A evangelização, missão do cristão, é o tema do número de setembro da revista Omnes.
O número de setembro de 2023 da Omnes já está disponível na sua versão digital para os assinantes da Omnes. Nos próximos dias, chegará também à morada habitual de quem tem este tipo de assinatura.
A evangelização faz parte da identidade mais profunda da Igreja. É uma missão que cada cristão, em virtude do seu Batismo, deve ter na sua vida. Este é o tema do número 731 da revista Omnes.
A revista inclui uma extensa reflexão sobre a urgência da evangelização no mundo atual, os exemplos e o apelo constante do Papa Francisco nas catequeses deste ano, em que tem sucessivamente colocado perante os olhos dos baptizados vários exemplos de santidade e evangelização, bem como uma dissertação sobre algumas das linhas evangelizadoras de Bento XVI, em três áreas: razão, arte e beleza, e cultura e diálogo.
Neste número, são também analisados outros exemplos de evangelização e de empenhamento cristão no mundo atual, nomeadamente no domínio da vida civil e profissional da maioria dos cristãos; no domínio da caridade, com exemplos como Cristo na cidadeO projeto é um projeto de voluntariado nas cidades de Denver e Filadélfia, nos Estados Unidos, e aborda também as experiências missionárias na Tanzânia e no Uganda e os primórdios da fé nestas regiões de África.
Mensagens da JMJ
As JMJ em Lisboa ocupam grande parte das páginas desta revista. A edição da Omnes faz assim eco do IV Congresso Internacional sobre o Cuidado da Criação que decorreu no final de julho na Universidade Católica Portuguesa, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Deste congresso resultou um manifesto que sublinha a necessidade de se tomarem decisões verdadeiramente políticas, com especial atenção aos mais vulneráveis e com projectos de longo prazo adaptados às necessidades de cada realidade local, enquanto no plano económico se devem ultrapassar decisões egoístas e insustentáveis.
O Os ensinamentos do Papa Os pontos-chave dos discursos do Papa Francisco aos participantes da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa são, naturalmente, retirados destes discursos. Estes discursos sublinham o apelo a irmos juntos, vivendo o espírito de comunhão e corresponsabilidade, construindo uma rede de relações humanas, espirituais e pastorais, bem como "encontrando caminhos para uma participação alegre, generosa e transformadora, para a Igreja e para a humanidade".
Os Escolhidos, para além de um trabalho
Derral Eves, produtor da série televisiva, concedeu uma entrevista à Omnes na qual destaca a forma de participar na série televisiva. Os Escolhidosmudou a sua vida e como "colaborar com pessoas tão talentosas, todas unidas por uma visão comum, reafirmou a minha fé e aprofundou o meu empenho em utilizar os meios de comunicação social como uma força para o bem e a inspiração". Eves sublinha ainda nesta entrevista que trabalhar em Os Escolhidos"Não é apenas um trabalho, é uma vocação à qual me sinto privilegiado por ter respondido".
Juan Luis Lorda, por seu lado, aborda na secção Teologia do século XX a renovação da moral que teve lugar no século XX e na qual convergiram inspirações fecundas com algumas perplexidades e contextos difíceis.
Movimentos eclesiais
A secção de Experiências traz, neste número, um artigo interessante, assinado pelo padre e professor da Universidade Eclesiástica San Dámaso, José Miguel GranadosO Comité será também responsável pelo desenvolvimento do trabalho do Conselho Paroquial sobre os movimentos e grupos eclesiais e pela boa integração dos vários grupos, associações, comunidades e movimentos eclesiais na vida da paróquia.
Entre outras coisas, sublinha que a inserção paroquial bem orientada de grupos e movimentos pode enriquecer muito a comunidade paroquial e a sua ação evangelizadora, que, graças a eles, se enche muitas vezes de entusiasmo, de empenho, de força e de vitalidade.
Este será também o tema do próximo Fórum Omnes, que se realizará em Madrid a 20 de setembro, sobre o qual forneceremos informações pormenorizadas nos próximos dias.
Perante a tentação da nostalgia, temos de pedir o dom da esperança. Não é fácil obtê-lo, porque temos tendência para resistir à graça. Preferimos acomodar-nos e ficar na nossa zona de conforto.
1 de setembro de 2023-Tempo de leitura: 3acta
O... fim... do... verão... Nenhuma canção como esta do Duo Dinâmico consegue despertar aquele sentimento agridoce que se sente em dias como o de hoje, em que a tristeza de deixar o tempo de descanso se mistura com uma estranha ilusão de voltar à rotina necessária.
Há dias que os jornais publicam entrevistas com psicólogos e psiquiatras que explicam como evitar a chamada síndrome pós-férias, como se adaptar à mudança de atividade ou como enfrentar o regresso às aulas, que este ano será "o mais caro da história" devido à inflação galopante.
A nostalgia é a inveja de si próprio, do "eu" do passado. É um sentimento que se deleita em contemplar as coisas boas que tive e que já não posso ter. Há um certo sabor perverso nessas lágrimas de autocomiseração, nessa lambidela das feridas como se fôssemos o centro do mundo. Pobre de mim", consola-se o nostálgico, "tenho de suportar uma conspiração cósmica contra a minha felicidade. Transformar a nossa vida num drama tornou-se mesmo uma moda nas redes sociais. É o chamado "sadfishing", que consiste em partilhar posts ou vídeos em que se procura fazer com que as pessoas sintam pena de si próprias, para ganhar a simpatia do público e, consequentemente, mais seguidores.
Perante a tentação da nostalgia, temos de pedir o dom da esperança. Não é fácil obtê-lo, porque temos tendência para resistir à graça. Preferimos acomodar-nos e ficar na nossa zona de conforto. Abraão, o pai da fé de mais de metade dos povos do mundo, serve-nos de modelo perante o sedentarismo. Obedecendo à voz do Pai: "Sai da tua terra", pôs-se a caminho, sem medo do futuro, apoiado apenas por uma promessa. Já a mulher de Lot, transformada em estátua de sal por ter olhado para trás, alerta-nos para o perigo de não querermos abandonar o caminho, de não confiarmos que Deus já está à nossa frente, preparando o caminho. Pela segunda vez, Abraão sai de si mesmo, leva consigo o seu filho Isaac e sobe com ele ao monte Moriá, pronto a sacrificá-lo, convencido de que, em Deus, não há lugar para o mal.
Em muitas ocasiões, a Palavra de Deus fala-nos de confiança, de esperança contra a esperança, de não desejar o passado como o povo de Israel quando perdeu as cebolas do Egipto, pois não é esse o desejo de Deus. Perante este sentimento, as bem-aventuranças falam-nos de uma grande recompensa para aqueles que esperam e confiam em Deus. Porquê preocuparmo-nos em começar uma nova etapa? Desconfiamos daquele que deu a sua vida por nós?
Não sou ingénuo. Sei que as dificuldades que enfrentamos ao longo da nossa vida são muitas e por vezes muito duras, mas Ele prometeu estar connosco, todos os dias, até ao fim do mundo. Na Sua companhia, o jugo é suave e leve.
O regresso ao trabalho, aos estudos, às tarefas domésticas ou pastorais pode tornar-nos preguiçosos, mas lá está Ele à nossa espera. O Espírito Santo está sempre vivo, sempre em movimento, atraindo-nos para fora do cenáculo e para os telhados, zonas menos seguras onde é Ele, e não nós, que fala em línguas. Tal como o pomo de ouro no universo de J. K. Rowling, a sua agitação é caprichosa e rápida, não é fácil de seguir e não é fácil de apanhar. Muitas vezes, ficamos perplexos quando vemos como ela desorganiza os nossos planos e nos diz: "Vamos, começa de novo". Não poderia ser tudo tão fácil como no verão, não poderíamos voltar a ser como éramos antes?
Para não rejeitar os seus impulsos que nos tiram da tibieza, é preciso ter uma fé como a de Abraão. Ele veria oportunidades e desafios onde outros vêem obstáculos intransponíveis ou inimigos empenhados em nos irritar. Ele veria oportunidades e desafios onde outros vêem obstáculos intransponíveis ou inimigos empenhados em nos aborrecer; ele sentiria o apelo de Deus para se levantar e ir para um lugar melhor onde outros sentem medo, agarrando-se às nossas estruturas como uma criança se agarra à mãe no seu primeiro dia de escola; ele olharia para o futuro quando nós estamos deprimidos por não podermos voltar ao passado.
Chegou o fim do verão, a nossa atividade muda, mas o Senhor dá-nos uma promessa para este novo percurso: "Nunca, nunca te esquecerei".
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.
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Mongólia: Esta é a nação que acolhe o Papa Francisco
No início de setembro, o Papa Francisco pisou o solo da Mongólia. O que foi em tempos um vasto império no século XIII é hoje um país de contrastes, caracterizado por uma grande variedade de tribos e tradições.
Será uma viagem curta e invulgar. O Papa Francisco abre o mês de setembro com uma visita à Mongólia. Esta nação quilométrica, onde as estepes intermináveis se encontram com os desertos e as cadeias montanhosas do norte, alberga uma pequena comunidade católica, pastoreada pelo mais jovem cardeal da Igreja atual, D. António Maria da Silva. Giorgio Marengo.
Uma história rica em tribos e impérios antigos
A idade de ouro da história da Mongólia está indissociavelmente ligada ao nome de Genghis Khan, cujo império, no século XIII, chegou a ocupar regiões do que é atualmente a China, a Europa Oriental e partes da Índia e da Rússia, entre outras. A população do que era então o grande império mongol atingiu mais de 100 milhões de habitantes.
Um século mais tarde, o império mongol iniciaria um declínio que seria acentuado pela conquista do trono pela China. No século XVII, a China passou a controlar totalmente a Mongólia. O império foi dividido e a presença da dinastia chinesa Qing seria uma constante até ao início do século XX.
A queda da dinastia Qing levou a um breve período de independência das regiões central e setentrional da Mongólia, mas, em 1918, estas áreas voltaram a estar sob controlo chinês.
Em 1924, com o apoio da União Soviética, foi formada a República Popular da Mongólia. Foi nessa altura que a cidade de Ulan Bator (literalmente "Guerreiro Vermelho" em mongol) foi estabelecida como capital.
No seu período comunista, a Mongólia manteve-se próxima da órbita soviética e não do bloco comunista chinês. O governo soviético aproveitou esta situação para utilizar a Mongólia como base para "controlar" o seu homólogo chinês.
O sistema comunista da Mongólia durou até 1990, altura em que os comunistas abandonaram o controlo do governo. Em 1992, foi adoptada uma Constituição que criou um Estado híbrido presidencialista-parlamentarista.
A Mongólia caracteriza-se pela multiplicidade de tribos nómadas que, desde tempos remotos, percorrem e habitam as suas vastas paisagens. Uma história de tradições e coexistência diversas, marcada nos últimos tempos pela procura da paz, nas palavras de Bruni.
Catolicismo na Mongólia
O catolicismo representa atualmente 0,04% da religião do povo mongol. Uma nação dominada pelo budismo tibetano, pelo xamanismo tradicional e pelo Islão (em menor escala). Nas últimas décadas, a Mongólia tem assistido ao crescimento de comunidades cristãs, católicas, evangélicas e outras denominações protestantes. Esta multiplicidade de denominações estará presente no encontro ecuménico e inter-religioso.
A história do catolicismo na Mongólia está ligada à história da Congregação do Imaculado Coração de Maria (ou Missionários de Scheut), fundada pelo belga Theophilus Verbist. Esta história missionária é uma das características da sua comunidade católica, como ele quis sublinhar no briefing para a imprensa, o diretor da Sala Stampa, Matteo Bruni.
Verbist foi um dos primeiros missionários a entrar na nação asiática. Este carisma de apostolado entre os não-cristãos, caraterístico dos Missionários do Imaculado Coração de Maria, levou outros membros da congregação a terras mongóis ao longo dos séculos. De facto, em 1863, a Congregação de Propaganda Fide confiou a esta congregação a administração da missão na Mongólia.
Theophil Verbist morreu em Laohoukeou, uma cidade da Mongólia Interior, a 23 de fevereiro de 1868. A presença da comunidade foi uma constante até hoje, tanto no seu ramo masculino como no feminino.
Na época soviética, a proibição da prática religiosa era particularmente severa para as confissões cristãs cuja presença, pelo menos em números oficiais, era praticamente inexistente.
Em 1991, a Mongólia e a Santa Sé estabeleceram relações diplomáticas e foi restabelecida uma comunidade de Missionários do Imaculado Coração de Maria. O P. Wenceslao Selga Padilla chegou à Mongólia e foi nomeado superior eclesiástico da missão sui iuris de Urga (antigo nome de Ulan Bator).
O Padre Wenceslau foi nomeado o primeiro prefeito de Ulaanbaatar por São João Paulo II em 2002, aquando da criação da prefeitura. O Padre Padilla é uma das figuras mais recordadas e amadas pelos mongóis, a sua especial atenção e cuidado com as crianças de rua, os sem-abrigo, os deficientes e os idosos foi uma constante até à sua morte em 2018, e sem ele não se compreende o restabelecimento do culto católico na capital mongol.
Atualmente, o Anuário Pontifício do Vaticano recenseia 1.394 católicos em todo o país. Estão distribuídos por 8 paróquias, servidas por 25 sacerdotes (6 diocesanos e 19 religiosos). Para além destes, há 5 religiosos não sacerdotes, 33 religiosas, 1 missionário leigo e 35 catequistas. Um facto encorajador é que a Mongólia tem atualmente 6 seminaristas maiores.
Uma pequena comunidade fiel a Roma a quem o Papa dirigirá palavras de encorajamento.
A viagem papal
O Papa inicia a sua 43ª viagem papal à Mongólia no dia 31 de agosto. Uma viagem longa que, juntamente com o estado de saúde um pouco delicado do Papa, fará com que os eventos, com exceção do acolhimento oficial no aeroporto, comecem um dia depois da chegada do Santo Padre ao país.
Entre os acontecimentos desta viagem, cuja agenda que podem ser consultados no sítio do Vaticano, destaca-se o encontro com os bispos, sacerdotes, missionários, consagrados e agentes pastorais na Catedral dos Santos Pedro e Paulo. Este templo, construído na última década, faz lembrar na sua estrutura as tradicionais yurts mongóis e a sua silhueta faz parte do logótipo oficial da viagem.
No dia seguinte, o Teatro Hun será palco de um encontro ecuménico e inter-religioso, um dos pontos centrais da viagem, no qual participarão representantes de quase todas as religiões presentes no país: budismo tibetano, xamanismo tradicional e várias denominações protestantes.
Talvez uma das questões mais marcantes desta viagem seja a ausência total de representantes ortodoxos nesta reunião. A comunidade ortodoxa tem uma pequena presença na Mongólia, localizada em Ulan Bator, e depende da Igreja Ortodoxa Russa, liderada pelo Patriarca de Moscovo. Neste sentido, Mateo Bruni sublinhou, durante a conferência de imprensa, que "a porta está sempre aberta".
Na tarde de domingo, 3 de setembro, será celebrada a Santa Missa na Arena da Estepe. São esperados peregrinos não só da Mongólia, mas também da China, da Rússia, de Macau, da Coreia do Sul, do Vietname, do Quirguizistão e de outros países.
O toque final: a casa da Misericórdia
Sem dúvida, um dos momentos mais aguardados desta viagem será o encontro que dará o toque final a esta visita: a inauguração da Casa da Misericórdia.
Este projeto, iniciado há quatro anos, acolhe especialmente mulheres e menores vítimas de violência doméstica. Dispõe igualmente de um espaço destinado a acolher os sem-abrigo e servirá também de abrigo temporário para os imigrantes.
Um toque final importante, como sublinhou Mateo Bruni, foi o facto de concluir este percurso com um apelo a "cuidar dos mais pobres".
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Passaram 60 anos desde que Martin Luther King Jr. disse a famosa frase "Eu tenho um sonho".
O dia 28 de agosto marcou o 60º aniversário do evento que assinalou um dos momentos mais importantes da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos: "A Marcha pelo Emprego e pela Liberdade".
Gonzalo Meza-31 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 5acta
O dia 28 de agosto assinalou o 60º aniversário do acontecimento emblemático que marcou um dos momentos mais importantes da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos em Washington D.C.A Marcha pelo Emprego e pela Liberdade. Nessa ocasião, 250 000 pessoas marcharam do Monumento George Washington para o Memorial Abraham Lincoln, no National Mall, para protestar contra a discriminação racial e apoiar o que, na altura, era apenas um projeto de lei sobre direitos civis a ser aprovado no Congresso dos EUA.
Esse apelo, lançado em 28 de agosto de 1963, foi lançado pelo grupo conhecido como os "Seis Grandes" do movimento dos direitos civis dos EUA: James Farmer, John Lewis, A. Philip Randolph, Roy Wilkins, Whitney Young e o Reverendo Dr. Martin Luther King Jr.
Os participantes na marcha exigiram a igualdade perante a lei para todos: brancos, negros, asiáticos, hispânicos, sem distinção. Este acontecimento foi uma das pedras angulares que moldaram a luta pelos direitos civis na América. Uma batalha que estava em curso desde os anos 50, mas que viria a concretizar-se com uma série de acontecimentos fundamentais. Em primeiro lugar, a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos no histórico veredito Brown v. Board of Education de 1954.
O Tribunal decidiu que as leis que estabeleciam a segregação racial nas escolas públicas eram inconstitucionais, mesmo quando essas instituições se regiam pelo princípio "segregados mas iguais". Este veredito anulou assim a decisão "Plessy v. Ferguson", de 1896, que declarava constitucional a segregação racial. O caso "Brown v. Board of Education" teve início quando, em 1951, uma escola pública de Topeka, no Kansas, se recusou a matricular na escola a filha de um afro-americano chamado Oliver Brown. A sua família e doze outras pessoas intentaram uma ação judicial no Tribunal Distrital do Kansas. A decisão foi negativa e, por isso, Brown, juntamente com Thurgood Marshall, recorreu da decisão para o Supremo Tribunal. Marshall viria mais tarde a tornar-se um dos maiores juristas americanos e o primeiro afro-americano a ser eleito para o Supremo Tribunal.
O boicote aos autocarros
Outro acontecimento que marcaria a história da luta pelos direitos civis foi o chamado "boicote aos autocarros de Montgomery", Alabama, iniciado por Rosa Parks, uma mulher americana que foi presa por se recusar a ceder o seu lugar num autocarro de transporte público a uma pessoa branca. Até ao início da década de 1950, os afro-americanos só podiam sentar-se na parte de trás do autocarro. Por este comportamento, foi presa e multada. Esta situação levou a um boicote aos autocarros públicos de Montgomery, liderado por um pastor batista pouco conhecido, Martin Luther King Jr.
A manifestação do Alabama seria seguida por outra na Costa Leste, os chamados "Greensboro Sit-ins". Em 1960, um grupo de estudantes universitários afro-americanos foi a uma loja Woolworth em Greensboro, na Carolina do Norte, para comprar artigos e decidiu ficar a almoçar ao balcão. Ao vê-los confortavelmente sentados e prontos a pedir comida, a empregada disse-lhes enfaticamente: "Lamento. Aqui não servimos negros. E foi-lhes pedido que se retirassem. Quando os estudantes se recusaram, o gerente interveio. No entanto, eles persistiram e permaneceram sentados ("sit-in") nos bancos do balcão até ao fecho da loja. Esta mesma ação de "sit-in" repetiu-se noutras lojas semelhantes da região. Embora muitos dos que participaram nos sit-ins tenham sido presos por "conduta desordeira" e "perturbação da paz", as suas acções tiveram um impacto que transcenderia as fronteiras da Carolina do Norte, uma vez que a Woolworth's e outros estabelecimentos públicos viriam a eliminar as suas políticas segregacionistas alguns meses mais tarde.
A marcha de agosto
A luta pelos direitos civis atingiu o seu auge na "Marcha pelo Emprego e pela Liberdade", em 28 de agosto de 1963, em Washington D.C. O evento contou com a presença de várias celebridades, incluindo Bob Dylan e vários lutadores pelos direitos civis, como Rosa Parks e Myrlie Evers, entre outros. O discurso final do evento foi proferido pelo reverendo Martin Luther King Jr. ao pé do Memorial de Abraham Lincoln, o presidente que em 1863 tinha proclamado a emancipação de três milhões e meio de afro-americanos escravizados. Martin Luther King Jr. disse: "Tenho um sonho: que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos se possam sentar juntos à mesa da fraternidade. Tenho um sonho: que um dia, mesmo no estado do Mississippi, um estado que arde com o calor da injustiça, que arde com o calor da opressão, seja transformado num oásis de liberdade e justiça. Tenho um sonho: que um dia, no Alabama... os rapazes e raparigas negros possam dar as mãos aos rapazes e raparigas brancos, como irmãos e irmãs.
Um ano após esta marcha histórica, o Congresso dos EUA aprovou a Lei dos Direitos Civis de 1964, que proibia a discriminação civil e laboral com base no sexo ou na raça. Desde essa data até à atualidade, registaram-se avanços e vitórias legislativas em matéria de direitos civis.
Uma luta que continua
No entanto, há ainda muito trabalho a fazer, como reconheceu o Arcebispo de Baltimore William E. Lori, numa mensagem que proferiu por ocasião do 60º aniversário da Marcha sobre Washington D.C.: "Talvez nos sintamos confortados com os progressos que fizemos até agora. Ou talvez tenhamos a falsa convicção de que chegámos a uma sociedade pós-racial, na qual, como salientou o Dr. King, as pessoas não são julgadas pela cor da sua pele. No entanto, basta olharmos para as desigualdades sociais em termos de saúde, riqueza e prosperidade entre grupos raciais nos EUA para percebermos que ainda não chegámos a esse ponto.
Estas disparidades sociais, diz Lori, são as consequências persistentes do racismo que prevaleceu no país durante décadas e que alguns apelidaram de um dos pecados originais da América. Perante isto, o Bispo Lori disse que é necessária uma conversão contínua do coração. Para o fazer, é necessário voltar-se para a doutrina social da Igreja, enraizada na dignidade da pessoa humana. "A sociedade pacífica e compassiva com que o Dr. King sonhou requer a graça de Deus e o nosso empenho em ensinar, aprender e praticar acções não violentas para promover a mudança social." O Arcebispo Lori pediu uma reflexão sobre o racismo a partir de duas reflexões pastorais de sua autoria chamadas "O poder duradouro do Dr. Martin Luther King Jr. e os princípios da não-violência" de 2018 e "A jornada para a justiça racial: arrependimento, cura e ação" de 2019.
As consequências de décadas de segregação racial ainda se fazem sentir 60 anos após a histórica marcha na capital do país. O sonho do Dr. King ainda não foi realizado tal como ele o imaginou. "E quando isto acontecer e quando deixarmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar em todas as cidades e aldeias, em todos os estados e em todas as cidades, poderemos apressar a chegada do dia em que todos os filhos de Deus, brancos e negros, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar, nas palavras do velho cântico espiritual negro: "Finalmente livres! Finalmente livres! Graças a Deus Todo-Poderoso! Finalmente somos livres".
A cruz como caminho de salvação. 22º Domingo do Tempo Comum (A)
Joseph Evans comenta as leituras do 22º Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera apresenta uma breve homilia em vídeo.
Joseph Evans-31 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
As grandes religiões do mundo têm tentado abordar o problema do sofrimento de diferentes formas. O budismo propõe uma forma ascética de nos tentarmos libertar de todas as paixões, aspirando a um distanciamento tão radical que nos permita ser indiferentes até ao sofrimento. O cume do pensamento judaico e islâmico é reconhecer o pouco que sabemos e que o sofrimento faz parte de um plano divino maior que nunca poderemos, nem sequer deveremos tentar, compreender. Temos apenas de o aceitar. Vemos esta abordagem no livro de Job do Antigo Testamento. Mas o cristianismo, baseado na vida de Jesus e na profecia de Isaías que anunciava um Messias que salva o povo através do sofrimento (algo que o antigo Israel nunca poderia aceitar), passou a ver no sofrimento um caminho para a salvação, a nossa e a dos outros. No Evangelho de hoje, Jesus anuncia esse caminho aos apóstolos, mas Pedro, ainda demasiado influenciado pela sua educação judaica, escandaliza-se com essa possibilidade.
"A partir desse momento, Jesus começou a dizer aos seus discípulos que tinha de ir para Jerusalém, onde teria de sofrer muito às mãos dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas, e que teria de ser morto e ressuscitado ao terceiro dia. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo: "Longe de ti, Senhor! Isto não te pode acontecer.
