergência com os nossos tempos. Primeiro, porque a mensagem do Evangelho se liga às aspirações humanas mais profundas de hoje e sempre (anima naturaliter christiana). Com os seus desejos de realização, conhecimento e salvação, que também se manifestam na busca de uma vida mais natural e humana, ou num ambientalismo saudável e no respeito pela natureza. As crises ambientais e sanitárias dão também origem a uma procura mais profunda do sentido da vida. 

E, em última análise, temos a presença do Senhor e a assistência do Espírito. A experiência da fraqueza é uma parte essencial do exercício da fé e da teologia. Isto supera a tentação nociva de a substituir pelas nossas ideias. Só é teologia se for "a fé que procura compreender", também para a transmitir alegremente. O que é necessário é uma teologia mais humilde, mais testemunhal, mais espiritual, mais litúrgica; ou, como von Balthasar escreveu, mais ajoelhado. Também uma teologia mais próxima dos pobres e simples, como pede o Papa Francisco. Em suma, uma teologia mais teológica.

Iniciativas

Joachim e Barnabé. Adoração: um encontro com Cristo

A adoração eucarística está a provocar um encontro que muda a vida entre muitos jovens e Jesus Cristo. Iniciativas tais como Adoração tentar renová-lo sob as formas.

Arsenio Fernández de Mesa-14 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Não é segredo que, pela lei da vida, os jovens são o futuro da Igreja. E também não é segredo que muitos deles se afastam de um verdadeiro encontro com Deus porque a vida cristã lhes é apresentada não de uma forma atractiva, mas sim como um fardo e um fardo. Joaquín e Bernabé, sacerdotes da paróquia San Clemente Romano em Villaverde Bajo, arrebataram os seus cérebros para encontrar uma forma de colocar os jovens em frente à Eucaristia. E deixem-no fazer o resto. É essencial provocar o primeiro encontro de uma forma que se relacione com os jovens de hoje. E então educaremos que o sentimento ou a experiência interior não vem primeiro. Se simplesmente insistirmos em métodos obsoletos que não atraem, as igrejas permanecerão vazias.  

O que é o Adoração?

O Adoração é uma adoração ao Santíssimo Sacramento, mas não como as horas sagradas a que estamos habituados. Tem um tom mais carismático e ousado. Insistem muito na importância de rezar com música, descobrindo na letra e ritmos o sopro do Espírito Santo que quer dizer algo aos presentes. Também reforçam a experiência visual, por exemplo, ao brincar com as luzes. Algo de grande está a acontecer, porque Cristo está presente no meio de todos, e eles querem transmitir isto através dos sentidos. 

"Estamos à procura de uma experiência integral de encontro com o Senhor que abrace o corpo e a alma na sua totalidade".Bernabé, um padre recentemente ordenado, conta-nos. Não é apenas um momento de oração, mas há um momento inicial de animação e também uma parte de testemunho.

Uma maneira em crescendo

A estrada é em crescendotodos os passos nos aproximam do momento de estar diante de Jesus Cristo na Eucaristia, que é o culminar do AdoraçãoQuerem enfatizar esse estilo de culto. Querem enfatizar este estilo de culto que está a ter lugar em Lifeteen nos Estados Unidos e que está a produzir tantos frutos em termos de conversões e vocações entre adolescentes e jovens. "Queríamos fazer este tipo de culto com um estilo mais sóbrio, mais ocidental, que não estivesse tanto no lugar. Existe a Renovação Carismática, mas tem um carácter mais latino. O desejo subjacente é aprender a rezar com o corpo: alguns momentos em que rezamos de pé, somos convidados a abrir as nossas mãos, ajoelhados, sentados. 

O objectivo é gerar uma certa continuidade: "Tentaremos fazê-lo numa base mensal ou bimensal".. Joaquín, o pároco, e Bernabé, o seu vigário, confessam com entusiasmo: "Queremos que seja o apostolado da juventude da nossa paróquia, para que as pessoas possam vir e desfrutar do que estamos a viver aqui, a família, o lar que estamos a criar em torno do Senhor nesta comunidade".. O grupo que organiza e prepara estes cultos faz parte do grupo de jovens estudantes universitários e profissionais. Há muito trabalho de fundo para que tudo corra bem, como uma equipa acolhedora que recebe todos aqueles que chegam e os acomoda. Até fazem pulseiras para eles. "É uma experiência global de encontro com Jesus Cristo e não uma mera adoração ou hora santa"..

Uma "mais-valia" para os jovens

Um dos jovens que cuida de todos os detalhes com cuidado e afecto é Carlos García Taracena, de 29 anos. Ele reconhece que estamos habituados ao silêncio total e a uma sobriedade de forma, algo que ajuda tantas pessoas. Ele pensa que esta iniciativa da Adoração dá aos jovens um valor acrescentado: "trouxe-nos a um Deus vivo que nos permite expressar o nosso amor corporal por Ele".. Lembre-se que vimos de algo menos sensorial e isto pode vir como uma surpresa. Mas para Carlos, a experiência de tantos jovens confirma que aqueles que rezaram desta forma sentiram a pessoa ao seu lado como uma irmã. "Sente-se Cristo mais vivo quando se reza como uma família".confessa. A tarefa do seu grupo é assegurar que este momento seja um encontro autêntico com Deus para os jovens que o frequentam: "Acompanhamos com música bonita, mas não trabalhada pelas horas de ensaio, mas rezando juntos enquanto cantamos".. Essa é a chave: Adoração não é um espectáculo musical mas um momento privilegiado de encontro com Jesus Cristo.

Vaticano

Papa Francisco: "O Evangelho pede-nos que olhemos para nós próprios e para a realidade".

O Papa Francisco lembrou-nos, depois de rezar o Angelus na Praça de São Pedro, que "com Deus há sempre esperança de novos rebentos, mesmo nos terrenos mais áridos".

David Fernández Alonso-13 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

O Papa Francisco rezou o Angelus da janela do Palácio Apostólico, e dirigiu algumas palavras aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro: "Através das duas parábolas que nos foram apresentadas no Evangelho deste domingo", começou o Santo Padre, "voltamos à época litúrgica 'ordinária'". As parábolas são inspiradas precisamente pela vida comum, e revelam o olhar atento e profundo de Jesus, que observa a realidade e, através de pequenas imagens quotidianas, abre janelas para o mistério de Deus e da história humana. Desta forma, ensina-nos que mesmo as coisas da vida quotidiana, aquelas que por vezes parecem todas iguais e que continuamos distraídos ou cansados, são habitadas pela presença oculta de Deus. Portanto, precisamos de olhos atentos para saber como "procurar e encontrar Deus em todas as coisas", como Santo Inácio de Loyola gostava de dizer".

A reflexão sobre o Reino de Deus estava no coração das palavras de Francisco: "Hoje Jesus compara o Reino de Deus, a sua presença que habita no coração das coisas e do mundo, a uma semente de mostarda, a mais pequena semente que existe. No entanto, atirada para a terra, cresce na maior árvore (cfr. Mc 4,31-32). Isto é o que Deus faz. Por vezes a azáfama do mundo e as muitas actividades que enchem os nossos dias impedem-nos de parar e ver como o Senhor está a liderar a história. E no entanto - o Evangelho assegura-nos - Deus está a trabalhar, como uma pequena semente boa que germina silenciosa e lentamente. E, pouco a pouco, vai-se transformando numa árvore frondosa que dá vida e cura a todos. Mesmo a semente das nossas boas acções pode parecer pequena; mas tudo o que é bom pertence a Deus e por isso, humilde e lentamente, dá frutos. Recordemos que o bem cresce sempre de uma forma humilde, escondida e muitas vezes invisível.

"Caros irmãos e irmãs, com esta parábola Jesus quer dar-nos confiança. De facto, em muitas situações da vida pode acontecer que nos desanimemos quando vemos a fraqueza do bem face à aparente força do mal. E podemos deixar que o desânimo nos paralise quando nos apercebemos de que tentámos arduamente mas não obtivemos resultados e as coisas nunca parecem mudar. O Evangelho pede-nos para olharmos de novo para nós próprios e para a realidade; pede-nos para termos grandes olhos que saibam ver para além, especialmente para além das aparências, para descobrir a presença de Deus que, como humilde amor, está sempre a trabalhar no campo da nossa vida e no campo da história.

"E esta é a nossa confiança", disse o Papa, "é isto que nos dá força para avançar todos os dias com paciência, semeando o bem que dará frutos. Como esta atitude é importante para sairmos bem da pandemia! Cultivar a confiança de estar nas mãos de Deus e, ao mesmo tempo, esforçar-se por reconstruir e recomeçar, com paciência e constância".

Antes de concluir, recordou que "as ervas daninhas do desânimo também podem criar raízes na Igreja, especialmente quando testemunhamos a crise de fé e o fracasso de vários projectos e iniciativas. Mas nunca esqueçamos que os resultados da sementeira não dependem das nossas capacidades: eles dependem da acção de Deus. Cabe-nos a nós semear com amor, esforço e paciência. Mas o poder da semente é divino. Jesus explica-o na outra parábola de hoje: o agricultor semeia a semente e depois não sabe como ela produz fruto, porque é a própria semente que cresce espontaneamente, durante o dia, à noite, quando menos espera (cf. vv. 26-29). Com Deus há sempre esperança de novos rebentos, mesmo no solo mais árido".

Ecologia integral

"Não é alarmista falar sobre a gravidade da crise ecológica".

Joshtrom Issac Kureethadam, director do Gabinete de Ecologia e Criação do Vaticano, Dicastery for the Service of Integral Human Development, disse à Omnes. "A sociedade civil e os governos de todo o mundo reconheceram a gravidade da crise ecológica", diz ele.

Rafael Mineiro-13 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 5 acta

"Laudato Si" tem sido uma espécie de divisor de águas não só para a Igreja mas para o mundo inteiro. A influência que tem tido na Igreja Católica é evidente nas muitas iniciativas que surgiram em muitas comunidades locais na área dos cuidados com a criação", diz el P. Joshtrom Issac Kureethadam, director do Gabinete de Ecologia e Criação do Dicastério do Vaticano para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, numa entrevista que será publicada na íntegra na revista Omnes em Julho.

"A Semana "Laudato Si" deste ano mostrou de certa forma como a Encíclica entrou na corrente dominante das nossas comunidades católicas em todo o mundo. A participação foi colossal para os eventos plenários online todos os dias e houve centenas e centenas de eventos locais em todo o mundo durante a Semana de Laudato Si'", acrescenta Joshtrom Kureethadam, um religioso salesiano.

Na sua opinião, "Laudato Si" é importante especialmente pelo seu enfoque na ecologia integral. Não é apenas um texto ambiental, mas também uma encíclica social", diz o director do Gabinete de Ecologia e Criação do Vaticano, que também refuta acusações de alarmismo: "A sociedade civil e os governos de todo o mundo reconheceram a gravidade da crise ecológica".

"Infelizmente", acrescenta, "há quem veja as alterações climáticas como uma 'conspiração' ou pense que é alarmista falar sobre a crise da nossa casa comum. Esta é uma situação muito infeliz". "A ciência climática cresceu significativamente nas últimas décadas e existe um consenso unânime na comunidade científica de que a actual crise ecológica no caso de crises climáticas e de biodiversidade se deve às actividades humanas". O Pe. Kurethaadam diz que "o Papa Francisco foi assistido pelos melhores cientistas do mundo, incluindo membros da Academia Pontifícia das Ciências do Vaticano".

Beleza da Criação

No início da celebração dos 10 dias da Semana "Laudato Si" (16-25 de Maio), os católicos recordaram a beleza da criação de Deus, mas também os perigos enfrentados pelas pessoas em todo o mundo ao tomarem medidas para a nossa casa comum, recordou Tomás Insua, director executivo do Movimento Católico Global pelo Clima, que resumiu a Semana nestes 60 segundos 

Foi descoberta uma nova espécie de coruja dos berrões nas profundezas da floresta tropical amazónica no Brasil. A espécie foi nomeada Megascops stangaie em honra de Notre Dame de Namur nun Dorothy Stang, que foi assassinada no Brasil em 2005 quando trabalhava para a Amazónia e o seu povo, relata Insua.

"Este movimento alegra-se com a descoberta de uma nova espécie, mas juntamo-nos às Irmãs de Notre Dame de Namur e a todas as pessoas de fé no luto pela morte da Irmã Dorothy Stang e de todos os defensores do ambiente em todo o mundo".

Top 5 da Semana "Laudato Si

Para saber mais sobre o que aconteceu durante a Semana de Laudato Si', aqui estão cinco destaques dos dias. Inspirados pelo slogan, "porque sabemos que as coisas podem mudar", milhares de católicos trabalharam nestes dias "com esperança e uma crença fervorosa de que juntos podemos criar um futuro melhor para todos os membros da criação", diz o Global Catholic Climate Movement. Aqui estão os destaques destes dias:

1. A liderança do Papa Franciscoque mais uma vez lideraram o caminho, inspirando e encorajando os católicos a participar na celebração. Meses antes do evento, o Papa encorajou os 1,3 mil milhões de católicos do mundo a participar através de um convite especial em vídeo. Ele repetiu o seu convite durante 16 de MaioO Papa agradeceu então aos milhões de pessoas pela sua participação no Ano Especial do Aniversário de Laudato Si', e expressou os seus melhores votos àqueles que participaram na celebração, tweetando cerca de #SemanaLaudatoSi. Laudato Si' Animadores laudatosianimators.org/pt/homee-pt/

2. Os católicos e as suas instituições tomam medidas. A nível local, foram registados cerca de 200 eventos em LaudatoSiWeek.org/pt a nível mundial, um crescimento de mais de 200 % em comparação com Laudato Si' Semana 2020. Aqui estão alguns exemplos de como os católicos inspiraram as suas comunidades:

– En Trindade e TobagoNo meio de um aumento de casos locais de Covid-19, os católicos serviram de luz e esperança para todos os povos das Caraíbas, unindo-os virtualmente para a oração, reflexão e diálogo.

- Os católicos de Fiji encenaram um Desafio 'Daily Laudato Si'. que incluía a plantação de árvores de fruto e flores de folhosas para ajudar à sua segurança alimentar e reduzir a quantidade de carbono na atmosfera.

- No Quénia, Bangladesh, Índia, Brasil, Austrália, Estados Unidos, México, Timor Leste, Vietname e outros países, os católicos reuniram-se online e pessoalmente para partilhar a forma como vivem Laudato Si' e para se inspirarem mutuamente a fazer mais pela criação.

- Na Coreia do Sul e nas Filipinas, actividades de uma semana levaram os católicos a celebrar as missas de Laudato Si', promovendo projectos de justiça climática e participando em demonstrações climáticas.

Católicos na América Latina organizou webinars que centraram a atenção de toda a região na deslocação interna, na situação dos agricultores durante a crise climática e no Acordo de Escazú, o primeiro tratado internacional sobre o ambiente da região.

- Em Itália, os animadores graduados Laudato Si' organizaram cerca de 700 projectos, incluindo tempo para oração e imersão na criação.

3. Laudato Si' Dialogues. O Encontro de Oração de Pentecostes/Missionário, liderado pelo Cardeal Luis Antonio Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, teve lugar a 23 de Maio em todo o mundo e foi seguido por dezenas de milhares de pessoas no YouTube e no Facebook. Ao longo da semana, enquanto os católicos organizavam eventos a nível local, os Diálogos de Laudato Si' desafiaram todos a examinar como podemos fazer mais pela nossa casa comum.

4. Desinvestimento de combustíveis fósseis. Durante a Semana de Laudato Si' 2021, dezenas de instituições em 12 países comprometeram-se a desinvestir dos combustíveis fósseis. No ano passado, por ocasião do quinto aniversário do "Laudato Si", o Vaticano emitiu directrizes ambientais que enquadram o investimento em combustíveis fósseis como uma escolha ética, a par de outras escolhas éticas importantes. Joshtrom Issac Kureethadam disse que o desinvestimento é um imperativo físico, moral e teológico. Por outro lado, o Cardeal Jean-Claude Hollerich, Arcebispo da Diocese do Luxemburgo e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados da UE (COMECE), salientou que as instituições que optam por não despojar correm o risco de tornar o seu outro trabalho oco.

5. Plataforma de Acção "Laudato Si. Em 25 de Maio, o Vaticano lançou oficialmente o Plataforma de Acção "Laudato Si", que dará poder às instituições, comunidades e famílias católicas para implementar o "Laudato Si". A iniciativa do Papa convida toda a Igreja Católica a alcançar a plena sustentabilidade ao longo dos próximos sete anos, tal como relatado pela Omnes.

Cultura

Promoção de uma universidade pró-vida e livre no século XXI

A Universidade Internacional Livre das Américas (ULIA) foi fundada em 2001 em San José (Costa Rica), com uma ideologia em defesa da dignidade de cada vida humana, e um compromisso com a educação gratuita. A Universidade oferece cursos regulamentados, e a plataforma LDVM, seminários gratuitos a milhares de pessoas. Tudo online.

Rafael Mineiro-12 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 7 acta

Pode haver uma educação com uma ideologia baseada na excelência científica em defesa da vida humana, e uma filosofia de verdadeira gratuidade, que é oferecida à distância através da Internet, e que oferece centenas de milhares de meditações e conversas em vídeo numa plataforma gratuita, disponível para instituições educativas, paróquias ou famílias?

Estamos a sonhar? Não. É real. No século XXI, este centro académico, que é provavelmente o primeiro e talvez o único no mundo, existe, e baseia-se na tradição anglo-saxónica dos seus próprios diplomas. Todos os seus estudos são oferecidos à distância através da Internet e os seus diplomas não são endossados por nenhum Estado, nem aspiram a sê-lo.

Este é o Universidade Internacional Livre das Américas (ULIA), fundada em 2001 em San José (Costa Rica) por um grupo de pessoas que, após uma série de encontros em universidades de Verão, expressaram a sua preocupação "em criar uma universidade de Inverno, por assim dizer, uma universidade de curso completo, que adoptaria uma ideologia em defesa da dignidade da vida humana e da filosofia da gratuidade", explica José Pérez Adán, Professor de Sociologia, Reitor da ULIA, e autor de numerosas publicações, algumas das quais estão prestes a ser lançadas nestes dias sob o título "Economia e Saúde Social". Além do capitalismo", em que participam autores de seis países. A ULIA já formou cerca de 1.750 pessoas desde a sua fundação.

Um dom da educação

Omnes falou com o Reitor, José Pérez AdánAntes de entrarmos em questões práticas, abordamos as ideias fundadoras: "A ideologia pró-vida estava nas nossas intenções, de ter entre os programas e graus que eram ensinados, estudos que de alguma forma tinham a ver com a defesa da vida. De facto, um dos nossos programas mais antigos é o diploma em bioética e, por outro lado, existe o mestrado (mestrado), desenvolvimento. Ambos estão intimamente relacionados e isso é algo muito peculiar a esta universidade", diz o professor.

Por outro lado, "todos nós que trabalhamos na ULIA o fazemos pro bono, ou seja, gratuitamente, e pensamos que esta é a melhor forma de dar força à ideia inicial que tínhamos, o compromisso com a defesa da vida, também porque pensamos (todos nós trabalhamos mais ou menos na educação), que o futuro da educação é uma educação sem fronteiras, e na medida do possível, uma educação que é fundamentalmente um dom", salienta.

ULIA, tradição anglo-saxónica

Alguns interrogam-se como é possível que os graus ULIA não sejam oficialmente reconhecidos, e este é outro motivo de reflexão. "Isto não é assim tão raro", diz o professor. "Nos países latinos, uma grande parte do sistema administrativo é napoleónico, como dizem alguns juristas. No sentido de que se pensa que o Estado deve garantir certas áreas de empreendedorismo, incluindo a educação.

"Este não é o caso nos países anglo-saxónicos. Neste sentido, a ULIA é como Harvard, os diplomas que emitimos são os nossos próprios diplomas, não são garantidos por nenhum Estado. Em Espanha e em muitos outros países, quando recebe o seu diploma universitário, diz no diploma: o Chefe de Estado ou a mais alta autoridade do país, e em seu nome o Ministério, concede-lhe o título de doutor em psicologia. Isto é impensável na tradição anglo-saxónica.

O Reitor expande aqui a noção de dom, que permeia o carácter da ULIA, e que lhe dá "um sentido de comunidade". "O objectivo das pessoas que vêm à ULIA é a busca do conhecimento. Chega-se a esta universidade (em rede) para aprender, para se iluminar a si próprio. E também para iniciar ou continuar uma cadeia de ofertas. Porque o que faz esta Universidade continuar ao longo do tempo é que o que recebe de graça, sente-se motivado a dar de graça. É por isso que muitos dos tutores e muitos dos professores da Universidade foram anteriormente seus alunos. Isso é muito agradável de ver. Poderíamos dizer que isto gera uma comunidade, não só no sentido sincrónico, mas também genuinamente no sentido diacrónico, ela torna-se uma comunidade através do tempo. Recebo um presente e dou-o a outra pessoa mais tarde. Isto assegura a sobrevivência da comunidade. Isto é o que acontece, por exemplo, na família.

Liberdade e globalização

O tema da liberdade não podia ser deixado de fora da conversa. Ainda mais quando a universidade se autodenomina "livre". O que quer dizer quando diz "Universidade Livre"? O Reitor responde: "Sim, assumimos que a liberdade é um valor humano muito importante, mas também queremos dizer que está livre da interferência dos poderes governamentais. A liberdade na universidade é fundamental. É essencial que as universidades sejam livres, e não é a norma.

Na maioria dos países, grande parte do sistema universitário está dependente de organismos governamentais, diz José Pèrez Adán. Mas na sua opinião, "o futuro não aponta nessa direcção". O futuro indica que as empresas governamentais estão cada vez menos presentes na educação. Tal como estão cada vez menos presentes agora, por exemplo, no serviço postal. Os governos estão cada vez menos presentes no serviço postal. O mesmo acontecerá na educação, à medida que a sociedade civil amadurece, torna-se mais responsável, e assume a tarefa de educar as gerações futuras, na mesma medida em que os governos verão que a sua tarefa ali poderá não fazer tanto sentido como outrora fez, e concentrar-se-ão noutras coisas.

Poder-se-ia dizer que a ULIA é a única universidade no mundo baseada no voluntariado? É verdade", diz o Reitor, mas "no início muitas pessoas não compreenderam isto. Era único, e também raro, impensável. Hoje, no entanto, não o é. Encontramo-nos num mundo muito mais globalizado do que no início do nosso século. E esta globalização está também a bater às portas da educação. O futuro da educação é um futuro em que as fronteiras contarão cada vez menos. Há, por exemplo, a ascensão da educação familiar, ensino em casae outras que vão ser realizadas em todo o mundo, também a nível universitário. Posso acrescentar que a ULIA é uma universidade não denominacional. Embora a maioria de nós que iniciou esta universidade tenha um compromisso cristão, católico e estilo de vida, tivemos pessoas que colaboraram connosco de outras denominações cristãs.

Universidade e política: diferentes esferas

Outra questão de interesse é se cabe à ciência fazer a proposta política. "Este é um debate antigo. O que nós cientistas pretendemos fazer é compreender, compreender, e como consequência, iluminar, ensinar. O empenho dos políticos na gestão acrescenta uma característica diferente ao trabalho universitário. Na realidade, muitas universidades ensinam agora gestão, governação, por exemplo. E na ULIA temos também um diploma sobre gestão de organizações sem fins lucrativos. Mas de um ponto de vista científico, o que é realmente importante é a tarefa de compreensão, de compreensão e depois de esclarecimento", diz José Pérez Adán.

Cursos regulamentados

Finalmente, voltamo-nos para a prática. "A nossa abordagem é humilde", diz o Reitor, antes de dar algumas informações sobre os cursos oficiais da Universidade e os seminários da LDVM. Entre os primeiros encontram-se o curso especializado em comunicação católica, ou os diplomas em educação religiosa escolar, em bioética, em educação nas virtudes através do cinema, etc.

"Os cursos da ULIA são datados. São cursos regulamentados e é atribuído um Diploma no final. Todos começam a 1 de Janeiro de cada ano, excepto os cursos bianuais, que são realizados de dois em dois anos, que são os mestrados ou mestrados. As inscrições abriram a 25 de Maio. As pessoas podem candidatar-se ao que quiserem a partir da oferta de formação. No entanto, aqueles que desejem frequentar um curso devem preencher os formulários do processo de inscrição no sítio web ulia.org. São estudados, respondidos, e pedimos que seja feita uma pequena doação para o apoio informático do curso", diz o Reitor.

As admissões são encerradas em Outubro-Novembro, quando o grupo para cada curso estiver lotado. A ULIA informa que tenta fechar os cursos a 20 estudantes por programa, embora por vezes haja excepções. Por exemplo, uma escola no Paraguai solicitou que todo o pessoal docente fizesse o curso de educação religiosa escolar, e houve 102 matrículas.

Seminários LDVM

Embora a ULIA tenha nascido primeiro, mais tarde, a fim de lhe dar uma sede legal mais estável, a Fundação Interamericana de Ciência e Vidaregistada na Comunidade Valenciana. Um dos projectos da Fundação, o primeiro, foi a Universidade, e depois veio Catholic Voices España, que fundámos aqui em Valência, por iniciativa de Vozes Católicas Inglaterraque são os primeiros. Jack Valero esteve aqui em Valência, tal como Austen Ivereigh, co-fundador.

