A recente viagem do Papa Francisco a Malta deixou imagens para recordar, tais como o passeio de popemobile pelas ruas, a viagem de barco ao santuário de Ta' Pinu ou o encontro com refugiados num centro de acolhimento.
Em louvor da excelência
A escolha de uma educação que rejeite a procura e o esforço conduzirá inevitavelmente a uma queda no nível educacional dos alunos, com tudo o que isso implicará para a sociedade do futuro.
O governo acaba de aprovar os Decretos Reais que regulamentam o ensino do Ensino Secundário Obrigatório (ESO). O assunto atingiu a imprensa pelas razões mais coloridas, tais como o desaparecimento de um estudo cronológico da história, ou a tão apregoada educação emocional e feminista que deve permear todas as áreas, incluindo o estudo da matemática com uma perspectiva de género. O desaparecimento sangrento dos estudos filosóficos em ESO e a fome do tema da Religião também têm sido repetidamente realçados.
Cada um destes aspectos é vital e vale a pena ter em conta ao analisar a presente reforma pedagógica. Mas há um aspecto que está subjacente a toda a lei e que tem um grande significado social. É a opção por uma educação que rejeita a procura e o esforço, o que inevitavelmente levará a uma queda no nível educacional dos alunos, com tudo o que isso implicará para a sociedade do futuro.
O facto de não haver um número máximo de exames reprovados (dois até agora) para um estudante passar não é algo de anedótico. Cabe agora ao pessoal da escola decidir se um aluno é promovido para o próximo ano, apesar de ter um certo número de fracassos. Obviamente, é claro para as famílias e estudantes que a lei o permite e que o "culpado" por não promover o estudante não será o estudante por não estudar, mas o centro, os professores, por não o permitirem, ainda que esteja ao seu alcance. Na mesma linha estão os eufemismos pelos quais um aluno não "repete" um ano, mas "permanece" no mesmo. Ou a eliminação dos exames de maquilhagem.
No centro disto está uma mentalidade pedagógica de não estigmatizar o aluno. Isto é acompanhado por uma abordagem social que é altamente preocupante, que é que ninguém assume responsabilidade pelo que faz. Os culpados são sempre outros. É sempre outra pessoa que tem de resolver os meus problemas. Em última análise, claro, aquela outra pessoa que tem de cuidar do meu bem-estar é o Estado.
Um adulto é alguém que assume a responsabilidade pelo que faz. Mas parece que vivemos numa sociedade de adolescentes e que este modelo será perpetuado com esta proposta educativa.
Estamos a caminhar para uma sociedade onde existe um fosso crescente entre as pessoas que receberam dois tipos de educação. Por um lado, haverá quem opte por uma educação que, através de um trabalho árduo, faça sobressair o melhor dos jovens, que forme homens livres, autónomos e adultos. E, por outro lado, uma educação baseada num igualitarismo descendente que os faz permanecer na sua mediocridade, que é a proposta dos nossos actuais líderes nesta reforma educativa.
Haverá escolas que aceitarão um pedido dos pais que procuram a procura e o esforço para os seus filhos, e outras, forçadas pelo governo com as suas equipas de inspecção à frente, que optarão por uma educação em que todos passam o curso, em que nada acontece.
Com Pedro Salinas só me consigo lembrar que aquele que ama, o bom educador, não está satisfeito com a mediocridade da pessoa amada, mas quer que eles tragam a melhor versão de si próprios, mesmo que isso lhes custe, mesmo que lhes doa.
Perdoe-me por procurar por si desta forma tão desajeitadamente, dentro de si em si. Perdoem-me a dor, um dia destes. É só que eu quero trazer à tona de vós o vosso melhor. Aquela que não viu e que eu vejo, nadando através das suas profundezas, precioso. E toma-o e tê-lo no alto como a árvore tem a árvore tem a última luz que encontrou o sol. E depois você viria em busca dele, no alto. Para chegar até ele a subir sobre ti, como eu te amo, tocando apenas o seu passado com as pontas cor-de-rosa dos seus pés, todo o seu corpo em tensão, já em ascensão de si para si mesmo. E que o meu amor seja então respondido por a nova criatura que é.
Pedro Salinas. La voz a ti debida. 1933
Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.
O Papa encoraja-nos a olhar para os outros como Jesus o fez: com um "olhar de misericórdia".
No segundo dia da sua viagem a Malta, o Papa Francisco foi à Gruta onde se crê ter vivido São Paulo, e celebrou a Santa Missa em Floriana. Aí encorajou-nos a olhar para os outros com o olhar de Jesus Cristo, de modo a não despedir ninguém, mas a olhar para eles com "um olhar de misericórdia".



No segundo dia da sua viagem a Malta, o Papa Francisco viajou até à cidade de Rabat para visitar a Gruta de São Paulo, onde se crê que o apóstolo viveu e pregou durante três meses após ter sido naufragado a caminho de Roma.
Em St Paul's Grotto
O pontífice entrou na basílica no topo da gruta, antes de descer para a própria gruta, que também foi visitada pelo Papa Emérito Bento XIV e por São João Paulo II. O Papa acendeu uma vela diante da estátua do Apóstolo Paulo, e rezou para que o espírito de acolhimento que os ilhéus tinham para o santo continuasse para os migrantes que chegavam às margens da ilha.
Depois de dizer a oração, escreveu no Livro de Honra: "Neste lugar santo, que comemora São Paulo, apóstolo dos gentios e pai na fé deste povo, agradeço ao Senhor e peço-lhe que conceda sempre ao povo maltês o Espírito de consolação e o ardor da proclamação.
Santa Missa em Floriana
O Papa viajou então para a cidade de Floriana, Malta, para celebrar a Santa Missa. Cerca de 20.000 pessoas estiveram presentes na celebração, incluindo representantes das Igrejas cristãs e outras confissões religiosas. A Praça do Granário em Floriana situa-se fora das muralhas de Valletta, a capital de Malta, e tem vista para a Igreja de São Públio, que é considerada o primeiro bispo de Malta e que, segundo a tradição, acolheu o Apóstolo Paulo na ilha depois do naufrágio.
Comentando na sua homilia sobre o comportamento das personagens da passagem evangélica de hoje, o Papa Francisco recordou que "estas personagens dizem-nos que mesmo na nossa religiosidade o verme da hipocrisia e o vício de apontar os dedos pode rastejar". Em todas as épocas, em todas as comunidades. Há sempre o perigo de mal entendermos Jesus, de termos o seu nome nos nossos lábios mas de o negarmos de facto. E isto também pode ser feito levantando bandeiras com a cruz. Como podemos então verificar se somos discípulos na escola do Mestre? Pelo nosso olhar, pela forma como olhamos para o nosso vizinho e como olhamos para nós próprios. Este é o ponto para definir a nossa pertença".
Um olhar de misericórdia
O Santo Padre salientou que o olhar do cristão deve ser o de Jesus Cristo, "um olhar de misericórdia", e não o dos acusadores, "de uma forma julgadora, por vezes até desdenhosa", "que se arvoram em campeões de Deus mas não se dão conta de que estão a espezinhar os seus irmãos". Franciso recordou que, "na realidade, aqueles que pensam defender a fé apontando o dedo aos outros podem ter uma visão religiosa, mas não abraçam o espírito do Evangelho, porque esquecem a misericórdia, que é o coração de Deus".
Francisco deu outra chave, para além do nosso olhar para os outros, para "compreender se somos verdadeiros discípulos do Mestre": como nos vemos a nós próprios. "Os acusadores da mulher estão convencidos de que não têm nada a aprender. De facto, o seu aparelho externo é perfeito, mas falta a verdade do coração. São o retrato daqueles crentes que, em cada época, fazem da fé uma fachada, onde se destaca o exterior solene, mas falta a pobreza interior, que é o tesouro mais precioso do homem. De facto, para Jesus, o que conta é a abertura voluntária daqueles que não sentem que chegaram, mas que precisam de salvação. Portanto, quando estamos em oração e também quando participamos em belos cultos religiosos, devemos perguntar-nos se estamos em sintonia com o Senhor".
"Jesus, o que queres de mim?"
"Podemos perguntar-lhe directamente: 'Jesus, estou aqui contigo, mas o que queres de mim? O que queres mudar no meu coração, na minha vida? Como queres que eu olhe para os outros? Far-nos-á bem rezar assim, porque o Mestre não está satisfeito com as aparências, mas procura a verdade do coração. E quando lhe abrimos verdadeiramente o nosso coração, ele pode fazer maravilhas em nós.
No final da homilia, o Papa encorajou-nos a imitar Jesus Cristo desta forma, e assegurou-nos que "se o imitarmos, não seremos forçados a concentrar-nos na denúncia dos pecados, mas a procurar os pecadores com amor". Não contaremos o número dos presentes, mas iremos em busca dos que estão ausentes. Deixaremos de apontar dedos, mas começaremos a ouvir. Não descartaremos os desprezados, mas olharemos primeiro para aqueles que são considerados os últimos. Isto, irmãos e irmãs, Jesus ensina-nos hoje pelo seu exemplo".
"Deixemo-nos surpreender por ele e acolhamos a sua novidade com alegria", concluiu Francisco.
Francisco exorta no santuário de Ta' Pinu a "redescobrir o essencial: Jesus".
No santuário mariano de Ta' Pinu, na ilha maltesa de Gozo, o Santo Padre exortou-nos ontem a renovar a nossa fé, deixando-nos guiar pela Virgem Maria e voltando à essência do cristianismo: "O amor de Deus que nos faz evangelizar o mundo com alegria; e o acolhimento do nosso próximo", "a relação com Jesus e a proclamação do seu Evangelho".


Ontem à tarde, o primeiro dia da viagem apostólica do Papa a Malta, teve lugar um emocionado encontro de oração com milhares de pessoas no santuário mariano de Ta' Pinu, na ilha de Gozo, um lugar de grande piedade pelos malteses, visitado por São João Paulo II e mais tarde por Bento XVI. O Santo Padre recordou-o quando comentou: "São João Paulo II também veio aqui como peregrino, e hoje recordamos o aniversário da sua morte".
Seguindo os passos dos seus predecessores, Francisco visitou a capela do santuário e rezou as três Ave Marias perante a imagem da Virgem, apresentando-lhe um presente de uma rosa dourada, um presente dos Papas para expressar reverência pela Mãe de Deus, noticiaram as notícias do Vaticano.
Depois de ouvir o testemunho de fé de várias pessoas, o Papa fez a sua homilia com base na passagem do Evangelho segundo São Mateus que narra o momento em que a Virgem Maria e o discípulo João acompanham Jesus na cruz no meio de uma cena desolada em que parece que "tudo acabou para sempre".
Com Jesus na cruz
"A Mãe que deu à luz o Filho de Deus está de luto pela sua morte, enquanto as trevas cobrem o mundo. O discípulo amado, que tinha deixado tudo para o seguir, está agora imóvel aos pés do Mestre crucificado. Parece que tudo está perdido", salientou o Papa, sublinhando o significado profundo das palavras de Jesus: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
"Esta é também a nossa oração nos momentos de vida marcados pelo sofrimento", salientou o Santo Padre, recordando que é a mesma oração que "todos os dias sobe a Deus" do coração da humanidade. O Pontífice salientou que a hora de Jesus - que no Evangelho de João é a hora da morte na cruz - não representa a conclusão da história, mas marca o início de uma nova vida.
"Aos pés da cruz contemplamos o amor misericordioso de Cristo, que nos estende os seus braços bem abertos e, através da sua morte, nos abre para a alegria da vida eterna". Por esta razão, o Papa convidou os fiéis a meditarem juntos, a partir do santuário de Ta' Pinu, sobre "o novo começo que nasce da hora de Jesus", e que "cada um pode transferir para a sua própria história, observando os momentos pessoais de dor em que a fé e a esperança apareceram, mesmo quando parecia que tudo estava perdido".
"De volta às origens
Francisco encorajou-nos assim a tentar compreender o convite que a hora de Jesus nos propõe: "Essa hora de salvação para nós diz-nos que, para renovar a nossa fé e a missão da comunidade, somos chamados a regressar a esse início, à Igreja nascente que vemos em Maria e João aos pés da cruz".
E o que significa voltar ao início? O que significa voltar às origens? Para o Santo Padre, o essencial da fé é a relação com Jesus: "Trata-se de redescobrir o essencial da fé", ou seja, "regressar à Igreja das origens não significa olhar para trás para copiar o modelo eclesial da primeira comunidade cristã, mas sim, recuperar o espírito da primeira comunidade cristã, regressar ao coração e redescobrir o centro da fé: a relação com Jesus e a proclamação do seu Evangelho a todo o mundo".
"O encontro pessoal com Cristo
O Papa salientou então que "a vida da Igreja não é apenas uma história passada a ser recordada", mas "um grande futuro a ser construído", sendo "dócil aos planos de Deus".
"Não basta termos uma fé feita de costumes transmitidos, de celebrações solenes, de belos encontros populares e de momentos fortes e emocionantes; precisamos de uma fé fundada e renovada num encontro pessoal com Cristo, na escuta diária da sua Palavra, na participação activa na vida da Igreja, no espírito da piedade popular", acrescentou o Santo Padre.
Francisco está consciente da "crise de fé, da apatia de acreditar, especialmente no período pós-pandémico, e da indiferença de tantos jovens para com a presença de Deus". "Estas não são questões que devamos 'casaco de açúcar', pensando que afinal de contas um certo espírito religioso ainda perdura". "É necessário estar vigilante para que as práticas religiosas não se reduzam à repetição de um repertório do passado, mas exprimam uma fé viva e aberta que espalhe a alegria do Evangelho".
A este respeito, o Papa Francisco agradeceu aos malteses pelo "processo de renovação iniciado através do Sínodo". "Este é o momento de regressar a esse início, aos pés da cruz, olhando para trás, para a primeira comunidade cristã. Ser uma Igreja que se preocupa com a amizade com Jesus e a proclamação do seu Evangelho, e não com a procura de espaço e atenção; uma Igreja que coloca o testemunho no centro, e não certas práticas religiosas; uma Igreja que quer sair ao encontro de todos com a lâmpada ardente do Evangelho e não ser um círculo fechado".
"Malta e Gozo: vocês são duas belas comunidades, tal como Maria e João eram duas, assim sejam as palavras de Jesus na cruz a vossa estrela de vara, para se acolherem, para criarem familiaridade e para trabalharem em comunhão. Que as palavras de Jesus na cruz sejam então a vossa estrela de vara, para se acolherem uns aos outros, para criarem familiaridade e para trabalharem em comunhão. Avancem, sempre juntos", encorajou o Papa.
Sonhar com a paz, a imigração "não é um vírus", e proteger a vida, os principais temas de Francisco
A tristeza pela fraqueza do "entusiasmo pela paz" após a Segunda Guerra Mundial, e o encorajamento a "ouvir a sede de paz das pessoas" face ao risco de "uma guerra fria prolongada"; a "co-responsabilidade europeia" face à imigração, "que não é um vírus a ser defendido", e a defesa da "beleza da vida", marcaram o discurso do Papa no sábado em Valletta (Malta).


"Os vossos antepassados ofereceram hospitalidade ao Apóstolo Paulo a caminho de Roma, tratando-o a ele e aos seus companheiros de viagem com 'cordialidade invulgar'; agora, vindo de Roma, também eu sinto o caloroso acolhimento dos malteses, um tesouro que é transmitido neste país de geração em geração".
Foi assim que o Papa Francisco iniciou o seu discurso às autoridades, à sociedade civil e ao corpo diplomático, proferido na Câmara do Grande Conselho do Palácio do Grande Mestre em Valletta, capital de Malta, na presença do Presidente da República, George William Vela, que o tinha encontrado no aeroporto com a sua esposa, e do Primeiro-Ministro Robert Abela.
"Malta pode ser definida como o coração do Mediterrâneo devido à sua posição. Mas não só devido à sua posição: o entrelaçamento de acontecimentos históricos e o encontro de povos fizeram destas ilhas, durante milénios, um centro de vitalidade e cultura, de espiritualidade e beleza, uma encruzilhada que foi capaz de acolher e harmonizar influências de muitos lugares", continuou o Santo Padre.
O Romano Pontífice aproveitou a oportunidade, desde as suas primeiras horas em Malta, para sublinhar alguns dos elementos mais significativos das suas mensagens desde a sua eleição para a Sé de Pedro, dirigidas aos Estados e instituições, e ao mesmo tempo a cada indivíduo, realçando a vida e a dignidade da pessoa humana.
Por exemplo, quando encorajou "a continuar a defender a vida desde o seu início até ao seu fim natural, mas também a protegê-la a todo o momento de ser descartada e abandonada. Estou a pensar especialmente na dignidade dos trabalhadores, dos idosos e dos doentes. E dos jovens, que correm o risco de desperdiçar o imenso bem que são, perseguindo as ilusões que deixam tanto vazio interior".
A rosa do vento
A rosa bússola é a imagem que o Papa Francisco emprestou, disse ele, para delinear as quatro influências essenciais à vida social e política da República de Malta, e "não é por acaso que nas representações cartográficas do Mediterrâneo a rosa bússola foi frequentemente colocada perto da ilha de Malta". O Papa olhou então para o norte, Europa e União Europeia; para o ocidente, o ocidente; para o sul, para África, com o tema da imigração - "eles são pessoas!" ele diria - e finalmente para o leste, onde voltou a sua atenção para a guerra na Ucrânia, para a paz e desarmamento, e para o que foi entendido como uma referência ao Presidente russo Vladimir Putin, sem o citar, e aos Estados:
Este foi um dos parágrafos textuais do Papa sobre este ponto: "O quanto precisamos de uma 'medida humana' face à agressividade infantil e destrutiva que nos ameaça, face ao risco de uma 'guerra fria prolongada', que pode sufocar a vida de povos e gerações inteiras. E é triste ver como o entusiasmo pela paz, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, enfraqueceu nas últimas décadas, assim como o caminho da comunidade internacional, com os poucos poderosos a avançarem por si próprios, em busca de espaço e esferas de influência. E assim, não só a paz, mas muitas grandes questões, tais como a luta contra a fome e a desigualdade, foram de facto retiradas das principais agendas políticas. Mas a solução para as crises de cada um é enfrentar as crises de todos, porque os problemas globais exigem soluções globais.
Viagem a Kiev: "Está sobre a mesa".
A propósito, foi perguntado ao Papa no avião se estava a considerar uma viagem a Kiev, e a sua resposta foi: "Está em cima da mesa", vários meios de comunicação social relatam. "Ajudemo-nos mutuamente a ouvir a sede de paz do povo, trabalhemos para lançar as bases de um diálogo cada vez mais amplo, voltemos a encontrar-nos em conferências internacionais de paz, onde o tema central é o desarmamento, com os olhos postos nas gerações vindouras. E que os vastos recursos que continuam a ser gastos em armamento sejam gastos em desenvolvimento, saúde e alimentação", exigiu o Papa no seu discurso.
"Agora, na noite de guerra que caiu sobre a humanidade, não deixemos que o sonho da paz desapareça. Malta, que brilha com a sua própria luz no coração do Mediterrâneo, pode inspirar-nos, porque é urgente devolver a beleza ao rosto do homem, desfigurado pela guerra".
"Precisamos de compaixão e cuidado".
O Santo Padre referiu-se então a "uma bela estátua mediterrânica datada de séculos antes de Cristo, que representa a paz, Irene, como uma mulher que tem Plutão, riqueza, nos seus braços. Lembra-nos que a paz produz bem-estar e guerra apenas pobreza, e faz-nos pensar no facto de que na estátua a paz e a riqueza estão representadas como uma mãe que segura um bebé nos braços".
"A ternura das mães, que dão vida ao mundo, e a presença das mulheres são a verdadeira alternativa à lógica perversa do poder, que conduz à guerra. Precisamos de compaixão e cuidado, não de visões ideológicas e populismos que se alimentam de palavras de ódio e não se preocupam com a vida concreta do povo, das pessoas comuns", afirmou o Papa neste ponto.
"Paul foi ajudado: a beleza de servir".
"O fenómeno da migração não é uma circunstância do momento, mas marca o nosso tempo (...). Do sul pobre e povoado, uma multidão de pessoas está a deslocar-se para o norte mais rico. É um facto que não pode ser rejeitado com uma mentalidade fechada anacrónica, porque isoladamente não haverá nem prosperidade nem integração. O espaço também deve ser considerado.
"A expansão da emergência migratória - pensar nos refugiados da atormentada Ucrânia - exige respostas amplas e partilhadas. Apenas alguns países não podem suportar todo o problema, enquanto outros permanecem indiferentes", acrescentou Francis. "E os países civilizados não podem sancionar negócios obscuros com criminosos que escravizam pessoas por interesse próprio. O Mediterrâneo precisa da co-responsabilidade europeia, para voltar a ser o cenário da solidariedade e não o posto avançado de um trágico naufrágio de civilizações".
O Santo Padre citou então o episódio do naufrágio do Apóstolo dos Gentios: "Por falar em naufrágio, penso em São Paulo, que no decurso da sua última viagem no Mediterrâneo chegou inesperadamente a estas costas e foi resgatado. Depois, mordido por uma víbora, pensaram que era um assassino; mas depois, vendo que nada de mal lhe tinha acontecido, foi considerado um deus (cf. Actos 28:3-6).
Entre os exageros dos dois extremos escaparam as principais provas: Paul era um homem, necessitado de um acolhimento. A humanidade vem em primeiro lugar e recompensa em tudo. Este país, cuja história tem beneficiado com a chegada forçada do apóstolo náufrago, ensina isto. Em nome do Evangelho que ele viveu e pregou, vamos expandir os nossos corações e descobrir a beleza de servir os necessitados".
"A narrativa da invasão
Hoje, embora o medo e "a narrativa da invasão" prevaleçam, e o principal objectivo pareça ser a protecção da própria segurança a qualquer custo, ajudemo-nos mutuamente a não ver o migrante como uma ameaça e a não ceder à tentação de construir pontes levadiças e levantar muros.
"O outro não é um vírus a ser defendido, mas uma pessoa a ser acolhida", salientou o Papa, e "o ideal cristão convidar-nos-á sempre a superar a desconfiança, a desconfiança permanente, o medo de sermos invadidos, as atitudes defensivas impostas pelo mundo de hoje" (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 88). Não permitamos que a indiferença destrua o sonho de viver juntos! Certamente, o acolhimento requer esforço e renúncia. Aconteceu também a São Paulo: para se salvar, teve primeiro de sacrificar os bens do navio (cf. Actos 27:38). Mas as renúncias são sagradas quando são feitas para um bem maior, para a vida do homem, que é o tesouro de Deus".
Dignidade da pessoa humana
"Na base do crescimento sólido está a pessoa humana, o respeito pela vida e a dignidade de cada homem e de cada mulher. Conheço o empenho dos malteses em abraçar e proteger a vida". [nota: o Comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa exortou Malta a "revogar as disposições que criminalizam o aborto", e Malta respondeu que as leis pró-vida do país não põem em perigo a vida das mulheres].
O Pontífice continuou: "Já nos Actos dos Apóstolos vos distinguistes salvando muitas pessoas", e depois encorajou a defesa e a protecção da vida, tal como acima afirmado: "Encorajo-vos a continuar a defender a vida desde o seu início até ao seu fim natural, mas também a protegê-la a todo o momento de ser descartada e abandonada. Estou a pensar especialmente na dignidade dos trabalhadores, dos idosos e dos doentes. E os jovens (...) Protejamos a beleza da vida!
Há pouco, referindo-se ao facto de "o Norte evocar a Europa, em particular a casa da União Europeia, construída para que uma grande família possa viver ali unida na salvaguarda da paz", o Papa tinha recordado a oração escrita por Dun Karm PsailaDeus omnipotente, concede sabedoria e misericórdia aos que governam, saúde aos que trabalham, e assegura ao povo maltês a unidade e a paz. A paz segue a unidade e dela brota". [Dun Karm Psaila, 1871-1961, sacerdote e poeta maltês, autor do hino nacional de Malta].
"Isto é um lembrete da importância de trabalhar em conjunto, de colocar a coesão acima da divisão, de reforçar as raízes e valores partilhados que forjaram a singularidade da sociedade maltesa", salientou o Papa.
Sobre o Médio Oriente
O Santo Padre concluiu com um pensamento sobre "o vizinho Médio Oriente, que se reflecte na língua deste país, que se harmoniza com outros, tais como a capacidade do maltês de gerar uma coexistência benéfica, numa espécie de coexistência de diferenças. É disto que o Médio Oriente precisa: Líbano, Síria, Iémen e outros contextos dilacerados por problemas e violência.
"Que Malta, o coração do Mediterrâneo, continue a fazer bater o coração da esperança, o cuidado com a vida, o acolhimento dos outros, o desejo de paz, com a ajuda de Deus, cujo nome é paz. Que Deus abençoe Malta e Gozo. À tarde, o Papa terá um encontro de oração no Santuário Mariano de Ta'Pinu, na ilha de Gozo. Amanhã, o Papa Francisco celebrará a Santa Missa num dos maiores espaços abertos de Malta, na Praça Granary, em Floriana, e visitará o Centro de Migrantes do Laboratório da Paz João XXIII, que acolhe pessoas da Somália, Eritreia e Sudão que embarcaram da Líbia para atravessar o Mediterrâneo.
George dos HabsburgosLer mais : "Penso que o meu avô intercede pelo regresso da paz na Europa".
Há cem anos atrás, o último imperador da Áustria-Hungria, grande promotor da paz na Europa durante a Primeira Guerra Mundial, morreu no exílio e foi beatificado por São João Paulo II. O seu neto, Georges de Habsbourg-Lorraine, embaixador húngaro em Paris, explica a Omnes a figura do seu avô no contexto de uma nova guerra na Europa.



A 1 de Abril de 1922, há cem anos, Carlos de Habsburgo, o último imperador da Áustria e rei da Hungria, morreu na ilha da Madeira (Portugal) com trinta e quatro anos de idade. Carlos I da Áustria (Carlos IV da Hungria) tinha estado em solo português durante alguns meses, onde, exilado durante a Primeira Guerra Mundial, tinha sido recebido em Novembro de 1921 com a sua família. Poucos meses após a sua chegada, a saúde do Imperador deteriorou-se até que a pneumonia terminou a sua vida. A sua esposa, a imperatriz Zita, que esperava o seu oitavo filho, cuidou dele até ao fim da sua vida. O seu corpo repousa na Igreja de Nossa Senhora do Monte no Funchal, Madeira, muito longe da Cripta dos Capuchinhos em Viena, onde os membros desta dinastia que governou a Europa durante séculos estão enterrados.

O seu nome alcançou um prestígio especial no mundo católico quando foi declarado Beato a 3 de Outubro de 2004 durante uma cerimónia presidida pelo Papa João Paulo II em Roma. O Imperador Carlos foi reconhecido como um modelo cristão pelas suas virtudes e pelas suas acções em favor da paz, apoiando os esforços do Papa Bento XV durante a Primeira Guerra Mundial. A Igreja também viu nele um modelo de bom governante cristão, comprometido com o bem comum e os ensinamentos da doutrina social cristã: Carlos cuidou dos seus súbditos mais pobres e mais negligenciados, reduziu os luxos judiciais e estabeleceu o primeiro Ministério do Desenvolvimento Social do mundo. Não foi por nada que ele foi conhecido como "o imperador do povo".
Georges de Habsbourg-Lorraine, neto do Imperador Carlos, é o embaixador da Hungria em França desde Dezembro de 2020. Este cidadão austríaco (onde o seu nome oficial alemão é Georg Habsburg-Lothringen) e húngaro (em húngaro é chamado Habsburg-Lotaringiai György), teria recebido o título de Alteza Imperial e Arquiduque Real da Áustria, Príncipe da Hungria, Boémia e Croácia, se o Império ainda existisse. O embaixador recebe-nos numa sala da embaixada da Hungria em Paris.
Um século após a morte do imperador, o seu avô Carlos, Europa Central, está de novo em guerra. O que pensa deste acontecimento?
- Há dois elementos que me parecem primordiais para compreender o governo do meu avô. Carlos era, antes de mais nada, um soldado. Devemos recordar que ele nunca pensou que seria imperador, porque a linha de sucessão estava longe dele. Ele conhecia muito bem a guerra e as suas consequências. Este é um elemento importante a considerar nos seus esforços pela paz: ele sabia o que era a guerra, por isso queria a paz.
Outro elemento que gosto de destacar é o facto de ele ser muito jovem quando se tornou imperador: tinha 29 anos de idade. Quando ele assumiu o poder, é preciso considerar que ele estava a suceder ao seu tio-avô Franz Joseph I da Áustria, que esteve no poder durante não menos de 68 anos, com tudo o que isso implicava: era todo um sistema que ele herdou. Os generais de Franz Joseph queriam a guerra, porque tinham confiança no poder e na grandeza do exército imperial. Charles teve então uma grande oposição a este sistema. O império era imenso e Carlos rapidamente percebeu que a integridade do império estava em perigo através da guerra, e foi exactamente isso que aconteceu.
Apesar desta oposição no seio do aparelho estatal, o meu avô conseguiu algumas reformas, especialmente de natureza social. Devido à sua adesão à doutrina social cristã, tinha compreendido muito bem que certas transformações sociais eram necessárias, bem como um novo estilo de governo que tinha de ser adoptado. Isto levou-o a viajar muito dentro do Império, o que não era tão fácil na altura, para conhecer a realidade do povo, os seus problemas e as suas aspirações. Assim, concebeu o primeiro Ministério do Desenvolvimento Social do mundo e também fez aprovar legislação protectora para os inquilinos que era muito apropriada em tempo de guerra quando muitas pessoas ficaram sem dinheiro para pagar as suas rendas.
Devido à sua adesão à doutrina social cristã, o meu avô Imperador Carlos I da Áustria tinha compreendido muito bem que certas transformações sociais eram necessárias, bem como um novo estilo de governo que tinha de ser adoptado.
George dos HabsburgosEmbaixador da Hungria em Paris
A figura do seu avô ainda é relevante nestes tempos de guerra?