Pedro comete um erro tão grande que Nosso Senhor tem de o repreender publicamente. "Ele disse a Pedro: "Afasta-te de mim, Satanás! Tu és uma pedra de tropeço para mim, porque pensas como os homens e não como Deus". Ao tentar desviar Jesus da sua Paixão, Pedro estava a agir, ainda que sem querer, como um instrumento de Satanás, pois é através do sofrimento que Cristo nos salvará. É um mistério que nunca compreenderemos completamente. Mas, pelo menos, podemos perceber que o mal causa necessariamente sofrimento e que, aceitando o seu "aguilhão" na união amorosa com Deus, podemos transformar algo mau em algo bom. O veneno do pecado traz sofrimento, mas podemos aceitar esse sofrimento e vencê-lo através do "antídoto" do amor. Assim insiste Nosso Senhor: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". Devemos estar dispostos a perder esta vida, explica ele, para ganhar a outra. Com a mesma visão, S. Paulo exorta-nos a apresentar "os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o vosso culto espiritual". Aceite com amor, o sofrimento pode tornar-se uma forma de culto, pelo menos corporal, mesmo que a nossa mente não esteja suficientemente clara para rezar. O profeta Jeremias, na primeira leitura de hoje, embora não compreenda plenamente o poder salvador do sofrimento, vislumbra-o na sua determinação de continuar a proclamar a palavra de Deus, mesmo que seja ridicularizado por isso. Vale a pena fazê-lo fielmente, mesmo quando "...".a palavra do Senhor tem sido para mim um opróbrio e um desprezo quotidiano".
Homilia sobre as leituras do 22º Domingo do Tempo Comum (A)
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.
Papa exalta Catarina Tekakwitha, primeira santa indígena americana
Esta manhã, o Santo Padre Francisco elogiou São Francisco de Assis, o Catalina Tekakwitha, primeira O Papa elogiou o seu "grande amor à Cruz perante as dificuldades e as incompreensões", "sinal definitivo do amor de Cristo por todos nós". O Papa encorajou "para que também nós saibamos viver o quotidiano de forma extraordinária".
Francisco Otamendi-30 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 4acta
Um dia antes de iniciar a sua viagem apostólica "ao continente asiático, para visitar os irmãos e irmãs de MongóliaO Romano Pontífice retomou esta manhã a série de catequeses sobre "A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente", para as quais o Papa pediu que "me acompanhem com as vossas orações". O tema da sua reflexão foi a primeira santa nativa da América do Norte, Catarina Tekakwitha.
Nas suas primeiras palavras na Sala Paulo VI, repleta de fiéis de vários países, o Papa Francisco recordou no seu discurso ao Papa o Público em geral algumas características da biografia da santa americana. Como ela disse OmnesCatarina Tekakwitha nasceu em 1656 em Ossernenon, que fazia parte da região de Confederação Iroquesa. Esta união de nações tinha a sua capital no atual Estado de Nova Iorque. Catarina era filha de um chefe moicano e de um índio algonquino (do leste do Canadá). A sua mãe era cristã, mas o seu pai era pagão, pelo que a jovem índia só se converteu verdadeiramente à fé aos dezoito anos.
"Muitos de nós - sublinhou o Papa - também fomos apresentados ao Senhor pela primeira vez no ambiente familiar, especialmente pelas nossas mães e avós. A evangelização começa muitas vezes assim: com gestos simples e pequenos, como os pais que ajudam os filhos a aprender a falar com Deus na oração e lhes falam do seu amor grande e misericordioso. Os fundamentos da fé de Catarina, e muitas vezes também de nós, foram lançados desta forma.
Quando Catherine tinha quatro anos de idade, uma grave epidemia de varíola atingiu a sua aldeia. Os pais e o irmão mais novo morreram, e Catarina ficou com cicatrizes no rosto e com problemas de visão. "A partir de então, Catarina teve de enfrentar muitas dificuldades: certamente as físicas, devido aos efeitos da varíola, mas também as incompreensões, as perseguições e até as ameaças de morte que sofreu depois do seu batismo no Domingo de Páscoa de 1676", recordou o Papa.
"Uma santidade que atrai".
"Tudo isto fez com que Catarina sentisse um grande amor pela cruz, sinal definitivo do amor de Cristo, que se entregou até ao fim por nós. De facto, testemunhar o Evangelho não é só agradar, é também saber carregar as cruzes de cada dia com paciência, confiança e esperança", disse o Papa Francisco.
A sua decisão de ser baptizada "provocou mal-entendidos e ameaças entre o seu próprio povo, pelo que teve de se refugiar na região dos moicanos, numa missão dos padres jesuítas. Estes acontecimentos despertaram em Catarina "um grande amor pela cruz, que é, por sua vez, o sinal definitivo do amor de Cristo por todos nós". Na comunidade, distinguiu-se pela sua vida de oração e pelo seu serviço humilde e constante" às crianças da missão, a quem ensinou a rezar, aos doentes e aos idosos.
Na missão jesuíta, perto de Montreal, Catarina "assistia à missa todas as manhãs, fazia adoração diante do Santíssimo Sacramento, rezava o terço e levava uma vida de penitência", "práticas espirituais que impressionavam todos na Missão; reconheciam em Catarina uma santidade que atraía porque nascia do seu profundo amor a Deus", disse o Santo Padre.
"Viver o quotidiano de forma extraordinária".
Apesar de ter sido encorajada a casar-se, continua o Papa, "Catarina, pelo contrário, queria dedicar a sua vida inteiramente a Cristo. Impossibilitada de entrar na vida consagrada, fez voto de virgindade perpétua a 25 de março de 1679, solenidade da Anunciação. A sua escolha revela um outro aspeto do zelo apostólico: a dedicação total ao Senhor. É claro que nem todos são chamados a fazer o mesmo voto que Catarina; no entanto, cada cristão é chamado a empenhar-se diariamente, com um coração indiviso, na vocação e na missão que Deus lhe confiou, servindo-O e ao próximo em espírito de caridade", disse.
Francisco sublinhou que "em Catarina Tekakwitha, portanto, encontramos uma mulher que deu testemunho do Evangelho, não tanto com grandes obras, porque nunca fundou uma comunidade religiosa ou qualquer instituição educativa ou caritativa, mas com a alegria silenciosa e a liberdade de uma vida aberta ao Senhor e aos outros. Mesmo nos dias que antecederam a sua morte, ocorrida aos 24 anos de idade, a 17 de abril de 1680, Catarina cumpriu a sua vocação com simplicidade, amando e louvando a Deus e ensinando a fazer o mesmo àqueles com quem convivia. De facto, as suas últimas palavras foram: "Jesus, eu amo-te.
"Em suma - concluiu o Papa - ela soube dar testemunho do Evangelho vivendo o quotidiano com fidelidade e simplicidade. Que também nós saibamos viver o quotidiano de forma extraordinária, pedindo a graça de sermos - como esta jovem santa - autênticos seguidores de Jesus".
Canonizações em França e na Polónia
Na sua saudação aos peregrinos de língua francesa, o Papa fez uma referência especial "às Irmãs da Apresentação de Maria, que celebram o seu Capítulo Geral, à luz da recente canonização da fundadora Marie Rivier". E entre os peregrinos de língua inglesa,
saudou "os ciclistas que vieram de Inglaterra, com a garantia das minhas orações pelo seu empenhamento na luta contra o cancro", e em particular os de Malta e vários grupos dos Estados Unidos.
Na Polónia "aguarda-se com impaciência a iminente beatificação da família Ulma. Em muitas paróquias, a novena, que começará depois de amanhã, será uma preparação espiritual para o acontecimento. Que o exemplo desta família heróica", acrescentou o Santo Padre, "que sacrificou a sua vida para salvar os judeus perseguidos, vos ajude a compreender que a santidade e os actos heróicos se alcançam através da fidelidade nas pequenas coisas".
Ucrânia e segunda Laudato si'
Ao saudar os peregrinos de língua italiana, entre outros, o Papa renovou "a nossa proximidade e as nossas orações pela amada e atormentada Ucrânia, tão duramente provada por grandes sofrimentos".
O Papa recordou o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que se celebra esta sexta-feira, 1 de setembro. Reiterou a sua intenção de publicar uma segunda edição do Laudato si' 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Numa audiência com juristas, a 21 de agosto, Francisco revelou esta próxima exortação.
A família Ulma: uma vida normal, a base da sua extraordinária dedicação
Antes da próxima beatificação de Józef e Wiktoria Ulma e dos seus sete filhos, que terá lugar a 10 de setembro em Markowa, a Conferência Episcopal Polaca enviou uma carta pastoral aos fiéis. Trata-se de uma beatificação sem precedentes. Toda a família será levada aos altares, incluindo o bebé que Wiktoria estava à espera quando foi assassinada.
Ignacy Soler-30 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 10acta
Os factos são bem conhecidos: durante a Segunda Guerra Mundial, todos os membros da Família Ulma foram mortos por esconderem famílias judias nas suas posses. O filho mais velho tinha oito anos e o mais novo um ano e meio. A mãe estava à espera de um filho que já tinha sete meses.
Juntamente com eles, foram assassinados oito judeus das famílias Szall e Goldman, incluindo a filha mais nova desta última. Na carta publicada antes da beatificação, os bispos polacos sublinham que a família Ulma "é uma inspiração para os casamentos e as famílias modernas. A sua atitude heróica é um testemunho de que o amor é mais forte do que a morte", lê-se na carta do episcopado.
Mártires
O ato heroico da família Ulma foi reconhecido pela Igreja Católica como um martírio da fé. É lógico perguntar: porquê mártires? A motivação deste martírio é clara e eloquente: uma manifestação da fé cristã é a defesa amorosa da vida do próximo. Neste caso, não havia dúvidas, tudo foi facilitado pela decisão inovadora de São João Paulo II sobre a canonização de Maximiliano Kolbe. Foi então que o Papa polaco afirmou que, para reconhecer alguém como santo, basta provar que o candidato à santidade deu a sua vida por outra pessoa.
A beatificação de Maximiliano Maria KolbeA canonização do mártir, efectuada por S. Paulo VI em 1971, por várias razões, incluindo políticas, foi como defensor da fé, não como mártir. João Paulo II rompeu com a tradição e decidiu que dar a vida por um homem no campo de Auschwitz era motivo suficiente para a canonização como mártir, sem exigir o processo de um novo milagre. Este gesto, há quarenta anos, abriu o caminho para todas as beatificações e canonizações que se realizam com esta fórmula alargada, ou seja, dar a vida por outro homem, como consequência da fé cristã vivida, é um ato de testemunho de fé, é ser mártir.
"Ao preparar a cerimónia de beatificação, queremos contemplar a sua santidade e tirar dela um exemplo para os casamentos e as famílias contemporâneas. Será uma beatificação sem precedentes, porque pela primeira vez toda a família será elevada aos altares e pela primeira vez um nascituro será beatificado", escreveram os bispos.
Os bispos sublinharam que Józef e Wiktoria Ulma mostram a beleza e o valor do matrimónio baseado em Cristo. "O seu amor, concretizado na vida quotidiana, pode também motivá-los a abrir-se à vida e a assumir a responsabilidade pela educação da geração jovem. A atitude heróica do amor ao próximo deve levar-nos a viver não tanto para o nosso próprio conforto ou para o desejo de possuir, mas para viver como um dom de nós próprios aos outros.
"Enquanto aguardamos a beatificação, olhemos para o exemplo de uma família extraordinária que alcançou a santidade em circunstâncias de vida comuns. É uma inspiração para os casamentos e as famílias actuais.
Santidade extraordinária na vida quotidiana
"É preciso decidir ser santo! Os santos têm de descer das nuvens e tornar-se um ideal normal e quotidiano para os crentes". (Rev. F. Blachnicki. Cartas ao Prisioneiro, Krościenko 1990, pp. 15-16).
A família de Józef e Wiktoria Ulma viveu no início do século XX em Markowa, Podkarpacie. Tiveram sete filhos. Como chefe de família, Józef combinava o cuidado dos seus entes queridos com o trabalho árduo na quinta. Ao mesmo tempo, estava aberto ao desenvolvimento e ao conhecimento. Apesar do esforço que dedicava à gestão da quinta, conseguia arranjar tempo para se dedicar à sua paixão pela fotografia, apicultura, criação de bichos-da-seda, encadernação e horticultura. Construiu para si próprio uma máquina fotográfica e um moinho de vento, que utilizava para produzir eletricidade.
A paixão de Józef pela fotografia foi utilizada para registar não só a vida dos seus entes queridos, mas também eventos locais, igrejas e celebrações familiares. Também tirava fotografias por encomenda, retratos para documentos, graças aos quais se tornou conhecido em toda a região. Inspirava os outros não só com os seus conhecimentos e competências, mas também com a sua constante disponibilidade para ajudar e dar conselhos.
Wiktoria Ulma, nascida Niemczak, foi uma esposa e uma mãe exemplar, que se preocupou muito com a boa educação católica dos seus filhos. Provinha de um lar onde o princípio era que não se podia recusar ajuda a ninguém que pedisse. Foi sempre um apoio para o seu marido e, no momento em que tiveram de decidir acolher judeus ameaçados de morte, deu testemunho do seu amor pelos outros. Tentou introduzir uma atmosfera amável e amigável no lar, sublinhando que a família devia basear-se no respeito mútuo, na bondade e na devoção.
Józef e Wiktoria casaram-se a 7 de julho de 1935 na igreja local. Em breve a família começou a crescer. Nasceram Stasia, Basia, Władzio, Franuś, Antoś e Marysia e, na altura da sua trágica morte, Wiktoria estava num estado de felicidade com outra criança.
A família Ulma tratou o seu matrimónio como uma comunidade de pessoas que confiam, amam e procuram a santidade através do cumprimento fiel dos seus deveres diários. Na sua vida, realizava-se a essência do sacramento do matrimónio, no qual o próprio Cristo "permanece com eles, dá-lhes a força de o seguirem tomando a sua cruz, de se levantarem depois das suas quedas, de se perdoarem mutuamente, de carregarem os fardos uns dos outros". (Catecismo da Igreja Católica, 1642).
O seu amor humano foi purificado pela graça do sacramento do matrimónio, levado à plenitude e, pela força do Espírito Santo, impregnou as suas vidas de fé, esperança e amor.
A vida quotidiana do seu casamento baseava-se em gestos reais e concretos através dos quais Deus habita nesta diversidade de dons e de encontros. Viveram as promessas feitas no dia do seu casamento, cumprindo todos os dias a aliança do amor conjugal fiel.
Como afirmou o Papa Francisco durante a audiência de 28 de novembro de 2022, a família de Józef e Wiktoria Ulma deve ser "um exemplo de fidelidade a Deus e aos seus mandamentos, de amor ao próximo e de respeito pela dignidade humana".
Olhando para o exemplo da vida conjugal de Józef e Wiktoria, vale a pena perceber as nossas casas como lugares onde o amor de Deus é visível e pessoal, onde se manifesta em actos concretos, e onde Cristo está presente nos sofrimentos, nas lutas e nas alegrias da vida quotidiana. Ele fortalece e anima o amor, reinando com a sua alegria e a sua paz.
Casamento Ulma, aberto à vida
"A tarefa fundamental da família é servir a vida" (João Paulo II, Familiaris Consortio, 28).
Józef e Wiktoria descobriram a vocação para uma participação especial na obra criadora de Deus através da vida dos seus sete filhos. Apesar das condições difíceis, não temiam a adversidade. Confiavam na Providência de Deus. Acreditavam que Deus, ao dar a vida, também dá força para realizar plenamente a vocação à maternidade e à paternidade.
Preocupavam-se com a boa educação dos seus filhos, baseada nos valores do Evangelho. Viviam uma vida de fé sob o seu próprio teto. Transmitiram uma fé viva às crianças através do exemplo de vida e do ensino da oração. Os filhos aprendiam a falar com Deus vendo os pais fazê-lo. Na oração familiar, encontravam força para fazer sacrifícios diários e dar testemunho de Cristo. Os Ulma ensinaram os seus filhos a adorar Deus tanto na igreja como em casa. Introduziram-nos na experiência da Santa Missa e na prática do amor ao próximo.
Wiktoria, como mãe carinhosa, dedicava tempo aos filhos, ajudando-os a aprender, cuidando da sua criação e educação. A partir de relatos de testemunhas, sabemos que ela ensinava às crianças as tarefas domésticas e a limpeza dentro e fora de casa, cuidando dos irmãos mais novos e cuidando uns dos outros. Ele apreciava o ambiente de amor entre os irmãos. Viu-os formar uma comunidade enquanto trabalhavam, brincavam, passeavam e rezavam. Józef, por seu lado, ensinava os filhos a trabalhar na quinta e na horta e respondia às suas muitas perguntas.
Amor misericordioso
"O amor começa em casa e desenvolve-se em casa" (Madre Teresa de Calcutá), mas não acaba aí. Deve irradiar-se para os outros.
A vida dos Veneráveis Servos de Deus Józef e Wiktoria consistia em inúmeros sacrifícios e acções de amor todos os dias. O fruto da adoção deste modo de vida foi a decisão heróica de ajudar os judeus condenados ao extermínio. Não foi precipitada, mas foi o resultado da leitura da Palavra de Deus, que moldou os seus corações e mentes e, por conseguinte, a sua atitude para com os seus semelhantes. Para eles, a Bíblia era o verdadeiro livro da vida, como o comprovam as passagens marcantes do Evangelho, nomeadamente a parábola do Bom Samaritano.
Os Ulma, tentando viver como Cristo, pondo em prática o mandamento do amor no quotidiano, estavam dispostos a dar a vida pelo próximo. Józef e Wiktoria decidiram acolher oito judeus, apesar da ameaça de pena de morte por parte dos alemães por terem ajudado a esconder judeus. Três famílias refugiaram-se no sótão da sua pequena casa: os Goldmans, os Grünfelds e os Didners. Durante muitos meses, conseguiram arranjar um teto e comida, o que era um verdadeiro desafio durante a guerra.
A sua atitude altruísta teve um fim trágico a 24 de março de 1944. Os nazis alemães invadiram a sua casa, mataram cruelmente os judeus que estavam escondidos e depois Józef e Wiktoria foram assassinados à frente das crianças. A tragédia foi o assassínio de crianças. Józef e Wiktoria Ulma, conscientes do risco que corriam, sacrificaram as suas vidas para salvar judeus necessitados. A sua atitude heróica é um testemunho de que o amor é mais forte do que a morte.
Markowa: um povo de justos entre as nações.
Não se trata de uma tentativa de beatificar uma nação, nem de expor o lado positivo de uma grande parte da sociedade polaca durante a Grande Guerra. O objetivo é preparar uma bela cerimónia de beatificação de uma família que sacrificou a sua vida para salvar os judeus.
A base de dados do Instituto da Memória Polaca tem em arquivo os nomes de cerca de seis mil pessoas que pagaram com a vida por terem escondido judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A família Ulma não é exceção.
É de salientar o papel de inspiração cristã do movimento camponês na formação das atitudes de Józef e Wiktoria (Józef foi, entre outros, presidente do Comité de Educação Agrícola do Conselho Distrital da Juventude da República da Polónia "Wici").
Há uma lista de pessoas de Markowa que esconderam famílias judias. Eram eles Michał e Maria Bar, Antoni e Dorota Szylar, Józef e Julia Bar, Michał e Katarzyna Cwynar, Michał e Wiktoria Drewniak. Para além da família Ulma, cerca de 9 outras famílias participaram na ajuda. Graças a isso, provavelmente 21 judeus foram salvos em Markowa. O número de famílias que acolheram judeus, incluindo crianças, ascendeu a quase 36 pessoas.
Alguns descreveram Marków como "a cidade dos justos entre as nações". É melhor dizer que era uma cidade onde viviam muitos dos justos. No entanto, aqueles que participaram ativamente na ajuda aos judeus perseguidos não constituíam a maioria dos habitantes, porque nessa altura a cidade contava com cerca de 4.000 pessoas, dez por cento das quais eram judeus. Claro que isto não é surpreendente, porque o heroísmo não é um atributo da maioria da sociedade. Os grandes heróis são sempre aqueles que estão em minoria, e é por isso que são tão apreciados.
Entre os polacos também havia pessoas que entregavam judeus aos alemães, ou traíam famílias polacas que escondiam judeus, ou até participavam nesses assassínios. O ocupante encorajava-os. No entanto, por ocasião da beatificação de Ulma, vale a pena recordar que havia outras famílias na Polónia que, contrariando a lei alemã, ajudavam os judeus. Houve muitos polacos que se atreveram a ajudar. A família Ulma é a mais célebre, mas houve muitas mais e, graças a esta beatificação, o mundo pode descobrir que o comportamento humano e cristão até ao heroísmo não é propriedade de poucos.
O que é que a família Ulma nos está a dizer hoje?
A família Ulma é um exemplo de um "fenómeno muito grande" que foi o salvamento de judeus pelos polacos durante a Segunda Guerra Mundial. Não foram dezenas, nem centenas, nem milhares, mas centenas de milhares de pessoas que participaram nesta atividade. Salvem os judeus" era, sem dúvida, o lema de muitos polacos. Esta atividade foi sistematicamente organizada e levada a cabo pelo Estado e governo clandestinos polacos no exílio. Ajudar os judeus era oficialmente um dos objectivos do Estado clandestino.
A família Ulma e o seu comportamento são vistos hoje como uma atitude ética especial que deve ser mantida na Polónia. A atitude dos Ulma, na qual vemos hoje o maior heroísmo, poderia ter sido entendida de forma diferente durante a guerra.
Na altura, muitos não o consideraram um ato de heroísmo. É necessário conhecer o contexto do antissemitismo polaco antes da guerra - tanto o antissemitismo popular como o antissemitismo de elite - e o contexto da cruel lei alemã que proibia ajudar os judeus.
A família Ulma deveria ser um modelo para o mundo, o seu exemplo deve continuar a estar presente na Polónia. Na Polónia do pré-guerra havia atitudes anti-judaicas, havia um verdadeiro conflito de interesses nacionais e económicos, mas nunca ao ponto da discriminação legal como no Terceiro Reich. Mesmo pessoas com atitudes anti-judaicas antes da guerra, como Zofia Kossak-Szczucka, pediram ajuda aos judeus perseguidos pelos alemães.
Vale a pena notar que os Ulmas são um exemplo de santidade na vida quotidiana, uma santidade que a história pôs à prova. É preciso saber que em Markowa prevaleciam relações normais de vizinhança entre polacos e judeus. É impossível compreender a história da família Ulma sem conhecer a história do povo de Markowa.
Enquanto aguardamos a beatificação, olhemos para o exemplo de uma família extraordinária que alcançou a santidade em circunstâncias de vida comuns. É uma inspiração para os matrimónios e as famílias modernas. Józef e Wiktoria Ulma mostram, acima de tudo, a beleza e o valor do matrimónio baseado em Cristo, onde a graça de Deus é o fundamento de tudo.
O seu amor concretizado na vida quotidiana pode também motivá-los a abrir-se à vida e a assumir a responsabilidade pela educação da geração jovem. A atitude heróica do amor ao próximo deve estimular-nos a viver não tanto para o nosso próprio conforto ou para o desejo de possuir, mas para viver como um dom de nós próprios aos outros.
O Papa concentra-se nos que vivem à margem da sociedade
A Rede Mundial de Oração do Papa Francisco publicou o seu vídeo de setembro. Nesta ocasião, o Papa pede orações para aqueles que "vivem à margem da sociedade".
O vídeo do Papa Francisco com o seu intenção de oração para setembro já foi tornado público. Durante este mês, o Pontífice pede aos católicos que rezem por aqueles que "vivem à margem da sociedade".
O Papa denuncia a indiferença generalizada. A tónica é colocada nos meios de comunicação social, onde a situação em que vivem mais de 700 milhões de pessoas não é denunciada. A "cultura do descartável", diz Francisco, "domina as nossas vidas, as nossas cidades, o nosso modo de vida".
Perante esta situação, o Santo Padre pede que "deixemos de tornar invisíveis aqueles que estão à margem da sociedade, seja por razões de pobrezadependências, doenças mentais ou deficiências". Desta forma, podemos passar de uma cultura do descartável para uma "cultura da aceitação".
Por isso, o Papa pede que "rezemos para que as pessoas que vivem à margem da sociedade, em condições de vida sub-humanas, não sejam esquecidas pelas instituições e nunca sejam descartadas".
José Ángel Saiz Meneses: "As confrarias têm cada vez mais uma consciência evangelizadora".
Pastoreia a arquidiocese de Sevilha desde 2021. Chegou a Sevilha vindo de Terrasa, o que significou uma mudança substancial no perfil da diocese. Sevilha é também um dos grandes epicentros da Semana Santa espanhola, uma das manifestações mais enraizadas da piedade popular e, dentro de pouco mais de um ano, a arquidiocese acolherá o II Congresso Internacional de Confrarias e Piedade Popular.