Como foi o lançamento da plataforma LDVM? O Professor José Perez Adán oferece duas perspectivas sobre a intra-história: "Uma vez que os primeiros dois ou três programas de Vozes Católicas foram feitos na ULIA, a necessidade surgiu ali mesmo. Tínhamos muito material para fornecer a todas as pessoas que fazem o nosso programa, e aos ex-alunos da ULIA que têm a ver com espiritualidade. Vamos também criar uma plataforma, LDVM, dentro da Fundação, para cobrir o espectro que a ULIA não tem, porque a ULIA não é confessional, mas a LDVM é. Assim, criámos a LDVM, que tem o seu próprio voo.

O Seminários LDVM Eles não têm datas, estão sempre disponíveis para quem pergunta, diz José Pérez Adán. "Qualquer um dos seminários LDVM já está registado. Qualquer pessoa que queira assistir envia o pedido, e nós damos-lhe a palavra-chave. O acesso é imediato. Não há qualquer tipo de troca. Basta enviar um e-mail para [email protected] ou para [email protected]  As chaves são alteradas periodicamente.

A LDVM tem actualmente 35 padres a carregar as suas palestras e um quarto de milhão de meditações disponíveis. Há um padre australiano que tem 500 downloads em 24 horas, diz José Pérez Adán. A pessoa que tem mais meditações em ivoox.com/podcast-podcast-podcast-podcast-podcast-podcast-podcast-podcast-podcast-podcast-meditations-father-ricardo-sada_sq_f1476531_1.html é o padre mexicano, padre Ricardo Sada.

Congresso sobre transhumanismo

A reunião anual é normalmente realizada pessoalmente, diz o Reitor. Com a pandemia, a Congresso 2021 terá lugar online, de 29 a 31 de Julho, e incidirá sobre os seguintes tópicos A dignidade humana face ao desafio do transhumanismo. Uma reflexão multidisciplinarorganizado pela ULIA, o Centro de Estudios e Investigaciones de Bioética (CEIB), (ceibmx.com/), com sede no México, e a Escola de Filosofia do CIEM. "Íamos fazê-lo em Guadalajara (México), pessoalmente, mas no final estará online. Vamos ver se o evento do próximo ano, em 2022, pode ser realizado pessoalmente; seria em Porto Rico", conclui José Pérez Adán.

Espanha

Ángel Lasheras, novo Reitor do Santuário de Torreciudad

Este sacerdote da Corunha sucede a Pedro Díez-Antoñanzas, que aderiu em Outubro de 2016 e continuará os seus deveres pastorais em Saragoça.

Maria José Atienza-12 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto

O novo Reitor do Santuário de TorreciudadÁngel Lasheras é licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Santiago de Compostela e doutorado em Filosofia Eclesiástica pela Universidade da Santa Cruz em Roma, com uma tese sobre a Metafísica da Beleza em São Tomás de Aquino.

Depois de se formar em Medicina em 1978, viveu em diferentes cidades da Galiza - Santiago de Compostela, Vigo, Ferrol - até 1991, quando se mudou para viver e estudar em Roma, onde permaneceu até Janeiro de 1998.

Lasheras foi ordenado diácono em Torreciudad no Verão de 1997, e recebeu a ordenação sacerdotal de D. Javier Echevarría, bispo e prelado do Opus Dei, a 21 de Setembro de 1997.

Desempenhou o seu ministério sacerdotal como Vigário das delegações de Valladolid e da Galiza da Opus Deide 1999 a 2019.

Em Agosto de 2019 mudou-se para viver em Madrid, onde realizou o seu trabalho pastoral nos Centros da Prelatura e no trabalho da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz.

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Vaticano

A Santa Sé actualiza a governação das associações internacionais de fiéis

Com este decreto, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida regula a duração e o número de mandatos dos órgãos directivos, bem como a representatividade dos órgãos directivos. 

Maria José Atienza-11 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

O decreto do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, publicado hoje, regula a duração e o número de mandatos dos cargos dirigentes, bem como a representatividade dos órgãos dirigentes, "a fim de promover uma rotação saudável e evitar dotações".

Este decreto, que se aplicará às associações internacionais de fiéis reconhecidos ou erigidos pela Sé Apostólica e sujeitos à supervisão directa do Dicastério, nasceu da observação de "práticas muito diversificadas na gestão das responsabilidades de liderança", como se observa na nota explicativa que o acompanha, e esta "experiência deu lugar a um estudo e a um discernimento visando a correcta condução da governação no seio destas agregações".

O Decreto regulamenta duas áreas principais: a regulamentação dos mandatos dos órgãos directivos a nível internacional e a representatividade destes últimos. Como a nota salienta, "o Decreto Geral hoje promulgado - que tem a aprovação específica do Sumo Pontífice - regula estes mandatos em termos da sua duração e número e, para as associações, a participação dos membros na constituição dos órgãos centrais de governo".

Pontos-chave do Decreto

com referência a associações internacionais de fiéis reconhecidas ou erigidas pela Sé Apostólica e sujeitas à supervisão directa do Dicastério, o seguinte

1. os mandatos no órgão de direcção central a nível internacional podem ter uma duração máxima de cinco anos cada.

Art. 2 § 1 - A mesma pessoa pode exercer funções no órgão de direcção central a nível internacional por um período máximo de dez anos consecutivos.

Art. 2 § 2. - Após o limite máximo de dez anos, a reeleição só é possível após uma vaga de um mandato.

Art. 2 § 3. - A disposição no artigo 2 § 2 não se aplica a um moderador eleito, que pode exercer esta função independentemente do número de anos passados noutro cargo no órgão dirigente central a nível internacional.

Art. 2 § 4 - Uma pessoa que tenha ocupado o cargo de moderador durante um máximo de dez anos não pode voltar a ocupar este cargo; no entanto, só pode ocupar outros cargos no órgão de direcção central a nível internacional após uma vaga de dois mandatos nestes cargos.

Art. 3 - Todos os membros iure total têm uma voz activa, directa ou indirectamente, na constituição dos órgãos que elegem o órgão de governo central a nível internacional.

Art. 4 § 1 - As associações em que, no momento da entrada em vigor do presente Decreto, os cargos no órgão de direcção central a nível internacional sejam ocupados por membros que tenham ultrapassado os limites estabelecidos nos Artigos 1 e 2, devem prever novas eleições num prazo máximo de 24 meses a partir da entrada em vigor do presente Decreto.

Art. 4 § 2. - As associações em que, aquando da entrada em vigor do presente Decreto, os cargos no órgão de direcção central a nível internacional sejam ocupados por membros que excedam, durante o actual mandato, os limites estabelecidos nos artigos 1 e 2, devem prever novas eleições no prazo máximo de vinte e quatro meses a contar da consecução do limite máximo imposto pelo presente Decreto.

Art. 5 - Os fundadores podem ser dispensados das normas dos artigos 1, 2 e 4 pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

Art. 6 - As presentes disposições não se referem aos cargos governamentais que estão ligados à aplicação das normas próprias das associações clericais, institutos de vida consagrada ou sociedades de vida apostólica.

Art. 7 - Este Decreto aplica-se, com excepção da norma do Artigo 3, também a outras entidades não reconhecidas ou estabelecidas como associações internacionais de fiéis, às quais tenha sido concedida personalidade jurídica e que estejam sujeitas à supervisão directa do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

Art. 8 - Desde a entrada em vigor do presente Decreto e até à aprovação de possíveis modificações dos estatutos pelo Dicastério dos Leigos, da Família e da Vida, o presente decreto revoga qualquer norma contrária ao mesmo que possa ser prevista nos estatutos das associações.

Art. 9 - O presente Decreto será promulgado mediante publicação no Jornal Oficial da L'Osservatore Romanoentra em vigor três meses após o dia da sua publicação. O decreto será também publicado no comentário oficial do Acta Apostolicae Sedis.

O Sumo Pontífice Francisco, na Audiência concedida a 2 de Junho de 2021 ao abaixo assinado, Cardeal Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, aprovou especificamente o presente Decreto Geral, que tem força de lei, juntamente com a Nota Explicativa que o acompanha.

Dado em Roma, no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, 3 de Junho de 2021, Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

Cartão. Kevin Farrell
Prefeito

P. Alexandre Awi Mello, I.Sch.
Secretário

Vaticano

Monsenhor Lazarus You Heung-sik nomeado Prefeito da Congregação para o Clero

Sucede ao Cardeal Beniamino Stella, que permanecerá à frente da Congregação até à tomada de posse do novo Prefeito.

Maria José Atienza-11 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto

Lazarus You Heung-sik, o actual Bispo de Daejeon, como Prefeito da Congregação para o Clero.

Natural de Nonsan-gun Chungnam, Monsenhor Lazarus You Heung-sik, 69 anos, sucede ao Cardeal Beniamino Stella, Prefeito desde 2013 e que permanecerá à frente da Congregação até à tomada de posse do novo Prefeito.

Lazarus You Heung-sik tornar-se-á arcebispo emérito da diocese coreana de Daejeon, onde é arcebispo titular desde 2005.

A família, o lugar de partida, o lugar para onde regressa

Voltemos, então, não só ao lugar de onde somos, mas ao lugar "que somos", à família divina e humana da qual fazemos parte, e façamo-lo com todas as suas consequências.

11 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

O lugar para onde se regressa. É assim que o filósofo Rafael Alvira define a família. Este é o título de um livro de reflexões que, apesar de ter alguns anos, continua a ser um ponto de referência para compreender o que se passa hoje com a instituição familiar e, acima de tudo, como recuperar o seu valor.

Voltamos à família, mais cedo ou mais tarde. Mais ou menos conscientemente, mas nós regressamos. Somos filhos do sangue que corre através das nossas veias. Apesar de toda a loucura genética que hoje vemos, nunca será possível esvaziarmo-nos da nossa genética e substituí-la por outra: a limitação de sermos criaturas, o fruto do "trabalho dos outros" é o que nos torna ser nós. É por isso que, quando falamos da família de todos os cristãos, dos filhos de Deus, não estamos a teorizar um nível de coexistência mais ou menos amigável, mas sim o mesmo sangue, a mesma carne, assim mesmo, sem ar quente.

Regressamos à família, com o nosso corpo e a nossa alma. Vemo-lo sempre naqueles idosos que se lembram mais claramente da infância do que na véspera. O regresso à família (se estamos a falar de uma família enraizada no amor e no respeito) não é outra coisa senão a resposta natural de cada pessoa ao ambiente em que é amada pelo que é, e não pelo que tem.

As páginas de abertura do referido livro de Alvira contêm algumas breves mas profundas pinceladas sobre o infinito vital da família: "nele somos conservadores, porque queremos mantê-lo, temos uma razão para o manter; somos sociais, porque ali aprendemos a apreciar os outros; somos liberais, porque cada um adquire a sua própria personalidade nele; somos progressistas, porque é a instituição do crescimento, e onde inventamos para oferecer algo de bom aos outros".

O trabalho de todos: jovens, velhos, adolescentes ou não nascidos é, infalivelmente, jogar o seu lugar no seio da família. Pensar na família é pensar no "todo" da nossa vida. Portanto, pedir a um pai, uma mãe ou uma criança para escolher entre "trabalho ou família" é um ataque directo ao direito básico de cada pessoa. Além disso, tal escolha não existe: uma não pode ser colocada ao mesmo nível que a outra.

O Ano da Família é todos os anos, mesmo que, em particular, estejamos no Ano da Família deste ano. Amoris laetitia AnoA família, por exemplo, faz parte de uma reflexão global sobre a família e, em particular, sobre a família cristã.

Este é também um momento para reflectir sobre como valorizamos e respeitamos a família do meu vizinho, a dos meus subordinados ou colegas....

Mª José Atienza

Certamente, nunca dói reflectir sobre a família. Sozinhos, sim. Considerar a forma como cuidamos, valorizamos e respeitamos cada um dos seus membros. Este é também um ano para pensar sobre a família dos outros. Um tempo para reflectir sobre como valorizamos e respeitamos a família do meu próximo, a dos meus subordinados ou colegas... porque talvez, arrastados por este mundo hedonista e utilitário, podemos tornar-nos naqueles que, longe de facilitar e proclamar a alegria do amor e da família, vêm pedir aos que nos rodeiam para escolher entre o trabalho, o sustento, a projecção, o lazer... e a família.

Portanto, regressemos não só ao lugar onde estamos, mas ao lugar "que somos", à família divina e humana da qual fazemos parte, e façamo-lo com todas as suas consequências. Temos um ano, ou dois, ou melhor, uma vida inteira.

O autorMaria José Atienza

Diretora da Omnes. Licenciada em Comunicação, com mais de 15 anos de experiência em comunicação eclesial. Colaborou em meios como o COPE e a RNE.

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Vaticano

Papa pede a Marx para continuar arcebispo de Munique

Francisco não aceita a demissão do Cardeal Marx para continuar como Arcebispo de Município-Friesingen, e afirma que, como ele pede, "é urgente 'ventilar' esta realidade de abusos e a forma como a Igreja procedeu".

David Fernández Alonso-10 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 5 acta

A recente demissão do Cardeal Marx apresentada ao Papa Francisco, que relatámos em Omnes e que podeis ler aqui aquiA carta, na qual o cardeal expressou o seu desejo de se demitir como chefe da diocese de Munique e Friesland devido ao escândalo do abuso de crianças na Alemanha, num gesto de denúncia para que a Igreja assumisse a responsabilidade, deu origem a abundantes especulações sobre a situação. Agora vem a resposta do Santo Padre numa carta publicada hoje, 10 de Junho de 2021.

O Cardeal Marx tem sido sempre uma força motriz na luta contra o abuso, como é demonstrado pelo seu interesse em criar uma fundação em Munique para este fim. Como presidente da Conferência Episcopal, foi também a força motriz por detrás da abordagem sinodal para enfrentar a falta de credibilidade da Igreja alemã em resultado destes escândalos.

A sua relação com o Papa Francisco é evidente, como evidenciado pelo facto de o Santo Padre o ter chamado a juntar-se ao Concílio de Cardeais, que procura assistir o Pontífice no governo da Igreja e na reforma da Cúria Romana, o Papa Francisco também o nomeou Presidente do Concílio para a Economia.

Reinhard Marx foi nomeado Arcebispo de Município-Friesingen a 30 de Novembro de 2007, e cardeal desde 2010, criado pelo Papa Bento XVI a 20 de Novembro de 2010. Recebeu o título de Cardeal Presbítero de S. Corbinianus. Nessa altura, era o membro mais jovem do Colégio dos Cardeais. Em 2020, anunciou a sua decisão de não renovar o seu mandato como chefe da Conferência Episcopal.

Reproduzimos abaixo a carta completa do Papa Francisco:

Caro irmão,

            Antes de mais nada, obrigado pela vossa coragem. É uma coragem cristã que não tem medo da cruz, não tem medo de ser humilhada perante a tremenda realidade do pecado. Foi isto que o Senhor fez (Fil 2. 5-8). É uma graça que o Senhor vos deu e vejo que quereis levantá-lo e guardá-lo para que dê fruto. Obrigado.

Diz-me que está a atravessar uma época de crise, e não só você, mas também a Igreja na Alemanha está a atravessar uma crise. Toda a Igreja está em crise por causa do caso de abuso; além disso, a Igreja hoje não pode dar um passo em frente sem assumir esta crise. A política da avestruz não leva a lado nenhum, e a crise tem de ser assumida na nossa fé pascal. Os sociologismos e psicologismos são inúteis. Assumir a crise, pessoal e comunitariamente, é o único caminho frutuoso porque não se sai de uma crise sozinho, mas em comunidade, e devemos também ter em mente que se sai de uma crise melhor ou pior, mas nunca o mesmo.1.

Diz-me que desde o ano passado tem estado a reflectir: partiu numa viagem, procurando a vontade de Deus com a decisão de a aceitar, seja ela qual for.

Concordo consigo ao descrever a triste história do abuso sexual e a forma como a Igreja lidou com ele até há pouco tempo como uma catástrofe. Perceber esta hipocrisia na forma como vivemos a nossa fé é uma graça, é um primeiro passo que devemos dar. Temos de tomar conta da história, tanto pessoalmente como como comunidade. Não podemos ficar indiferentes a este crime. Assumi-lo é colocarmo-nos em crise.

Nem todos querem aceitar esta realidade, mas é a única forma, porque fazer "resoluções" para mudar a vida sem "pôr a carne na grelha" não leva a nada. As realidades pessoais, sociais e históricas são concretas e não devem ser assumidas com ideias; porque as ideias são discutidas (e é bom que o sejam), mas a realidade deve ser sempre assumida e discernida. É verdade que as situações históricas devem ser interpretadas com a hermenêutica da época em que ocorreram, mas isto não nos isenta de assumirmos o comando e de as assumirmos como a história do "pecado que nos rodeia". Portanto, na minha opinião, cada Bispo da Igreja deve ter isto em conta e perguntar-se o que devo fazer face a esta catástrofe?

O "mea culpa" face a tantos erros históricos do passado foi feito mais do que uma vez em muitas situações, mesmo que pessoalmente não participássemos nesse momento histórico. E é a mesma atitude que hoje nos é pedida. Pedem-nos uma reforma, que - neste caso - não consiste em palavras mas em atitudes que tenham a coragem de enfrentar a crise, de enfrentar a realidade, quaisquer que sejam as consequências. E cada reforma começa por si mesmo. A reforma na Igreja tem sido feita por homens e mulheres que não tiveram medo de entrar em crise e se deixaram reformar pelo Senhor. Este é o único caminho, caso contrário não seremos mais do que "ideólogos reformistas" que não arriscam a sua própria carne.

O Senhor nunca concordou em "reformar" (se perdoar a expressão) nem com o projecto fariseu ou saduceu ou zelota ou esseniano. Ele fê-lo com a sua vida, com a sua história, com a sua carne na cruz. E esta é a forma, a forma como tu próprio, querido irmão, estás a assumir a tua renúncia.

Diz com razão na sua carta que enterrar o passado não leva a nada. Silêncios, omissões, dar demasiado peso ao prestígio das Instituições apenas levam ao fracasso pessoal e histórico, e levam-nos a viver com o fardo de "ter esqueletos no guarda-roupa", como diz o ditado.

É urgente "ventilar" esta realidade de abusos e como a Igreja procedeu, e deixar o Espírito conduzir-nos ao deserto da desolação, à cruz e à ressurreição. É o caminho do Espírito que devemos seguir, e o ponto de partida é a humilde confissão: errámos, pecámos. Não seremos salvos por sondagens nem pelo poder das instituições. Não seremos salvos pelo prestígio da nossa Igreja, que tende a esconder os seus pecados; não seremos salvos pelo poder do dinheiro ou pela opinião dos meios de comunicação social (tantas vezes estamos demasiado dependentes deles). Seremos salvos abrindo a porta àquele que o pode fazer e confessando a nossa nudez: "pequei", "pecámos"... e chorando, e gaguejando o melhor que pudermos que "parta de mim, porque sou um pecador", o legado que o primeiro Papa deixou aos Papas e Bispos da Igreja. E então sentiremos aquela vergonha curativa que abre a porta à compaixão e ternura do Senhor que está sempre perto de nós. Como Igreja devemos pedir a graça da vergonha, e que o Senhor nos salve de sermos a prostituta sem vergonha de Ezequiel 16.

Gosto da forma como termina a sua carta: "Continuarei de bom grado a ser sacerdote e bispo desta Igreja e continuarei envolvido no trabalho pastoral enquanto o considerar sensato e oportuno. Gostaria de dedicar mais intensamente os anos futuros do meu serviço ao cuidado pastoral e de me empenhar numa renovação espiritual da Igreja, como vós incansavelmente pedis".

E esta é a minha resposta, caro irmão. Continue como propõe, mas como Arcebispo de Munchen und Freising. E se for tentado a pensar que, ao confirmar a sua missão e não aceitar a sua demissão, este Bispo de Roma (o seu irmão que o ama) não o compreende, pense no que Pedro sentiu perante o Senhor quando, à sua maneira, lhe apresentou a sua demissão: "Afasta-te de mim, pois sou um pecador", e ouça a resposta: "Pastoreia as minhas ovelhas".

Com afecto fraterno.

FRANCISCO

Notas
  1. Existe o perigo de não aceitar a crise e refugiar-se em conflitos, uma atitude que acaba por sufocar e impedir qualquer possível transformação. Porque a crise tem um germe de esperança, o conflito - pelo contrário - de desespero; a crise envolve ... o conflito - por outro lado - enreda-nos e provoca a atitude asséptica de Pilatos: "Estou inocente deste sangue. É o vosso negócio" (Mt. 27, 24) ... que nos fez e nos está a fazer tanto mal.
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O Sagrado Coração de Jesus iluminado pela lua

A lua envolve a estátua do Sagrado Coração de Jesus que pode ser vista na cidade de Wolxheim (Wolixe), França. A imagem foi tirada a 20 de Fevereiro de 2019 durante uma lua cheia. 

Maria José Atienza-10 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vaticano

Caminhos sinodais, os novos processos

Nos últimos anos, muito tem sido dito sobre este processo, que não tem uma configuração normativa, mas surge da experiência - ou dos problemas - de um determinado território nacional, por iniciativa dos bispos dessas terras.

Giovanni Tridente-10 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Há uma efervescência na Igreja em torno de um assunto que muitas vezes excita mais os "insiders" e os protagonistas do que o conjunto dos fiéis. E no entanto é um processo, se lhe quisermos chamar institucional, no final do qual surgem opiniões sobre questões relativas à vida da Igreja em geral e ao estado da evangelização em particular.

Caso não tenha sido compreendido, estamos a falar das Assembleias que são geralmente chamadas Sínodos, que se realizam em várias fases e com cadências diferentes, tanto na Igreja universal como nas Igrejas particulares.

Há os Sínodos...

Os mais conhecidos são os Sínodos dos Bispos convocados geralmente de dois em dois ou de três em três anos pelo Papa para reflectir sobre assuntos de interesse geral na Igreja (sacerdócio, catequese, vocação dos leigos, etc.), urgentes ou não, mas também sobre aspectos particulares relativos, por exemplo, a uma área geográfica ou a um território. A última, por exemplo, foi sobre a Amazónia, que gerou a Exortação Apostólica do Papa Francisco Querida Amazónia.

O Código de Direito Canónico apenas atribui o nome Sínodo a outro tipo de assembleia, que é a dos sacerdotes e outros fiéis de uma diocese que se reúnem para assistir o bispo - e a sua convocação - em assuntos que afectam aquela Igreja em particular. Não é por acaso que se chama um "Sínodo Diocesano".

... e depois os Caminhos Sinodais

Nos últimos anos e meses, tem-se falado muito de outro processo que não tem uma configuração normativa, mas que surge da experiência - ou dos problemas - de um determinado território nacional, por iniciativa dos bispos daquela terra. Pensemos, por exemplo, no "caminho sinodal" - como podemos ver, um nome diferente que não configura a instituição do próprio Sínodo - que está a ter lugar na Alemanha, e que está a gerar um debate muito forte na Igreja em geral.

Não é o lugar para entrar nas especificidades deste caminho local, e das questões que também estão a ser abordadas sem pouca controvérsia. Basta recordar o que o próprio Papa Francisco escreveu exactamente há dois anos, em 29 de Junho de 2019, num Carta ao povo de Deus em peregrinação na Alemanha.

Cuidado com a tentação

Nessa ocasião, o Pontífice convidou-nos a ter cuidado com as possíveis tentações que podem rastejar para as nossas vidas. viagem sinodalEntre eles está o de "pensar que, perante tantos problemas e deficiências, a melhor resposta seria reorganizar as coisas, fazer mudanças e especialmente 'remendos' que permitam pôr em ordem e harmonia a vida da Igreja, adaptando-a à lógica actual ou à de um determinado grupo".

O risco, por outro lado, seria encontrar "um corpo eclesial bom, bem organizado e mesmo 'modernizado', mas sem alma evangélica e novidade; estaríamos a viver um cristianismo 'gasoso' sem mordida evangélica".

Um caminho para o Jubileu de 2025

Um caminho semelhante está a ser seguido em Itália, embora as necessidades e problemas sejam diferentes dos da Alemanha. Aqui, por exemplo, não há um distanciamento excessivo dos fiéis da prática religiosa, mas sim uma certa quietude e um assentamento que também leva a uma perda de entusiasmo.

Em várias ocasiões, reunido com os bispos da Conferência Episcopal Italiana, o Papa Francisco tinha insistido nesta viagem sinodal, que retomaria as raízes históricas e culturais do país e reacenderia no povo a chama alegre de uma fé vivida ao serviço do bem comum, como o foi para tantas figuras carismáticas nas últimas décadas. Sacerdotes, leigos empenhados e políticos...

Após várias resistências, durante a última Assembleia Geral dos Bispos italianos, aberta também pela presença do Santo Padre como nos anos anteriores, foi assinada uma "carta de intenções" sobre este caminho sinodal que deverá envolver todas as dioceses nacionais durante os próximos 4 anos, até ao Jubileu de 2025.

A primeira etapa, em 2022, dirá respeito ao envolvimento do povo de Deus com momentos de escuta, investigação e propostas nas dioceses, paróquias e realidades eclesiais, "de baixo para cima", tal como o Pontífice o definiu. Depois, em 2023, será a vez do palco "da periferia para o centro", no qual haverá diálogo com todas as expressões do catolicismo italiano. Em 2024 haverá uma síntese da estrada percorrida e a entrega de orientações pastorais partilhadas, "de cima para baixo". O Jubileu deve ser a ocasião para uma verificação geral do processo.

Um tempo de renascimento

Os bispos italianos querem prever um tempo de renascimento que implicará a recuperação da leitura das Palavras, do aspecto escatológico da fé cristã, da catequese vivida como um caminho de formação permanente, de redescoberta do valor da família, da solidariedade, da caridade e do empenho civil.