- Há algo que me impressiona particularmente na vida do meu avô que pode inspirar muitas pessoas em todo o mundo. É algo que ouvi no Vaticano, nos dias da sua beatificação. O Imperador Carlos não foi beatificado porque foi bem sucedido ou porque alcançou um grande feito, porque de facto, politicamente, não conseguiu alcançar a paz e terminou a sua vida no exílio. O que conta para a visão cristã da vida é a jornada diária, o que se faz ou tenta fazer todos os dias para fazer o bem, para trabalhar para o bem comum. E a este respeito, o meu avô foi exemplar. Esta é, para mim pessoalmente, a grande mensagem que ele nos deixa e que é muito relevante na sociedade actual, onde tendemos a dar demasiada importância aos resultados e não tanto ao esforço.
De uma forma mais concreta e espiritual, penso que o meu avô está a interceder para que a paz regresse à Europa. Há muitas pessoas que lhe estão a rezar por esta intenção. Há várias relíquias dele. Na Hungria não creio que a sua figura seja tão bem conhecida. Curiosamente, fiquei impressionado com o facto de em França ele ser mais conhecido. Existe, por exemplo, uma escola com o seu nome na cidade de Angers. Parece-me que é a única escola no mundo que recebeu o nome de "Beato Carlos da Áustria". Outro exemplo: há alguns dias, num almoço oficial em Versalhes, um dos convidados observou que o seu filho recebeu o nome de Charles em homenagem ao meu avô: ficou muito impressionado quando descobriu quem eu era!
De uma forma mais concreta e espiritual, penso que o meu avô está a interceder para que a paz regresse à Europa. Há muitas pessoas que lhe estão a rezar por esta intenção.
George dos HabsburgosEmbaixador da Hungria em Paris
Tem sido dito que a Hungria optou por uma posição neutra nesta guerra. Qual é a posição do seu governo?
- Parece-me que esta crítica não é muito bem fundamentada. O meu país é membro da União Europeia e da NATO e, como tal, seguimos as sanções e resoluções que foram adoptadas. Por outro lado, enviámos muita ajuda humanitária para a Ucrânia e já acolhemos cerca de 500.000 refugiados. Em Budapeste, as consequências da guerra já são visíveis com a presença destas pessoas deslocadas. Na minha própria casa em Budapeste, por exemplo, estamos a acolher duas famílias ucranianas.
Por outro lado, decidimos não contribuir com armas para o conflito. Não queremos colocar os nossos cidadãos em risco. É de salientar que após a Primeira Guerra Mundial, com o deslocamento do Império Austro-Húngaro tornado oficial pelo Tratado de Trianon em 1920, mais de três milhões de húngaros deixaram de viver na Hungria. Actualmente existem cerca de 150.000 húngaros na Ucrânia que queremos proteger. Já lamentamos a morte de seis soldados ucranianos de origem húngara nesta guerra.
Finalmente, em termos de dependência energética, a nossa situação não é exactamente a mesma que a dos outros membros da União Europeia. De facto, somos 80% dependentes da energia russa. Entrar num conflito com a Rússia seria um grave perigo para a nossa população. Quer queiramos quer não, esta dependência é real e é um legado da história soviética recente.
Hoje, em plena guerra na Europa Central, um Habsburgo é embaixador em Paris durante a Presidência francesa da União Europeia. Na sua carreira como diplomata, o seu avô tem sido um modelo a seguir?
- As coincidências históricas divertem-me muito. Por exemplo, há alguns dias apresentei as minhas credenciais ao Príncipe do Mónaco, porque para além de ser embaixador em França, sou também embaixador no Principado. E eu pensei: "as reviravoltas da história, um Hapsburg apresentando as suas credenciais ao Príncipe do Mónaco"! Para além das anedotas históricas, devo dizer que o meu avô é uma fonte constante de inspiração, mas tenho de admitir ao mesmo tempo que o meu pai tem tido uma influência muito maior na minha carreira. O meu pai, Otto dos Habsburgos, o filho mais velho do Imperador e líder da Casa dos Habsburgos, foi um político visionário e deputado europeu durante mais de 20 anos. Desempenhou um papel importante no processo de construção europeia e na inclusão, na União Europeia, das antigas nações que faziam parte do império.
Ele estava bem consciente da responsabilidade histórica da nossa família no século XXI, que tinha estado activa na política europeia durante quase mil anos, e ensinou-nos a viver na sociedade moderna, a estudar e a trabalhar como todos os outros. Estudei direito, história e ciência política na universidade na Áustria, Alemanha e Espanha. Neste último país, estive na Universidade Complutense em Madrid para estudar história contemporânea espanhola e cultura islâmica, que não foi ensinada em Munique. Comecei a trabalhar em empresas de comunicação audiovisual. Há trinta anos atrás, fixei residência na Hungria, onde tenho sido embaixador desde 1996. Em particular, o meu pai atribuía grande importância às línguas. Graças a ele, tal como ele, falo seis línguas (alemão, húngaro, francês, inglês, italiano e espanhol), o que tem sido obviamente muito útil para mim no meu trabalho como diplomata.
Que actividades estão previstas para 1 de Abril de 2022, o 100º aniversário da morte do seu avô Charles?
A principal actividade deste centenário será uma missa que terá lugar na igreja onde o meu avô está enterrado, na ilha da Madeira. Mais de uma centena de membros da família estarão presentes. No início não estava a planear participar porque temos eleições importantes na Hungria no domingo, 3 de Abril, e temos muito trabalho a fazer na embaixada em França para organizar as eleições. No entanto, o vice-primeiro-ministro da Hungria teve a amabilidade de me pedir que estivesse presente na Madeira para esta ocasião. Por isso, terei todo o prazer em poder participar neste grande evento.
"Vamos caminhar juntos, arrivederci no Canadá". O histórico pedido de desculpas do Papa aos índios canadianos.
O Papa Francisco pediu pessoalmente desculpas ao povo aborígene do Canadá pelo sofrimento colonial em que os católicos estavam envolvidos.
Persevere e triunfará. Como os líderes indígenas canadianos têm vindo a exigir há anos, no Vaticano a 1 de Abril, o Papa pediu pessoalmente desculpas ao povo indígena do Canadá pelos sofrimentos coloniais em que os católicos desempenharam um papel. De facto, não se tinham satisfeito com as repetidas desculpas e compensações financeiras dos bispos e congregações religiosas canadianas desde os anos 90. Eles queriam um perdão papal. Têm-no em espadas.
Após três reuniões esta semana no Vaticano com três grupos diferentes de indígenas (Primeira Associação das Nações, Métis, Inuit), que duraram horas, nesta reunião de 50 minutos na sexta-feira 1 de Abril, Francisco prometeu repetir as suas desculpas nas suas terras ancestrais: ele gostaria de vir, anunciou ele, para celebrar convosco a festa da avó de Jesus Santa Ana (26 de Julho), a quem sois tão devota. E brincou, num ambiente festivo e descontraído animado por música e danças típicas, que não viria ao Canadá no Inverno! Na imponente Sala Clementina, três dúzias de indígenas do segundo maior país do mundo, juntamente com sete bispos canadianos representantes de toda a Conferência Episcopal Canadiana (que pagaram a viagem de todos), ouviram com emoção um Pontífice que também ficou visivelmente emocionado. Não faltou a menção ao Deus Criador, mencionada por alguns dos povos indígenas que falaram. Eles comprometeram-se a "caminhar juntos" a partir de agora. Um casal inuíte (esquimó) cantou a Oração do Senhor na sua língua.
No discurso de Bergoglio em italiano, um capolavoro poético de compreensão, arrependimento e aviso, não sobrou uma palavra. No entanto, atrevo-me a encurtá-lo um pouco. Por favor comparem a minha tradução com o original, se quiserem citar, como por vezes parafraseio.
"Caros irmãos e irmãs, nos últimos dias tenho ouvido atentamente os vossos testemunhos. Conduzi-vos à reflexão e à oração, imaginando as vossas histórias e situações. Estou grato por terem aberto os vossos corações e por com esta visita terem expressado o desejo de caminharem juntos. Começo com uma expressão que pertence à vossa sabedoria e é uma forma de ver a vida: 'Temos de pensar em sete gerações futuras quando tomamos uma decisão hoje'. Isto é o oposto do que muitas vezes acontece hoje em dia, onde objectivos úteis e imediatos são perseguidos sem considerar o futuro das próximas gerações. Em vez disso, a ligação entre o velho e o jovem é indispensável. Deve ser alimentada e salvaguardada, porque permite que a memória não seja invalidada e que a identidade não se perca. E quando a memória e a identidade são salvaguardadas, a humanidade melhora".
"Uma bela imagem também surgiu nestes dias. Compararam-se com os ramos de uma árvore. Como eles, cresceu em várias direcções, viajou através de várias estações e foi também fustigado por ventos fortes. Mas agarrou-se firmemente às raízes, que se mantiveram sólidas. E assim continua a dar frutos, pois os ramos só se espalham bem alto se as raízes forem profundas. Gostaria de mencionar alguns frutos. Em primeiro lugar, o vosso cuidado pela terra, que não vêem como uma mercadoria a ser desfrutada, mas como um presente do Céu; para vós a terra guarda a memória dos antepassados que ali descansam e é um espaço vivo, onde acolheis a vossa própria existência dentro de uma teia de relações com o Criador, com a comunidade humana, com a espécie viva e com o lar comum em que vivemos. Tudo isto leva-o a procurar a harmonia interior e exterior, a nutrir um grande amor pela família e a ter um sentido de comunidade animado. A isto há que acrescentar as riquezas específicas das vossas línguas, culturas, tradições e formas artísticas, heranças que vos pertencem não só a vós, mas a toda a humanidade, na medida em que exprimem a humanidade".
"Mas a sua árvore frutífera sofreu uma tragédia, da qual me falou nos últimos dias: a do desenraizamento. A cadeia que transmitia conhecimentos e estilos de vida, em ligação com o território, foi destruída pela colonização, que, desrespeitosamente, afastou muitos de vós do vosso ambiente de vida e tentou normalizá-los para outra mentalidade. Desta forma, a sua identidade e a sua cultura foram feridas, muitas famílias foram separadas, muitos jovens tornaram-se vítimas desta acção. omologatriceIsto baseia-se na ideia de que o progresso vem da colonização ideológica, de acordo com programas estudados numa secretária sem respeitar a vida do povo. Infelizmente, isto também está a acontecer hoje em dia a vários níveis: colonização ideológica. Quantas colonizações políticas, ideológicas e económicas ainda existem no mundo, movidas pela ganância, pela sede de lucro, insensíveis ao povo, às suas histórias e tradições, e à casa comum da criação. Infelizmente, esta mentalidade colonial ainda é generalizada. Ajudemo-nos uns aos outros a ultrapassá-lo.
"Através das vossas palavras pude tocar com as minhas mãos e carregar dentro de mim, com grande tristeza no coração, as histórias de sofrimento, privação, tratamento discriminatório e várias formas de abuso sofridas por alguns (...).diversi) de vós, em particular nos internatos (scuole residenziali). É arrepiante pensar nesta intenção de incutir um sentido de inferioridade, de fazer alguém perder a sua própria identidade cultural, de cortar as suas raízes, com todas as consequências pessoais e sociais que isso implicou e continua a implicar: traumas não resolvidos, que se tornaram traumas intergeracionais".
"Tudo isto despertou em mim dois sentimentos: indignação e vergonha. Indignação, porque é injusto aceitar o mal, e é ainda mais injusto habituar-se ao mal, como se fosse uma dinâmica inescapável causada pelos acontecimentos da história. Não, sem forte indignação, sem memória e sem um compromisso de aprender com os erros, os problemas não são resolvidos, e regressam. Vemo-lo hoje em dia no que diz respeito à guerra. A memória do passado nunca deve ser sacrificada no altar do alegado progresso".
"E também sinto vergonha, dor e embaraço pelo papel que várias (e diversas) pessoas têm desempenhado.diversi) Os católicos, especialmente aqueles com responsabilidade educativa, tiveram em tudo o que vos prejudicou, nos abusos e desrespeito pela vossa identidade, cultura e mesmo pelos vossos valores espirituais. Tudo isto é contrário ao Evangelho de Jesus. Pela conduta deplorável desses membros da Igreja Católica, peço perdão a Deus e gostaria de vos dizer com todo o meu coração: Lamento muito. E junto-me aos meus irmãos Bispos canadianos para pedir o vosso perdão. É óbvio que o conteúdo da fé não pode ser transmitido de uma forma estranha a essa mesma fé: Jesus ensinou-nos a acolher, a amar, a servir e não a julgar; é terrível quando, precisamente em nome da fé, é dada uma contra-testemunha do Evangelho".
"A vossa experiência amplifica em mim aquelas questões muito actuais que o Criador dirige à Humanidade no início da Bíblia. Em primeiro lugar, após a culpa cometida, ele pergunta ao homem: "Onde estás" (Gn 3,9). Pouco tempo depois, faz outra pergunta, que não pode ser separada da anterior: "Onde está o teu irmão? Onde estás, onde está o teu irmão? Onde estás, onde está o teu irmão? Estas são questões que devemos sempre repetir para nós próprios; são as questões essenciais da consciência porque não nos lembramos que estamos nesta terra como guardiães da sacralidade da vida e, portanto, guardiães dos nossos irmãos, de todas as pessoas fraternas. Ao mesmo tempo, penso com gratidão de tantos bons crentes que, em nome da fé, com respeito, amor e bondade, enriqueceram a vossa história com o Evangelho. Estou feliz, por exemplo, por pensar na veneração que se espalhou entre muitos de vós por Santa Ana, a avó de Jesus. Este ano, gostaria de estar convosco nesses dias. Hoje precisamos de reconstituir uma aliança entre avós e netos, entre velhos e jovens, uma premissa fundamental para uma maior unidade da comunidade humana".
"Estou confiante que as reuniões destes dias podem abrir novos caminhos a serem seguidos em conjunto, incutir coragem e aumentar os esforços a nível local. Um processo de cura eficaz requer acções concretas. Num espírito de fraternidade, encorajo os Bispos e Católicos a continuarem a dar passos na busca transparente da verdade e a promover a cura e a reconciliação; passos num caminho para redescobrir e revitalizar a vossa cultura, aumentando o amor, o respeito e a atenção específica às vossas tradições genuínas na Igreja. A Igreja está do vosso lado e quer continuar e caminhar convosco. O diálogo é a chave do conhecimento e da partilha e os Bispos do Canadá expressaram claramente o seu compromisso de caminhar juntos convosco num caminho renovado, construtivo e frutuoso, onde os encontros e projectos partilhados podem ajudar".
"Caríssimos amigos, fui enriquecido pelas vossas palavras e ainda mais pela vossa testemunha. Trouxe para Roma o sentido vivo das suas comunidades. Gostaria de aproveitar ainda mais o encontro convosco, visitando os vossos territórios nativos onde vivem as vossas famílias. Não irei no Inverno! Apresento-vos agora o arrivederci no Canadáonde posso expressar melhor a minha proximidade. Entretanto, asseguro-vos das minhas orações, invocando a bênção do Criador sobre vós, as vossas famílias e comunidades. Não quero terminar sem vos dizer, meus irmãos Bispos: obrigado! Obrigado pela vossa coragem. Na humildade: na humildade é revelado o Espírito do Senhor. Face a histórias como estas que ouvimos, a humilhação da Igreja é frutuosa. Obrigado pela vossa coragem" (olhando para os sete bispos canadianos, de províncias como Alberta, Saskatchewan e Quebec). "E obrigado a todos!" (olhando para os povos indígenas).
E após alguns números musicais e orações dos nativos e uma agradável troca de dons, por vezes em línguas indígenas, o Papa abençoou-os em inglês com estas palavras: "Deus vos abençoe a todos - o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Reze por mim, não se esqueça! Rezarei por si. Muito obrigado pela sua visita. Adeus, adeus"!
Papa em Malta depois de se encontrar com refugiados da Ucrânia em Roma
O Santo Padre Francisco retomou as suas visitas apostólicas, na sequência da sua viagem à Grécia e Chipre em Dezembro de 2021, com uma rápida viagem à República de Malta este fim-de-semana, seguindo os passos do Apóstolo Paulo. "Será uma ocasião para conhecer pessoalmente uma comunidade cristã com uma história milenar e animada", escreveu o Pontífice.
A "terra luminosa" de Malta, a ilha onde São Paulo, o grande evangelizador dos gentios, naufragou, tem vindo a acolher o Papa Francisco há já algumas horas.A viagem, no seu décimo ano como Pastor da Igreja Católica, foi há muito esperada. Esta é uma viagem há muito esperada, pois estava programada para 2020, mas teve de ser adiada devido à emergência sanitária Covid-19.
Uma "terra luminosa", como Francisco a descreveu na audiência geral de quarta-feira, hoje mais do que nunca empenhada em "acolher tantos irmãos e irmãs em busca de refúgio", e que conta com 408.000 baptizados, 85 % da população total de 478.000 habitantes do arquipélago de Malta, Gozo e outras ilhas mais pequenas.
O lema da 36ª viagem internacional do Papa Francisco - "Eles mostraram-nos uma hospitalidade incomum" - é retirado de um verso dos Actos dos Apóstolos com palavras de São Paulo descrevendo a forma como ele e os seus companheiros foram tratados quando naufragaram na ilha nos anos 60, durante a sua viagem a Roma. Francisco é o terceiro Pontífice a visitar Malta depois de São João Paulo II em 1990 e 2001, e Bento XVI em 2010.
O tema do acolhimento é também simbolizado pelo logótipo da viagem, que representa as mãos estendidas para os outros, emergindo do barco em que São Paulo naufragou na ilha há mais de dois mil anos, a caminho de Roma. "Uma oportunidade para ir à fonte da proclamação do Evangelho", e "para conhecer pessoalmente uma comunidade cristã com uma história antiga e viva".
Mais cedo, como de costume, Francisco foi à Basílica de Santa Maria Maggiore em Roma para rezar diante do ícone da Virgem Maria. Salus Populi Romani e confiou-lhe estes dois dias intensos, durante os quais proferirá cinco discursos ou homilias.
Depois de saudar as autoridades e o corpo diplomático esta manhã no Palácio do Grande Mestre em Valletta, o Papa assistirá à tarde a uma reunião de oração no Santuário Mariano de Ta'Pinu, na ilha de Gozo, na qual participarão o Cardeal Mario Grech, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos de Malta, o Arcebispo de Malta, Dom Charles Scicluna, e o Bispo de Gozo, Anton Teuma.
Talvez o acontecimento mais esperado da viagem do Papa seja a sua visita amanhã, domingo, ao centro dos migrantes Laboratório da Paz João XXIIIonde Francisco se encontrará com cerca de 200 pessoas, principalmente africanos. É um centro onde é realizado um importante trabalho educativo no domínio dos direitos humanos, da justiça, da solidariedade e dos cuidados médicos.
Encontro com famílias ucranianas
Esta manhã, antes de deixar a casa de Santa Marta, o Santo Padre encontrou-se com algumas famílias de refugiados da Ucrânia, acolhidas pela Comunidade de Sant'Egidio, juntamente com o Doador de esmolas de Sua Santidade, o Cardeal Konrad Krajewski, como relatado pelo Gabinete de Imprensa do Vaticano.
Entre elas está uma mãe de 37 anos com duas meninas, de 5 e 7 anos, que chegou a Itália vinda de Lviv há cerca de 20 dias. A rapariga foi submetida a cirurgia cardíaca e está sob supervisão médica em Roma. Recebeu também duas mães, cunhadas, com os seus quatro filhos, com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos, alojados num apartamento oferecido por uma senhora italiana, que veio de Ternopil e chegou a Roma há pouco mais de 20 dias. As crianças das duas famílias estão a frequentar a escola em Roma.
A terceira família chegou a Roma há três dias através da Polónia. São 6 pessoas, de Kiev: mãe e pai, com três filhos de 16, 10 e 8 anos, e uma avó de 75 anos. Vivem também numa casa oferecida por uma mulher italiana para acolher os refugiados.
Igreja Missionária
"Parece-me significativo que neste décimo ano do seu pontificado esta viagem a Malta tenha lugar, porque Malta está ligada à figura de São Paulo, que é o evangelista por excelência, e se há uma nota que tem sido uma característica constante do pontificado de Francisco, é precisamente a da chamada, do convite à Igreja para se tornar missionária, para se tornar cada vez mais missionária, para levar o anúncio do Evangelho a todos, em todas as situações", disse o Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin em declarações à agência noticiosa oficial do Vaticano.
"Cuidar dos que nos rodeiam", o antídoto para a eutanásia, diz Benigno Blanco
"Devemos cuidar da vida daqueles que nos rodeiam, criar círculos concêntricos de cuidados éticos, envolver-nos na vida daqueles que estão próximos de nós, redescobrir o valor de um sorriso, olhar para todos com olhos amorosos". Estas são as prescrições que Benigno Blanco, ex-presidente do Fórum da Família, lançou no CARF em resposta à lei da eutanásia.
Tradução do artigo para italiano
"Isto é, empatizar, valorizar a vida das pessoas à sua volta, com os doentes, com os idosos, com as mulheres grávidas, com os desempregados, com os imigrantes também, os ucranianos... Somos acolhedores? Mostramos com actos, com atitudes, com dinheiro se necessário, mas não só, que nos preocupamos com a vida dos outros? Isso é criar uma cultura de vida. Portanto, se queres implicar com o governo e o parlamento, há todos os motivos para implicar com a lei da eutanásia, mas vamos fazer algo que está nas nossas mãos para as pessoas à nossa volta. O amor é a maior força.
Este foi o núcleo da mensagem do advogado Benigno Blanco numa Reunião reflexão organizada pela Fundação Centro Académico Romano (CARF), e Omnes há alguns dias atrás. Benigno Blanco tem uma vasta experiência em questões sociais, tendo sido presidente do Fórum Familiar Espanhol, e foi também presidente da Federação Espanhola de Grandes Famílias e membro do comité federal da Federação Espanhola de Associações Pró-Vida.
O advogado asturiano, talvez recordando o seu tempo na política, colocou-se no lugar dos participantes na reunião, e argumentou: "Não sou médico, não sou enfermeiro, não tenho um hospital, não sou ministro nem membro do parlamento, o que vou fazer? Podeis amar as pessoas à vossa volta, é isso que se espera de nós", respondeu ele.
"Sem amargura e desespero, assumamos a responsabilidade, com o nosso comportamento e com as pessoas à nossa volta, de fazer todo o bem que está nas nossas mãos, porque somando o pouco bem que podemos fazer, a cultura de morte que estas leis facilitam será um dia invertida. As revoluções do século XXI não serão de cima para baixo, serão de baixo para cima.
"Somos pessoas comuns que, amando a verdade e a liberdade, e propondo honestamente aos outros o que acreditamos valer a pena, mudaremos este mundo, se o quisermos. E encorajo-vos porque é possível e fácil fazê-lo, se formos responsáveis", concluiu Benigno Blanco.
Pedagogia da vida, fazer o bem
Mas primeiro, o advogado, que pôde ser visto na Marcha do Sim à Vida do domingo passado em Madrid, argumentou sobre a ideia de participar. "Se conseguirmos alargar estes círculos concêntricos de influência para além das pessoas que nos rodeiam, através de associações, da web, contando exemplos positivos, ensinando sobre a vida, influenciando médicos, profissionais de saúde, etc., isso seria óptimo".
"Mas não nos debrucemos sobre o quão mau o mundo é... Tentemos fazer o bem à nossa volta, porque isso é eficaz em termos históricos, mesmo que não saibamos que efeitos positivos tem ou terá. Há uma frase famosa na cultura cristã, que é a de que o mal é superado pela inundação do bem. Se está preocupado com o mal, faça você mesmo o bem. E isto está ao alcance de todos.
"Recuperando o substrato humanista
Na sua palestra no CARF, intitulada "Autodestruição social", Benigno Blanco salientou que "temos vindo a desumanizar o ser humano, reduzindo-o a uma coisa", e "temos vindo a perder a consciência do valor da vida. O por nascer é um ser humano que merece respeito". E no que diz respeito aos idosos, parece dizer-se: "custamos muito. Por favor, retirem-se".
Na sua opinião, o que aconteceu são duas coisas: o crime tornou-se um direito, e o comportamento tornou-se banalizado, e é visto como normal. Na Bélgica, a eutanásia foi legalizada em 2002, e passou de 24 casos de morte para cerca de 2.000 em 2015. E nos Países Baixos já estavam com 6.000 eutanásia em 2016. [quase 7.000 em 2020, um total de 4 % de mortes no país]. "Há um efeito de derrapagem", "uma falência moral", razão pela qual é necessária uma "defesa activa da dignidade humana", "uma recuperação da cultura da vida".
Com estes "círculos concêntricos de pessoas que se tratam mutuamente com esta ética de cuidados, com o conhecimento de que as coisas que valem a pena são da responsabilidade de todos, e não apenas daqueles que têm um problema, estaremos a recriar aquele substrato humanista que um dia nos permitirá modificar leis como as relativas ao aborto ou à eutanásia", disse o orador na reunião, que também se referiu à objecção de consciência. A Conferência Episcopal Espanhola acaba de publicar uma Nota Doutrinal sobre a objecção de consciência, que pode ser consultada aqui. aqui.
Mataria uma mosca?
Proclamar que "a fraternidade é para ser família" é reconhecer que Deus providenciou desde toda a eternidade a nossa vocação de fraternidade como meio de santificação.
"A fraternidade tem de ser uma família", esta é uma afirmação que qualquer fraternidade assume sem reservas e um dos objectivos prioritários de todos os irmãos mais velhos; para o conseguir, é necessário identificar as principais características distintivas da família e tentar replicá-las na fraternidade:
Vocação: Para um cristão, a família não é simplesmente uma instituição social, é uma autêntica vocação humana e sobrenatural, baseada no amor dos cônjuges.
Apoio e aceitação mútuos: Na família, o amor deve manifestar-se nos gestos mais simples e mais quotidianos. Conhece a alegria e a esperança, mas também a fadiga e a dor, e vence-as graças ao amor, que nasce de uma vontade de estarmos juntos, de nos ajudarmos uns aos outros, o que se confirma diariamente numa aceitação incondicional do outro.
Desenvolvimento pessoal em liberdadeA família não é apenas um lugar onde as pessoas vivem juntas, mas o lugar onde formam as suas personalidades, onde são ensinadas e aprendem a amar e a servir. Este amor faz parte da estrutura ontológica de cada pessoa, e deve ser desenvolvido na família, com base na liberdade pessoal.
Tendo definido estes princípios, proclamar que "a fraternidade deve ser uma família" é reconhecer que Deus, desde toda a eternidade, dispõe a nossa vocação de fraternidade como meio de santificação, e por esta razão a fraternidade deve reflectir estas características da família.
Nem tudo é sempre tão ideal. Em qualquer grupo humano, mesmo em famílias e em irmandades, surgem dificuldades e divisões, como o Papa reconhece: "Viver em família nem sempre é fácil, muitas vezes é doloroso e cansativo, mas acredito que se pode aplicar à família [e às irmandades] o que já disse mais de uma vez sobre a Igreja: prefiro uma família ferida [uma irmandade], que tenta todos os dias combinar amor, a uma família [irmandade] e a uma sociedade doente pelo egoísmo e pelo conforto do medo de amar" (16.02.16). (16.02.16)
No entanto, há situações em que as dificuldades se enraízam e levam a situações pouco edificantes, como é que se chega lá?
Na nossa sociedade, e as irmandades fazem parte da sociedade, há uma tendência para subestimar a força criativa do pensamento crítico, para confundir discrepância com deslealdade, oposição com tensão, autonomia com autodeterminação. A adesão inabalável já não é exigida, mas sim uma aderência acrítica. O que é diferente é temido e nós tentamos suprimi-lo, a fim de reafirmar a bondade das nossas abordagens, mesmo que apenas com pequenos gestos, como a recusa de cumprimentar ou tratar os outros cordialmente.
Esta atitude, mantida ao longo do tempo, gera uma tendência para distinguir entre "nós" e "eles". O passo seguinte é despojar "eles", aqueles que pensam de forma diferente, das suas características individuais: eles não existem como indivíduos, são uma abstracção, um colectivo que, como tal, não está sujeito a direitos. A partir deste ponto, a nossa moralidade e os nossos princípios só se aplicam a nós, aos membros do nosso grupo.
Isto pode parecer exagerado, mas quando alguém se instala nesta atitude, acaba por não encontrar qualquer ligação entre o seu mundo, o único que considera real, e o dos outros, que vê como um colectivo indiferenciado que reifica, e consequentemente as regras morais só se aplicam ao seu próprio, e não aos outros. O comportamento desedificador para com eles, recusando-se a cumprimentá-los, criticando-os, isolando-os, suspendendo a responsabilidade pessoal, é assim legitimado.
Normalmente aqueles que agem desta forma são pessoas boas, que não matariam uma mosca, mas que assumiram a banalidade do mal em tal comportamento, como Hannah Arendt explicou nas suas crónicas do julgamento "Eichman em Jerusalém".
Qual é o papel dos "os outros", aqueles que a corporação dos biempensantes colocou do outro lado? não se envolver numa luta dialéctica para impor as suas opiniões, mas promovê-las com liberdade, consciente de que isso tem os seus custos, e força, uma força paciente, sem resignação ou renúncia, firme sem provocação, prudente, promover activamente o progresso desejável e sem renunciar às suas convicções, conscientes de que quando se cede ou se renuncia a elas ou as esconde, por fraqueza, para não ir contra a corrente, para não ser criticado ou para manter um estatuto, se rebaixa e leva ao cansaço, à tristeza e à mediocridade naqueles que os rodeiam (Cfr. S. João Paulo II: 1.01.1979).
Doutoramento em Administração de Empresas. Director do Instituto de Investigación Aplicada a la Pyme. Irmão mais velho (2017-2020) da Irmandade de Soledad de San Lorenzo, em Sevilha. Publicou vários livros, monografias e artigos sobre irmandades.
Malta dá as boas-vindas ao Papa Francisco
A ilha de Malta acolhe o Papa Francisco na sua 36ª viagem apostólica internacional. Entre as reuniões planeadas, irá encontrar-se com migrantes provenientes principalmente da Somália, Eritreia e Sudão via Líbia.
Este fim-de-semana, 2 e 3 de Abril, o Papa Francisco encontra-se na ilha de Malta, na sua 36ª visita internacional. Peregrino nas pegadas de São Paulo, o Pontífice visitará uma comunidade que sempre foi acolhedora e que ainda hoje dá refúgio àqueles que são obrigados a deixar a sua pátria.
É uma oportunidade "de ir à fonte do anúncio do Evangelho" e conhecer e encontrar pessoalmente uma comunidade histórica e viva, que continua empenhada em "acolher tantos irmãos e irmãs que procuram refúgio". Com estas palavras, o Papa Francisco pediu aos fiéis reunidos para a Audiência Geral de quarta-feira que o acompanhassem nesta viagem à ilha de Malta, que se realiza este fim-de-semana, 2 e 3 de Abril.
A 36ª viagem apostólica do Papa Francisco, já adiada pela pandemia, segue os passos de São Paulo Apóstolo, que naufragou na pequena ilha mediterrânica a caminho de Roma para ser julgado. Mesmo assim, encontrou um povo que o tratou "com uma humanidade rara", como se conta no capítulo 28 dos Actos dos Apóstolos, que inspiraram a Visita.
As reuniões
Está previsto que faça cinco discursos durante dois dias, começando com um discurso às Autoridades e ao Corpo Diplomático no Palácio Presidencial em Valletta, na manhã da sua chegada. À tarde, haverá uma reunião de oração no santuário mariano de Ta' Pinu, o local de peregrinação mais famoso de Malta, na outra pequena ilha de Gozo; o Papa chegará a ela por catamarã, uma viagem de mais de uma hora.
No domingo de manhã cedo, o Pontífice terá um breve encontro com os Jesuítas locais, antes de se dirigir à Gruta de São Paulo em Rabat, onde, segundo a tradição, o Apóstolo permaneceu no ano 60 após o naufrágio. Depois ficou lá durante três meses, pregando, baptizando e curando os doentes, trazendo assim o cristianismo para a ilha.
Após a oração privada, o Papa Francisco acenderá a lâmpada votiva e lerá uma oração a São Paulo; na Basílica do mesmo nome, reunir-se-á com 14 líderes religiosos e alguns dos doentes e os assistidos pela Cáritas. Ele estará perante o Santíssimo Sacramento para a "oração de misericórdia" e bênção.
A missa de domingo está marcada na Piazzale dei Granai em Floriana, a cidade fora das muralhas da capital Valletta. A igreja dedicada a S. Publius, o primeiro bispo de Malta e aquele que abrigou materialmente o Paulo naufragado, está em frente à praça.
O Pontífice realizará o seu último encontro com cerca de 200 migrantes no Centro "João XXIII - Laboratório da Paz", uma iniciativa fundada em 1971 pelo franciscano Dionisio Mintoff que hoje acolhe pessoas provenientes principalmente da Somália, Eritreia e Sudão via Líbia.
O logótipo da Viagem
A recepção, como já dissemos, será o tema predominante desta visita. O próprio logotipo da viagem mostra as mãos apontadas para a Cruz, vindo de um barco à mercê das ondas. As mãos destinam-se a representar um sinal de acolhimento do cristão ao seu vizinho e de ajuda aos que se encontram em dificuldades, abandonados à sua sorte. O barco, por seu lado, é uma referência à história dramática do naufrágio de São Paulo e da recepção dos malteses, como lemos nos Actos dos Apóstolos.
O Papa Francisco é o terceiro pontífice a visitar Malta, após duas visitas de São João Paulo II (1990 e 2001) e de Bento XVI em 2010. A ilha tem seis bispos, mais de 700 sacerdotes e 48 seminaristas; há 800 freiras professas e cerca de 1.250 catequistas. A Igreja também dirige 48 jardins de infância e 24 institutos de formação.
Líderes religiosos ucranianos alvo da morte
O arcebispo principal da Igreja Católica Grega Ucraniana, Sviatoslav Shevchuk, disse que nos primeiros dias da guerra, os líderes religiosos na Ucrânia estavam numa lista de pessoas a serem eliminadas.
Shevchuk salientou que havia mesmo infiltrados na comunidade paroquial da catedral de Kiev que faziam parte de um grupo de assalto com este objectivo.
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Malte accueille le pape François
A ilha de Malte dá as boas-vindas ao Papa François para a sua 36ª viagem apostólica internacional. Entre as reuniões planeadas, encontrará migrantes vindos principalmente da Somália, Érythrée e Soudan via Líbia.

Tradução francesa de Roberto Gambi. Texto original em inglês aqui.
Este fim-de-semana, a 2 e 3 de Abril, o Papa Francisco encontra-se na ilha de Malte para a sua 36ª visita internacional. Peregrino sobre os vestígios de São Paulo, o Papa visitará uma comunidade que sempre foi acolhedora e que, hoje em dia, ainda dá refúgio àqueles que estão relutantes em deixar a sua pátria.
É a oportunidade "de ir à fonte da Anunciação da Igreja Evangélica" e conhecer e conhecer pessoalmente uma comunidade histórica e viva, que continua a empenhar-se "no acolhimento de tantos irmãos e amigos que procuram refúgio". Foi com estas palavras que o Papa Francisco pediu aos fiéis reunidos para a audiência geral na quarta-feira para o acompanharem na sua viagem à ilha de Malte, que teve lugar este fim-de-semana, nos dias 2 e 3 de Abril.
A 36ª viagem apostólica do Papa Francisco, já relatada por causa da pandemia, segue os vestígios do apóstolo São Paulo, que naufragou na pequena ilha mediterrânica quando se rendeu a Roma para ser julgado. Mesmo ali, encontrou um povo que o tratou "com uma humanidade rara", como nos diz o Capítulo 28 dos Actos dos Apóstolos, que inspirou a visita.
Les rencontres
Deveria proferir cinco discursos durante dois dias, começando com um discurso às autoridades e ao corpo diplomático no palácio presidencial em La Valette, na manhã da sua chegada. À tarde, haverá um encontro de oração no santuário mariano de Ta' Pinu, o local de peregrinação mais famoso de Malte, localizado na outra pequena ilha de Gozo; a viagem será feita por catamarã, uma viagem de mais de uma hora.
No final da manhã de domingo, o soberano Pontife terá um breve encontro com os Jesuítas locais, antes de regressar à Gruta de São Paulo em Rabat, onde, segundo a tradição, o Apóstolo permaneceu nos anos 60, após o naufrágio do navio. Depois ficou lá durante três meses, pregando, baptizando e guiando os doentes, trazendo assim o cristianismo para a ilha.
Após a oração privada, o Padre Francisco acendeu a vela votiva e cantou uma oração a São Paulo. Na basílica com o mesmo nome, encontrará 14 líderes religiosos, alguns dos doentes e outras pessoas assistidas pela organização da Cáritas. Ele rezará ao Santo Sacramento pela "misericórdia da misericórdia" e bênção.
O evento de domingo tem lugar na Place des Granai em Floriana, a cidade fora das muralhas da capital, La Valette. A igreja dedicada a Saint-Publius, que foi o primeiro evangelista de Malte e que deu as boas-vindas matrimoniais ao náufrago Paul, está situada em frente ao local.
O Souverain Pontife terá o seu último encontro com cerca de 200 migrantes no "Laboratoire de la paix 'Jean XXIII'", um centro de acolhimento fundado em 1971 pelo francês Dionysius Mintoff, que hoje recebe pessoas vindas principalmente da Somália, Eritreia e Sudão via Líbia.
O logótipo de viagem
LO acolhimento, como já dissemos, será o tema predominante desta visita. O logotipo da própria viagem mostra as mãos apontadas para a cruz, vindo de um barco à mercê dos vagões. As mãos são censuradas para representar um sinal do acolhimento do cristão para com o seu vizinho e da ajuda dada às pessoas em dificuldade, abandonadas à sua sorte. O barco, no que lhe diz respeito, é uma referência à história dramática do naufrágio de São Paulo e ao acolhimento dos malteses, como lemos nos Actos dos Apóstolos.
O Papa Francisco é o terceiro pontífice a visitar Malta, após duas visitas de São João Paulo II (1990 e 2001) e de Bento XVI em 2010. A ilha tem seis sacerdotes, mais de 700 sacerdotes e 48 seminaristas; há 800 religiosas professas e cerca de 1 250 catequistas. A Igreja também dirige 48 jardins de infância e 24 institutos de formação.

Como é que a Igreja na Polónia ajuda os ucranianos?
Mais de dois milhões de refugiados encontraram ajuda na Polónia em três semanas. Instituições eclesiásticas, religiosos e particulares estão a ajudar os seus vizinhos que fogem da guerra desencadeada após a invasão russa da Ucrânia.



Mais de dois milhões de refugiados encontraram ajuda na Polónia em três semanas. Em nome da Conferência Episcopal Polaca, a Cáritas Polónia obteve fundos recorde dos fiéis, no valor de 20 milhões de dólares, enviou mais de 500 camiões de ajuda humanitária e está a entregar 47.000 refeições por dia.
Meio milhão de pessoas beneficiaram da assistência da Cáritas. Além disso, muitas outras organizações estão envolvidas na ajuda: dioceses, congregações religiosas, paróquias, comunidades e movimentos católicos, assim como muitos voluntários. Os polacos estão a acolher refugiados da Ucrânia nas suas casas.
Cáritas
"A Caritas Polónia angariou 83 milhões de zlotys (20 milhões de dólares) em ajuda à Ucrânia", anunciou na segunda-feira o director da organização, o Dr. Marcin Izycki.
"Na Polónia, a Cáritas organiza transportes humanitários para a Ucrânia. Desde o início da guerra, já enviámos cerca de meio milhar de camiões e autocarros. Estimamos o valor desta ajuda em 35 milhões de zlotys", disse ele. Inclui alimentos, produtos de higiene, ligaduras, mas também geradores de electricidade, cobertores e sacos de dormir", acrescentou ele.
Ao discutir a assistência aos refugiados ucranianos na Polónia, indicou os dois principais desafios: receber milhares de pessoas na fronteira e apoiar aqueles que chegam ao interior da Polónia.
"Há 1.200 voluntários em 26 pontos de assistência fronteiriça da Cáritas e activos no Conselho de Mulheres Religiosas. Quase 47.000 refeições por dia são servidas aos refugiados nos mais de 130 pontos de assistência da Cáritas. Quase meio milhão de pessoas já beneficiaram desta forma de assistência", disse o director da Cáritas.
Religiosos, mulheres e homens
Em 924 conventos na Polónia e 98 na Ucrânia, as freiras estão a prestar assistência espiritual, psicológica, médica e material.
Estima-se que, desde o início da guerra, cada uma das quase 150 congregações religiosas que operam na Polónia e na Ucrânia tem ajudado em qualquer lugar, desde poucas até 18.000 pessoas.