O Conta Twitter do Arcebispo de Sevilha, José Ángel Saiz Meneses (Sisante (Cuenca), 2 de agosto de 1956) relatou um facto: no dia 12 de agosto, o bispo auxiliar de Sydney, D. Richard Umbers, e uma equipa da sua diocese visitaram Sevilha durante vários dias para conhecer as Irmandades e Confrarias no terreno. No dia 12 de agosto, o bispo auxiliar de Sydney, D. Richard Umbers, e uma equipa da sua diocese visitaram Sevilha durante vários dias para conhecerem as Irmandades e Confrarias no terreno. Além de divertida, a anedota é reveladora: a piedade popular é, atualmente, o principal travão da secularização nos países ocidentais.
Este ano marcou também o trigésimo aniversário da visita doJoão Paulo II à aldeia de El Rocío. Ali, no coração de uma das devoções populares mais queridas de Espanha, o Santo Padre encorajou os católicos a aprofundarem "os fundamentos desta devoção, para poderem dar a estas raízes da fé a sua plenitude evangélica; ou seja, para descobrirem as razões profundas da presença de Maria nas vossas vidas como modelo na peregrinação da fé".
Recordando este acontecimento e tendo em conta a inegável força da piedade popular, os bispos das dioceses do sul de Espanha publicaram a Carta Pastoral "Maria, estrela da evangelização. O poder evangelizador da piedade popular".em que afirmam que a piedade popular "recolhe o melhor de cada cultura e transforma-o numa expressão viva da fé".
Nesta entrevista com Omnes, Mons. Saiz Menesesque já está a preparar o congresso sobre a piedade popular, sublinha como as "confrarias são uma realidade transversal, como a própria Igreja" e a piedade popular é, sem dúvida, "um dique de contenção contra a secularização".
A importância da piedade popular numa diocese tão importante neste domínio como a de Sevilha foi-lhe dada a conhecer: é realmente uma barreira contra a secularização?
-Eu vim para Sevilha há dois anos. Venho da Catalunha. Em Tarrasa, acompanhei 24 irmandades "rocieras" que não podiam ir ao Rochedo e que ali celebravam a sua peregrinação, com muito carinho. Era como uma plantinha de piedade popular. Aqui em Sevilha é uma floresta inteira. Nesta diocese temos Irmandades com milhares de irmãos e irmãs, algumas com mais de 16.000. Nestes últimos anos, não vi um único caso de supressão de qualquer confraria; por outro lado, houve contínuos pedidos de novas confrarias. Trata-se, portanto, de um fenómeno em crescimento.
Constatei que a metade sul de Espanha está menos secularizada do que a metade norte, e isso deve-se em grande parte ao mundo das Irmandades e Confrarias. Porquê? Porque a transmissão da fé, que é tão importante na vida e na pastoral da Igreja, continua a fazer-se de forma natural nas Irmandades.
Quando ele fala sobre isso forma naturalA que é que se refere especificamente?
-A fé transmite-se na Irmandades como que por osmose. Vive-se. Durante a Semana Santa, costumo aproveitar a oportunidade para ir à saída das procissões que posso, sobretudo nas paróquias de bairro. Fico impressionado ao ver mães vestidas de nazarenas, com crianças ao colo, que não estão a andar, também vestidas de nazarenas, e essa criança, quando começar a andar, irá com a mãe acompanhando a Virgem ou Cristo.
Monsenhor Saiz Meneses com o Papa Francisco.
No passado mês de junho, viajei com a comissão executiva do II Congresso Internacional de Irmandades e Piedade Popular para ver o Papa Francisco e lembrei-me deste exemplo. O Papa comentou que as mães usam um "dialeto materno" para transmitir a fé, que são elas que falam aos seus filhos pequenos da Virgem, de Jesus... que os levam consigo, nos seus braços, para essa fé.
Este facto é vivido com naturalidade nas confrarias e explica o abrandamento da secularização.
Há quem, ainda hoje, classifique a piedade popular como uma mera manifestação de "sentimentalismo"?
-Em duas caixas: a do sentimentalismo e a da baixa cultura. Há alguns anos, acima de tudo, parecia que a piedade popular pertencia a pessoas com pouca cultura. Que pertencia a pessoas com pouca educação que "não podiam aspirar a mais". Não é esse o caso.
Recebo muitos conselhos directivos de confrarias que vêm apresentar as suas acções e projectos e encontro empresários, directores de empresas, muitos professores universitários e conferencistas. A par deles, os trabalhadores independentes, os operários, os empregados... As confrarias são uma realidade transversal, como a própria Igreja.
A piedade popular não é para analfabetos, é uma forma de encontrar Deus: a via pulchritudinis que não só é perfeitamente válida para o encontro com Deus, como é complementar a uma via mais especulativa. Há muitas pessoas muito instruídas, muito cultas, para quem este caminho é o que mais as ajuda a encontrar Deus.
Considera que estão a ser feitos progressos na questão da formação nas confrarias?
As confrarias regem-se por regras em que há três pilares: o culto, a formação e a caridade.
Os serviços de culto são as celebrações solenes, que fazem muito bem.
A formação, de facto, é a área que custa mais, mas a formação permanente custa igualmente aos padres e aos bispos. Muitas vezes temos tantas urgências pastorais que a oração quase não chega..., quanto mais no caso dos leigos e leigas, pais e mães de família....
Por fim, a caridade. As confrarias têm um trabalho social e caritativo impressionante, por isso que mais podemos pedir?
Como é que a manifestação da fé, o empenhamento pessoal, é encorajada neste domínio?
-Para além das três dimensões já conhecidas, vemos gradualmente uma quarta dimensão a ganhar importância na vida das mulheres e dos homens. Irmandadessensibilização para a missão e a evangelização.
Em novembro de 2021, pouco depois da minha chegada a Sevilha, teve lugar a missão do Gran Poder. A estátua visitou os bairros mais pobres da cidade, esteve em cada uma das paróquias. Assisti a tudo o que pude, sobretudo às transferências. É impressionante: os rostos, os olhares das crianças, dos jovens e dos idosos, dos doentes...
A escultura de Nuestro Padre Jesús del Gran Poder tem, por si só, uma grande beleza estética e, sobretudo, uma força espiritual e religiosa que se podia sentir só de passar. "O Senhor de Sevilha que me vem ver", diziam as pessoas... Era algo muito grande.
Agora outras irmandades estão a levar a cabo estas missões. Esta dimensão está a ser reforçada, porque o ser humano é sensibilidade, sentimento, coração; é razão, compreensão; e é fé e espiritualidade. Os três níveis são necessários e complementares, não exclusivos. Então, porquê excluir este nível que tanto ajuda as pessoas? É uma tarefa pastoral que está a ganhar força.
Como é que a piedade popular se insere na paróquia, na comunidade e na vida quotidiana?
Quando explico a arquidiocese de Sevilha a pessoas que não a conhecem, indico-lhes: 264 paróquias, a maioria das quais muito activas em toda a diocese, 125 comunidades de vida ativa, 34 mosteiros e conventos de vida contemplativa. Juntamente com elas, todas as realidades eclesiais: Opus Dei, Caminho Neocatecumenal, Cursilhos de Cristandade, Focolarinos, Obra da Igreja, Ação Católica..., etc., etc. Todos com uma forte presença e vitalidade. E ao lado deles, 700 irmandades.
Perante esta realidade, a primeira coisa a fazer é não cair no comodismo e, sobretudo, o que devemos fazer é crescer na comunhão eclesial e na sinodalidade. Assim, unidos, o efeito pastoral e evangelizador será multiplicado.
No caso das confrarias, por exemplo, os seus directores espirituais são geralmente párocos das igrejas das aldeias, estão ligados a muitas paróquias e estão, portanto, unidos a esta vida paroquial. Por exemplo, os itinerários de catequese são feitos nas paróquias, não são duplicados.
Os bispos do Sul publicaram uma interessante carta pastoral sobre a piedade popular. Como evitar que ela seja esquecida?
-Certamente, com todos os documentos oficiais, há o perigo de que passem da imprensa para a estante. Em Sevilha, em preparação do II Congresso Internacional das Confrarias e da Piedade Popular, em dezembro de 2024, a formação permanente das Confrarias centrar-se-á este ano nesta Carta. Eu próprio dou sempre uma conferência aos Irmãos e Irmãs mais velhos, no início do curso, e falaremos sobre esta carta.
Como é que o Papa acolheu este II Congresso Internacional das Confrarias e da Piedade Popular?
-No passado mês de junho, apresentei o congresso ao Papa. Ele falou-nos da importância da evangelização da cultura e da inculturação da fé. Sublinhou a importância da piedade popular como aquela piedade pessoal, familiar, próxima, que se transmite em casa, através do dialeto materno.
Exortou-nos a reforçar este espaço, a acompanhá-lo e a sermos muito acolhedores. Além disso, o Papa pediu-nos que cuidássemos da "fé dos simples" e de todos. Aconselhou-nos a dar conteúdo e formação a esta área e a reforçar esta dimensão evangelizadora.
Insistiu também na coerência de vida, no facto de ajudarmos todos os fiéis a viverem uma vida social, profissional e eclesial coerente.
Ao fim da tarde, quando o intenso calor do verão já estava a diminuir, deparei-me com um grupo de raparigas, talvez com 14 ou 15 anos, a dançar em frente a um tripé com um telemóvel. Estavam a ensaiar uma coreografia simples ao som de uma música de fundo dos anos 90, mas a uma velocidade superior: um "speed-up" de algo de Alanis Morrisette. A composição do grupo e o espírito com que aceitaram o desafio para o Tiktok foi louvável. E estavam claramente a pôr em prática o conselho de Séneca: "Não há caminho suave da terra para as estrelas" ("Hercules furens"). Desde tempos imemoriais, cada geração tem enfrentado desafios únicos que definem a sua época. No entanto, essa verdade intemporal, expressa pelo filósofo Séneca nas palavras "...", não é apenas um desafio, é um desafio.Non est ad astra mollis e terris via".lembra-nos que não existe um caminho fácil da terra para as estrelas. É este o caminho que a nossa geração jovem, as almas entre os 15 e os 20 anos, está a começar a percorrer e, ao fazê-lo, os desafios que enfrentam são simultaneamente universais e específicos do seu tempo. Mas quão baixa é a fasquia, se a dança das redes sociais é a maior dificuldade para esta geração"... podemos pensar. De facto, se apenas enfrentam o drama do número de likes, é uma aspiração baixa. Nada a ver com uma guerra mundial (ou civil) ou com a fome e a pobreza de outras épocas.
Desafios actuais
Mas o futuro da nossa sociedade sofre de uma epidemia silenciosa e mais profunda. Os desafios desta geração são um pouco mais invisíveis e perniciosos. E eu gostaria de apresentar aqui os três efeitos mais claros da praga que os está a dizimar: o medo de serem únicos, o obstáculo da indiferença e o drama da miopia.
Não se trata de uma visão pessimista. Cada geração tem os seus desafios e as suas glórias. A história mostra-nos que em cada época surgem referências que, apesar da sua juventude, conseguem ter um impacto profundo na consciência colectiva. O Renascimento, por exemplo, foi uma época de ouro onde jovens como Leonardo da Vinci e Miguel Ângelo elevaram o espírito humano com a sua insaciável curiosidade e paixão pela descoberta e criação. Não é muito diferente do que fizeram jovens de fé, como S. Sebastião e Santa Teresa de Lisieux, ao mostrarem uma convicção inabalável nas suas crenças, mesmo em tempos difíceis.
Embora as referências culturais do passado possam oferecer lições, as circunstâncias actuais também têm as suas próprias peculiaridades. Neste mundo globalizado, a tecnologia trouxe consigo uma dupla espada: por um lado, democratizou o acesso à informação e permitiu ligações interpessoais para além das barreiras geográficas, mas, por outro lado, ampliou uma cultura de instantaneidade e de comparação social constante. As redes sociais, embora sejam poderosas ferramentas de comunicação, podem muitas vezes ser uma fonte de pressão, especialmente para os mais jovens, que podem sentir uma necessidade imperiosa de se conformar a certos moldes e procurar uma validação externa constante.
Os jovens revolucionários de hoje
Carlo Acutis, um jovem italiano que deixou este mundo com a tenra idade de 15 anos, é um exemplo inspirador de como se pode combinar fé, paixão e tecnologia para deixar um impacto duradouro. Carlo, que foi beatificado em 2020, utilizou a tecnologia para criar uma exposição virtual de milagres eucarísticos em todo o mundo. O seu mantra, "todos nascemos originais e morremos como cópias", é uma reflexão profunda sobre a importância de abraçarmos a nossa singularidade num mundo que favorece frequentemente a conformidade.
A realidade é que, embora todas as gerações tenham enfrentado o desafio de encontrar a sua identidade, os nossos jovens de hoje fazem-no num cenário inundado de estímulos e distracções. Muitas vezes, na sua busca de pertença, podem surgir tentações. Uma delas é a tentação de ser descomplicado ou, por outras palavras, de procurar o caminho de menor resistência numa cultura que favorece a gratificação instantânea. As recompensas duradouras, aquelas que realmente importam, requerem tempo, esforço e, por vezes, adversidade. É aqui que a analogia da construção de uma torre, pedra a pedra, ganha sentido. Cada esforço, cada pequena conquista, é mais um passo em direção ao culminar de um objetivo maior.
Outro desafio que enfrentam é o "drama da ignorância e da miopia". O desinteresse resulta muitas vezes da falta de exposição ao mundo em toda a sua diversidade e maravilha. É por isso que é essencial fomentar neles uma mentalidade exploratória, em que o desejo de descoberta se torna um motor de aprendizagem e crescimento. Sabrina Gonzalez Pasterski é um testemunho vivo deste espírito. Desde a construção do seu próprio avião aos 14 anos até ser reconhecida pelo seu trabalho em física teórica, Sabrina encarna o poder da dedicação e da paixão pela aprendizagem.
Por todas estas razões, é crucial que não só identifiquemos estes desafios, como também actuemos. Os jovens, com todo o seu potencial e energia, precisam de mentores, de guias que os ajudem a navegar nesta paisagem complexa. Enquanto sociedade, é nosso dever fornecer-lhes ferramentas, não só para ultrapassarem obstáculos, mas também para construírem um mundo melhor para todos. Imagino um mundo onde são criados espaços, como grupos de mentores ou workshops comunitários, que promovem o diálogo intergeracional. Onde as experiências e a sabedoria das gerações passadas se fundem com a frescura e o ímpeto da juventude.
Em última análise, enfrentar os desafios de criar uma nova geração não é tarefa fácil, mas com amor, apoio mútuo e acções conscientes, podemos ajudá-los a traçar o seu próprio caminho desde o chão até às estrelas. Porque, no final do dia, a nossa responsabilidade colectiva é garantir que o futuro está em mãos capazes, e quem melhor do que os nossos jovens para nos guiarem para um amanhã mais brilhante? Convido todos a juntarem-se a esta missão e a serem, a cada passo, o farol que guia as próximas gerações para um futuro cheio de promessas e de esperança.
Jovens católicos russos reúnem-se em São Petersburgo depois da JMJ em Lisboa
O 10º Encontro Nacional da Juventude Católica da Rússia teve lugar em São Petersburgo, de 23 a 27 de agosto de 2023, que este ano foi uma extensão da JMJ Lisboa 2023.
Loreto Rios-28 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 4acta
O 10.º Encontro Nacional de Jovens Católicos na Rússia realiza-se desde 2000. Em 2023, a primeira vez que se realiza em São Petersburgo, atraiu cerca de 400 participantes de 54 cidades russas e das quatro arquidioceses católicas da Rússia. Em 25 de agosto, o Papa Francisco dirigiu-se ao evento por videoconferência, proferindo um discurso sobre discursoOuviu os testemunhos dos jovens e respondeu a algumas perguntas. A sua participação durou pouco mais de uma hora.
Uma JMJ russa
Nesta ocasião, o evento foi concebido como uma extensão do JMJ Lisboa 2023 e seguiu uma estrutura semelhante, com missas em comum e catequese todas as manhãs em grupos de 25-30 pessoas, com base nos mesmos temas que os debatidos em Lisboa. Participaram os cinco bispos da Conferência Episcopal Russa: Paolo Pezzi, arcebispo da arquidiocese da Mãe de Deus em Moscovo (a principal arquidiocese da Rússia), e o bispo auxiliar Nikolai Dubinin; Clemens Pickel, da diocese de São Clemente em Saratov; Joseph Werth, da diocese da Transfiguração em Novosibirsk; e Kirill Klimovich, da diocese de São José em Irkutsk.
Para além dos jovens russos, participaram no evento estudantes estrangeiros da Arménia, do Azerbaijão, da Índia e da Colômbia, entre outros países, bem como religiosos e catequistas.
As jornadas tiveram início na paróquia da Visitação de Maria a Isabel, em São Petersburgo, fazendo eco ao lema da JMJ Lisboa, "Maria levantou-se e partiu sem demora" (Lc 1,39). Para além das missas, catequeses e serões de oração, o encontro incluiu momentos festivos e de oração pessoal e comunitária. Tal como em Lisboa, os peregrinos foram acolhidos por paróquias e famílias católicas de S. Petersburgo.
Católicos na Rússia: menos de 1 % da população
Oksana Pimenova, directora-adjunta do Instituto St. Thomas em Moscovo e uma das organizadoras da reunião, comentou com Agência Fides que "embora a Igreja Católica na Rússia seja constituída por pequenas comunidades espalhadas por um vasto território, estamos unidos por uma 'cadeia de apertos de mão': nem todos nos conhecemos diretamente, mas muitas vezes temos conhecidos em comum, e momentos como este ajudam-nos a crescer na comunhão e na amizade uns com os outros. Estar junto de pessoas tão diferentes na origem e na vocação significa poder reconhecermo-nos como parte de uma grande família que não conhece fronteiras, cujos membros, apesar da sua diversidade, são chamados a estar juntos".
Dois jovens católicos russos, Alexander e Varvara, deram o seu testemunho durante o dia. Depois de os ouvir, o Papa Francisco fez um discurso em espanhol, retomando algumas reflexões sobre o tema da JMJ Lisboa 2023.
Chamada para dentro e para fora
Em primeiro lugar, o Papa indicou que "Deus manda-nos sair e caminhar (...) Todos nós somos escolhidos e chamados (...) antes dos talentos que temos, antes dos nossos méritos, antes das nossas obscuridades e feridas, antes de tudo, fomos chamados. Chamados pelo nome, de vós para vós. Deus não vai ao monte, não. Deus vai de ti para ti.
Isabel, que era estéril, e Maria, a Virgem: duas mulheres que se tornaram testemunhas do poder transformador de Deus. Deus transforma. É essa experiência do amor transbordante de Deus que não pode deixar de ser partilhada. É por isso que Maria se levanta e parte sem demora, é rápido. Ela tem de se levantar à pressa. Quando Deus nos chama, não podemos ficar parados".
"Deus acolhe sempre".
A segunda ideia que o Papa sublinhou foi que "o amor de Deus é para todos e a Igreja pertence a todos. O amor de Deus reconhece-se pela sua hospitalidade. Deus acolhe sempre, cria, cria espaço para que todos tenham um lugar e sacrifica-se pelo outro, está atento às necessidades do outro. Maria ficou com Isabel durante três meses, ajudando-a nas suas necessidades. Estas duas mulheres estão a criar espaço para o nascimento de novas vidas: João Batista e Jesus.
Mas também criam espaço uns para os outros, comunicam. A Igreja é uma mãe de coração aberto, que sabe acolher e receber, sobretudo aqueles que precisam de mais cuidados. (...) A entrada é livre. E depois, que cada um sinta o convite de Jesus para o seguir, para ver como se encontra diante de Deus; e para este caminho há os ensinamentos e os Sacramentos. Recordemos o Evangelho: quando o mestre do banquete manda chamar as cruzes do caminho, diz: "Vai e traze-as todas" (cf. Mt.22, 9)".
Jovens e idosos
Em terceiro lugar, Francisco sublinhou que "é vital que os jovens e os idosos se abram uns aos outros. Os jovens, ao encontrarem os idosos, têm a oportunidade de receber a riqueza das suas experiências e das suas vivências. E os idosos, ao encontrarem os jovens, encontram neles a promessa de um futuro de esperança. É importante, jovens, dialogar com os idosos, dialogar com os avós, escutar os avós, escutar essa experiência de vida que vai para além da dos pais.
O ponto de encontro entre Maria e Isabel são os sonhos. Ambas sonham. A jovem sonha, a velha sonha. Foi precisamente o sonho, a capacidade de sonhar, a visão do amanhã que manteve e mantém unidas as gerações (...). Isabel, com a sabedoria dos anos - ela era velha - fortalece Maria, que era jovem e cheia de graça, guiada pelo Espírito".
"Artesãos da Paz
Por fim, o Papa comentou que deseja aos jovens russos "a vocação de serem artesãos da paz no meio de tantos conflitos, no meio de tantas polarizações de todos os lados, que assolam o nosso mundo. Convido-vos a ser semeadores de sementes, sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão de momento na terra gelada, mas que, numa futura primavera, florescerão. Como disse em Lisboa: tenham a coragem de substituir os medos pelos sonhos.(...) Dêem-se ao luxo de sonhar em grande!"
Para concluir, o Santo Padre usou a Virgem Maria como exemplo, pedindo aos jovens que "concebam" o Senhor "nos seus corações, e depressa, apressadamente, levem-no a quem está longe, levem-no a quem precisa dele. Sede um sinal de esperança, um sinal de paz e de alegria, como Maria, porque com a mesma 'humildade da sua serva', também vós podeis mudar a história que vos cabe viver".
Jovens russos em Lisboa
Menos de vinte peregrinos da Rússia vieram à JMJ de Lisboa, alguns dos quais, apesar de terem vindo com o grupo, eram estudantes estrangeiros. Deste grupo, apenas uma dezena era de nacionalidade russa.
Por seu lado, 300 peregrinos ucranianos participaram na JMJ em Lisboa. Pode ler a crónica sobre estes grupos aqui y aqui.
Carol Enhua recebe a fita da Dama de São Silvestre das mãos do Papa
Carol Enuha teve a imensa honra de receber do Papa Francisco a fita da Senhora de São Silvestre, em reconhecimento do seu trabalho de ajuda e apoio aos cristãos na Nigéria e nos Estados Unidos.
"Ir em frente e fazer a obra de Cristo" é o que Carol Enhua tem feito durante toda a sua vida. Talvez por isso o Papa Francisco tenha reconhecido os seus esforços e o seu ministério.
Não é todos os dias que se conhece alguém que tenha sido nomeado cavaleiro. No entanto, entre 1,3 mil milhões de católicos em todo o mundo, Carol Enuha teve a imensa honra de receber a fita da Senhora de São Silvestre das mãos do Papa Francisco. Esta honra especial é concedida a pessoas leigas cujo altruísmo e filantropia têm um impacto positivo nas suas comunidades, que "saem e fazem a obra de Cristo" e levam a sério a sua vocação de serviço.
Carol Enhua no dia em que recebeu a fita da Dama de São Silvestre (Copyright: Carol Enhua)
A Ordem de São Silvestre foi instituída pelo Papa Gregório XVI e posteriormente reformada. Esta prestigiosa condecoração é atribuída a homens e mulheres leigos que são membros activos da sua Igreja e que fazem uma mudança positiva na vida dos seus irmãos e irmãs.
A Omnes sentou-se com a Carol e descobriu que ela sempre ouviu o "chamamento" que Jesus colocou no seu coração. Tendo crescido na Nigéria, Carol testemunhou a pobreza extrema e a falta de esperança nas suas comunidades locais.
O bom samaritano
Aos trinta anos de idade, começou o seu ministério em Lagos, Nigéria. Carol sempre se sentiu chamada a servir a Igreja. Ela dizia: "Quando vejo uma necessidade, ajudo. Durante mais de quarenta anos, Carol, com a ajuda do seu marido, o Monsenhor Hyacinth Enuha, criou soluções para os seus vizinhos católicos e acendeu a esperança para muitos onde não havia nenhuma.
Não é de admirar que Carol tenha recebido este prémio papal único. A sua dedicação à sua comunidade é impressionante. Carol contou que uma vez viu uma escola na Nigéria que estava "em ruínas, sem teto". Como boa samaritana que era, e ainda é, disponibilizou os fundos necessários para demolir o edifício e depois mandou-o reconstruir.
"Destruí este templo, e eu o levantarei em três dias" (João 2:19). O que é que Jesus quis dizer com estas palavras aos fariseus? Talvez que, com Ele, nada pode ser destruído. Mas, se formos como Cristo nas nossas palavras, pensamentos e acções, podemos fazer todas as coisas através de Cristo.