A participação geral será necessária, mas a viagem acaba de começar. E muitas das perspectivas irão certamente emergir à medida que "caminhamos".

Vaticano

O Papa recorda-nos que "uma oração que é estranha à vida não é saudável".

O Papa Francisco reflectiu sobre a perseverança em oração na audiência geral na quarta-feira 9 de Junho no pátio de San Damaso.

David Fernández Alonso-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

O Papa Francisco dedicou a sua penúltima catequese sobre a oração para falar de perseverança na oração. "É um convite, na verdade um mandamento que nos vem da Sagrada Escritura. A viagem espiritual do peregrino russo começa quando se depara com uma frase de São Paulo na primeira carta aos Tessalonicenses: "Rezai constantemente. Em tudo dar graças" (5,17-18). As palavras do Apóstolo tocam este homem e ele pergunta-se como é possível rezar sem interrupção, dado que a nossa vida está fragmentada em muitos momentos diferentes, que nem sempre tornam possível a concentração. A partir deste interrogatório começa a sua busca, que o levará a descobrir a chamada oração do coração. Consiste em repetir na fé: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador! Uma oração que, pouco a pouco, se adapta ao ritmo da respiração e se estende ao longo de todo o dia. Na verdade, a respiração nunca pára, nem mesmo quando dormimos; e a oração é o sopro da vida".

"Como é possível manter sempre um estado de oração", perguntou Francisco. "O Catecismo oferece-nos belas citações, retiradas da história da espiritualidade, que insistem na necessidade de oração contínua, que é o ponto fulcral da existência cristã. Passo a citar alguns deles".

Referindo-se a São João Crisóstomo, um pastor atento à vida concreta, o Papa parafraseou as suas palavras que dizem: "É conveniente que um homem reze atentamente, quer esteja sentado no mercado ou a dar um passeio: da mesma forma aquele que se senta à sua secretária ou passa o seu tempo noutras tarefas, deve elevar a sua alma a Deus: é conveniente também para um servo que é ruidoso ou que anda de um lugar para outro, ou que está a servir na cozinha" (n. 2743). A oração, portanto, é uma espécie de pauta musical, onde colocamos a melodia da nossa vida. Não é contrário ao trabalho quotidiano, não está em contradição com as muitas pequenas obrigações e reuniões, se alguma coisa é o lugar onde cada acção encontra o seu significado, a sua razão e a sua paz" (n. 2743).

O Santo Padre está consciente de que pôr estes princípios em prática não é fácil: "Um pai e uma mãe, ocupados com mil tarefas, podem sentir-se nostálgicos por um período da sua vida em que era fácil encontrar tempo e espaço para a oração. Depois há as crianças, o trabalho, as tarefas da vida familiar, os pais que estão a envelhecer... Tem-se a impressão de nunca ser capaz de chegar ao topo de tudo. Por isso é bom pensar que Deus, nosso Pai, que tem de cuidar de todo o universo, se lembra sempre de cada um de nós. Por isso, também nós devemos recordá-lo".

O exemplo do monaquismo pode ajudar-nos, o Papa sugeriu na audiência: "Podemos recordar que no monaquismo cristão o trabalho tem sido sempre tido em alta estima, não só devido ao dever moral de prover a si próprio e aos outros, mas também por uma espécie de equilíbrio interior: é arriscado para o homem cultivar um interesse tão abstracto que ele perde o contacto com a realidade. O trabalho ajuda-nos a manter-nos em contacto com a realidade. As mãos do monge agarrado ostentam os calos daqueles que empunham a pá e a enxada. Quando, no Evangelho de Lucas (cf. 10,38-42), Jesus diz a Santa Marta que a única coisa que é realmente necessária é ouvir Deus, ele não quer de modo algum depreciar os muitos serviços que ela estava a fazer tão duramente".

Quase no fim, advertiu contra o perigo de se deixar levar pelo trabalho e negligenciar o tempo de oração: "No ser humano tudo é "binário": o nosso corpo é simétrico, temos dois braços, dois olhos, duas mãos... Por isso, o trabalho e a oração são complementares. A oração - que é a "respiração" de tudo - continua a ser o fundo vital do trabalho, mesmo quando não é explícita. É desumano ser tão absorvido pelo trabalho que já não encontramos tempo para a oração".

Finalmente, ele recordou que "uma oração que é alienada da vida não é saudável". Uma oração que nos afasta da concretude da vida torna-se espiritualismo, ou ritualismo. Recordemos que Jesus, depois de ter mostrado aos discípulos a sua glória no Monte Tabor, não quer prolongar este momento de êxtase, mas desce da montanha com eles e retoma a sua viagem diária. Porque essa experiência devia permanecer nos seus corações como a luz e a força da sua fé. Deste modo, os tempos dedicados a estar com Deus animam a fé, que nos ajuda a viver as nossas vidas, e a fé, por sua vez, alimenta a oração, sem interrupção. Nesta circularidade entre fé, vida e oração, o fogo do amor cristão que Deus espera de cada um de nós mantém-se aceso.

Espanha

Bispo Rico Pavés, novo Bispo de Assidonia - Jerez

 D. José Rico Pavés é o novo bispo da diocese espanhola de Jerez de la Frontera. A sua inauguração terá lugar no dia 31 de Julho às 11h00 na catedral de Jerez de la Frontera. 

Maria José Atienza-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

O bispo auxiliar de Getafe sucede a D. José Mazuelos na Sé de Asunción. Jerez ficou vago depois de Dom Mazuelos ter tomado posse como bispo das Ilhas Canárias em Outubro passado.

A Santa Sé anunciou hoje ao meio-dia a nomeação de  Monsenhor José Rico Pavés como o novo bispo da diocese espanhola de Jerez de la Frontera. 

A inauguração do Bispo Rico Pavés como Bispo de Jerez terá lugar no dia 31 de Julho às 11:00 da manhã na catedral de Jerez.

Rico Pavés colaborou com a Omnes em várias ocasiões, tanto na imprensa como online, com escritos sobre o Papa Francisco, tais como Os gestos do Papa Francisco o Os ensinamentos do Papa: Para a maior glória de Deus.

Durante a conferência de imprensa realizada pelo novo bispo de Jerez, ele disse que durante a sua adolescência viveu em Cádis e aí viveu "o tempo das perguntas decisivas".

Breve biografia

Mons. José Rico Pavés nasceu a 9 de Outubro de 1966 em Granada. Fez os seus estudos eclesiásticos no seminário de Toledo entre 1985-1987 e 1989-1992. De 1987 a 1989 seguiu um curso de espiritualidade e outro de línguas eclesiásticas. Foi ordenado sacerdote a 11 de Outubro de 1992. É licenciado em Teologia Dogmática (1994) e doutorado em Teologia Patrística (1998) pela Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma.

Exerceu o seu ministério sacerdotal entre Granada e Toledo, combinando o trabalho pastoral com o ensino. No momento da sua nomeação episcopal, era director do secretariado da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da Conferência Episcopal Espanhola, posição que ocupou de 2001 a 2013.

Foi nomeado bispo auxiliar de Getafe a 6 de Julho de 2012 e recebeu a consagração episcopal a 21 de Setembro do mesmo ano no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, em Cerro de los Ángeles.

Na CEE, é responsável pela área do Catecumenato do Comissão Episcopal para a Evangelização, Catequese e Catecumenato a partir de Março de 2020. 

Iniciativas

A Fundação CEU lança 'Fazer-lhe perguntas', para analisar as grandes questões do dia

Peritos nacionais de diferentes áreas analisam e dão argumentos sobre as principais questões que preocupam a sociedade actual, desde a eutanásia, a liberdade educacional à pornografia ou a utilização de ecrãs e jogos de vídeo.

Maria José Atienza-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto

O projecto, liderado pela Fundação San Pablo CEU e pela ABC, visa "recuperar certas questões de preocupação para a sociedade que não estão presentes no debate público", como salientou Alfonso Bullón de Mendoza, presidente da Fundação Universitária San Pablo CEU, afirmando que "não havia nenhuma proposta deste tipo no sector da educação e sentimos que era muito necessária".

Entre os entrevistados que participarão neste programa encontram-se nomes de destaque como Marian Rojas, Jesús Muñoz de Priego, Alonso García de la Puente, Pilar García de la Granja, Luis Chiva e Toni Nadal, entre outros.

No primeiro episódio, Alonso García de la Puente, director da equipa psicossocial do Hospital de Cuidados Laguna em Madrid, responderá a perguntas de cidadãos de diferentes idades sobre a eutanásia e os cuidados paliativos. Todas as semanas estará também disponível uma antevisão para visualização e comentários sobre redes sociais, com a hashtag #Haciendotepreguntas.

Leituras dominicais

Leituras para o 11º Domingo do Tempo Comum

Andrea Mardegan comenta as leituras do 11º Domingo do Tempo Comum

Andrea Mardegan-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

Comentários sobre as leituras de domingo XI

Jesus está em Cafarnaum junto ao lago e vai ensinar junto ao mar. A multidão é tão grande que ele tem de entrar num barco, e de lá conta parábolas que explicam os mistérios do reino de Deus. Lemos duas pequenas parábolas deste discurso, depois de uma passagem da segunda Carta aos Coríntios, onde Paulo repete duas vezes a expressão "cheio de bom ânimo".: "Irmãos, estamos sempre cheios de bom ânimo, embora saibamos que enquanto vivemos no corpo estamos no exílio longe do Senhor [...], cheios de bom ânimo".. É a confiança em Deus que nos dá a graça e semeia em nós o início do seu reino, e garante o seu crescimento. 

A primeira parábola é única para Mark. "O reino de Deus é como um homem que semeia sementes na terra".. Jesus fala de grandes mistérios sobrenaturais usando imagens humanas simples. Assim entendemos que o reino de Deus está escondido na nossa vida normal, e que nas realidades criadas descobrimos mistérios sobrenaturais: a criação e a redenção são obra de Deus. "A terra produz espontaneamente primeiro o talo, depois a espiga, depois o trigo cheio na espiga".em grego, a palavra é automàtê, espontaneamente: o poder interior da graça divina que conduz ao crescimento. "Dorme ou observa, noite e dia, as sementes brotam e crescem. Como, ele próprio não sabe". Os agricultores que ouvem Jesus reconhecem a si próprios nas suas palavras: o deles foi o gesto da sementeira; depois a semente cresce sem eles. 

Estas palavras podem dar muita paz e serenidade àqueles que receberam a semente do baptismo. Parábola para memorizar e ensinar, superando o medo de que possa ser demasiado gentil ou favorecer o quietismo espiritual. Pelo contrário, leva à confiança e ao abandono em Deus. Pode ser um antídoto eficaz para o Pelagianismo espiritual, que está sempre à espreita. "Quando o fruto estiver maduro, enviar a foice imediatamente, pois a colheita chegou".Esta visão do fim da vida ou da história pode incutir muita confiança. O último apelo da morte vem quando a maturidade tiver tido lugar, quando estivermos prontos. 

A segunda parábola centra-se no contraste entre a pequenez do início - a semente de mostarda, de acordo com a opinião popular dos Rabinos, era a mais pequena de todas as sementes da terra" - "a mais pequena de todas as sementes da terra". e o resultado do crescimento: os ouvintes de Jesus sabem que a planta da mostarda na margem do Lago Tiberíades atinge até três metros de altura e as aves podem fazer ninho lá. Tal é o Reino de Deus, a Igreja, que Jesus está a semear como uma pequena semente, e tal é a semente do Reino em cada um daqueles que o ouvem. Crescerá, dará frutos e abrigo.

Espanha

Reforma do sistema penal do Vaticano, o tema do Fórum Omnes

O Secretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos é o orador no Fórum Omnes, que se realiza a 10 de Junho às 19:30 (UTC+2) em directo no canal Omnes Youtube.

Maria José Atienza-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto

Monsenhor Juan Ignacio ArrietaSecretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, é o relator do Fórum Omnes, que se realiza em 10 de Junho às 19:30h. (hora espanhola) e será transmitido em directo no canal Omnes Youtube.

O fórum, que será liderado pelo padre e doutor em Direito Canónico, Ricardo BazánProfessor da Universidade de Piura, abordará os principais pontos da reforma que foram submetidos à Livro VI do Código de Direito Canónico através do Constituição Apostólica Pascite Gregem Deique data de 23 de Maio de 2021, mas foi lançado a 1 de Junho.

O Arcebispo Arrieta foi encarregado de apresentar esta renovação do Código de Direito Canónico. Um trabalho que tem envolvido "um trabalho colegial, que tem envolvido muitas pessoas em todo o mundo". E tem sido também um trabalho algo complexo, pois sendo uma lei universal, teve de ser adaptada às exigências de culturas muito diversas e situações concretas", como reconheceu na entrevista que o Secretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos concedeu à Omnes nesta ocasião.

https://youtu.be/0CRxn62XNdA

Este fórum tem a colaboração na produção de Relatórios de Roma e o patrocínio de Banco Sabadell, Fundação Centro Académico Romano e Seguros UMAS.

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Família

Cura de amores feridos

O objectivo do acompanhamento pastoral é integrar na vida plena de Jesus e da sua Igreja, através de um caminho ou processo de purificação, através de ajudas concretas e eficazes que se adaptem às diferentes situações familiares. 

José Miguel Granados-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

Uma família desfeita

 "Negócios sob a firma de Dombey e filho: venda por grosso, a retalho e para exportação" (Dombey & filho): é o título completo e significativo de uma das mais tristes histórias do genial romancista Charles Dickens. O Sr. Paul Dombey vive com a obsessiva pretensão de prestígio baseada na sua fama social e no sucesso da sua empresa. Ele subordina todos os membros da sua família a esta intenção egomaníaca, ao ponto de se tornar terrivelmente incapaz de amar, causando feridas graves às pessoas que o rodeiam - à sua filha Florence, à sua esposa Edith - e a si próprio.

Só quando a sua vida e família estiverem destroçadas e arruinadas é que ele reconhecerá os seus graves erros. No final, após muito sofrimento, a compaixão e a ternura sem limites da sua filha poderão oferecer conforto e paz ao seu pai e à sua esposa.

Dombey e filho

AutorCharles Dickens
Ano: 1846-1848

A arte do acompanhamento

O Papa Francisco declara na exortação Amoris laetitiae que "a Igreja deve acompanhar com atenção e cuidado os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e perdido, dando-lhes novamente confiança e esperança, como a luz de um farol num porto ou uma tocha carregada entre o povo para iluminar aqueles que perderam o seu caminho ou se encontram no meio da tempestade". (AL, n. 291).

A Igreja é mãe, professora e educadora, e também actua como casa de saúde e".hospital de campanha. A acção evangelizadora preocupa-se principalmente com a construção e reabilitação de indivíduos e comunidades, com os muitos instrumentos que o Senhor nos deixou para que possamos ter vida em abundância.

O acompanhamento pessoal e eclesial constitui um arte e um virtude. Requer a aquisição de um conjunto de competências humanas e cristãs: conhecimento, sabedoria, amor, prudência, confiança, humildade, fé, esperança, paciência, etc. Como qualquer relação de ajuda, o cuidado pastoral exige o reconhecimento da dignidade de cada pessoa, pois ninguém deve ser discriminado por causa da sua condição ou comportamento. Acompanhar significa estar solenemente ao lado do sofrimentoA situação das crianças, as suas rupturas, os seus anseios, os seus desejos.

Deve ser tido em conta o normal gradualismo no fases de crescimento, cura e reconstrução. Neste processo gradual de amadurecimento humano e cristão, é uma questão de vir a descobrir e aceitar -por eles próprios, com a ajuda do Espírito Santo. a luz da verdade reveladaO objectivo do acompanhamento pastoral é ajudá-los a compreender o significado de doação e fidelidade como algo que está dentro de cada um deles: a realização do sonho do seu projecto matrimonial e familiar, a promessa divina escondida nos seus desejos mais profundos. O objectivo do acompanhamento pastoral consiste em integrar na vida plena de Jesus e da sua Igreja, por meio de um caminho ou processo de purificação, formação e santificação.

Eles têm de para fornecer apoio concreto e eficaz. É essencial que as pessoas encontrem todo o apoio eclesial necessário para reconstruir as suas vidas em conformidade com o Evangelho: vários grupos e pastores baseados na fé que sejam acessíveis, amigáveis, humanos e sobrenaturais; famílias cristãs que sejam acolhedoras e abertas; centros eclesiais especializados em cuidados familiares. É uma questão de percorrer um caminhoA pessoa que necessita de ajuda humana e eclesial, passo a passo, incluindo - quando necessário - a atenção especializada de profissionais nas áreas da psicologia, direito, medicina, trabalho social, etc., que têm um critério eclesial correcto.

O o verdadeiro amor, descrito no belo hino paulino à caridade (cf. 1 Cor 12,31-13,13), parece ser fundamental chave para a interpretação de acção evangelizadora na área do casamento e da família (cf. AL89-119). O verdadeira misericórdia leva a uma vida de acordo com o pacto cristãoO direito à educação, de acordo com a justiça dos laços e compromissos, dos direitos e deveres decorrentes da identidade e estatuto pessoal e familiar.

Pedagogia da graça

O lei moral, inscrita na consciência, ensinada no Evangelho e transmitida pela Igreja, é uma don de Deus que mostra o caminho para a plenitude da vida. De facto, com a ajuda da graça, os mandamentos podem ser observados, cujo cume é o novo mandato do amor cristão. A evangelização deve abraçar a grandeza do homem redimido em Cristo, chamado à santidade em todos os estados e circunstâncias da vida. Por este motivo, é necessário afirmar: "É possívelporque é isso que o Evangelho exige" (cf. AL, 102).

Francisco propõe a fórmula de dar "pequenos passos"no"caminho da graça e do crescimento". Pouco a pouco, a pessoa que ora, escuta a Palavra de Deus, vive na comunidade cristã, exerce as obras de caridade e misericórdia, é formada na fé da Igreja, etc., compreende gradualmente a verdade do Evangelho como boa nova, torna-se capaz de a viver, cresce no desejo de comunhão, e torna-se em sintonia com a mente e o coração de Cristo.

Este processo consiste em conduzir suavemente, como num plano inclinado, para a conaturalidade virtuosa com o bem. A situação da pessoa individual deve ser tida em conta; a pessoa deve ser acompanhada - para usar uma símile - na subida dos degraus para uma vida mais elevada; o caminho do cristão deve ser tornado agradável; a atracção e a alegria da vida evangélica devem ser mostradas. Esta forma pastoral constitui um autêntico pedagogia humana e cristã.

Evangelizar as famílias, portadores de esperança

É a Igreja inteira aquilo que acompanha as pessoas em situações familiares precárias. A fórmula pastoral sempre válida proposta por S. Paulo consiste no exercício "caridade na verdade". (cf. Ef 4,15). As pessoas que sofreram a ruptura familiar devem ser ajudadas a convencer-se de que a sua vida, com as suas circunstâncias concretas, é também um espaço de graça, uma história de amor e salvação: que podem fazer muito bem mantendo-se firmes na fé na posição que ocupam; que a sua perseverança é um ponto de referência e um tesouro para os seus filhos e para toda a Igreja; que a sua dor é salvífica e frutuosa; que podem melhorar; que a esperança humano e sobrenatural pode sempre renascer.

Iniciativas

Skate Hero: Uma onda de esperança

No musical "Skate Hero" o coração de Ignacio bate no coração dos cinquenta jovens que querem seguir o exemplo de Ignacio Echevarría. 

Javier Segura-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

É difícil falar de algo quando se faz parte dessa história. Mas não posso deixar de recordar com gratidão o que vivemos este sábado, 5 de Junho, na estreia do musical 'Skate Hero'. Um musical feito em homenagem a Ignacio Echeverría, que morreu há quatro anos num atentado bombista. jihadista em Londres, quando estava a defender um jovem desconhecido com o seu skate.

Após alguns meses de trabalho animado, pudemos apresentar o musical em que tínhamos estado a trabalhar primeiro no País de Gales, e depois, a pedido da própria família de Ignacio, na sua cidade natal, Las Rozas.

Houve duas sessões, de modo a atingir o número máximo de pessoas, mas poderia ter havido muitas mais. A capacidade para estas duas sessões foi preenchida em apenas vinte minutos quando as bilheteiras abriram. Tudo era um antegosto do que estava para vir. E não era de admirar. A figura de Ignacio, o seu gesto heróico que há quatro anos atrás moveu o mundo inteiro, ainda hoje está viva, talvez mais viva do que nunca.

E um após outro, os meios de comunicação social fizeram eco do simples tributo que este grupo de jovens queria prestar a Ignacio. Revistas, jornais e até televisão surpreenderam-nos com o seu interesse pela história e ajudaram a torná-lo conhecido por muito mais pessoas.

Pessoas... e instituições, porque a Câmara Municipal esteve envolvida na organização do evento e com a presença do seu Presidente da Câmara, Sr. José de la Uz. Também pudemos contar com a presença do Cardeal de Madrid, D. Carlos Osoro, e até o Rei e Rainha de Espanha quiseram estar presentes, de alguma forma, enviando palavras de boas-vindas e apoio!

As emoções intensificaram-se entre ritmos de canto, recordando as últimas vinte e quatro horas da vida de Ignacio, seguindo fielmente as informações do livro do seu próprio pai, Este era o meu filho Ignacio, o herói do skate".  Emoções que atingiram o seu clímax no momento final, quando os pais de Ignacio nos agradeceram pelo musical, leram a mensagem dos Reis e deram-nos um skate de Ignacio, pela nossa segurança.

O que posso dizer-vos? Bem, que eu tenho a sensação de fazer parte de algo grande, muito maior do que nós próprios. Que a vida de Ignacio, de alguma forma, continua a bater nestes jovens que ontem subiram ao palco para cantar e dizer que vale a pena dar a própria vida por amor.

É por isso que as palavras de Guillermo, amigo de Ignacio, na homenagem que lhe foi prestada pela Câmara Municipal de Las Rozas após o ataque, se tornaram mais uma vez realidade. Guillermo gritou então emocionalmente, à medida que os skatistas empurravam os seus skateboards, que os terroristas não tinham morto Ignacio. Olha, olha o que conseguiste. Esta onda de esperança.

Penso que não há melhor expressão para descrever o que estamos a experimentar. Uma onda de esperança. Os corações destes jovens vibram ao ritmo da música, do skate, do surf. Mas também ao ritmo da dedicação, da amizade e da fé. Bate ao mesmo ritmo que o coração de Ignacio.

É por isso que não se trata de uma esperança vazia, meramente sentimental. O coração de Inácio bate agora no coração dos cinquenta jovens que colocaram o melhor de si próprios no palco e que querem seguir o exemplo de Inácio, para darem as suas vidas por amor, dia após dia. A sua morte não foi em vão. A vida de Inácio multiplicou-se. Realmente uma onda de esperança aumentou em Las Rozas.

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América Latina

O Supremo Tribunal dos EUA poderia reverter a decisão Roe v. Wade

Se os EUA alterarem a doutrina estabelecida em 1973, que consagrava o direito ao aborto naquele país, poderemos vir a encontrar-nos no futuro com um processo que poderá inverter a legislação que fez prevalecer o chamado direito de decidir sobre o direito à vida.

Santiago Leyra Curiá-9 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

A 19 de Maio, o governador do Texas, o republicano Greg Abbot, aprovou uma das leis abortivas mais restritivas dos Estados Unidos, que proíbe o aborto após seis semanas de gestação, quando em muitos casos as mulheres nem sequer sabem que estão grávidas. Esta lei junta-se a uma série de leis de protecção do direito à vida da criança por nascer que foram aprovadas em vários estados do país nos últimos anos.

A rubrica deste texto vem depois do Supremo Tribunal dos EUA ter anunciado dois dias antes que iria considerar um caso que restringisse este procedimento no Mississippi. O caso Mississippi marcará a primeira vez que o Supremo Tribunal decidirá sobre uma lei estatal que restringe o aborto com uma possível mudança de abordagem com repercussões desconhecidas.

O Supremo Tribunal é agora composto por 9 juízes, 5 dos quais são católicos (John Roberts, Clarence Thomas, Samuel Alito, Brett Kananaugh, Sonia Sotomayor e Amy Coney Barret), Elena Kagan e Stephen Breyer são judeus e Neil Gorsuch é protestante. E destes, uma sólida maioria é considerada pró-direita à vida e Sonia Sotomayor, Elena Kagan e Stephen Breyer não são.

Se os Estados Unidos modificarem a doutrina estabelecida em 1973 por ocasião do famoso acórdão Roe versus Wade, que consagrou o direito ao aborto naquele país, poderemos encontrar-nos no futuro com um processo que poderá inverter a legislação que fez prevalecer o chamado direito de decidir sobre o direito à vida. 

E isto aconteceria durante a presidência de um católico que legislou e se pronunciou a favor do aborto ao longo da sua já extensa carreira política. Joe Biden declarou antes e depois da sua eleição que está "empenhado" em proteger o direito ao aborto no país e que, independentemente da decisão que o CC irá adoptar em breve, está empenhado em defender o "Roe v. Wade". Uma afirmação que ratificou com factos, já que uma das suas primeiras medidas como presidente foi revogar a proibição de financiamento de organizações estrangeiras que praticam abortos.

É precisamente por esta razão que a Conferência Episcopal Americana decidiu recordar num documento que os políticos católicos que são publicamente a favor dos direitos ao aborto não devem receber a comunhão. Quando a Congregação para a Doutrina da Fé foi consultada sobre o assunto, respondeu que seria preferível ter primeiro o consenso de todos os bispos, dialogar com estes políticos católicos para os ajudar a formar a sua consciência e evitar a impressão de que "só o aborto e a eutanásia constituem os únicos assuntos sérios da doutrina social católica que exigem o mais alto nível de responsabilidade por parte dos católicos". Em qualquer caso, é aconselhável enquadrar tal declaração no quadro mais amplo da dignidade de receber a Sagrada Comunhão por todos os fiéis e não apenas por uma categoria de políticos.