Foram organizados alojamentos em 469 conventos na Polónia e 74 na Ucrânia. Até agora 2824 crianças, 2299 famílias e aproximadamente 2860 adultos foram alojados. Em 64 instituições há 602 lugares para órfãos, e em 420 instituições há quase 3000 lugares para mães com filhos.
A assistência directa é actualmente prestada em 156 conventos de homens, onde 738 famílias, ou 3630 pessoas, incluindo 1483 crianças, encontraram refúgio. 315 casas paroquiais de ministérios religiosos e pastorais abrigaram mais de 300 famílias, ou seja, 1333 pessoas, incluindo 518 crianças. 4 centros para religiosos acolheram 61 pessoas com deficiência, incluindo 37 crianças.
A Conferência dos Superiores Maiores dos Religiosos na Polónia, em cooperação com a ORANGE POLSKA SA, está a coordenar e distribuir cartões telefónicos PREPAID SIM para refugiados ucranianos (já foram distribuídos mais de 1500 cartões).
Paróquias polacas
Todas as quase 10.000 paróquias da Polónia estão envolvidas na ajuda aos refugiados. A Igreja acolhe refugiados de guerra em casas de repouso, conventos de ordens religiosas masculinas e femininas, centros da Cáritas, centros de movimento e centros comunitários, em paróquias e, através das paróquias, nas casas dos fiéis.
As famílias ucranianas encontraram refúgio nas casas de muitos bispos. Centenas de lugares foram também reservados para eles em seminários e outros edifícios pertencentes às dioceses. Mais de 100 pessoas, incluindo 50 crianças, vivem em instalações como a Casa do Peregrino e as chamadas "salas" em Jasna Gora.
Colecções
No domingo 27 de Fevereiro e Quarta-feira de Cinzas, 2 de Março, mais de 32 milhões de zlotys foram levantados durante colecções especiais nas igrejas polacas para ajudar a Ucrânia. Esta é uma colecção recorde na história de acções similares organizadas pela Caritas Poland, a maior organização de caridade polaca. A isto deve acrescentar-se o dinheiro enviado por transferências bancárias, através do sítio web da Caritas Polska e do mecanismo de doação aí criado, bem como através de mensagens de texto de caridade.
A angariação de fundos e colecções materiais são organizadas mesmo por congregações religiosas de homens e mulheres, e por muitos movimentos, associações, comunidades e paróquias.
Entregas de ajuda
O envio de ajuda à Ucrânia, preparado pela Equipa de Ajuda à Igreja no Oriente da Conferência Episcopal Polaca, teve início a 25 de Fevereiro. Até agora, só através da Caritas, 147 camiões e 180 autocarros foram enviados para a Ucrânia com ajuda - principalmente alimentar - num valor total de cerca de 25 milhões de PLN. Os carregamentos são também organizados, entre outros, por congregações religiosas, comunidades, movimentos e associações. Pelo menos 34 carros de conventos masculinos partiram para a Ucrânia com ajuda humanitária, transportando quase 100 toneladas de donativos.
Voluntariado, assistência contínua aos refugiados
Muitas pessoas estão também envolvidas em várias actividades que ajudam directamente os necessitados.
As comunidades religiosas servem milhares de refeições por dia (cerca de 5.000 refeições só nas congregações masculinas). Os pacotes também são distribuídos. As instituições religiosas organizam cuidados e actividades educacionais-recreativas para crianças ucranianas, bem como cursos de língua inglesa. As crianças são admitidas em infantários e escolas de congregações religiosas. Em alguns lugares, é também prestada assistência jurídica e psicológica, bem como a tradução de documentos necessários para o emprego. Os refugiados utilizam o transporte fornecido pelos religiosos.
Transferência de ajuda de todo o mundo
A acção da Igreja na Polónia a favor da Ucrânia envolve também a mediação e a transferência de ajuda de comunidades de outros países. Os Jesuítas, os Cavaleiros de Colombo, a Ajuda do Papa à Igreja que Sofre (AED), congregações religiosas, comunidades, movimentos e associações na Polónia estão activos neste campo.
A Caritas Polónia coopera estreitamente com a Caritas Europa, a Caritas Internationalis e, tendo em conta a actual crise humanitária, também com organizações eclesiásticas irmãs em Itália, na Alemanha e nos EUA. A Cáritas Polónia também iniciou discussões com o ACNUR - a Agência das Nações Unidas para os Refugiados - sobre a assistência em dinheiro a ser prestada nas dioceses.
Trabalhar na Ucrânia
Os membros do clero polaco que trabalham na Ucrânia têm permanecido com os seus fiéis. Há cerca de 700 padres (incluindo 170 padres religiosos e 3 bispos que são religiosos). Além disso, 21 irmãos e 332 irmãs de congregações religiosas polacas trabalham na Ucrânia.
Director do Gabinete para a Comunicação Internacional, Secretariado da Conferência Episcopal Polaca.
Desespero
Sou um optimista natural, mas permitam-me que chore um pouco sobre tudo isto hoje, porque parece que estou a ver o cartão cair na base do castelo de cartas da sociedade ocidental aparentemente feliz.
Estou triste, admito. Tenho medo e ansiedade, acordo na altura errada com pesadelos... Acho que sou uma das muitas biliões de pessoas para quem a situação mundial está a ter o seu preço.
Estes dois anos de pandemia têm causado danos a muitas pessoas, embora para mim, tenho de admitir, não tenham sido mais aterradores do que uma viagem no comboio das bruxas. Duas vezes o Covid chegou a casa neste tempo e ambas as vezes escapámos com o nosso cabelo mal desgrenhado por uma vassoura até à cabeça calva. No meu círculo de familiares e amigos houve poucos casos graves e, embora os números dos media fossem arrepiantes, nunca experimentei um medo real pela minha saúde ou pela dos que me eram mais próximos.
Mas a guerra chegou e as minhas esperanças caíram de repente no chão. Em primeiro lugar, porque as guerras, embora aparentemente distantes, num mundo globalizado e digitalizado como o nosso, com nove potências nucleares, estão sempre a um passo de distância; e, em segundo lugar, porque, embora o movimento de solidariedade com o povo ucraniano tenha mais uma vez realçado o melhor da espécie humana, a verdade é que estas acções são limitadas e tem havido muito mais cidadãos que correram para o supermercado para acumular petróleo ou leite do que aqueles que se voltaram para ajudar os seus semelhantes.
Pode parecer uma tolice, mas tenho sido entristecido por prateleiras vazias. Cada vez que ia a um supermercado e via um produto a ser vendido, tudo o que podia ouvir dentro de mim era um grito: "Cada homem por si". É verdade que a greve dos transportadores aderiu, é verdade que algumas lojas podem ter aproveitado a situação para gerar compras compulsivas e aumentar as suas margens... Pode ser que eu tenha sido apanhado com falta, mas como é triste que nem sequer sejamos capazes de impedir o vizinho de ter falta dos produtos básicos no cesto de compras! Suponho que é o instinto de sobrevivência que nos faz acumular sem nos preocuparmos com o facto de não restar nada para o irmão. E se o que vem no nosso caminho no futuro for mais sério? Enquanto vivermos na bolha do consumo e do bem-estar, parecemos ser uma sociedade civilizada, mas assim que mesmo o menor conforto adquirido é tirado, tornamo-nos animais selvagens incapazes de reconhecer um irmão noutra.
Pode parecer-vos uma tolice, mas também fiquei muito triste com a pequena cena de Will Smith na gala do Oscar. Quando todo o mundo civilizado se uniu para condenar o comportamento impetuoso e sanguinário de um homem que pensa ter o direito de invadir um país porque não gosta do seu governo (presidido, a propósito, por um comediante), encontramos outro homem que, na sua própria escala, toma a lei nas suas próprias mãos, esbofeteando o comediante que o perturbou, vivendo no ar. Esperava que a cultura pudesse salvar-nos da barbárie, e vejo a barbárie exaltada no sancta sanctorum da cultura de massas, a apresentação dos míticos prémios do cinema, diante dos olhos dos nossos filhos.
Sou naturalmente optimista, mas permita-me que chore um pouco hoje por causa de tudo isto, porque me parece que estou a ver a carta cair na base da casa de cartas da sociedade ocidental aparentemente feliz, porque hoje sinto o cheiro podre de uma fruta cuja casca a fez parecer saudável, porque homens e mulheres do século XXI ainda são capazes do pior e nós estamos a ser chicoteados...
Esperemos que dentro de alguns anos eu seja capaz de olhar para trás neste artigo e rir, recordando o ponto baixo daquele primeiro de Abril de 2022. Entretanto, só me resta uma esperança: a esperança de que viveremos dentro de algumas semanas numa colina com três cruzes e numa tumba próxima. Vem, Senhor, não demores. Maranatha.
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.
Religião e democracias iliberais
O autor reflecte sobre a emergência de alguns programas políticos em diferentes países, como os Estados Unidos, Rússia, Brasil, Hungria e Polónia, que têm aspectos em comum.
"O termo democracia "iliberal" é relativamente recente e vem do mundo anglo-saxónico. Refere-se a um tipo de democracia parcial, de baixa intensidade e vazia, um regime híbrido ou uma democracia orientada, com tendências tecnocráticas ou mesmo oligárquicas, onde, segundo alguns, a voz dos cidadãos é cada vez menos importante. É também utilizado para designar projectos políticos que rejeitam o modelo ideológico liberal, no sentido americano de "progressista".
Nas últimas décadas assistimos ao aparecimento de vários programas políticos em países tão diversos como os Estados Unidos, Rússia, Brasil, Hungria e Polónia, que têm uma série de aspectos em comum. A par do liberalismo económico na maioria deles, uma certa visão nacionalista opõe-se claramente à imigração ilegal, bem como uma ideologia marcadamente anticomunista (com algumas peculiaridades lógicas - hoje em dia dramaticamente presentes - no caso da Rússia), podemos descobrir um cristianismo "cultural" que os leva a rejeitar alguns "dogmas" da sociedade secularizada ocidental (aborto, eutanásia, ideologia do género ou as "novas profecias" das alterações climáticas), ao mesmo tempo que parece minimizar a importância de outros valores cristãos (paz, não-violência, justiça, os pobres e cuidado com a criação).

Parece-nos que poderia ser interessante focar por um momento um aspecto específico da actual situação complexa, nomeadamente o factor religioso destas democracias iliberais que parecem estar em ascensão em vários países do mundo ocidental. Aqueles que abordam este fenómeno de uma visão maniqueísta e simplista correm o risco de não compreenderem o que está realmente a acontecer em países tão importantes como os Estados Unidos, Rússia, Brasil ou Europa de Leste e, aqui entre nós, o projecto político da Vox.
Gostando ou não, a realidade é que a grande maioria dos habitantes da Terra são pessoas com um sentido religioso da vida. As minorias secularistas ou anti-religiosas na Europa e na América podem ter confundido o processo de secularização ocidental nas últimas décadas com o desaparecimento gradual do sentimento religioso no mundo moderno. Ao tentar implementar um modelo de sociedade e democracia que é estranho, se não completamente contrário, aos sentimentos religiosos de muitos milhões de pessoas, acreditamos que provocaram involuntariamente uma reacção de afirmação religiosa e política com a qual não contavam e que não está isenta de riscos.
Alexis de Tocqueville estava convencido de que a democracia não poderia sobreviver à perda da fé cristã. "Se uma nação democrática perder a sua religião -escreveu o pensador francês, cai vítima de um individualismo e materialismo feroz e de um despotismo democrático e prepara inevitavelmente os seus cidadãos para a escravatura". Acreditamos que os políticos iliberais a quem nos referimos agem no mesmo sentido.
Perante os sinais de alarme levantados por alguns sobre o avanço do que chamaram o "extrema-direita".Na Europa e na América, coloca-se a questão de saber se não seria mais sensato avançar para sociedades mais respeitadoras de todas as pessoas e das suas formas de pensar. O problema surge quando as propostas ideológicas parecem ser incompatíveis umas com as outras. Se um tentar impor-se ao outro, existe o risco de que o outro tente impor-se a si próprio. Acreditamos que a solução está em compreender a verdadeira liberdade nas nossas sociedades democráticas.
Talvez seja tempo de parar de tentar monopolizar um tipo de sociedade e impô-la a outros, de uma forma ou de outra. Embora os religiosos no Ocidente tenham compreendido durante muitos anos que existem pessoas que não partilham as suas crenças e ideais, as pessoas não religiosas devem respeitar aqueles que são religiosos. Acreditamos que bens como a liberdade religiosa, a liberdade de educação e a liberdade de expressão, bem como a possibilidade de não financiar através de actividades fiscais sancionadas por leis que são seriamente repugnantes para a consciência de muitas pessoas (como o aborto, a eutanásia ou tudo o que está relacionado com a ideologia do género), bem como o dever de respeitar leis justas e aqueles que não pensam como nós, devem ser especialmente protegidos nas nossas sociedades.
Se isto não for compreendido, muitas pessoas podem sentir-se atacadas e, portanto, sentir a necessidade de se defenderem. É importante que os fanáticos de todas as listras tenham isto em mente se não quisermos repetir alguns dos erros mais famosos do passado.
Por outro lado, existe o risco de os políticos poderem usar a religião como desculpa para se envolverem na política e trazerem a polarização da "arena política" para a política. Neste caso, deve ser feita uma distinção entre a defesa da liberdade religiosa e as ideias que representam a maioria dos cidadãos e o uso partidário das crenças religiosas por parte dos líderes políticos que podem ser tentados a estabelecer-se como seus intérpretes, um papel que acreditamos não lhes corresponder. Numa frase atribuída à Unamuno, "Uma possível crise da política e da religião pode ser encontrada na prática da religião como política e da política como religião".
Há um filme intitulado "Hidden Life", do americano Terrence Malick, que conta a verdadeira história de Franz Jägerstätter, um agricultor austríaco beatificado há alguns anos pela Igreja Católica que se recusou a fazer um juramento a Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, sacrificando tudo, incluindo a sua vida. A história que ele conta pode ilustrar a força das convicções de alguns crentes, que nunca devem ser violadas.
Como Bento XVI disse uma vez "Aquele que se curva perante Jesus não pode e não deve curvar-se perante qualquer poder terreno, por mais forte que seja. Nós cristãos ajoelhamo-nos apenas perante Deus, perante o Santíssimo Sacramento". Terminamos com esta frase porque nos parece que a compreensão do fenómeno religioso, especialmente no Ocidente, se tornou uma necessidade se quisermos alcançar sociedades onde diferentes mentalidades e modos de vida possam viver juntos em paz, sem tentar impor uma sobre a outra, como infelizmente aconteceu no passado.
Paróquias renovadas: paróquia e vocações
O autor reflecte sobre a preocupação das paróquias pelas vocações sacerdotais.
No domingo 20 de Março celebrámos o Dia do Seminário. Hoje em dia, existem cerca de 1.200 seminaristas importantes em Espanha. O número de novos padres por ano é de cerca de 120, o que não é suficiente para substituir os padres que estão a morrer. Podemos falar de uma crise vocacional em Espanha. É que Deus já não chama? É que a vida sacerdotal já não faz sentido? É que não conseguimos transmitir a beleza da vocação?

Talvez precisemos de pensar em tudo isso, e examinarmo-nos a nós próprios. Talvez uma Igreja que parece ser mais sobre activismo social do que uma verdadeira missão sobrenatural não seja tão apelativa. Mas podemos ir mais fundo. As vocações não estão a diminuir, a Igreja está a diminuir. O que é que isto significa?
Sem fazer um estudo demasiado exaustivo, é evidente, antes de mais, que a população está a envelhecer; chega-se ao ponto de se falar de suicídio demográfico. Uma primeira conclusão que podemos tirar é que o número de "candidatos" a uma vocação sacerdotal diminuiu. Há menos por onde escolher. Se em 1950 havia cerca de 8.000 seminaristas importantes em Espanha, é também verdade que nesse ano cerca de 20 % da população (masculina) tinha entre 0 e 19 anos de idade; hoje em dia é inferior a 10 %. Mas há outros factores que contribuem para esta escassez de jovens: quantos casamentos religiosos existiam em 1950, e quantos são agora? Quantos baptismos? Quantos divórcios? Quantos casais não casados? O declínio não é apenas demográfico, é também um declínio na fé e um declínio na Igreja, e portanto um declínio nas vocações.
Agora atrevo-me a introduzir uma perspectiva diferente. Embora tenhamos assistido a uma diminuição dramática do número de seminaristas em termos absolutos, talvez a diminuição não seja tão grande em termos relativos. Ou seja, a percentagem de seminaristas em relação ao número de famílias e comunidades de fé cristã vibrante não só não diminuiu, como talvez até tenha aumentado. O que diminuiu, para além da população "candidata", são as famílias cristãs e as comunidades vibrantes. Uma vez que a estrutura da Igreja - dioceses, paróquias - não foi emagrecida, então há um colapso: não há vocações suficientes para manter a estrutura que temos. Mas e se deixarmos de nos preocupar em manter a estrutura e de nos preocuparmos em evangelizar? Temos e teremos vocações suficientes.
Ouve-se dizer: "Temos de procurar vocações! OK, mas primeiro temos de evangelizar.
Davide ProsperiO grande ensinamento de Giussani era o de trazer Deus de volta à vida".
A Fraternidade de Comunhão e Libertação vive o centenário do nascimento de Luigi Giovanni Giussani como "um olhar em frente" e com a tarefa de "trazer Deus de volta aos ecrãs das nossas vidas".
Tradução do artigo para inglês
O 15 de Outubro marca o 100º aniversário do nascimento de Luigi Giovanni Giussani, fundador da Comunhão e Libertação. O movimento, que nasceu nos anos 60 em Itália, está presente em cerca de noventa países dos cinco continentes.
Após a morte do padre Giussani em 2005, o padre Julián Carrón esteve à frente da Comunhão e Libertação, tarefa que desempenhou até 27 de Novembro de 2021. Desde a demissão de Carrón, Davide Prosperi é presidente ad interim da Fraternidade de Comunhão e Libertação. O químico milanês de 50 anos, casado e pai de quatro filhos, é professor titular de bioquímica e director do Centro de Nanomedicina da Universidade de Bicocca de Milão, e é vice-presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação desde 2011.
Comunhão e Libertação, que se define como "uma proposta de vida e para a vida", está a viver este centenário como "um olhar em frente, porque a vida do Padre Giussani gerou um rio de história que continua e dá sempre novos frutos" nas palavras de Prosperi, que não esconde as dificuldades ou "poda" que os membros desta Fraternidade podem atravessar na sua viagem.
Como é que a família de Comunhão e Libertação vive este centenário?
- Como uma ocasião dada por Deus para lhe agradecer pelo grande dom da pessoa do Padre Giussani e por todas as graças de inteligência e coração que ele recebeu.
Não é um olhar para trás, mas para a frente, porque a vida do Padre Giussani gerou um rio de história que continua e dá sempre novos frutos.
De facto, como todas as árvores, mesmo as que crescem no solo da Igreja são podadas pelo Espírito para que possam rejuvenescer continuamente e abrir-se a novas estações da história.
Este ano será uma oportunidade para aprofundar a nossa compreensão dos ensinamentos do Padre Giussani e do método de vida que ele ensinou e contribuiu para o mundo com a sua própria existência.
Datas como esta são, para as instituições da Igreja, um momento para "voltar às suas origens" e trazer os carismas fundadores para o presente. Neste sentido, quais são os pontos-chave do carisma de D. Luigi Giussani que queremos promover nestas celebrações?
- Em primeiro lugar, a concepção original da fé que ele nos transmitiu. A fé como resposta do homem ao acontecimento da graça de Cristo que nos chega e transforma a nossa existência a partir de dentro. Chega até nós através de outros homens e mulheres que nos impressionam e fascinam com as suas vidas luminosas e promissoras.
Em segundo lugar, este ano será também uma ocasião para reler as numerosas obras nascidas do coração do Padre Giussani, todas elas em ajuda do homem, todas elas significativas para a nossa vida de hoje, porque contêm uma promessa de vida que não acaba e que nos une a outros homens e mulheres, nossos irmãos e irmãs, numa viagem em direcção a Deus.
A participação na cultura, educação, diálogo com a sociedade, etc., fazem parte da essência da Comunhão e da Libertação. Num mundo que parece opor-se à cosmovisão cristã, como é que a Comunhão e a Libertação realizam esta tarefa?
- Cristo está sempre vivo porque ressuscitou, e sempre, em cada momento, vai ao coração do homem, através de outros homens, para que os corações e mentes dos nossos irmãos possam descobrir a promessa de vida e felicidade que a encarnação do Filho de Deus trouxe à terra.
Quer através de relações pessoais ou do envolvimento na vida comunitária, quer através da abordagem das obras de cultura, caridade ou missão, tudo isto faz parte da vida cristã e do dom que o Padre Giussani nos trouxe.
Neste sentido, o que nos foi comunicado é uma paixão por Cristo que se torna imediatamente uma paixão pelo homem, não só pela "humanidade", mas por cada ser humano. Daqui nasce a paixão educativa, o coração da proposta cristã que, através do encontro com o Padre Giussani e com o movimento nascido dele, nos conquistou e se tornou uma verdadeira e própria vocação para cada um de nós.
A Comunhão e a Libertação hoje
Como definiria hoje o trabalho dos membros da Comunhão e da Libertação: os seus desafios e oportunidades?
- Devemos ajudar-nos mutuamente para colocar Deus de novo nos ecrãs das nossas vidas. Uma vida sem Deus é uma vida sem futuro, sem perspectivas, mas também sem profundidade no aqui e agora.
Uma vida sem Deus significa uma vida sem possibilidade de transcender as circunstâncias, aceitando-as, mas também encontrando nelas um apelo para seguir em frente. O grande ensinamento de Giussani era trazer Deus de volta à vida.
Descobrir que Deus não é nosso inimigo, nosso adversário, mas que Ele é a fonte da nossa existência, das promessas de bem que estão enterradas, mais ou menos escondidas, nos nossos corações e que podem levar a nossa personalidade humana à sua verdadeira plenitude.
Segundo, mostrar que a vida cristã não é a vida de um indivíduo em relação a Deus, mas é a vida de uma comunidade presente na história que se oferece como uma lâmpada na montanha ou como sal na terra para iluminar e animar toda a existência.
O renascimento do ego e o renascimento da experiência comunitária são os dois pólos mutuamente nutritivos da vida cristã. Sem um "eu" consciente e verdadeiro, a vida em comunidade não seria senão uma experiência social sem raízes. Sem expressão social, a vida do ego não encontraria qualquer possibilidade de expressão ou nutrição.
Após alguns anos em que a pandemia cancelou reuniões tão bem estabelecidas como Milão ou, em Espanha, o Encuentro de Madrid, como se tem mantido este espírito de diálogo e encontro pessoal "com tudo o que vai contra nós"?
- A pandemia e a guerra actual podem fechar-nos sobre nós próprios, fazer-nos sucumbir ao medo, à impressão de que a existência não tem futuro, que as relações falham, que as promessas são ilusórias. Ou, pelo contrário, se formos ajudados pelos nossos irmãos e irmãs e pela vida da Igreja, pelos ensinamentos do Movimento e pelo testemunho do Padre Giussani, podemos abrir-nos e ser as primeiras testemunhas de uma esperança que sabe atravessar as circunstâncias do presente, que sabe vencer o mal, que sabe participar na vitória de Cristo, que sabe mostrar aos nossos irmãos e irmãs os caminhos do bem e da verdade.
Renúncia de Carrón e uma nova fase
Este centenário chega num novo momento de Comunhão e Libertação. A actualização das regras relativas à governação das Associações de Fiéis em Junho levou à demissão do Sr. Julian Carrón e à sua entrada como presidente interino. Como está a lidar com este processo?
- Devemos avançar, reconhecendo todo o bem que foi escrito nestes setenta anos de história do Movimento, agradecidos a Carrón por ter sido capaz de assumir a batuta de um trabalho tão grande e impressionante para a história da Igreja e da humanidade, sabendo ao mesmo tempo como conceber novas formas de responsabilidade e presença na sociedade.
Estou absolutamente confiante de que este caminho é possível em obediência ao Papa e aos Pastores da Igreja, que nos pedem para dar este passo, dando razão à esperança do Padre Giussani de ter gerado pelo Espírito um acontecimento que se prolonga no tempo.
Estou absolutamente confiante de que este caminho é possível em obediência ao Papa e aos Pastores da Igreja, que nos pedem que façamos esta passagem desta forma.
Davide Prosperi. Presidente ad interim da Comunhão e Libertação
Como é que é o futuro da Comunhão e da Libertação?
- O futuro está nas mãos de Deus; cabe a nós sermos ouvintes alegres e apaixonados da voz do Padre Giussani e sermos criadores de formas de vida capazes de acolher o grito da humanidade.
"Ele venceu Cristo e entrou na sua vida". 5º Domingo da Quaresma
Andrea Mardegan comenta as leituras do V Domingo da Quaresma e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.
Comentários sobre as leituras para o Quaresma do Quaresma do Quaresma do V Domingo
O episódio da adúltera é a passagem evangélica mais comentada pelos Padres da Igreja. É como uma síntese narrativa do núcleo do Evangelho. Isaías reconta as palavras de Deus: ".Não me lembro do passadoño, | sem pensõeséEstou no velho; eis que estou a fazer algo novo". Jesus convida a adúltera a não olhar mais para o passado, mas a abraçar a nova vida que ele lhe dá. Paul escreve aos Filipenses que o seu único objectivo é "... ser uma nova vida".para conquistar Cristo e ser encontrado n'Ele". Naquele dia, no templo, aquela mulher conquistou Cristo, entrou na sua vida e foi encontrada nele.
Ele ensinava no templo "e todas as pessoas recorrem aía ele". Os escribas e fariseus, invejosos do seu sucesso, quiseram provocá-lo a denunciá-lo: às autoridades do templo se negasse a apedrejamento, às autoridades romanas se o aprovasse, porque a pena capital era da exclusiva responsabilidade dos ocupantes. Além disso, se ele tivesse ordenado a lapidação, negando a mensagem de misericórdia de que estava a pregar e a praticar, teria perdido o favor do povo. Para se defender contra estas armadilhas, Jesus escolhe o silêncio. Ele inclina-se para escrever no chão. Agostinho faz uma referência a Jeremias 17, 13: "...".VerñAqueles que vos abandonarem falharão; aqueles que se afastarem de vós serão enterrados no pó porque abandonaram o Senhor, a fonte de água viva.". O chão do templo, porém, não é feito de terra mas sim pavimentado: o gesto recorda o dedo de Deus gravando na pedra a lei sobre as tábuas que ele deu a Moisés. Aqui, então, há um que é maior do que a lei, é o seu autor, aquele que conhece a sua interpretação autêntica.
"Que aquele que está sem pecado atire a primeira pedra".. O objectivo da antiga lei, para estas pessoas de pescoço duro, era levá-las a compreender o pecado que estava em toda a gente e convertê-las. Agora Jesus pode cumprir esse propósito. Aquele que é o único que é verdadeiramente sem pecado, não condena a mulher e não atira a primeira pedra. Troca para sempre a velha lei pela nova lei do amor que escreve nos corações. Ele levanta-se para olhar e falar com a "mulher": ela já não é o "anúncioúlter". Não é o pecado que nos define, mas a natureza com que Deus nos criou e a graça que nos renova. Na linguagem bíblica, "mulher" é também a noiva: a mulher encontrou finalmente o noivo, nela a Igreja encontra Cristo. Os escribas e fariseus vão olhar para dentro e enfrentar o seu pecado. Já não estão na mira da mulher: nenhum deles a condenou. Pecar já não é uma promessa, uma garantia. Do olhar de Cristo, da sua percepção de imenso amor, misericórdia e confiança, a consciência e arrependimento da mulher pelo pecado e a sua resolução de não cair mais, porque, no meio dele, ela foi "encontrada em Cristo".
Homilia sobre as leituras para o Quinto Domingo da Quaresma
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliauma breve reflexão de um minuto para estas leituras.
A Igreja convida as pessoas a marcar o X no seu Imposto sobre o Rendimento como um "escudo social" para ajuda
Seis histórias concretas de sete pessoas que a Igreja pôde ajudar em diferentes dioceses graças ao X do IRPF, são os principais protagonistas do Campanha Xtantos 2022 da declaração de rendimentos deste ano, apresentada esta quarta-feira na Conferência Episcopal Espanhola (CEE), são testemunhos pessoas reais que estão gratas à Igreja pela sua ajuda.


São Tino (Faustino), 50 anos, de uma aldeia em Tarazona, que foi ajudado por um pároco de 80 anos a deixar o mundo da droga e "redescobrir Deus", e que reflecte o trabalho da Igreja no mundo rural; ou Rosa e María, de um centro para idosos dirigido pela Igreja na diocese de Segóvia.
A história de Blanca, 37 anos, hondurenha, da diocese de Cádiz e Ceuta, que conseguiu montar "a sua pequena loja" e tornar-se independente, depois de ter chegado sozinha a Espanha há 6 anos, e que mostra o trabalho da Igreja com migrantes e refugiados, numa altura em que a Igreja está a voltar a sua atenção para os milhões de ucranianos que fogem do seu país. Blanca é precisamente a pessoa que figura no cartaz da Campanha deste ano.
Ou a história do rapper Guillermo (Grilex), que passou a cantar canções de luz e esperança, e a do padre Álvaro, um guatemalteco, que é agora padre e capelão num centro penitenciário, e que poderia ter sido um recluso, diz ele. Ou a de Erika, 44 anos, com dois filhos, que a Cáritas ajudou a receber formação e a encontrar emprego.
Mais de 4 milhões de pessoas
Estas são algumas das histórias, recolhidas no portantos.com.ptJosé María Albalad, director do Secretariado para o Apoio à Igreja na CEE, apresentou os dados da campanha de 2022, acompanhado por José Gabriel Vera, director do Gabinete de Comunicação da CEE e do Secretariado da Comissão Episcopal para as Comunicações Sociais.
José María Albalad salientou que a marcação do X na declaração de rendimentos "ajuda a apoiar o imenso trabalho realizado pela Igreja em Espanha", que no seu aspecto mais social "atinge mais de 4 milhões de pessoas". Atrás do X da declaração de imposto de renda "há uma história", apontou ele. Este trabalho é "um escudo social de alto impacto, um hospital de campanha neste mundo ferido", como o Papa Francisco nos recordou.
A campanha será levada a cabo a partir da próxima segunda-feira através de cartazes, spots de televisão e rádio, redes sociais (pela primeira vez no TikToK, olhando para os jovens), e o jornal em papel sustentável. Xtantos terá uma tiragem de um milhão de exemplares, que chegará às 23.000 paróquias das dioceses espanholas. Todos os detalhes serão explicados, e alguns dos embustes e falso circulando em torno do financiamento da Igreja.
Marcar o X na Renta é "uma decisão livre e democrática" que não tem custo, acrescentou José María Albalad, e pode-se marcar simultaneamente a caixa X para a Igreja e a caixa X para outros fins de interesse social.
"Com menos dinheiro, mais coisas".
O investimento nesta campanha Xtantos ascende a 2,68 milhões de euros, incluindo o IVA, que é cerca de "1,2 por cento do que se espera que seja cobrado". Na campanha de 2021, correspondente ao exercício de 2020, em plena pandemia, houve um aumento de 40.000 declarações de imposto de renda a favor da Igreja Católica em relação ao ano anterior, e os contribuintes marcaram o X num montante total de 295,4 milhões de euros, com uma diminuição de 5,58 milhões em relação a 2019.
"Com menos dinheiro, a Igreja teve e tem de fazer muito mais coisas", explicou recentemente o vice-secretário para os assuntos económicos da CEE, Fernando Giménez Barriocanal, para quem a diminuição foi "lógica e previsível" dada a crise económica gerada pela pandemia, e num momento, além disso, em que o trabalho da Igreja se multiplicou devido às circunstâncias difíceis.
Giménez Barriocanal insistiu na altura, como relatado por OmnesO relatório da Comissão Europeia sobre as duas atribuições, o da Igreja e o de outros fins de interesse social: "não nos custa mais ou voltaremos menos, e podemos ajudar duas vezes mais se assinalarmos as duas caixas".
José María Albalad e José Gabriel Vera recordaram alguns dados do Relatório Anual de Actividades da Igreja. As receitas do ano passado da X de la Renta (295,4 m.), representam cerca de 21% do orçamento da Igreja em Espanha (pouco mais de mil milhões de euros), 80% dos quais vão para as dioceses e 20% para várias actividades.
Uma boa parte da X de la Renta corresponde à manutenção do clero, como este pároco de uma aldeia de Tarazona que aparece na campanha, e que ajudou Tino a sair do "inferno da droga", como o próprio Tino assinala no vídeo.
"Falar com os idosos ajuda-nos a aprender fidelidade, misericórdia ou ternura".
Na sua catequese de quarta-feira, 30 de Março, o Papa Francisco sublinhou o valor dos idosos ao ensinar-nos a "sensibilidade dos sentidos espirituais", em assuntos como a fidelidade, dedicação, compaixão, piedade, vergonha e ternura.