Além disso, Carol angariou dinheiro para pagar duzentas pessoas que necessitavam de cirurgia às cataratas e ao glaucoma, proporcionou exames oftalmológicos por entomologistas e distribuiu óculos aos necessitados. "Vamos ter com eles onde estão os seus pontos de necessidade", diz Carol.
Foi também presidente da Clube Lyons e, durante o seu mandato, Carol organizou numerosos eventos de caridade e angariou somas substanciais de dinheiro para promover o seu trabalho missionário. No entanto, os seus esforços continuaram. Por exemplo, quando as paróquias locais na Nigéria precisavam de bancos, Carol doou mais de 200. Também doou um terreno em Ketu, Lagos, aos Oblatos de S. José para a construção de uma igreja. A lista continua. Carol arregaça as mangas e intervém quando há necessidade. Sabemos que Jesus nos ensinou que é mais gratificante dar do que receber, e Carol não procura adquirir presentes, mas sim dar.
Uma combinação perfeita
Carol conheceu o seu marido, o engenheiro Engr. Hyacinthn, quando ele estava numa viagem de negócios à Nigéria. Acabaram por se casar. E viajaram de um lado para o outro para Delaware, onde tiveram uma segunda casa durante muitos anos. Em 2015, porém, mudaram-se definitivamente para Nova Iorque e chamaram à Big Apple a sua nova casa, juntamente com os filhos e os netos.
O prémio e o reconhecimento da sua filantropia não lhe subiram à cabeça; mantém-se humilde e tenta servir o mais que pode na sua vida quotidiana e nas suas paróquias locais, onde adora ir à missa, rezar e criar laços com os seus paroquianos. Gosta de muitas coisas na sua Igreja local; por exemplo, "Há um sentido de comunidade; muita união entre os paroquianos, e isso sente-se realmente. E as pessoas preocupam-se connosco". Também aprecia quando os colegas paroquianos "... telefonam para saber onde estiveste quando não te vêem". Carol também comentou como os paroquianos são simpáticos. Há um sentimento palpável de apoio.
O seu ministério continua e a sua fé é inabalável. É membro fundador e secretária pioneira da Legião de Maria e de Nossa Senhora do Cenáculo, LOM, e leva a sério o seu prémio papal. A sua missão continua a ser a mesma: ela esforça-se por ajudar a sua comunidade, por restaurar a confiança de alguém, por incutir o amor eterno de Deus e por reconstruir o que quer que esteja partido, seja o coração de uma pessoa, a sua fé ou um edifício.
Com Deus tudo é possível
A vida é cheia de bênçãos, mas há alturas em que todos somos postos à prova. Mas a fé da Carol não vacila. Ao longo da nossa conversa, ela disse repetidamente que "o tempo certo chega sempre". "Não percas a esperança!
Partilhou que o Senhor estava e permaneceu próximo quando o seu marido teve um coração dilatado. "Nos grandes problemas e necessidades, Deus tem sido fiel e a nossa ajuda sempre presente.
O lema de Carol e da sua família é: "Com Deus, tudo é possível". Assim, com a Carol, o seu marido e o apoio e amor dos seus filhos Sandy, Uche, Abua e Oluchi, e dos seus queridos netos Harry, Charlie e Somtochukwu, não há nada que não possam fazer quando encarnam as virtudes que o bom Deus nos concedeu. E, quando os familiares de Carol e do marido virem a simples eloquência do exemplo pelo qual eles vivem, a bondade e a misericórdia multiplicar-se-ão.
Carol Enhua depois de receber o prémio (Copyright: Carol Enhua)
O pintor Philippe de Champaigne (1602-1674) representou Santo Agostinho com um coração flamejante na mão, para dar a entender que o pensamento e a doutrina de Santo Agostinho se resumem no amor.
Uma vez convertido, o próprio Santo Agostinho lamentou não ter amado Deus mais cedo e disse: "Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei" (conf. 10, 38).
A vida de Santo Agostinho é um intenso itinerário de purificação do amor, passando dos amores mundanos ao amor de Deus. Por isso, Agostinho retoma uma frase do poeta pagão Virgílio, que dizia Omnia vincit amor. Santo Agostinho diria que não é o amor deste mundo, mas o amor do caritas, é o amor de Deus que vence tudo. Foi assim que Santo Agostinho o entendeu quando ouviu a voz no jardim de Milão que o convidava a beber e a ler (Muito bem) as cartas de S. Paulo. Mas a aventura de Agostinho tinha começado mais longe.
Os seus primeiros anos
Santo Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354 em Tagaste (hoje Souk Ahras, na Argélia). Os seus pais eram Santa Mónica e Patrício. Depois de ter estudado na sua terra natal, aprendeu gramática em Madaura e, mais tarde, retórica em Cartago. Em Cartago, quando tinha dezoito anos, conheceu uma mulher com quem viveu durante quinze anos e com quem teve um filho, a quem deu o nome de Adeodato (conf. 4, 2).
Depois de ter ensinado Retórica em Cartago, emigrou para Itália em 383, em busca de novos horizontes (conf. 5, 14).
Viagem a Itália
Em Itália, encontrava estudantes mais formais do que em Cartago, mas que não pagavam os seus honorários (conf. 5, 22). Por isso, quando ficou vago o lugar de orador oficial na corte do imperador Valentiniano II, Santo Agostinho submeteu-se às provas estabelecidas para escolher o melhor candidato, e foi escolhido pelos seus extraordinários dotes de orador (conf. 5, 23).
Por volta do ano 385, Santo Agostinho partiu de Roma para Milão, onde se encontrou com o bispo da cidade, Santo Ambrósio, e ficou impressionado com o acolhimento caloroso e familiar que recebeu (conf. 5, 23). Em Milão, cumpriu a sua missão de orador oficial da corte, cabendo-lhe proferir várias peças oratórias sobre a efeméride da corte imperial.
O início da sua conversão
Em Milão decidiu regressar à religião que a sua mãe lhe tinha ensinado. De facto, Santo Agostinho nunca foi pagão. Desde a mais tenra infância, foi levado à Igreja, onde recebeu o rito de iniciação cristã e se tornou catecúmeno da Igreja Católica (conf. 1, 17). Por isso, depois de ter procurado a verdade por muitos caminhos -os maniqueus, os filósofos platónicos, os cépticos - regressou finalmente ao ponto de partida da sua busca, a Igreja Católica.
Os sermões de Santo Ambrósio mostraram-lhe que a verdade que procurava estava na Igreja Católica (conf. 5, 24)
Tocado e marcado pelas palavras de Santo Ambrósio, Santo Agostinho decide romper com a sua vida passada. Para isso, após a cena do Tolle Lege a que já fizemos referência (conf. 8, 29), abandonou as aulas de retórica e demitiu-se do cargo de orador oficial da corte do imperador Valentiniano II.
Batismo de Santo Agostinho
Na noite de Páscoa de 387, Santo Agostinho foi batizado em Milão por Santo Ambrósio (ep. 36, 32). Naquela noite, o pedido que a sua mãe Santa Mónica tinha apresentado insistentemente a Deus foi realizado, pois ela rezou e derramou abundantes lágrimas diante de Deus pedindo a conversão do seu filho (conf. 3, 21).
Depois do batismo, Santo Agostinho decidiu tornar-se monge e dirigiu-se para o porto de Óstia. Nesta cidade, juntamente com a sua mãe, experimentou o famoso êxtase de Óstia, em que ambos, sentados à janela que dava para o jardim da casa onde se encontravam, começaram a conversar sobre os mistérios de Deus e da vida eterna, elevando-se gradualmente acima das coisas desta terra até tocarem por um breve momento o próprio mistério de Deus (conf. 9, 23). A sua mãe Mónica morreu pouco tempo depois na mesma cidade de Óstia, onde foi sepultada (conf. 9, 17)
Regresso a Tagaste e à vida monástica
Em 388, Santo Agostinho regressou ao Norte de África. Em Tagaste fundou o primeiro mosteiro. Agostinho tinha o sonho de passar o resto da sua vida numa vida monástica tranquila, partilhando com os seus irmãos em comunidade e escrevendo as suas obras (ep. 10, 2).
No entanto, a providência de Deus tinha outros planos para ele. Assim, em 391, fez uma viagem à cidade de Hipona (atualmente Annaba, cerca de 100 km a norte de Tagaste) para visitar um amigo e ver a possibilidade de fundar um segundo mosteiro nessa cidade (s. 355, 2). Na celebração litúrgica daquela cidade, o bispo Valério pediu ao povo fiel que o ajudasse a escolher um novo colaborador no ministério sacerdotal para a cidade de Hipona. Os olhos de toda a assembleia estavam fixos em Santo Agostinho. E, como o próprio Hiponense assinala (s. 355, 2), foi literalmente agarrado pela multidão e levado à presença do bispo Valério para ser ordenado.
Padre de Santo Agostinho
Como padre, Agostinho foi chamado a lutar contra os seus antigos correligionários, os maniqueus. Começará também a trabalhar contra o cisma donatista, que afligiu o Norte de África durante quase um século.
Agostinho fez muitos sermões enquanto era sacerdote. Desta fase da sua vida, deixou-nos muitas obras de comentário bíblico, como o comentário ao Sermão da Montanha e a exposição da Carta aos Gálatas, entre outras.
Santo: Agostinho, bispo de Hipona
O bispo Valério não só agradeceu a Deus por lhe ter enviado Santo Agostinho, como começou a recear que um dia viessem de alguma diocese que não tivesse bispo e o levassem (Vita 8, 2). Por isso, pediu secretamente ao bispo primaz autorização para ordenar Agostinho como bispo. Assim, por volta do ano 395 ou 396, Agostinho foi ordenado bispo.
Como bispo, escreveu a sua obra mais famosa, a Confissõesbem como numerosas obras de exegese bíblica, obras teológicas, apologéticas, pastorais e morais, bem como as suas Regra que marcaria toda a tradição monástica ocidental.
Agostinho proferiu vários milhares de sermões enquanto bispo, embora só restem atualmente cerca de seiscentos.
A cidade de Deus
No ano 410, ocorreu um acontecimento que abalou o mundo na altura. As tropas góticas de Alarico entraram na cidade de Roma e saquearam-na durante três dias. Em consequência, os pagãos acusaram os cristãos de serem os culpados pelo saque de Roma. Afirmavam que Roma tinha sofrido tal humilhação porque o culto dos deuses que tinham tornado Roma grande tinha sido abandonado. Santo Agostinho respondeu a estas acusações com a sua obra-prima intitulada A Cidade de DeusNa primeira parte, critica a história e a religião pagãs e, na segunda parte, descreve o nascimento, o desenvolvimento e o culminar da cidade de Deus. Nesta obra, recorda-nos que cada crente é peregrino ou forasteiro nesta terra e está a caminho do seu destino eterno na cidade de Deus, onde "descansaremos e contemplaremos, contemplaremos e amaremos, amaremos e louvaremos" (ciu. 22, 5).
Santo Agostinho e o segundo hospital cristão
Uma faceta desconhecida de Santo Agostinho é a sua grande preocupação com os pobres e a sua criatividade para os ajudar nas suas necessidades. De facto, ele tinha uma maticula pauperum (ep. 20*, 2)Foi o fundador do hospital de Hipona, ou seja, tanto uma lista dos pobres de Hipona que eram ajudados periodicamente, como um lugar para recebê-los, uma espécie de "caritas" diocesana, algo que não existia noutras dioceses da época. Mas a grande contribuição social de Agostinho é o facto de ter sido o construtor do segundo hospital cristão da história. E se levarmos em conta o mundo latino, a obra de santo Agostinho é a primeira. Assim, para acolher e ajudar os pobres, os emigrantes e os doentes, ordenou a construção de um edifício em Hipona que chamou Xenodochium (s. 356, 10). Para Agostinho, a caridade não era apenas uma bela teoria, mas implicava um compromisso real com os pobres e os necessitados.
Os seus últimos anos e a sua morte
Os últimos anos da vida de Agostinho não foram tranquilos, mas marcados por várias polémicas teológicas e pelo desmoronamento imparável do Império Romano do Ocidente.
De facto, Agostinho morreu numa cidade sitiada, pois os vândalos tinham atravessado o estreito de Gibraltar em 429 e tinham iniciado um avanço imparável em direção a Cartago. Em 430, chegaram à cidade de Hipona e cercaram-na.
Santo Agostinho morreu a 28 de agosto, com 76 anos, numa cidade angustiada, rodeado pelas tropas inimigas dos terríveis vândalos. Mas Agostinho morreu com a consciência de que, embora algo estivesse a morrer com a queda do Império Romano do Ocidente, um novo mundo estava a surgir, e as suas obras seriam um guia espiritual, humano e teológico fundamental para esse novo mundo.
Os restos mortais de Santo Agostinho conservam-se atualmente na igreja de San Pietro in Ciel d'Oro, em Pavia (Itaia). Ali, na arca monumental dedicada a Santo Agostinho, podemos ver uma imagem reclinada do bispo de Hipona no topo do monumento. Esta imagem segura nas mãos um livro aberto. Este livro é a Sagrada Escritura. Santo Agostinho continua vivo nas suas obras e cada vez que lemos os seus escritos, ele mesmo nos explica a Bíblia e nos convida a um encontro com o Mestre interior, o mesmo que o chamou no jardim de Milão no ano 386 e que continua a chamar cada homem e cada mulher a "tomar e ler" as Escrituras para descobrir nelas que, apesar de todas as dores, o amor de Deus vence tudo (Omnia caritas vincit: s. 145, 5).
O autorEnrique A. Eguiarte B. OAR
Pontifício Instituto Patrístico Augustinianum (Roma)
Jesus caminha ao nosso lado, encoraja o Papa "feliz" com a sua viagem à Mongólia
No Angelus deste domingo, o Papa Francisco pediu orações para a sua viagem apostólica ao coração da Ásia, à Mongólia, que começa no dia 31. O Papa disse ainda que "Cristo não é uma recordação do passado, mas o Deus do presente". Jesus está vivo e acompanha-nos, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e confortam no nosso caminho, encorajou o Papa na festa de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho.
Francisco Otamendi-27 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
O Romano Pontífice disse esta manhã, durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro, que está "feliz" por se deslocar no dia 31 ao coração da Ásia, numa "visita há muito esperada" à Mongólia, "uma Igreja muito pequena em número mas grande em caridade", afirmou.
Trata-se de uma viagem num "contexto inter-religioso", acrescentou o Papa, que se desloca ao Estado mongol "como irmão de todos". O Papa agradeceu também a todos os que participaram nos preparativos da viagem.
Durante o seu visiteO Papa Francisco encontrar-se-á com as autoridades civis, o clero, as pessoas consagradas e os trabalhadores das instituições de caridade. Os programa da viagem inclui também um encontro ecuménico.
A Mongólia tem cerca de três milhões e meio de habitantes, com mil e quinhentos baptizados católicos locais reunidos em oito paróquias e uma capela, espalhadas por um vasto território de mais de um milhão e meio de quilómetros quadrados. Trata-se de uma comunidade pequena mas animada, informou a agência oficial do Vaticano num comunicado de imprensa. entrevista com o Cardeal Giorgio MarengoA visita do Papa é "uma graça especial e uma grande honra, um dom imenso", disse o Prefeito Apostólico de Ulaanbaatar, a capital do país da Ásia Oriental.
"Não estamos sozinhos
Antes da oração da adoração mariana do AngelusComentando o Evangelho em que Jesus pergunta aos discípulos "Quem dizem que é o Filho do Homem?", o Papa sublinhou que "no caminho da vida não estamos sozinhos, porque Cristo está connosco e ajuda-nos a caminhar, como fez com Pedro e os outros discípulos".
Pedro, no Evangelho de hoje, compreende isto e, por graça, reconhece em Jesus 'o Filho de Deus vivo'", sublinhou o Papa. "Não é uma figura do passado, não é um herói defunto, mas o Filho de Deus vivo, feito homem e que veio partilhar as alegrias e as fadigas do nosso caminho!
"Não desanimemos, portanto, se por vezes o cume da vida cristã nos parecer demasiado alto e o caminho demasiado íngreme", encorajou o Papa. "Olhemos para Jesus, que caminha ao nosso lado, que acolhe as nossas fragilidades, partilha os nossos esforços e apoia o seu braço firme e suave sobre os nossos ombros fracos. Com Ele perto de nós, estendamos também a mão uns aos outros e renovemos a nossa confiança: com Jesus, o que parece impossível sozinho já não é impossível.
Por fim, o Papa perguntou: "Para mim, quem é Jesus: um grande personagem, um ponto de referência, um modelo inatingível? Ou o Filho de Deus, que caminha ao meu lado, que me pode conduzir ao cume da santidade, onde não consigo chegar sozinho? Jesus está realmente vivo na minha vida, é o meu Senhor? Confio-me a Ele nos momentos de dificuldade? Cultivo a sua presença através da Palavra e dos Sacramentos? Deixo-me guiar por Ele, juntamente com os meus irmãos e irmãs, em comunidade?"
O Papa recordou as pessoas afectadas pelos incêndios na Grécia e voltou a rezar pelo sofrimento do povo ucraniano, fazendo referência a Santa Mónica, cuja festa a Igreja celebra, e quis rezar "por tantas mães que sofrem quando um filho se perde um pouco nas ruas da vida".
"Que Maria, Mãe do Caminho, nos ajude a sentir o seu Filho vivo e presente connosco", concluiu o Santo Padre, antes de rezar o Angelus com os fiéis na Praça de São Pedro.
Hoje lava a máquina de lavar roupa, envia uns relatórios, vai buscar os miúdos à escola, toma um café com os amigos, faz umas madeixas e continua a ser mãe e esposa. Santa Mónica, o paradigma da vocação familiar na Igreja Católica, provavelmente fez algo muito semelhante a nós, mas na sua versão do século IV.
Uma esposa e mãe sabe que nunca pode deixar de ser esposa e mãe. Hoje, lava a máquina de lavar roupa, envia alguns relatórios, responde a vinte e-mails, vai buscar as crianças à escola, toma um café com as suas amigas, faz umas madeixas para esconder os cabelos brancos e continua a ser mãe e esposa. Santa Mónica, o paradigma da vocação familiar na Igreja Católica, fez provavelmente algo muito semelhante a nós, mas na sua versão do século IV.
No ano 332, Mónica de Hipona nasceu na Argélia. É conhecida por ser a mãe do brilhante (e algo perturbado) intelectual Santo Agostinho. O seu amor incansável e a sua dedicação aos rapazes da sua casa, que sem dúvida lhe causaram tantas dores de cabeça, fizeram dela o paradigma da mulher e da mãe católicas. Paciente, bondosa, humilde, generosa, honesta, honesta, honesta... Santa Mónica viveu plenamente aquilo que São Paulo cantou sobre o caridade.
É fácil acreditar que Mónica de Hipona não tinha grandes ambições de grandeza na sua vida, o que a torna ainda mais um exemplo para viver o quotidiano. Cresceu no seio de uma família católica e foi educada por uma criada que partilhava a fé da casa. Quando ainda era muito jovem, casou-se com um membro do senado da sua cidade, Patrício. Este decurião era mais velho do que ela e tinha vícios que chocavam frontalmente com os da sua mulher: bebia, era libertino e tinha um temperamento violento.
Mónica suportou pacientemente todos os defeitos do marido. Ela sabia que tinha sido traída e suportava as explosões de raiva, mas não era um anjo impassível. Ela também precisava de respirar, de dar um passo atrás, sabe aquele café com os amigos que a traz de volta à vida depois de uma semana de trabalhos de casa de matemática com o seu filho? A santa teria o seu equivalente. Tagaste era uma cidade cheia de comércio e de cultura, pelo que não é difícil imaginar Mónica a passear pelas suas ruas, a divertir-se a conversar com um vizinho, a percorrer as bancas, talvez a acariciar o burro carregado de mercadorias, ou a sentar-se num banco da igreja, onde ia todos os dias rezar pelo marido, que hoje está tão bem disposto...
Sabemos por Santo Agostinho que a sua mãe passava muito tempo em oração pelos membros da sua família. Cada lágrima era oferecida a Deus e as suas orações eram atendidas. Patrício converteu-se no final da sua vida, morreu pouco depois de abraçar o cristianismo e Mónica decidiu não voltar a casar. Era altura de se dedicar totalmente aos seus filhos.
Os filhos do casamento não foram baptizados. O pai recusou-se a fazê-lo quando nasceram, pelo que os mais pequenos cresceram sem receber o sacramento. No entanto, Mónica fez o que todas as mães fazem: um gesto, uma frase, um olhar... A casa de Tagaste ficou, sem dúvida, impregnada do suave perfume de Cristo. Era um perfume delicado, mas a santa espalhou-o pelas divisões da casa, na esperança de que alguém percebesse a dica.
O famoso Agostinho não foi o único filho de Mónica a quem ela dedicou tais gestos maternais. Três dos seus descendentes sobreviveram à infância, um rapaz chamado Navigius, uma rapariga de nome desconhecido e o bispo de Hipona. Pouco se sabe dos irmãos do santo em comparação com ele, que deixou a sua própria biografia nas "Confissões".
Agustín diz de si próprio que desperdiçou a sua vida a ser preguiçoso. A sua inteligência e carisma abriram-lhe as portas para um mundo de descontrolo e sensualidade, que mais tarde condenou na sua obra. Apesar disso, fora de casa manteve uma relação estável com uma mulher e, aos dezassete anos, teve um filho, Adeodato.
Santa Mónica conhecia o estilo de vida do seu filho e sofreu por ele. No entanto, já se sabe que ela era uma mulher, um ser humano. Agostinho conseguiu perturbar a mãe, que o expulsou de casa quando o jovem voltou para ela, obcecado por um maniqueísmo e outras coisas sobre os jovens que ninguém entende. Mas o desterro não durou muito. Aparentemente, a santa recebeu numa visão o encorajamento para se reconciliar com o filho. Mónica abre de novo as portas para o regresso de Agostinho e continua a rezar com a convicção de que "o filho de tantas lágrimas não se perderá".
A paciência da mãe voltaria a ser posta à prova pouco tempo depois. O filho fugiu para Roma e Mónica, com aquele instinto maternal que segue os filhos até aos confins do mundo, foi atrás dele. Com deceção, apercebeu-se de que estava atrasada, pois Agostinho partiu para Milão antes de o santo chegar. A dor causada por este jogo do gato e do rato foi atenuada por um acontecimento essencial na vida do jovem: em Milão, conheceu o bispo Ambrósio, figura fundamental na sua conversão ao cristianismo.
Quando Santo Agostinho abraçou a religião da sua mãe, a vida de Santa Mónica conheceu um tempo de paz. Adeodato, Agostinho e Mónica viveram juntos na atual Lombardia. O menino foi batizado, mas morreu dois anos depois, quando ainda não tinha vinte anos.
Nessa altura, o espírito de Santa Mónica apelava a um regresso ao continente africano. A sua dedicação e oração estavam a dar frutos que ela começava a ver, era altura de descansar. No entanto, nunca mais voltou a pôr os pés na sua terra. Deus chamou Mónica em Óstia, Itália. A sua morte inspirou Agostinho a escrever as páginas mais belas das "Confissões", e a deixar a prova do legado da sua mãe: uma mulher que viveu plenamente a sua vocação de esposa e mãe, que acolheu as provações e as consolações.
Depois da sua morte, Santa Mónica começou a ser apontada como um exemplo para as mulheres cristãs. A sua vida consistia em carregar com amor o equivalente no século IV às nossas máquinas de lavar roupa, os nossos passeios com motorista entre os treinos de futebol e os aniversários, o silêncio antes do bufar dos adolescentes e a carícia de um marido amuado porque o Real Madrid não marcou um golo. Mulher e mãe, como ontem, como hoje, como sempre.
Santa Mónica a receber o cíngulo das mãos da Virgem Maria (Wikimedia Commons)
Cinema e família. Um livro para lidar com as grandes questões que aparecem no ecrã.
A influência do cinema nos jovens e na família, a forma como os avós são apresentados nas séries e filmes actuais, temas como o perdão ou a sexualidade em vários filmes são alguns dos tópicos que compõem o volume. Cinema e família. Descobrir valores através dos filmes da nossa vida..
Cinema e família. Descobrir valores através dos filmes da nossa vida. é coordenado por Daniel Arasa, diretor de Cinemanetuma associação que promove os valores humanos, familiares, sociais e educativos através do cinema.
O livro reúne as contribuições de especialistas em cinema ligados a esta associação, como Guillermo Altarriba, Isabel Rodríguez Alenza, Gloria Tomás e Alfonso Méndiz. Todos eles, cada um com as suas próprias nuances e abordagens, deram origem a um guia útil e dinâmico, altamente recomendado para pais e professores, que oferece pistas valiosas para a compreensão e, sobretudo, para a utilização da linguagem audiovisual como veículo educativo para os jovens.