O autorSantiago Leyra Curiá

Membro correspondente da Academia Real de Jurisprudência e Legislação de Espanha.

Ecologia integral

O Serviço Jesuíta do Migrante e os capelães põem em causa as CIEs

Os centros de detenção para estrangeiros não são necessários, como demonstrado pela pandemia de Covid-19, durante a qual permaneceram fechados durante vários meses. Esta é a queixa feita pelo Serviço Jesuíta do Migrante (SJM) e capelães como Antonio Viera, da CIE das Ilhas Canárias.

Rafael Mineiro-8 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

O Serviço Jesuíta dos Migrantes reiterou no final da semana passada no Senado espanhol "o seu compromisso de acompanhar e defender as pessoas detidas nas CIEs", e apelou mais uma vez ao "seu encerramento e à procura de alternativas legais e políticas para as pessoas que caem em irregularidade".

As propostas finais do seu relatório sobre 2020, intitulado Razão legal e nenhuma razão política, Apontam para a necessidade de "pelo menos melhorar a prevenção e os cuidados de saúde, se não mesmo suspender a detenção em pandemias". Na sua opinião, é ainda necessário corrigir situações de violação de direitos, e ter em conta as queixas de tortura ou o internamento de perfis vulneráveis, tais como menores e requerentes de asilo".

O relatório do SJM sobre 2020 analisa a detenção em tempos de coronavírus, com particular incidência na insuficiência de cuidados de saúde. "Os CIEs fecharam as suas portas em resposta à declaração do estado de alarme em Março de 2020, inicialmente de forma descoordenada e caótica, embora a base jurídica e as decisões claras da Polícia e do Ministério Público tenham sido posteriormente percebidas". No entanto, retomaram a sua actividade a partir de Setembro, "com insuficientes medidas preventivas anti-covida e isolamento severo para as pessoas infectadas, com o consequente clima de ansiedade e angústia para os reclusos", salienta o estudo.

Em 2020, segundo o relatório, um total de 2.224 pessoas foram detidas na CIE, a grande maioria (79 %) por motivos de repulsão após entrada irregular, seguida de motivos de expulsão (16 %). Por outro lado, foram identificados 42 menores, quase 2 % do número total de detidos, "um número demasiado elevado mas inferior ao número real, pois põe em causa a fiabilidade dos testes de determinação da idade", aponta o SJM, cuja coordenadora é Carmen de la Fuente.

Um facto importante, na opinião dos editores do relatório, é que "reflecte o sofrimento desnecessário a que os detidos estão sujeitos: do número total de pessoas devolvidas em Espanha (1.904), apenas 28 % foram devolvidas pela CIE, e do número total de expulsões (1.835), 38 % foram da CIE. 47 % dos detidos foram finalmente libertados por várias razões porque o seu repatriamento forçado não pôde ser efectuado".

Além disso, no ano passado, os tribunais admitiram "a responsabilidade financeira do Estado no caso da morte de Samba Martine, em Madrid, em Dezembro de 2011". Um acto de justiça e reparação, o resultado de quase uma década de luta judicial e social por parte da família e organizações sociais próximas", cujas vicissitudes foram relatadas pela advogada Cristina Manzanedo.

Resgatar da invisibilidade

Antonio Viera, capelão do Barranco Seco CIE em Las Palmas de Gran Canaria, concorda com o diagnóstico do Serviço Jesuíta, e prefaciou o seu relatório com um texto intitulado "Pessoas a resgatar do mar da invisibilidade". O capelão afirma a "existência desnecessária da CIE", porque, entre outras razões, "é bem conhecido que a CIE viola sistematicamente os direitos humanos das pessoas detidas", por "não ter acesso aos serviços básicos", como os serviços de saúde ou o aconselhamento jurídico, por exemplo. O relatório aborda numerosas questões, escreve Antonio Viera, "deixando claro que a Espanha sobrevive com CIE vazias".

Em declarações à Omnes, o capelão explica que na CIE de Barranco Seco há "actualmente oito pessoas: há os marroquinos que vão ser deportados para Marrocos, e serão libertados em breve, porque a duração máxima de estadia na CIE é de 60 dias".

"A coisa lógica a fazer é fechar os CIEs", acrescenta, "porque também desperdiçam o dinheiro dos contribuintes". Não têm qualquer razão de ser. Aqui geriram bem os cuidados de saúde durante a pandemia. O que estas pessoas precisam é de apoio psicológico, porque chegam devastadas após a travessia do Atlântico", diz ele à Omnes.

"As pessoas desta UCI restringiram as visitas familiares, por causa do Covid, e os únicos que as atendem são o capelão e os voluntários da Cruz Vermelha", diz ele.

Migrantes nas Ilhas Canárias

As Ilhas Canárias são um dos locais onde a maioria dos imigrantes entrou nos últimos meses, para além de Ceuta. "As Ilhas Canárias não podem ser uma nova Lampedusa. As Canárias são Espanha, e quem chega a Espanha já é livre de se deslocar por toda a Espanha. Não pode ser que cheguem às ilhas, fiquem lá fechadas e o problema seja 'esquecido'", disse D. José Mazuelos, bispo das Canárias e presidente da Subcomissão Episcopal para a Família e a Defesa da Vida da Conferência Episcopal Espanhola, numa reunião com jornalistas por ocasião da Assembleia Plenária da CEE, há pouco mais de um mês. Foi assim que ele reflectiu Omnes

Nessa reunião, o Bispo Mazuelos recordou a carta pastoral assinada pelos bispos das ilhas, denunciando a situação de milhares de pessoas que chegam às costas das Canárias em condições sub-humanas. Além disso, o bispo das Ilhas Canárias salientou que "este é um problema para o governo central que tem de assumir e corrigir". O governo regional das Canárias está a ajudar muito; a Cáritas está sobrecarregada: há pessoas a dormir na rua, o número de refeições dadas por dia triplicou".

Projectos

No horizonte próximo, segundo o SJM, "o projecto para uma nova CIE em Botafuegos, Algeciras, com um investimento de quase 27 milhões de euros entre 2021 e 2024" foi confirmado. Além disso, o financiamento proposto no Orçamento Geral do Estado para 2021, adicionado aos já publicados em anos anteriores, eleva o valor para mais de 32,5 milhões para o período 2019-2024. O novo centro em Algeciras recebe a maior parte disto, mas os outros 6 milhões estão destinados à reforma e remodelação dos centros existentes, o que demonstra uma clara intencionalidade política, salienta SJM.

Na apresentação no Senado, Carmen de la Fuente salientou que as CIEs de Valência e Algeciras estão actualmente fechadas para obras de construção, enquanto Josetxo Ordóñez acrescentou que "em Barcelona, no ano passado, houve exactamente 200 dias sem detenção, de 6 de Maio a 23 de Setembro". Josep Buedes, outro autor do relatório, deu especial ênfase ao facto de que "Interior não nos dá a informação que solicitamos".

Entretanto, o capelão da Barranco Seco CIE em Las Palmas, Antonio Viera, recorda uma mensagem do Papa Francisco por ocasião do Dia Mundial da Paz em 2016: "Gostaria de vos convidar a rever a legislação sobre migrantes, para que se inspire na vontade de acolher, no respeito pelos deveres e responsabilidades recíprocas, e possa facilitar a integração dos migrantes".

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Reforma da lei canónica

A reforma levada a cabo no pontificado de Francisco é um instrumento "para responder adequadamente às necessidades da Igreja em todo o mundo.

8 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

A Igreja, como qualquer instituição, precisa de um conjunto de normas jurídicas para se comportar. O primeiro Código de Direito Canónico foi promulgado em 1917 pelo Papa Bento XV e o actual foi promulgado por São João Paulo II em 1983. No passado dia 23 de Maio, o Papa Francisco promulgou a Constituição Apostólica Pascite gregem Dei que reforma o Livro VI do Código de Direito Canónico sobre sanções penais na Igreja, uma alteração que entrará em vigor a partir de 8 de Dezembro deste ano. 

Na Constituição Apostólica acima referida, o Santo Padre sublinha que "desde os tempos apostólicos, a Igreja tem vindo a dar-se leis para a sua forma de agir que, ao longo dos séculos, têm vindo a formar um corpo coerente de normas sociais vinculativas, que dão unidade ao Povo de Deus e cuja observância é da responsabilidade dos Bispos". Normas que ligam "a misericórdia e correcção da Igreja" e que "precisam de estar em permanente correlação com as mudanças sociais e com as novas exigências que surgem entre o Povo de Deus, que por vezes tornam necessário rectificá-las e adaptá-las a situações de mudança". O Papa revela em Pascite gregem Dei que "a sanção canónica também tem uma função de reparação e medicina salutar e procura, acima de tudo, o bem dos fiéis".

código de direito canónico

Não é fácil redigir um texto legal aplicável à Igreja universal. Hoje em dia, um certo etnocentrismo cultural está a espalhar-se por grande parte do nosso mundo, levando-nos a pensar que a nossa própria cultura é superior a outras culturas que deveriam ser cobertas pelo mesmo guarda-chuva jurídico. De facto, o Papa recorda que Bento XVI lançou esta revisão em 2007 e que, desde então, tem vindo a amadurecer. 

Como Monsenhor Juan Ignacio Arrieta, Secretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, sublinhou recentemente, entre as principais novidades destas revisões encontramos que elas determinam com maior precisão o comportamento a adoptar pelos responsáveis pela observância destas normas e os critérios a seguir para a aplicação de sanções. Outro aspecto relevante é o aspecto comunitário, ou seja, que o direito penal é também importante para preservar a comunidade dos fiéis, reparar o escândalo causado e reparar os danos. O texto também fornece à autoridade os instrumentos para reorientar o comportamento a tempo e, consequentemente, para evitar danos.

O Presidente do Conselho Pontifício dos Textos Legislativos, Monsenhor Filippo Iannone, salientou o aparecimento de novas sanções, tais como a reparação ou compensação por danos. As penalidades são enumeradas com mais detalhe. Algumas penalidades que anteriormente só estavam previstas para os sacerdotes são alargadas a todos os fiéis. O estatuto de limitações para infracções foi revisto e foram introduzidas algumas novas. Na área do abuso de crianças, a gravidade dos crimes e os cuidados com as vítimas são realçados. A ênfase na transparência e na boa gestão dos recursos é também realçada. 

Esta reforma será certamente um instrumento importante "para responder adequadamente às necessidades da Igreja em todo o mundo", no "contexto das rápidas mudanças sociais que estamos a viver", como o Papa Francisco assinala em Pascite Gregem Dei

O autorCelso Morga

Arcebispo Emérito da Diocese de Mérida Badajoz

Mundo

Pessoas "desaparecidas" do Canadá

A descoberta dos restos mortais de 215 crianças na província de British Columbia, Canadá, é um acontecimento dramático e um apelo "para caminharmos juntos em diálogo, respeito mútuo e reconhecimento dos direitos e valores culturais de todas as filhas e filhos do Canadá".

Fernando Emilio Mignone-8 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

O Papa Francisco disse na oração do Angelus no domingo que está a seguir "com tristeza as notícias do Canadá sobre a descoberta chocante dos restos mortais de 215 crianças, alunos do Escola Residencial Indiana Kamloopsna província de British Columbia. Junto-me aos bispos canadianos e a toda a Igreja Católica no Canadá para expressar a minha proximidade ao povo canadiano que ficou traumatizado com esta notícia chocante. A triste descoberta aumenta a nossa consciência da dor e do sofrimento do passado. As autoridades políticas e religiosas do Canadá continuam a trabalhar com determinação para lançar luz sobre este triste acontecimento e a empenharem-se humildemente numa viagem de reconciliação e cura.

Estes tempos difíceis são um forte apelo a todos nós para nos afastarmos do modelo colonizador e também das colonizações ideológicas de hoje, e caminharmos juntos em diálogo, respeito mútuo e reconhecimento dos direitos e valores culturais de todas as crianças do Canadá.

Recomendamos ao Senhor as almas de todas as crianças que morreram nas escolas residenciais do Canadá e rezamos pelas famílias enlutadas e comunidades nativas canadianas. Rezemos em silêncio.

"A Igreja errou indiscutivelmente na implementação de uma política governamental colonialista que resultou na devastação de crianças, famílias e comunidades". Assim, a 2 de Junho, o Arcebispo Michael Miller de Vancouver, British Columbia, apresentou publicamente as suas desculpas. 

Na cidade de Kamloops, 350 km a noroeste de Vancouver, foram descobertos os restos mortais de cerca de 215 indígenas não marcados e "não enterrados", enterrados ao lado da antiga Escola Residencial Kamloops, uma instituição governamental canadiana fundada em 1890 e encerrada em 1978, e desde a sua fundação até 1969 dirigida pelos Missionários Oblatos de Maria Imaculada.

O Arcebispo Miller, cuja diocese incluía Kamloops até 1945, prometeu fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para tentar descobrir as identidades dos menores aí enterrados.

Os nativos locais descobriram o que dizem ser restos humanos usando um pequeno radar penetrante, tecnologia agora literalmente na ponta dos seus dedos. Muitos povos indígenas já sabiam ou suspeitavam que os jovens falecidos tinham sido enterrados não só lá mas também noutros 130 internatos do Canadá, agora fechados, muitas vezes sem avisar os familiares ou registar os casos.

O Bispo Kamloops Joseph Nguyen (que em jovem escapou do Vietname de barco e se refugiou no Canadá) disse: "Nenhuma palavra de tristeza poderia descrever esta descoberta horrível". O presidente da Conferência Episcopal e Arcebispo de Winnipeg Richard Gagnon expressou o seu grande pesar em nome dos bispos canadianos (mais de 80) e apelou para que a verdade viesse ao de cima. 

Já a 29 de Abril de 2009, o Papa Bento XVI tinha pedido pessoalmente desculpas a um grupo de chefes indígenas canadianos quando o visitaram em Roma, numa audiência privada no Vaticano, pelo tratamento "deplorável" que as alas indígenas receberam nos internatos geridos pelos católicos. (Havia 73 dos 130 institutos).

As crianças eram frequentemente separadas à força dos seus pais e levadas para estes internatos: por vezes não se viam durante anos (ou não se viam de todo); eram assimiladas à cultura dominante, perdendo assim as suas raízes; sofriam abusos psicológicos, físicos e até sexuais. 

Há já três décadas que existem muitos e repetidos pedidos de perdão - também, claro, por parte das autoridades civis, a começar pelos primeiros-ministros do país - por tanta tragédia. E por uma causa: tantas nem sequer foram documentadas. Estima-se que 150.000 estudantes indígenas viviam nos internatos criados pelo governo federal em meados do século XIX, os últimos dos quais foram encerrados apenas no final do século XX. Muitas destas escolas encontravam-se em locais inóspitos e eram pouco subsidiadas; poderia haver escassez de alimentos e doenças contagiosas. Não se sabe ao certo quantas crianças morreram nestas instituições, ou de quê, mas estima-se que pelo menos 4.000 morreram. 

A descoberta em Kamloops está a sensibilizar os cidadãos canadianos. Serão feitas tentativas para documentar melhor o passado, inclusive com subsídios que o governo federal acaba de oferecer aos povos indígenas, para que possam saber mais sobre os seus pessoas desaparecidas.

Mas esta consciencialização neste país não é um desenvolvimento recente. Já em 1991, os bispos e superiores das ordens religiosas canadianas que participaram nas escolas residenciais declararam: "Lamentamos profundamente a dor, o sofrimento e a alienação que tantos (povos indígenas) viveram. Ouvimos... e queremos fazer parte do processo de cura". Nesse mesmo ano, os Oblatos de Maria Imaculada incluíram isto no seu longo arrependimento: "Pedimos perdão pelo papel que desempenhámos no imperialismo cultural, étnico, linguístico e religioso que fez parte da mentalidade com que o povo da Europa encontrou pela primeira vez os povos aborígenes e que tem sido constantemente escondida na forma como os povos nativos do Canadá têm sido tratados pelas autoridades civis e igrejas".

O processo de reconciliação nos últimos anos incluiu centenas de encontros entre cristãos e povos indígenas no Canadá para tentar curar as feridas (metade dos povos indígenas do Canadá podem ser católicos, e muitos outros são cristãos). De uma população de quase 40 milhões de habitantes, quase 2 milhões são indígenas). 

Raymond de Souza, um conhecido padre e jornalista, faz referência no Correio Nacional a João Paulo II, que no Touro Incarnationis mysterium (29 de Novembro de 1998) apelou para "a purificação da memóriaO Papa disse: "Não podemos deixar de reconhecer as faltas cometidas por aqueles que suportaram e continuam a suportar o nome de cristãos". Também à sua homilia em São Pedro, em 12 de Março de 2000: "Não podemos deixar de reconhecer a infidelidade ao Evangelho que alguns dos nossos irmãos e irmãs cometeram".

Neste cenário dramático, talvez valha a pena recordar que muitos canadianos rezam à padroeira do hemisfério ocidental, a Virgem indígena de Guadalupe. E a Santa Kateri (Catherine) Tekakwitha, que morreu em 1680 em Montreal com a idade de 24 anos; aqui [escrevo de Montreal] estão os seus restos mortais. A sua mãe Algonquin, uma cristã, foi raptada pelos iroqueses e casada com um chefe Mohawk. Aos 4 anos de idade, Kateri perdeu os seus pais numa epidemia de varíola que a deixou meio cega. Aos 11 anos foi apresentada à fé e aos 20 foi baptizada pelos missionários jesuítas. Sofreu grandes abusos pela sua fé e foi rejeitada pelos seus familiares, pelo que em 1677 fugiu a pé ao longo de 300 km para uma aldeia cristã. Ela era muito penitente e muito devota à Eucaristia. Ela foi canonizada em Outubro de 2012, no final do pontificado beneditino.

Nota do autor: A 14 de Maio de 1976, a minha irmã Monica de 24 anos foi raptada pelos militares em Buenos Aires. Nunca nos foi dito o que lhe aconteceu.

Zoom

Celebração do Corpus na Polónia

Uma rapariga em traje tradicional na procissão de Corpus Christi pelas ruas de Varsóvia. A capital polaca celebrou a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo na quinta-feira 3 de Junho de 2021.

Maria José Atienza-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto
Mundo

Carta de demissão-denúncia do Cardeal Marx

Com base num texto de Joseph Ratzinger, o autor reflecte sobre a carta de demissão escrita pelo Cardeal Reinhard Marx, na qual pede ao Papa Francisco que se demita do cargo de Arcebispo de Munique.

Jaime Fuentes-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

A notícia "bomba" explodiu em Munique na sexta-feira 5 de Junho, com a publicação da carta do seu arcebispo, Cardeal Reinhard Marx, na qual pede ao Papa Francisco que o renuncie a esse cargo na Igreja.

Perdi a conta do número de vezes que li e reli a carta, tentando compreender os argumentos que o arcebispo apresenta para justificar a sua decisão inesperada. Porquê tantas vezes? Porque a carta não se trata apenas de demissão, mas também de denunciar o que está errado em toda a Igreja. Ao demitir-se, o cardeal pensa que o seu gesto servirá para "para um novo começo da Igreja, e não apenas na Alemanha".

Ele também diz que nos encontramos na Igreja em "um impasse".A UE encontra-se num impasse que, segundo ele, só pode ser ultrapassado se se seguir o "caminho sinodal".

Tanto o diagnóstico como a terapia proposta podem e irão fornecer muitos alimentos para reflexão. Aqui gostaria apenas de contribuir com um texto antigo do Professor Joseph Ratzinger que, na minha opinião, lança luz sobre o problema actual, e não apenas na Alemanha.

Em 1970, após o fim do Concílio Vaticano II no qual participou como "perito" e como professor de dogmática em Regensburg, Ratzinger emitiu cinco conferências na rádio, que foram publicadas em Munique sob o título "Fé e Futuro". No último destes ele trata deste tópico: "Como vai ser a Igreja no ano 2000?

Para responder à pergunta, o Professor Ratzinger volta-se para a história, o professor da vida (nihil sub sole novum) e analisa em profundidade algumas das crises que a Igreja tem sofrido. Finalmente, ele conclui com o texto que agora transcrevo na sua totalidade (o sublinhado é meu):

Isto é o que Ratzinger escreveu em Fé e futuro:

"O futuro da Igreja só pode e só virá, também hoje, da força daqueles que têm raízes profundas e vivem da plenitude pura da sua fé.. Não virá daqueles que só dão receitas médicas. Não virá daqueles que se acomodam apenas até ao momento presente. Não virá daqueles que criticam apenas os outros e se aceitam a si próprios como a norma infalível. 

Portanto, também não virá daqueles que escolhem apenas o caminho mais confortável, aqueles que evitam a paixão da fé, e consideram como falsa e superada, como tirania e legalidade, tudo aquilo que exige do homem, aquilo que o magoa, aquilo que o obriga a renunciar a si mesmo. Digamo-lo de forma positiva: o futuro da igreja, também agora, como sempre, deve ser cunhado de novo pelos santos.

Por homens, portanto, que percebem algo mais do que as frases que são precisamente modernas. Por homens que podem ver mais do que outros, porque a sua vida tem maiores voos. O desapego que liberta os homens só pode ser alcançado por homens que conseguem ver mais do que outros, porque a sua vida tem maiores voos. pequenas renúncias diárias a si próprio. Nesta paixão diária, através da qual só o homem pode experimentar de que formas múltiplas o seu próprio ego o prende, nesta paixão diária e nesta paixão só o homem se abre, polegada a polegada.

O homem só vê tanto quanto tem vivido e sofrido.. Se hoje dificilmente podemos perceber Deus, é porque é demasiado fácil para nós escaparmos a nós próprios, fugir das profundezas da nossa existência para o sono do conforto.. Assim, o que há de mais profundo em nós permanece inexplorado. Se é verdade que só se pode ver bem com o coração, quão cegos somos todos nós!

[...] Vamos dar mais um passo em frente. Da Igreja de hoje sairá também, desta vez, uma Igreja que perdeu muito. Tornar-se-á demasiado pequeno, terá de começar completamente de novo. Deixará de poder encher muitos dos edifícios construídos no momento mais favorável. À medida que o número dos seus seguidores diminui, perderá muitos dos seus privilégios na sociedade.. Terá de se apresentar, muito mais fortemente do que tem feito até agora, como um comunidade voluntária, que só pode ser alcançada através de uma decisão livre. Como pequena comunidade, precisará muito mais da iniciativa dos seus membros individuais. Sem dúvida que também encontrará novas formas de ministério e consagrará sacerdotes a cristãos comprovados que permanecem na sua profissão: em muitas pequenas comunidades, por exemplo, em grupos sociais homogéneos, o cuidado pastoral normal será levado a cabo desta forma. A par disto, o padre, totalmente dedicado ao ministério como tem sido até agora, continuará a ser indispensável.

Mas em todas estas mudanças conjectural, a Igreja terá de encontrar uma vez mais e decisivamente o que é essencialmente seu, o que sempre foi o seu centroFé no Deus Trinitário, em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a assistência do Espírito que perdura até ao fim dos tempos.

Encontrará novamente o seu verdadeiro núcleo na fé e na oração e voltará a experimentar os sacramentos como culto divinonão como um problema de estruturação litúrgica. Será uma igreja internalizada, não reivindicando o seu mandato político e flertando tão pouco com a esquerda como com a direita. Será uma situação difícil. Porque este processo de cristalização e clarificação irá custar-lhe muitas forças valiosas.

Empobrecê-la-á, transformá-la-á numa igreja do pequeno povo.. O processo será ainda mais difícil porque tanto o estreito preconceito sectário como a obstinação jactanciosa terão de ser suprimidos. Pode prever-se que tudo isto levará o seu tempo. O processo será longo e árduo. [...] Mas após a provação destas lágrimas, uma grande força emergirá de uma Igreja internalizada e simplificada.. Para os homens de um mundo total e totalmente planeado, será indizivelmente solitário. Quando Deus tiver desaparecido completamente para eles, eles experimentarão a sua pobreza total e horrível. E depois descobrirão a pequena comunidade de crentes como algo completamente novo.

Como uma esperança que surge no seu caminho, como uma resposta que sempre procuraram no oculto. Por isso, parece-me certo que se avizinham tempos muito difíceis para a Igreja. A sua verdadeira crise ainda não começou. Há choques graves a serem contabilizados. Mas também tenho a certeza absoluta de que permanecerá até ao fimnão a Igreja do culto político, mas a Igreja da fé. Deixará de ser o poder dominante na sociedade na medida em que tem sido até há pouco tempo. Mas irá florescer novamente e tornar-se-á visível para as pessoas como uma pátria que lhes dá vida e esperança para além da morte".

O autorJaime Fuentes

Bispo emérito de Minas (Uruguai).

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Corpus Christi em San Pedro

O Papa abençoa com o Santíssimo Sacramento no final da Missa na Solenidade de Corpus Christi na Basílica de São Pedro, que foi assistida por 50 pessoas devido às medidas Covid19.

Maria José Atienza-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: < 1 minuto
Ecologia integral

São João Paulo II e os problemas da economia

O economista Amartya Kumar Sen (Índia, 1933) recebeu há alguns dias o Prémio Princesa das Astúrias 2021 para as Ciências Sociais. Neste artigo, Juan Velarde dá conta da sua participação na redacção da encíclica Centesimus Annuspor S. João Paulo II.