O Papa Francisco continua a aprofundar a sua viagem catequética sobre o tema da velhice. Na audiência geral que o Santo Padre realizou na manhã de quarta-feira 30 de Março, convidou-nos a olhar "para o terno quadro pintado pelo evangelista Lucas, que chama à cena duas figuras idosas, Simeão e Anna. A sua razão de viver, antes de se despedirem deste mundo, é aguardar a visita de Deus. Simeão sabe, através de uma premonição do Espírito Santo, que não morrerá antes de ter visto o Messias. Anna foi ao templo todos os dias e dedicou-se ao seu serviço. Ambos reconhecem a presença do Senhor no menino Jesus, que os conforta na sua longa espera e acalma o seu adeus à vida".
Ilumina os sentidos
"O que podemos aprender com estas duas figuras idosas cheias de vitalidade espiritual", pergunta retórica Francisco. Primeiro", responde ele, "aprendemos que a fidelidade da espera aguça os sentidos". Por outro lado, sabemos que o Espírito Santo faz precisamente isto: ele ilumina os sentidos. No antigo hino Veni Creator Spirituscom o qual ainda hoje invocamos o Espírito Santo, dizemos: ".....Acende lumen sensibus"Ele acende uma luz para os sentidos. O Espírito é capaz de o fazer: aguça os sentidos da alma, não obstante os limites e feridas dos sentidos do corpo. A velhice enfraquece, de uma forma ou de outra, a sensibilidade do corpo. Contudo, uma velhice que tem sido exercida na espera da visita de Deus não perderá o seu ritmo: de facto, estará também mais pronta a acolhê-la".
O pontífice afirma que "hoje mais do que nunca precisamos disto: uma velhice dotada de sentidos espirituais vivos e capaz de reconhecer os sinais de Deus, de facto, o Sinal de Deus, que é Jesus". Um sinal que nos coloca em crise - é um "sinal de contradição" (Lc 2,34) - mas que nos enche de alegria. A anestesia dos sentidos espirituais, na excitação e dormência dos sentidos corporais, é uma síndrome generalizada numa sociedade que cultiva a ilusão da juventude eterna, e a sua característica mais perigosa reside no facto de estar largamente inconsciente. Não se apercebe de que está anestesiado".
Os sentidos espirituais
Usando o paralelo com a perda da sensibilidade do tacto ou do paladar, que se nota de imediato, ele recorda que com a da alma se pode ignorá-la durante muito tempo. "Isto não se refere simplesmente ao pensamento de Deus ou à religião. A insensibilidade dos sentidos espirituais refere-se à compaixão e piedade, vergonha e remorso, fidelidade e devoção, ternura e honra, auto-responsabilidade e tristeza pelo outro. E a velhice torna-se, por assim dizer, a primeira vítima desta perda de sensibilidade. Numa sociedade que exerce principalmente a sensibilidade em nome do prazer, a atenção ao frágil diminui e prevalece a competição dos vencedores. Certamente, a retórica da inclusão é a fórmula ritual de todo o discurso politicamente correcto. Mas ainda não traz uma verdadeira correcção nas práticas de coexistência normal: é difícil para uma cultura de ternura social crescer. O espírito da fraternidade humana - que senti necessidade de reiterar com força - é como um vestido fora de uso, para ser admirado, sim, mas... num museu".
Referindo-se aos jovens, ele afirma que "na vida real podemos observar, com uma gratidão tocante, muitos jovens capazes de honrar esta fraternidade até ao núcleo. Mas é precisamente este o problema: existe um fosso, um fosso culpado, entre o testemunho desta seiva vital de ternura social e o conformismo que obriga os jovens a dizerem-se a si próprios de uma forma completamente diferente. O que podemos fazer para ultrapassar este fosso?
Simeon e Anna
O Papa evocou a história de Simeão e Anna, mencionando também outras histórias bíblicas dos idosos sensíveis ao Espírito. Desta história "vem uma dica oculta que merece ser trazida à tona: qual é, concretamente, a revelação que acende a sensibilidade de Simeon e Anna? Consiste em reconhecer numa criança, que eles não tinham criado e que vêem pela primeira vez, o sinal seguro da visita de Deus. Eles aceitam não ser protagonistas, mas apenas testemunhas. A visitação de Deus não se encarna nas suas vidas, não os coloca em cena como salvadores: Deus não se torna carne na sua geração, mas na geração vindoura. Sem ressentimentos e sem recriminação por isso. No entanto, grande choque e grande consolo. O choque e o consolo de poder ver e anunciar que a história da sua geração não foi perdida nem desperdiçada, precisamente por causa de um acontecimento que se torna carne e se manifesta na geração que se segue".
Em conclusão, o Papa salientou que "só a velhice espiritual pode dar este testemunho humilde e deslumbrante, tornando-o autoritário e exemplar para todos. A velhice que cultivou a sensibilidade da alma extingue toda a inveja entre gerações, todo o ressentimento, toda a recriminação pela vinda de Deus na geração vindoura, que se junta ao adeus da própria geração. A sensibilidade espiritual da velhice é capaz de fazer diminuir a competição e o conflito entre as gerações de uma forma credível e definitiva. Impossível para os seres humanos, mas possível para Deus, e nós precisamos disso hoje!
Dar-se, cuidar de si próprio, deixar-se cuidar e respeitar os outros
O Dr. Carlos Chiclana reflecte sobre quatro acções relacionais: tu contigo, tu com o outro, o outro contigo e o outro contigo próprio. Afirma que a própria liberdade de um aumenta quando um entra numa relação com o outro.
"A sua liberdade termina onde começa a minha". Concorda com esta declaração? Não tenho, embora possa ser útil em litígios. Podemos transformá-lo se considerarmos o crescimento e desenvolvimento pessoal que ocorre quando se transcende a si próprio, sair para conhecer outra pessoa, trazê-la até si e deixá-la afectar e transformá-la. A sua liberdade torna-se mais liberdade se entrar em relação com o outro e deixar que o afectem com todos os bons e maus.
Quando, com empatia, permite que a outra pessoa alcance o seu interior, toque o seu coração, ligue-se à parte de si que sente o mesmo, e active essa sensibilidade particular - seja com prazer e atracção, ou com repulsa, repulsa e rejeição - permite-lhe questionar a sua liberdade: tem de fazer um movimento. É a si que deve responder, e é-lhe perguntado se reconhece que o outro vale algo em si mesmo, se valoriza que a experiência do outro merece ser compreendida, aceite, validada.
Para a sua liberdade de crescer, para se tornar mais livre, mais autêntica e mais sua, além de se deixar afectar e "sofrer o outro", é necessário elaborar uma resposta, e não apenas uma reacção, a esta proposta vital. Uma resposta que escolhe um equilíbrio entre o que é bom em si mesmo, o que é bom para mim, o que é bom para o outro e o que é bom para a relação. A minha liberdade é aumentada pela vossa liberdade.
Sim, ao afectar-vos, gera emoções, pensamentos, sentimentos e desafia-vos. Surge uma reacção espontânea e involuntária de atracção e afecto ou rejeição e desinteresse, que pede para ser regulada por si a fim de elaborar uma resposta adaptada. Pode escolher o que é bom para si e para o outro, tornar-se mais você mesmo, relacionar-se com outras partes de si mesmo e, ao mesmo tempo, transcender. Fazendo-se a si próprio e em relação a si próprio.
É necessário que, se estiver ansioso por transcender e estar atento aos outros e servi-los - manias e hábitos típicos dos padres - procure também um equilíbrio entre dar-se e cuidar de si próprio, de modo a não se desgastar ou ficar no vermelho. Para se dar a si próprio precisa de se possuir, para sair precisa de estar dentro. Em todas as acções que tomar pode considerar estas quatro relações: você consigo mesmo, você com o outro, o outro consigo e o outro consigo mesmo. Desta forma, distribui "forças relacionais", de acordo com cada situação e relação específica, e concretiza a forma como dá e cuida de si próprio. Isto dará origem a uma reciprocidade que pode ser concretizada da seguinte forma:
1.- Agimos sobre os outros: damo-nos a nós próprios, estamos atentos e disponíveis; relacionamo-nos livremente; interagimos com aqueles que são diferentes; acolhemos os outros incondicionalmente; desviamos o olhar de nós próprios e agradecemos.
2.- Cuida-se: estabelece limites, diz não ou sim de forma proporcional; valoriza o que dá e está satisfeito com ele; não precisa de outra pessoa exclusivamente ou depende absolutamente de outra pessoa.
3.- Facilita o atendimento: pede ajuda, deixa-se ajudar e ser servido de forma proporcional, recebe dos outros; abre-se à acção do outro; aceita algumas questões que lhe sugerem; deixa-se agradecer-lhe; valoriza o que recebe e facilita essa alteridade, conforma-o e transforma-o.
4.- Deixa a outra pessoa ter o seu espaço, toma as suas próprias decisões e assume a responsabilidade pela sua vida e felicidade: não invade nem protege desnecessariamente, respeita e deixa-a agir de acordo com os seus próprios critérios; não assume responsabilidade por assuntos que não lhe correspondem e não homologa a realidade aos seus critérios.
Desta forma, não é preciso contrastar a entrega com a tomada de conta de si, mas pode escolher que eu me entrego e tomo conta de mim. A minha liberdade é enriquecida quando encontra a sua.
Deixa-se colocar em crise pelo outro, em prontidão para a mudança, em movimento, porque é "obrigado por si próprio" a dar conta do seu comportamento para com o outro e desafiado a definir a sua própria identidade. Assim, vislumbrará o mistério, que é muito mais do que aquilo que parece atraente ou repulsivo, como bom ou mau físico, como psicológica ou moralmente agradável.
As etapas de Joseph Ratzinger (III). Papa Bento XVI (2005-2013)
Nos dois artigos anteriores, já vimos três das quatro fases teológicas da vida de Bento XVI como professor e bispo (I), e como prefeito para a Doutrina da Fé (II). Ficamos com o quarto, como Papa (III), que analisaremos neste artigo.
Tradução do artigo para inglês
Com a sua eleição pontifícia, Ratzinger tornou-se o primeiro Papa a tornar-se um teólogo no sentido próprio da palavra. E, como "cooperador da verdade"Ele consolidou as linhas em que trabalhava, as linhas necessárias para a Igreja no início do terceiro milénio. Antes de abordar a quarta fase teológica da vida de Bento XVI como Papa, dois pontos devem ser salientados.
Perfil Teológico e Obras Coleccionadas
O perfil de um teólogo importante é moldado, antes de mais, pelos clichés que todos repetem e que são comuns nas histórias teológicas e nos dicionários. São frequentemente bem fundamentados. Em Joseph Ratzinger, fala-se de razão expandida, da ditadura do relativismo, da antropologia relacional, do personalismo e do primado agostiniano do amor, da atenção à liturgia, do ecumenismo... Depois, o seu perfil é marcado pelos seus livros mais conhecidos Introdução ao Cristianismo, Relatório sobre a fé, Jesus de Nazarée as suas palestras como prefeito... Estas são as fontes para o estudar.
Mas a edição das suas obras completas (O.C.), como já notámos, transformou isto.
Porque, por exemplo, as duas teses sobre Santo Agostinho e São Boaventura, que são os estudos mais extensos e sistemáticos do seu período académico, surgiram. E dois volumes foram compilados com todos os seus comentários sobre o Conselho, que são um trabalho muito relevante do seu tempo como professor. E há outro volume inteiro dedicado ao sacerdócio. Além disso, o pequeno manual de EscatologiaO livro, com a adição de outros materiais, tornou-se também um poderoso volume. É por isso que as fontes para estudar Ratzinger não são as mesmas agora como antes.
Perfil teológico como Papa
Outra nuance. Ao tornar-se Papa, já não é um teólogo privado, mas exerce constantemente um Magistério público. Isto afecta o seu perfil teológico de duas maneiras. Nem tudo o que ele escreve se torna Magistério. E também nem tudo o que ensina como papa é exactamente a sua opinião teológica.
Como João Paulo II fez em Atravessar o limiar da esperança ou nas suas memórias, há escritos de Joseph Ratzinger que apenas expressam a sua opinião pessoal, e não são do Magistério. Em Jesus de Nazaré declara expressamente isto. Mas o mesmo é válido para as conversas com Seewald (A luz do mundo2010) e outros momentos de expansão.
Também é verdade que nem todo o seu Magistério expressa exactamente a sua forma de pensar, porque muito do que prega não foi escrito por ele. Foi escrito por aqueles que o ajudam com a sua aprovação e, dependendo do caso, com a sua orientação ou correcções. E é um Magistério comum porque representa aquilo em que a Igreja acredita. Não há problema. Mas não reflecte necessariamente a sua abordagem teológica ou o seu estilo pessoal. Isto precisa de ser tido em conta ao fazer sínteses do seu pensamento ou teses de doutoramento. Não é útil cortar e misturar todo o tipo de material.
Por exemplo, os belos ciclos que desenvolveu nas audiências sobre as origens do cristianismo, São Paulo, os grandes teólogos antigos e medievais, os Doutores da Igreja, e a oração, são agradáveis e úteis para o ensino. E eles estão lá porque ele queria que eles estivessem. Mas não faria sentido extrair deles o seu pensamento teológico. Ele não os escreveu.
Os "lugares teológicos" do Papa
Obviamente, é impossível uma discriminação perfeita entre o que ele escreveu e o que não escreveu. Mas é possível pensar nas inspirações teológicas que o seu Magistério teve e no que ele realmente fez com elas.
Para saber o que ele queria fazer como Papa, há três primeiros textos muito pessoais e relevantes, que recordaremos dentro de momentos.
Depois temos de rever o que ele fez e o que promoveu. Em primeiro lugar, as encíclicas e exortações apostólicas, que, mesmo que não as tenha escrito na sua totalidade, representam as suas linhas principais.
Destacam-se os esforços ecuménicos, um objectivo importante que acompanha todo o pontificado, e merece um estudo separado.
Há intervenções em que ele está muito pessoalmente envolvido, tais como as viagens à Alemanha (o Parlamento alemão). Talvez a conferência fracassada em La Sapienza (2008) ou a intervenção na ONU (2008), ou o seu discurso em Westminster no Parlamento britânico (2010)... Há também momentos em que a sua voz é muito pessoal: encontros com padres, seminaristas ou compatriotas, entrevistas com Seewald.
E, claro, o mais teologicamente pessoal e um anseio da sua vida é o livro Jesus de Nazaréescrito com tenacidade e perseverança heróica.
Três primeiras intervenções
A 18 de Abril de 2005, o Cardeal Ratzinger, como decano do Colégio Sagrado, presidiu à Missa antes do conclave em que seria eleito papa. Fez uma famosa homilia. Falou da ameaça de uma "ditadura do relativismo" e da resposta cristã: "...a resposta cristã é ser uma "ditadura do relativismo".Uma fé que não segue as ondas da moda e a última novidade: adulta e madura é uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. [...] Devemos conduzir o rebanho de Cristo em direcção a esta fé. Só esta fé cria unidade e é realizada na caridade".. Ele contava, como sempre, com uma verdade cristã falada com caridade.
Em 20-IV-2005, após ter sido eleito e celebrado a Missa, dirigiu-se aos cardeais. Depois de recordar João Paulo II, apelou à comunhão eclesial, o tema do Concílio. E ele disse "Desejo reafirmar firmemente a minha determinação em continuar o meu empenho na implementação do Concílio Vaticano II, seguindo o exemplo dos meus antecessores e em fiel continuidade com a tradição de dois mil anos da Igreja".. E como era o ano do Sínodo sobre a Eucaristia, ele acrescentou: "Como não perceber nesta providencial coincidência um elemento que deve caracterizar o ministério para o qual fui chamado"?. Comprometeu-se a "fazer todo o possível para promover a causa prioritária do ecumenismo"., a "para continuar o diálogo promissor que os meus venerados antecessores estabeleceram com diferentes culturas". e "...para proclamar ao mundo a voz d'Aquele que disse: 'Eu sou a luz do mundo'".especialmente os jovens.
Mas o texto mais surpreendente é a sua saudação de Natal à Cúria Romana nesse ano (22 de Dezembro de 2005). Aproveitou a oportunidade para ver onde estava a Igreja. Julgar a aplicação do Conselho, que foi uma reforma e não uma ruptura, e em muitos pontos continua por aplicar. Passou em revista as grandes questões da evangelização em relação ao mundo moderno, com três questões: diálogo com as ciências (incluindo a exegese), diálogo com o pensamento político e diálogo inter-religioso. E, de passagem, deu uma resposta teológica sobre a liberdade religiosa, que foi uma das razões da cisão de Lefebvre. Um texto para reler, sublinhar e resumir. Verdadeiramente uma chave para as intenções e a abordagem do pontificado.
Encíclicas e exortações
Das três encíclicas de Bento XVI, a primeira, Deus caritas est (2006), talvez o mais pessoal. Segundo a biografia de Seewald, a segunda parte já estava mais ou menos pronta: caridade na Igreja, em relação ao bem-estar e trabalho caritativo, com o espírito de insistir que a Igreja não é simplesmente uma ONG, e que vive da caridade de Cristo. Uma magnífica primeira parte foi acrescentada sobre o que é o amor e o amor cristão. Lendo-o, encontra-se, especialmente no início, o estilo de Ratzinger. Spe Salvi (2007) também retoma uma preocupação pessoal de Bento XVI: a esperança, como um cristão olha para o futuro, para a salvação de Deus. Com as suas tentativas obscuras e modernas de substituição política e económica. E os lugares onde pode ser recuperado: oração, acção e sofrimento cristãos, e o anseio por um julgamento definitivo. Alguns vislumbres recordam o seu manual de escatologia.
Caritas in veritate (2009) está escrito na perspectiva de Populorum Progressio (1967) por Paulo VI, e saiu no meio de uma crise económica global (2008). Queria retomar a tradição das grandes encíclicas sociais e apresentar sugestões para abordar os problemas da pobreza em tantas nações. A deflação do mundo comunista tinha feito desaparecer respostas falsas e horizontes, mas era necessária uma acção positiva. Repensar as condições para um verdadeiro desenvolvimento. Isto é caridade eficaz e, para os cristãos, inspirada por Cristo e com a sua ajuda.
O esboço da encíclica sobre a fé permaneceria, depois da caridade e da esperança (Lumen fidei), com o seu tema central Temos acreditado no amor, Ratzinger's, que foi apanhado pela mudança de pontificado (2013) e foi deixado no marasmo.
As duas exortações apostólicas correspondem a dois sínodos. A primeira, convocada por João Paulo II, mas presidida por Bento XVI (2005), dá origem a Sacramentum charitatis (2007). Como vimos, pareceu-lhe providencial concentrar-se na Eucaristia para reavivar a vida da Igreja. O tema do segundo sínodo (2008) representa um certo afastamento da tradição da preferência pastoral: a leitura cristã da Bíblia, que dá origem a Verbum Domini (2010). Reflecte a sua preocupação em difundir uma abordagem de fé na Bíblia. É por isso que ele está a tirar tempo para escrever Jesus de Nazaré.
Palestras e homilias
Deste imenso material, as duas viagens à Alemanha (2006 e 2011) destacam-se como as mais pessoais. E não podem faltar. É evidente que a homilia na Catedral de Regensburg e o discurso na Universidade, a sua universidade (2006), foram seus, também devido à agitação causada por uma citação anedótica sobre a violência muçulmana. No final, o alvoroço foi alegremente colocado para descansar. Mas o tema principal era muito próprio: a relação entre a ciência e a fé e o papel público da fé.
Na segunda viagem à Alemanha (2011), para além do encontro informal com jornalistas e do comovente encontro com seminaristas em Friburgo, há o seu memorável discurso no Parlamento alemão recordando os fundamentos morais do Estado democrático e a amarga experiência de como um grupo sem escrúpulos (os nazis) poderia tomar o poder.
Claro que há muito mais coisas em tantas viagens memoráveis: o entusiasmo da Polónia (2006), a entrada na Mesquita Azul em Istambul e os encontros com o Patriarca de Constantinopla (2006), o discurso à intelligentsia francesa (2008), a digressão ao México e Cuba (2012). E os bons tempos nas Jornadas Mundiais da Juventude em Colónia (2005), Sydney (2008) e Madrid (2011). E, sempre nas suas viagens, o seu trabalho ecuménico.
O problema da exegese
Joseph Ratzinger foi sempre um estudante atento dos desenvolvimentos exegéticos e fez muito para se manter bem informado, especialmente da literatura alemã, como se pode ver nos prefácios destes três livros. Rapidamente percebeu que, a par de contribuições notáveis, o método puramente histórico-crítico levou a que os textos bíblicos ficassem presos ao passado, tornando-os cada vez mais distantes e concluindo tantas hipóteses dispersas que nada podia realmente ser concluído.
Mas isto, quando aplicado à vida de Cristo, significava deixá-lo preso no passado e distinguir quase radicalmente o Cristo da fé confessada do Cristo da história, na realidade perdido. Assim, todas as reivindicações da Igreja, em perfeita ligação com as reivindicações dos textos, foram deixadas no ar. As hipóteses mais absurdas sobre como as declarações sobre a figura de Jesus Cristo, a sua divindade, os seus milagres, tão implausíveis de um ponto de vista histórico puramente humano, poderiam ter sido compostas em tão pouco tempo. Inacreditável, a menos que fossem realmente obra de Deus. Se não se parte da fé, é-se obrigado a fazer reconstruções que são realmente difíceis e perfeitamente no ar.
Com todo o seu conhecimento, as três partes deste trabalho são uma tentativa de uma exegese crente e informada, centrada na fé em Jesus Cristo. Ele estava convencido da urgência desta abordagem. Ele acreditava firmemente que era um serviço que devia prestar. Tinha tentado e começado como prefeito, e tinha o incrível mérito de o levar a cabo como papa.
Conclusão
Obviamente, a sua demissão (2013) também levantou uma questão teológica: tinha ele o direito de se demitir? Havia apenas um precedente e em circunstâncias especiais: o voo de demissão de Celestine V (1294), porque outros foram forçados a demitir-se (Western Schism). João Paulo II considerou-o e pensou que tal não era possível. Bento XVI considerou-o e decidiu que o deveria fazer e criou um precedente razoável.
No final da sua última entrevista de livro com Seewald (Bento XVI. Últimas conversaçõesMensajero, Bilbao 2016), quando já estava reformado, comentou o seu lema episcopal Cooperador da verdade: "Na década de 1970, tomei claramente consciência do seguinte: Se esquecemos a verdade, para que fazemos tudo isto? [...] Com a verdade, é possível colaborar porque se trata de uma Pessoa. É possível comprometer-se com ele, para tentar afirmá-lo. Isso pareceu-me, no final, ser a verdadeira definição de um teólogo". (292). A partir daí até ao fim.
Momento de consagração da Rússia e da Ucrânia
A 25 de Março, o Papa Francisco consagrou as nações da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Nossa Senhora pedindo a paz nestas nações.
Foi assim que o Santo Padre rezou perante a imagem de Nossa Senhora.
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Milhares de pessoas defendem a vida e os cuidados humanos em Madrid
A Marcha Sim à Vida em Madrid apelou à vida, à cultura de cuidados para todos os seres humanos desde a concepção até à morte natural, e à abolição de leis como as relativas à eutanásia e ao aborto. Os testemunhos de mulheres ucranianas, e a defesa da objecção de consciência, marcaram o evento.
Numerosos jovens e famílias com crianças e avós, acompanhados por conhecidos "influentes" como Grace Villarreal e Joan Folch, ou produtores de televisão e jornalistas como Diego de Julián e Ivana Carrero, saíram à rua para comemorar o Dia Internacional da Vida, após dois anos de celebração online. De acordo com os organizadores, havia cerca de 20.000 pessoas, embora a Delegação do Governo tenha reduzido o número para metade.
A Plataforma Sim à VidaO encontro, composto por mais de 500 associações unidas na defesa da vida desde o seu início até ao seu fim natural, teve um tom alegre, mas firme nas suas convicções de vida, que se concluiu perto da Praça de Cibeles, em Madrid, num evento com música e testemunhos.
A celebração incluiu um Manifesto de 7 pontos, que se pode ver no final, e "o tradicional minuto de silêncio e libertação de balões em memória do não nascido e de todas as vítimas da cultura da morte".
O evento contou com a participação de pessoas e famílias de cerca de vinte cidades espanholas como Barcelona, Sevilha, Pamplona, Cádis. Córdoba, Alicante, Santiago de Compostela, etc. Milhares de outras pessoas marcharam online e acompanharam o evento ao vivo no perfil da plataforma no Youtube.
Na bandeira à cabeça da Marcha estavam representantes de associações envolvidas na defesa da vida em diferentes áreas, tais como Alicia Latorre, porta-voz da Plataforma Sim à Vida e presidente da Federação Espanhola de Associações Pró-Vida; Alfonso Bullón de Mendoza, presidente da Associação Católica de Propagandistas (ACdP), e da Fundação Universitária San Pablo CEU; Javier Rodríguez, director geral do Family Forum, e Benigno Blanco, ex-presidente do Family Forum; Álvaro Ortega, presidente da Fundación + Vida, ou a coordenadora europeia de Um de Nós, Ana del Pino, a Fundação RedMadre, entre outros.

As mulheres ucranianas defensoras da vida
O evento foi organizado por Diego de Julián e o influenciador Grace Villarrealentrevistado pela Omnes no dia 25. Um dos momentos mais comoventes chegou quando duas irmãs ucranianas, Halina e Marina, esta última grávida de 25 semanas, subiram ao palco para prestar homenagem ao povo ucraniano, desejando-lhe paz. Halina contou como depois de assistir a uma Marcha Sim à Vida, oferece agora o seu apoio a mulheres grávidas que vão a centros de aborto. Pode ver o seu testemunho em vídeo aqui.
Pela sua parte, Marina deixou o batimento cardíaco do seu filho ser ouvido ao vivo; com este som, o tradicional minuto de silêncio e libertação de balões teve lugar. Neste batimento cardíaco do bebé estava "a memória do não nascido por causa do aborto e de todas as vítimas da cultura da morte".
Objecção conscienciosa e recepção
A celebração pela vida culminou com um concerto dos Irmãos Martínez, mas antes disso houve mais discursos. Por exemplo, o reitor do Colegio de Médicos de Madrid, Dr. Manuel Martínez Sellés, e Pablo Boccanera e Elisabeth Delamer com a sua filha biológica Teresa, uma família que acolhe crianças com doenças, e cuja filha, Teresa, seguiu o seu exemplo e é agora mãe adoptiva de uma menina de 2 anos.
O Dr. Martínez Sellés, que subiu ao palco com um casaco branco, salientou, entre outras coisas, que "os médicos não podem ser forçados a realizar abortos ou eutanásia, porque a nossa objecção de consciência está garantida tanto na nossa Constituição como na Carta Europeia dos Direitos Fundamentais". "O que nós médicos estamos a pedir", acrescentou, em resposta às perguntas de Grace Villarreal, "é que nos seja permitido cuidar, tratar, paliar. É isso que nós, médicos, fazemos, não matamos.
Concurso de história e milha urbana
Antes do mês de Março, às 10h00, realizou-se uma Corrida na Rua Serrano, no formato de uma Milha Urbana, promovida pela associação Atletas para a Vida, como relatado pela Omnes, e que atraiu mais de uma centena de corredores em várias categorias. A associação, presidida por José Javier Fernández Jáuregui, anunciou o resultados e vencedores nas várias categorias.
Além disso, serão anunciados os vencedores do concurso de contos associados. II Corrida Os resultados da campanha Sportsmen for Life, na qual a Omnes colabora, serão anunciados neste website nos próximos dias.