Como sublinha o seu coordenador, Daniel Arasa, para a Omnes, "hoje, mais do que nunca, temos de ser treinados para ver e compreender o cinema, porque a sua influência e o seu poder como veículo de transmissão de valores é muito grande".
Arasa salienta que a própria indústria audiovisual sofreu grandes mudanças nas últimas décadas: "não só os aspectos técnicos mudaram, mas também a conceção das grandes questões".
De facto, "passámos de ir ao cinema ou de ver um filme específico com toda a família na sala de estar para cada membro da família ter talvez um aparelho onde se passam coisas muito diferentes, que não são vistas em conjunto, e depois, além disso, o boom das séries, que acabam por ser 8, 20 ou 200 pequenos filmes".
Daniel Arasa, coordenador do livro Cinema e família. Descobrir valores através dos filmes da nossa vida.
Esta mudança concetual e, sobretudo, o impacto na mudança de comportamentos sociais ou na normalização de diferentes situações é uma das chaves para a compreensão do livro e o principal objetivo do livro é ajudar os pais e os professores a criarem espaços de diálogo e de crítica com os jovens sobre questões fundamentais: a família, a mulher, a sexualidade, a dignidade e o amor.
Temas universais que aparecem, de uma forma ou de outra, em todos os filmes que chegam ao ecrã.
As grandes questões
"Todo o cinema - porque as séries são cinema noutro formato - fala, de uma forma ou de outra, dos temas-chave da humanidade: a pessoa, o amor, a família... embora o faça de forma tangencial", diz Arasa, "num filme de guerra, talvez o tema principal não se centre numa relação amorosa, mas fala de amor, por exemplo, a família das pessoas que estão a combater, as suas relações nesses momentos...".
Para Arasa, "a responsabilidade dos cineastas é algo difícil de delimitar. Mas penso que cada cineasta deve perguntar a si próprio se o que está a fazer eleva e dignifica a pessoa ou a degrada".
O livro descreve estes grandes temas e o seu tratamento em títulos que vão de Sophie Scholl ou Heidi a Padre no hay más que uno ou Frozen, sem esquecer séries como Gambito de Dama, Por trece razones ou Homeland. Entre estes temas, o livro destaca a família, o amor, o perdão...
"Não se trata de um livro que diz quais os filmes que se podem ver ou não", explica Arasa, "é preciso saber as razões pelas quais um filme ou uma série, por exemplo, não deve ser visto por menores, para lhes poder explicar as razões. Proibir só por proibir não é suficiente. É por isso que também queremos esclarecer alguns temas que aparecem em séries ou filmes que não recomendamos a ninguém.
Um livro útil
O livro Cinema e família. A descoberta de valores através dos filmes da nossa vida não é apenas uma tem uma estrutura simétrica. Como explica Arasa, "quisemos que cada uma das pessoas que escrevem, que estão ligadas ao Cinemanet há anos, contribuísse com o que sabe e o fizesse no seu próprio estilo. O objetivo é oferecer aos leitores, especialmente aos pais e educadores, um instrumento que lhes seja útil, que lhes seja útil e que lhes dê exemplos que possam utilizar.
O livro reúne a experiência dos mais de três lustros em que a Cinemanet se dedicou ao cinema e à formação das famílias através da sétima arte. Prova disso são os prémios "Família", que, todos os anos, a Cinemanet atribui a um filme estreado no ano anterior em Espanha e no qual, de uma forma ou de outra, se reflectem os valores humanos, familiares, educativos, sociais e cívicos promovidos pela organização. É também atribuído um outro prémio à personalidade do mundo cinematográfico (realizador, argumentista, ator, atriz, produtor, distribuidor...) cuja trajetória profissional e de vida reflecte estes valores.
Cinema e família. Descobrir valores através dos filmes da nossa vida.
CoordenadorDaniel Arasa
Editorial: Sekotia
Páginas: 320
Ano : 2023
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A verdade, da mais profunda caridade, também deve ser dita e exposta com pedagogia, no momento certo.
26 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
A Nova Roupa do Imperador de Hans Christian Andersen parece-me ser um conto extremamente atual. Vemos o Imperador a passear diante dos nossos olhos totalmente nu e ninguém se atreve a dizê-lo em voz alta para não fazer má figura. E à custa da nossa estupidez e do nosso medo, alfaiates alegadamente vigaristas, que conhecem muito bem o coração humano, enriquecem e fogem com o nosso dinheiro.
Quem se atreve a dizer que a finalidade da sexualidade humana é a união do casal e a reprodução da espécie e que a sua própria natureza é a da complementaridade entre o homem e a mulher? Citar simplesmente a Escritura e dizer que "homem e mulher os criou" (cf. Gn 1,27) já parece uma provocação.
Chesterton dizia que "chegará o dia em que será necessário desembainhar a espada para dizer que a relva é verde". Não sei se será necessário desembainhar a espada ou a caneta para defender a verdade, mas o que é certo é que se impôs uma tirania do politicamente correto em que, por defender o óbvio, se é tachado de radical ou ostracizado.
Mas temos de ousar dizer que o rei está nu. Não basta não fazermos eco desta ideologia e passarmos, como que em bicos de pés, sem nos pronunciarmos em silêncio. Há silêncios que são afirmações. Há verdades que, se não as proclamarmos, por mais óbvias que pareçam, ficam obscurecidas.
Talvez por isso me tenha ajudado ouvir D. Demetrio Fernández, bispo de Córdoba, que abordou este tema na catequese que deu na Dia Mundial da Juventude às perguntas dos jovens. Não se esquivou à pergunta difícil. E muitas outras perguntas incómodas sobre o aborto, a agenda 2030 e outras questões espinhosas para as quais os jovens procuram respostas.
Haveria muitas perguntas a fazer, com toda a justiça, sobre esta questão. O autor da pergunta Cui prodest, que beneficia, o que nos leva a olhar para os alegados alfaiates que nos venderam um fato que é falso e que escapam com o dinheiro do imperador. Porque não tenho dúvidas de que há uma confluência de interesses económicos, ideológicos e de poder para que assumamos esta nova ditadura ideológica.
Precisamos de uma criança com um olhar inocente, como na história ou como aconteceu com o profeta Daniel quando iam apedrejar a casta Susana, para nos fazer ver claramente o que não ousámos dizer por medo dos poderosos.
Devemos ser inocentes como as pombas e prudentes como as serpentes (cf. Mt 10, 16), porque em cada esquina se escondem aqueles que estão prontos a atirar pedras. A verdade, da mais profunda caridade, também deve ser dita e exposta com pedagogia, no momento certo.
Porque, mais uma vez para usar a sabedoria do jornalista inglês, "a aventura pode ser louca, mas o aventureiro deve ser são".
E hoje em dia não há aventura mais excitante e difícil do que dizer a verdade.
Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.
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A Spezieria di Santa Cecilia em Trastevere e a Sala da Cerâmica, ambas mesmo à saída da Capela Sistina, são as duas novas salas que podem ser visitadas nos Museus do Vaticano.
O primeiro recria a farmácia do século XVII, gerida por freiras beneditinas durante três séculos, enquanto o segundo recria o pavimento concebido por Rafael para algumas salas do Vaticano e outras obras únicas, como os 34 pratos da Coleção Carpegna.
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"De Union Square a Roma" ("De Union Square a Roma", um novo livro de memórias de Dorothy Day será lançado nos próximos meses. Day foi co-fundadora do Movimento dos Trabalhadores Católicos. A sua causa de santidade foi oficialmente aberta em 2000.
O governo de Daniel Ortega na Nicarágua dissolveu a ordem dos jesuítas. Este é apenas um dos últimos incidentes que assinalam uma escalada de violência contra os cristãos em vários países do mundo.
A tensão e a intolerância religiosa estão a aumentar em alguns países. Em 16 de agosto de 2023, várias igrejas, casas e um cemitério cristão foram atacados por uma multidão no Paquistão. Por outro lado, o regime de Daniel Ortega na Nicarágua dissolveu a ordem dos jesuítas no final do mês, depois de confiscar todos os bens da universidade e a residência da congregação no país. Estes incidentes são apenas uma amostra das ameaças enfrentadas por milhares de cristãos em diferentes países do mundo.
No caso da Nicarágua, a Igreja tem sofrido perseguições durante anos. Em 2022, um dos momentos mais tensos ocorreu quando o governo prendeu o Monsenhor Rolando Álvarez. O bispo permanece na prisão depois de ter recusado as oportunidades de desterro, considerando que os fiéis do país precisam que ele permaneça junto deles. O prelado é acusado de traição e as condições do seu cativeiro são em grande parte desconhecidas.
Na sequência da dissolução da ordem jesuíta acima referida, a Província Centro-Americana da Companhia de Jesus publicou um comunicado condenando a agressão e salientando que a repressão de que são vítimas é considerada um crime contra a humanidade. Por outro lado, os jesuítas assinalam que as acções do governo de Ortega se encaminham para "a plena instauração de um regime totalitário".
O comunicado apela ao fim da repressão e à procura de soluções que respeitem a liberdade das pessoas. Manifesta também a sua proximidade às vítimas da ditadura e agradece "as inúmeras manifestações de reconhecimento, apoio e solidariedade".
Perseguição no Paquistão
Ao mesmo tempo, o Paquistão está também a sofrer uma intensa perseguição religiosa. As leis de blasfémia do país são frequentemente aplicadas a grupos religiosos minoritários.
De acordo com os dados fornecidos pela organização evangélica ".Portas abertas"O nível de violência sofrido pelos cristãos no Paquistão é extremo. Além disso, "são considerados cidadãos de segunda classe e são objeto de discriminação em todos os aspectos da vida".
Os ataques às comunidades cristãs, principalmente nas províncias de Punjab e Sindh, incluem espancamentos, raptos, tortura, casamentos forçados e violência sexual. Apesar dos ataques, as vítimas afirmam que não existe qualquer autoridade para proteger os seus direitos e que a situação em termos de segurança é muito elevada.
O Arcebispo de Lahore, Sebastian Shaw, visitou as comunidades atacadas a 16 de agosto. A ele se juntaram vários líderes muçulmanos que quiseram mostrar o seu apoio e proximidade às vítimas. O Arcebispo Shaw encorajou os cristãos a confortarem-se uns aos outros, tornando-se "testemunhas do amor de Jesus".
Protesto no Paquistão contra ataques a comunidades cristãs (Foto OSV News /Akhtar Soomro, Reuters)
Os ataques na Nigéria
A Nigéria é o sexto país mais perseguido em termos de perseguição religiosa, de acordo com dados da Open Doors. Apesar dos ataques, quase metade da população é cristã. A maioria dos cristãos vive no sul do país, enquanto o norte é maioritariamente muçulmano.
Vários grupos violentos invadem aldeias cristãs, efectuam ataques e confiscam as terras das pessoas. Esta situação levou a que milhares de pessoas deslocadas internamente na Nigéria fugissem de assassinatos, raptos, tortura e marginalização.
Uma igreja na Nigéria depois de ter sido atacada por um grupo armado (OSV News photo / Temilade Adelaja, Reuters)
Dados sobre a falta de liberdade religiosa
Para ter uma visão geral da situação atual, "Ajuda à Igreja em situação de necessidade"O Parlamento Europeu publicou no seu relatório anual de 2023 dados sobre as violações da liberdade religiosa. A análise confirma que, dos 196 países do mundo, a liberdade religiosa é violada em 61. Destes, 28 países são objeto de perseguição, enquanto 33 países são alvo de discriminação.
As diferenças entre estes dois tipos de ataques à liberdade religiosa são também explicadas no relatório. Entre as características da perseguição estão os crimes de ódio e a violência, ou a aprovação de leis que afectam direta e negativamente os grupos religiosos. A discriminação, por outro lado, envolve condutas como limitações à liberdade de expressão, proibições do uso de determinados símbolos religiosos ou dificuldades no acesso ao emprego ou à habitação.
Entre os agressores da liberdade religiosa, há três grupos principais: o nacionalismo etno-religioso, o extremismo islâmico e os governos autoritários. A maior concentração de ataques no mundo encontra-se em África, que o relatório anual da "Ajuda à Igreja que Sofre" identifica como "o continente mais violento devido à propagação do jihadismo".
Os Evangelhos registam como Jesus viveu, durante a sua paixão e morte, dois processos judiciais paralelos: o judaico e o romano.
Gustavo Milano-25 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 5acta
Enquanto rezava entre as oliveiras, junto ao ribeiro de Cedron, o Messias é capturado. Os chefes judeus decidiram pôr fim àquele que teimava em afirmar que Deus se tinha encarnado.
Talvez pensassem que o Altíssimo já lhes tinha dado toda a revelação e que não havia mais nada a aprender. Talvez acreditassem que os seus intelectos eram, se não a fonte, pelo menos o limite da realidade.
O seu problema, no fundo, era um problema filosófico, muito semelhante a algo a que até chamamos "contemporâneo": assumir que só existe aquilo que eu consigo compreender. Ou seja, confundir o real com o racional, como fez Hegel.
O panorama que Jesus Deus abriu aos judeus teve a audácia de corrigir algumas formas tradicionais de entender os mandamentos divinos. A tradição, como meio eficaz de se relacionar com verdades conhecidas, tinha-se tornado um fim em si mesma.
Para essas pessoas, o objetivo das suas vidas não era conhecer e amar Deus através de actos de adoração, mas simplesmente repetir esses actos. Os seus óculos tinham-se transformado em ecrãs.
O processo judaico
Vindos da descida do Cedron para o seu primeiro destino, a casa do ainda prestigiado ex-supremo sacerdote Anás, os soldados que transportavam Jesus amarrado entraram provavelmente na cidade velha pela "porta dos Essénios".
É plausível que tenham passado em frente do cenáculo onde Cristo e os seus discípulos tinham celebrado a Eucaristia nessa noite, ou pelo menos que tenham visto o edifício nas proximidades, pois ambos ficavam a poucas ruas de distância. Jesus terá certamente olhado para o cenáculo e relacionado a sua recente "morte" sacramental com a sua próxima morte real.
Como referem Mateus e Marcos, houve uma discussão no Sinédrio nessa mesma quinta-feira à noite sobre o caso de Jesus, mas parece que a manhã de sexta-feira foi a decisiva, como nos diz Lucas.
Passou a noite de quinta para sexta-feira numa espécie de calabouço na mesma casa de Anás, onde se encontrava o seu genro, o então sumo sacerdote Caifás, que tinha dito: "Convém que morra um só homem pelo povo, e não que pereça toda a nação" (Jo 11,50). Assim, o caso já tinha sido julgado de antemão.
As acusações e condenações passam de religiosas a políticas, presumivelmente para ganhar o apoio romano para a execução, que já se esperava ruidosa na cidade. O silêncio inicial de Jesus é eloquente, e as suas palavras torrenciais - uma mistura poderosa de fortaleza e mansidão - revelam tudo o que ainda estava na tinta.
Uma capelinha nepótica, ciosa do seu poder religioso e social, tinha liderado esta perseguição mortal contra o filho de Maria, submetendo-o a um julgamento mais criminoso do que as acusações mais selvagens contra ele.
Ao contrário de outros membros das classes altas judaicas, como Nicodemos ou José de Arimateia, estes colaboradores anónimos de Anás e Caifás fizeram história sem entrar nela.
Entretanto, imagina-se que os três apóstolos que tinham tentado rezar com Jesus naquela noite no Getsémani (Pedro, João e Tiago Maior) foram avisar os outros oito (ou seja, onze, porque Judas Iscariotes já estaria longe do grupo). Pedro dir-lhes-ia que o Senhor não o deixaria deter os soldados, mas que continuaria a segui-lo, e João seria encorajado a acompanhá-lo.
Os outros, entre orações e angústias, dispersam-se para passar talvez a pior noite das suas vidas até então. Pedro, porém, também caiu. Primeiro foi a traição de Judas, depois o abandono dos nove e, por fim, as negações do príncipe dos apóstolos. Só João resistiu, seguro pelas mãos de Maria.
Nas negações do corajoso Pedro, perante a possibilidade de também o quererem matar, tornam-se mais visíveis os contornos da força de Jesus e do seu amor pela vontade de Deus Pai. Por um lado, há os soldados que caem por terra perante as palavras do Senhor; por outro, uma criada é capaz de dominar moralmente um pescador impulsivo e com tendências agressivas. Que contrastes, que diferença abismal entre Jesus e Pedro! Mas Pedro é corajoso ao ponto de ser capaz de chorar os seus erros.
Porque é que o Iscariotes não foi acusar o seu Mestre, se já o tinha entregue? Será que o que ele queria comprar com as trinta moedas de prata não podia esperar até à manhã seguinte? Ou será que, no Getsémani, quis dar a impressão de que não estava realmente a liderar a multidão que ia prender Jesus, mas que ia apenas saudar o Senhor com um beijo, e que agora lhe faltava a coragem para declarar a sua oposição a Cristo cara a cara? Talvez se tenha desculpado dizendo que era necessário um mínimo de duas testemunhas para que um testemunho fosse legalmente válido, como se esse processo fosse primordial para a legalidade! Em todo o caso, nunca foi tão claro que o pecado enfraquece a vontade de uma pessoa e a divide interiormente.
No entanto, é precisamente por isso que cada pecador tem pelo menos metade do seu coração ainda bom, e está pronto a ser perdoado e convertido se se arrepender na esperança.
No final, os membros do Sinédrio recebem uma declaração aberta de Jesus, confessando ser o Messias, o Filho de Deus. É o suficiente, do ponto de vista religioso não há mais nada a descobrir. Agora precisam da crucificação romana.
O processo romano
A Torre Antónia situava-se no bairro superior e nela residia Pôncio Pilatos, procurador da Judeia. O horário de funcionamento do pretório começava às nove horas da manhã, a partir da tomada de posse de Pilatos, no ano que hoje designamos por 26 d.C.
Alguns membros do Sinédrio ter-se-ão dirigido ao procurador, talvez em latim, tentando persuadi-lo a condenar este homem sedicioso, provavelmente já conhecido de Pilatos. Não era do interesse de Pilatos opor-se simplesmente aos líderes judeus, porque estes tinham muita influência sobre a população local.
Em tempos de "Pax Romana"A manutenção da ordem era considerada uma grande virtude do governante. Por isso, ouve-os, como ouve Jesus, e tenta criar o mínimo de inimizade possível, para não lhe dificultar a vida.
Pilatos não quer saber qual é a verdade, mas apenas que tipo de reino é este acusado. Mais uma vez, vemos uma tendência dita "contemporânea" que já estava presente há vinte séculos: o desprezo pela verdade, acreditando que aquilo que "... é a verdade".a sério"O que importa é o poder, seja ele político, económico, religioso ou cultural. O alcance do erro humano é, de facto, muito limitado.
Quando Pilatos soube que Jesus era galileu, teve a ideia de aliviar o seu fardo, enviando-o a Antipas. Atraído pela Páscoa, Herodes Antipas encontrava-se no seu palácio em Sião, no mesmo bairro alto. Mas Jesus não lhe dirigiu uma palavra. Herodes também O desprezou, diz o Evangelho (cf. Lc 23,11), Jesus que era a verdade (cf. Jo 14,6), e mandou-O de volta a Pilatos. Assim, pela primeira vez, os desprezadores da verdade tornam-se amigos. Antecipando o fim dos tempos, os perdidos já se estavam a reunir do mesmo lado.
Nem o sonho de sua mulher (cf. Mt 27,19), nem o costume do perdão, nem a flagelação preventiva conseguiram persuadir o procurador romano a ser justo naquele momento. Convém esclarecer que as redacções dos Evangelhos, por diversas razões históricas e religiosas, tendem a exculpar Pilatos e a culpar mais os judeus, pelo que convém refletir sobre a questão seguindo os actos concretos de cada um, mais do que as palavras ou as relações de causalidade que possam ser sugeridas.
A situação do procurador não era fácil; talvez só um ato heroico o pudesse tirar desta situação. Acabaria por ter de enfrentar toda uma revolta no seu próprio território, se não condenasse Jesus. No entanto, também ele cedeu à injustiça e preferiu matar um homem inocente sob tortura a arriscar o seu cargo político e talvez até a sua própria vida.
Eles são os mesmos, nós homens somos os mesmos: pagãos, judeus, cristãos, velhos, jovens, contemporâneos de Jesus, contemporâneos meus e teus.
Sem a ajuda de Deus, teríamos feito o mesmo ou pior do que os do primeiro século. Em breve, eles, tal como um filósofo de anteontem, dirão também: "Deus está morto, e nós matámo-lo".
O autorGustavo Milano
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A esbelta torre de tijolos vermelhos que emerge da silhueta escarpada das colinas que rodeiam a barragem de El Grado dá uma ideia exacta da situação de Torreciudad. Este centro de devoção mariana, enraizado há séculos na região e internacionalizado nos últimos quarenta anos, foi notícia pela nomeação de um reitor pelo bispo de Barbastro-Monzón.
O que é Torreciudad, porque é que o seu reitor foi nomeado não pelo bispo diocesano mas pelo vigário regional do Opus Dei em Espanha, e se esta decisão está de acordo com a lei da Igreja? Como é que a igreja é apoiada?
Um pouco de história
O que hoje é identificado como Torreciudad A igreja foi projectada pela equipa de arquitectos dirigida por Heliodoro Dols. Esta igreja foi construída na primeira metade dos anos 70 graças a doações de fiéis de vários lugares, incentivados pelo Opus Dei...
A nova igreja situa-se a poucos metros da antiga ermida do século XI, que albergava a imagem de Nuestra Señora de los Ángeles, padroeira da região.
A antiga ermida de Torreciudad
Entre 1960 e 1975, o fundador do Opus DeiEm 1962, São Josemaría Escrivá decidiu construir um novo santuário para promover a devoção a Nossa Senhora. Em 1962, celebrou um acordo com o bispado de Barbastro que, mediante escritura pública, cedia perpetuamente ao Opus Dei o domínio útil da antiga ermida e a custódia da imagem de Nossa Senhora, desde que se cumprissem as condições estabelecidas no contrato.
A nova igreja de Torreciudad pertence à Fundación Canónica Santuario Nuestra Señora de los Ángeles de Torreciudad.
A imagem da Virgem
A imagem da Virgem passou da antiga ermida para o novo edifício, quando este ficou concluído em 1975, depois de ter sido restaurado e de ter recebido a respectiva autorização do então bispo da diocese. Até então, o relevo acidentado da região não facilitava o acesso ao local, e o principal momento de devoção ocorria entre maio e outubro, quando a santera se deslocava para a ermida, onde normalmente não residia. A celebração da festa de Nossa Senhora, em agosto, era a data chave para a vida da ermida da Virgen de los Angeles de Turris Civitatis.
Desde então, a devoção ultrapassou em muito as fronteiras da região aragonesa. De facto, o Relatório Anual do santuário relativo a 2022 aponta Madrid como a principal origem dos peregrinos que vêm a Torreciudad, com 28.79%, seguida da Catalunha, com 26.95%, e da Comunidade Valenciana, com 12.71%. Os peregrinos de fora de Espanha representaram 14.82% de todos os que vieram a Torreciudad em 2022. Destes, a maioria veio da França (36.23% do total de estrangeiros), Portugal (7.39%), Estados Unidos (7.22%) e Polónia (7.13%).
O estatuto jurídico de Torreciudad não é atualmente o de um santuário diocesano, mas o de um oratório da Prelatura do Opus Dei. Por este motivo, desde o início, o reitor foi nomeado pelo Opus Dei. Na nota de 17 de julho de 2023, o bispado de Barbastro-Monzón referiu-se à necessidade de "regularizar a situação canónica do santuário" como justificação para a nomeação de um novo reitor pelo bispo diocesano.
O bispado não especificou a natureza desta irregularidade, mas o Opus Dei e o bispado tinham iniciado conversações para atualizar o quadro legal e transformar Torreciudad, se necessário, num santuário diocesano.
Neste caso, o bispo agiu aplicando as regras que considera aplicáveis, que são formadas pelos cânones 556 e 557 do Código de Direito Canónico.
Quem financia Torreciudad?
Desde a transferência para o Opus Dei do domínio útil da antiga ermida de Torreciudad, a Prelatura encarregou-se do seu restauro, manutenção e posteriores reparações, assim como de promover o culto e garantir o acesso dos peregrinos. Também pagou a construção da nova igreja num estilo sóbrio, enraizado na tradição arquitetónica local. A isto há que acrescentar a modernização dos espaços de evangelização que se realizaram em Torreciudad nos últimos anos, que deram lugar a modernos espaços museológicos e catequéticos.