Juan Velarde Fuertes-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 7 acta

Naturalmente, após a Ascensão de Jesus ao Céu, a Igreja ficou continuamente preocupada com todos os problemas que a humanidade está a enfrentar, especialmente os económicos. Em Espanha, basta recordar o que, em relação ao crédito e à justificação da cobrança de taxas de juro, deu origem a um amplo debate que se desenvolveu, em grande medida, em torno da Universidade de Salamanca.

Mas tudo isto relacionado com a economia sofreu uma mudança extraordinária na passagem do século XVIII para o século XIX, como consequência do que então surgiu precisamente, e de uma multiplicidade de pontos de vista. No campo científico, é evidente que o grande revolucionário foi Adam Smith, que sempre se manteve afastado das questões teológicas, e que na sua biografia não parece ter estado preocupado com elas, talvez como consequência do caos que surgiu na Escócia após a revolução puritana, o que lhe dificultou a manutenção das suas próprias atitudes religiosas.

Recordemos, além disso, que tudo isto estava ligado ao nascimento de sociedades secretas, e de uma divulgação intelectual que se recusava a seguir os conselhos do Papado. E esta economia, que nasceu com todos estes complementos simultâneos, veio a orientar o desenvolvimento geral em duas esferas: a britânica, em relação à Revolução Industrial - uma novidade extraordinária - e, do lado político e social, a francesa, com o sucesso que a Revolução acabou por ter.

E, como resultado da ligação contínua entre estas novidades, cria-se a nova realidade, que se soma a um extraordinário progresso científico; desde a matemática, à física ou à biologia, uma novidade que também afecta o que acontece no campo do factor trabalho. Neste último, a resistência, mesmo violenta, logo apareceu a mensagens que, antes de atraírem forte atenção, geraram um estremecimento. Como consequência adicional, a indignação social tinha ganho um importante apoio científico sob a forma de Karl Marx, e o materialismo histórico não estava exactamente no caminho certo para o catolicismo.

Rerum Novarum

Além disso, na Europa, um conjunto de nacionalismos estava a criar raízes que procuravam o seu apoio doutrinário muito afastado do que a teologia tinha mantido. Acrescente a tudo isto um novo facto político: a Itália tinha nascido, como nação conjunta e independente, com abordagens básicas radicalmente opostas à Igreja, devido à existência dos chamados Estados Papais, que desapareceram na guerra e o Papa tornou-se prisioneiro, em Roma, do novo regime político aí nascido.

Face a este panorama, Leão XIII veio ao Papado, procurando algum tipo de acordo diferente daquele que, por exemplo, em Espanha, através da guerra, tinha sido procurado pelo Carlismo, com base no seu catolicismo. Foi necessário reagir contra esta variedade de situações inimigas, e essa foi a justificação lógica para Leão XIII, a fim de estabelecer a mensagem da Igreja no meio destas novidades, lançar uma encíclica com um nome muito significativo, porque era necessário reagir contra esse conjunto de situações, mesmo as muito hostis. Para este fim, do ponto de vista filosófico, foram procurados pontos de apoio, nos quais a encíclica se baseava. Rerum Novarum

Pouco a pouco, a Rerum Novarum descobriu que, por um lado, havia um forte avanço na ciência económica, especialmente do ponto de vista microeconómico, com contribuições tão notáveis como as de Walras e Pareto. Assistimos então à consolidação de uma grande ciência económica britânica - basta pensar que, por exemplo, nada menos que o filho de um espanhol, Francis Ysidro Edgeworth, estava a contribuir com inovações notáveis - para não mencionar uma série de grandes economistas que viajavam para a glória num certo grande veículo descrito, mais tarde, por Schsumpeter.

Por outro lado, este corpo crescente de grandes economistas estava a desenvolver a sua ciência de uma forma verdadeiramente colossal. E dele saíam também linhas heterodoxas. Em particular, a procura de uma nova forma de resolver a questão social criou a corporativismoA Igreja Católica, que se enraizou numa multiplicidade de abordagens políticas conservadoras, simultaneamente encarou o catolicismo com simpatia.

Quadragesimo Anno

Esta última disposição geral deparou-se com um facto político importante: o Papa tinha sido politicamente libertado pelo Tratado de Latrão, desenvolvido por Mussolini, que, por sua vez, considerou satisfatório que o caminho do corporativismo existisse para este fim a fim de refrear os avanços derivados do marxismo.

Sem tudo isto, é difícil compreender que este novo Papa, Pio XI, com uma encíclica que já está muito longe da Rerum Novarumpublicado com notável sucesso o Quadragesimo Annoque pretendia ser uma projecção para uma nova situação muito mais recente do que a de Leão XIII.

Na ciência económica, tinham sido feitos progressos notáveis de vários tipos. Desde Cournot, a microeconomia tinha feito progressos na análise de situações de monopólio, o que levou a novos progressos no domínio da teoria da concorrência imperfeita.

O progresso da teoria económica foi colossal, e a ligação do corporativismo ao nacionalismo económico e ao proteccionismo levou todo um gigantesco grupo de investigadores a salientar que este caminho levaria inevitavelmente a um precipício que destruiria qualquer pessoa que o seguisse, por muito popular que fosse o seu líder, como foi o caso na altura com o Manoilescu romeno. Mas as raízes da Igreja Católica, numa multiplicidade de aspectos intelectuais, pareciam estar consolidadas por esta linha. Basta assinalar, em Espanha, tudo o que o padre jesuíta Azpiazu desenvolveu em numerosas obras, cursos e polémicas.

São João Paulo II

Os laços políticos resultantes do corporativismo durante a Segunda Guerra Mundial foram associados a um progresso notável na macroeconomia, através de modelos que permitiram aos decisores políticos serem guiados em todos os momentos.

A mudança tornou-se radical da ciência económica, e o mesmo acontece com o contexto político, que parece estar ligado de alguma forma - por vezes até muito fortemente - à encíclica Quadragesimo Anno. Daí a extraordinária coragem de São João Paulo II, de dar um salto extraordinário por ocasião do 100º aniversário do Rerum Novarum.

Neste contexto, vale a pena referir um evento. São João Paulo II percebeu o notável progresso da ciência económica e como isto teve um impacto triplo. Em primeiro lugar, promover o desenvolvimento económico, que era muito visível em todo o mundo europeu não ligado ao comunismo, e também nas extensões do mundo ocidental que existiam, desde os Estados Unidos ou Nova Zelândia até ao Japão. Mas também surgiu uma variante dentro da Igreja no mundo ibero-americano, à qual foi dado o nome de Teologia da Libertação. A base científica estava na chamada estruturalismo económico latino-americanoA União Europeia, que se considerava um inimigo radical das abordagens económicas triunfantes no referido mundo da Europa, América do Norte e Japão, foi também considerada necessária para levar a cabo uma verdadeira revolução política e social com tons heterodoxos. Ao mesmo tempo, consideraram necessário que ele realizasse uma verdadeira revolução política e social cheia de tons heterodoxos, o que naturalmente alarmou Roma.

Uma reunião no Vaticano

Face a esta situação, ocorreu uma mudança radical, da qual tomei amplo conhecimento como resultado de uma longa conversa em Madrid com Amartya Sen, um grande economista que ganhou o Prémio Nobel da Economia e que foi agora galardoado com o Prémio Princesa das Astúrias 2021 para as Ciências Sociais. Amartya Sen disse-me que estava surpreendido, no campo da economia, com o apelo do Pontífice para uma reunião conjunta a realizar no Vaticano.

Praticamente todos os convidados consideraram que, deixando de lado as suas próprias ideias religiosas, deveriam participar na reunião. A lista de convidados ilustres ia de Kenneth Arrow, que tinha ganho o Prémio Nobel da Economia em 1972, a Anthony Atkinson, um ilustre professor da famosa London School of Economics and Political Science, a Parta Dasgupta, da Universidade de Stanford; incluía também Jacques Drèze, da Universidade Católica de Lovaina, que teve uma grande influência na formação de destacados economistas espanhóis, sem esquecer Peter Hammond, também da Universidade de Stanford.

Mas a Universidade de Harvard não podia estar ausente, com a presença de Henrik Houthakker; nem a Universidade de Chicago, com nada menos que Robert Lucas; e, da Europa, o membro do Colégio de França, o grande Professor de Análise Económica, Malinvaud; Horst Sievert, do famoso Instituto de Estudos Económicos Mundiais de Kiel; o japonês, da Universidade de Tóquio, Hirofumi Uzawa; e também, na lista existente estava o então Professor Amartya Sen, da Universidade de Harvard. Economistas de importantes centros de ensino em Itália e na Polónia também participaram na reunião; não foram convidados espanhóis.

Centesimus Annus

Amartya Sen salientou-me que todos eles se reuniram em discussões sobre pontos-chave, que deveriam ser notados pelo Papa e por vários clérigos superiores, para inclusão na futura encíclica, que seria a Centesimus Annus.

Para tal, discutiram longamente orientações, frases concretas, pontos apropriados, continuamente guiados pelo Pontífice, em relação a assuntos de grande importância, o que quase os obrigou, por vezes, a envolverem-se em polémicas intensas; mas foi também o próprio Santo Padre que, com ironia, e com muita simpatia e agudeza, participou nas colóquios e guiou soluções valiosas. Amartya Sen nunca deixou de me elogiar pelas suas reacções e pela sua inteligência. Sublinhou também o nascimento da abertura da economia de mercado livre, que deveria ser transformada a partir desse debate num texto muito valioso.

Uma indicação do tom geral dos elogios de Amartya Sen pode ser encontrada numa carta de Robert Lucas, onde ele observou que São João Paulo II sustentava consistentemente que "o subdesenvolvimento depende tanto da precariedade dos direitos civis como dos erros económicos", e que também assinalou a toda a reunião que não era "um conhecedor de obras técnicas sobre economia, nem sentia que era dever da Igreja prescrever soluções técnicas para questões económicas"; Mas na encíclica que estava a ser preparada, era necessário contemplar as ligações que deveriam existir entre a doutrina social da Igreja, a disposição especial de cada Pontífice e o mundo do século XXI, com todas as suas controvérsias. 

Isto explica porque, em contraste com a doutrina acima referida, conhecida como a Teologia da LibertaçãoNa encíclica, a admissão do capitalismo como consequência da economia de livre mercado é claramente afirmada. A redacção exacta da encíclica foi a seguinte: "Se por 'capitalismo' se entende um sistema económico que reconhece o papel fundamental e positivo do comércio, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, bem como da livre criatividade humana no sector económico, a resposta é certamente afirmativa ... Agora se por capitalismo de mercado se se compreender um sistema onde a liberdade do sector económico não é contida por um quadro jurídico firme que a coloca ao serviço da liberdade humana como um todo, e a concebe com um aspecto particular dessa liberdade, cujo núcleo é ético e religioso, então a resposta é claramente negativa". A ligação com a tese nascida por um grupo de economistas alemães e à qual foi dado o nome de economia social de mercadofoi muito claro.

Desta forma, a ligação com a ciência económica ortodoxa brilha, e se procuramos a conduta moral correcta para uma política económica séria em São João Paulo II, temo-la, como me insistiu Amartya Sen, na sua conversa muito elogiosa. Por esta razão, merece um aplauso especial dos católicos, não por ser católico, mas porque merece receber o Prémio Princesa das Astúrias 2021 para as Ciências Sociais em Oviedo.

O autorJuan Velarde Fuertes

Presidente Honorário da Academia Real de Ciências Morais e Políticas

Experiências

Jacques Philippe: "A pandemia mostrou a fragilidade da civilização ocidental".

O autor de obras notáveis sobre espiritualidade reflectiu sobre o Fórum organizado por Omnes em Maio, sobre a oração e a vida cristã de hoje, numa situação difícil causada pela pandemia global do coronavírus.

David Fernández Alonso-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 9 acta

Na edição de Abril do mesmo ano, Omnes publicou uma extensa entrevista com Jacques Philippe, na qual falou connosco sobre vários temas actuais, tais como a espiritualidade em tempos difíceis, como os que vivemos durante este tempo de pandemia, sobre o sofrimento, sobre a figura de São José, sobre alguns dos temas que aborda nos seus numerosos livros, ou sobre a oração no mundo de hoje. 

Jacques Philippe é sem dúvida um dos autores espirituais mais conhecidos do nosso tempo. Natural da cidade francesa oriental de Metz, onde nasceu em 1947, estudou matemática e ensinou até se juntar à Comunidade das Bem-aventuranças em 1976. Depois de viver na Terra Santa durante alguns anos, estudando o hebraico e as raízes judaicas do cristianismo, mudou-se para Roma onde foi responsável pela nova fundação da Comunidade em Roma e estudou teologia e direito canónico.

Sacerdote desde 1985, o seu trabalho centra-se na formação espiritual, quer no seio da comunidade das Bem-aventuranças, quer com os milhares de pessoas que descobriram novos caminhos de vida interior através das suas obras, distribuídas por todo o mundo. Nos últimos anos, visitou também muitos países, pregando retiros para pessoas de todos os estratos sociais e para todos os tipos de trabalho dentro da Igreja. Uma tarefa que, apesar da pandemia, tem continuado a fazer através de vários meios digitais.

Um mês após essa entrevista, na tarde de quarta-feira, 12 de Maio, o Fórum Omnes com Jacques PhilippeO evento contou com a participação de um grande número de espectadores que acompanharam o webcast ao vivo no Canal YouTube de Omnes. Durante o Fórum organizado por OmnesPhilippe abordou algumas das questões que também emergiram dessa conversa, tais como a presença ou ausência de Deus, a oração do cristão, a existência do mal, ou questões que surgiram na vida das pessoas durante a pandemia.

Os limites da civilização

O Padre Philippe iniciou o seu discurso referindo-se à situação que o mundo tem vindo a atravessar durante a pandemia, e como esta tem afectado as pessoas, particularmente os cristãos. Ele levantou a questão de como a actual situação pandémica desafia a nossa vida espiritual, a nossa vida cristã. "De certa forma", ele começou, "Esta situação tornou a nossa vida cristã mais difícil, devido à dificuldade em celebrar ou assistir à Eucaristia, em encontrar a família e amigos, à solidão a que muitas pessoas foram obrigadas, etc. Tem sido um desafio para a nossa vida cristã". 

Este desafio também teve efeitos positivos para alguns, disse Philippe, pensando no grande número de pessoas que se comprometeram a continuar a rezar em conjunto, a comunicar em linha, a ter tempo para reflectir. "Tenho recebido muitos pedidos de retiros e entrevistas online."disse ele. Além disso, "Para muitas pessoas, este tempo serviu para reforçar as relações no seio da família, nas comunidades em que passaram aqueles dias de pandemia".

Fazendo uma observação mais global, Philippe afirmou que ".a pandemia mostrou os limites e a fragilidade da civilização ocidental, uma situação que levou a nossa sociedade a substituir o real pelo virtual.". Contudo, isso não é suficiente, comentou durante a reunião. Precisamos do real, do experiencial, da proximidade física dos nossos entes queridos, de outras pessoas: "Precisamos do real, do experiencial, da proximidade física dos nossos entes queridos, de outras pessoas.Percebemos que isto não é suficiente, que um encontro físico é necessário. Isto também nos faz lembrar a dimensão física e corporal do espiritual.". 

Vulnerabilidade e fragilidade têm sido uma constante no ano e meio desde que a pandemia de coronavírus surgiu: "...as pessoas mais vulneráveis e frágeis do mundo têm sido as mais vulneráveis e frágeis do mundo".Num mundo tentado pela ilusão da omnipotência da tecnologia, temos experimentado cada vez mais os limites da ciência e da tecnologia, o que nos tem recordado uma certa humildade. Recordou-nos a fragilidade das nossas sociedades, que tinham tendência a acreditar que eram todo-poderosas.". 

Uma reflexão que encontramos complementar àquela que fiz nas páginas que publicámos em Abril: "...".A fragilidade, mesmo a impotência, que experimentamos lembra-nos que a fé não é o exercício do poder, mas a entrega da nossa fraqueza e fragilidade nas mãos de Deus. Esta situação de fraqueza que estamos a atravessar convida-nos a não procurar a nossa segurança no nosso próprio poder, na nossa capacidade de a resolver ou de a compreender, mas a colocar a nossa segurança no confiante abandono nas mãos do nosso Pai Celestial, como o Evangelho nos propõe.".

Philippe sugere frequentemente nas suas obras algumas questões que não deixam ninguém indiferente. Também na tarde de 12 de Maio, quis sugerir um simples exame de consciência: "...o que é que precisamos de fazer?Parece-me que a pergunta a fazer, como sempre em situações difíceis, não é tanto a pergunta: 'Porquê esta situação', mas a pergunta: 'Como posso viver esta situação de uma forma positiva? De que forma me chama a crescer, a evoluir, até mesmo a tornar-se o modo de vida que é meu? Cabe a cada pessoa encontrar a resposta a esta pergunta, para finalmente descobrir o apelo que Deus lhe dirige hoje através desta situação". 

Onde está Deus?

"Qual tem sido o papel de Deus nesta situação?"perguntou o Padre Philippe. Deus por vezes permite situações difíceis para que as pessoas possam confiar mais nele, para que possamos abandonar-nos a ele e confiar na sua providência. De facto, em situações difíceis, disse Philippe, o importante é como enfrentamos essa situação, e como a aproveitamos para nos orientarmos para o bem que Deus espera de nós. 

"É evidente que, neste contexto"continuou, "Onde a nossa fragilidade é evidente, encontramos um apelo a apoiarmo-nos no Senhor, que é a nossa rocha, a nossa força. Em situações difíceis Deus torna-se mais próximo de nós". Na Páscoa, lemos o evangelho dos discípulos de Emaús. Um modelo que o Padre Philippe utilizava para mostrar como Deus age em tempos de desânimo. "Eles estão desanimados e Jesus vem e explica-lhes as Escrituras. Dá-lhes a força para regressarem a Jerusalém fortalecidos pelo encontro com Cristo. Isto é o que precisamos de fazer nestes tempos difíceis. Cristo alimenta-nos, enche-nos de força".

O Padre Philippe assegurou que "em tempos difíceis, Deus torna-se mais próximo. Deus tornar-se-á ainda mais e mais presente nos tempos vindouros. Jesus caminhará connosco, como fez com os discípulos no caminho de Emaús. Creio que em tempos futuros haverá cada vez mais experiências de Emaús, de Jesus acompanhando os seus discípulos e fortalecendo-os"..

"Este tempo de pandemia é, portanto, um convite para seguir Jesus Cristo, para o encontrar, para falar com ele.". Um tempo, segundo estas linhas, também para estarmos muito atentos uns aos outros.

A Eucaristia, um verdadeiro encontro com Deus

Por outro lado, Philippe salientou que para os cristãos, a Eucaristia, que durante aqueles dias de prisão foi um sacramento do qual muitos foram privados, é o lugar por excelência do encontro com Deus. É um momento em que podemos acolher a presença de Deus. Na verdade, o Padre Philippe afirmou que ".muitos cristãos têm sido muito criativos em manter as suas vidas cristãs activas".

A Eucaristia, a presença real do Senhor, é o centro da vida cristã. "Durante esses dias de pandemia, podíamos encontrar Cristo através da comunhão espiritual."disse o Padre Philippe. Contudo, não foi suficiente, precisamos da presença do Senhor no sacramento da Eucaristia. Talvez esta situação nos tenha ajudado a ".para redescobrir a importância e a beleza desta presença que nos tranquiliza. É disto que mais precisamos hoje em dia, da presença de Jesus connosco e em nós.". 

Além disso, juntamente com a Eucaristia, o encontro por excelência com Jesus Cristo, ".também pode haver um encontro com o Senhor quando lemos as escrituras". Voltando ao exemplo dos discípulos de Emaús, cujos corações arderam ao ouvirem o Senhor explicar as Escrituras, "... eles não tiveram medo de O ouvir.Hoje em dia, com tanta confusão, precisamos de uma palavra de verdade. Uma palavra de amor e verdade, que encontramos na Bíblia.". E há muita graça do Espírito Santo na leitura da Palavra de Deus. "A passagem de Emaús é uma bela catequese sobre as Escrituras. Fica connosco, Senhor, pois é noite e o dia está a chegar ao fim.' perguntaram-lhe eles. Mas Jesus Cristo não só permaneceu connosco na Eucaristia, mas também na Eucaristia. Ele deu-nos mais do que lhe pedimos: Ele permaneceu na Eucaristia e nos nossos corações em graça.".

Uma chamada para estar perto dos outros

Jacques Philippe continuou a sua intervenção falando de uma consequência lógica deste apelo à proximidade com Deus: o apelo a estar próximo dos outros. "Um apelo a estar mais atentos e presentes uns aos outros. De facto, se os discípulos de Emaús foram recebidos por Jesus, foi porque havia dois deles caminhando juntos, partilhando, fazendo perguntas... Temos de perceber até que ponto a caridade para com os outros nos põe realmente em contacto com o próprio Deus"..

Como lemos frequentemente nas suas obras espirituais, durante este tempo de conversa Philippe também se voltou para a Sagrada Escritura para ilustrar esta ideia: "...as Escrituras são para nós uma fonte de inspiração.Há muitas frases bíblicas onde se nota a importância da proximidade com os outros: em Mateus 25, 'tudo o que fizestes pelo menor dos meus irmãos, fizestes por mim'; em Marcos 9,37, 'quem acolher uma criança assim em meu nome, acolhe-me. E quem me acolhe, acolhe não a mim, mas a quem me enviou". O menor gesto de atenção, de serviço, um sorriso dado a outro, tudo isto é directamente dirigido a Deus e coloca-nos em contacto com Ele.". 

Desta forma, sair de nós próprios abre-nos para receber o Espírito Santo. "Por vezes há uma verdadeira efusão do Espírito Santo", reflecte Philippeum pequeno Pentecostes que tem lugar quando amamos verdadeiramente aquele que o Senhor coloca no nosso caminho. Quando Mary saiu para se encontrar com a sua prima Isabel, produziu um pequeno Pentecostes quando se conheceram. Não é uma questão de quilómetros, mas de sairmos de nós próprios para irmos em direcção ao outro, abre-nos ao Espírito Santo.".

Concluiu o seu discurso recordando-nos os meios que temos para nos unirmos ao Senhor: ".Agradeçamos ao Senhor por todos os meios simples e eficazes que temos de estar em contacto com Ele: através da fé, da oração, da Eucaristia, da escuta da Palavra, de gestos de caridade, de estar em contacto real com Deus, e da graça do Espírito Santo que actua em nós. Ele ilumina-nos, conduz-nos, purifica-nos, cura-nos... Rezemos por um novo Pentecostes na Igreja e no mundo.".

A grandeza da vida cristã

No final da sua palestra, foi aberta uma agradável discussão com perguntas da audiência. Algumas destas questões tinham o mistério do mal como um denominador comum. O Padre Philippe afirmava que "a grandeza da vida cristã é que de qualquer mal há bem a ganhar. Oportunidade de crescer, de estar mais perto de Deus.".

A questão mais importante é como o mal pode ser enfrentado confiando no Senhor, para que o bem possa emergir dele. Se Jesus Cristo ressuscitou, o bem prevalece. É claro, "Numa situação de crise, algumas pessoas reagem positivamente e reforçam a sua fé. Outros, por outro lado, podem desviar-se da fé. Neste caso, devemos sempre rezar por estas pessoas e pedir a Jesus que venha ao seu encontro.".

"Fé, oração, eucaristia, escuta da Palavra, comunhão fraterna. Todos estes meios são-nos propostos a fim de acolher a presença de Deus.".  

Liberdade, um sinal da presença de Deus

Na mesma linha, a uma questão em relação à liberdade humana, em que vemos que há pessoas que seguem o caminho certo, mas outras escolhem um caminho diferente e talvez errado, Philippe comentou que "... há pessoas que seguem o caminho certo, mas outras escolhem um caminho diferente e talvez errado.a nossa liberdade é um verdadeiro sinal da presença de Deus"..

"O facto de sermos livres"continuou Philippe,"é uma manifestação de que Deus nos respeita, porque Ele respeita a nossa liberdade. Mas depende de como usamos a nossa liberdade. Se o usarmos para amar, tornamo-nos cada vez mais livres, e essa liberdade é mais bela. Deus torna-se mais presente nestes casos. Porque dirigimos a nossa liberdade para Deus, e Deus torna-nos mais felizes. No entanto, se abusarmos da nossa liberdade, acabamos por a perder.". 

Outra questão foi dirigida para a luta interior, a postura face às dificuldades e o combate espiritual. Philippe declarou que "As dificuldades são um apelo ao combate. Mas devemos recordar que não estamos sozinhos nesse combate, mas que Deus está no centro desse combate. Precisamos de identificar os inimigos nas nossas vidas a fim de combater a luta. Preservar a nossa relação com o Senhor durante esta batalha é crucial para a vitória. Com esse contacto com o Senhor, teremos a força para lutar e para nos erguermos. Mesmo que haja derrotas, se se estiver com o Senhor, não se desanima nem se desencoraja. Porque a guerra já foi ganha. A força é-nos dada pela certeza da vitória do Cristo ressuscitado.". 

Durante este tempo de discussão, alguns membros da audiência estavam interessados na própria vocação do Padre Philippe. "Eu era um crente desde criança, sem qualquer desejo ou preocupação especial. Eu era apaixonado pela física, por isso queria estudar uma carreira na ciência. Durante esse tempo, fui convidado para um retiro espiritual.

"De uma forma surpreendente, disse o Padre PhilippeDurante este retiro, "recebi o apelo do Senhor com uma força extraordinária. Resisti um pouco, mas compreendi que quando Deus chama, é sempre necessário responder afirmativamente. Mais tarde descobri que o caminho seria tornar-se padre. Foi um período difícil, Maio de 1968, quando muitos padres deixaram o ministério. Alguns anos mais tarde descobri a Comunidade das Bem-aventuranças, compreendendo que seria a minha vocação. Entrei para a Comunidade, e mais tarde fui ordenado sacerdote. O mais importante para mim era ter aquela vida espiritual com o Senhor a que Ele me conduziu.".