Ideias poderosas, e Manifesto
Para além das declarações do Dr. Manuel Martínez Selles, Alicia Latorre assegurou que "o Sim à Vida é um apelo à vida, ao compromisso, cuja força reside na causa que defendemos. A mera celebração é já um fruto importante e, claro, as muitas consequências positivas que dela derivam. É uma oportunidade e um privilégio poder defender a vida de todos e confiar sem sombra de dúvida que a verdade e a bondade estão a conquistar corações e mentes".
Ao mesmo tempo, o porta-voz da plataforma salientou que "não podemos recuperar as vidas perdidas nem o mal feito, mas temos nas nossas mãos o presente e portanto o futuro e confiamos que cada vez mais pessoas se juntarão à causa da vida, talvez também aqueles que têm defendido o oposto".
María José, Lola...
Entre os muitos testemunhos recolhidos, María José, que participou na corrida, disse à Omnes que estava lá "para defender a vida desde o primeiro momento da concepção até à morte natural, para consciencializar as pessoas de que temos de defender a vida, que não podemos ficar em casa, a dormir no sofá, mas que temos de lutar pela vida". Eu vim com o meu marido, Andrés, que também correu. Vivemos na zona de Villaverde e temos três filhos adultos".
Alberto, Covadonga, José, Lola, Matilde..., são jovens de diferentes cidades andaluzas, como Jaén, Córdoba ou Bailén, descobriram a raça a partir de parentes e vivem em Madrid. Não se importaram de ser fotografados. Lola, a um mês de se casar, disse à Omnes que "é tremendamente triste viver numa sociedade em que as mulheres têm de ser convencidas a ter os seus próprios filhos, todos os bebés querem nascer, e é tremendamente triste que tenhamos mesmo de debater estas coisas".
Na opinião de Lola, "o direito à vida é o mais importante dos direitos, porque sem ele não há outro direito, e pôr isso em causa é lamentável". Se pensássemos apenas por um segundo da perspectiva do bebé, não haveria dúvidas, ninguém o questionaria. Não faz sentido que a vida de um ser humano valha mais ou menos do que a de outro por causa da sua idade. É precisamente quando as crianças estão no útero que elas estão mais indefesas.
Manifesto Sim à Vida 2022
Os sete pontos do Manifesto de Março são os seguintes:
1. proclamamos que TODO o ser humano tem direito à vida e a ser tratado como merece a sua dignidade especial, desde a sua concepção até à morte natural.
2. Queremos mostrar a grandeza da cultura da vida, que é generosa, acolhedora, construtiva, alegre, curativa, que não desiste.
3. Rejeitamos todas as leis e práticas que ameaçam a vida humana em qualquer momento da sua existência, bem como o seu financiamento e imposição ideológica.
4. Exigimos que a verdade seja conhecida sobre todos os horrores, interesses e estratégias por detrás da cultura da morte e das suas terríveis consequências pessoais e sociais.
5. Exigimos que, como questão prioritária, os avanços e cuidados médicos cheguem a todos sem excepção e que todos os recursos materiais e humanos necessários sejam atribuídos para esse fim.
6. Apoiamos e agradecemos a todas as pessoas e associações que, de diferentes áreas, trabalham a favor de toda a vida humana, apesar de muitas dificuldades e mesmo perseguições.
7. Por todas estas razões, mostramos, mais um ano, o nosso compromisso público e unido de continuar a dizer sempre e em todas as circunstâncias Sim à vida!
Como habitualmente, a organização lançou um apelo à solidariedade para ajudar a cobrir os custos deste evento, através da ONG Bizum: 00589
Ou por transferência bancária: ES28 0081 7306 6900 0140 0041 para a Federação Espanhola de Associações Pró-Vida. Conceito: Sim à Vida.
De onde vem a reforma da Cúria e para onde ela vai
A reforma da Cúria Romana procura reforçar o processo de proclamação do Evangelho nos tempos contemporâneos, e expressa também o princípio da sinodalidade e da escuta tão querida do Papa Francisco.
Em 2013 indicámos que o verdadeiro início dos procedimentos que levariam à conclusão da reforma da Cúria Romana - solicitada nas Congregações Gerais antes do Conclave que elegeu o Papa Francisco - se encontrava na nomeação do novo Secretário de Estado, que tomou posse a 15 de Outubro do mesmo ano.
E é notável que já nessa ocasião, comentando a sua nomeação, o então Arcebispo Pietro Parolin, Núncio Apostólico na Venezuela, falou da sua total disponibilidade para colaborar para o bem da Igreja e "para o progresso e a paz da humanidade, para que esta possa encontrar razões para viver e ter esperança". Há nove anos atrás, de facto, houve vários conflitos que abalaram o mundo, começando pelas regiões do Médio Oriente, e o Papa Francisco tinha apelado a uma primeira "vigília de oração pela paz". Isso foi a 7 de Setembro de 2013.
Estas circunstâncias são relevantes e levantam questões, precisamente porque, embora o compromisso assumido no início do pontificado de reformar e racionalizar a estrutura operacional central da Igreja de Roma tenha sido mantido, no entanto, no mundo, estamos ainda no "ano zero" da paz, com um enorme conflito ainda mais exacerbado às portas da Europa. Uma Europa, coincidentemente, que no ano anterior (2012) tinha sido galardoada com o Prémio Nobel da Paz.
Também nessas semanas de Setembro de 2013, o Papa Francisco tinha dado a sua primeira entrevista à revista jesuíta La Civiltà Cattolica, e falando do verdadeiro papel dos dicastérios da Cúria Romana, tinha reiterado que eles estavam "ao serviço do Papa e dos bispos: eles têm de ajudar as Igrejas particulares e as conferências episcopais. São exemplos de ajuda".
E foi com base nesta premissa que o Praedicado Evangelium foi elaborado e entregue a toda a Igreja na Solenidade de S. José, a 19 de Março. A Omnes já publicou uma análise detalhada no mesmo dia da sua publicação, pelo canonista Jesús Miñambres..
Aqui vale a pena recordar que esta reforma vem 38 anos após a anterior Constituição Bónus do Pastor desejada por São João Paulo II. Ao formalizar num único texto jurídico as numerosas "pequenas reformas" realizadas pelo Papa Francisco no decurso do seu pontificado, o documento exprime também esse princípio de sinodalidade e de escuta tão caro ao Pontífice, tendo adquirido, após o projecto inicial, observações, pareceres, sugestões e pedidos dos chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, dos Cardeais reunidos em Consistório e indicações dos Episcopados locais.
Olhando para as ocorrências das palavras mais citadas no texto, para além das inevitáveis de dicastério, Igreja e bispos, serviço, competência, fé, pastoral, colaboração, missão, formação, comunhão, doutrina, leigos, relações, Evangelho e justiça emergem claramente. Só estes termos rapidamente esboçam a base desta Reforma, que procura reforçar o processo de proclamação do Evangelho nos tempos contemporâneos. Não é, em última análise, uma simples remodelação - procedimentos que são, entre outras coisas, de muito mau gosto para o Papa - mas uma verdadeira regeneração de processos, competências e visão.
Estamos agora à espera do Editio Typica em latim, com a sua publicação em L'Osservatore Romano, a fim de ter o texto definitivo do documento (e também o legalmente válido), do qual se seguirão traduções para as outras línguas principais. Fica entendido que a reforma entrará em vigor a 5 de Junho, dia de Pentecostes.
"O cristão está interessado na sua sociedade porque faz parte dela".
O lançamento do Mestrado em Cristianismo e Cultura Contemporânea pela Universidade de Navarra centra-se na necessidade de uma formação humanista que promova a presença da proposta cristã nos principais debates culturais e sociais da actualidade.
Em Novembro de 2020, um artigo do jornalista Diego Garrocho colocou a questão de onde na paisagem sociocultural espanhola se encontravam os chamados "intelectuais católicos".
Este artigo deu origem a uma interessante cascata de respostas e novas questões, publicadas a partir de diferentes campos por filósofos, jornalistas, professores, etc., que, a partir de diferentes posições ideológicas e existenciais, levantaram a incompatibilidade ou não da proposta cultural cristã nos debates sobre o pensamento actual e das quais o sítio Web da Omnes foi amplamente ecoado.
Embora haja quem pense que este debate, cujos momentos mais quentes duraram até Janeiro de 2021, não foi além de uma breve exposição de motivos, culpas ou queixas, a realidade é que a manifestação e reflexão pública sobre esta questão demonstra que a proposta intelectual cristã e vital não só tem de ser oferecida como é mais do que nunca necessária no actual debate cultural, social e antropológico.
Paralelamente a este debate mediático mais ou menos conhecido, a Universidade de Navarra já estava a delinear o que seria o novo Mestrado em Cristianismo e Cultura Contemporânea que começará, online e pessoalmente, em Setembro próximo, no campus de Madrid.
O Mestrado nasce da experiência do Instituto Currículo PrincipalO ensino humanista dirigido aos estudantes de qualquer grau, que foi desenvolvido nesta universidade durante anos com uma excelente recepção entre os estudantes e que representa um conjunto de conhecimentos e formação intelectual muito afastado do utilitarismo. Neste sentido, o director académico deste Mestrado em Cristianismo e Cultura ContemporâneaMariano Crespo, numa conversa com a Omnes, salienta que "Num mundo que procura utilidade imediata, mesmo na esfera académica, para propor estudos deste tipo recupera algo importante que talvez estejamos a perder: a formação para se interrogar sobre aquelas questões eternas que são, ao mesmo tempo, prementes na sociedade de hoje".
Uma sociedade fragmentada
Todos os dias nos encontramos imersos numa sociedade que parece ter esquecido o raciocínio e substituiu-o pelo sentimento. Contudo, neste turbilhão de opiniões instáveis, o anseio por razões bem fundamentadas está a tornar-se cada vez mais evidente e necessário. Uma necessidade que também discutimos com Julia Pavón, reitor da Faculdade de Filosofia da Universidade de Navarra, e Ricardo Piñero, professor de Estética. neste sentido, Pavón assinala que "A sociedade pensa mesmo. O que acontece é que os instrumentos de que dispõe para desenvolver este pensamento são demasiado emocionais ou demasiado imediatos. Não existe uma abordagem racional ou coerente de certas questões. Temos pequenos fragmentos, posts, notícias, flashes... que não acabam por estar ligados entre si porque não há tempo para os articular numa única mensagem. Daí o triunfo do "conteúdo de um dia". Temos de encontrar formas para que estes conteúdos sejam intelectualmente articulados e forneçam respostas a questões-chave". Estes flashes, como aponta Pavón, fazem parte de uma cultura fragmentada como a nossa, na qual o O "tertuliano", aquele que sabe de tudo: política, religião, desporto, economia... e isto é impossível. Podemos ter opiniões sobre tudo, mas não podemos saber tudo. Isto mostra que, na realidade, queremos estar em muitas frentes mas, no fundo, não somos capazes de articular uma narrativa, uma alternativa coerente a diferentes opiniões. Isto requer argumentos racionais".
Aqui reside, nesta formação de pensamento, a proposta que está a ser lançada neste momento. Não se trata de dar respostas unívocas mas de levantar questões, encontrar respostas e, sobretudo, entrar no debate cultural actual com uma proposta que mostre a verdade das coisas. "O cristianismo na sua forma mais pura não doutrina, mas mostra", defende Julia Pavón.
Argumentação racional e fé
"Precisamente nos debates que têm surgido nos últimos anos na opinião pública, como, por exemplo, o debate sobre o aborto".Notas Crespo, "Fiquei impressionado com a forma como foi sugerido que uma pessoa era contra o aborto porque é cristã e por isso tinha razões religiosas - que são consideradas preferências emocionais subjectivas - por ser a favor da vida. Por outras palavras, eles queriam apresentar a sua postura anti-aborto como uma questão emocional. Não é este o caso. Emocionalmente, há coisas de que gosto e coisas de que não gosto; se me perguntarem as razões porque gosto ou não, posso acabar num momento de "porque é assim que as coisas são". Algo semelhante acontecia com esses debates, considerou-se que a certa altura não era possível argumentar e essa é uma abordagem que cega a exposição. Esta não é a realidade. Os cristãos não são contra o aborto ou a eutanásia por razões subjectivas. Temos razões genuínas. É uma posição racional, com argumentos racionais, biológicos, naturais... que podem e devem contribuir para este debate"..
Julia Pavón assinala que "Para nos envolvermos verdadeiramente no diálogo, temos de conhecer as questões em jogo, as suas bases e argumentos, as razões do seu sucesso ou fracasso, mas não devemos ter medo e fechar-nos num gueto dos 'anti', pensando que o resto da sociedade está errada. A segurança não se ganha no grupo fechado. A segurança é obtida através da autonomia de pensamento, tendo argumentos razoáveis.
Proposta cristã, desapareceu?
Haverá, portanto, uma verdadeira falta de presença da proposta cristã no debate cultural actual? De quem é a culpa deste silenciamento? Haverá falta de católicos ou antes uma falta de intelectuais?
"Eu pessoalmente afasto-me do rótulo de intelectual cristão", destaca Ricardo Piñero. "Não ouço esse 'debate de intelectuais ateus' .... de 'intelectuais muçulmanos'. Penso que aqueles de nós que são cristãos não são tão bons cristãos se tivermos de o dizer. O momento em que se tem de explicar quem se é, é porque não se mostra, e nesta vida há um exercício muito interessante chamado coerência.
Devido a esta coerência, que deveria ser inerente à vida, Piñero continua, "O cristão está interessado na sua sociedade porque faz parte dela. O cristianismo nunca esteve fora do seu mundo".
Para este professor de Estética e Teoria das Artes, a realidade que enfrentamos não é que o mundo esteja a silenciar a proposta cristã. Esta voz cristã existe, salienta Ricardo Piñero, uma vez que "Damos conferências, participamos em congressos... mas existe, naturalmente, um 'curto-circuito' entre o que o mercado move e o impacto que isso tem. Talvez o problema seja que nós, intelectuais, nos limitamos, em muitas ocasiões, a exercer a profissão de professor e as nossas preocupações centram-se na acreditação, passando para o próximo passo na nossa carreira profissional".
Uma concepção de ensino que, embora necessária em certos momentos da vida, como o próprio Piñero reconhece, deve ser superada nesse exercício de coerência que "Tem um preço, mas também tem uma recompensa, que é sentir-se livre para fazer o que realmente se quer e de que se está convencido.
Coerência doutrinal e arrogância
"A grande questão é se aqueles de nós que se consideram cristãos realizaram ou não este exercício de forma coerente", salienta Piñero. "Acho muito triste que o debate entre intelectuais 'cristãos' acabe por ser sobre se o debate é ou não possível. Os intelectuais devem pensar nos grandes problemas, não em nós próprios. Se nós próprios somos parte do problema, então sim, temos de pensar sobre isso. Mas isso tem um alcance limitado"..
Uma realidade que, na opinião de Piñero, é em parte o resultado de estar encerrado num círculo específico, sem qualquer permeabilidade com o resto do mundo. Talvez provocada por medo, preguiça ou reacção defensiva levada ao extremo, a presença cristã foi afectada pelo que Piñero descreve como "arrogância doutrinal": "Tentámos sempre impor uma série de critérios porque pensávamos que estávamos para além de qualquer outra posição. E isso é um enorme erro porque é impossível dialogar com alguém se não o ouvirmos. Parte do fracasso da nossa falta de presença é que temos estado a falar, e só temos falado de questões que eram do nosso interesse. Não temos ouvido as questões da sociedade. Nós 'intelectuais cristãos' precisamos de gastar tempo em duas coisas: aprender com os outros e estudar os sinais dos tempos, e propor a nossa mensagem, para sairmos desta arrogância doutrinal. Para sair do texto anterior e ouvir o outro. É anti-estatístico considerar que tudo o que a outra pessoa diz é contra a minha maneira de pensar".
Mariano Crespo está também nesta linha quando assinala que "Existe uma certa contradição na forma como o currículo do ensino secundário é estabelecido em Espanha. Por um lado, há uma insistência na aquisição de competências, habilidades, como fazer as coisas, e por outro lado, a necessidade de encorajar o pensamento crítico. É uma pena o papel minoritário que a filosofia vai desempenhar, e é uma pena porque, se se quiser encorajar o pensamento crítico, é preciso conhecer a filosofia. Não nego que, por vezes, os professores de filosofia tenham adoptado uma abordagem algo historicista da matéria, sobrecarregando os estudantes com respostas que não foram previamente solicitadas. A ideia, contudo, é levantar questões e oferecer, e não impor, respostas do ponto de vista cristão. Qualquer ensino está condenado ao fracasso quando dá respostas a perguntas que os alunos não fizeram a si próprios"..
Abertura ao diálogo
Uma das chaves do mestrado lançado pela Universidade de Navarra é o seu empenho no diálogo: adquirir um conhecimento profundo das propostas e tendências culturais actuais com uma mente aberta para participar no debate cultural actual.
"Diálogo significa estar consciente de que parte do que consolidou pode ser melhorado. Considerando que a sua própria posição não está perfeitamente acabada, embora tenha muito a contribuir", destaca Ricardo Piñero. "O cristianismo tem um poder extraordinário para conceber a boa vida do ser humano em coisas muito concretas: o que é vida, o que é morte, o que é casamento e o que não é. Esta é a nossa proposta. Os cristãos não são tolos, nós não raciocinamos menos porque temos fé. Uma das formas mais qualificadas de compreender o mundo é fazê-lo com fé, juntamente com as ciências naturais. A intelectualidade não está em desacordo com o senso comum ou com outras realidades que fornecem informações qualificadas, tais como a fé. Quem se aproxima de um diálogo com clichés não provou o sabor da liberdade: essa capacidade de questionar as coisas e de tomar uma decisão em virtude de um conhecimento rigoroso e livre"..
"Os cristãos têm muito a dizer nestes debates que existem na nossa sociedade, porque as nossas respostas são profundamente racionais".Mariano Crespo assinala a este respeito,"Muitas pessoas fazem uma distinção entre o que pensam como um ser racional e o que pensam como um cristão. Esta é a abordagem errada. A fé cristã aperfeiçoa e eleva a própria natureza".Na verdade, Crespo acredita que "Estamos num momento privilegiado para mostrar que as respostas cristãs são esclarecedoras, profundamente racionais e são respostas que devem ser tidas em conta nos debates sobre questões centrais, não só de natureza ética, como o aborto, a eutanásia ou a dignidade da vida... mas também na estética, na literatura e na arte"..
A cooperação é o segredo. Elisabetta Dami e Geronimo Stilton
Muitas crianças em todo o mundo lêem as aventuras de Geronimo Stilton, o jornalista rato que vive na Ilha do Rato, cujas histórias têm um final feliz. A autora Elisabetta Dami esconde-se atrás do nome da sua amiga protagonista. Vendeu milhões de exemplares que enchem de alegria os seus leitores e os encorajam a cooperar como a chave do sucesso.
No nosso mundo de publicidade ensurdecedora, a atitude do escritor é bastante chocante. Elisabetta Daminascido em Milão em 1958. Dami é tímida e sensível, como o seu personagem, Geronimo Stilton. Ela raramente aparece em público; ao contrário dos seus livros, que são conhecidos em quase todo o mundo. O primeiro foi publicado em 2000 e desde então os livros Geronimo e Tea Stilton já venderam mais de 180 milhões de exemplares e foram traduzidos em 49 línguas. É um verdadeiro império editorial com livros maravilhosamente ilustrados que cativam muitas crianças entre os 6 e os 12 anos de idade.
Houve também adaptações musicais e uma série de televisão protagonizada por este jornalista de ratos, editor do "The Rodent Echo", o jornal mais difundido na Ratónia.
O nascimento da personagem
Elisabetta trabalhou durante vinte anos na editora fundada em 1972 pelo seu pai Piero Dami. Aí ela familiarizou-se com a literatura infantil e juvenil. No entanto, por detrás do rato giro e das suas histórias simples com um final feliz reside uma profunda tristeza que, nas suas próprias palavras, ela transformou em amor. A autora descobriu à sua tristeza que não podia ter filhos, e decidiu ser voluntária num hospital com crianças doentes. Foi aí que nasceram as histórias de Geronimo e da sua irmã Tea: "Geronimo e Tea".Comecei a escrever histórias para eles e percebi que, se estivessem felizes, recuperariam mais rapidamente.". As suas histórias inspiram e ajudam tantas crianças em todo o mundo a crescer em valores; para a autora, estas crianças são as crianças que ela não tem sido capaz de ter.
No entanto, Dami aparece nos créditos dos livros apenas como inspiração para a ideia, e são Geronimo e o próprio Chá que estão listados como os autores. E há também uma teoria engraçada e inteligente por detrás disto, pois muitas crianças escrevem ao Jerónimo a perguntar-lhe como chegar à Ilha do Rato e estão interessadas na vida do seu herói.
Para eles, Gerónimo ou Chá são os que escrevem os livros: ele não os tira do sono, porque acredita que os sonhos das crianças são um tesouro e que a esperança é um remédio poderoso. Neste sentido, Elisabetta Dami disse em 2017 que amava muito o Papa Francisco e que concordava com ele que não devemos deixar de sonhar.
Quem é a inspiração?
Agora vem a pergunta: se Dami inspira as histórias dos ratos, quem a inspira? Esta é em parte uma experiência autobiográfica: ela escreve o que gostaria de ter lido quando tinha sete anos de idade. Além disso, a autora, tal como as suas personagens, adora viajar e conhecer pessoas diferentes. De facto, ela considera a diversidade como um grande valor, juntamente com o da cooperação. "A cooperação é o segredo do sucesso de Geronimo Stilton."explicou a autora no seu discurso no Fòrum Impulsa, em Girona, em 2012.
Dami é uma aventureira: correu uma maratona de 100 quilómetros no Sara, fez a O Caminho de SantiagoTem licença de piloto, saltou de pára-quedas e escalou o Kilimanjaro; faz caiaques, adora a natureza e arqueologia e, nos últimos anos, tem tocado piano. Para escrever, ele gosta de estar em contacto com a natureza e refugiar-se na sua casa de campo. Ela diz que tem cavalos, mas não os monta porque isso significaria fazê-los trabalhar e o que ela quer é que eles sejam felizes no prado.
Segredos do sucesso
Quando questionada sobre a razão do sucesso da sua obra, a autora revela alguns segredos: o primeiro é que ela escreve do coração e é por isso que consegue tocar o coração de tantos leitores. Ela também gosta muito de escrever. Ela explicou, numa entrevista: "Quando escrevo estou feliz; quando escrevo o meu coração canta". Por outro lado, assinala a importância do apoio recebido dos distribuidores, livreiros e designers: todos eles são uma parte importante do sucesso do projecto.
De um ponto de vista de conteúdo, as crianças podem facilmente compreender as personagens: Gerónimo não é apenas um roedor muito amigável, ele também experimenta emoções com as quais as crianças se podem identificar, aprendendo com a personagem a geri-las; ele é um rato desajeitado e distraído, mais próximo do anti-herói do que do herói, e isso torna-o cativante.
Valores universais
Para além de escrever de coração, outra chave para Elisabetta Dami é que os seus livros oferecem valores positivos e universais para as crianças: paz, família, amizade, respeito pela natureza, honestidade, lealdade, coragem, ... E, acima de tudo, colaboração face ao individualismo dominante. Geronimo Stilton é um exemplo de cooperação para as crianças, e esta forma de participação é a chave para o futuro, diz Dami. Para ela, o mais importante não é a fama ou o sucesso comercial, mas sim fazer as crianças felizes e divertir-se a cooperar em conjunto.
Esta referência a valores não é gratuita; ela própria colabora com numerosas ONG para a protecção da natureza e o desenvolvimento e emprego de grupos vulneráveis. Entre eles, a associação Il GranelloA organização de inspiração católica, que trabalha para a formação e integração de pessoas com deficiências físicas ou mentais no mercado de trabalho.
Em conclusão, podemos dizer que o amigável rato Gerónimo reflecte fielmente os valores que o seu autor vive. Stilton é, em parte, ela própria e é a forma como mostra a sua essência ao mundo, com o mesmo cuidado com que, por outro lado, esconde a sua vida pessoal. Ela dá-nos o melhor, que são os seus valores, e protege a sua privacidade como o que ela é, algo privado.
Elijah21. Jesus Cristo para os muçulmanos
A iniciativa, que teve origem na Alemanha e já está presente em vários países europeus, tem Elijah21 objectivos - com o lema Jesus para os muçulmanos- para tornar Jesus Cristo conhecido dos muçulmanos que emigraram para o Ocidente. Entrevistamos o seu fundador, Andreas Sauter.
A iniciativa chamada Elijah21 opera em toda a Europa com cristãos de muitas denominações, que trabalham em conjunto para levar o Amor de Jesus Cristo aos muçulmanos. Organizam actividades para conhecer melhor os muçulmanos e para lhes mostrar a alegria e a esperança da fé em Jesus Cristo.
No seu website, explique o que significa o nome Elijah21. Mas por que razão tomou o nome do profeta Elias e como surgiu a iniciativa?
-O nome surgiu de facto da oração. Através do confronto com os sacerdotes de Baal, o profeta Elias aparece como um modelo na questão do verdadeiro Deus. Além disso, o livro de Malaquias termina com a promessa de um tempo no espírito do profeta Elias, antes do regresso de Jesus: "Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes da vinda do grande e terrível dia do Senhor, que converterá os corações dos pais aos filhos e os corações dos filhos aos seus pais, para que eu não venha e fira a terra com uma maldição.. Experimentamos esta reconciliação todos os dias nas nossas acções. Daí o sufixo 21, que representa o século XXI, ou seja, hoje....
A iniciativa, agora difundida como organização missionária por toda a Europa, é uma história de ouvir individualmente a voz de Deus e de a obedecer coerentemente. As situações em que temos notado a mão de Deus manifestam como Ele é quem guia e cria realidades maiores do que o indivíduo é capaz de criar por si próprio.
O seu principal objectivo é dar a conhecer Jesus aos muçulmanos, por exemplo mostrando um filme sobre Jesus Cristo em diferentes línguas nas paróquias. Como os escolhe? O seu trabalho tem uma orientação ecuménica?
-Frequentemente, eles contactam-nos quando têm o desejo de se juntar a nós para levar o amor de Jesus aos refugiados que vivem nas proximidades. Encontramo-nos com as paróquias em congressos, através do nosso boletim informativoPodem ser encontrados em eventos cristãos ou simplesmente contactando-os por telefone. Muitas vezes provêm do contacto pessoal e do trabalho em rede. Temos servido sempre ao lado de igrejas e comunidades de todas as denominações. Queremos olhar juntos para Jesus e não um para o outro. A nossa missão comum vem do Evangelho, do apelo de Jesus para comunicar o seu amor.
Como é que os muçulmanos interessados descobrem a sua oferta, há quanto tempo o tem feito e quantos muçulmanos apresentou a Jesus desde então?
-Convidamo-los sempre pessoalmente; no dia seguinte, vamos buscá-los ao seu próprio alojamento. Temos vindo a fazer isto desde 2016 e realizámos cerca de 80 eventos na Alemanha e na Áustria. Trouxemos o Evangelho a cerca de 8.000 muçulmanos desta forma.
Existem características comuns das pessoas que participam nas suas actividades? Quais são as reacções "típicas" dos muçulmanos que não conheciam Jesus até agora?
-As pessoas que aceitam o nosso convite não têm características gerais significativas. Basicamente, podemos dizer que os corações dos refugiados estão muito abertos e que a maioria deles está à procura de um Deus amoroso. Isto deve-se ao facto de não o terem encontrado no Islão. As experiências que tiveram e o sofrimento que viveram nos seus próprios países levam-nos a perguntar nos seus corações: onde está Deus e quem é Ele?
A maioria dos muçulmanos conhece Jesus como o profeta Isa no Corão. O objectivo das nossas actividades é o de amar os muçulmanos e permitir-lhes ver e experimentar Jesus em nós. "Estávamos à espera de alguém que nos falasse de Deus".dizem eles.
Quando um dos refugiados se sente chamado a converter-se, como é que eles agem?
Garantimos que, no nosso trabalho de seguimento, ele aprende mais profundamente a Palavra de Deus e o Evangelho, e subsequentemente aprende os fundamentos da nossa fé como parte da preparação para o baptismo.
Houve algum incidente, e teme que os militantes muçulmanos perturbem os seus acontecimentos ou, pior ainda, que os participantes sejam perseguidos?
-Nunca experimentamos qualquer agressão ou perturbação. Os muçulmanos tratam-nos com grande respeito e estão muito gratos pelo nosso convite. Não temos medo, por uma questão de princípio, quando fazemos o que Jesus nos chamou a fazer.
Infelizmente, a perseguição dos convertidos é uma realidade na Alemanha e na Europa. Os muçulmanos que vêm ao nosso trabalho de monitorização também estão cientes disto.
Qual é a reacção das "igrejas oficiais"? Por exemplo, colaboram eles com os bispos?
-Cooperação com paróquias e padres é excelente. As reacções da hierarquia eclesiástica variam muito: desde a benevolência e o apoio à rejeição. Estamos sempre satisfeitos por ver mais cooperação, empenho e ajuda prática.
Entre muitos cristãos, talvez em nome da tolerância, a "missão" quase se tornou um insulto. O que pensa sobre isto da sua experiência? No seu sítio web também fala dos cristãos que sentem "o apelo de Jesus" para "pregar o Evangelho". Que experiências teve neste campo?
-"Ai de mim se eu não proclamar o Evangelho".lemos na primeira epístola de S. Paulo aos Coríntios (9, 16). Vivemos numa época em que se diz aos cristãos que defender uma verdade e afirmar que a proclamar é imprópria ou intolerante. Neste debate, muitas vezes falta uma clarificação do conceito de tolerância.
Porquê?
-No sentido clássico e original, significa tolerância: "Eu tolero que outras pessoas pensem e se expressem de forma diferente de mim em questões que são da maior importância para mim, especialmente as religiosas".. Hoje, no entanto, existe um conceito diferente de tolerância. A definição da nova tolerância é que as crenças, valores, estilos de vida e noções de verdade são todos iguais. Não existe uma hierarquia da verdade: "As vossas crenças e as minhas são as mesmas e toda a verdade é relativa". (Thomas A. Helmbock). Um olhar sobre Jesus e a sua mensagem traz clareza sobre este ponto.
Também vão aos conventos para lhes pedir que rezem por "Elijah21 ". Qual é a importância da oração no seu trabalho?
-Oração é a base de tudo, de todo o nosso ser. A orientação para Deus, a escuta da sua voz, o "deixar-se guiar" vem da consciência de que toda a acção e todo o sucesso vem de Deus... Deus é aquele que enche as redes dos pescadores. Apenas obedecemos e vamos pescar. Como obra missionária, temos a nossa própria equipa de oração e adoração. Sempre que mostramos o filme de Jesus somos apoiados durante todo o tempo pelas orações da comunidade anfitriã e também pelas orações de muitos conventos e outras comunidades de oração.
A descoberta da imagem da Virgem de Suyapa
Em Fevereiro de 1747, dois agricultores de Suyapa encontraram uma pequena imagem da Virgem, que viria a ser a padroeira das Honduras. Este ano marca o 275º aniversário desse evento.
A pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição de Suyapa foi encontrada num sábado de Fevereiro de 1747 pelo agricultor Alejandro Colindres e o jovem Lorenzo Martínez Calona, que regressavam à aldeia de Suyapa, cansados de trabalhar todo o dia na colheita do milho. Estavam a meio do trabalho do dia quando a noite caiu. Tinham chegado à ravina de Piligüín, um bom lugar para passar a noite. Aí deitam-se no chão duro.
Uma revelação milagrosa
Na escuridão da noite, Alejandro Colindres não reparou na imagem esculpida que repetidamente lhe causava desconforto quando estava prestes a colocar a cabeça no yagual que os camponeses costumavam colocar à volta da sua cintura para usos múltiplos e que em casos desta natureza usavam como almofada. O que ele considerou aquela noite como um obstáculo para dormir, colocou no seu alforje e na manhã seguinte deu-o à sua mãe Ana Caraballo e à sua irmã Isabel Colindres.
O relato de Alejandro sobre a descoberta foi considerado como uma revelação milagrosa como a vivida pelo índio mexicano Juan Diego em Tepeyac com a Virgem de Guadalupe, e as notícias circularam na aldeia como a bênção portentosa de Deus para os aldeões.
A imagem
Pequena, com apenas seis centímetros e meio de altura, a imagem da Imaculada Conceição de Maria, esculpida em madeira de cedro, cabe na mão da criança Lorenzo. O seu olhar angélico reflecte a nobreza da raça indígena. Ela é morena, com uma face oval, bochechas arredondadas, e o seu cabelo escorrendo chega até aos ombros. A pequena imagem tem as suas minúsculas mãos coladas numa atitude de oração. A cor original da sua peça de vestuário é rosa pálido, que é pouco visível porque está completamente coberta por um manto escuro cravejado de estrelas douradas e adornado com jóias valiosas.
Os Colindres eram uma família profundamente religiosa. Colocaram a imagem sobre uma pequena mesa, enfeitada com flores naturais renovadas diariamente. Eles sentiram uma grande veneração pela Imaculada Conceição. Depois mudaram-na para uma pequena sala que tinha sido convertida numa capela. Durante mais de vinte anos adoraram-na na casa dos Colindres, numa atmosfera familiar simples e sincera. Visitaram-na frequentemente, ofereceram-lhe o seu trabalho, confiaram-lhe as suas preocupações e necessidades.
Costume da aldeia
Os aldeões também gostavam muito dela. Quando alguém ficava doente, costumava levar a imagem para a casa do doente para que a Virgem pudesse visitá-los.
Um dia, Don José de Zelaya adoeceu. Um homem militar importante, proprietário da fazenda "el Trapiche", cerca de um quarto de um campeonato da aldeia. De facto, ele já estava doente há algum tempo e sofria muito de pedras nos rins. Isabel Colindres sabia da sua doença e enviou-lhe uma mensagem dizendo que, se ele quisesse, ela poderia enviar-lhe a imagem da sua Virgem.
Dom José concordou e eles trouxeram a Virgem numa espécie de procissão. Quando chegaram, o homem doente, fervoroso e contrito, pediu a sua cura e prometeu construir-lhe um santuário de beira de caminho em troca. Três dias mais tarde, o Sr. Zelaya atirou as três pedras que foram o tormento da sua vida para o tracto urinário. Isto aconteceu no ano de 1768.
A imagem da Virgem de Suyapa permaneceu no altar da família Colindres durante 21 anos, até 1768, quando esse primeiro milagre foi creditado à família Colindres. Após o seu primeiro milagre, a família Colindres começou a angariar fundos para a construção de uma capela, que foi concluída em 1777. Em 1925, o Papa Pio XI declarou a sua Padroeira das Honduras sob o título de Nossa Senhora de Suyapa e declarou o dia 3 de Fevereiro como o seu dia de festa. Nos anos 50, foi construída uma grande basílica junto à capela, denominada Basílica de Suyapa.
A Virgem também foi roubada em duas ocasiões, ambas as vezes recuperada. O primeiro ocorreu em 1936, quando uma mulher mentalmente doente o levou para casa. E a segunda a 1 de Setembro de 1986, quando foi encontrada no dia seguinte embrulhada em folhas de jornal na casa de banho dos homens de La Terraza de Don Pepe - um restaurante no centro da capital - e despojada do seu vestido e coroa de ouro e prata.
Honduras
O Papa apela a "uma mudança de coração se quisermos que o mundo mude".
O Santo Padre ligou "os bens preciosos da fraternidade e da paz" e "mudar o mundo" à "mudança dos nossos corações", na sua homilia na celebração penitencial anterior à consagração "da Igreja, de toda a humanidade, e de uma forma particular, do povo ucraniano e russo", ao Imaculado Coração de Maria..
"Em união com os bispos e os fiéis do mundo, desejo solenemente levar ao Imaculado Coração de Maria tudo o que vivemos; renovar-lhe a consagração da Igreja e de toda a humanidade e consagrar-lhe, de forma especial, o povo ucraniano e russo, que com afecto filial a veneram como Mãe", disse o Papa na Basílica de São Pedro perante cerca de três mil fiéis, e mais de dois mil na Praça de São Pedro.
"É o gesto de total confiança das crianças que, na tribulação desta guerra cruel e sem sentido que ameaça o mundo, recorrem à Mãe, colocando o seu medo e dor no seu Coração, e entregando-se totalmente a ela", acrescentou ele.
Trata-se de "colocar naquele Coração limpo e imaculado, onde Deus se reflecte, os bens preciosos da fraternidade e da paz, tudo o que temos e tudo o que somos, para que ela, a Mãe que o Senhor nos deu, seja ela a proteger-nos e a cuidar de nós", disse o Santo Padre na Solenidade da Anunciação do Senhor, após a leitura do Evangelho do anúncio do anjo Gabriel à Santíssima Virgem.
"Obtenção do perdão de Deus
"Nestes dias, notícias e imagens da morte continuam a entrar nas nossas casas, enquanto bombas destroem as casas de tantos dos nossos irmãos e irmãs ucranianos indefesos", recordou o Papa na sua homilia. "A guerra atroz que caiu sobre tantos e faz sofrer todos, provoca medo e aflição em cada um de nós. Sentimos dentro de nós uma sensação de impotência e impotência. É preciso que nos digam "não tenham medo", como disse o anjo à Virgem Maria, acrescentou o Pontífice.
"Os títulos humanos não são suficientes, precisamos da presença de Deus, da certeza do perdão divino, o único que elimina o mal, desarma o ressentimento e restaura a paz no coração. É por isso que "é necessário obter do perdão de Deus o poder do amor, o mesmo Espírito que desceu sobre Maria".
"Porque se queremos que o mundo mude, primeiro os nossos corações têm de mudar. Para que isto aconteça, deixemos hoje que Nossa Senhora nos pegue pela mão. Contemplemos o seu Imaculado Coração, onde Deus se reclinou, o único Coração de uma criatura humana sem sombras", encorajou o Papa, apelando à conversão do coração.
"Que Maria guie o nosso caminho".
"Ela é 'cheia de graça', e portanto vazia de pecado; nela não há vestígios do mal e por isso Deus foi capaz de iniciar com ela uma nova história de salvação e paz. Foi aí que a história tomou um rumo. Deus mudou a história ao bater à porta do coração de Maria. E também hoje, renovados pelo perdão de Deus, batamos à porta desse Coração", disse o Santo Padre.
Os lábios de Maria proferiram a frase mais bela que o anjo poderia trazer a Deus: 'Que me seja feito como tu dizes'", disse o Papa. "A aceitação de Maria não é passiva nem resignada, mas um desejo vivo de aderir a Deus, que tem 'planos para a paz e não para o infortúnio'. É a participação mais íntima no seu plano de paz para o mundo".
"Consagramo-nos a Maria para entrarmos neste plano, para nos colocarmos à plena disposição dos planos de Deus", salientou o Papa. "A Mãe de Deus, depois de ter pronunciado o seu 'sim', empreendeu uma longa e tortuosa viagem a uma região montanhosa para visitar a sua prima grávida. Que ela tome o nosso caminho nas suas mãos hoje; que ela o guie, pelos caminhos íngremes e difíceis da fraternidade e do diálogo, ao longo do caminho da paz.
Redescobrindo o Sacramento da Alegria
No início do seu discurso, o Papa Francisco recordou que "no Evangelho da solenidade que hoje celebramos, o anjo Gabriel fala três vezes à Virgem Maria. A primeira vez, saudando-a, diz-lhe: 'Alegrai-vos, cheios de graça, o Senhor está convosco' (Lc 1,28). A razão desta alegria, a causa deste júbilo, é revelada em poucas palavras: o Senhor está convosco. Irmão, irmã, hoje podes ouvir estas mesmas palavras que te são dirigidas; podes fazê-las tuas cada vez que te aproximas do perdão de Deus, porque ali o Senhor te diz: "Eu estou contigo".
"Demasiadas vezes pensamos na Confissão como se nos apresentássemos a Deus de cabeça baixa". Mas não somos nós que voltamos ao Senhor para começar; é Ele que nos vem visitar, para nos preencher com a Sua graça, para nos preencher com a Sua alegria. Confessar é dar ao Pai a alegria de nos erguer de novo, de nos erguer. No coração do que vamos experimentar não estão os nossos pecados mas o Seu perdão", disse o Papa.
"Imaginemos que no centro do sacramento estavam os nossos pecados: quase tudo dependeria de nós, do nosso arrependimento, dos nossos esforços, dos nossos cuidados", explicou o Papa Francisco. "Mas não, no centro está Aquele que nos liberta e nos põe de novo em pé. Restauremos a primazia da graça e peçamos o dom da compreensão de que a reconciliação não é, antes de mais, um passo que damos para Deus, mas o Seu abraço que nos envolve, nos surpreende e nos move. É o Senhor que, como com Maria em Nazaré, entra na nossa casa e nos traz uma maravilha e alegria que antes era desconhecida. Coloquemos a perspectiva de Deus em primeiro plano: vamos redescobrir a importância da Confissão".
O Santo Padre encorajou na sua homilia a descobrir o perdão de Deus. "Não negligenciemos a Reconciliação, mas redescubramo-la como o Sacramento da alegria". Sim, da alegria, onde o mal que nos envergonha se torna uma ocasião para experimentar o abraço caloroso do Pai, a força suave de Jesus que nos cura e a "ternura maternal" do Espírito Santo. Esta é a essência da Confissão".
Do mesmo modo, exortou os padres "Sem rigidez, sem obstáculos, sem desconforto; abram as portas à misericórdia! Em Confissão somos especialmente chamados a encarnar o Bom Pastor que toma as suas ovelhas nos seus braços e as acaricia; a ser canais de graça, derramando a água viva da misericórdia do Pai na aridez do coração".
Consagração da Igreja e da Humanidade
No final da celebração penitencial, na qual mais de uma centena de sacerdotes administrou o sacramento da Penitência em São Pedro, o Papa fez a consagração ao Imaculado Coração de Maria, e confiou-lhe "a nossa pessoa, a Igreja e toda a humanidade". "Faça cessar a guerra e dê paz ao mundo", perguntou o Pontífice perante uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, olhando para ela em várias ocasiões, e com os olhos lacrimejantes, por vezes, parecia que sim. Pode ver o texto completo aqui.
"Mãe de Deus e nossa Mãe, confiamos e consagramos solenemente ao vosso Imaculado Coração a nossa pessoa, a Igreja e toda a humanidade, especialmente a Rússia e a Ucrânia", disse o Papa à Mãe de Deus. E continuou: "O 'sim' que fluiu do teu Coração abriu as portas da história ao Príncipe da paz; confiamos que, através do teu Coração, a paz virá. A vós, pois, consagramos o futuro de toda a família humana, as necessidades e aspirações dos povos, as ansiedades e esperanças do mundo".
O Papa referiu-se às tragédias do século passado e aos milhões de mortos: "Perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de caídos nas guerras mundiais. Descurámos os compromissos assumidos como Comunidade de Nações e estamos a trair os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens".
Desencontro de nós e emaranhados
E voltou-se para a nossa Mãe, a Mãe de Deus, olhando para o milagre da festa de casamento em Caná e para o "não têm vinho" de Maria: "Voltamo-nos para ti, batemos à porta do teu Coração, nós, os teus amados filhos a quem não te cansas de visitar e convidas à conversão. Nesta hora escura, venha em nosso auxílio e conforte-nos. Repita para cada um de nós: 'Não estou aqui, quem sou a vossa Mãe? Sabe como desatar os emaranhados dos nossos corações e os nós do nosso tempo. Depositamos a nossa confiança em si. Estamos certos de que vós, especialmente nestes momentos de julgamento, não desprezeis as nossas súplicas e vinde em nosso auxílio".
"Assim o fez em Caná da Galileia, quando apressou a hora da intervenção de Jesus e trouxe o seu primeiro sinal ao mundo. Quando a festa se transformou em tristeza, disse-lhe: "Não têm vinho" (Jo 2,3). Dizei-o novamente a Deus, ó Mãe, porque hoje ficámos sem o vinho da esperança, a alegria desapareceu, a fraternidade foi diluída. Perdemos a humanidade, estragámos a paz. Tornámo-nos capazes de todos os tipos de violência e destruição. Precisamos urgentemente da vossa ajuda maternal", defendeu Francis.
Finalmente, o Papa invocou a Virgem Maria como "Rainha do Rosário", "Rainha da família humana", "Rainha da Paz", e "Mulher do Sim", para lhe pedir: "obtenha a paz para o mundo", "guie-nos pelos caminhos da paz".
Ao mesmo tempo, em Fátima
Como relatado por OmnesO mesmo acto, no mesmo dia, será realizado em Fátima pelo Cardeal Konrad Krajewski, almoneiro papal, como enviado do Santo Padre", disse o director do Gabinete de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
Esta consagração decorre do pedido de Nossa Senhora durante a sua aparição de 13 de Julho de 1917 em Fátima, no qual pediu a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração, afirmando que, se este pedido não fosse atendido, a Rússia espalharia "os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja".
Depois das aparições de Fátima houve vários actos de consagração ao Imaculado Coração de Maria, por Pio XII, São Paulo VI e São João Paulo II, estes dois últimos de uma forma particularmente solene.
Os bispos promovem o direito à objecção de consciência às leis sobre o aborto e a eutanásia
A Conferência Episcopal Espanhola publicou um nota doutrinal sobre a objecção de consciência em que visam oferecer critérios e princípios face aos problemas que as leis como a eutanásia ou a nova lei sobre o aborto colocam aos católicos.
Esta nota responde, como os próprios bispos explicam "ao processo de aprovação de leis em que a vida humana está seriamente desprotegida", juntamente com a dificuldade crescente para o exercício da "objecção de consciência por aqueles que se opõem à colaboração nestas práticas".
A própria Conferência salienta que é uma nota doutrinal "porque se baseia em princípios de moral fundamental, tais como a dignidade da consciência, e da Doutrina Social da Igreja, tais como a liberdade de religião e consciência, a missão do Estado, a natureza dos direitos humanos, etc. O texto oferece aos católicos o direito e o dever de se oporem activamente a acções que vão contra as exigências da fé cristã ou contra os seus valores fundamentais".
"Quando as autoridades públicas se estabelecem como disseminadores de uma ideologia, vão além dos limites da sua missão".
Os bispos salientam também que "quando as autoridades públicas se estabelecem como divulgadores de uma certa ideologia ou promotores de certos valores morais abertos à opinião, estão a ultrapassar os limites da sua missão". O prelúdio da nota lembra-nos também que a obrigação do Estado é "reconhecer este direito e não discriminar aqueles que o exercem em paralelo com o
obrigação dos cristãos de evitar qualquer material directo ou cooperação formal de qualquer tipo
com aqueles actos que violam o direito à vida, e qualquer acção que possa ser
interpretados como cooperação, mesmo que indirecta, ou aprovação destes actos". De facto, salientam que a objecção de consciência se destina a leis que "atacam elementos essenciais da própria religião ou aqueles que minam os fundamentos da dignidade humana e da coexistência baseada na justiça".
Esta nota foi aprovada pelos bispos membros da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé na sua reunião CCLVI a 1 de Fevereiro de 2022 e a Comissão Permanente da CEE autorizou a sua publicação na sua reunião CCLVIII a 8-9 de Março de 2022.
Nota doutrinal sobre a objecção de consciência "Porque Cristo nos libertou" (Gal 5, 1).
I. JUSTIFICAÇÃO PARA ESTA NOTA
Os seres humanos caracterizam-se por uma consciência da sua própria dignidade e do facto de a salvaguarda desta dignidade estar ligada ao respeito pela sua liberdade. A convicção de que os dois são inseparáveis e que todos os seres humanos, independentemente da sua situação económica ou social, têm a mesma dignidade e, por conseguinte, o direito de viver em liberdade é um dos avanços mais importantes da história da humanidade: "Nunca antes os homens tiveram um sentido de liberdade tão apurado como têm hoje". A aspiração de viver em liberdade está inscrita no coração do homem.
A liberdade não pode ser separada de outros direitos humanos, que são universais e invioláveis. Devem, portanto, ser protegidos como um todo, na medida em que "uma protecção parcial dos mesmos equivaleria ao seu não reconhecimento". A sua raiz "deve ser procurada na dignidade que pertence a todo o ser humano", e a sua fonte última "não se encontra na mera vontade do ser humano, na realidade do Estado ou das autoridades públicas, mas no próprio homem e em Deus seu criador". Nos documentos do Magistério da Igreja encontramos enumerações destes direitos. O primeiro de tudo é o direito à vida desde a concepção até à sua conclusão natural, que "condiciona o exercício de todos os outros direitos e implica, em particular, a ilegalidade de todas as formas de aborto induzido e de eutanásia". O direito à liberdade religiosa é também fundamental, pois é "um sinal emblemático do autêntico progresso do homem em qualquer regime, em qualquer sociedade, sistema ou ambiente".
No processo que conduziu à formulação e proclamação dos direitos humanos, estes foram concebidos como a expressão de limites éticos que o Estado não podia ultrapassar nas suas relações com os indivíduos. Eram uma defesa contra as tentações totalitárias e a tendência das autoridades públicas para invadir a vida das pessoas em todas as áreas, ou para se desfazerem delas de acordo com os seus próprios interesses. Por esta razão, a Igreja vê-os como "uma extraordinária oportunidade que os nossos tempos oferecem para que, através da sua consolidação, a dignidade humana possa ser mais eficazmente reconhecida e universalmente promovida". Na doutrina católica, além disso, são vistos como uma expressão das normas morais básicas que devem ser respeitadas em todas as ocasiões e circunstâncias, e do caminho para uma vida mais digna e uma sociedade mais justa.
Nas últimas décadas, uma nova visão dos direitos humanos está a tomar forma. Vivemos num ambiente cultural caracterizado por um individualismo que não quer aceitar quaisquer limites éticos. Isto levou ao reconhecimento por parte das autoridades públicas de novos "direitos" que, na realidade, são a manifestação de desejos subjectivos. Desta forma, estes desejos tornam-se uma fonte de direito, mesmo que a sua realização implique a negação de direitos básicos genuínos de outros seres humanos. Isto teve consequências na lei: os comportamentos que eram tolerados através da "descriminalização" são agora considerados como "direitos" a serem protegidos e promovidos.
Testemunhámos recentemente no nosso país a aprovação da lei que permite a prática do eutanásia e considera-o como um direito humano. É mais um passo de uma série de leis que levam a que a vida humana fique seriamente desprotegida. Foram também aprovadas leis inspiradas por princípios antropológicos que absolutem a vontade humana, ou por ideologias que não reconhecem a natureza do ser humano que lhe foi dada na criação, que deveria ser a fonte de toda a moralidade. Estas leis também promovem a imposição destes princípios nos currículos educacionais, e restringem o direito à objecção de consciência tanto dos indivíduos como das instituições educacionais, de saúde ou de assistência social, limitando assim o exercício da liberdade.
Isto leva-nos a pensar que, embora seja verdade que os seres humanos nunca tiveram um sentido tão forte da sua própria liberdade, esta liberdade será sempre ameaçada por Estados e grupos de poder que não hesitam em usar quaisquer meios para influenciar a consciência das pessoas, para difundir certas ideologias ou para defender os seus próprios interesses. Hoje, temos a sensação de que certos direitos humanos estão a ser "tolerados" como se fossem uma concessão "graciosa", que estão a ser progressivamente reduzidos, e que valores contrários às convicções religiosas de grandes grupos da sociedade estão a ser promovidos. O uso do poder para moldar a consciência moral das pessoas é uma ameaça à liberdade.
Em continuidade com os ensinamentos deste CEE expressos na instrução pastoral "A verdade libertar-vos-á" (Jo 8,32); e em conformidade com a carta do Congregação para a Doutrina da Fé Samaritanus bónusO Parlamento Europeu apelou a "uma posição clara e unida por parte das Conferências Episcopais, igrejas locais e instituições católicas para proteger o direito à objecção de consciência em contextos legislativos que prevêem o direito à objecção de consciência no contexto do direito à objecção de consciência". eutanásia e suicídio"; nesta nota gostaríamos de recordar os princípios morais que os católicos devem ter em mente ao decidir como agir face a estas e outras leis semelhantes, e que qualquer Estado ou pessoa empenhada na defesa dos direitos humanos deve respeitar.
II. LIBERDADE DE RELIGIÃO E CONSCIÊNCIA
A liberdade, que consiste no "poder, enraizado na razão e na vontade, de agir ou não, de fazer isto ou aquilo, de realizar acções deliberadas por vontade própria", é uma característica essencial do ser humano, dada por Deus no momento da sua criação. É o "sinal eminente da sua imagem divina" e portanto a expressão última da dignidade que lhe é própria. Ao criar o ser humano dotado de liberdade, Deus quer que o ser humano o procure e o adira sem coacção para que, desta forma, "possa alcançar a perfeição plena e feliz". Estamos, portanto, perante algo de que nenhum poder humano nos pode privar licitamente: "Toda a pessoa humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser reconhecida como livre e responsável".
Esta característica essencial do ser humano não deve ser entendida como uma ausência de qualquer lei moral que indique limites à sua acção, ou como "uma licença para fazer o que lhe apetecer, mesmo que seja mau". Os seres humanos não se dão a si próprios, pelo que exercem correctamente a sua liberdade quando reconhecem a sua dependência radical de Deus, vivem em permanente abertura a Ele e procuram fazer a Sua vontade. Além disso, foi criado como membro da grande família humana, de modo que o exercício da sua liberdade é condicionado pelas relações que moldam a sua existência: com outros seres humanos, com a natureza e consigo próprio. A liberdade não pode ser entendida como um direito de agir independentemente de qualquer exigência moral.
O respeito pela liberdade de todas as pessoas, que constitui uma obrigação dos poderes públicos, manifesta-se sobretudo na defesa da liberdade religiosa e da liberdade de consciência: "O direito de exercer a liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, especialmente em matéria moral e religiosa". Vivemos numa cultura que não valoriza a religião como um factor positivo para o desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades. O princípio subjacente a muitas leis que são aprovadas é que todos nós devemos viver como se Deus não existisse. Há uma tendência para subestimar a religião, para a reduzir a algo meramente privado e para negar a relevância pública da fé. Isto leva a que a liberdade religiosa seja vista como um direito secundário.
No entanto, este é um direito fundamental porque o homem é um ser aberto à transcendência e porque afecta a parte mais íntima e profunda do seu ser, que é a sua consciência. Portanto, quando não é respeitada, a parte mais sagrada do ser humano é violada, e quando é respeitada, a dignidade da pessoa humana na sua raiz está a ser protegida. É um direito que tem um estatuto especial e deve ser reconhecido e protegido dentro dos limites do bem comum e da ordem pública. Podemos portanto afirmar que a salvaguarda do direito à liberdade de religião e consciência é um indicador para verificar o respeito por outros direitos humanos. Se não for efectivamente garantido, não se acredita verdadeiramente neles.
Sob o direito à liberdade religiosa, "ninguém será obrigado a agir contra a sua consciência, nem impedido de agir de acordo com a sua consciência, quer publicamente ou em privado, sozinho ou em associação com outros, dentro dos devidos limites". Este direito não deve ser entendido num sentido minimalista, reduzindo-o à tolerância ou à liberdade de culto. Para além da liberdade de culto, exige o reconhecimento positivo do direito de cada pessoa a ordenar as suas acções e decisões morais de acordo com a verdade; do direito dos pais a educar os seus filhos de acordo com as suas convicções religiosas e tudo o que se relaciona com a sua vida, especialmente na vida social e no comportamento moral; das comunidades religiosas a organizarem-se para viver a sua própria religião em todas as áreas; de todos a professarem publicamente a sua fé e a anunciarem a sua mensagem religiosa aos outros.
A obrigação por parte das autoridades públicas de proteger a liberdade religiosa de todos os cidadãos não exclui que esta liberdade deva ser regulamentada no sistema jurídico. Este regulamento deve ser inspirado por uma avaliação positiva do contributo das religiões para a sociedade, a salvaguarda da ordem pública e a procura do bem comum, que consiste na "soma daquelas condições de vida social através das quais os homens podem alcançar a sua perfeição mais plena e rapidamente" e, sobretudo, "o respeito pelos direitos da pessoa humana". Uma legislação adequada sobre liberdade religiosa deve partir do princípio fundamental de que a liberdade religiosa "não deve ser restringida a menos que e na medida em que seja necessária".
Ao regulamentar este direito, o Estado deve observar certos princípios: 1. assegurar a igualdade jurídica dos cidadãos e evitar a discriminação com base na religião. 2. reconhecer os direitos das instituições e grupos formados por membros de uma determinada religião a praticarem essa religião. 3. proibir tudo o que, embora directamente ordenado por preceitos ou inspirado por princípios religiosos, constitua um ataque aos direitos e dignidade das pessoas ou ponha em perigo a sua vida. Com base nestes princípios, as leis devem garantir o direito de cada pessoa "a agir em consciência e liberdade para tomar decisões morais pessoais".
III. A DIGNIDADE DA CONSCIÊNCIA
No exercício da sua liberdade, cada pessoa deve tomar as decisões que conduzem à realização do bem comum da sociedade e do seu próprio bem pessoal. Por esta razão, o ser humano que, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, é uma criatura livre, tem a obrigação moral de procurar a verdade, pois só a verdade é o caminho que conduz à justiça e ao bem. Esta obrigação decorre do facto de que o homem, não tendo-se criado a si próprio, também não é o criador de valores, para que o bem e o mal não dependam da sua vontade. A sua tarefa é discernir como deve agir nas muitas situações em que se pode encontrar e que o levam a tomar decisões concretas.
A fim de poder saber o que é bom e o que é mau em qualquer momento, Deus dotou o homem de uma consciência, que é "o núcleo mais secreto e o tabernáculo do homem, no qual ele está sozinho com Deus, cuja voz ressoa no seu ser mais íntimo". Decidir e agir de acordo com a própria consciência é a maior prova de liberdade madura e é uma condição para a moralidade das próprias acções. Este é o elemento mais pessoal de cada ser humano, o que o torna uma criatura única e responsável perante Deus pelas suas acções. A consciência, mesmo que não seja infalível e possa cometer erros, é o "próximo padrão de moralidade pessoal", razão pela qual todos devemos agir de acordo com a nossa consciência. e, por conseguinte, todos devemos agir em conformidade com os juízos que dela emanam.
O homem na sua consciência descobre uma lei fundamental "que não se dá a si próprio, mas que deve obedecer e cuja voz ressoa nos ouvidos do seu coração, chamando-o a amar e a fazer o bem e a evitar o mal". Esta lei é a fonte de todas as normas morais, para que em obediência a ela encontremos o princípio da moralidade. O ser humano "é obrigado a seguir fielmente o que sabe ser justo e correcto" . Se agir desta forma, está a agir de acordo com a sua dignidade. Por outro lado, quando as suas acções não são inspiradas pela procura da verdade e pelo desejo de se conformar com padrões morais objectivos, é facilmente conduzido pelos seus próprios desejos e interesses egoístas, e "pouco a pouco, através do hábito do pecado, a sua consciência torna-se quase cega".
Agir de acordo com a própria consciência nem sempre é fácil: requer a percepção dos princípios fundamentais da moralidade, a sua aplicação a circunstâncias concretas através do discernimento, e a formação de um juízo sobre os actos a serem realizados. Muitas vezes surgem situações que tornam o juízo moral menos certo; as pessoas estão frequentemente sujeitas às influências do ambiente cultural em que vivem, às pressões do exterior, e aos seus próprios desejos. Tudo isto pode obscurecer os seus juízos morais e levar ao erro por ignorância. Contudo, quando a ignorância não é culpada, "a consciência não perde a sua dignidade", pois procura formas de se formar a si própria. Pois procurar formas de formar um juízo moral e de agir de acordo com os seus ditames é mais digno dos seres humanos do que dispensar a questão da moralidade das suas acções.
IV. O PAPEL DO ESTADO
Os seres humanos são, por natureza, seres sociais. Por conseguinte, nas suas decisões morais não deve procurar apenas o seu próprio bem, mas o de todos. Nas suas acções deve ter em conta alguns princípios básicos de moralidade: fazer aos outros o que ele gostaria que lhe fizessem; não fazer mal para obter o bem; agir com caridade, respeitando o seu próximo e a sua consciência, etc. As estruturas políticas são necessárias para regular as relações entre os membros da sociedade. A comunidade política "deriva da natureza das pessoas" e é, portanto, "uma realidade conatural aos homens". O seu objectivo é fomentar o crescimento mais pleno de todos os membros da sociedade e assim promover o bem comum, que é inalcançável para cada indivíduo sem uma organização de coexistência.
No seu serviço ao bem comum, as autoridades públicas devem respeitar a autonomia do indivíduo, para que em nenhum momento possam proibir que todos formem a sua própria opinião sobre assuntos que afectam a vida da sociedade. Nem podem ser evitadas as iniciativas que têm origem na sociedade e procuram o bem comum de todos. Quando os direitos humanos são defendidos na comunidade política e é criado um ambiente favorável ao seu exercício pelos cidadãos, isto já é uma contribuição para o bem comum.
A autoridade é um instrumento de coordenação ao serviço da sociedade. O seu exercício não pode ser absoluto e deve ser realizado dentro dos limites do respeito pelo indivíduo e pelos seus direitos. Nem pode tornar-se um organismo que procura invadir ou regular todos os aspectos da vida dos indivíduos e das famílias. As autoridades públicas, cuja tarefa é promover uma vida ordenada na sociedade, não podem sobrepor-se ou suplantar as iniciativas privadas, mas devem regulamentá-las de modo a servirem o bem comum. Tanto na vida económica como social "a acção do Estado e das outras autoridades públicas deve estar em conformidade com o princípio da subsidiariedade".
Estes princípios devem ser tidos em conta nas questões que afectam a liberdade religiosa e a liberdade de consciência dos indivíduos. O Estado pode regular o exercício da liberdade religiosa, para que esta possa ser exercida com respeito por outras liberdades e favorecer a coexistência social. Este regulamento pode justificar a proibição de certas práticas religiosas, não porque sejam religiosas, mas porque são contrárias ao respeito, dignidade ou integridade das pessoas, ou porque põem em perigo um dos direitos fundamentais. Da mesma forma que o Estado não pode ser parcial em matéria religiosa, nem pode tornar-se promotor de valores ou ideologias contrárias às crenças de uma parte da sociedade. A neutralidade exigida em matéria religiosa estende-se às escolhas morais debatidas na sociedade. Quando as autoridades utilizam os meios à sua disposição para divulgar uma determinada concepção do ser humano ou da vida, estão a exagerar as suas funções.
V. OBJECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
"O cidadão tem a obrigação consciente de não seguir as prescrições das autoridades civis quando estes preceitos são contrários às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho". A objecção consciente implica que uma pessoa coloca os ditames da sua própria consciência perante o que é ordenado ou permitido por lei. Isto não justifica qualquer desobediência às regras promulgadas pelas autoridades legítimas. Deve ser exercida em relação àqueles que atacam directamente elementos essenciais da própria religião ou que são "contrários à lei natural na medida em que minam os próprios fundamentos da dignidade humana e de uma coexistência baseada na justiça".
Além de ser um dever moral, é também um "direito fundamental e inviolável de toda a pessoa, essencial para o bem comum da sociedade como um todo", que o Estado é obrigado a reconhecer, respeitar e valorizar positivamente na legislação. que o Estado é obrigado a reconhecer, respeitar e valorizar positivamente na legislação. Não é uma concessão de poder, mas um direito pré-político, uma consequência directa do reconhecimento da liberdade de religião, pensamento e consciência. Por conseguinte, o Estado não deve restringi-lo ou minimizá-lo sob o pretexto de garantir o acesso das pessoas a certas práticas legalmente reconhecidas, e apresentá-lo como um ataque aos "direitos" de outros. Uma regulamentação justa da objecção de consciência exige uma garantia de que aqueles que recorrem à objecção de consciência não serão sujeitos a discriminação social ou laboral. A criação de um registo de objectores a determinados actos permitidos por lei viola o direito de cada cidadão a não ser obrigado a declarar as suas próprias convicções religiosas ou ideológicas. Em qualquer caso, sempre que tal exigência seja legalmente exigida, "os trabalhadores da saúde não devem hesitar em solicitá-la (objecção de consciência) como um direito próprio e como uma contribuição específica para o bem comum".
No cumprimento deste dever moral, o cristão "não deve colaborar, mesmo formalmente, naquelas práticas que, embora permitidas pelo direito civil, contrastam com a lei de Deus". Uma vez que o direito à vida tem um carácter absoluto e ninguém pode decidir por si próprio sobre a vida de outro ser humano ou sobre a sua própria vida, "face às leis que legitimam o eutanásia ou suicídio assistido, qualquer cooperação imediata formal ou material deve ser sempre negada" . Isto "ocorre quando a acção realizada, pela sua própria natureza ou pela configuração que assume num contexto específico, é qualificada como colaboração directa num acto contra a vida humana inocente ou como participação na intenção imoral do agente principal". Esta cooperação torna a pessoa que a realiza co-responsável e não pode ser justificada invocando o respeito pela liberdade e "direitos" dos outros, nem com base no facto de estarem previstos e autorizados pelo direito civil.
Por conseguinte, os católicos são absolutamente obrigados a opor-se às acções que, sendo aprovadas por lei, têm como consequência a eliminação de uma vida humana no seu início ou no seu fim: "O aborto e o aborto são as únicas formas de evitar a morte de um ser humano". eutanásia são crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. Tais leis não só não criam qualquer obrigação de consciência, como, pelo contrário, estabelecem uma obrigação grave e precisa de se lhes opor através de uma objecção de consciência" . Embora nem todas as formas de colaboração contribuam da mesma forma para a realização destes actos moralmente errados, as acções que possam levar a pensar que estão a ser toleradas devem ser evitadas na medida do possível.
Hoje em dia, os católicos que têm responsabilidades nas instituições estatais são frequentemente confrontados com conflitos de consciência quando confrontados com iniciativas legislativas que contradizem princípios morais básicos. Uma vez que o dever mais importante de uma sociedade é cuidar da pessoa humana, não podem promover positivamente leis que questionem o valor da vida humana, nem apoiar com o seu voto propostas que tenham sido apresentadas por outros. O seu dever como cristãos é "proteger o direito primário à vida desde a concepção até à terminação natural", e por isso têm o "dever preciso de proteger o direito primário à vida desde a concepção até à terminação natural". Têm, portanto, uma "obrigação precisa de se oporem a estas leis". Isto não os impede, quando não é possível revogar os que estão em vigor ou evitar a aprovação de outros, e quando a sua oposição pessoal absoluta é clara, de "oferecer licitamente o seu apoio a propostas destinadas a limitar os danos destas leis e assim diminuir os efeitos negativos no campo da cultura e da moralidade pública".
Embora as decisões morais pertençam a cada indivíduo, o direito à liberdade de consciência, por analogia, também pode ser atribuído às comunidades ou instituições criadas por membros da mesma religião para melhor viver a sua fé, proclamá-la ou servir a sociedade de acordo com as suas convicções. Têm um conjunto de valores e princípios que lhes conferem a sua própria identidade e inspiram as suas acções. Isto não significa que deixem de prestar um serviço à sociedade. A objecção de consciência institucional a leis que contradizem a sua ideologia é, portanto, legítima. O Estado tem o dever de reconhecer este direito. Se não o fizer, põe em risco a liberdade de religião e de consciência. É com prazer que constatamos que algumas instituições da sociedade civil que abordaram esta questão de outras perspectivas e se pronunciaram sobre ela, concordam connosco neste ponto.
As instituições católicas de saúde, que "constituem um sinal concreto da forma como a comunidade eclesial, seguindo o exemplo do Bom Samaritano, cuida dos doentes", são chamadas a exercer a sua missão "com respeito pelos valores fundamentais e pelos valores cristãos que constituem a sua identidade, abstendo-se de comportamentos que sejam claramente ilegais do ponto de vista moral". são chamados a exercer a sua missão "com respeito pelos valores fundamentais e pelos valores cristãos que constituem a sua identidade, abstendo-se de comportamentos que sejam claramente ilegais do ponto de vista moral". Por esta razão, não devem curvar-se perante as fortes pressões políticas e económicas que os levam a aceitar a prática do aborto ou da eutanásia. Também não é eticamente aceitável "colaborar com outras estruturas hospitalares a fim de orientar e dirigir pessoas que solicitem eutanásia". Tais escolhas não podem ser moralmente aceites ou apoiadas na sua realização concreta, mesmo que sejam legalmente possíveis". Isto equivaleria a uma colaboração com o mal.
Estamos actualmente a assistir à propagação de antropologias contrárias à visão cristã do homem, da sexualidade, do casamento e da família, o que resulta na normalização de certos comportamentos morais contrários às exigências da lei de Deus. Estas ideologias são frequentemente promovidas pelas autoridades públicas e a sua disseminação é imposta nos estabelecimentos de ensino por meio de leis de natureza coerciva. A sua imposição é considerada como um meio de prevenir crimes de ódio contra certos grupos ou indivíduos devido às suas características. O dever dos cristãos de respeitar a dignidade de cada ser humano, de o amar como um irmão e de o apoiar em todas as circunstâncias da sua vida, não implica a assunção de princípios antropológicos contrários à visão cristã do homem. Uma vez que a liberdade religiosa e de consciência é um direito fundamental, os católicos têm o dever de se oporem à imposição destas ideologias. Este dever deve ser exercido, em primeiro lugar, pelos pais que, como educadores primários dos seus filhos, têm o direito de os formar de acordo com as suas convicções religiosas e morais, e de escolher as instituições educativas que estejam de acordo com eles, cuja identidade deve ser garantida.
VI. A LIBERDADE CRISTÃ
A liberdade humana não é apenas uma "liberdade ameaçada", é também uma "liberdade ferida" por causa do pecado. Se o homem foi criado livre para poder procurar Deus e aderir a ele sem constrangimentos, o pecado levou-o à desobediência a Deus e provocou nele uma divisão interior. O ser humano experimenta constantemente que não faz o bem que quer, mas o mal que odeia (cf. Rm 7,15), e que vive sujeito às suas paixões e desejos. O pecado é para ele uma fonte de escravidão interior, porque o arrasta a fazer tudo o que leva à morte. A ideia de uma liberdade auto-suficiente ou de um homem que pela sua própria força é sempre capaz de fazer o bem e procurar a justiça não corresponde nem à sua própria experiência nem à história da humanidade. Para além desta impotência, os seres humanos também experimentam o que significa viver sem esperança porque o medo da morte, que é o horizonte último da sua existência, domina-os e também os impede de exercer a sua liberdade com todas as suas consequências. O pecado, que conduz à morte e nos impede de amar a Deus de todo o coração e de obedecer à sua vontade, feriu a liberdade humana.
"Se o Filho de Deus vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8,36). O conhecimento de Cristo abre-nos à plena e verdadeira liberdade: "Se permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres" (Jo 8,32). O encontro com o Senhor é um acontecimento de graça que nos permite participar na gloriosa liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8,21) e viver uma nova vida caracterizada pela fé, esperança e caridade.
O pecado é a recusa do homem em reconhecer Deus como Senhor, em glorificar e agradecer-Lhe. A fé, por outro lado, é a obediência a Deus. Se através do pecado o homem o rejeitou, através da fé ele vem a reconhecê-lo como seu Senhor. E é obedecendo-lhe que o homem se liberta da escravidão dos desejos que o pecado desperta nele. A fé dá frutos na esperança. A morte é o horizonte ameaçador da vida do homem. O medo da morte domina-o, ao ponto de tudo o que ele faz ser para se libertar dela. O drama do homem consiste no facto de que, apesar dos seus esforços, nunca será capaz de o conseguir sozinho. Na sua ressurreição, Cristo abriu um horizonte de vida para nós. Graças ao Mistério Pascal, o medo da morte que nos escraviza, desapareceu. Esta esperança dá ao crente a força para enfrentar as provações e os sofrimentos do tempo presente, sem perder a confiança em Deus e a alegria daqueles que se sentem unidos a Cristo. O amor é a expressão mais óbvia da liberdade cristã. O crente, que sabe que é amado e salvo por Deus, por amor a ele e com sentido de gratidão, faz a sua vontade, não por medo de castigo, mas impelido pela caridade que o Espírito Santo derramou no seu coração (cf. Rm 5,5).
Esta liberdade, que tem a sua origem em Cristo, dá força para superar as dificuldades que os crentes podem encontrar em agir em coerência com a sua fé. Os valores que estão a generalizar-se na nossa cultura e as leis que estão a ser aprovadas nas nossas sociedades ocidentais colocam os crentes perante difíceis problemas de consciência. Somos frequentemente confrontados com escolhas dolorosas, que exigem sacrifícios na vida profissional e mesmo na vida familiar. "É precisamente na obediência a Deus - a quem apenas se deve aquele medo que é o reconhecimento da Sua soberania absoluta - que nascem a força e a coragem para resistir às leis injustas dos homens". Quem não se deixa vencer pelo medo está a trilhar o caminho que conduz à verdadeira liberdade que só pode ser encontrada em Cristo.
Madrid, 25 de Março de 2022, Solenidade da Anunciação do Senhor
1. SEGUNDO CONSELHO VATICANO, Gaudium et spes, n. 4.
2. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 154: "Universalidade e indivisibilidade são os traços distintivos dos direitos humanos".
3. Ibid., n. 153.
4. Ibid.
5. Cf. também Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 155.
6. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 155.
7. Ibid.
8. Ibid.
9. Cf. SEGUNDO CONSELHO VATICANO, Gaudium et spes, n. 27: "Tudo o que se opõe à vida, como o assassinato de qualquer tipo, o genocídio, o aborto, a eutanásia e até o suicídio voluntário... são reprovações que, ao corromperem a civilização humana, desonram mais aqueles que as praticam do que aqueles que sofrem injustiça e são totalmente contrários à honra devida ao Criador".
10. Cf. ibid., n. 26: "Tudo o que é necessário para uma vida verdadeiramente humana, como a alimentação, o vestuário, a habitação, o direito de escolher livremente um estado de vida... para agir de acordo com a regra de consciência correcta... e para a liberdade justa também em matéria religiosa, deve portanto ser tornado acessível ao homem".
11. Cf. FRANCISCO, Discurso à Federação Nacional de Colégios de Médicos e Cirurgiões Dentistas (20.IX.2019): L'Osservatore Romano (21.IX.2019), 8: "Pode-se e deve-se rejeitar a tentação - induzida também por alterações legislativas - de usar a medicina para apoiar a possível vontade de morte de um paciente, fornecendo ajuda ao suicídio ou causando directamente a sua morte por eutanásia. Estas são formas precipitadas de lidar com opções que não são, como poderia parecer, uma expressão da liberdade da pessoa, quando incluem o despedimento da pessoa doente como uma possibilidade, ou falsa compaixão face a um pedido para ser ajudado a antecipar a morte".
12. CONFERÊNCIA ESPANHOL EPISCOPAL, "A verdade libertar-vos-á" (Jo 8, 32), (20.II.1990).
13. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Bónus Samaritano, n. 9.
14. Catecismo da Igreja Católica, n. 1731.
15. SAINT IRENEUS OF LYON, Adversus haereses, 4, 4, 3: PG 7, 983: "O homem foi criado livre e mestre das suas acções".
16. CONSELHO VATICANO II, Gaudium et spes, n. 17.
17. Ibid.
18. Catecismo da Igreja Católica, n. 1738.
19. CONSELHO VATICANO II, Gaudium et spes, n. 17.
20. Catecismo da Igreja Católica, n. 1738; cf. VATICAN COUNCIL II, Dignitatis humanae, n. 2.
21. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1738.
22. VATICAN COUNCIL II, Dignitatis humanae, nn. 2-3.
23. Cf. FRANCISCO, Discurso no encontro com o povo marroquino, as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático (30.III.2019): "A liberdade de consciência e a liberdade religiosa - que não se limita apenas à liberdade de culto, mas a permitir que todos vivam de acordo com as suas próprias convicções religiosas - estão inseparavelmente ligadas à dignidade humana".
Cf. BENEDICT XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Liberdade Religiosa, o Caminho da Paz (1.I.2011), n. 3.
Cf. SEGUNDO CONSELHO VATICANO, Dignitatis humanae, n. 7.
26. VATICAN COUNCIL II, Dignitatis humanae, n. 6.
Ibid., n. 7.
28. Catecismo da Igreja Católica, n. 1782.
29. Cf. ST JOHN PAULO II, Veritatis splendor, nn. 57-61.
30. CONSELHO VATICANO II, Gaudium et Spes, n. 16; cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1776.
31. ST JOÃO PAULO II, Veritatis splendor, n. 60.
32. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1790: "A pessoa humana deve obedecer sempre ao juízo certo da sua consciência. Se agisse deliberadamente contra este último, condenar-se-ia a si próprio". Cf. também ST JOÃO PAULO II, Veritatis splendor, n. 60: "O juízo de consciência tem um carácter imperativo: o homem deve agir em conformidade com este juízo".
33. CONSELHO VATICANO II, Gaudium et spes, n. 16; cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1776.
34. Catecismo da Igreja Católica, n. 1778.
35. Ibid., n. 1780: "A dignidade da pessoa humana implica e exige a rectidão da consciência moral".
36. CONSELHO VATICANO II, Gaudium et spes, n. 16.
37. Cf. ST JOHN PAULO II, Veritatis splendor, n. 62.
38. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 384.
39. Cf. FRANCISCO, Mensagem aos participantes na conferência internacional "Direitos Humanos no mundo contemporâneo: conquistas, omissões, negações" (10.XII.2018).
40. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 351.
41. Cf. CONFERÊNCIA ESPANHOL EPISCOPAL, Orientaciones morales ante la situación actual de España (23.XI.2006), n. 62: "A vida religiosa dos cidadãos não é da competência dos governos. As autoridades civis não podem ser intervencionistas ou beligerantes em matéria religiosa (...) A sua tarefa é favorecer o exercício da liberdade religiosa".
42. Catecismo da Igreja Católica, n. 2242.
43. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Bónus Samaritano, n. 9.
44. Ibid.
45. Cf. entrevista com o Papa Francisco em La Croix (30.VI.2016): "O Estado deve respeitar as consciências. Em qualquer estrutura jurídica, a objecção de consciência deve estar presente, porque é um direito humano".
46. Cf. ST JOÃO PAULO II, Evangelium vitae, n. 74: "Aqueles que recorrem à objecção de consciência devem estar a salvo não só das sanções penais, mas também de qualquer dano legal, disciplinar, económico e profissional".
47. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Bónus Samaritano, n. 9. Cf. FRANCISCO, Discurso aos participantes num congresso organizado pela Sociedade Italiana de Farmácia Hospitalar (14.X.2021): L'Osservatore Romano 2739 (22.X.2021), 7: "Estás sempre ao serviço da vida humana. E isto pode implicar, em alguns casos, objecção de consciência, o que não é deslealdade, mas, pelo contrário, fidelidade à sua profissão, se esta for validamente motivada".
48. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 399.
49. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Bónus Samaritano, n. 9.
50. ST JOÃO PAULO II, Evangelium vitae, n. 74.
51. O pecado é um acto pessoal pelo qual cada um é responsável, mas podemos ter uma responsabilidade pelos pecados cometidos por outros quando cooperamos com eles "participando directa e voluntariamente, ordenando, aconselhando, aconselhando, louvando, ou aprovando-os, não os revelando ou não os impedindo quando somos obrigados a fazê-lo". Catecismo da Igreja Católica, n. 1868.
52. Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Bónus Samaritano, n. 9: "Não há direito ao suicídio ou à eutanásia: a lei existe para proteger a vida e a coexistência humana, não para causar a morte".
53. Papa João Paulo II, Evangelium vitae, n. 73. Cf. FRANCIS, Discurso aos participantes no congresso comemorativo da Associação dos Médicos Católicos Italianos por ocasião do 70º aniversário da sua fundação (15.XI.2014): "A fidelidade ao Evangelho da vida e ao respeito pela vida como dom de Deus requer, por vezes, escolhas corajosas e contra-correntes que, em circunstâncias especiais, podem levar à objecção de consciência".
Santos sacerdotes: Beato Otto Neururer
O Beato Otto Neururer foi o primeiro sacerdote a ser morto num campo de concentração nazi, Buchenwald. A sua reputação de santidade foi realçada pelo facto de ter partilhado as suas magras rações alimentares com os prisioneiros mais fracos, entre muitos outros feitos heróicos.
O casal austríaco Alois Neururer e Hildegar Streng, modestos agricultores que gerem um moinho na Áustria, tiveram doze filhos. O último destes foi o Beato Otto Neururer. O pai do Beato que hoje evocamos morreu quando tinha apenas oito anos de idade.
Otto preparou-se para o sacerdócio com os "vicentinos", e foi ordenado sacerdote na solenidade de S. Pedro em 1907. Queria então juntar-se aos Jesuítas para trabalhar nas suas missões longínquas em várias partes do mundo, mas a sua frágil saúde impediu-os de o aceitarem.
Durante quinze anos foi vigário paroquial de São Tiago (1917-1932), onde trabalhou como professor de religião nas escolas paroquiais.
Nomeado pároco em Goetzens (1932), para além do cuidado específico das almas na sua paróquia (Santos Pedro e Apóstolos Paulo), prestou serviços espirituais para a Movimento Social Cristão (alinhado com a recente e poderosa encíclica Rerum Novarum), o que o levou a desagradar aos superiores que não tiveram a bondade de se basear na nascente Doutrina Social da Igreja, e a um elevado risco de morte quando a anexação nazi da Áustria (1938) teve lugar, o que envolveu a prisão e assassinato de muitos padres.
Uma vez na sua paróquia, com corajoso zelo apostólico, aconselhou decisivamente uma jovem a não casar com um homem divorciado, ateu e dissoluto. A jovem mulher não só não seguiu o conselho do pároco, como o deu a conhecer ao seu amante. Este homem, um amigo pessoal de Franz Hofer, o chefe do distrito nazi, mandou prender Neururer a 15 de Dezembro de 1938 sob a acusação de "difamação do casamento germânico". Ao dar os seus conselhos, Neururer estava consciente dos riscos.
Depois, pouco depois do início da guerra, em Setembro de 1939, foi transferido para o campo de concentração de Buchenwald (praticamente um campo de extermínio, devido às crueldades e tiroteios em massa que muitos prisioneiros sofreram).
Por ser um padre (in odium fidei) era frequentemente torturado; a sua reputação de santidade era realçada pelo facto de partilhar as suas magras rações alimentares com os prisioneiros mais fracos; e sobretudo, quando um prisioneiro lhe pedia para ser baptizado, apesar de muitas indicações de que poderia ser uma armadilha (a acção era punível com a morte), devido à sua consciência da sua missão sacerdotal, ele concordou. Foi de facto uma armadilha.
O evento teve lugar no final de Abril de 1940. Como castigo, após várias torturas, foi pendurado de cabeça para baixo nú um mês depois. Aí sofreu cruelmente, sem se queixar minimamente, orando pelos seus algozes, até à sua morte após 34 horas de agonia (30 de Maio de 1940). Foi o primeiro padre a ser assassinado num campo de concentração nazi. O padre que o assistiu nos seus tormentos, Alfred Berchtold (falecido em 1985), testemunhou que, enquanto enforcado, nunca se queixou, e sempre rezou pelos seus algozes, orações murmurantes. A sua cruel sentença de morte foi directamente ordenada pelo famoso sargento sádico Major Martin Sommer, o "Executor de Buchenwald".
Ele foi beatificado como mártir in odium fideiOs seus restos mortais foram queimados num crematório civil para apagar as provas da sua tortura brutal. Os seus restos mortais foram ferozmente cremados num crematório civil para apagar as provas da tortura brutal. Os nazis afirmaram que ele morreu de um problema cardíaco. Felizmente, os seus fiéis recuperaram as suas cinzas, que hoje se encontram debaixo do altar da paróquia a que ele presidia.
Hoje a Igreja Católica propõe-no como intercessor para os pregadores, para a santidade do casamento cristão e para o espírito de serviço sacerdotal. O Beato Neurador, tal como os Santos Inocentes, pregou o Evangelho. non loquendo sed moriendo. Por outro lado, considerando que São Francisco de Assis disse "Pregar o Evangelho, se necessário com palavras", Neururer seguiu este conselho de forma exemplar, tornando-o um intercessor digno para os pregadores. Ele é também um digno defensor da santidade do casamento, e da indissolubilidade, tal como São Tomás Mais. E em relação ao espírito de serviço sacerdotal, a sua morte ao administrar um baptismo arriscado desafia todos os sacerdotes a não valorizar a vida física como o bem supremo, ou pelo menos não acima da vida espiritual dos próprios fiéis.
Notáveis foram as palavras do Santo Papa João Paulo II, na homilia da sua beatificação: "Hoje, como Romano Pontífice, tenho a honra de beatificar um dos filhos mais fiéis da Igreja; e ao fazê-lo honrarei a sua nobre decisão de preferir a morte a ajoelhar-me perante a Besta e a sua imagem (Apocalipse 13, 1). Com a sua morte, Neururer brilhou um raio soberano da realeza de Cristo sobre a história, perante a escuridão do relativismo contemporâneo que tanto afecta o casamento". Em 2019 foi promovido um filme que conta a história da vida e assassinato deste venerável sacerdote, que, se estivesse vivo hoje, preferiria certamente morrer por assassinato do que dobrar o joelho à Besta e à sua imagem contemporânea mais visível, a ideologia do género, e que também preferiria morrer por execução do que dobrar o joelho a todas as propostas para anular ou enfraquecer a indissolubilidade e a heterossexualidade do casamento cristão.
Rafaela SantosA morte é o momento em que nada acaba e tudo começa".
Na segunda-feira 28, a neuropsiquiatra Rafaela Santos intervirá numa Dia sobre "Alma, morte e mais além", na Universidade de Navarra. Nesta ocasião, numa entrevista com Omnes, ele reflecte sobre o medo da morte, a baixa tolerância da frustração nos jovens, o cérebro e o sentido da vida.
"Quando estava a pensar no título, tive uma consulta com um jovem doente diagnosticado com cancro", diz o Dr. Santos, "e ele disse: 'O meu jogo acabou... 'O jogo acabou'. A princípio atingiu-me, mas reagi imediatamente ao pensar que era um termo que Deus usa...".ludens in orbe terrarum"..., as minhas delícias são brincar com os filhos dos homens. Eu disse-lhe que Deus brinca connosco se o deixarmos. Eu disse-lhe para não ter medo porque para Deus julgar e brincar... é para tirar um Z".
Rafaela Santos é especialista em psiquiatria, presidente executiva da Humanae Foundation, e autora de livros sobre resiliência, tais como "As Minhas Raízes". Na segunda-feira, 28, ela falará na XIII Jornada Teológico-Didáctica del Instituto Superior de Ciências Religiosas (ISCR) da referida universidade, e pedimos-lhe uma prévia de algumas das suas ideias.
A sugestão foi atendida, e aqui estão algumas reflexões, que não deixam ninguém indiferente. Ele assegura-nos que "o medo da morte é algo natural porque fomos criados por e para amor e felicidade, feitos para a posse, não para renúncia e morte"; que "a morte é o momento em que nada acaba e tudo começa, é a nomeação definitiva", e no que diz respeito aos jovens, "preocupa-nos que a sua baixa tolerância à frustração signifique que só no ano passado, 300 jovens entre os 15 e os 30 anos de idade se suicidaram". Vamos continuar com isto.
Na conferência irá falar sobre "Morte: o fim do jogo? Morte, o fim do jogo, o fim do jogo? Pode avançar alguns dos seus argumentos?
- É, sinceramente, a palestra mais difícil que alguma vez me foi pedido para dar. Desde que me pediram para o dar, veio-me à mente com alguma frequência e confesso que me ajudou muito positivamente a tê-lo em mente.
Quanto ao título, fui claro desde o início que não lhe ia dar uma abordagem médica, muito menos um sentido dramático. A morte é uma realidade que enfrentamos, mais cedo ou mais tarde, e tentar escondê-la seria uma tolice.
Quando estava a pensar no título, tive uma consulta com um jovem doente diagnosticado com cancro e ele disse-me: "O meu jogo acabou... "O jogo acabou".. Atingiu-me no início, mas reagi imediatamente ao pensar que este é um termo que
Deus usa..."ludens in orbe terrarum"... as minhas delícias são brincar com os filhos dos homens. Eu disse-lhe que Deus brinca connosco se o permitirmos. Eu disse-lhe para não ter medo porque para Deus julgar e brincar... é tirar um Z.
A realidade é que nascemos para viver e vivemos para morrer, embora no caso dos jovens isto seja muito mais difícil de compreender. Poderíamos dizer que a morte é o momento em que nada acaba e tudo começa. Para mim é a data definitiva
Com pandemias, guerras como a da Ucrânia, etc., o sofrimento físico ou moral e a morte de tantas pessoas são aproximados.
- A morte é algo que acontece sempre aos outros. Não tendo experiência pessoal, podemos vê-la apenas como espectadores, e nesse sentido alguns reagem com pânico e outros com imprudência. Nenhum destes dois extremos pode ser chamado coragem. Precisamos de reflectir sobre o seu significado, a fim de nos colocarmos no nosso lugar. Há pessoas que morrem quando chega a sua hora e outras que morrem no dia anterior porque vivem sempre com medo de morrer.
Na sua medida adequada, o medo da morte é natural porque somos criados por e para amor e felicidade, feitos para a posse, não para renúncia e morte. Os nossos cérebros estão programados para a sobrevivência e felicidade, mas, embora tenhamos programas automáticos, somos livres de escolher o altruísmo em vez do egoísmo a qualquer momento. Podemos ser felizes arriscando a nossa vida para salvar outra, e por essa razão, o sofrimento tem um significado e torna-nos melhores.
Gostaria de lhe perguntar, neste sentido, como enfrentar os acontecimentos com serenidade, e também com uma força que por vezes nos falta. É um especialista em resiliência, talvez um dos maiores de Espanha. A adversidade pode, por vezes, levar a melhor sobre nós.
- A adversidade pode derrotar-nos se nos deixarmos derrotar por ela. Como comentei noutras ocasiões, moldamos o nosso cérebro com as mensagens que lhe damos: se pensamos que não seremos capazes de superar uma adversidade, certamente não o seremos, mas se percebemos esse acontecimento como um desafio, e nos convencemos de que seremos capazes, mesmo que não saibamos como fazê-lo, o nosso cérebro começa a trabalhar a nosso favor, procurando uma saída para essa situação, transformando a dificuldade numa oportunidade de melhoria.
Esta atitude para superar qualquer dificuldade chama-se resiliência e pode ser treinada e desenvolvida sabendo que o que somos hoje é uma consequência do nosso ontem e por isso as vitórias actuais têm as suas raízes no esforço anterior.
Há alguns dias atrás, a jovem escritora Ana Iris Simón referiu-se às elevadas taxas de suicídio entre os jovens. Aumentaram em nada menos que 250 % durante a pandemia (nos jovens), e os psicólogos (e psiquiatras) não conseguem fazer face a esta situação. O suicídio parece ser o principal problema de saúde pública na Europa, é este o caso, e o que pensa destes dados?
- Durante a pandemia, os problemas de ansiedade, depressão, insónias, medo de contágio, etc., dispararam. Segundo dados da OMS, a chamada "fadiga pandémica" afectou 60 % da população e o consumo de drogas psicotrópicas triplicou. Isto é alarmante para a saúde mental, pois a depressão é a principal causa de incapacidade no mundo.
Em relação ao suicídio em Espanha, 200 pessoas tentam suicídio todos os dias e 11 delas são bem sucedidas. É necessário saber lidar com este assunto com grande tacto e observar as diferenças de comportamento entre aqueles que ameaçam o suicídio e aqueles que o planeiam de forma definitiva. Eles querem "ir embora em paz" e deixar as coisas em paz. Por esta razão, muitos deles são mais afectuosos do que o habitual e despedem-se de forma desleal.
No que diz respeito aos jovens, preocupa-nos que a sua baixa tolerância à frustração esteja a causar o aumento que refere, com 300 jovens entre os 15 e 30 anos a cometerem suicídio só no último ano. A perda de motivação e significado cria um mundo plano, uniforme e não aliviado, o que causa tristeza.
Uma última pergunta. Da sua experiência profissional, o significado da vida ajuda a manter a estabilidade emocional, psicológica ou psíquica, ou o que quer que lhe prefira chamar, e, em última análise, a ser feliz? Refiro-me a convicções, solidariedade para com os outros, família, religião?
- Ter uma noção do porquê viver, descobrir o que é importante e amá-lo é o segredo para dar sentido à vida e é o melhor efeito terapêutico. Como disse Viktor Frankl, aqueles que têm uma razão para viver encontram sempre uma forma de manter a sua esperança segura, a sua força psicológica, e essa é a chave para a estabilidade e felicidade, encontrando essa razão, ter um sentido de sentido na vida é o que nos centra e nos permite avançar apesar das tristezas, é a bússola que nos ajuda nas tempestades e nos impede de perder o nosso rumo.
No ano passado, as associações de médicos e psicólogos previram que a pandemia de Covid-19 seria seguida de consequências e efeitos secundários, especialmente mentais, sob a forma de medos, traumas... Parece que as suas previsões se estão a tornar realidade. Além disso, há as consequências habituais da nossa civilização, com ou sem pandemia. Por exemplo, vícios, banalização do sexo, maus-tratos, solidão crescente, e tantos outros. Ficámos a querer mais na entrevista com a Dra. Rafaela Santos, mas a conferência de segunda-feira 28 no ISCR está mesmo ao virar da esquina.
A Via Sacra regressa ao Coliseu Romano
A Semana Santa Romana voltará aos tempos pré-pandémicos o mais próximo possível. O Papa Francisco presidirá a todas as cerimónias, incluindo a Estação da Cruz na Sexta-feira Santa às 21.15h15.
Nos últimos dois anos, a pandemia forçou uma Via Sacra quase minimalista para evitar o contágio.
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Sim à Vida" sai às ruas este domingo, apoiado por influentes
A Plataforma Sim à Vida toma as ruas de Madrid no domingo 27, após dois anos de pandemia, com uma Marcha que contará com 'influenciadores' de redes sociais, como Grace Villarreal, uma jovem mãe de três filhos e mulher de negócios, com mais de um milhão de seguidores. Os organizadores denunciam a injustiça das leis contra a vida.
Grace Villarreal, uma conhecida "influenciadora" nascida na Colômbia e baseada em Madrid desde criança; o seu marido americano, Jacob Henson, um cantor-compositor; e os seus três filhos de 9, 7 e 2 anos, de religião protestante, serão uma das milhares de famílias que participarão no domingo 27 na Marcha Sim à Vida, organizada pela Plataforma "Sim à Vida", composta por mais de 500 associações nacionais e internacionais e organizações civis. "Vamos todos tentar ir", disse Grace Villarreal à Omnes, referindo-se à sua família.
O Março começará ao meio-dia, na confluência das ruas Serrano e Goya, e terminará na Plaza de Cibeles, onde haverá um evento com testemunhos, música ao vivo do grupo Los Hermanos Martínez, e uma leitura de um Manifesto, provavelmente ao estilo do marchforlife Americano.
Antes disso, às 10.00 da manhã, haverá uma Corrida da Milha Urbana, promovida pela Associação O evento é apoiado em redes sociais por corredores da estatura de Marc Roig, como relatado pela Omnes, que colabora no Concurso de Histórias para a Vida. Quase uma centena de corredores já se inscreveram para esta 2ª Corrida Solidária pela Vida.
Influenciadora Grace Villarreal [@gracyvillarreal no seu perfil Instagram], que irá acolher o evento com Diego de Julián, é co-fundadora da sua própria marca de moda e acessórios @thevillaconcept e dos restaurantes de comida americana @picandnicfood, localizados em Madrid. Como criadora de conteúdos e influenciadora, a sua carreira começou em 2012 publicando vídeos no Youtube sobre tutoriais de maquilhagem que mais tarde iria expandir para a moda, estilo de vida, cozinha, viagens, família, etc; e onde, a partir de hoje, tem 839.359 seguidores. Grace também utiliza Instagram, uma plataforma onde já publicou mais de 3.000 vídeos e tem 628.536 seguidores até à data.
"Vale sempre a pena viver a vida".
Falando com a Omnes, Grace Villarreal sublinhou o valor da vida e da família: "Estou empenhado na vida em todas as fases. No outro dia estava a ouvir uma palestra de Juan Carlos Unzué, antigo jogador e treinador de futebol do Barcelona, que foi recentemente diagnosticado com ALS, e fiquei com uma frase sua: "A vida vale sempre a pena viver", e é verdade. Em todos os sentidos, em todas as fases. Mesmo em momentos em que pensamos que tudo está perdido, vale sempre a pena viver".
O 'influenciador' assegurou Omnes: "Estamos muito felizes com as crianças que Deus nos deu, elas foram muito solicitadas, e sentimo-nos abençoados por termos três filhos saudáveis. Somos uma família muito feliz. O meu marido é americano, e graças a Deus consegui encontrar um homem que tem os mesmos valores que eu, e que cresceu numa família protestante, que também tem estado super envolvido na igreja. Nós somos protestantes. Tem sido perfeito para mim.
"Éramos missionários na Amazónia".
"O meu pai é um pastor protestante. Fomos missionários na Amazónia, no Peru, até eu ter quatro anos de idade, e depois viemos para Espanha. O meu pai foi destinado a uma igreja em Espanha, em Madrid. Somos três irmãos. "A minha dedicação às redes sociais surgiu quando me casei, vivo nos Estados Unidos e fiquei grávida. Foi logo após a minha primeira filha, quando Deus nos abençoou com uma menina, e a gravidez foi terrível para mim. Estive em casa durante muito tempo, fazia fotografia, mas não me podia dedicar a muitas coisas, e comecei a consumir muito Youtube, que estava em plena expansão. Eu estava em casa, tive tempo e vi que este era o momento", explicou à Omnes.
"Sou uma pessoa com formação em áudio, gosto de continuar a aprender, e gosto de criar", continua ela. "Vi um nicho, um espaço para mim, peguei na minha pequena câmara e comecei a gravar vídeos, a falar de moda, beleza, valores, foi assim que surgiu. Estamos a falar de 2012. Em Dezembro desse ano dei à luz a minha menina, e isto aconteceu pouco antes de eu dar à luz. Tenho três filhos, uma menina de 9 anos, uma menina de 6 anos que fará 7 anos em Abril, e um menino de 2 anos, que fará 3 anos em Junho.
Dignidade da vida humana
Grace Villarreal esteve na apresentação da Marcha Sim à Vida. A plataforma com o mesmo nome apela uma vez mais à sociedade civil espanhola neste domingo, 27 de Março, para celebrar o Dia Internacional da Vida, que é comemorado todos os anos a 25 de Março. Oradores no evento incluíram Alicia LatorreAmaya Azcona, porta-voz da Plataforma do Sim à Vida e presidente da Federação Espanhola de Associações Pró-Vida. Amaya Azcona, directora-geral da Fundación RedMadre, Javier Rodríguez, director-geral do Foro de la Familia, e Álvaro Ortega, presidente da Fundación + Vida, que falaram de "uma celebração positiva e festiva". Grace Villarreal e a coordenadora europeia de Um de nós, Ana del Pino, também participaram.
Alicia Latorre declarou há algumas semanas atrás em Omnes os objectivos da plataforma deste ano: "Por um lado, mostrar por mais um ano (11 desde 2011) o nosso empenho público e unido na defesa da vida e da sua dignidade, de todos os campos em que as diferentes associações que compõem esta plataforma estão a trabalhar. Por outro lado, levantar a nossa voz para denunciar a injustiça e vergonha das leis mais recentes que ameaçam a vida (eutanásia e perseguição de pró-vida), bem como as anteriores que ceifaram milhões de vidas humanas".
"Do mesmo modo, como todos os anos, queremos mostrar a face preciosa e intensa da vida humana com tantos aspectos positivos, tantos testemunhos de luta, superação e generosidade, que quase nunca são mostrados e estão a acontecer todos os dias".
Os organizadores esperam que "milhares de pessoas" se associem, e salientaram que haverá uma lembrança especial para a Ucrânia. Amaya Azcona, directora geral da Red Madre, também se referiu aos "que não estão aqui", porque morreram durante a pandemia de Covid-19. Na apresentação, foi noticiado que no domingo chegarão dezenas de autocarros de muitas cidades espanholas, que muitos jovens participarão, e que mais de 400 voluntários se inscreveram.
Convenors
As associações que organizam a Marcha são, entre outras, ABIMAD, ACdP, ADEVIDA, AEDOS, AESVIDA, ANDOC, Asamblea por la Vida, la Libertad y la Dignidad, AYUVI, Asociación de Bioética de Madrid, Asociación Española de Farmacia social, Asociación Europea de Abogados de Familia, ANDEVI, ADEVIDA, Asociación Universitaria APEX, AYUVI, Centro Jurídico Tomás Moro, CIDEVIDA, CIVICA, COFAPA, CONCAPA, CRIAME, Cristianos en Democracia, 40 días por la vida, Derecho a ser Madre, Deportistas por la vida y la familia, e-cristians, EUVITA, El Encinar de Mambré, Enraizados, Evangelium Vitae, Familia y Dignidad Humana, Familias para la acogida, FAPACE, Federación Española de Asociaciones Provida, Fertilitas, Foro de la Familia, Foro cultura 21 Fundación Educatio Servanda, Fundación IUVE, Fundación Jérôme Lejeune, Fundación REDMADRE, Fundación Vida, Fundación + Futuro, Fundación Villacisneros, Fundación +Vida, Grupo Provida, HO- Derecho a vivir, Hogares de Santa María, JOCUM, Lands Care, ONE of US, Medicina y vidas, NEOS, Profesionales por la Ética, Proyecto Mater, Red Misión, RENAFER, REMAR, Rescatadores Juan Pablo II, RIOARRIBA, SOS Familia, Spei Mater, Valores y Sociedad, Voz Postaborto, etcetera.
A organização da Marcha Sim à Vida lançou um apelo à solidariedade para ajudar a cobrir os custos do evento. Através da Bizum NGO: 00589, ou transferência: ES28 0081 7306 6900 0140 0041.
Aprender a acompanhar as famílias
Para além da formação, que é sempre necessária, é necessário acompanhar as famílias na sociedade de hoje. Isto significa estar perto deles e estabelecer uma verdadeira relação com eles.
Estamos a chegar à conclusão do Ano da família Amoris laetitia, promovido pelo Papa Francisco, que tem repetidamente sublinhado a necessidade de estar próximo das famílias, de forma prática e realista, em suma, de as acompanhar.
Esta é uma tarefa urgente, porque as mudanças culturais das últimas décadas não foram acompanhadas de uma mudança na forma como as famílias são ajudadas, de acordo com a sua mentalidade e as suas novas circunstâncias.
Até há alguns anos atrás acreditávamos que bastava oferecer às famílias "formação" para as ajudar: ou seja, dar-lhes ideias sobre como a família deve ser e como devem fazer as coisas, no que poderíamos chamar um estilo "directiva", esquecendo que a formação não é apenas dar e receber informação, mas que requer uma assunção vital do que é transmitido.
A formação no sentido tradicional ainda é necessária, mas hoje em dia não é suficiente. Devemos aprender a treinar de outra forma, com outra metodologia e outro estilo, de acordo com a cultura em que vivemos, que mudou radicalmente.
Um novo olhar sobre "a família" precisa de ser desenvolvido. Antes de mais, é necessário partir de uma compreensão de como são as "famílias reais" e do que elas precisam, porque "famílias ideais" não existem.
A proposta de famílias acompanhantes introduz dois elementos que são diferentes da atitude prevalecente para trabalhar com as famílias.
Acompanhar significa "estar com alguém", caminhar ao seu lado, para que possam descobrir o seu próprio protagonismo e aprender a melhor maneira de resolver as dificuldades e conflitos que todas as relações pessoais trazem consigo.
Acompanhar é acima de tudo estabelecer uma relação pessoal e, como tal, baseia-se na confiança: não podemos impô-la, mas podemos oferecer as condições para torná-la possível.
1º Workshop Internacional sobre Acompanhamento Familiar
Em Maio de 2022, terá lugar em Barcelona o I Workshop Internacional de Acompanhamento Familiar (mais informações: https://workshopfamilia.uic.es), com o objectivo de oferecer formação sobre o que é e como realizar este acompanhamento de famílias de diferentes esferas (educacional, pastoral, de escritórios profissionais, redes sociais, etc.), de uma forma prática e realista.
O programa visa ajudar a compreender como são hoje as famílias e como as famílias podem ser acompanhadas a partir de diferentes esferas, com um carácter marcadamente prático. Ao mesmo tempo, o seminário será um ponto de encontro para a divulgação de iniciativas de acompanhamento bem sucedidas já em curso em vários países, permitindo que aqueles que realizam esta tarefa se encontrem, e incentivando a criação de novas iniciativas.
O acompanhamento familiar não se reduz a uma única acção: é antes uma ampla mudança de perspectiva, que pode ser aplicada de muitas formas diferentes e em muitos cenários diferentes. Como não existem "famílias perfeitas", na realidade todos nós precisamos de ser acompanhados. E todos nós podemos, de alguma forma, ser famílias que acompanham outras famílias. Assim, de certa forma, todos os que se preocupam em ajudar as famílias têm um lugar neste seminário
Professor na Faculdade de Direito da Universidade Internacional da Catalunha e Director do Instituto de Estudos Superiores da Família. Dirige a Cátedra de Solidariedade Intergeracional na Família (Cátedra IsFamily Santander) e a Cátedra de Puericultura e Políticas Familiares da Fundação Joaquim Molins Figueras. É também Vice-Reitora da Faculdade de Direito da UIC Barcelona.
"Tudo o que é meu é teu", Quarto Domingo da Quaresma
Comentário sobre as leituras do IV Domingo da Quaresma e breve homilia em vídeo do padre Luis Herrera.
"Todos os cobradores de impostos e pecadores costumavam vir ter com Jesus para o ouvirem. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: 'Este homem acolhe os pecadores e come com eles'.
Esta introdução de Lucas oferece-nos uma chave de leitura da sua obra-prima, a parábola do pai misericordioso e dos seus dois filhos: aqueles que estão mais afastados de Deus aproximam-se e ouvem Jesus, enquanto os escribas e fariseus, que deveriam estar mais próximos de Deus, "murmuram", criticando-o precisamente por causa da sua proximidade com os pecadores.
A parábola é uma forma maravilhosa de falar, com uma história realista e aberta, para que todos possam ser tocados no coração e se envolvam. Para que os primeiros compreendam que Deus pode trazê-los de volta à vida como crianças, e para que os segundos compreendam que a sua forma de pensar e agir está a anos-luz da forma de pensar e agir de Deus.
O jovem pede a sua parte da herança a um pai que, na realidade, gostaria de lhe dar tudo o que tem, como ele dirá ao seu filho mais velho "tudo o que é meu é seu".. Ao distanciar-se deste "tudo", perde a sua identidade de filho, desperdiçando a herança que o recordava da sua origem e natureza. Ao cuidar dos porcos, perde ainda mais dignidade, em contacto com os animais considerados impuros, na terra dos pagãos.
A penitência pelo seu pecado é o sofrimento de estar longe, a convicção de ter perdido a relação com o seu pai, a aceitação de se tornar um servo, o esforço de se erguer, de ressuscitar, de tomar o caminho de volta para a casa do seu pai, a ansiedade sobre como terminará.
O pai corre ao seu encontro, abraça-o, beija-o e não o deixa dizer "trate-me como uma das suas mãos contratadas".. Em vez disso, ele chuveja-o com todos os sinais possíveis do seu ser um filho, não um criado: o vestido mais bonito, o anel familiar no dedo, os sapatos nos pés, e o bezerro gordo para celebrar o seu regresso com alegria.
No entanto, o filho mais velho, fisicamente próximo, tem um coração longe do pai e não está feliz, pensa no seu irmão como "este seu filho"Desdenhosamente detalha os seus pecados ao seu pai, que, por outro lado, nunca os tinha mencionado.
E o seu pai, no entanto, saiu ao seu encontro como o seu irmão mais novo, e convida-o a converter o seu coração de acordo com o seu coração paterno, a deixar de trabalhar em casa como operário, a considerar todos os bens do seu pai como a sua herança, mesmo aquele filho que ele é, na realidade, "este seu irmão".
A parábola termina aberta, para que cada um daqueles que ouviram Jesus, e cada um de nós que ouvimos este Evangelho, se deixem desafiar pelas palavras do Pai e deixem o amor do Pai mudar as nossas vidas, quer estejamos no papel do filho mais novo ou no lugar do mais velho. Ou ambos.
A homilia dentro de um minuto
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliauma breve reflexão de um minuto para estas leituras.
Ser uma boa pessoa vende
São jovens, têm milhões de seguidores em redes sociais como TikTok ou Instagram e, em grande medida, o seu envolvimento deve-se ao seu empenho pessoal e à forma como mostram, com total naturalidade, os valores humanos que continuam a atrair todos.
Nacho Gil (@Nachter) e Tomás Páramo (@tomasparamo) são influentes bem conhecidos. Para eles, as redes sociais não são entretenimento, mas um trabalho em que o seu compromisso e os seus valores de vida não são deixados de lado.
Isto é o que partilharam na mesa redonda "Influencer Marketing: Conectando Valores", realizada no Universidade de Villanueva Para além deles, as gerentes da agência Daniela Rodríguez, da agência SoyOlivia, e Álvaro Blanco, da Native Talents, intervieram "do lado das marcas".
Os seus relatos poderiam ser descritos como "brancos": sem insultos ou cenas com tons de adulto. Uma limpeza e uma naturalidade que, no mundo das redes sociais, é um valor acrescentado, cada vez mais apreciado por marcas de campos muito diferentes. Neste sentido, Páramo salientou que trabalha com uma marca que "me contrata pelo meu valor acrescentado". Uma declaração partilhada por Natcher: "Uma das coisas mais importantes é que a marca partilha os meus valores e, além disso, tenho de gostar do produto. Se não me deixarem entrar nas minhas piadas, não faço a campanha".
Trabalho e naturalidade
Esta comercialização de valores foi o foco desta mesa redonda na qual Nacho Gil enfatizou a constância e o trabalho árduo necessários para alcançar o sucesso neste sector. Um sucesso que, no entanto, tenta relativizar o mais possível: "Eu afasto-me dos acontecimentos, porque prefiro um dia normal".
Há 7 anos que faço vídeos", explicou Nachter, "e a coerência é a coisa mais importante". Nunca parámos. É um esforço, mas tem-me ajudado a crescer. Quer tenha um bom ou mau dia, tem de carregar algo porque se apercebe que está a ajudar as pessoas e sabe que tem de ser positivo para elas. Este é um trabalho no final do dia.
Tomás Páramo, por seu lado, recomendou "ser natural, sermos nós próprios, sermos transparentes, que as pessoas vejam que todos nós temos dias bons e maus e que não somos actores e não temos de nos colocar no papel de alguém que não somos".
Ambos colocaram especial ênfase na necessidade de liberdade criativa. Uma liberdade que, além disso, provou ser positiva tanto para eles quando se trata de criar conteúdo, como para as marcas com que trabalham, devido à naturalidade com que podem alcançar os seus objectivos desta forma.
O aumento das esmolas 2.0
O declínio no uso do dinheiro levou a novas formas de doação que facilitam, por um lado, a colaboração dos fiéis e, por outro, a transparência na gestão deste dinheiro por paróquias e comunidades.
Em apenas alguns anos, os pincéis ou pincéis electrónicos tornaram-se um elemento comum no mobiliário das paróquias e igrejas em Espanha. Três anos após a sua instalação, estes atris são agora vistos como algo natural, graças em parte à sua rápida expansão por toda a Espanha.
Este sistema de recolha de donativos conheceu um notável boom, juntamente com donativos em linha, e confirma uma tendência observada numa grande parte da sociedade espanhola: o uso generalizado de cartões para pagamentos regulares.
Para além disso, os cartões de doação não só ajudaram a digitalizar as colecções, como também "oferecem uma análise das doações que é muito útil para optimizar a parte económica da co-responsabilidade", como salienta Santiago José Portas Alés, Director das Instituições Religiosas e do Terceiro Sector no Banco Sabadell, a primeira instituição financeira a implementar este sistema de doação.
Doações mais generosas
Os dados mostram que, nestes poucos anos, muitos dos fiéis acostumaram-se a utilizar estes pincéis ou pincéis electrónicos e são particularmente generosos nas quantidades que contribuíram para as suas paróquias e comunidades através deles. "A doação média em 2021 foi de 9,83 euros", diz Portas, "uma quantia muito significativa em comparação com as colecções tradicionais. Isto diz-nos que somos mais generosos quando doamos com cartões". Por regiões, "as comunidades autónomas com a média mais alta por doação são a Andaluzia e a Catalunha, enquanto Madrid tem o maior número de doações totais".