O apoio financeiro do complexo de Torreciudad é da responsabilidade da associação civil Patronato de Torreciudad, uma organização sem fins lucrativos declarada de utilidade pública que inclui entre os seus objectivos o apoio ao santuário de Torreciudad e a promoção de peregrinações. Atualmente é presidido por uma mulher, Mª Victoria Zorzano. Este Patronato recolhe os donativos e contribuições necessários para cobrir as despesas de Torreciudad, que se somam às outras fontes de receitas. A diocese não efectua qualquer contribuição. Desde 1962, Torreciudad paga um montante à diocese como reconhecimento da nua propriedade, que continua a pertencer à diocese. O montante acordado na altura equivale atualmente a 19 euros por ano.
Quais são os próximos passos?
Em termos gerais, a história recente de Torreciudad caracteriza-se pela internacionalização da devoção mariana e, sobretudo, pela sua consolidação como lugar de oração da família e para as famílias.
Neste contexto, as Jornadas Marianas da Família são um grande número de celebrações anuais, muitas vezes presididas por bispos de numerosas dioceses espanholas, em que a santidade e o futuro da família são colocados nas mãos da Virgem Maria de uma forma muito especial.
A próxima, a 16 de setembro, será presidida pelo bispo da diocese de Barbastro-Monzón, D. Ángel Pérez Pueyo. Até essa data, deverá ser esclarecido se o reitor legítimo é, de acordo com a decisão do bispo e desde 1 de setembro, José Mairal, pároco de Bolturina-Ubiergo, ou o atual reitor. Ángel LasherasEsta última recorreu da última nomeação para o dicastério competente do Vaticano.
A sensação é a de que se poderá iniciar agora um longo processo judicial para determinar a validade dos argumentos apresentados por ambas as partes, mas também um período em que ambas as partes poderão conhecer melhor as razões de cada uma e chegar a um acordo que as tenha em conta.
As chaves do reino dos céus. 21º Domingo do Tempo Comum (A)
Joseph Evans comenta as leituras do 21º Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.
Joseph Evans-24 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
A monarquia davídica - ou seja, os reis da linhagem de David - organizava a sua casa de uma forma específica, que incluía um ministro-chefe que era o segundo no comando do rei. Em nome do rei estava "pai dos habitantes de Jerusalém e da casa de Judá".. Como sinal desta autoridade, recebeu uma chave ou chaves, tal como o mordomo-mor da casa de um homem rico pode possuir todas as chaves necessárias para abrir todas as portas da casa. De facto, a primeira leitura continua: "Abrirá e ninguém fechará; fechará e ninguém abrirá".
A imagem, escolhida deliberadamente por Jesus, ajuda-nos a compreender o Evangelho de hoje, em que Nosso Senhor dá a Pedro "...".as chaves do reino dos céus". Jesus faz de Pedro, e depois dele dos Papas, o seu ministro principal na terra, pai do novo povo que está a formar. E para tornar isto ainda mais claro, Nosso Senhor continua: "Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu". Tal como só o ministro-chefe pode abrir ou fechar algumas portas, também o Papa recebe uma autoridade que só a ele pertence. O que o papa "vincula", o que ele define com autoridade ou legisla permanentemente para que todos sigam ou acreditem, é ratificado no céu, mas apenas porque o céu inspirou isso nele: "Porque não foi a carne e o sangue que vos revelaram isto, mas sim o meu Pai que está nos céus". Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, o Papa exerce esta infalibilidade quando "proclama por um ato definitivo a doutrina em matéria de fé e de moral". (n. 891), ou seja, é um ensinamento destinado a durar, a ser sustentado para sempre, e não apenas uma questão de época. O Papa não é infalível sempre que abre a boca. De facto, ele exerce a sua infalibilidade muito raramente, embora na prática, mesmo nas suas afirmações ordinárias e quotidianas, possamos supor que ele tem muito mais orientação do Espírito Santo do que nós.
Deus não tem um conselheiro humano, nem mesmo angélico, como o sublinha a segunda leitura: "...Deus não tem conselheiro humano, nem mesmo angélico.Que abismo de riqueza, de sabedoria e de conhecimento é o de Deus! Quão insondáveis são as suas decisões e quão indetectáveis os seus caminhos! De facto, quem conhecia o pensamento do Senhor? Ou quem era o seu conselheiro? Mas mesmo que não consigamos "decifrar" os caminhos de Deus, Ele pode revelá-los. E fá-lo para nossa salvação. E tendo-nos revelado as Suas verdades salvadoras, faz sentido que Ele tenha encontrado uma forma de essas verdades serem transmitidas ao longo do tempo sem erros. A afirmação católica da infalibilidade papal não é arrogância da parte da Igreja. É antes um reconhecimento de que, precisamente por causa da fraqueza humana (muitas vezes vista nos papas), Deus interveio para garantir que essa fraqueza não prejudique ou limite a sua verdade. A infalibilidade papal mostra-nos simplesmente que o poder de Deus é maior do que a fraqueza humana.
Homilia sobre as leituras do 21º Domingo do Tempo Comum (A)
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.
Cristo no centro do processo educativo nas escolas católicas
agosto marca o início do ano académico nos Estados Unidos. Tanto as escolas públicas como as particulares regressam às salas de aula e as escolas católicas não são exceção.
Gonzalo Meza-24 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 5acta
O mês de agosto marca o início do ano letivo nos Estados Unidos. As escolas públicas e privadas do ensino básico, médio e superior regressam às salas de aula, dando início a um novo ano letivo. As escolas católicas não são exceção. Existem 5.920 escolas primárias e secundárias no país, com 1,7 milhões de alunos. Existem também mais de 200 universidades católicas frequentadas por cerca de 700.000 estudantes. A mais antiga é a Universidade de Georgetown, em Washington D.C., fundada pelos jesuítas em 1789.
Muitas escolas primárias e médias do país são "escolas paroquiais" que nasceram como parte integrante da comunidade paroquial e fazem parte da paróquia; outras são dirigidas por congregações religiosas dedicadas à educação. Estas instituições distinguem-se pela fé cristã e pelos princípios que transmitem aos alunos: a moral cristã, o respeito, o serviço e a auto-disciplina. Estas questões não são irrelevantes, sobretudo no ambiente das escolas públicas, locais onde são incutidas nos alunos ideias contrárias à fé, como a ideologia de género ou o aborto. Outro elemento pelo qual as instituições católicas se distinguem é a excelência académica e a inovação.
Nos últimos anos, algumas instituições católicas iniciaram programas para estarem na vanguarda da ciência e das humanidades, de modo a que os estudantes possam ter uma introdução precoce à ciência e às humanidades. universidade ou, pelo menos, chegar com uma base sólida. De acordo com o National Assessment of Educational Progress (NAEP), em 2021, os alunos das escolas primárias católicas tiveram um melhor desempenho em leitura e matemática em comparação com as escolas públicas. Da mesma forma, a taxa de conclusão do ensino médio é de 99%. 85% dos diplomados frequentam a universidade. As instituições educativas católicas integram a fé, a cultura e a vida nos seus currículos. Trata-se de um processo em que participam os alunos, os pais, os professores e os administradores. Os professores exercem a sua profissão como um serviço a Deus, à Igreja e à sua comunidade.
Escolas católicas em Los Angeles
Um dos locais onde milhares de alunos regressaram às salas de aula foi nas escolas católicas de Los Angeles. No dia 14 de agosto, 68.000 alunos iniciaram as aulas nas 250 escolas primárias e secundárias da Arquidiocese. Este ano letivo traz boas notícias: as inscrições estão a aumentar e os programas de ensino inovadores continuam. Paul Escala, Diretor e Superintendente destas instituições, afirmou: "Estamos muito satisfeitos por, após o fim da pandemia, as matrículas terem aumentado nos últimos dois anos. Este é o maior aumento em 30 anos. Três programas muito inovadores continuam a ter um bom desempenho: a "Rede STEM", ou seja, escolas com programas orientados para a STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática); o programa de imersão bilingue com um sistema de ensino duplo, inglês-espanhol e inglês mandarim; e também programas de micro-escolas, que, como o nome sugere, são instituições com uma comunidade de menos de 100 pessoas.
Paul Escala expressou também a sua gratidão à comunidade filantrópica que apoia financeiramente as escolas e torna possível que milhares de estudantes frequentem instituições católicas. Ao contrário de outros sistemas educativos no mundo, as escolas primárias e secundárias católicas nos Estados Unidos não recebem financiamento público direto do governo federal. São financeiramente autónomas; no entanto, há alguns estados que têm programas de ajuda financeira cujo funcionamento e elegibilidade variam de jurisdição para jurisdição. Estes programas incluem os cheques-ensino, em que as famílias com filhos nas escolas católicas recebem ajuda financeira, e os créditos fiscais, em que o Estado oferece incentivos fiscais aos contribuintes e às instituições de ensino para que concedam bolsas de estudo a estudantes carenciados. Nem todos os Estados têm este tipo de incentivos para o ensino católico, como é o caso da Califórnia.
Para saber mais sobre as escolas católicas, o Omnes entrevistou Erick Ruvalcaba, diretor da missão e identidade católicas das escolas católicas da Escolas católicas em Los Angeles.
As escolas católicas da Califórnia recebem algum apoio estatal ou federal, por exemplo, programas de cupões ou de créditos fiscais?
- Não. Embora as escolas públicas sejam apoiadas pelos impostos que todos pagamos, não temos esse benefício aqui. Sou pai e tenho filhos em escolas católicas. Pago impostos para subsidiar as instituições públicas de ensino. No entanto, tenho de fazer um sacrifício para pagar as propinas dos meus filhos. Mas vale a pena, porque nas escolas públicas os meus filhos não vão receber o que lhes damos aqui: valores e princípios cristãos baseados na fé.
Quais são as vantagens de uma escola católica em relação a uma escola pública?
- Cristo está no centro da experiência educativa nas nossas escolas. Formamos líderes com valores cristãos. Os nossos professores transmitem esta identidade católica aos seus alunos. Deus está no centro de tudo o que fazemos. A fé está integrada nas nossas actividades diárias, por exemplo, nas missas ao longo do ano, na oração que iniciamos antes de qualquer evento, académico ou desportivo. Acreditamos que a escola é um instrumento de evangelização da Igreja. Os sacramentos estão na base do nosso trabalho e os alunos têm acesso a eles. Os pais matriculam os seus filhos pelos valores espirituais que oferecemos, mas também pela excelente preparação académica. As escolas públicas não praticam a fé e os valores cristãos.
Em Los Angeles e noutras dioceses, há escolas que centram o seu ensino nas disciplinas STEM. Em que consistem estes programas?
- Temos sete escolas que fazem parte da Rede STEM. Estas escolas proporcionam uma educação holística que integra no sistema de aprendizagem a matemática, a ciência e a tecnologia aplicadas aos problemas do quotidiano. Também temos dez escolas que pertencem ao Programa de Imersão em Duas Línguas. Há o Mandarim (chinês) e o Espanhol. Estes programas educam as crianças a ler, escrever e dominar conteúdos académicos em duas línguas, bem como a fomentar um forte carácter moral baseado nas tradições da Igreja. E, finalmente, temos 3 escolas na "Rede de Micro Escolas". Estas são instituições com uma pequena comunidade de até 90 alunos, centradas na aprendizagem a nível pessoal.
Sabemos que existe a Fundação Católica para a Educação, que no ciclo 2021-2022 concedeu 13 milhões de dólares para beneficiar mais de 10.000 estudantes. Como é que as famílias podem beneficiar de uma bolsa de estudo?
- Uma em cada seis crianças nas nossas escolas tem bolsas de estudo. As famílias podem candidatar-se à bolsa de estudo na escola onde pretendem inscrever os seus filhos e, dependendo da sua situação financeira, receberão apoio. Cada escola tem o seu próprio programa de ajuda financeira. Os pais podem contactar os directores das escolas para saberem especificamente que tipo de apoio está disponível. Mas o dinheiro não deve ser um problema para inscrever os filhos numa escola católica.
Em janeiro de 2023, por ocasião da semana anual das escolas católicas nos Estados Unidos, o bispo Robert Barron observou: "Vivemos numa sociedade onde prevalece uma filosofia materialista e secular". "É por isso que estou convencido de que, especialmente agora, é necessário inculcar um ethos católico. As escolas católicas que frequentei (desde a escola primária até à universidade) deram-me a oportunidade de assistir à missa, aos sacramentos, às aulas de religião, tudo enriquecido pela presença de padres e freiras. Mas talvez o mais importante tenha sido a forma como estas escolas integraram a fé e a razão no processo educativo.
Leigo, celibatário, do Opus Dei: "O que mais te alegra é que toda a Igreja seja sal e luz para a sociedade".
Nesta entrevista, Pablo Álvarez, das Astúrias, explica a sua vocação ao Opus Dei e a sua contribuição para a missão evangelizadora através da vida quotidiana no seu trabalho e com os membros da paróquia a que pertence.
Dedicado à sua profissão, é membro da direção da Associação de Imprensa de Oviedo e do Colégio de Jornalistas das Astúrias. Pablo é adido do Opus DeiMantém uma relação estreita com os seus párocos e com os membros da sua comunidade paroquial.
Embora esteja habituado a ser ele a "fazer as perguntas" no seu trabalho profissional, explica a Omnes o que a sua vocação implica e influencia a sua vida quotidiana.
-Ser membro do Opus Dei significa que Deus o chamou e o colocou numa pequena parcela da sua vinha para que a cultivasse. Os frutos, se os há, são dados pelo próprio Deus, se não nos atrapalharmos demasiado. Estás contente com o facto de a tua parcela de terra ser produtiva, mas o que mais te alegra é que toda a vinha, toda a Igreja, é sal e luz para a sociedade. Apreciamos a grande produção das outras parcelas. Na Igreja, aqueles que se concentram no seu próprio particularismo não perceberam o objetivo.
De que forma participas na missão evangelizadora da Igreja?
-Nesta pequena parte do Opus Dei, a busca da santidade é cultivada e difundida nas ocupações quotidianas. Os Opus Dei Ajuda-me a lidar com Jesus Cristo o mais intensamente possível no meio de uma profissão muito competitiva e acelerada em busca de notícias, entrevistas, reportagens... Ajuda-me a desenvolver o meu trabalho de jornalista evitando o desleixo, sendo muito respeitador das pessoas e procurando dizer verdades que ajudem os cidadãos a situarem-se no mundo. Encoraja-me a esforçar-me por tornar a vida mais agradável para aqueles que me rodeiam.
Tudo isto me ultrapassa por todos os lados. Por isso, no Opus Dei ajudam-me a não desanimar e a levantar-me de cada vez que caio, o que costuma acontecer várias vezes ao dia.
Como é que o Opus Dei influencia a sua vida?
-De muitas maneiras, mas vou destacar uma: no Opus Dei dizem-me na cara o que estou a fazer mal, para tentar melhorar. Se consigo ou não, é outra questão, mas a lealdade dos outros dá-nos muita paz e muita liberdade: se fazemos algo errado, dizem-nos e até rezam para que mudemos. A vida cristã é óptima: é um antídoto radical contra o narcisismo, é um contínuo colocar-nos no nosso lugar.
Quando se pertence ao Opus Dei, há pessoas que pensam que se é melhor do que se é na realidade. Muitos dizem-lhe: "Reze por mim (ou pelo meu filho, ou pelo meu marido...), está mais perto de Deus". Mas tu sabes o que existe e, com uma certa frequência, alguém se encarrega de te recordar isso.
Para si, o que é que encarna a figura do Pai no Opus Dei?
-O Pai é aquele que serve a todos. Aquele que abre o caminho. Aquele que não tem um minuto para se dedicar aos seus passatempos. Aquele que não tem o direito de pôr em primeiro lugar os seus gostos ou as suas ideias. Nunca comandei nada no Opus Dei, mas sei que comandar na Obra é uma tarefa árdua, porque obriga a ouvir até as pessoas mais estúpidas como se o que dizem fosse interessante; a pôr-se sempre no lugar dos outros...
Eu próprio dei "distintivos" aos responsáveis que hoje me parecem inconcebíveis. O Padre faz tudo isto 24 horas por dia. E reza-se para que ele seja muito fiel a Deus e muito leal à Igreja. Até agora, tivemos muita sorte com os quatro padres que Deus nos deu: pessoas muito inteligentes, muito santas, muito humildes.
Como colaborar com a paróquia e o bispo local?
-Dá-me muito bem com o meu arcebispo, Jesús Sanz Montes, apesar de lhe ter feito perguntas incómodas em algumas das entrevistas que lhe dei. Ele sempre respeitou rigorosamente o meu trabalho e não tenho conhecimento de ameaças de excomunhão (risos).
Don Jesús aprecia o Opus Dei, e disse-o publicamente em muitas ocasiões. Em relação aos meus párocos, a coisa mais plástica que posso dizer é que vêm comer a minha casa muitas vezes, mesmo na noite de Natal, e que partilhamos ilusões e preocupações.
Gosto muito de conhecer as pessoas da minha paróquia e, para ser sincero, não tenho dificuldade em compreender ninguém. Penso que esta abertura de espírito é fruto da formação que recebi na Obra.
O Papa elogia Nossa Senhora de Guadalupe, "modelo de evangelização".
Ao retomar a sua catequese sobre a paixão de evangelizar, o Papa Francisco, na Audiência Geral de hoje, colocou a Virgem de Guadalupe como um "modelo excecional" de evangelização, com a particularidade de ter anunciado Jesus seguindo "o caminho da inculturação", e de ter aparecido a São Juan Diego, "um índio do povo".
Francisco Otamendi-23 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 3acta
"No nosso caminho para redescobrir a nossa paixão pelo anúncio do Evangelho, olhamos hoje para as Américas. Aqui a evangelização tem uma fonte sempre viva: Guadalupe"O Santo Padre iniciou a sua catequese sobre a paixão de evangelizar, retomada após a pausa devido à festa da Assunção da Virgem Maria.
"Certamente, o Evangelho já lá tinha chegado antes dessas aparições", continuou o Papamas "infelizmente foi acompanhada por interesses mundanos, em vez do caminho da inculturação, desrespeitando os povos indígenas".
No México - como em Lourdes e em Fátima - "No México - como em Lourdes e em Fátima - Maria apareceu a uma pessoa humilde e simples, um índio que se chamava Juan DiegoDeste modo, ela difunde a sua mensagem a todo o povo fiel de Deus. Ela anuncia Jesus pelo caminho da inculturação, isto é, através da língua e da cultura dos nativos, e pela sua proximidade maternal manifesta a todos os seus filhos o amor e a consolação do seu Imaculado Coração", sublinhou o Romano Pontífice no seu discurso ao Santo Padre. Público de hoje.
Neste sentido, o Papa sublinhou que "a Virgem de Guadalupe aparece vestida com as roupas dos nativos, fala a sua língua, acolhe e ama a cultura local: ela é Mãe e sob o seu manto todos os filhos encontram um lugar".
Quanto a São Juan Diego, Francisco sublinhou que "era uma pessoa humilde, um índio do povo: sobre ele pousou o olhar de Deus, que gosta de fazer milagres através dos mais pequenos". Juan Diego já era adulto e casado. Em dezembro de 1531, tinha cerca de 55 anos. Quando ia a caminho, viu a Mãe de Deus numa colina, que lhe chamou com ternura "o meu querido filhinho Juanito". Enviou-o então ao bispo para lhe pedir que construísse uma igreja no local onde ela tinha aparecido. Juan Diego vem com a generosidade do seu coração puro, mas tem de esperar muito tempo.
"Mães e avós, primeiras locutoras".
Francisco fez uma pausa para recordar às avós e às mães a transmissão da fé. "Em Maria, Deus encarnou e, através de Maria, continua a encarnar na vida dos povos. Nossa Senhora anuncia Deus na língua mais apropriada, a língua materna. Sim, o Evangelho é transmitido na língua materna. E quero agradecer a tantas mães e avós que transmitem a fé aos seus filhos e netos, porque é por isso que as mães e as avós são os primeiros anunciadores do Evangelho, para os seus filhos e netos", disse o Papa.
O Santo Padre continuou: "E comunica, como Maria, na simplicidade: Nossa Senhora escolhe sempre os simples, na colina de Tepeyac, no México, como em Lourdes e em Fátima: fala-lhes, fala a cada um, numa linguagem adequada a todos, compreensível, como a de Jesus".
"Sofrer os erros com paciência".
O Papa recordou depois as dificuldades encontradas pelo índio São Juan Diego, "que não teve facilidade em ser o mensageiro da Virgem; teve de enfrentar incompreensões, dificuldades e imprevistos. Isto ensina-nos que para anunciar o Evangelho não basta dar testemunho do bem, mas por vezes também saber sofrer o mal, com paciência e constância, sem medo do conflito", sublinhou Francisco na sua catequese. "Nesses momentos difíceis, invoquemos Maria, nossa Mãe, que sempre nos ajuda, nos encoraja e nos guia para Deus.
O Papa recordou que o bispo não acreditou na aparição, e que a Senhora o consolou e lhe pediu para tentar de novo. "Apesar do zelo, o inesperado vem, às vezes da própria Igreja. Ao anunciar, de facto, não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal", disse o Papa. "Ainda hoje, em tantos lugares, inculturar o Evangelho e evangelizar as culturas requer perseverança e paciência, não devemos temer os conflitos, não devemos desanimar.
"Santuários Marianos: Nossa Senhora ouve-nos".
"Aqui está a surpresa de Deus: quando há vontade e obediência, Ele é capaz de realizar algo.
inesperado, em tempos e formas que não podemos prever. E assim o santuário pedida por Nossa Senhora", sublinhou o Papa.
O Santo Padre Francisco concluiu com uma referência aos santuários marianos. "Juan Diego deixa tudo e, com a autorização do bispo, dedica a sua vida ao santuário. Acolhe os peregrinos e evangeliza-os. É o que acontece nos santuários marianos, destino de peregrinações e lugares de anúncio, onde cada um se sente em casa e experimenta uma saudade, uma saudade do céu. Ali, a fé é acolhida de forma simples e genuína, popular, e Nossa Senhora, como disse a Juan Diego, ouve os nossos gritos e cura as nossas dores.
Precisamos de ir a estes oásis de consolação e misericórdia", encorajou o Papa, "onde a fé é expressa na língua materna, onde a língua materna é falada, onde as fadigas da vida são colocadas nos braços da Virgem e onde se regressa à vida com paz no coração".
Colónia: uma catedral como símbolo de séculos de fé
Construída ao longo de mais de seis séculos de acordo com os planos originais do século XIII, a catedral não só é uma das mais famosas do mundo, como também alberga numerosos tesouros artísticos.
A Catedral de Colónia, Património Mundial da UNESCO desde 1996, é uma das catedrais mais famosas do mundo, sobretudo devido à sua silhueta inconfundível. É também, de longe, o monumento mais visitado da Alemanha: o número de visitantes em 2022 foi de 4,3 milhões, enquanto a nova Philharmonie em Hamburgo e a Ilha dos Museus em Berlim, que ocupam o segundo e terceiro lugar neste ranking, receberam 2,8 e 2,2 milhões de visitantes, respetivamente.
No entanto, a atual catedral gótica não foi a primeira catedral de Colónia. Quando a construção começou em 1248, o cristianismo já tinha uma história de pelo menos dez séculos nesta cidade do Reno. Como o seu nome indica, Colónia foi fundada como uma colónia romana (Colonia Claudia Ara Agrippinensium, CCAA) nas terras ocupadas no início da nossa era pelas legiões I Germanica e XX Valeria Victrix. Foi Cláudio - imperador entre 41 e 54 d.C. - que lhe concedeu o estatuto de colóniacom mais direitos imperiais do que o anterior oppidum. Cláudio era casado com Agripina, que deu o nome a Colónia e que era filha do general Germânico.
Embora quase não existam fontes sobre a propagação do cristianismo ao longo do Reno, presume-se que se tenha difundido lentamente, também em Colónia. Em todo o caso, o primeiro bispo conhecido é São Maternus, que é nomeado como tal tanto no Sínodo de Roma, em 313, como no Sínodo de Arles, em 314. Após a queda do Império Romano e a ascensão de novos reinos, o primeiro bispo documentado do período franco é Evergislus (Eberigisil), no século VI. O bispo Hildebold recebeu o título de arcebispo de Carlos Magno em 794-795. Desde então, Colónia é um arcebispado.
Embora existam vestígios de construções anteriores, como um batistério romano tardio e uma igreja merovíngia do século VI, a primeira catedral de Colónia - a catedral carolíngia - data do século IX. Embora seja frequentemente designada por Catedral de Hildebold, a sua construção só terá começado após a morte de Hildebold, em 818. Foi consagrada em 870.