Assim concluiu um interessante Fórum com o autor, que já é um clássico da espiritualidade.

Iniciativas

Um clube de motoqueiros. Peregrinos da Virgem

É uma impressão singular encontrar um grande grupo de motos na estrada, onde as pessoas que gostam de andar em duas rodas se divertem claramente. Fazem viagens para estar juntos, para descobrir novas paisagens, ou... para honrar a Virgem Maria.

Antonio Espinosa-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

Há quem pense que os motociclistas não são pessoas fiáveis, que somos uma subespécie de gorilas de estrada, amantes do barulho, viciados nos efluentes de couro e gasolina, mascarados da estrada, ou presumivelmente envolvidos nos crimes mais hediondos. E nada poderia estar mais longe da verdade. Além disso, é provavelmente o grupo cuja solidariedade na estrada está no seu ponto mais intenso.

Há mais de dez anos, formamos um clube de motociclismo peculiar. Foi em Julho de 2006 quando alguns amigos tiveram a ideia de viajar de Madrid para Valência para assistir à visita de Bento XVI, por ocasião do Dia Mundial das Famílias.

As autoridades assinalaram que seria difícil chegar ao local do evento se chegássemos de carro, por isso, dado o nosso amor comum pelas motos e as suas inúmeras vantagens, na noite anterior à nossa decisão de fazer a viagem em duas rodas, o que nos permitiu finalmente assistir à Santa Missa quase na fila da frente. Foi uma primeira viagem, e divertimo-nos tanto que decidimos repeti-la pelo menos uma vez por ano.

Pensamos que uma boa razão poderia ser honrar a Virgem Maria, visitando um dos muitos santuários dedicados a ela para rezar o Santo Rosário. Foi assim, e em Maio de 2007 escolhemos o santuário da Virgem de Sonsoles em Ávila como destino para a nossa primeira peregrinação de motociclistas. Este foi o início de Motorromeros, uma aventura que ao longo do tempo se transformou num grande clube de motociclistas que só têm de preencher três condições para se juntarem a nós: paixão por motos, devoção à Virgem e ter participado numa motorromeria.

Como a Espanha é a terra de Maria, como São João Paulo II tão apropriadamente a definiu, visitámos muitos santuários e santuários à beira do caminho dedicados à Virgem Maria, traçámos muitas curvas e rezámos muitas Ave-Marias. E isto permitiu-nos forjar laços de amizade que vão para além do nosso passatempo comum.

Fazemos principalmente pequenas viagens aos sábados de manhã para destinos próximos de Madrid, mas uma ou duas vezes por ano fazemos viagens de fim-de-semana que nos levam a lugares como Covadonga, Aránzazu, Torreciudad, El Pilar, La Virgen de la Cabeza, El Rocío, Lourdes ou Fátima. Fizemos também peregrinações a Santiago em várias ocasiões, e estamos agora a embarcar numa peregrinação a Santiago por etapas desde Roncesvalles, que, se Deus quiser, completaremos no ano jubilar.

Por outro lado, como os motociclistas são geralmente mais amigos das estradas secundárias do que as auto-estradas, temos visto muitos lugares bonitos que compõem a geografia espanhola e que nunca teríamos visto de outra forma.

Foi com grande alegria que recebemos a notícia da dedicação do ano de São José pelo Papa Francisco, porque o tivemos como nosso santo padroeiro durante alguns anos e a ele nos confiamos. Fizemos dele o nosso santo padroeiro por duas razões principais. Primeiro, porque estava profundamente apaixonado por Maria, e nisto queremos imitá-lo, e segundo, porque tinha um burro fiel para as suas viagens. Nós - para usar o jargão do motociclista - montamos num "burro" e, só por essa razão, somos um pouco como ele.

Para além de São José, desde o início que vivemos a protecção do Arcanjo São Rafael, santo padroeiro de todos os motociclistas. Ele tirou-nos de tantas confusões que, se as escrevêssemos uma a uma, não creio que nem o mundo pudesse conter os livros que teriam de ser escritos. Para contar apenas um, temos o hábito, no início de cada passeio, de lhe dizer a "oração do motociclista", invocando a sua protecção.

Em 2013, por ocasião do Ano Jubilar da coroação canónica de María Santísima de la Esperanza Macarena, fomos a Sevilha para a visitar. No regresso, fizemos uma paragem em Córdova, onde parámos na catedral para celebrar a Eucaristia.

O bom de andar de mota é que se pode estacionar na própria porta do local para onde se vai, e assim fizemos, pois não havia nenhum sinal ou sinal para nos impedir de o fazer. No entanto, ao sair da catedral, ficámos surpreendidos ao ver uma prescrição da Polícia Municipal em cada bicicleta. Aparentemente, era proibido estacionar nas proximidades. Nessa viagem, aconteceu que, na nossa pressa, não dissemos a oração a São Rafael quando saímos, e quando vimos as multas disse ao Padre que esta surpresa desagradável só poderia ser devida ao nosso esquecimento fatal. Ele concordou comigo e, como São Rafael é o guardião de Córdoba e tem um monumento a poucos metros da catedral, fomos lá para reparar o nosso erro e invocar a sua ajuda. Era a mão de um santo, ou melhor, a mão de um anjo, porque ao concluirmos o amém, dois motociclistas municipais apareceram numa encruzilhada e pararam exactamente ao pé do Arcanjo onde estávamos. Fui ter com eles para lhes explicar a situação, e eles retiraram as multas, que agradecemos ao patrono e permitimos que terminássemos alegremente o percurso. Desde então, nunca deixámos de o invocar em todas as saídas. Tivemos melhor.

Em qualquer caso, a que mais nos protege é Maria, e não apenas dos percalços na estrada, que graças a ela quase nunca tivemos, mas porque ela nos aproximou um pouco mais de Nosso Senhor, como ela sempre faz. Vamos sempre ter com Ele e voltamos a Ele através de Maria.

Desde o início desta loucura, o clube sempre esteve ligado de alguma forma ao sacramento do casamento, porque ao longo da nossa curta história houve muitas vezes em que, ao chegar a casa de Maria, nos encontramos alegremente num casamento. Por esta razão, decidimos incorporar uma nova tradição no clube, a de acompanhar as filhas de todos os motociclistas que decidem aproximar-se do altar para se casarem. Isto foi o que fizemos há alguns meses com Joana, filha de Alberto, que ficou surpreendida ao encontrar um grande grupo de motoqueiros à porta da sua casa, a caminho da igreja. O pai dela estava prestes a deixar a filha no carro do casamento para se juntar à escolta, incluindo as caudas.

E ainda sobre o tema das escoltas, propusemos aos organizadores desta fantástica iniciativa de María Ven de escoltar a Virgem em Madrid em Outubro próximo, no final da sua peregrinação por Espanha no Cerro de los Ángeles.

Quando ouvimos falar do evento, pensámos que, se isso acontecesse, ficaríamos honrados, e se finalmente nos desse o seu consentimento, teríamos todo o prazer em acompanhá-lo.

Já somos mais de cem membros do clube, e se há uma coisa de que estamos convencidos é que o amor pela Virgem e andar de mota ajuda muito a chegar a um bom destino.

O autorAntonio Espinosa

Cinema

Encontre a sua alma na Terra Santa

Patricio Sánchez-Jáuregui-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

Terra Santa. O último peregrino

EndereçoAndrés Garrigó, Pablo Moreno
RoteiroPedro Delgado, Andrés Garrigó, Benjamin Lorenzo
PaísEspanha
Ano: 2021

Andrés Garrigó, um regular no cinema piedoso, produtor e/ou realizador de títulos tais como Fátima, O último mistério, Coração ardente, y Povedarepete o tandem com Pablo Moreno (Claret, Red de Libertad, etc.) para nos trazer um filme que combina dois géneros, ficção e documentário.

No lado fiction, o filme conta a história de uma família cristã espanhola que vive numa agradável zona residencial nos arredores de Madrid. Do lado documental, o filme mostra o testemunho de pessoas que nos falam sobre a Terra Santa: um franciscano, director de uma escola em Belém, um cristão palestiniano de Samaria, uma freira do Verbo Encarnado de Belém, vários frades, um guia peregrino, um jornalista e vários convertidos e missionários. Todos eles são apresentados através do fiction desta família de Madrid que, por insistência da sua mãe, que acaba de ganhar uma lotaria, acaba por viajar relutantemente para a Terra Santa. Esta viagem servirá como ponto de partida para os aproximar e dar um novo significado às suas vidas.

O filme apresenta uma fórmula interessante, que integra com mais ou menos sucesso a narrativa documental com a narrativa fiction, embora esta última precise de uma oportunidade para se afundar: a dramatização das performances contrasta com a veracidade dos testemunhos, o que retira muito do apelo da obra, uma vez que os entrevistados não precisam de muito mais do que as suas palavras e simplicidade para penetrar profundamente nas almas daqueles que ouvem. Isto está associado à história da Terra Santa, desde o tempo de Jesus, e aos testemunhos sobre o legado e continuidade do cristianismo, e ao que significa para os cristãos ir em peregrinação aos lugares santos.

Embora por vezes tenha uma utilização demasiado omnipresente da música, que encobre um pouco o filme, o guião é simples e goza de uma gama díspar de protagonistas que facilita o alcance de um público mais vasto. Terra Santa. O Último Peregrino é, em definitive, um filme agradável. Filmado com simplicidade, leva-nos através dos lugares que já ouvimos tantas vezes nas escrituras sagradas, e convida-nos a seguir o apelo da terra onde tudo começou, semeando, com as palavras daqueles que já o fizeram, inquietude no espectador.

Mundo

Pentecostalismo em África: Está aqui para ficar?

O Pentecostalismo tomou conta do continente africano com uma ênfase pronunciada nas experiências externas, cumprindo algumas das mesmas funções sociais que as principais igrejas. Contudo, será que o crente não ansiará por algo mais profundo e duradouro?

Martyn Drakard-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 8 acta

Se um visitante de fora de África regressasse agora, após uma ausência de - digamos - 30 anos, ficaria surpreendido com as grandes mudanças na "paisagem" religiosa. Na sua primeira visita teria conhecido um quadro tradicional das missões católicas e das igrejas protestantes convencionais. Agora encontraria igrejas e capelas carismáticas e evangélicas em quase todas as esquinas de rua. 

Tanto amigos como inimigos admitem que este tipo de cristianismo está a propagar-se em África mais rapidamente do que qualquer outro, e a África Centro-Este de língua inglesa e os Grandes Lagos (Quénia, Ruanda, Tanzânia e Uganda) não são excepção. Por exemplo, no bloco onde vivo em Nairobi, antes do advento da covida, quatro dessas igrejas competiam tanto em número como em ruído. Nos arredores do quarteirão existem também duas igrejas católicas (uma bastante nova) e uma igreja anglicana (também bastante nova).

Como surgiu tudo isto, como é que estas igrejas se tornaram tão proeminentes e qual é o seu apelo?

Origens do Pentecostalismo

Para começar, o Pentecostalismo não é novidade em África. O primeiro missionário pentecostal a chegar ao Quénia veio da Finlândia em 1912, quando o que é hoje o Quénia fazia parte de um protectorado britânico. No mesmo ano, surgiu um movimento carismático, chamado o Roho ("espírito" em suaíli), entre alguns convertidos anglicanos da região. Em 1918, os missionários americanos estabeleceram uma missão que mais tarde se associou à Assembleia Pentecostal do Canadá. Em 1965, pouco depois de o Quénia se ter tornado um país independente, as suas igrejas também se tornaram independentes e passaram a chamar-se Assembleias Pentecostais de Deus. Em 2002, a África Oriental tinha 5.000 igrejas deste tipo. Outras divisões de grupos dissidentes tinham ocorrido mais cedo, na década de 1930, quando missionários expressaram a sua oposição à circuncisão feminina e surgiram muitas igrejas indígenas, incluindo a Igreja Pentecostal Africana Independente.

Entretanto, o Renascença da África Oriental (um movimento dentro da Igreja Anglicana da África Oriental), que tinha começado no Ruanda em 1933, veio para o Quénia em 1937, atraindo muitos protestantes ao cristianismo evangélico e carismático.

Um parêntese explicativo sobre esta Renascença: um inglês, John Church, um médico missionário inglês na Sociedade Missionária da Igreja o Sociedade Missionária da Igreja, vendo a pobre situação espiritual da Igreja Anglicana do Uganda teve uma "conversão" e iniciou o Renascimento no vizinho Ruanda, e estendeu-o ao Uganda, devido a uma associação que tinha com alguns evangelistas ugandeses. Este movimento propagou-se às igrejas presbiterianas e metodistas no Quénia e à igreja luterana em Tanganica (actual Tanzânia). 

Final do século XX

Avançar rapidamente para as décadas de 1970 e 1980. Entre 1972 e 1986, de acordo com um estudo, o número de igrejas pentecostais tinha duplicado em Nairobi, mais rapidamente do que qualquer outra denominação cristã. Em 2006, o conhecido pregador televangelista americano T.D. Jakes conseguiu atrair quase um terço da população de Nairobi para uma cruzada. Um inquérito do Fórum realizado no mesmo ano sugeriu que os "Renovadores" (Pentecostais e Carismáticos) representavam mais de metade da população queniana. Nessa altura era comum que um jovem lhe perguntasse: "Nasceste de novo?", ou que lhe dissessem: "Estou salvo". Os "salvos" e os "nascidos de novo" exerceram algum poder, por exemplo devido à sua significativa oposição à introdução do aborto ou à criação de tribunais. kadhi (Islâmico) num referendo de 2005 sobre um projecto de constituição nacional.

Forma inculturada do cristianismo

De acordo com um relatório intitulado Igrejas Pentecostais Carismáticas no Quénia: Crescimento, CulturaEstas igrejas revelaram-se uma ameaça para as igrejas maioritárias, até porque as mulheres e os grupos marginalizados encontraram um "lar" nestas igrejas. Esta forma "inculturada" de cristianismo fez com que a maioria dos quenianos se sentisse espiritualmente cuidada, uma vez que ofereciam um encontro "pessoal" com Deus através do poder do espírito. Responderam a uma necessidade existencial: proporcionar cura de doenças e libertação de todo o tipo de males, tudo de acordo com uma visão do mundo africano.

Outro estudo sugeriu que este ramo do cristianismo se espalhou rapidamente em África porque a sua ênfase teológica e ritual no combate espiritual proporciona uma forte ligação às cosmologias existentes, preservando ao mesmo tempo o significado da religião tradicional. Jesus é frequentemente retratado como uma figura de poder masculina, como alguém amoroso e carinhoso, em vez de um pai julgador, punitivo e autoritário. Como se para sublinhar isto na prática, os pregadores pentecostais/carismáticos vestem-se bem, falam com confiança e assim contrariam qualquer impressão ou acusação de que um homem de Deus é suave. O seu sucesso deve-se também ao seu evangelismo agressivo, à mobilização dos leigos e ao seu carácter festivo, com música e danças vivas e cativantes.

E para apoiar ainda mais esta iniciativa, está actualmente em curso em Nairobi um programa muito popular de dez semanas para homens, intitulado Homem SuficienteO "Homem Suficiente", instituído por um pastor pentecostal que atrai tanto protestantes como católicos, sobre como ser um bom pai e marido, honesto, fiel, sério, etc.

Abertura à modernidade

Uma isca mais subtil, mas muito real, é a sua abertura à modernidade, um desejo convincente de parecer bem sucedida, de reflectir uma visão moderna e de dar uma imagem da Internet. Tudo isto é especialmente atractivo para a crescente juventude africana: uma liderança leiga, uma responsabilidade eclesiástica baseada nas qualidades carismáticas de uma pessoa; além disso, o uso inovador das modernas tecnologias de comunicação e um código de moda descontraído. Os jovens têm o privilégio de aceder a estas formas de modernidade devido ao seu nível de alfabetização; jovens "de elite", jovens profissionais e licenciados frustrados compreendem que estas igrejas respondem às suas necessidades de uma forma que outras instituições não conseguem ou são incapazes de conseguir, reforçadas e encorajadas pelo evangelismo porta-a-porta, reuniões caseiras, pregações públicas e cruzadas de tendas, todas elas apelando à personalidade e estilo de vida africanos: vida ao ar livre e não na privacidade do lar.

O relatório Pentecostalização e fé no Sul global resume-o em três características principais: "Transformação", "Empoderamento" e "Cura e libertação". 

Transformação" refere-se à disponibilidade de um encontro directo e particularmente intenso com Deus que traz mudanças profundas na vida e nas circunstâncias de cada um. Há um sentido de transformação a nível pessoal e comunitário, incluindo um novo dinamismo no culto, inspirado pelo Espírito Santo. A principal ênfase teológica é na transformação provocada pelo encontro com Deus: ou seja, a renúncia ao recurso à religião tradicional e à crença apenas em Deus.

Empowerment" é o efeito do Evangelho de Jesus Cristo. Confia-se na religião africana para lidar com os efeitos do mal causado por espíritos maus e bruxaria, que são responsáveis por doenças, insucessos, falta de filhos, etc. As igrejas Pentecostais Africanas fornecem o contexto ritual para a oração e o exorcismo para "libertar os aflitos".

"Cura e libertação". Quando as coisas não estão a correr bem, explica-se pelo trabalho de demónios e bruxas. Para o crente pentecostal, o evangelho trata da restauração para que a transformação da personalidade se manifeste em saúde e bem-estar; por outras palavras, a salvação inclui abundância espiritual e física, libertação da doença, pobreza, infortúnio, bem como libertação do pecado e do mal.

Experiência no Uganda

A experiência no Uganda é semelhante, embora não idêntica. Também aqui, a ênfase é colocada na prosperidade material e financeira, abundância e saúde física - o Evangelho da Prosperidade (um movimento do final do século XIX nos Estados Unidos que pregava o "evangelho" do sucesso, fé em si próprio, etc.), no qual congregam o dízimo à Igreja com "a promessa e a expectativa de receber em troca grandes dons de Deus". A riqueza abundante é considerada um direito; o raciocínio é o seguinte: Jesus venceu o sofrimento deste mundo, incluindo a pobreza; por conseguinte, a riqueza é uma bênção. Lembro-me de uma vez ter seguido um carro com um autocolante na janela traseira que dizia: "Eu vi-o. Eu rezei. Já o tenho.

 Um relatório Pew em 2006 afirmava que o Pentecostalismo era então seguido por vinte por cento da população ugandesa. De facto, na última década, as principais igrejas perderam um número considerável de adeptos. Por exemplo, os recenseamentos nacionais mostram que os anglicanos passaram de 37 % da população em 2002 para 32 % em 2014; e a Igreja Católica também perdeu aderentes ao Pentecostalismo, embora menos.

Tal como noutros locais, mas de uma forma especial que está muito integrada na cultura e no modo de ser do Uganda, os Pentecostais Ugandeses no Uganda fazem muito uso da rádio, televisão e cinema, e têm várias estações de rádio. Os ugandeses não têm dúvidas sobre a externalização da sua cultura, e se forem Pentecostais, quanto mais alto e mais alto melhor. Para além da rádio e televisão, os cultos ao almoço nos dias de semana são populares pelos seus supostos poderes curativos. Em Kampala estão a construir a sua "catedral", a Tabernáculo Alfacom capacidade para 6.000 pessoas.

Enquanto estiver no Uganda, o Igreja estabelecida era oficiosamente anglicano, uma vez que no início a Church Missionary Society (na sua maioria anglicana) praticamente convidou os britânicos para o Uganda, e o bispo anglicano era o terceiro em ordem de precedência (depois do governador e do rei de Buganda, o Kabaka) em funções oficiais, o anglicanismo não veio para o Ruanda até à I Guerra Mundial, vindo do Uganda. Menos de 10 % de ruandeses são anglicanos e, devido à influência do Igreja de Joãotinha sido uma igreja do balokole (os salvos), como mencionado anteriormente neste artigo.

No Ruanda, o país mais católico

O Ruanda era conhecido como possivelmente a nação mais católica de África, com cerca de dois terços da população baptizada como católica. A fé chegou ao país nos finais da década de 1880, quando estava sob domínio alemão e depois belga. Contudo, o prestígio da igreja sofreu um golpe durante o genocídio de 1994, quando os líderes católicos não condenaram a violência e alguns clérigos alinhavam com ela. Em 2006, a percentagem de católicos era de 56 % da população. Além disso, muitos Tutsis que tinham fugido antes ou durante o genocídio e regressado tinham sido expostos ao protestantismo noutros países da África Oriental ou no mundo ocidental e tinham abandonado a prática católica, trazendo em vez disso uma forma de culto que poderia apelar a uma população traumatizada. No entanto, aos domingos, as igrejas católicas estão cheias de gente, com um grande número de adoradores masculinos; mesmo as missas dos dias de semana são bem frequentadas. Nas cidades e aldeias ruandesas, os domingos são caracterizados pela alegria dos frequentadores em massa; em contraste, outras igrejas, incluindo as igrejas pentecostais, são mais discretas.

Sul do Quénia, Tanzânia

Na Tanzânia, o Pentecostalismo cresceu substancialmente na década de 1980 e logo surgiram grupos carismáticos nas igrejas católica e luterana, embora estivesse presente desde o início dos anos 1900. A Tanzânia tem uma população muçulmana bastante grande, cerca de um terço do total de quase 60 milhões de pessoas; os cristãos constituem o resto, e os católicos são cerca de 25 % do total da população nacional.Num estudo de 18 anos em Iringa, uma região típica do centro da Dinamarca, Martin Lindhart da Universidade do Sul da Dinamarca concluiu que a principal preocupação das congregações pentecostais era a libertação de espíritos maus e ataques de bruxas, uma concepção da doença e da cura como um espaço crucial de comunicação entre seres humanos e espirituais, uma vez que nas sociedades e comunidades tradicionais a doença é vista como o efeito de uma maldição. Os principais rivais dos Pentecostais são curandeiros tradicionais, que confundem os crentes acerca dos poderes de Deus e dos "poderes" de Satanás. Um conflito semelhante é muito comum entre crentes menos instruídos de outras partes desta região.

Entre os fiéis Pentecostais das cidades, aplicam-se as mesmas expectativas que nos ambientes mais sofisticados de outros países da África Oriental. O Pentecostalismo apela porque os leigos estão mais directamente envolvidos; as mulheres sentem-se capacitadas para procurar homens com valores familiares modernos e trazê-los à igreja; os homens convertem-se porque vêem o Pentecostalismo como uma oportunidade para virar a página e combater as inclinações pecaminosas, causadas, elas raciocinam, por influências demoníacas, e para exercer auto-controlo, e trazer ordem e maior contentamento às suas vidas.

 O pentecostalismo pode ser doutrinariamente deficiente, mas apesar disso, ou talvez por causa dele, a sua solução "de reparação rápida" parece preencher um vazio a muitos níveis da sociedade.

As chamadas igrejas maioritárias nestes países dos Grandes Lagos - católica, anglicana e luterana - enfrentam um sério desafio. Em muitos lugares, eles estão à altura do desafio e a fazer um uso mais eficaz da tecnologia moderna. Mas a tentação permanece de diluir ensinamentos cristãos essenciais, liturgia e práticas a fim de atrair mais fiéis. 

 O Pentecostalismo em África está aqui para ficar? Afinal, cumpre as funções sociais que as principais igrejas ajudaram a introduzir nestas regiões: educação, cuidados de saúde, tratamento digno de grupos marginalizados, etc., e tem um "toque e sabor moderno". Ou será que o crente ou convertido mais sério deixará de ser atraído pela sua ênfase no "exterior" e ansiará em vez disso por algo mais profundo e duradouro?

Vaticano

Que os jovens sejam co-protagonistas na vida da Igreja

As Jornadas Mundiais da Juventude são uma celebração de fé, uma experiência missionária e de fraternidade universal. A partir deste ano, o Dia Mundial da Juventude anual foi transferido para a Solenidade de Cristo Rei.

Giovanni Tridente-7 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Mais de trinta e cinco anos após a sua primeira celebração em 1985, as Jornadas Mundiais da Juventude foram chamadas uma espécie de "Dia Mundial da Juventude".teste"para revigorar o seu significado histórico e profético na vida da Igreja e para uma evangelização mais activa nos tempos contemporâneos".

De facto, nos últimos dias, por iniciativa do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, ao qual foi confiada desde o início a organização destas iniciativas juvenis, foram divulgadas algumas orientações pastorais para a celebração da JMJ a nível diocesano.

Embora a JMJ que se realiza a cada dois ou três anos a nível internacional seja mais conhecida - a última no Panamá em 2019, e a próxima prevista para Lisboa em 2023 - a importância da celebração anual nas Igrejas particulares, também como dia preparatório para o evento mundial, não deve ser subestimada.

A partir deste ano, a pedido do Papa Francisco, o dia anual, que costumava ser celebrado no Domingo de Ramos, foi transferido para a Solenidade de Cristo Rei, no final do ano litúrgico, que geralmente cai em Novembro. Esta decisão do actual Pontífice é também um regresso ao passado, uma vez que São João Paulo II - que instituiu pela primeira vez estes eventos juvenis - convocou os jovens para um grande encontro na Solenidade de Cristo Rei em 1984. 

Esse primeiro evento foi o germe do que mais tarde se tornaria as Jornadas Mundiais da Juventude, encontros de jovens".peregrinos que 'caminham juntos' para uma meta, para um encontro com Alguém, com Aquele que é capaz de dar sentido à sua existência, com o Deus feito homem que chama cada jovem a tornar-se seu discípulo, a deixar tudo para trás e a 'caminhar atrás dele'.".