Uma das características deste sistema é que é fácil de usar para todos os tipos de pessoas. Muitos destes atris também incorporam montantes padrão de doação, o que facilita a realização de doações. Neste sentido, Santiago Portas assinala que "as doações mais recorrentes são as de 5, 10 e 19 euros". No entanto, quase 20% da colecção é o resultado de doações de mais de 25 euros.
Há muitas paróquias que, durante a semana, não passam o cesto e concentram-se nas colecções de domingo. Nesta linha, a instalação dos púlpitos permite a muitas pessoas que vêm à paróquia durante a semana para actividades ou celebrações, exercitar estas esmolas. Obviamente, o fim-de-semana - sábado à tarde e domingo - são os dias em que a maioria das pessoas usa a escova de dentes electrónica. Durante a semana, "o dia mais movimentado é quarta-feira, e se falamos de horários, as colecções são mais altas nas missas da manhã do que à tarde, excepto para as missas de sábado, que são ao contrário", explica Portas.
Mais co-responsabilidade
A situação de crise, as necessidades crescentes de muitas famílias no nosso meio e das paróquias e comunidades, é um apelo à co-responsabilidade de muitos dos fiéis. Neste sentido, além disso, os dados fornecidos por estes sistemas de doação estão a ajudar as juntas de freguesia "a analisar o comportamento das colecções e assim ajudar de uma forma profissional a aumentar a co-responsabilidade financeira no apoio".
Aqui está o texto da Consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria
A Santa Sé transmitiu às Conferências Episcopais o texto do Consagração da Rússia e UcrâniaO Papa convidou todos os fiéis do mundo a juntarem-se à consagração ao Imaculado Coração de Maria na sexta-feira, 25 de Março, como parte das 24 horas para o Senhor. O próprio Papa convidou todos os fiéis do mundo a juntarem-se a esta consagração.
Numa carta dirigida a todos os pastores das Igrejas locais, o Papa sublinha que a Consagração "... é um dom do Espírito Santo...".pretende ser um gesto da Igreja universal, que neste momento dramático traz a Deus, através da mediação da sua e da nossa Mãe, o grito de dor de todos aqueles que sofrem e imploram o fim da violência, e confia o futuro da humanidade à Rainha da Paz. Por esta razão, Convido-vos a participar neste evento, chamando sacerdotes, religiosos e outros fiéis à oração comunitária nos lugares sagrados na sexta-feira, 25 de Março, que o Povo Santo de Deus possa elevar a sua súplica à sua Mãe de uma forma unânime e urgente.".
Por esta razão, a Santa Sé enviou o texto que acompanhará este acto de consagração ao Imaculado Coração de Maria das nações da Ucrânia e da Rússia, para pedir o dom da paz e a cessação das acções invasivas da Rússia.
Consagração mariana
Em Roma, o acto de consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria terá lugar no contexto da Celebração da Penitência, que terá lugar na Basílica de São Pedro às 17:00 horas, hora de Roma. A consagração, em particular, está agendada para cerca das 18:30. O mesmo acto, no mesmo dia, será realizado em Fátima pelo Cardeal Konrad Krajewski, almoneiro papal, como enviado do Santo Padre.
O texto a ser utilizado na cerimónia é o seguinte:
Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, nós, nesta hora de tribulação, recorremos a vós. Sois a nossa Mãe, amais-nos e conheceis-nos, nada do que nos perturba é escondido de vós. Mãe de misericórdia, muitas vezes experimentamos a tua ternura providente, a tua presença que restaura a nossa paz, porque nos conduzes sempre a Jesus, Príncipe da Paz.
Perdemos o caminho para a paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de pessoas que caíram nas guerras mundiais. Temos negligenciado os nossos compromissos como Comunidade de Nações e estamos a trair os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens. Ficámos doentes de ganância, fechámo-nos em interesses nacionalistas, deixámo-nos endurecer pela indiferença e paralisados pelo egoísmo. Temos preferido ignorar Deus, viver com as nossas falsidades, alimentar a agressão, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo que somos guardiães do nosso vizinho e da nossa casa comum. Com a guerra destruímos o jardim da terra, com o pecado ferimos o coração do nosso Pai, que nos ama, irmãos e irmãs. Tornámo-nos indiferentes a todos e a tudo menos a nós próprios. E com vergonha dizemos: perdoa-nos, Senhor.
Na miséria do pecado, no nosso cansaço e fragilidade, no mistério da iniquidade do mal e da guerra, vós, Santa Mãe, lembrais-nos que Deus não nos abandona, mas continua a olhar-nos com amor, ansioso por nos perdoar e por nos ressuscitar. Foi Ele que vos deu a nós e colocou no vosso Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Pela vossa bondade divina estais connosco, e mesmo nas vicissitudes mais adversas da história, conduzis-nos com ternura.
É por isso que nos voltamos para si, batemos à porta do seu Coração, nós, os seus filhos queridos a quem nunca se cansa de visitar e de convidar à conversão. Nesta hora escura, venha em nosso auxílio e conforte-nos. Repita para cada um de nós: "Não estou eu aqui, quem sou a vossa Mãe? Sabe como desatar os emaranhados dos nossos corações e os nós do nosso tempo. Depositamos a nossa confiança em si. Estamos certos de que, especialmente nestes tempos de julgamento, não despreza os nossos apelos e vem em nosso auxílio.
Foi o que fez em Caná da Galileia, quando apressou a hora da intervenção de Jesus e introduziu o seu primeiro sinal no mundo. Quando a festa se transformou em tristeza, disse-lhe: "Não têm vinho" (Jo 2,3). Di-lo novamente a Deus, ó Mãe, porque hoje ficámos sem o vinho da esperança, a alegria desapareceu, a fraternidade foi diluída. Perdemos a humanidade, estragámos a paz. Tornámo-nos capazes de todos os tipos de violência e destruição. Precisamos urgentemente da sua ajuda materna.
Aceita, ó Mãe, a nossa súplica.
Vós, estrela do mar, não nos deixeis naufragar na tempestade da guerra.
Você, arca do novo pacto, inspira projectos e caminhos de reconciliação.
Vós, "terra do céu", trazei a harmonia de Deus de volta ao mundo.
Extinguir o ódio, apaziguar a vingança, ensinar-nos a perdoar.
Livrar-nos da guerra, preservar o mundo da ameaça nuclear.
Rainha do Rosário, desperta em nós a necessidade de rezar e de amar.
Rainha da família humana, mostra aos povos o caminho da irmandade.
Rainha da paz, obtenha a paz para o mundo.
Que o teu choro, ó Mãe, mova os nossos corações endurecidos. Que as lágrimas que derramou por nós façam florescer este vale que o nosso ódio secou. E embora o barulho das armas não se cale, que a vossa oração nos disponha à paz. Que as suas mãos maternais acariciem aqueles que sofrem e fogem sob o peso de bombas. Que a vossa mãe abrace o conforto daqueles que são forçados a abandonar as suas casas e o seu país. Que o vosso Coração aflito nos leve à compaixão, nos impulsione a abrir portas e a cuidar da humanidade ferida e descartada.
Santa Mãe de Deus, enquanto estavas ao pé da cruz, Jesus, vendo o discípulo ao teu lado, disse-te: "Eis o teu filho" (Jo 19,26), e assim nos confiou a ti. Depois disse ao discípulo, a cada um de nós: "Eis a tua mãe" (v. 27). Mãe, queremos dar-lhe as boas-vindas agora na nossa vida e na nossa história. A esta hora a humanidade, exausta e sobrecarregada, está consigo ao pé da cruz. E precisa de se entregar a vós, de se consagrar a Cristo através de vós. O povo ucraniano e o povo russo, que vos veneram com amor, recorrem a vós, enquanto o vosso Coração bate por eles e por todos os povos dizimados pela guerra, fome, injustiça e miséria.
Por isso, Mãe de Deus e nossa Mãe, recomendamos e consagramos solenemente ao vosso Imaculado Coração a nossa pessoa, a Igreja e toda a humanidade, especialmente a Rússia e a Ucrânia. Aceitar este nosso acto, que realizamos com confiança e amor, pôr fim à guerra, proporcionar ao mundo a paz. O "sim" que fluiu do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da paz; confiamos que através do vosso Coração a paz virá. A vós, então, consagramos o futuro de toda a família humana, as necessidades e aspirações dos povos, as ansiedades e esperanças do mundo.
Através de vós, que a Misericórdia divina seja derramada sobre a terra, e o doce pulsar da paz marque novamente as nossas viagens. Mulher do Sim, a quem o Espírito Santo desceu, traz-nos de novo a harmonia de Deus. Vós que sois a "fonte viva da esperança", dissipai a secura dos nossos corações. Vós, que tecestes a humanidade de Jesus, fazei de nós construtores de comunhão. Vós que trilhastes os nossos caminhos, guiai-nos nos caminhos da paz. Ámen.
Para uma sinfonia da verdade
Este mundo complexo desafia-nos a garantir que a verdade da identidade não existe apenas nas intenções, mas que aparece aos outros nas nossas acções e comunicações.
A aparência é frequentemente suspeita. O que é profundo é autêntico e a aparência é "mera" aparência. Esta dialéctica entre substância e forma afecta os debates públicos sobre valores. Por um lado, as posições sobre questões substantivas - vida, escravatura, imigração - formam a substância; por outro, estas posições entram no debate em processos de aparência, que influenciam as percepções e juízos dos outros.
Então, quando um católico participa num debate público, como é que a sua posição sobre o assunto "aparece"? Se partirmos de um modelo de comunicação realista, três mensagens relacionadas podem ser reconhecidas: uma mensagem sobre a questão; uma mensagem sobre a relação - sobre o tipo de ligação que a sua forma de comunicar cria com o outro, por exemplo, promovendo uma cultura de encontro; e uma mensagem sobre a sua identidade - a sua posição, a sua forma de a comunicar e a sua forma de se relacionar com os outros dizem algo sobre quem é essa pessoa.
Num sentido positivo, uma comunicação eficaz é contribuir para o debate, mobilizando o ponto de vista da Igreja sobre o assunto em questão, ao mesmo tempo que torna a identidade católica tão clara quanto possível para o maior número de pessoas, e torna o interlocutor mais aberto à mensagem, melhorando a relação interactiva.
Num sentido negativo, podem surgir situações incompletas ou paradoxais: apresentar uma posição sobre uma questão e trair a própria identidade no processo de mobilização da questão; apresentar uma visão, mas desgastando ou destruindo relações que depois dificultam o trabalho pastoral ou a convivência; evitar testemunhar sobre uma questão sensível para evitar a tensão de lidar com um interlocutor hostil.
Este mundo complexo desafia-nos a garantir que a verdade da identidade não existe apenas nas intenções, mas que aparece aos outros nas nossas acções e comunicações.
Professor de Sociologia da Comunicação. Universidade Austral (Buenos Aires)
CilouA alegria da síndrome de Down leva-nos a ser autênticos na sua frente".
21 de Março é o Dia Mundial das Pessoas com Síndrome de Down. Nesta ocasião, Omnes entrevista o artista francês Cilou, que fornece música e coreografia para Luis, um rapaz com trissomia 21.
Tradução do artigo para inglês
Desde 2011, por decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o 21 de Março é o Dia Mundial da Trissomia 21. Em França, esta data tem um carácter especial porque foi o proeminente geneticista francês Jérôme Lejeune que, com cerca de 30 anos de idade, descobriu a origem desta síndrome e dedicou a sua vida à investigação e, sobretudo, ao cuidado das pessoas com Síndrome de Down. Pela própria natureza da sua descoberta, o famoso cientista estava ciente de que ao avançar a ciência estava ao mesmo tempo a pôr em risco a vida destas pessoas que ficaram à mercê do drama do aborto: hoje em França mais de 90% de gravidezes diagnosticadas com esta síndrome terminam em aborto. Lejeune morreu em 1994, mas o seu legado continua vivo através da Fundação e do Instituto que levam o seu nome e deste dia mundial em que somos convidados a usar meias desajustadas (devido à sua semelhança com os cromossomas) (a fim de promover a diferença).
Recentemente, várias iniciativas mostraram à opinião pública francesa a importância da inclusão e diversidade das pessoas com diferentes tipos de deficiências e especificamente da trissomia 21. Filmes como "Hors normes" ("Fora da lei"), "Apprendre à t'aimer" ("Aprender a amar-te") e "De Gaulle" colocaram estas questões no grande ecrã. A primeira mostra o heroísmo das pessoas encarregadas de diferentes associações de inclusão social. O segundo conta a história transformadora de uma jovem família francesa que tem uma filha com síndrome de Down. Finalmente, o filme "De Gaulle" (de Gabriel Le Bomin) atribui um papel de destaque à filha do famoso general e político francês: Anne, nascida com trissomia e que morreu quando tinha apenas 20 anos, ocupou um lugar muito especial no coração de Charles de Gaulle, sendo a sua força, alegria e inspiração nas inúmeras batalhas que o fundador da Quinta República Francesa teve de enfrentar.
Na área do empreendedorismo social, algumas cidades europeias assistiram à abertura dos "Cafés Joyeux" (Cafés Joyful Cafés) nos seus distritos centrais. Este projecto do empresário Yann Bucaille-Lanrezac, que recebeu o prémio de empreendedor social do Boston Consulting Group (BCG) há alguns dias, emprega pessoas com deficiência em cafés tipicamente franceses. O mais famoso está localizado a não menos de alguns metros do Arco do Triunfo na própria Avenue des Champs Elysées e foi inaugurado pelo Presidente da França, Emmanuel Macron, juntamente com a sua Ministra responsável pelas pessoas com deficiência, Sophie Cluzel. Cluzel não foi escolhida em vão para este posto sensível: é a mãe da jovem Julie (nascida em 1995) com Síndrome de Down e tem dedicado a maior parte da sua vida profissional à integração destas pessoas.
No Café Joyeux na "avenida mais bela do mundo" encontrámos outra voz para a inclusão de crianças com trissomia do cromossomo 21: o artista francês Cilou. Há um ano, a 21 de Março de 2021, uma data muito simbólica para portadores de três cromossomas 21, a artista de 27 anos de idade colocou o seu nome num cartaz com o seu nome. música e coreografia à biografia de uma criança, Louis, desde que está no ventre da sua mãe até começar a trabalhar num café Joyeux. A nossa conversa é constantemente animada pela música, a atmosfera e as danças dos empregados que ali trabalham. A presença do jovem artista não é estranha ao entusiasmo que rapidamente se instala esta noite nas instalações do Champs Elysées. O nosso diálogo será alegremente "interrompido" muitas vezes por dois jovens profissionais de café atenciosos.