Os Três Reis Magos e a Catedral de Colónia
No local desta catedral carolíngia, que o arcebispo Konrad von Hochstaden mandou demolir em abril de 1248, começou a construção da atual catedral; o bispo lançou a primeira pedra em 15 de agosto de 1248. A construção de uma nova catedral, muito maior e mais rica, está intimamente ligada aos Reis Magos, cuja relíquia foi trazida para Colónia em 1164 pelo arcebispo Rainald von Dassel de Milão. Considerada uma das relíquias mais importantes do cristianismo, as relíquias não estão apenas alojadas num luxuoso relicário, feito pelo ourives Nicolau de Verdun entre 1190 e 1225, que é considerado a maior e mais artisticamente realizada relíquia sobrevivente da Idade Média. Além disso, esta nova catedral foi concebida como uma espécie de "relicário" ou "relicário em pedra". O capítulo da catedral decidiu que ela deveria ser construída no estilo gótico das catedrais francesas e que deveria superar em altura as doze basílicas românicas que já existiam na cidade.
O tradução Os Três Reis Magos é uma resposta à ideia do imperador Frederico I Barbarossa de "sacralizar" o império, de forma independente e ao mesmo nível que o sancta ecclesia. Para o efeito, levou a cabo três actos: em primeiro lugar, em 1157, acrescentou a império o predicado sacroDesde então, generalizou-se a expressão "Sacro Império Romano-Germânico". Em segundo lugar, os "sábios do Oriente" (Mt 2,1) tornaram-se os "três sábios", seguindo a tradição do Antigo Testamento, por exemplo, no Salmo 72 (71): "Ofereçam-lhe os reis de Sabá e da Arábia os seus presentes; prostrem-se diante dele todos os reis". Em terceiro lugar, Frederico I ordenou a canonização de Carlos Magno: desde que o arcebispo Rainald von Dassel, de Colónia, o canonizou em Aachen, em 1165, o imperador podia contar entre os seus linhasnão só com o reis magos, mas também com um rei santa.
A Madona Mailaender da Catedral de Colónia
Foram necessários mais de seis séculos para concluir a sua construção: embora a construção tenha começado entre 1248 e 1528, seguindo os planos do mestre de obras Gerhard, os trabalhos foram interrompidos durante quase 300 anos e só em 1823 se decidiu concluir o edifício de acordo com os planos originais: Em 4 de setembro de 1842, o rei Friedrich Wilhelm IV da Prússia - após as guerras napoleónicas, a Renânia tornou-se uma província prussiana - e o arcebispo Johannes von Geissel lançaram a primeira pedra para a construção da fachada ocidental com as características torres de 157 metros de altura; a conclusão foi oficialmente celebrada em 15 de outubro de 1880, embora o mosaico no coro só tenha sido concluído em 1899.
Relíquias e imagens de grande devoção e valor artístico
Para além da relíquia dos Reis Magos, a Catedral de Colónia alberga algumas obras-primas, como a Cruz de Gero ("Gerokreuz"), assim chamada por ter sido encomendada pelo Arcebispo Gero (bispo entre 969 e 976). Trata-se de um dos mais antigos crucifixos de grandes dimensões (2,88 metros) existentes a norte dos Alpes: feito em madeira de carvalho no final do século X, é considerado iconograficamente como um ponto de viragem na representação do Salvador; até então, representado vitorioso numa posição vertical, aparece agora sofredor e humano. Este facto pode dever-se às novas tendências teológicas que, no final do século X, colocam a morte redentora de Cristo no centro da doutrina. A Cruz de Gero serviu de modelo a numerosas representações medievais.
O terceiro objeto de veneração na catedral, depois dos Reis Magos e da Cruz de Gero, é a "Madona de Milão de Mailänder" ("Mailänder Madonna"). Esculpida por volta de 1290 em madeira policromada, é atualmente a mais antiga estátua de Nossa Senhora na catedral. O seu nome deriva de uma estátua que Rainald von Dassel trouxe de Milão com os Reis Magos e que foi destruída no incêndio da catedral anterior. Em estilo gótico, está intimamente relacionada com as figuras da coluna do coro, ponto alto do estilo maneirista de todo o período gótico.
A Madona das oferendas votivas. Catedral de Colónia
Na capela diária durante os meses de verão - no inverno, as missas diárias são celebradas na capela do Santo dos Santos - encontra-se outra das jóias da catedral: o retábulo "dos patronos da cidade", considerado a obra mais importante de Stefan Lochner e uma das obras mais notáveis da pintura medieval de Colónia. O tríptico, encomendado pelo conselho municipal em 1426, encontra-se na catedral desde 1809. Fundindo o colorido italiano com o realismo flamengo, Stefan Lochner representou no painel central os Reis Magos que adoram o Menino Jesus no colo da sua mãe entronizada. Nas alas, estão representados os santos padroeiros de Colónia: à esquerda, Santa Úrsula com as suas "onze mil virgens"; à direita, São Gereão com os soldados da Legião Tebana. No exterior, quando o altar está fechado, pode ver-se a Anunciação de Maria.
Uma das imagens mais populares é a "Schmuckmadonna" ("Nossa Senhora das ofertas votivas"), como se pode ver pelo grande número de velas que se encontram sempre acesas à sua frente. A imagem é adornada com numerosas peças de joalharia dos séculos XIX e XX, como oferendas votivas em agradecimento pelos favores recebidos. A veneração da imagem remonta a finais do século XVII.
Cróquios em exposição na Catedral de Colónia
Ao lado desta imagem estão pendurados os "báculos anuais": em madeira revestida a ouro, estão colocados por cima da entrada da câmara do tesouro e indicam o número de anos que o atual arcebispo está no cargo. Ano após ano, é acrescentado outro báculo no aniversário da tomada de posse do arcebispo. A inscrição diz o seguinte: "Quot pendere vides baculos, tot episcopus annos huic Aggripinae praefuit" ("Tantos báculos quantos vires pendurados, tantos anos o bispo de Colónia esteve no cargo"). A origem deste costume é desconhecida, mas já é mencionado no relatório de viagem de Arnoldus Buchelius de Utrecht em 1587.
Personalidades enterradas
Na Catedral de Colónia estão sepultados, para além de algumas personalidades como Richeza, rainha da Polónia (995-1063), os bispos da diocese: desde os já referidos Gero († 976) e Rainald von Dassel († 1167) até aos últimos, os cardeais Josef Frings († 1978), Joseph Höffner († 1987) e Joachim Meisner († 2017), este último na cripta construída entre 1958 e 1969.
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"Joseph House, um lar de redenção depois da prisão
O padre Dustin Feddon é o fundador da "Joseph House", uma casa na Florida onde acolhe homens que saíram da prisão e querem reconstruir as suas vidas. Inspirada no exemplo de José, filho de Jacob, esta comunidade quer ser um testemunho do facto de que todos têm o potencial para serem bons e fazerem o bem.
Na Flórida, há uma casa onde vivem homens de diferentes profissões e origens que, no entanto, partilham uma caraterística: todos estiveram na prisão. "Joseph House". é um lar para ex-reclusos que desejam reconstruir as suas vidas, tendo encontrado esperança no Evangelho.
A ideia nasceu no coração do padre Dustin Feddon quando ele ainda era um seminarista. Durante o seu ano pastoral, sentiu que Deus o chamava "para servir os que estão na prisão ou que estiveram na prisão". Assim, há anos que vive na casa com homens que saíram da prisão e passa grande parte do seu tempo a acompanhar os que estão encarcerados, no corredor da morte ou na solitária.
Dustin Feddon, fundador da Joseph House.
Nesta entrevista à Omnes, Feddon fala do seu ministério, da sua opinião sobre o sistema prisional dos EUA e da grande realidade da misericórdia de Deus na vida das pessoas.
Quando é que se apercebeu que queria ser um padre a trabalhar nas prisões?
- Eu era seminarista e na minha diocese temos um "ano pastoral", que é como um ano de aprendizagem. Durante o meu estágio, fui destacado para uma paróquia não muito longe de onde estou agora. Nessa altura, já estava a pensar que queria fazer um ministério fora dos muros da paróquia e o padre que conheci durante o meu ano pastoral sugeriu-me as prisões e pôs-me em contacto com o capelão do corredor da morte e da área de confinamento solitário na altura.
Eu ainda era seminarista, mas nas minhas duas primeiras visitas senti fortemente que dentro de mim havia algo que clarificava a minha própria vocação. Madre Teresa e outros chamam-lhe "a vocação dentro da vocação", por isso senti que algo estava a acontecer dentro de mim, algo que me chamava a dedicar a minha vida ao serviço dos que estão presos ou estiveram na prisão.
Como é que surgiu exatamente a "Casa Joseph" e porque é que decidiram dar-lhe esse nome?
- Para mim, começou por ir a prisões na Florida em 2014. Comecei a ir às áreas de confinamento solitário, ao corredor da morte e a outras partes das prisões. Comecei a conhecer os homens que visitava e, no início, alguns deles mencionavam o nome de José, filho de Jacob, como uma história que os inspirava, porque também ele foi separado da família, escravizado, preso, confinado... E, no entanto, era um sonhador incansável. Penso que os homens com quem falei sobre José se sentiram sonhadores. E o seu sonho permitiu-lhes ser resilientes nas suas condições actuais, estando encarcerados na Florida.
A capacidade de sonhar significava que tinham esperança no seu futuro, que um dia voltariam a juntar-se às suas famílias e à sociedade, e que poderiam contribuir com alguma coisa. Foi assim que, entre 2013 e 2017, comecei a pensar num local e numa comunidade onde os homens pudessem viver após o período de encarceramento.
Como é que ajuda estes homens a encontrar esperança através do seu ministério?
- É certo que há muita tristeza e desespero nas celas e dormitórios das prisões que visito. E, no entanto, fico perplexo e espantado com a esperança que muitos destes homens têm. Acreditam que, dadas as oportunidades, ainda podem viver uma vida boa e realizar os seus sonhos. Por isso, fico muitas vezes à espera de ouvir esses fracos ecos de esperança nos homens que visito. E depois, respondo-lhes e encorajo-os. Tento sonhar com eles sobre as suas próprias esperanças e desejos. Tudo isto, atribuo-o certamente a Deus.
No fim de contas, quando se acredita firmemente que Deus está presente em todas as situações e em todas as pessoas, nunca se sente que há uma situação ou uma pessoa totalmente sem esperança.
Como é que podemos falar de justiça e de esperança aos que aguardam no corredor da morte ou na solitária?
- Já estive com homens que estavam à espera de ser executados e acompanhei-os à execução, e nessa altura falámos sobre o facto de o Estado da Florida, o diretor, o governador, etc., não terem poder sobre a sua alma. Especialmente se a pessoa for crente, sabe que Deus é infinitamente misericordioso e é o próprio amor, é o seu único juiz, o juiz supremo, pelo que pode encontrar libertação e esperança n'Ele.
Tenho visto que, para alguns homens, isto evoca um verdadeiro sentido e uma realidade de esperança. Mesmo que tenham de ser executados, podem continuar a ter uma esperança real de que a sua vida pode ser um testemunho para os outros e que, em última análise, Deus é o seu sustentáculo.
O seu ministério deu-lhe uma perspetiva diferente sobre o sacramento da reconciliação, a misericórdia de Deus, a liberdade e o perdão?
- Sim, penso que grande parte da minha própria compreensão da teologia e da minha leitura das Escrituras, e dos sacramentos, se desenvolveu de novas formas através da minha experiência das prisões, dos rostos dos homens que servi e acompanhei.
O sacramento da reconciliação é algo que, de uma forma muito particular, descobri ao falar com homens que cometeram assassínios, por exemplo. Descobri-o ao ver a sua própria transformação e a sua capacidade de entrar em contacto com essa bondade indestrutível que existe em cada um de nós, de modo a viverem inteiramente em estado de misericórdia.
A questão é que a maior parte das pessoas não saberá, por exemplo, qual foi a pior coisa que eu fiz, ao passo que, no caso de todos estes homens, os seus actos foram publicados pela maior parte dos jornais, apareceram nas notícias, estão na Internet. A pior coisa que fizeram é muitas vezes aquilo com que as pessoas os identificam primeiro. E, no entanto, estes homens podem viver num estado de misericórdia, num lugar de liberdade.
Não quero parecer atrevido, mas não há nada que alguém na minha paróquia, na sua maior parte, me vá dizer que supere de alguma forma o que ouvi nas prisões. E, no entanto, estes homens na prisão chegaram a um lugar de liberdade, de misericórdia, e tenho a sensação real de que, ao transmitir o sacramento da reconciliação, a misericórdia de Deus triunfa.
Como é que as actividades da Casa Joseph permitem que estes aspectos de liberdade e misericórdia se realizem na vida dos reclusos?
- Bem, a parte do "lar" é importante. É "Casa José", não "Comunidade José", "Programa José" ou "Instituição José"... É um lar. A "Casa José" é como qualquer casa típica da classe média onde há miúdos no liceu ou na faculdade. E não digo isto para ser condescendente com os homens que aqui estão, que são homens crescidos, mas digo-o em termos de toda a gente estar a tratar dos seus assuntos. Aqui toda a gente trabalha, ou vai à escola, ou trata das coisas em casa, e vivemos as nossas vidas em conjunto.
É por isso que a palavra acompanhamento é tão importante para mim, porque "Casa Joseph" não se trata de estabelecer programas e regras rigorosas, ou seja o que for, mas sim de como vivemos a vida em conjunto para que possamos caminhar lado a lado neste caminho partilhado.
Deve ser difícil para alguns destes homens deixar a prisão para trás, com toda a sua solidão, e entrar num novo capítulo vivendo com mais pessoas, certo?
- É claro que cada pessoa reage de uma forma diferente. Alguns homens aclimatam-se imediatamente e sentem o conforto, o calor e a solidariedade da casa assim que chegam. Outros homens, devido a traumas bastante graves, demoram muito mais tempo e é por isso que damos tanta importância à terapia. Os nossos rapazes têm a possibilidade de consultar terapeutas que os ajudam. Tentamos trabalhar de forma a sermos um ambiente terapêutico. Além disso, tentamos não forçar os nossos homens a socializar se eles não quiserem.
Acha que há aspectos que devem ser tratados sobretudo a nível psicológico e não a nível espiritual?
- Acredito que a graça se baseia na natureza. Como crente, como discípulo de Cristo comprometido com a Igreja, a minha maior esperança é que cada um dos homens que acompanho, visito ou com quem vivo venha a descobrir Deus e o seu amor nas suas vidas. E também sei, porque muitos estão feridos e têm as suas próprias histórias de traumas e tragédias, que é preciso tempo para que as suas mentes, a sua psicologia e as suas emoções se curem de uma forma que os prepare para a possibilidade de acreditarem num Deus que é todo bondade, e não num Deus que é um tirano que só quer punir. Isso leva tempo e, por vezes, requer a cura da mente.
Como é que preparam os voluntários e as pessoas que trabalham na Joseph House, como é que os ajudam a lidar com as diferentes situações que podem encontrar?
- Sabendo que os nossos residentes vêm de contextos traumatizados que fomentam a exclusão, o sentimento de não pertença, a violência, o empobrecimento e os abusos, na Casa Joseph procuramos atenuar estes efeitos criando uma comunidade terapêutica que reforça a sua dignidade. Os voluntários desempenham um papel importante nesta comunidade. No início, dependíamos muito dos voluntários porque não tínhamos pessoal. Mas agora que temos pessoal, incluindo uma assistente social maravilhosa, podemos dar formação aos nossos voluntários para que contribuam para a nossa comunidade de uma forma que beneficie os nossos residentes. Como pode imaginar, conhecer novas pessoas de todos os quadrantes da vida pode ser esmagador para homens que estiveram isolados da sociedade.
Uma comunidade terapêutica dá prioridade à dignidade de cada pessoa e funciona de forma a facilitar que cada residente se torne mais plenamente ele próprio em relação à comunidade mais alargada. Como comunidade, atingimos este objetivo modelando estilos de comunicação na vida quotidiana que cultivam o desejo de dar a conhecer as nossas necessidades e de nos compreendermos melhor. Ao longo do tempo e com o aumento dos encontros, modelamos a resolução de conflitos e os nossos voluntários ajudam-nos a fazê-lo. Como casa, sublinhamos o valor da vida quotidiana que abre novos caminhos para a mudança. A nossa missão é criar uma cultura de hospitalidade e de vida mútua em comunidade para modelar um ambiente seguro.
Quais são as suas esperanças e sonhos para "Joseph House"?
- Com a Joseph House, o meu sonho pessoal é que os homens que servimos, pelo menos alguns deles, se tornem agora a próxima geração da Joseph House. Que eles próprios se tornem líderes na nossa comunidade e que sejam eles a dar continuidade ao legado da Casa Joseph como um lugar onde a dignidade é restaurada, onde descobrimos que somos todos irmãs e irmãos, e que eles nos conduzam para a frente. Eles são os que mais conhecem as realidades de onde vêm, mas também o que conseguiram fazer lá fora. O meu sonho é que eles sejam os nossos pastores e profetas no futuro.
E, claro, gostaria de ver mais casas. Porque sei que há muitos homens e mulheres que precisam delas.
O que é que acha que falta atualmente no sistema prisional dos EUA para tratar as pessoas de forma mais humana?
- Estão a faltar muitas coisas. Falta o que poderíamos considerar cuidados de saúde humanos ou educação humana. Mas penso que o que está a faltar é a crença e a esperança na restauração, a convicção de que todas as pessoas podem ser restauradas e redimidas. Precisamos de saber que a soma de nós não é a nossa pior parte ou as nossas piores acções. Eu diria que o que está a faltar é a convicção de que a justiça pode, e talvez até deva, ser reparadora.
Na Florida, o sistema de justiça penal equipara a justiça a castigo ou retribuição. Por isso, não olha para além da retribuição e não concebe a justiça como algo que também pode contribuir para a restauração.
O que é que espera do sistema prisional americano para que Deus possa estar presente também na prisão?
- O sistema é uma espécie de monstro, uma instituição desregrada. É difícil saber por onde começar. Mas acho que a minha esperança seria que comunidades como a Joseph House e outras organizações que fazem trabalho de justiça restaurativa possam ser modelos do que significa quando vemos o potencial de cada pessoa para se tornar boa e fazer o bem.
Penso que isso significa que o sistema judicial tem de começar a olhar para as pessoas que muitas vezes são apanhadas no sistema como se fossem crianças, porque não queriam crescer e tornar-se criminosos, mas algo aconteceu pelo caminho. Temos também uma crise de saúde mental, e todas as pessoas precisam de se curar de alguma forma. Temos de compreender que não se deve dizer a ninguém que é menos do que um ser humano ou incapaz de se redimir.
Duas propostas muito diversas para ver em casa ou no cinema
Missão: Impossível. Sentença Mortal. Parte 1 y Tetris são as recomendações de Patricio Sánchez Jaúregui para estes dias de verão.
Patricio Sánchez-Jáuregui-23 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
Este mês, recomendamos dois filmes completamente diferentes. O último episódio da saga Missão: Impossível e o filme biográfico sobre o criador de um dos jogos digitais mais populares de todos os tempos.
Missão: Impossível. Sentença Mortal. Parte 1
Com um título que soa a paródia, surge mais uma proposta de Missão Impossível (a sétima), um daqueles filmes que se pode ir ver para comer pipocas sem ficar desiludido e sem que nos vendam um porco num papo.
Missão: Impossível. Sentença Mortal. Parte 1
DiectorChristopher McQuarrie
RoteiroChristopher McQuarrie, Erik Jendresen
Ator: Tom Cruise
Difusão: Cinemas
Por esta altura, estamos confiantes de que Tom sabe o que está a fazer. Ethan Hunt e a sua equipa têm de encontrar uma nova e aterradora arma (que ameaça toda a humanidade!) antes que caia nas mãos erradas (vilões com sotaque da Europa de Leste, antigos colegas de escritório, cultos elitistas globais...).
Com um blablabla de infortúnios catastróficos que ameaçam tudo (o controlo do futuro, o destino do mundo, a esterilização em massa das abelhas que poderia desencadear uma armagedão), começa uma emocionante corrida mortal.
Neste episódio, Ethan terá de escolher entre aquilo que sempre teve de escolher ao longo de toda a saga MI: ou a missão ou a vida dos seus amigos. Será que desta vez vai conseguir ser mais esperto do que o destino? Será que finalmente vai morrer alguém que não é aquele que esperávamos?
Na verdade, vamos divertir-nos na mesma.
Tetris
Henk Rogers é um criador de jogos de vídeo que se apaixona por uma versão primitiva e viciante de Tetris. Esta paixão e o seu desejo de ser bem sucedido e de levar o jogo às massas vão levá-lo a hipotecar tudo e a arriscar um pouco mais para entrar em contacto com o criador do jogo, Alexey Pajitnov, viajar para a URSS e tirar o Tetris da Cortina de Ferro.
Tetris
DirectorJon S. Baird Escritor
EscritorNoé Rosa
Actores: Taron Egerton, Nikita Efremov, Mara Huf, Miles Barrow
Produção: Apple
O comunismo, o KGB, a história dos videojogos... é uma boa e refrescante combinação de factores que a Apple traz à ribalta de uma forma atenciosa e estimulante.
Uma boa proposta para todos os públicos.
O autorPatricio Sánchez-Jáuregui
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Equador, muito mais do que aquilo que aparece nas notícias
Numa altura em que o país está mais atual do que nunca pelo seu convulsivo e violento processo eleitoral e por ter feito história com um referendo para impedir a exploração petrolífera no Parque Nacional Yasuní, entrevistámos Monsenhor Adalberto Jiménez, Bispo Vigário Apostólico de Aguarico (Orellana, Amazonas) e presidente da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazónica) no Equador.
Marta Isabel González Álvarez-22 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 13acta
Chama-se José Adalberto Jiménez Mendoza O.F.M. e celebra o seu 54º aniversário (23/6/1969, San Plácido, Portoviejo, Manabí) precisamente nos dias em que o encontramos pessoalmente no coração da Amazónia equatoriana. Encontrámo-nos com ele na sede do Vicariato Apostólico de Aguarico, situado na localidade de Puerto Francisco de Orellana, também conhecida como "El Coca" (Orellana, Região do Oriente).
Embora a sua formação académica seja em Filosofia e Teologia, fez também estudos superiores em Espanha, em Madrid, um Mestrado em Terapia Familiar e de Casal para Profissionais de Saúde na Universidade Complutense e uma Especialização em Terapia Humanista, centrada na Pessoa, no Instituto Laureano Cuesta; e em Salamanca, estudos de Discernimento Vocacional e Acompanhamento Espiritual e diz-se muito grata por toda esta formação, pois deu-lhe um aprofundamento profissional a partir da espiritualidade para a sua vocação natural de ouvir as pessoas.
Desde 2017 é Bispo Vigário Apostólico de Aguarico, cantão onde se situa a Reserva Natural de Cuyabeno e o Parque Nacional Yasuní. Pertence à família franciscana através da Congregação dos Padres Capuchinhos e este ano de 2023 foi nomeado presidente para o Equador da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazónica). A Amazónia comoveu-o e transformou-o interiormente.
Define-se como um humilde sucessor de Monsenhor Alejandro Labaka, o bispo capuchinho espanhol (Beizama, Guipúzoa) que dedicou 25 anos da sua vida ao estudo dos indígenas Waoranis ou Huaoranis (uma das catorze nacionalidades indígenas do Equador) e que, juntamente com a freira colombiana Inés Arango, foi sujeito ao martírio quando morreu. brutalmente assassinados com lanças em 21 de julho de 1987.
Como foi chegar à Amazónia equatoriana e qual o processo interno de "conversão ecológica" por que passou?
-Embora seja agora conhecido como "o Bispo da Amazónia", sou antes de mais um missionário capuchinho. Durante a minha formação religiosa, quando tinha 18 anos, tive a oportunidade de descobrir a Amazónia durante um ano como postulante. Este período deixou-me uma profunda impressão e despertou em mim uma sensibilidade especial por esta região.
E embora os meus estudos e as outras missões que me foram confiadas não me tenham permitido voltar a entrar em contacto com a missão capuchinha na Amazónia, ficou latente em mim este espírito missionário, que finalmente se concretizou com a minha nomeação para Bispo da Província de Francisco de Orellana.
Eu tinha pedido ao Senhor que me enviasse como missionário para outra região do mundo e quando fui nomeado Bispo fui enviado para esta Igreja que é missionária em todos os sentidos. Creio que era o lugar onde o Senhor me esperava para viver a minha vocação de discípulo missionário, como Pastor desta Igreja na Amazónia.