O novo documento, contudo, pretende encorajar ainda mais as Igrejas locais a utilizarem estes dias como uma oportunidade para os jovens se sentirem cada vez mais "ligados" à sua própria cultura.oprotagonistas na vida e missão da Igreja".

Existem basicamente seis áreas que a Orientação delineia como centrais para esta revitalização de eventos diocesanos individuais, que são "...estar no coração de cada JMJ".

Antes de mais, a JMJ é chamada a ser um "Dia Mundial da Juventude".festa da fé"Portanto, juntamente com o elemento de entusiasmo que caracteriza toda a expressão juvenil, é necessário privilegiar momentos de adoração silenciosa da Eucaristia (um acto de fé por excelência) e liturgias penitenciais (um lugar privilegiado de encontro com a misericórdia de Deus).

Além disso, os jovens devem poder ter um "Experiência eclesiástica"Devem, portanto, ser ouvidos e envolvidos na preparação do Dia, bem como noutras estruturas e organizações. Aqui o papel central é desempenhado pelo bispo, que deve estar próximo dos jovens a fim de lhes mostrar a proximidade paterna do pastor.

Outra experiência que precisa de ser salvaguardada é a ".missionário"envolver os jovens em iniciativas de evangelização pública,"com cânticos, orações e testemunhos, nas ruas e praças da cidade onde encontram os seus companheiros.". Também seria útil promover iniciativas de voluntariado para os mais pobres e mais desfavorecidos.

Certamente, não se deve subestimar o aspecto do "discernimento vocacional"Os jovens percebem o seu".apelo à santidadeem qualquer esfera da sua existência, incluindo a vida consagrada ou o sacerdócio: "...".No delicado processo que os deve levar a amadurecer estas escolhas, os jovens devem ser acompanhados e iluminados com cautela."A Orientação afirma.

Finalmente, o documento sublinha o elemento de "peregrinaçãoA "Juventude e o Ambiente", que leva os jovens a abandonar as suas casas para se lançarem na estrada e assim "... sair das suas casas e ir para a estrada".conhecer o suor e a fadiga da viagem, o cansaço do coração e a alegria do espírito"e a oportunidade de mostrar as próprias experiências dos jovens de"irmandade universal"A missão da Igreja é criar espaços inclusivos e a realidade de uma Igreja de portas abertas. 

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Vaticano

"A Eucaristia é um medicamento eficaz contra a mente fechada do ser humano".

O Papa Francisco centrou a sua reflexão durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro, na festa de hoje do Corpo e Sangue do Senhor.

David Fernández Alonso-6 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Hoje, domingo 6 de Junho, em Itália, Espanha e outros países, celebramos a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, o Corpus Domini. Foi por isso que o Papa Francisco começou o seu discurso depois de rezar o Angelus na Praça de São Pedro, voltando-se para o Evangelho para esta solenidade: "O Evangelho apresenta-nos a história da Última Ceia (Mc 14:12-16, 22-26). As palavras e os gestos do Senhor tocam os nossos corações: ele toma o pão nas suas mãos, pronuncia a bênção, parte-o e dá-o aos discípulos, dizendo: "Tomai, isto é o meu corpo" (v. 22).

"É assim, na simplicidade, que Jesus nos dá o maior sacramento", recorda-nos o Santo Padre. "O seu é um gesto humilde de doação, de partilha". No auge da sua vida, ele não dá pão em abundância para alimentar as multidões, mas parte-se na refeição da Páscoa com os discípulos. Desta forma, Jesus mostra-nos que o objectivo da vida é a doação de si mesmo, que o maior é servir. E hoje encontramos a grandeza de Deus num pedaço de pão, numa fragilidade que transborda de amor e partilha. Fragilidade é precisamente a palavra que eu gostaria de sublinhar. Jesus torna-se frágil como o pão que se parte e se desfaz. Mas é precisamente aí que reside a sua força. Na Eucaristia a fragilidade é a forçaO poder do amor que se faz pequeno para ser acolhido e não temido; o poder do amor que se divide e se divide para alimentar e dar vida; o poder do amor que se fragmenta para nos unir em unidade".

A Eucaristia foi o foco das suas palavras na festa de hoje: "E há outro poder que se destaca na fragilidade da Eucaristia: o poder de amar aqueles que cometem erros. É na noite em que foi traído Jesus dá-nos o Pão da Vida. Ele dá-nos o maior presente enquanto sente no seu coração o abismo mais profundo: o discípulo que come com ele, que molha o seu bocado no mesmo prato, está a traí-lo. E a traição é a maior dor para aqueles que amam. E o que é que Jesus faz? Ele reage ao mal com um bem maior. Ao "não" de Judas ele responde com o "sim" da misericórdia. Não castiga o pecador, mas dá a sua vida por ele. Quando recebemos a Eucaristia, Jesus faz o mesmo por nós: ele conhece-nos, sabe que somos pecadores e que cometemos muitos erros, mas não desiste de unir a sua vida à nossa. Ele sabe que precisamos dela, porque a Eucaristia não é a recompensa dos santos, mas sim o prémio dos santos. o Pão dos pecadores. É por isso que ele nos exorta: "Tomar e comer".

"Cada vez que recebemos o Pão da Vida", diz o Papa, "Jesus vem para dar um novo significado às nossas fragilidades. Lembra-nos que, aos seus olhos, somos mais valiosos do que pensamos. Ele diz-nos que está satisfeito se partilharmos com ele as nossas fragilidades. Ele repete-nos que a sua misericórdia não teme as nossas misérias. E sobretudo, cura-nos com amor daquelas fragilidades que não podemos curar sozinhos: a de nos ressentirmos daqueles que nos magoaram; a de nos distanciarmos dos outros e de nos isolarmos dentro de nós; a de chorarmos sobre nós próprios e de nos queixarmos sem encontrarmos a paz. A Eucaristia é um remédio eficaz contra estes encerramentos. O Pão da Vida, de facto, cura a rigidez e transforma-a em docilidade. A Eucaristia cura porque nos une a Jesus: faz-nos assimilar a sua maneira de viver, a sua capacidade de se entregar aos seus irmãos e irmãs, de responder ao mal com o bem. Dá-nos a coragem de sair de nós próprios e de nos curvarmos com amor em direcção à fragilidade dos outros. Como Deus faz connosco. Esta é a lógica da Eucaristia: recebemos Jesus que nos ama e cura a nossa fragilidade a fim de amar os outros e ajudá-los na sua fragilidade.

Educação

Uma revolução na oferta de formação de teologia em Espanha

Podem os leigos fazer uma pós-graduação ou mestrado em Teologia Bíblica, em Joseph Ratzinger ou Santo Inácio de Loyola, História da Igreja, Missiologia, Teologia Moral, ou em Língua e Cultura Árabe ou Judaica? Até muito recentemente, não. Agora é. É um modelo promovido pelo Papa Francisco.

Rafael Mineiro-6 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 6 acta

Até há pouco tempo, os estudos teológicos tinham de ser realizados como um todo orgânico, quer nas Faculdades de Teologia quer nos Institutos de Ciências Religiosas. O que a Igreja tem tido até agora são os graus e doutoramentos próprios das faculdades eclesiásticas, e depois os diplomas e graus dos Institutos de Ciências Religiosas Superiores (ISCR). Estes são graus académicos, aos quais a Santa Sé dá um valor para cobrir certos cargos.

Mas depois do processo de Bolonha, que lançou as bases do chamado Espaço Europeu do Ensino Superior (1999), "as universidades civis têm a oportunidade de criar os seus próprios diplomas, que vão para além dos diplomas estabelecidos, e a Igreja associou-se para permitir que, para além do diploma oficial em Teologia Sagrada, seja possível obter um diploma especializado em Judaísmo, por exemplo, da Universidade X. E que valor tem isto? O valor dado pela Faculdade de Teologia correspondente, sem que se trate de um grau académico de bacharel ou mestrado. Naturalmente, todos os graus têm a garantia de aprovação prévia pela Santa Sé".

Isto é explicado pelo Professor Nicolás Álvarez de las Asturias, professor e vice-reitor de Organização Académica na Universidade de San Dámaso em Madrid, que resume o conceito desta forma: "Agora são os mesmos centros que começam a oferecer o modelo dos seus próprios diplomas ou peritos, equivalentes no mundo civil a uma pós-graduação ou mestrado, ou diplomas. E muitos deles estão online".

Por outras palavras, a Santa Sé permite que cada universidade ofereça os seus próprios diplomas, que devem ser aprovados pela Congregação para a Educação Católica, cujo prefeito é o Cardeal Giuseppe Versaldi, embora não constituam um diploma eclesiástico. Um modelo anglo-saxónico.

Será isto em detrimento das faculdades tradicionais de Teologia ou dos Institutos de Ciências Religiosas? De modo algum. "Porque estes graus oferecem formação em algum aspecto muito específico da teologia ou filosofia, a diferentes níveis. Em alguns casos muito especializados, e noutros a um nível mais informativo, mas centrado apenas num aspecto, sem procurar dar uma visão orgânica completa, que as Faculdades e o ISCR oferecem, com estudos filosóficos e teológicos que a Igreja considera necessários para uma formação adequada", acrescenta o Professor Nicolás Álvarez de las Asturias.

Além disso, este impulso para a dinamização dos estudos de Filosofia e Teologia vem do próprio Papa Francisco, e a Constituição Apostólica Veritatis Gaudiumque iremos citar no final. O Santo Padre espera que "a rede mundial de universidades e faculdades eclesiásticas" enfrente "uma corajosa revolução cultural".

Intelectuais civis

A Omnes tem estado em contacto com os directores das universidades que começaram a oferecer os seus próprios diplomas de perito. Por exemplo, San Dámaso, Navarra, Pontificia de Comillas, ou UNIR, entre outros. O primeiro conselho para quem desejar participar num curso de Especialista ou Diploma é verificar as datas de inscrição. Muitos deles ainda estão abertos para inscrição. Outros já encerraram, mas está previsto um período de admissão para Agosto, como em Navarra.

Os diplomas oferecidos estão a ser e serão para leigos interessados em algum aspecto da Teologia; intelectuais da esfera civil que consideram necessário complementar a sua formação a nível universitário em assuntos que lhes são desconhecidos; e, em terceiro lugar, pessoas que desejam complementar os diplomas mais padronizados, salienta San Dámaso.

"Neste caso, para dar um exemplo, se um bispo libanês enviasse um padre para fazer um diploma na nossa Universidade, por exemplo em teologia moral, com um pouco mais de esforço, poderia fazer o seu próprio diploma sobre o Islão, o que lhe poderia ser muito útil para desenvolver a sua missão no contexto multi-religioso do seu país; e os exemplos poderiam multiplicar-se à luz da nossa oferta e das necessidades das diferentes dioceses", acrescenta o vice-reitor de San Damaso.

Ana Moya, chefe da direcção institucional da mesma universidade em Madrid, explica a dupla modalidade: "temos os diplomas, que são mais simples, mais informativos, e o nível de especialista, em que há disciplinas específicas e são especializados, destinados a pessoas que já têm um diploma universitário". Pode consultá-los aqui.

No ano académico 21/22 serão oferecidos dois novos diplomas em San Dámaso: Perito e Diploma em História da Igreja, para além dos já oferecidos em Filosofia, Missiologia, Cultura e Língua Judaica, Cultura e Língua Árabe, ou aquele que trata da Relação entre o Cristianismo e o Islão.

Internacional

O ISCR da Universidade de Navarra regista a gratidão das pessoas que estudaram teologia no centro académico. Por exemplo, Darío Malaver, chefe do ministério da família hispânica em Abu Dhabi (Emiratos Árabes Unidos). Este é o seu e-mail: "Peço-vos do fundo do meu coração que transmitam os meus mais profundos agradecimentos a todos e a cada um dos professores deste Diploma, o seu carisma e dedicação serviram-me de exemplo para a minha vida na Igreja. Não terei palavras suficientes para descrever quão agradável, produtivo, realizador e inspirador tem sido a minha participação neste Diploma".

Natalia Santoro, secretária académica deste ISCR, sublinha que "a valorização dos leigos" foi uma das grandes intuições do Concílio Vaticano II, como o Arcebispo Jean-Louis Brugés salientou durante a apresentação da Instrução de 2008 sobre o ISCR: "Para que os leigos possam realizar os serviços que lhes são próprios, devem receber uma formação adequada. Eles têm o direito de o pedir e a Igreja tem o dever de lho oferecer".

O Instituto de Ciências Religiosas da Universidade de Navarra, no qual estudam pessoas de mais de 20 países, tem cinco Diplomas, exibidos em navegação mais fácil de executar um de cada vez, no menu suspenso de Cursos e Conferências. E a sua "procura está a crescer", Natalia Santoro.

Os estudantes incluem professores e professores, gestores, consultores, médicos e cientistas, engenheiros, comunicadores, catequistas, pais, e religiosos e leigos de todos os movimentos da Igreja. Entre as motivações estão a formação de formadores; a participação no debate social; o discernimento vocacional; e a busca da verdade.

O TUP, UNIR...

Os estudos de Teologia Universitária para Pós-graduados (TUP) na Universidade Pontifícia de Comillas são bem conhecidos no sector, e "destinam-se a pessoas com um diploma universitário, especialmente leigos, que procuram uma razão para a sua fé, oferecendo-lhes um horário da tarde compatível com o seu dia de trabalho", na sede do ICADE de Comillas, em Madrid.

Os TUPs em Comillas são ensinados pelos mesmos professores que ensinam pela manhã, e atribuem o título canónico de Bacharel em Teologia (Licenciatura). É uma Teologia dirigida a pessoas que desejam aprofundar o seu conhecimento da doutrina católica, e é especialmente dirigida a leigos, relata Comillas.

Mas os TUPs são diferentes dos graus de formação de que estamos a falar. Comillas também tem os seus próprios mestrados de pós-graduação, tais como os de Pastoral da Família, Discernimento Vocacional e Acompanhamento Espiritual e Espiritualidade Inaciana. Como os nossos próprios graus, os de Exercícios Espirituais e Espiritualidade Bíblica.

Como acabámos de ver, os estudos bíblicos são um dos temas mais atractivos quando se trata de conceber os seus próprios diplomas. Outros centros estão a anunciar diplomas em estudos bíblicos, por exemplo o UNIRque também oferece um curso especializado em Filosofia e Religião de acordo com o pensamento de Joseph Ratzinger.

A UNIR encoraja a "descobrir a influência da Bíblia, a fim de: - analisar com rigor os diferentes textos da Bíblia; - compreender o contexto histórico, político, social e cultural em que foram escritos; - interpretar a Bíblia e aplicar o seu conteúdo à sociedade de hoje".

Rede global de universidades e colégios

Já passaram três anos desde que o Papa Francisco deu o sinal de partida para esta revolução educativa. "Chegou o momento de os estudos eclesiásticos receberem aquela renovação sábia e corajosa que é necessária para uma transformação missionária da Igreja. à saída desse rico património de aprofundamento e orientação", o Santo Padre assinalou no Constituição Apostólica Veritatis Gaudium.

"Face à nova etapa da evangelização, a renovação adequada do sistema de estudos eclesiásticos tem um papel estratégico a desempenhar", salientou o Papa. "De facto, estes estudos devem não só oferecer lugares e itinerários para a formação qualificada de sacerdotes, pessoas consagradas e leigos empenhados, mas constituir uma espécie de laboratório cultural providencial".

Francisco referiu-se ao desafio de "uma revolução cultural corajosa". E "neste esforço, a rede mundial de universidades e faculdades eclesiásticas é chamada a trazer o contributo decisivo do fermento, sal e luz do Evangelho de Jesus Cristo e da Tradição viva da Igreja, que está sempre aberta a novos cenários e novas propostas".

O Romano Pontífice apontou entre os critérios fundamentais desta revolução "a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade exercida com sabedoria e criatividade à luz do Apocalipse". O princípio vital e intelectual da unidade do conhecimento na diversidade e no respeito pelas suas múltiplas expressões, relacionadas e convergentes é o que qualifica a proposta académica, formativa e de investigação do sistema de estudos eclesiásticos".

Evangelização

"O trabalho da Igreja com as pessoas com deficiência não é novo".

Roberto Ramírez é o director do departamento que, no seio da Comissão de Catequese da Conferência Episcopal Espanhola, se dedica ao cuidado pastoral de pessoas com algum tipo de deficiência e que partilham, plenamente e de forma adaptada, a sua vida de fé.

Maria José Atienza-5 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Tornar o Evangelho acessível a todos é sempre uma tarefa incontornável para a Igreja. De facto, durante décadas, numerosas iniciativas da Igreja, tais como a Pastoral dos Surdos ou o trabalho com os cegos, mostraram que, mesmo antes da consciência social, o trabalho da Igreja com pessoas com deficiência era, em muitos casos, pioneiro.

Actualmente, os próprios fiéis exigem esta atenção para as diferentes situações das pessoas. A atenção e adaptação catequética às crianças com TDAH ou Síndrome de Down é já uma realidade em muitas paróquias. No entanto, nem todas as paróquias têm as mesmas possibilidades e, em resposta a esta exigência inevitável do que poderíamos chamar "periferias mais próximas", a Conferência Episcopal terá uma área específica, no seio da Comissão de Catequese, dedicada ao cuidado pastoral das pessoas com deficiência.

O seu coordenador é Roberto Ramirez, um jovem sacerdote da diocese das Ilhas Canárias, que frequenta três paróquias da ilha e que, respondendo a Omnes, assinala que "embora esta seja certamente uma área nova na Conferência Episcopal, isto não significa que o trabalho seja novo. O objectivo é reunir todo o trabalho que já foi feito durante anos; por exemplo, no cuidado pastoral dos surdos ou Frater, pessoas que trabalham com cegos ou crianças com TDAH... e, desta forma, ajudar as dioceses".

O trabalho desta área não se limitará a questões de catequese, mas abordará também questões pastorais, com derivações tão concretas como "a construção de igrejas adaptadas".

Embora esta seja uma área nova na Conferência Episcopal, isso não significa que o trabalho seja novo.

Roberto Ramirez

Ramírez salienta que "embora a pandemia tenha atrasado o agrupamento desta equipa, a primeira tarefa que têm é para "todos nós que trabalhamos nestas áreas de pessoas com deficiência, para satisfazer, partilhar necessidades e desafios e partilhar recursos".

Obviamente, idealmente, como o padre assinala, cada diocese teria uma pessoa na Catequese ou delegação pastoral que se ocuparia destas questões: "uma espécie de ligação que poderia orientar as paróquias de acordo com os casos e que teria contacto com a própria Conferência Episcopal".

Primeiros passos do trabalho

Para o chefe desta área, uma das primeiras tarefas a ser abordada centra-se na criação de "uma extensa biblioteca de recursos que está ao alcance de qualquer diocese". Para orientar as dioceses e oferecer-lhes recursos, orientação, etc.", que por vezes não têm ou simplesmente beneficiam de experiências em casos semelhantes.

Roberto Ramirez sublinha a importância de reunir esta "bibliografia e experiências que possam servir para orientar os responsáveis pela catequese ou nas paróquias, que são os que recebem os casos em primeira instância".

A pandemia atrasou o trabalho desta área, que começou a ser organizada antes de Março de 2020. Será no próximo mês de Outubro que, após numerosos contratempos, as várias pessoas que compõem esta equipa se reunirão para lançar este novo campo de trabalho da CEE.

Entre os membros da equipa que compõe esta área encontram-se pessoas com deficiências auditivas ou visuais, catequistas e fiéis que trabalham com a síndrome de Down ou crianças com TDAH. Desta forma, o objectivo é partilhar as peculiaridades pastorais a abordar a partir das paróquias e as respostas que já foram dadas em muitos lugares, tais como áreas adaptadas nas paróquias para pessoas com deficiência auditiva ou recursos bem sucedidos para a catequese pré-comunitária com crianças com TDAH.

Estão actualmente em curso trabalhos sobre as orientações iniciais que são adequadas à situação actual e às necessidades dos fiéis com várias deficiências.

Para este sacerdote da diocese das Canárias, que trabalhou pastoralmente com crianças com síndrome de Down ou ADHD, a Igreja tem um grande aliado nas novas tecnologias para o trabalho pastoral com estes fiéis, crianças, jovens e adultos: "hoje é muito fácil para uma paróquia projectar-se, por exemplo, na catequese das crianças que resume o ensinamento evangélico que lhes quer transmitir".

O departamento da Conferência Episcopal tem, de momento, uma equipa de especialistas em cada uma das suas cinco secções: assistência pastoral aos surdos; deficiência intelectual; perturbações ASD e ADHD; deficiência visual; e assistência pastoral nas diferentes realidades.

Família

Cultura de cuidados e família

O último romance de Charles Dickens, O nosso amigo mútuo, combina situações e personagens sombrias com luminosas, irradiando bondade e ternura.

José Miguel Granados-4 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

O nosso amigo mútuo ("Our Mutual Friend") é o último romance a ser completado por Charles Dickens. Contém um intrigante entrelaçamento de histórias de paixões intensas, por vezes violentamente desenfreadas, bem como de compaixão e amor. Combina situações escuras e cínicas, representações e protagonistas com as luminosas, irradiando gentileza e ternura. 

Cuidados de beleza

Começa com a enigmática descoberta de um homem assassinado e despejado no rio Tamisa, e a subsequente investigação complexa para descobrir a sua identidade. Várias personagens da história destacam-se precisamente quando se dedicam a cuidar dos outros.

Assim, uma jovem muito bonita de baixa condição social, Lizzie Hexam, que ajuda o seu pai tosco num pequeno barco a remos no rio de Londres a encontrar algo de valor, mesmo que esteja nos bolsos de um homem afogado... Lizzie preocupa-se com o seu pai viúvo e o seu irmão mais novo egoísta com paciente afecto, embora não receba em troca a gratidão que merece. Sem querer, e sem intenção, ela desperta a atracção erótica desenfreada de dois homens. Por um lado, Bradley Headstone, o pretensioso mestre da escola do irmão de Lizzie, que é impelido por uma luxúria brutal por ela. Por outro lado, Eugene Wrayburn, um advogado decadente e frívolo, que zomba cruelmente do professor abandonado, ateando o fogo criminoso dos seus ciúmes. Mortimer Lightwood, amigo íntimo de Eugene, tenta tomar conta dele e redireccionar as suas provocações e protestos, para o impedir de abusar da pobre rapariga e inflamar a ira do seu humilhado rival amoroso.

A história também apresenta Bella Wilfer, outra jovem bonita mas caprichosa e superficial. Vive com a sua modesta família: uma mãe dominadora e insuportável, que mantém o seu pai fraco e trabalhador com medo; e uma irmã invejosa e vaidosa, que a irrita deliberadamente. Bella está normalmente rabugenta devido ao que considera ser a sua insuportável dificuldade financeira. No entanto, ela está no seu melhor quando derrama o seu afecto pelo seu pai que sofre há muito, cuidando dele com delicado afecto. De repente John Harmon aparece na sua vida, um jovem valioso, inteligente e trabalhador, que tem de fazer o seu caminho depois de um grave infortúnio, e que se esforçará por cuidar e transformar Bella, para que ela se torne uma excelente mulher.

Outros protagonistas são Nicodemus Boffin e a sua esposa, um casal sem filhos, encantador e simples de meios humildes. Eles prosperaram no negócio da recolha de lixo, razão pela qual ele é conhecido como o "homem do lixo dourado" ("...").o Homem do Pó de Ouro"), uma expressão que simboliza o perigo de apego ao dinheiro. Vivem para cuidar dos outros: acariciam e adoptam um rapaz atrasado; também favorecem Bella e John.

Por último, Jenny Wren aparece em cena, uma jovem mulher com um coxear, com a coluna torta, e um carácter desagradável e suspeito. O seu trabalho consiste em bordar os vestidos das bonecas por encomenda. Ela cuida do seu pai alcoólico, que tenta manter afastado do seu vício destrutivo.

Evangelho dos cuidados

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o Papa Francisco explica como a partir do Evangelho de Jesus Cristo flui o "...o Evangelho de Cristo".cultura de cuidadosAs "relações sociais que estão de acordo com a dignidade humana". 

O cuidado amoroso de Deus por cada pessoa confere-lhe dignidade e contém a vocação de retribuir com gratidão, cuidando dos outros. De facto, a revelação divina e a razão humana levam-nos ao reconhecimento do sagrado, da dignidade absoluta de cada ser humano. Cada pessoa é única, a ser tratada com respeito, porque vale o que é e não o que tem: porque é a imagem de Deus, porque é amada e convidada para uma relação filial de amizade, de acordo com a sua natureza inteligente e livre. Além disso, Jesus identifica-se com cada vizinho necessitado e indefeso, quando diz na sua parábola do juízo final: "Foste tu que mo fizeste". (cf. Mt 25:40). Cuidar de quem precisa é o paradigma da condição humana.

De quem tomo eu conta?

Uma grande sociedade é aquela que cuida dos mais pequenos. Por outro lado, se despreza os fracos, torna-se desprezível: quando prevalece o forte, a lei da selva, os pobres e os frágeis são maltratados, e a civilização torna-se desumana, tirânica. 

Devemos portanto perguntar-nos: de quem me preocupo, como me preocupo com as pessoas, se vivo como um verdadeiro prestador de cuidados? Pois, na realidade, a minha vida vale tanto tempo quanto me cuidam e cuidam de alguém. Quando tomo consciência de que a minha vida deve ser passada ao serviço concreto do meu vizinho, assumo a minha própria vocação de guardião de um irmão (cf. Gen 4,9). Quando reconheço, protejo e promovo alguém, cumpro a minha missão no mundo, colaboro com o cuidado providencial de pessoas que o Senhor realiza constantemente. Em suma, como lemos neste romance: "Ninguém que alivia o fardo de alguém é inútil neste mundo"..