Como teve a ideia de compor uma canção e um vídeo sobre este tema?
-Durante o tempo de confinamento, eu queria escrever uma canção sobre alegria. Como todos sabemos por experiência, esses meses foram muito duros e difíceis. Tento fazer com que as minhas canções transmitam valores sobre a vida de pessoas reais. A ideia da trissomia do cromossoma 21 surgiu quando o ano 2021 começou, o que me fez pensar em pessoas que têm três cromossomas 21. Na nossa sociedade de hoje, e isto é algo que considero muito positivo, a diferença, a diversidade, é constantemente celebrada, porque somos todos diferentes.
Contudo, temos frequentemente tendência para nos igualarmos, para apagar diferenças, para não sermos nós próprios para nos assemelharmos aos outros ou para nos adaptarmos àquilo que pensamos que a sociedade nos impõe. A autenticidade, a diferença e a alegria das pessoas com Síndrome de Down leva-nos a ser nós próprios à sua frente, que somos completamente eles próprios, sem desempenhar qualquer papel, sem nos escondermos atrás de qualquer máscara. Têm uma alegria natural e contagiosa, é algo que todos reconhecem neles. A minha canção fala desta alegria de existir, de viver, de ser diferente: viva a diferença!
Quem é Luis o rapaz na sua canção?
-Quando tive a ideia de escrever esta canção sobre deficiência, comecei a procurar na Instagram histórias de famílias com crianças com trissomia do cromossomo 21. Não queria que a minha canção fosse algo teórico, queria mesmo que fosse algo verdadeiro, encarnado numa história real. No meu ambiente próximo não conhecia nenhuma criança com esta deficiência. Foi assim que encontrei a conta Louis le super hérosNele, esta família da Bretanha (França ocidental) conta a história da vida deste pequeno Louis. Gostei muito, contactei-os e eles aceitaram a minha ideia com grande entusiasmo. Louis tem agora 5 anos e meio de idade. Na canção, coloco-me no seu lugar e falo na primeira pessoa: que quando estava no ventre da minha mãe, sonhava com a minha vida, e que tinha um segredo bem guardado. No momento do nascimento, descrevo o espanto dos meus pais, que é o que muitas famílias passam nestes casos. E a estrofe principal fala de alegria, que eu sou alegre, que não quero incomodar ninguém, apenas que sou diferente e que quero ser amado.