Tornar-se um bom cuidador requer preparação. Cada um deve deixar-se cuidar e ser cuidado, de modo a tornar-se capaz de cuidar dos outros. É necessário treinar-se integralmente, aprender a amar e a ajudar; adquirir a qualificação certa para um serviço humano e profissional desinteressado e cuidadoso aos outros membros da comunidade.

Cuidados familiares

Acolher os necessitados e os doentes está no centro da cultura familiar, a sua contribuição decisiva para a comunidade humana. A comunhão conjugal nasce da doação mútua dos cônjuges. O Senhor abençoou o pacto que une marido e mulher na carne para toda a vida com o dom da fertilidade. O lar matrimonial é o berço, a escola e o primeiro hospital da vida humana. Em suma, a família constitui a primeira comunidade que vive e ensina a cuidar de pessoas. É o lugar natural e privilegiado para educar no reconhecimento do valor incomensurável de cada pessoa e na vocação para cuidar dos outros.

Evangelização

"Vale a pena sair da zona de conforto na educação religiosa".

Entrevista com Javier Sánchez Cañizares sobre o projecto "Educação, ciência e religião" através do qual mil crianças em idade escolar abordaram, de diferentes formas, as grandes questões sobre Deus, o mundo e a humanidade numa perspectiva de complementaridade, diálogo e enriquecimento entre ciência e religião.

Maria José Atienza-4 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 6 acta

Três anos lectivos. Mil alunos. Um projecto: estudar o tratamento da ciência e da religião nas escolas espanholas. Este é o contexto em que a investigação visava descobrir os principais problemas pedagógicos relacionados com as principais questões que envolvem a ciência e a religião nas escolas espanholas.

De Setembro de 2018 até Maio passado, graças a uma subvenção da Fundação John Templeton, Javier Sánchez Cañizares, director do Grupo "Ciência, Razão e Fé e investigador do Instituto de Cultura e Sociedade da Universidade de Navarra, liderou este grupo de investigação, cujo projecto, como Sánchez Cañizares assinala nesta entrevista, salientou, entre outras coisas, a necessidade de oferecer aos estudantes "representações das verdades da fé compatíveis com a visão do mundo que a ciência nos oferece".

A Espanha encontra-se agora num ponto de viragem em termos de educação religiosa nas escolas, de facto, está actualmente a trabalhar para desenvolver um novo currículo Religioso. De certa forma, nas últimas décadas, não lhe parece que o tema da Religião tem sido visto como um tema "separado", sem relação com as outras ciências humanas e sociais?

A verdade é que não sou especialista na matéria e preferiria não fazer afirmações categóricas a este respeito. Também porque a aula de religião não depende apenas do currículo ou do livro didáctico utilizado, mas do professor e da forma como este convida e introduz os alunos na emocionante viagem que o tema da religião deve ser.

Claro que acredito que, nos últimos tempos, algo daquilo a que a pergunta se refere se tenha tornado evidente. Não é um problema simples de resolver, porque há sempre um equilíbrio difícil entre manter a identidade do próprio conteúdo e estar aberto ao diálogo e à interacção com outros conhecimentos humanos. Talvez tenhamos insistido tanto na identidade do sujeito da Religião que esquecemos a dimensão religiosa latente noutros campos do conhecimento, com o risco de transformar o sujeito da Religião numa espécie de meteorito caído do céu.

Obviamente, o problema não é apenas, nem em maior medida, o dos professores de Religião, mas da educação em geral, incluindo os professores de outras disciplinas que silenciam, por vergonha ou ignorância, a abertura religiosa implícita que pode estar presente nas suas disciplinas.

Talvez tenhamos esquecido a dimensão religiosa latente noutros campos do conhecimento, com o risco de transformar o tema da Religião numa espécie de meteorito caído do céu.

Javier Sánchez Cañizares

Um dos grandes "problemas" dos católicos de hoje é, para o dizer de forma suave, a perda de fé na fase universitária quando têm de raciocinar e pensar nisso, indo para além de um "conjunto de orações e sensações". Podem tais projectos ajudar a ultrapassar o dualismo de que falávamos anteriormente e desenvolver sistemas de pensamento que harmonizem a fé e a ciência de uma forma natural?

Este é certamente um dos nossos objectivos. O projecto visa discutir as grandes questões sobre Deus, o mundo e a humanidade a partir de uma perspectiva de complementaridade, onde a ciência e a religião podem questionar-se mutuamente com respeito e seriedade, ouvir-se mutuamente e conseguir purificar quaisquer deturpações que possam ter entrado, individual ou colectivamente. Como São João Paulo II já assinalou, tanto a fé como a razão, incluindo a razão científica, podem purificar-se mutuamente.

Neste sentido, abordar estas questões na escola, da perspectiva conjunta que mencionei, ajuda os futuros estudantes universitários a pensar na fé de uma forma pessoal dentro do contexto cultural actual, que é muito marcado pela linguagem comum da ciência, partilhada por todos. Na universidade e na vida profissional, é bom para os crentes serem bons trabalhadores e, além disso, testemunharem a sua fé através de práticas piedosas.

O projecto ajuda os futuros estudantes universitários a pensar na fé de uma forma pessoal dentro do contexto cultural actual,

Javier Sánchez Cañizares

Mas não devemos esquecer a necessidade de cada crente, cada um segundo as suas próprias características, dar também testemunho de uma unidade de vida intelectual em vez de uma vida dupla: a do crente, por um lado, e a do cientista, universitário ou profissional, por outro. Isso seria como cair de novo na teoria medieval da dupla verdade.

Centrando-se no projecto que foi realizado este ano, como se desenvolveu o trabalho ao longo dos últimos meses?

De acordo com a Fundação John TempletonDecidimos dedicar cada um dos três anos a uma "grande questão". O primeiro ano O primeiro foi dedicado ao estudo da origem do universo e da criação, o segundo à evolução e à acção de Deus no mundo, e o terceiro à especificidade humana face à inteligência artificial e ao transhumanismo. A chave era ter um professor responsável em cada uma das escolas participantes, que era quem, na prática, canalizava os temas específicos e a participação dos alunos ao longo das semanas.

De um ponto de vista mais prático, o projecto foi estruturado em torno de um concurso para os melhores ensaios sobre o tema de estudo. Conseguimos atribuir três prémios e dois vice-campeões por ano. A preparação dos ensaios foi utilizada pelos professores para organizar as aulas e pelos alunos para apresentar o seu trabalho aos seus colegas de turma. Todos os anos, no final do ano, após um processo de selecção dos melhores ensaios, a fase final teve lugar com doze equipas. O formato era o de um seminário Os estudantes e o júri trocaram perguntas sobre o seu trabalho.

Para além dos prémios específicos, talvez o mais impressionante tenha sido ver a qualidade, na forma e substância, destas apresentações, bem como a profundidade das perguntas. Posso assegurar-vos que o nível de qualidade não era nada a invejar em comparação com o de muitos cursos universitários. Além disso, os estudantes que participaram mostraram um desejo de aprender mais sobre estas grandes questões de uma forma interdisciplinar.

Se não complicarmos a vida no ensino, a vida acabará por complicar o que os estudantes aparentemente aprendem, como as estatísticas sobre a fé dos jovens infelizmente nos dizem hoje.

Javier Sánchez Cañizares

Que ideias práticas de aplicação do projecto Ciência e Religião nas Escolas de Espanhol podemos aplicar às escolas do nosso país?

Parece-me que vale a pena sair da zona de conforto no ensino e especialmente na educação religiosa. É verdade que os professores das escolas estão normalmente sobrecarregados de trabalho e não devemos exigir-lhes o impossível, mas devemos também perder o medo de falar daquilo que "não sabemos", de "complicar as nossas vidas", como diz o ditado. Se não tornarmos a vida difícil para nós próprios no ensino, a vida acabará por complicar o que os alunos aparentemente aprendem, como as estatísticas sobre a fé dos jovens infelizmente nos dizem hoje.

Gostaria de acrescentar dois aspectos específicos que têm funcionado bem. Em primeiro lugar, desenvolver periodicamente sessões conjuntas com alunos entre um professor de ciências e o professor de religiãoPenso que estimula os estudantes a ouvir uma conversa respeitosa entre os seus professores em que cada um faz um esforço para compreender o outro. Penso que estimula os estudantes a ouvir uma conversa respeitosa entre os seus professores em que cada um faz um esforço para compreender o outro, bem como a metodologia do assunto que ensinam.

Em segundo lugar, tente fornecer aos estudantes representações das verdades de fé compatíveis com a visão do mundo oferecida pela ciência. É crucial identificar onde algumas destas representações de fé que todos nós fazemos de nós próprios correm mal. Por exemplo, existe uma grande tentação de imaginar a acção de Deus no mundo como a de um ser super-poderoso que, estando "fora" do espaço e do tempo, actua no espaço e no tempo. Mas na realidade, não possuímos um modelo adequado da acção de Deus no mundo.

Depois de todo o tempo dedicado não só à preparação mas também ao desenvolvimento do projecto, é tempo de fazer um balanço. Quantos estudantes participaram neste projecto? Qual tem sido o feedback dos participantes?

Não tenho os números exactos, mas posso dizer que atingimos directamente cerca de 1.000 alunos (aqueles que participaram nos concursos) e indirectamente cerca de 10.000. Deve ter-se em conta que um dos objectivos do projecto é criar uma certa cultura de "ciência e religião" nas escolas. Todos os alunos das classes superiores das escolas participantes, de uma forma ou de outra, acabam por ouvir falar do projecto: ou através do concurso, ou através das actividades gerais organizadas, ou através dos comentários dos seus próprios colegas de turma.

O projecto encorajou cada um dos que nele participaram a encontrar esta visão interdisciplinar e complementar entre ciência e religião.

Javier Sánchez Cañizares

A principal mensagem que os estudantes e professores nos transmitiram foi a de continuar com este tipo de iniciativa. Poderíamos dizer que são um estímulo e uma inspiração para todos, na medida em que levam a uma melhor compreensão de alguns dos problemas colocados e a uma procura de uma resposta que pode ser partilhada através do estudo e da aprendizagem, mas que tem sobretudo uma intensa dimensão pessoal. O projecto tem encorajado cada um dos que nele participaram, sejam estudantes, professores ou organizadores, a encontrar esta visão interdisciplinar e complementar entre ciência e religião.

Finalmente, gostaria de acrescentar que os estudantes interessados nestas grandes questões também estão interessados em compreender melhor as dimensões éticas envolvidas, por exemplo, a especificidade do ser humano ou a distinção e complementaridade entre homens e mulheres. De certa forma, o interesse pelas grandes questões também leva ao interesse pelas suas consequências práticas. Talvez tenha sido também uma lição para todos nós que as exigências éticas não podem ser isoladas dos seus fundamentos mais profundos, para os quais tanto a ciência como a religião devem ser tidas em conta.

Espanha

"Graças à Cáritas, não tenho apenas uma casa, mas uma família".

Esta semana, as organizações da Cáritas diocesana espanhola apresentam os seus dados de 2020, marcados pelas consequências do Covid.

Maria José Atienza-3 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 4 acta

Vanesa, uma estudante universitária, e Ana, desempregada, sem abrigo e mãe de duas crianças, deram voz aos dados apresentados hoje pela Cáritas de Madrid, que, como a maioria das organizações diocesanas da Cáritas em Espanha, apresentou esta semana os seus dados de 2020, marcados pelas consequências da Covid, que atingiu as economias mais vulneráveis.

Estado de alarme social

Embora a emergência sanitária causada pelo coronavírus tenha diminuído significativamente no nosso país, as suas consequências nas esferas social e laboral estão longe de se recuperar, especialmente para as economias mais precárias, que são sempre as primeiras a sofrer as crises e as últimas a recuperar. Esta é uma das conclusões partilhadas pelas diferentes organizações da Cáritas diocesana nos seus relatórios para 2020.

Não surpreendentemente, na apresentação do seu Relatório 2020, o director da Cáritas Madrid salientou que durante os primeiros meses da pandemia, os pedidos de ajuda à Cáritas Madrid triplicaram e mais de 85 % dos pedidos foram para necessidades sociais, principalmente alimentação, fornecimentos, despesas de habitação e medicamentos. No período anual de 2020, 139.157 pessoas recorreram à entidade diocesana sem contar com a ajuda urgente entregue em situações de emergência durante os primeiros meses do estado de alarme.

Habitação, emprego e material básico

Os principais problemas enfrentados por aqueles que abordam a Cáritas no nosso país têm denominadores comuns: a dificuldade de acesso à habitação, a impossibilidade de fazer face aos custos do abastecimento básico e o desemprego, que, em muitos casos, afecta todos os membros da unidade familiar.

Caritas Canarias tem sido uma das que mais notou o aumento do fosso de desigualdade. Não em vão, nesta diocese insular, a Cáritas atendeu 14.623 lares, o que significou um aumento de 82,9% de lares atendidos em relação a 2019. Este é o maior número de serviços nos últimos cinco anos. Um ano em que, além disso, a situação de milhares de migrantes, abandonados à sua sorte nas ruas das ilhas, veio somar-se ao trabalho da Cáritas e às dificuldades decorrentes da pandemia.

Outras dioceses como Sevilha também sofreram um aumento dos pedidos de ajuda da sua Cáritas diocesana. Em termos gerais, o número de famílias assistidas pela Cáritas Diocesana de Sevilha aumentou em 26,6% em 2020. Como destacado na sua apresentação pelo director de Cáritas Diocesanas de SevilhaDe acordo com o INE, a capital de Sevilha tem seis dos bairros mais pobres de Espanha. Estas são áreas em que a atenção prestada pela Cáritas diocesana duplicou. As paróquias de Polígono Sur, Torreblanca e Tres Barrios passaram de cuidar de 1.428 famílias em 2019 para 2.542 famílias em 2020.

Outro exemplo é o da Cáritas Saragoça, cujo trabalho de abrigo em 2020 atingiu 11.518 pessoas em 5.332 lares, 23% mais pessoas do que em 2019, e 31% mais do que em 2018.

O problema da habitação é agravado pela impossibilidade de fazer face ao custo dos fornecimentos, da alimentação e do vestuário. Um ponto que, por exemplo, em Caritas Mérida Badajoz aumentou de 28% em 2019 para 46% ao longo de 2020. 

A pobreza é maioritariamente feminina

Um dos dados mais preocupantes que as diferentes organizações da Cáritas apresentam hoje em dia centra-se na "face feminina" da pobreza em Espanha. Em geral, mais de metade das pessoas assistidas pelas diferentes organizações da Cáritas são mulheres. Os seus problemas são particularmente agudos no caso dos migrantes com menores a seu cargo, e é também na esfera feminina que o desemprego tem causado o maior caos nos últimos meses, com particular relevância para as pessoas envolvidas em trabalhos domésticos ou profissões instáveis.

A emergência do tráfico de trabalho

O director diocesano da Caritas Madrid referiu-se também a uma realidade preocupante que está a ocorrer em Espanha como resultado da crise derivada da pandemia: o recrutamento de homens e mulheres para fins de exploração laboral no nosso país. "Colectivos como as Adoradoras, que trabalham lado a lado com mulheres vítimas de tráfico, falam-nos desta realidade", disse Luis Hernández, "são pessoas que são recrutadas para trabalhar horas muito longas, sem cobertura de trabalho e num regime de escravatura, como os que conhecemos na Ásia, por exemplo, e que, até há pouco tempo, era impensável em Espanha".

"Se eu não sair daqui, outra mãe não conseguirá entrar".

Dar uma voz e um rosto àqueles que vêm à Cáritas pedir ajuda é um dos objectivos das campanhas da Cáritas e, em particular, o do Dia da Caridade, que tem lugar nestes dias. A apresentação dos dados anuais em Madrid contou com a presença dos testemunhos das seguintes pessoas Aurora y Vanessa. O primeiro veio à Cáritas pela primeira vez há 7 anos atrás. Chegou grávida, sem abrigo e desempregada. Desde então, tem estado em várias residências da Cáritas e tem seguido cursos de formação e de apoio emocional. "O que aqueles de nós que vêm à Cáritas querem", salientou, "é um trabalho decente, uma habitação decente, uma oportunidade. Há muitas mães como eu, nesta situação, e se eu não sair daqui, outra mãe não conseguirá entrar".

Vanessa é uma estudante universitária. Aparentemente, ela não tem "o perfil" de um utilizador da Cáritas. No entanto, como ela assinala "não posso deixar de estar grata pelo que a Cáritas fez pela minha mãe e por mim". Uma história que começou em 2015, quando, por várias razões, Vanesa e a sua mãe tiveram de acabar por viver numa sala, "superlotada". "A minha mãe, que estava doente, foi à Igreja e encaminharam-na para a Cáritas. Abriram-nos as portas do centro residencial da JMJ, ofereceram-nos acompanhamento, e acabámos por conseguir arranjar habitação social. Vanesa, que terminou o seu curso e está agora, com grande esforço, a concluir um mestrado, salienta que "graças à Cáritas, não só tenho uma casa, mas uma família" e encoraja-nos a "não perder a esperança porque a Cáritas está sempre presente para o ajudar".

América Latina

Uruguai prepara-se para a Assembleia Eclesial Latino-Americana

A primeira fase da Assembleia Eclesial é um amplo processo de escuta, e a segunda, uma fase presencial que terá lugar entre 21 e 28 de Novembro de 2021, no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México. A proposta era de incluir não só cardeais e bispos, mas também padres, religiosos e religiosas, leigos e leigos.

Agustín Sapriza-3 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Na América Latina e nas Caraíbas, a Igreja está a preparar-se para a celebração de uma Assembleia Eclesial sem precedentes em duas fases. O primeiro, um amplo processo de escuta, e o segundo, um momento presencial que terá lugar entre 21-28 de Novembro de 2021, no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe no México, e simultaneamente em vários outros locais da região.

A origem desta Assembleia é a resposta dada pelo Papa Francisco à proposta da liderança do CELAM de realizar uma sexta Conferência Geral. Francisco encorajou a pensar numa assembleia diferente, porque há pontos pendentes do documento de Aparecida. 

A proposta era de incluir não só cardeais e bispos, mas também padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas. É algo novo, num espírito sinodal, propõe-se fazer uma memória grata da última Conferência Geral, o que requer uma conversão pastoral, para procurar novos caminhos.

A Assembleia Eclesiástica terá um formato presencial e virtual. Cerca de cinquenta pessoas assistirão pessoalmente na Casa Lago, no México. E cerca de vinte locais presenciais e interacção virtual. 

Queríamos que este processo sinodal fosse uma grande escuta do povo de Deus que está em peregrinação na América Latina e nas Caraíbas, neste tempo de pandemia.

O processo tem os seguintes objectivos:

  1. Reanimar a Igreja de uma nova forma, apresentando uma proposta reformadora e regenerativa.
  2. Ser um evento eclesial numa chave sinodal, e não apenas episcopal, com uma metodologia representativa, inclusiva e participativa.
  3. Ser um marco eclesial que possa relançar os grandes temas que ainda hoje existem, que surgiram em Aparecida, e retomar temas e agendas que tenham impacto. 
  4. Reconectando as cinco Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e Caraíbas, ligando o magistério latino-americano ao magistério do Papa Francisco; marcando três marcos: de Medellín a Aparecida, de Aparecida a Querida Amazonía, e de Querida Amazonía ao Jubileu de Guadalupe e à Redenção em 2031 e 2033,

O Uruguai prepara-se

A igreja em peregrinação no Uruguai, pequena e pobre, enfrenta o desafio de tornar a sua mensagem atractiva e mobilizadora. Esta Assembleia é vista como uma forma de envolver todos os fiéis para alcançar uma maior difusão do Evangelho.

A nível da Conferência Episcopal, o bispo de Canelones, Heriberto Bodeant, será o responsável pela animação desta Assembleia. Foi realizado um encontro virtual com os vigários pastorais de todas as dioceses. Além disso, através de uma carta, encoraja todos a juntarem-se a esta Assembleia sem precedentes, oferecendo recursos, e foram criados um endereço electrónico e uma linha WhatsApp como meio de consulta e para enviar as contribuições das diferentes comunidades.

Na arquidiocese de Montevideo, a reunião anual do clero da diocese foi utilizada como uma oportunidade para apresentar a Assembleia Eclesial. Nesta ocasião, devido às actuais restrições sanitárias, foi através da plataforma Zoom, com a participação de cerca de 130 padres.  

O Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Madariaga, Arcebispo de Tegucigalpa, foi convidado para a reunião praticamente e apresentado pelo Cardeal Daniel Sturla, que preside a diocese.

D. Madariaga fez uma apresentação de cerca de 20 minutos, explicando os objectivos da Assembleia e qual será a sua dinâmica. Encorajou-nos que é uma oportunidade numa chave sinodal, como o Papa Francisco encorajou, para ouvir as preocupações e desafios dos nossos fiéis. 

Após a sua intervenção, foram realizados trabalhos de grupo, com perguntas em preparação para a Assembleia Eclesial. Em cada grupo foram recolhidas sugestões que servirão como primeiro passo, e que serão trabalhadas nos diferentes órgãos organizacionais da Arquidiocese a fim de delinear o trabalho de preparação para a Assembleia.

Além disso, foi partilhado um questionário no Conselho de Presbitério, que será também enviado a todas as paróquias para recolher todas as sugestões.

Por sua vez, na diocese de São José, mais de 60 pessoas participaram num encontro virtual, onde foram encorajadas a seguir os passos desta viagem sinodal.

Honestamente, meus queridos, não nos podíamos importar menos.

Os sacramentos são a voz de Deus no mundo, a forma como a Trindade encontra homens e mulheres de todos os tempos.

3 de Junho de 2021-Tempo de leitura: 3 acta

Scott Hahn conta no seu livro Comprometidos com Deus como um dia, quando perguntou a um certo amigo, um protestante como ele, sobre um bom livro, tirou uma cópia de um livro sobre o ensino de Calvino sobre os sacramentos. Ao vê-lo, Hahn devolveu-lho com uma frase lapidária: "Estou aborrecido com todas estas coisas sacramentais.

No seu regresso a casa, a sua esposa salientou a rudeza da sua reacção e ainda mais, e cito: "Kimberly terminou a sua lição com um sorriso e um trocadilho: não te surpreendas Scott se, quando estiveres perante o Senhor, descobrires que, na verdade, os sacramentos aborrecidos te levaram até ao céu!

Para este pastor protestante e a sua família, os sacramentos, especialmente a Eucaristia, levaram-nos à fé católica. Para todos nós, tu e eu, os sacramentos também nos conduzem, como disse com razão Kimberly Hahn, ao Céu. Embora, como Scott, (e pior ainda porque sabemos o que são realmente os sacramentos), somos capazes de pensar que eles nos aborrecem. E aborreceram-nos porque muitas vezes reduzimos os sacramentos a uma espécie de acto burocrático eclesiástico, esquecendo que em cada um destes sacramentos, não somos apenas os sacramentos da Igreja, mas também os sacramentos da Igreja.

Nenhum sacramento é obra do homem, mas de Deus. É verdade que, arrastados pelo individualismo peculiar do Ocidente, temos preferido, especialmente nos últimos anos, enfatizar um "sentimento individual" de fé, desprezando em certa medida os sacramentos, que aparecem como uma simples colecção de ritos e palavras. Nada poderia estar mais longe da verdade. Deus na terra fala a linguagem do amor, relaciona-se numa relação de amor com o homem de uma forma completa nos sacramentos.   

Não podemos ter uma vida cristã completa sem os sacramentos; seria como pedalar uma bicicleta sem rodas. Não é o mesmo viver uma vida sacramental activa que não o fazer, assim como não é o mesmo demonstrar amor pela família, esposa, filhos ou pais que não o fazer: da abundância do coração a boca fala.

Os sacramentos são a voz de Deus no mundo, a forma como a Trindade encontra homens e mulheres de todos os tempos, (especialmente evidente na Eucaristia), o sangue vital que molda a Igreja e, portanto, tu e eu como parte dela.

O baptismo, que, como nos recorda o Papa Francisco, "faz-nos entrar neste Povo de Deus que transmite a fé". Um Povo de Deus que caminha e transmite a fé" e que o Espírito Santo funda como Igreja, o mesmo Espírito que nós recebemos na Confirmação. A Eucaristia transforma o tempo e o espaço, o Deus infinito que se materializa, que se "adapta" aos nossos limites, tornando-se carne na nossa carne em Comunhão, e que, como na Encarnação, espera a resposta de cada um de nós. Reconciliação que nos recupera para a vida da graça, com a qual regressamos a Deus (re-ligare no sentido pleno). No casamento cristão o amor pleno de Deus na sua Trindade e na sua Igreja é reflectido carnalmente. A ordem sacerdotal, pela qual Deus pode tornar-se presente na nossa vida e face a face no final da mesma, a ajuda da Unção. Através destes sacramentos Deus rasga com a sua infinitude a linha da história, da nossa história pessoal, para nos tornar parte da sua própria: a sua morte, a sua ressurreição, a sua glória.

 Não podemos dizer, face a este panorama, que não nos importamos, porque estes, os sacramentos aborrecidos, são os caminhos que Deus nos deixou para chegarmos ao Céu.

O autorMaria José Atienza

Diretora da Omnes. Licenciada em Comunicação, com mais de 15 anos de experiência em comunicação eclesial. Colaborou em meios como o COPE e a RNE.

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