Ela diz que o seu segredo é o seu cromossoma extra, que é o seu "super poder" para tornar o mundo mais belo. Fala também da sua família, do seu irmão mais velho, dos seus pais, e das dificuldades, mas também das alegrias, que podem surgir, mas que no final se rendem todas ao seu imenso coração e afecto. Fala também da beleza da fragilidade e de se afastar da conformidade. E diz também que quando crescer, os seus pais estarão preocupados com a sua autonomia e a sua integração. Nesta altura mostramos um jovem que vai trabalhar num café Joyeux (na cidade de Rennes, na Bretanha), onde não há medo ou preconceito, apenas o orgulho de ser diferente e competente. A canção termina com as ideias que me parecem ser as principais: não quero incomodar, só quero amar, a vida é uma sorte, viva a diferença! No vídeo vê as pessoas da sua família e à sua volta, até mesmo o presidente da câmara da cidade.
De onde vem a sua vocação artística e o seu compromisso com esta causa?
Desde muito jovem fui ao conservatório: a música e a arte sempre estiveram presentes na minha vida. Estudei administração de empresas. Quando terminei os meus estudos, fui numa viagem humanitária à Indonésia onde ensinei guitarra a jovens em risco social. Criámos uma canção e um vídeo com a sua história e várias outras que foram muito populares. De volta a França, comecei a trabalhar em marketing para um grande grupo francês. Gostei muito, mas senti que podia combinar todas as minhas capacidades e o meu desejo de ter impacto em algo mais artístico: foi assim que nasceu o Cilou! As minhas canções e vídeos são geralmente sobre temas existenciais e profundos, baseados nas experiências de pessoas que passam por momentos difíceis como a perda de uma mãe, dúvidas sobre o seu lugar no mundo, encontros, etc.
As viagens humanitárias são transformadoras porque o ajudam a ver o mundo através de diferentes olhos. No meu caso, as pessoas com deficiências mentais sempre estiveram presentes na minha vida porque os meus pais nos levavam uma vez por mês a jogar e a cuidar dessas pessoas no quadro de uma associação. Quando era estudante no norte de França, estive envolvido numa iniciativa que organizava peças e musicais para jovens com deficiência.
De qualquer modo, penso que a integração e o respeito por estas pessoas é uma batalha muito importante e positiva. Mas é algo geral, para o bem comum, porque todos somos diferentes, todos temos as nossas fraquezas, e todos queremos respeito e um lugar no mundo.
"Veste o novo homem" (Ef 4, 20-24).
Depois de ter falado do mistério da Igreja em que se deve acreditar, a Carta aos Efésios prossegue explicando que este mistério tem de se viver (Ef 4, 1 - 6, 17). Esta vida cristã tem um carácter eclesial e é apresentada como a vida do NOVO HOMEM e do filhos da luz. Os princípios que o regem são dados em Ef 4,20-24 (cf. Cl 3,5-10); os versículos seguintes ilustrarão estes princípios com o que evitar e o que fazer (Ef 4,25 - 5,20).
Não a forma de vida dos pagãos
"Por isso digo e testifico no Senhor, que já não viveis como os gentios vivem, nos seus pensamentos vãos, a sua mente escurecida, a sua mente alienada da vida de Deus, por causa da ignorância em que estão cegos pela cegueira dos seus corações. Indolentes, entregaram-se à perversão, para trabalharem toda a imundícia com a ganância."(Ef 4,17-19).
A nova vida do Crentes gentílicosA carta é-lhes dirigida principalmente, e é apresentada em oposição ao comportamento do "Gentios que não acreditam em Cristo".. Esta vida é caracterizada por "ter uma mente sombria". e por "vivendo à parte de Deus".. A nova vida não é uma mudança de identidade (ainda são gentios), mas de mentalidade e comportamento (já não devem viver como pagãos).
A razão pela qual os gentios incrédulos levam uma tal vida pode ser encontrada no "....ignorância". e no "endurecimento". dos seus corações. E daí a sua acção: "indolência, perversão e impureza".. Estas palavras retomam formas bíblicas e judaicas de ver (Sb 14,22; 15,11; Filo, Decálogo 8; Flavius Josephus, Antiguidades judaicas 10, 142), também presente no Novo Testamento (Actos 17, 30; 1 Pet 1, 14; 2, 15; cfr. Rom 1, 21-24).
Para se renovarem e se vestirem
"Você, por outro lado, não foi assim que aprendeu Cristo.-Se de facto o ouvistes e tiverdes sido ensinados segundo a verdade que está em Jesus, a abandonar a conversa anterior do velho homem, que é corrupto segundo a sua luxúria sedutora, a ser renovado no espírito da vossa mente e a vestir o novo homem, que é criado segundo Deus em verdadeira justiça e santidade."(Ef 4, 20-24).
A nova vida dos crentes é sublinhada pelo contraste com a vida do pagãos. Estes vv. 20-24 estão assim em oposição aos v. 18: em frente ao v. 18: em frente ao v. 20-24 ignorância (culpado = dureza de coração) dos pagãos é falado do conhecimento de Cristo. A seguir, o Acção cristã (Ef 4, 25 - 5, 20) deve ser contrastada com a trabalho pagão descrita em Ef 4, 19.
A carta estabelece uma ligação essencial entre a nova vida e o conhecimento de Cristo. Estes vv. 20-24 fazem referência insistente à catequese baptismal: "..." (vv. 20-24).aprendeu, já ouviu falar, foi-vos ensinado".. A carta usa a expressão Cristo da aprendizagem para sublinhar que o objectivo da catequese é apresentar uma pessoa viva para ser conhecida e ter uma relação pessoal com Cristo, em quem lemos o plano divino para a humanidade (cf. 1 Cor 2,2; Gl 2,20; Fil 1,21). Cristo é o Evangelho que ouvistes e vos foi ensinado, um Ressuscitado que não pode ser separado de Jesus, filho de Maria, que viveu entre os homens, foi rejeitado e morreu na cruz. Aquele homem, que é a verdade do Cristo glorioso, é aquele que eles devem aprender a conhecer. O conhecimento de Jesus Cristo é assim necessário não só para o crescimento eclesial, mas é também o fundamento da conduta moral dos crentes, pois nele formamos um homem novo.
O conteúdo do ensino recebido refere-se a sair, renovar y casaco. Antes de mais, fala sobre o negativoO primeiro ponto: é necessário livrar-se do velho, ou seja, de tudo o que, segundo Col 3:8, é raiva, paixão, malícia, blasfémia e conversa desonesta. Depois fala do positivoem oposição directa ao v. 17: os pagãos são governados por pensamentos vãosenquanto que ser cristão é caracterizado por um renovação espiritual da inteligênciaou seja, da parte superior do intelecto. Isto permite ao crente conhecer Cristo e vestir o homem novo (cf. 1 Ts 5,8; Gl 3,27; Rm 13,14; 1 Cor 15,43, 53-54; 2 Cor 5,3-4; Cl 3,10; Ef 6,11). A expressão "que foi criado de acordo com Deus".que se refere à criação de Adão (cf. Sb 9,1-3; 2,23; Si 17,1; 33,10), confirma que o criador da nova humanidade é o próprio Cristo, cumprindo assim o plano de Deus para a humanidade.
A imagem do casacoFinalmente, não se refere a algo meramente externo, como é o caso da roupa. A carta fala de um desinvestir e um casacoEsta é uma referência à mudança moral, porque a forma de agir expressa, como o vestuário, a personalidade, a forma de ser de uma pessoa. E para deixar claro que não é algo externo, Paul acrescenta do "homem novo".O crente está revestido de um novo ser, um ser renovado por Cristo, como pessoa individual e como membro da Igreja. É desta forma que o cristão se torna a luz do mundo (Ef 5,8), perante a qual as trevas são removidas, ao ressuscitar com Cristo e ser iluminado por ele (Ef 5,14).
Professor do Novo Testamento, Universidade de Navarra.
"Estarei presente onde quiserdes que eu esteja", Solenidade da Anunciação do Senhor
Comentário sobre as leituras da Solenidade da Anunciação do Senhor e breve homilia em vídeo do padre Luis Herrera.
O anjo, depois de falar, esperou. Tive a percepção de um momento infinito de silêncio no mundo. Como se as estrelas tivessem parado para esperar, para assistir. As cigarras caíram em silêncio. As aves no céu ainda se encontravam nos ramos das árvores. Parecia-me que todas as gerações do passado e as do futuro estavam à espera. Ouvi a oração de Adão e Eva, de Noé e sua esposa, de Melquisedeque, de Abraão nosso pai e Sara... O sol tinha ficado parado no céu. Mas a decisão já tinha sido tomada para fazer o que Deus queria para mim. Mil vezes o tinha repetido a ele, desde criança, na minha oração de louvor por me ter criado: sempre lhe falei do meu desejo de o servir como ele desejava. Então disse ao anjo que tinha dito sim a Deus com a liberdade que ele me tinha dado: "Eis que eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra".
Pareceu-me que Gabriel se curvava, que sorria alegremente com um sorriso que não conseguia conter, com uma alegria inefável. E as cigarras começaram a cantar novamente, e os pássaros começaram a voar no céu. O meu coração ficou tocado pela luz que envolvia a sala. A luz e o sorriso trouxeram um amor e uma paz ao meu corpo e alma que eu nunca tinha sentido antes. Gabriel deixou-me. À minha volta tudo era como antes e tudo era diferente. O pano, o balde, a água, o chão. A minha mãe chamou-me: "Maria, conseguiste a água, está tudo bem, não te consegui ouvir cantar? Quanto tempo durou a visita do anjo? Um instante, uma eternidade. Vou dizer à mãe que quero ir ver Isabel. Serei capaz de a compreender e ajudá-la. Ela será capaz de me compreender e talvez me ajudar. O que devo fazer agora? Um passo após o outro.
Quando recontei aos discípulos do meu Filho a minha resposta ao anjo Gabriel: "Eis a serva do Senhor", o meu coração avisou-me que estas palavras, inspiradas por Deus e inteiramente minhas, me guiaram ao longo da minha vida. Repeti-as dentro de mim sempre que me apercebi de que havia um novo apelo do Senhor e em cada nova situação. Ajudaram-me a sair da dúvida: ir ou não ir, ser ou não ser? Saiu-me do coração com certeza: estar lá! Para lá ir. Estarei sempre presente. Ao vosso lado e ao lado daqueles que precisam de mim. De todas as minhas filhas e filhos. Eu vou para onde quer que me chamem. Estarei presente onde me quiserem. Quando um dos meus filhos sofre, eu estou ao seu lado, eu sofro com ele. Levá-lo-ei ao céu quando eu morrer. A minha vida tem sido assim e continua a ser assim. Indo em direcção às montanhas de Isabel, repeti: "Aqui estou eu", e pareceu-me notar que já não estava só. E imaginei-me a dizer a Isabel: "Aqui estou eu, aqui estou eu! Eu fiquei com ela. Como é bom estar presente quando alguém precisa dele e onde o Espírito Santo o quer.
Eutanásia: o caminho para a autodestruição
Um encontro virtual organizado pela Fundação Centro Académico Romano aborda as questões decorrentes da aprovação em Espanha da lei da eutanásia.



A Fundação Centro Académico Romanoo, CARF, está a organizar um reunião de reflexão virtual no dia 24 de Março às 20:30h. no qual Benigno Blanco, ex-presidente do Fórum Familiar Espanhol, falará sobre a deriva social que leva à aceitação da eutanásia como uma opção, e mesmo um "dever" médico, de pôr fim à vida humana.
O encontro, aberto a qualquer pessoa que deseje participar, será transmitido online e as inscrições podem ser feitas através do Sítio web da CARF.
No ano passado, a Espanha aprovou uma das leis mais permissivas a favor da eutanásia, contrária à dignidade humana. Um facto que deu origem a novos perguntas não só no campo da saúde mas também no campo social.
O que significa uma lei deste tipo para uma sociedade? O que podemos esperar do futuro após a aprovação e aplicação deste tipo de lei? Existem razões para o pessimismo e o desespero? Estamos no caminho da autodestruição social? Estas são algumas das questões que serão abordadas na reunião de reflexão virtual da CARF em colaboração com a Omnes.
Precisamos de heróis
A 11 de Março o Skate Hero, o musical que comemora a vida e figura de Ignacio Echevarría, conhecido como "o herói do skate", regressou ao palco. Um exemplo de generosidade e coragem para os jovens de hoje.



A 11 de Março, quase dez mil pessoas reuniram-se em La Nueva Cubierta, em Leganés, para prestar homenagem a Ignacio Echeverríao conhecido como o 'herói do skate'. E juntamente com ele todas as vítimas do terrorismo, uma vez que o próprio Ignacio foi mais uma dessas vítimas do terror jihadista.
O que foi vivido neste dia vale a pena reflectir para além dos números. Os quase sete mil estudantes, na sua maioria de Religião, que embalaram a arena de touros de manhã e os mais de três mil que vieram à tarde, não foram apenas testemunhas de um espectáculo musical, mas também participantes num evento especial.
Em primeiro lugar, para algo tão importante como honrar as vítimas do terrorismo. A Asociación de Ayuda a las Víctimas del 1M organizou este evento juntamente com a Delegación de Enseñanza de la Diócesis de Getafe. E juntos queriam transformar esta dolorosa data numa verdadeira canção de esperança. A partir da memória e lembrança, graças aos jovens actores, a história das vítimas do terrorismo foi mantida fresca e actualizada. Isto é especialmente importante para as novas gerações. Não foi em vão que nenhum dos jovens que embalaram a praça tinha nascido quando, há dezoito anos, o ataque de 11 de Março que chocou toda a Espanha teve lugar.
Prestar homenagem e dar calor às vítimas do terrorismo é muito mais do que recordar um acontecimento histórico. É descobrir nestas pessoas que conseguiram superar a dor e o desejo de vingança o melhor da nossa sociedade. Em cada uma das suas histórias de superação, reconhecemos que o ódio não tem a última palavra, que o amor tem a última palavra.
E é por isso que é tão significativo que o protagonista do musical seja um verdadeiro herói, reconhecido como tal por toda a sociedade espanhola. Todos pudemos ver na sua acção de arriscar a sua vida para salvar uma jovem mulher que estava a ser esfaqueada, algo verdadeiramente nobre que merece ser louvado. Independentemente da idade, ideologia, ou de onde somos, Ignacio representa o melhor de nós próprios para todos os espanhóis.
É por isso que este evento não foi apenas uma homenagem a um herói, mas uma proposta a todos os jovens. Também eles podem ser "outro Inácio", um herói que dorme agachado nos seus corações.
Ignacio é um herói. E a proposta educacional revolucionária que poderia ser lida numa faixa é descobrir que todos nós podemos ser verdadeiros heróis. Um heroísmo que começa na nossa vida diária, na nossa vida quotidiana, nos valores que sustentam o nosso trabalho diário. Porque Ignacio, como foi cantado no musical Skate Hero", é "um de nós". Propor heroísmo aos jovens é uma ousadia que responde às aspirações mais profundas do seu ser.
Foi assim que a educadora Catherine L'Ecuyer a descreveu num artigo recente:
O herói herdeiro da educação clássica está consciente de que um ideal é algo que é conquistado pouco a pouco, todos os dias, através da busca de auto-aperfeiçoamento. Não se é herói em grandes coisas, se não se foi herói em pequenas coisas antes. O verdadeiro herói foge da cobardia, ele não confunde difícil com utópico. Está consciente de que existem bens mais elevados, que nunca estão sujeitos a concessões e que a função de um ideal é visar para além das possibilidades actuais".
É difícil não pensar em Ignacio Echeverría ao ler esta descrição do herói.
Vivemos numa educação que não propõe heroísmo aos jovens. Se, afinal, o objectivo da educação é encontrar um emprego, não há muito espaço para o heroísmo. Ou se o seu objectivo for a mudança cultural e social colectiva, como na LOMLOE, a componente de compromisso pessoal é diluída. É por isso que o que vivemos no 11 de Março em La Cubierta de Leganés foi tão importante e revolucionário. Porque houve um grupo de professores que correu o risco de dizer aos seus alunos que é possível amar sem limites, amar até ao fim, amar até ao ponto de dar a vida. E que esta mudança começa por si próprio na vida quotidiana.
E havia algo disso no ar em torno deste evento. Diferentes pessoas e grupos foram atraídos por este exemplo de nobreza e colocaram todas as suas capacidades em fazer deste evento um sucesso. Influenciadores, paróquias, professores, fundações, famílias, jovens... todos viveram uma verdadeira experiência de sinodalidade e caminharam juntos em direcção ao telhado de Leganés, seguindo os passos deste corajoso jovem advogado católico.
O grande escritor britânico J.R.R. Tolkien disse que a história é como um grande fracasso com vislumbres ocasionais do triunfo final. Inácio mostra-nos o grande triunfo final. E neste 11 de Março tivemos um vislumbre ocasional que nos dá um vislumbre daquilo para que o coração humano é feito.
Laura Davara. Donativo de superabundância
"Deixem-nos tornar-se católicos por inveja". Para nossa alegria. Laura vive na convicção de que devemos dar continuamente do que recebemos, sem reter nada.
Vou dar um passeio com Laura Davara Fernández de Marcos. 37 anos de idade. Estudou Direito e Ciência Política no ICADE e trabalha como advogada numa firma familiar dedicada ao direito das TI (protecção de dados, comércio electrónico e outros). É especializada em redes sociais e acaba de publicar um livro: O livro definitivo sobre as redes sociais. Pouco depois de a conhecer, nunca esquecerei uma anedota: numa viagem paroquial de Verão, parámos em Saragoça. Ela chamou-me quando eu estava às portas da Basílica del Pilar. O seu carro estava cheio de gente: "Conheço-o há quinze minutos, mas acredite que estou a falar a sério, cometemos um erro e estamos a caminho de Girona.". Anecdotes à parte, o livro de que estou a falar dirige-se a pais e professores. O objectivo é dizer tanto o bom como o mau de uma forma coloquial, sem frases complicadas que não possam ser compreendidas. As pessoas que o leram brincam: "Não parece ter sido escrito por um advogado, porque é entendido". Ele dá muitas dicas práticas sobre privacidade e segurança, como detectar roubo de identidade e como agir ou como denunciar um caso de cyberbullying. Também recomenda filmes e séries a ver com crianças para que possam falar sobre estas questões. Ele recomenda contas que valem a pena: comida, matemática de aprendizagem, dicas de segurança cibernética, por exemplo. Também tem fornecido endereços para oração e meditação.
Nas redes
"A Igreja está cada vez mais envolvida em redes. Existem relatos muito fixes que servem para crescer na vida de fé. É necessário formar em valores na vida digital"diz ela. Laura, que fez a sua tese sobre redes sociais, dá uma grande formação nas escolas. O seu público-alvo é quase toda a gente: adultos, professores, pais e crianças. Não pense que é só por isso que ela é apaixonada. Ela adora jogos de tabuleiro, viajar e sair com os seus amigos. Fá-lo feliz "um bom jantar, um bom aperitivo, uma visita a um teatro, um espectáculo musical ou mágico". Apaixonada por estar com a sua família e desfrutar da sua família, ela deixa claro que tem uma fraqueza no plano de ir para o Bernabéu com o seu pai, razão pela qual eles são muito madridistas.
Laura é uma das que não vive uma fé individualista, privada e auto-referencial, mas que quer dar o que recebeu: "...".Tive uma experiência eclesiástica muito forte, especialmente na paróquia de San Germán, em Madrid. Fui catequista, coordenador da Confirmação, participei no grupo de teatro e fiz parte do coro.". Foi em missão à República Dominicana e lá teve uma forte experiência de Deus durante uma Missa, durante o momento de paz, ao qual sempre tinha dado pouca importância: "... foi capaz de viver um momento de paz.Senti que Deus estava a dar-me paz com um 'P' maiúsculo, verdadeira paz, através destas pessoas.". Ele recorda como numa criança muito doente, Emmanuel, ele viu o rosto de Deus. Há três anos atrás teve uma experiência extremamente dolorosa: o seu irmão morreu subitamente, da noite para o dia. Pouco depois foi para Lourdes e lá recebeu o consolo de que precisava: conheceu o homem que é agora seu director espiritual e António, um rapaz de quase 20 anos com uma síndrome de que muito poucas pessoas no mundo sofrem: ".... ele conseguiu encontrar uma forma de o ajudar.Passei alguns dias inesquecíveis ao seu lado, acompanhando-o e ouvindo as canções de Melendi o tempo todo porque ele as adorava.".
Fé radiante
Laura não está satisfeita e quer continuar a espalhar a sua fé. Participa em muitas actividades de voluntariado organizadas pela Delegação da Juventude de Madrid. Também em Abordagemum projecto para os maiores de 30 anos que nasceu com a vocação de oferecer "algo diferente". Ninguém está excluído: Católicos mais ou menos comprometidos, mais distantes, convertidos, solteiros, casados, divorciados. No Natal, saíram para dar presentes às crianças e aos idosos".para trazer um pouco de alegria e esperança". Laura também foi aos hospitais, para cantar em casas de idosos, para distribuir sanduíches aos mais pobres. Mas antes de dar, alimenta-se: participa num grupo no qual revê a sua vida, formação e oração. É constituída por grandes amigos que a têm apoiado em tempos difíceis. Laura compreende que podemos ajudar os outros a tornarem-se "Católicos por inveja. Contacto. Não mantendo as riquezas que temos, mas dando a partir da superabundância que recebemos. Ele parece estar a ter sucesso.
Cilou: "A alegria demonstrada pelas pessoas com Síndrome de Down ajuda-nos a ser mais naturais com elas".
TDia Mundial das Pessoas com Síndrome de Down é comemorado a 21st Março. Omnes entrevistou o artesão francês, Cilou, que fornece música e coreografia para Louis, um rapaz com trissomia do 21.
Texto original do artigo em espanhol aqui
A Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu que, a partir do ano 2011, os 21st Março deveria ser celebrado como o Dia Mundial da trissomia do cromossoma 21. Um dia melhor não poderia ser escolhido para celebrar as pessoas com três cromossomas 21. Em França, este dia tem um significado especial uma vez que foi a data em que o principal geneticista francês, Jerome Lejeune, que na altura tinha cerca de 30 anos de idade, descobriu a origem desta síndrome e dedicou o resto da sua vida à investigação e acima de tudo ao cuidado das pessoas com Síndrome de Down. Devido à própria natureza da sua descoberta, Lejeune estava consciente de que enquanto avançava na ciência, estava também a pôr em risco a vida de crianças no útero que poderiam acabar por ser abortadas. Actualmente em França 90% de gravidezes que são diagnosticadas com a síndrome são abortadas. Lejeune morreu em 1994, mas o seu legado permanece através da Fundação e Instituto que levam o seu nome, bem como neste Dia Mundial em que somos convidados a usar meias não compatíveis, devido à sua semelhança com os cromossomas e a fim de promover a "diferença".
Recentemente, diferentes tipos de iniciativas mostraram à opinião pública francesa a importância da inclusão e diversidade de pessoas com diferentes tipos de deficiência, e especificamente a trissomia 21. Filmes como "Hors norms" (Os Especiais), "Apprendre a t'aimer" e "De Gaulle" trouxeram estes temas para o grande ecrã. A primeira mostra o heroísmo de pessoas que dirigem diferentes associações que lidam com a inclusão social. O segundo conta uma história da transformação de uma jovem família francesa cuja filha tem a Síndrome de Down. O filme "De Gaulle" (de Gabriel Le Bomin) atribui um papel de destaque à filha do famoso general e líder político francês: Anne nasceu com trissomia e morreu aos 20 anos de idade, ocupou um lugar muito especial no coração de Charles de Gaulle. Ela foi a sua força, alegria e inspiração nas muitas batalhas que o fundador da Quinta República teve de travar.
No campo do empreendedorismo social, "Cafés Joyeux" (Happy Cafes Joyeux) abriram nos distritos comerciais de várias cidades europeias. Este projecto do empresário Yann Bucaille-Lanrezac, que recebeu recentemente o prémio de empreendedor social do Boston Consulting Group (BCG), emprega pessoas com deficiência em "cafés" tipicamente franceses. O mais famoso está localizado a não menos de alguns metros do Arco do Triunfo nos Campos Elísios e foi inaugurado pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, juntamente com a ministra responsável pelos deficientes, Sophie Cluzel. Não foi por acaso que Cluzel foi escolhido para esta posição sensível. Ela própria é a mãe de Julie (nascida em 1995) com Síndrome de Down e tem dedicado a maior parte da sua vida profissional à integração destas pessoas na sociedade.
No Café Joyeux localizado na "avenida mais bela do mundo" encontramos um campeão da inclusão de crianças com trissomia do cromossomo 21, o artista francês Cilou. Há um ano, no dia 21st Março de 2021, uma data muito simbólica para aqueles com três cromossomas 21, o artesão de 27 anos de idade, ambientou a história de um rapaz, Louis, à música e à dança, desde quando estava no ventre da sua mãe até que começou a trabalhar num Café Joyeux.
A nossa conversa é continuamente animada pela música, dança e atmosfera geral dos empregados que aqui trabalham. A presença de Cilou não amortece o entusiasmo que vibra neste local nos Champs-Elysees. O nosso diálogo será alegremente "interrompido" muitas vezes por dois jovens guardas profissionais no Café.
Como surgiu a ideia de compor uma canção e um vídeo sobre este tema?
- Durante o encerramento, quis compor uma canção sobre alegria. Como todos sabemos por experiência, esses meses foram muito difíceis. Gosto das minhas canções para transmitir valores sobre a vida de pessoas reais. A ideia de trissomia surgiu no ano 2021 e fez-me pensar em pessoas que têm três cromossomas 21. Na sociedade actual, e acho muito positivo, a diferença e a diversidade são muitas vezes celebradas porque somos todos distintos uns dos outros.
- No entanto, tendemos muitas vezes a ser exactamente como os outros e a apagar as diferenças, a não sermos nós próprios para sermos como os outros ou nos adaptarmos ao que pensamos que a sociedade quer que sejamos.
- A bondade natural, a diferença e a felicidade das pessoas com Síndrome de Down ajuda-nos a ser nós próprios da mesma forma que eles próprios são completamente eles próprios, sem qualquer pretensão ou escondidos atrás de uma máscara. Têm uma alegria espontânea e infecciosa; é algo que todos podem ver neles. A minha canção fala desta alegria em estar vivo, em ser diferente. Viva a diferença!
- Quem é Louis, o rapaz da canção?
Quando me ocorreu esta ideia de compor uma canção sobre deficiência, comecei a procurar na Instagram histórias de famílias com crianças com trissomia do cromossomo 21. Não queria que a minha canção fosse teórica, mas algo real e autêntico baseado numa história verdadeira. No meu círculo imediato não conhecia nenhuma criança com esta deficiência. Foi assim que descobri tudo sobre Louis, le super heros. "Louis, o super herói". Nela esta família da Bretanha (França ocidental) conta a história do pequeno Louis. Gostei muito; contactei-os e eles concordaram entusiasticamente com a minha ideia. Hoje ele tem cinco anos e meio de idade. Na canção ponho-me no seu lugar e falo na primeira pessoa: quando estava no ventre da minha mãe, sonhei com a minha vida, e carreguei comigo um segredo bem guardado. Quando nasci, descrevo o espanto dos meus pais, que é o que muitas famílias experimentam em tais casos. E o verso principal diz-nos da alegria, que sou feliz, que não quero incomodar ninguém, apenas que sou diferente, e que quero ser amado.
Ele diz que o seu segredo é o seu cromossoma extra, é um "super poder", para tornar o mundo mais belo. Fala também da sua família, do seu irmão mais velho e dos seus pais e das dificuldades, e também das alegrias, mas que, em suma, todos se rendem ao seu grande coração e imenso afecto. Fala também da beleza de ser fraco e indefeso, e de rejeitar o conformismo. Ele diz que quando crescer, os seus pais estarão preocupados com a sua independência e integração na sociedade. Nesse momento, mostramos um jovem que vai trabalhar num Café Joyeux, em Rennes, na Bretanha, onde não há medo nem preconceito, mas o orgulho de ser diferente e competente também. A canção termina com ideias que me parecem ser as mais importantes: não quero causar problemas; só quero amar; a vida é uma questão de sorte. Viva a diferença! No vídeo vemos membros da sua família e os locais onde vive, até o presidente da câmara local é apresentado.
De onde vem a sua vocação artística e o seu compromisso com esta grande causa?
Quando era jovem, fui ao conservatório: a música e a arte sempre desempenharam um grande papel na minha vida. Estudei administração de empresas. Depois de terminar os meus estudos, fui à Indonésia para fazer trabalho social e ensinei guitarra a crianças negligenciadas pela sociedade. Compusemos uma canção e fizemos um vídeo sobre eles e vários outros de que as pessoas gostaram. No meu regresso a França, entrei no campo da comercialização numa grande empresa francesa. Gostei, mas senti que podia juntar todas as minhas capacidades e o meu desejo de ter impacto social em algo mais artístico; foi assim que o Cilou veio à existência! As minhas canções e vídeos são normalmente sobre problemas humanos mais profundos, tais como pessoas que atravessam tempos difíceis, como perder uma mãe, dúvidas sobre o seu lugar no mundo, diferentes tipos de encontros, etc.
Viagens humanitárias como a minha podem ser uma experiência transformadora, porque ajudam a ver o mundo de forma diferente. No meu caso, as pessoas com deficiência mental sempre estiveram presentes na minha vida porque os meus pais costumavam levar-nos uma vez por mês a brincar com essas pessoas e a cuidar delas. Como estudante, no norte de França costumava participar numa iniciativa que organizava peças e musicais para jovens deficientes.
Finalmente, penso que integrar estas pessoas e respeitá-las é um desafio muito importante e positivo. Mas é algo que envolve todos e é para o bem comum, porque somos todos diferentes, somos todos fracos e dependentes de alguma forma, e desejamos respeito e um lugar no mundo.
A coroa de espinhos
A coroa de espinhos, uma relíquia de Nosso Senhor Jesus Cristo, consiste numa circunferência de ramos entrelaçados ou canas e é preservada na catedral de Notre Dame, Paris, num tubo de vidro, sem os espinhos que a acompanhavam.


Aprendemos da Sagrada Escritura que os soldados romanos colocaram uma coroa de espinhos na cabeça de Jesus durante a sua paixão. Especificamente, nos Evangelhos canónicos de Mateus (27, 29), Marcos (15, 17) e João (19, 2).
O que é a coroa de espinhos? História do Evangelho e piedade popular
O Messias, condenado à morte, entregue aos soldados, flagelado e depois coroado com espinhos. Nestas passagens ele é ridicularizado pelos seus algozes com frases insultuosas referentes à sua realeza: "Salve, rei dos judeus", eles gritarão com ele. E, claro, um rei merece uma coroa, mas no caso daquele que afirmou ser o rei dos judeus, condenado à morte, os soldados humilharam-no e feriram-no, fazendo uma coroa de espinhos e colocando-a na sua cabeça.
Como uma prática de piedade, no recitação do santo rosário há um mistério, o terceiro dos de tristeza, dedicado a esta passagem. Além disso, no piedoso costume do recitação das Estações da Cruz esta cena é também encontrada como a sexta estação.
O que é exactamente a coroa de espinhos de Notre Dame, onde é guardada e quais são os seus espinhos?
A relíquia consiste numa circunferência de ramos entrelaçados ou canas, de 21 cm de diâmetro. É preservado no Catedral de Notre DameFaltam os espinhos que o acompanharam, pois foram distribuídos ao longo dos séculos como relíquias parciais da coroa.
Já no século V há referências à coroa em Jerusalém, localizando-a um século mais tarde na basílica de Sion, e sendo transferida no século VII para Constantinopla no meio da invasão persa.
Durante a crise económica do século X, a coroa parece ter passado para as mãos dos prestamistas venezianos até ao seu regresso à monarquia francesa. De Sainte Chapelle, onde foi depositada no século XIII, passou para a Biblioteca Nacional de França durante a Revolução Francesa, e no século XIX tornou-se propriedade da Igreja e foi finalmente depositada na catedral de Notre Dame, onde, aliás, em 2019 foi salva de um incêndio que devastou uma grande parte da catedral parisiense.
De acordo com vários estudos, os espinhos poderiam ser provenientes de diferentes plantas, entre as quais destacaríamos o azofaifo, o espinho de pimenteiro ou o espinho negro.
Como os espinhos inseridos na coroa são encontrados fragmentados, cada um deles é considerado como uma relíquia de categoria inferior, pois a primeira categoria - por assim dizer - seriam os de Jesus que são preservados intactos - analisados em fascículos anteriores - ou os pedaços dos corpos dos santos.
Os espinhos estão espalhados por todo o mundo, como dissemos, e o número total de espinhos é de cerca de 700, dos quais 140 estão em Itália. Em Roma cerca de 20 recebem veneração pública, incluindo a da Basílica de São Pedro e São João de Latrão.
É difícil datar a proveniência da maioria dos espinhos, por exemplo, os encontrados no mosteiro de El Escorial ou na Catedral de Barcelona em Espanha. Não tanto a venerada no mosteiro de Santa Maria de la Santa Espina, em Valladolid, pois está documentado que foi um presente recebido pela infanta rainha Sancha Raimúndez do rei de França no início do século XII, conforme registado no mosteiro cisterciense que o rei fundou para garantir a sua veneração.
Este é o fim da série de pequenos artigos que temos vindo a publicar sobre alguns aspectos relevantes de certas relíquias de Nosso Senhor. O objectivo? Para conhecer Jesus Cristo, a sua vida e a sua pessoa, um pouco melhor. E, sobretudo - uma vez que é isto que podemos fazer aqui nesta vida - tratá-lo com maior devoção, através daquelas relíquias sagradas que a tradição e a piedade popular nos deram e pelas quais só podemos estar gratos e lutar pela sua veneração e melhor preservação.