Na minha longa experiência apostólica, não posso deixar de mencionar a importância que teve para mim a vida do mártir capuchinho D. Alejandro Labaka: a sua história e o seu empenho foram uma fonte de inspiração que logo despertou em mim uma profunda preocupação sobre como responder à herança de D. Alejandro a partir do Vicariato Apostólico. A dúvida que me assaltava era que, embora gostasse da ideia de me tornar plenamente um bispo missionário, não conhecia em profundidade toda a região e a sua realidade. Por vezes, sinto-me esmagado pelas muitas necessidades e realidades que são tão numerosas e variadas. Mas já me pus a caminho, visitando frequentemente o território e as comunidades, o que me permitiu estar mais próximo das pessoas nas suas lutas, dores e alegrias.
Ao chegar à Amazónia, juntei-me imediatamente aos trabalhos preparatórios da Sínodo para a Amazónia,O encontro contou com a presença de bispos da Amazónia, de leigos empenhados e de várias organizações como a Caritas e a REPAM. Este trabalho preparatório foi imenso e permitiu-me conhecer de forma concreta a realidade desta região que partilha os mesmos problemas nos nove países que fazem parte da bacia amazónica.
Este foi, sem dúvida, o despertar profundo da minha opção pela defesa da vida na Amazónia. Senti que, como pároco da Igreja de Aguarico, juntamente com todos os agentes pastorais, a evangelização só será possível se formos capazes de nos envolver na defesa da Casa Comum, a nossa floresta amazónica, como pede o Papa Francisco. Senti o apelo a uma pastoral de conjunto que, como eixo transversal, tivesse como objetivo principal as pessoas concretas, a ponto de as levar com Cristo a zelar pelo cuidado da criação nesta sagrada floresta amazónica.
No nosso Vicariato, os três principais problemas ecológicos que enfrentamos são
Exploração irresponsável de petróleo que produziu mais de mil derrames de petróleo nos últimos 10 anos.
2.- A desflorestação predatória que destrói centenas de hectares todos os dias, sem considerar a reflorestação.
A exploração mineira ilegal, sem respeito pelas normas ecológicas mais elementares, envenenou os rios com metais pesados como o mercúrio, o cádmio e o cianeto.
O processo de opção ecológica é para mim um legado que me foi transmitido pelo Papa Francisco, que, quando me recebeu no Vaticano na minha apresentação como novo bispo, me disse: "Cuida da floresta e das suas gentes". Na realidade, ainda não dei passos para a "conversão ecológica", mas estou a caminho juntamente com os missionários do meu Vicariato.
Para aqueles que nos lêem e não se lembram, falem-nos do martírio que Monsenhor Alejandro Labaka e a Irmã Inés Arango viveram às mãos dos indígenas e do que este testemunho significa para o seu Vicariato e para toda a Igreja na América e no mundo.
-Alejandro Labaka, nascido em Guipuzcoa (Espanha), deixou a China expulso em 1953 por Mao Tsé-Tung e pediu para vir como missionário para o Vicariato de Aguarico. Nessa altura, era frade e sacerdote. Veio para o Equador e, ao conhecer a Amazónia, apaixonou-se pela selva e pelas suas gentes, sobretudo as mais vulneráveis, os Waoranis. Foi adotado por uma família. O seu pai adotivo, Inigua, ainda é vivo. Mais tarde, quando foi nomeado bispo, quis rodear-se não só dos seus agentes pastorais, missionários, brancos e mestiços, mas colocou a família Waorani ao seu lado, como sinal claro das suas preferências: os grupos humanos mais vulneráveis da selva.
Outra grande missionária foi a Irmã Inés Arango, uma Irmã Terciária da Sagrada Família. Conheceram-se na missão. Ela trazia no seu coração um grande fogo missionário para estar perto das minorias e concretamente dos povos não contactados (sem contacto com a sociedade dominante e/ou que tendo tido algum contacto escolheram viver isolados).
Em 1987, vendo que as operações de extração de petróleo iam pôr em perigo a vida dos povos ainda não contactados, estes dois grandes missionários, para salvar estes povos da redução e da morte, ofereceram-se como voluntários e decidiram descer à cabana onde estavam os Tagaeri-Taromenani. Os irmãos e irmãs da comunidade destes dois missionários disseram-lhes para não irem, que era demasiado perigoso, mas eles entraram, deixando-lhes esta frase que perdura no tempo como um legado espiritual para os novos missionários: "Se não formos, eles matam-nos".
Recomendo aos nossos leitores estes dois vídeos para saberem mais sobre Alejandro e Inés e o contexto de que estamos a falar:
Acedendo ao VIMEO pode ver com esta ligação o documentário completo de Carlos Andrés Vera "Taromenani, el exterminio de los pueblo ocultos" de 2007 e vencedor do Prémio do Público no festival "One World", Berlim: https://vimeo.com/35717321
Hoje, estes dois missionários, Inés e Alejandro, foram declarados "Servos de Deus". Eles são o guia do nosso caminho para a Igreja da Amazónia no Equador e, nestes 36 anos, seguimos o seu impulso missionário. Estamos à espera de um milagre para continuar o seu caminho de santidade. Os seus corpos repousam na catedral de El Coca e aí são visitados por muitas pessoas que se deslocam aos túmulos destes mártires da caridade ao serviço da fé.
Em sua honra, desde há 17 anos, os missionários do Vicariato, juntamente com os frades capuchinhos e as Irmãs Terciárias Capuchinhas, organizam uma caminhada de mais de 300 quilómetros, conduzida pelos frades franciscanos, desde o Santuário da Virgen de la Nube (Azogues, Cañar) até El Coca. Esta caminhada convida à conversão pessoal, pastoral, espiritual e ecológica.
O nosso desejo é que o Alejandro e a Inês continuem a acompanhar-nos e a promover a missão de Cristo e a suscitar do Céu novas vocações para a vida sacerdotal, religiosa e laical. Pedimos-lhes que nos ajudem a ser a Igreja missionária e sinodal que o nosso irmão mais velho, Jesus Cristo, o missionário do Pai, espera de nós.
Qual é a situação atual do seu Vicariato e como é em termos de dimensão, riqueza natural e população?
-O Vicariato de Aguarico situa-se na província de Orellana, na região amazónica do Oriente do Equador, e estende-se por cerca de 22 000 km.2. O rio que atravessa toda a província é o rio Napo que, juntamente com o rio Aguarico, é um dos principais afluentes do rio Amazonas. O Parque Nacional Yasuní, um dos lugares mais diversos do mundo, está localizado aqui e abriga povos em isolamento voluntário, como os Tagaeri e os Taromenani.
55.95% da população vivem na zona urbana, enquanto os restantes 44.05% estão dispersos nas zonas rurais. Os habitantes são 86.493, sendo 80% indígenas, 17% mestiços, 3% tribos isoladas e não contactadas. Os grupos indígenas existentes na região eram Kichwa, Siona, Secoya, Cofan, Tetetes e Waorani.
A Vigararia de Aguarico coloca à disposição da comunidade os seguintes centros de serviços
Sector del serviço
Descrição
Quantidade
Localização
Educação
Unidade educativa Fiscomsional Padre Miguel Gamboa
1
El Coca
Internato para estudantes indígenas do sexo feminino
1
UE Gamboa - Coca
Cantina para estudantes - Estudantes em comunidades remotas
1
UE Gamboa - Coca
Unidade Educativa Fiscomsional PCEI Yachana Inti (Matriz Coca)
1
El Coca
Unidad educativa Fiscomsional PCEI Yachana Inti: 23 centros de explicações situados nos cantões
Monsenhor Luis Alberto Luna Tobar Unidade Educativa Fiscomsional
1
Dayuma - El Triunfo
Pastoral social e da saúde
Hospital Universitário Franklin Tello
1
Nuevo Rocafuerte
Abrigo para os doentes
1
Quito
Abrigo Huaorani
1
El Coca
Gabinete técnico da Pastoral Social
1
El Coca
Mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe
1
El Coca
Formação pastoral e espiritualidade
Centro de Espiritualidade Alejandro e Inês
1
Comunidade de Tiputini
Centros de formação pastoral - Casas de cursos
4
El Coca; Joya de los Sachas; Nuevo Rocafuerte; Pompeya
Ambiente e defesa de interesses
LABSU Laboratório do Ambiente
1
El Coca
Fundação Alejandro Labaka
1
El Coca
TOTAL
21
Considerando os 4 cantões onde Yachana Inti tem centros de formação
O quadro seguinte indica o número de comunidades (aldeias, centros pastorais) servidas pelos missionários, bem como uma estimativa do número de católicos e não católicos. Isto dá-nos o número aproximado de habitantes que pertencem às comunidades ou centros pastorais onde se desenvolve o trabalho missionário, evangelizador, social e ambiental.
ÁREAS PASTORAIS
COMUNIDADES EXISTENTES
NÚMERO DE CATÓLICOS
NÚMERO DE NÃO CATÓLICOS
TOTAL DE HABITANTES
Nuevo Rocafuerte
29
5.300
160
5.460
Pompeia
23
5.431
40
5.471
Coca Indígena
73
17.571
288
17.859
Coca-Cola urbana
16
65.843
18.000
83.843
Yucca - Raposas
24
7.000
740
7.740
v. Aucas N
26
4.400
760
5.160
v. Aucas S
69
2.445
475
2.920
Sachas
87
35.244
7.210
42.454
TOTAL
347
143.234
27.673
170.907
A seguir, indicar-vos-ei, por zonas pastorais, os lugares servidos, as capelas, os catequistas e os animadores existentes. Esta informação marcará de facto o pulso da pastoral a partir da catequese, como uma das actividades pastorais significativas da vigararia.
ÁREAS PASTORAIS
LOCAIS SERVIDOS
CAPELAS CATÓLICAS
CAPELAS NÃO CATÓLICAS
CATECHISTAS
ANIMADORES
Nuevo Rocafuerte
2
4
6
40
4
Pompeia
23
1
1
29
Coca Indígena
71
6
6
105
95
Coca-Cola urbana
18
15
17
182
15
Yucca - Raposas
3
20
5
68
18
v. Aucas N
3
20
5
68
18
v. Aucas S
26
18
9
40
15
Sachas
18
14
6
68
17
Rocafuerte
88
86
16
300
50
Viver na Amazónia significou para mim estar aberto à variedade de culturas, pelo que conheci e partilhei com as nacionalidades indígenas Kichwas, Shuar, Secoyas, Waoranis e Cofanes. É com admiração que vejo como, nesta criação de Deus, todos estes povos vivem em harmonia com a sua identidade cultural e a sua própria língua.
Para além da sua própria língua, a maior parte deles aprendeu também o espanhol e, na partilha com os missionários, podemos ver a unidade, a alegria e a beleza deste "Pentecostes vivo" que o Espírito nos dá.
Entre indígenas e mestiços, temos cerca de mil catequistas. Um dos eixos transversais da nossa evangelização é promover o cuidado da "Casa Comum", desta maravilhosa criação que Deus nos deu.
Estou muito contente com os missionários e missionárias, homens e mulheres que se entregam com "parresia" à missão, vivendo assim o quarto sonho que o Papa Francisco nos manda na exortação "Querida Amazónia": "Sonho com comunidades eclesiais cheias de vida" (QA 61-69).
E congratulo-me especialmente com o facto de alguns jovens indígenas de diferentes nacionalidades estarem a comprometer-se com os valores do Evangelho na sua própria língua e sem perder a sua tradição cultural.
Muita riqueza natural e humana, sem dúvida, mas também sabemos que a Amazónia não é simples. Quais são os principais desafios que enfrentam atualmente?
-A região amazónica equatoriana ocupa cerca de metade do território nacional e é habitada por um pequeno número de povos indígenas e camponeses, o que a torna uma região complexa, numa situação particular, porque os sucessivos governos viram este território aparentemente despovoado como uma zona de exploração mineira e vegetal, mas ao mesmo tempo como um território a colonizar.
Nos anos 50, iniciou-se a exploração petrolífera no nosso país, o que também incentivou a fixação de trabalhadores que, sem querer, invadiram os territórios dos povos indígenas.
Estes povos são vítimas do boom petrolífero que transforma as suas terras ancestrais numa simples fonte de recursos a explorar.
No Sínodo para a Amazónia de 2019, os graves abusos sofridos por estes povos, que encontram nos governos da atualidade uma total indiferença perante a injustiça de que são vítimas em nome de um suposto desenvolvimento do qual não participam, porque, em troca das riquezas exploradas, colheram pobreza, falta de acesso à educação e à saúde, ainda mais quando a extração das riquezas da Amazónia provocou o aparecimento de doenças catastróficas relacionadas com a exploração mineira e petrolífera, Colheram a pobreza, a falta de acesso à educação e à saúde, ainda mais quando a extração das riquezas da Amazónia provocou o aparecimento de doenças catastróficas relacionadas com a exploração mineira e petrolífera, como o cancro da pele e do estômago, bem como malformações congénitas.
É uma grande contradição que, neste espaço nacional que gera a maior riqueza do nosso país, não existam centros educativos ou de saúde que possam responder às necessidades urgentes dos seus habitantes.
Como igreja evangelizadora que proclama a boa nova a todos os povos, fomos também confrontados com o desafio profético de denunciar corajosamente estes abusos, convidando as autoridades governamentais locais e nacionais a tomarem consciência ecológica e social.
O que significou para si e para o seu Vicariato Apostólico a celebração do Sínodo para a Amazónia, o documento final e a Exortação Apostólica "Querida Amazónia"?
-No contexto que expliquei anteriormente, o Sínodo para a Amazónia foi uma força para a nossa Igreja, porque traçou linhas apostólicas de luta pela conversão integral e ecológica.
O Sínodo para a Amazónia é a aplicação prática da encíclica Laudato si' do Papa FranciscoEsta encíclica é um convite urgente a toda a humanidade para salvar o nosso planeta. A sua aplicação concreta na nossa região é o chamado Sínodo da Amazónia, que o Papa concretizou através da exortação apostólica "Querida Amazon". onde nos encoraja a continuar a trabalhar em prol das pessoas em particular, lutando pelos seus direitos. É o que ele nos diz no primeiro sonho: "a Igreja ao lado dos que sofrem". (QA 9-14).Para mim, como pastor da Igreja, a realidade concreta do Vicariato e da Amazónia significou uma opção fundamental pela defesa deste território, uma defesa traduzida em constantes denúncias da contaminação das grandes empresas que trabalham na extração dos recursos do solo. Também depois do Sínodo para a Amazónia reforçámos a integração dos povos indígenas nas celebrações litúrgicas, de modo a permitir-lhes, através da valorização das suas expressões culturais próprias, integradas na liturgia, uma maior visibilidade perante a sociedade equatoriana.
Socialmente, o Vicariato acompanha diversas denúncias junto a tribunais internacionais exigindo a remediação ambiental de rios e territórios poluídos. Também apoiamos lideranças indígenas que estão sendo perseguidas e ameaçadas por sua luta em defesa de seus territórios.
Na esfera cultural, desenvolvemos fóruns, festivais e conferências interculturais com a participação de diferentes actores sociais, para que estes espaços de intercâmbio nos permitam continuar a encarnar o sonho do Papa Francisco de preservar a riqueza do que é hoje o pulmão mais importante da humanidade, "onde a beleza humana brilha de tantas formas diferentes" (QA, 7). (QA, 7)
Como pastor, estou empenhado na realização do quarto sonho, o "Sonho Eclesial" do Papa Francisco na "Querida Amazónia", que é um apelo a toda a nossa Igreja para ser uma realidade presente: "Sonho com comunidades cristãs capazes de se dar e encarnar na Amazónia, a ponto de dar à Igreja rostos novos com traços amazónicos". (QA 61-110)
Como se tudo isto não bastasse, é também o presidente da REPAM no Equador. Em que consiste esta responsabilidade?
-Esta responsabilidade de estar à frente de uma rede é um apelo à luta fraterna onde nos escutamos uns aos outros, lutamos juntos partilhando tristezas, alegrias, esperanças e o sonho de salvar a nossa floresta, onde se abrigam os filhos de Deus que esperam atentamente a sua mensagem salvadora.
REPAM-Rede Eclesial Pan-Amazónica, significou para mim adotar a teologia do cuidado e da solidariedade, porque cada cristão na Amazónia deve assumir o compromisso evangélico de cuidar de cada uma das fontes de vida para preservar os povos que se alimentam dessas fontes: água, ar, fauna, vegetação, cultura.
A nossa luta conjunta e solidária traduz-se no nosso lema "SIM À VIDA E NÃO À MORTE NA AMAZÓNIA". Fazer parte da REPAM é para mim uma opção pessoal e pastoral que se traduz em: passar do Cristo do sacrário ao Cristo que sofre em cada indígena amazónico, despossuído e empobrecido. Traduzir as cerimónias e as celebrações numa aplicação concreta do Evangelho na pessoa do sofredor, do fraco e do perseguido, porque a palavra só tem sentido quando se torna vida e nos transforma.
A REPAM promove uma Igreja diversificada "com rosto amazónico", na qual se reflecte a variedade de povos que vivem em unidade e comunhão, onde - como a Documento final do Sínodo para a Amazónia- Tudo está interligado.
O trabalho que realizamos na REPAM tem quatro eixos que respondem aos 4 sonhos do Papa Francisco.
Estes eixos são:
Direitos humanos - sonho social
Formação - sonho cultural
Comunicação - sonho eclesial
Cuidar da natureza - Sono ecológico
Um projeto concreto da REPAM Equador, que está a ser levado a cabo com a participação dos 6 vicariatos amazónicos, é a reflorestação da Amazónia através da plantação e tratamento de um milhão de árvores nos próximos 3 anos.
Além disso, a nossa ação foi reforçada pela ligação a grupos como Caritas Equador, Movimento Laudato si`ou o Movimento Ecuménico Igrejas e minasentre outros, que são a favor da vida a nível nacional e que se uniram para denunciar os abusos e não permitir que os danos causados aos povos e territórios permaneçam invisíveis.
José Adalberto Jiménez Mendoza O.F.M. com o Papa Francisco
Como é que os sacramentos estão a ser inculturados aqui? Que diferenças haveria em relação a um rito clássico? O que pensa da proposta de criação do Rito Amazónico promovida pela CEAMA e de que falámos com Mauricio López, aqui no OMNES?
-Nas grandes cidades da Amazónia, os ritos tradicionais da Igreja são respeitados nas celebrações eucarísticas e sacramentais. No entanto, nas comunidades indígenas é importante que certos símbolos culturais que se ligam à sua espiritualidade, como a música e a dança, permitam a estas populações exprimir os seus sentimentos e encontrar pontes de comunicação com o Deus da Vida, do qual recebem gradualmente a sua mensagem salvadora, na sua própria cultura.
Nas celebrações litúrgicas, tanto da Palavra como da Eucaristia, respeitamos e acolhemos a liturgia oferecida pela Igreja Universal e é dentro desta liturgia que temos acolhido as manifestações culturais dos povos que enriquecem e enchem de vida e sentido a celebração indígena.
Por exemplo, na celebração eucarística, depois de pedir perdão a Deus, há um perdão humano externo que consiste em aproximar-se da outra pessoa (pais, compadres, padrinhos, madrinhas, irmãos, filhos) e pedir perdão. Aquele que recebe as palavras dá-lhe uma "kamachina", ou seja, aconselha-o a transformar o mal em bem.
Como é que os jovens do vosso Vicariato estão a receber a recente criação do programa PUAM-Amazon University?
-Cada projeto de educação é uma esperança para os povos da Amazónia, e estou otimista quanto à realização deste projeto, que dará oportunidades a jovens que até agora só tiveram acesso ao ensino secundário. Ter um centro de ensino superior no meio de um território, com uma realidade concreta, permitirá aos jovens beneficiários não só adquirir formação académica, mas também uma formação que reforçará a sua consciência dos recursos do seu território, criando novos líderes que defenderão a Amazónia, uma das eco-regiões mais importantes do mundo.
Felicito e agradeço à Pontificia Universidad Católica del Ecuador (PUCE) e à Conferencia Eclesial de la Amazonía por terem criado o PUAM-Programa da Universidade da Amazónia.
Neste momento, cerca de 20 jovens Huaorani beneficiam deste projeto e são acompanhados para que possam atingir os seus objectivos. O acompanhamento das comunidades religiosas é vital para a sua formação.
Esperamos que, no futuro, sejam estes profissionais a pegar no bastão e, por sua vez, a ser professores das gerações futuras nas suas próprias línguas, o que não tem sido possível até agora noutras universidades.
O autorMarta Isabel González Álvarez
PhD em jornalismo, especialista em comunicação institucional e Comunicação para a Solidariedade. Em Bruxelas coordenou a comunicação da rede internacional CIDSE e em Roma a comunicação do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, com quem continua a colaborar. Hoje ela traz a sua experiência ao departamento de campanhas de advocacia sócio-políticas e de redes de Manos Unidas e coordena a comunicação da rede Enlázate por la Justicia. Twitter: @migasocial
A congregação das Irmãs da Vida acolheu sete novas irmãs no início de agosto de 2023, numa celebração solene na Catedral de São Patrício, em Nova Iorque.
O Cardeal John J. O'Connor (15 de janeiro de 1920 - 3 de maio de 2000), Arcebispo de Nova Iorque de 1984 a 2000, fundador dos "Cardeais de Nova Iorque", nasceu na cidade de Nova Iorque em 1955.Irmãs da Vida"(em espanhol, Hermanas de la Vida), deve ter sorrido quando sete novas irmãs emitiram os seus votos perpétuos a 5 de agosto na Catedral de St.
Em 1991, o Cardeal O'Connor publicou um artigo intitulado "Precisa-se de ajuda: Irmãs da Vida". A sua visão era "uma comunidade religiosa de mulheres que se entregassem totalmente à proteção e à valorização da sacralidade de toda a vida humana, começando pelos mais vulneráveis". A 1 de junho de 1991, oito irmãs reuniram-se em Nova Iorque para formar a nova comunidade das Irmãs da Vida. Atualmente, mais de cem irmãs trabalham nesta comunidade.
A cerimónia dos votos
O Cardeal Timothy Dolan foi o celebrante principal, e entre os concelebrantes contavam-se o Arcebispo Gabriele Giordano Caccia, Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas; o Bispo James D. Conley de Lincoln, Nebraska; e os Bispos Auxiliares da Arquidiocese de Nova Iorque, Mons. Peter J. Byrne, Mons. John J. O. Hara e Mons. Edmundy K. Hara. Conley, de Lincoln, Nebraska; e os Bispos Auxiliares da Arquidiocese de Nova Iorque, D. Peter J. Byrne, D. John J. O'Hara e D. Edmund J. Whalen; o Vigário Geral da Arquidiocese de Nova Iorque, D. Joseph P. LaMorte, e o Padre Henry Salvo, Reitor da Catedral de St.
Estavam presentes cerca de 1500 familiares, amigos, Irmãs de Vida, irmãos religiosos, sacerdotes e simpatizantes, todos para acolher as novas Irmãs e vê-las emitir os seus votos perpétuos.
As sete irmãs que emitiram os votos perpétuos são Mary Pieta, Mercy Marie, Mary Grace, Fidelity Grace, Zelie Maria Louis, Ann Immaculee' e Catherine Joy Marie.
As facetas de um diamante
Omnes teve a oportunidade de falar com a Irmã Marie Veritas, S.V., superiora local de Denver e coordenadora da missão. Ela partilhou o que considera mais especial quando celebram uma profissão religiosa: "Fico sempre impressionada, antes de mais, com a beleza dos seus corações e vozes quando professam os seus votos.
A Ir. Marie Veritas também aprecia "a tradição da nossa comunidade... de tomar um título, um título religioso depois do seu nome... e se assim o desejarem e sentirem que o Senhor as conduz a isso. A Irmã Marie Veritas também aprecia "a tradição na nossa comunidade ... de tomar um título, um título religioso depois do seu nome ... e se assim o desejarem e sentirem que o Senhor as conduz a isso, e ... penso que há algo de tão especial todos os anos, e depois este ano, sobre a partilha dos títulos das irmãs na primeira vez que os ouvimos".
Quando as novas irmãs professam os seus votos e dizem os seus nomes e o seu novo título em voz alta, "é como uma nova revelação do seu coração, do seu carisma pessoal único ou das graças pessoais que o Senhor lhes confiou... os mistérios que o Senhor lhes pediu para viverem de uma forma particular..." disse a Irmã Marie Veritas.
"É quase como olhar para as facetas de um diamante, e cada faceta reflecte a luz de uma forma única... e cada um de nós reflecte a glória de Deus de uma forma tão particular, única e irrepetível", acrescentou.
Na sua homilia, o Cardeal Dolan apelou aos que fazem os últimos votos para que "mudem a cultura da morte para a cultura da vida". Os seus antecessores e os seus novos colegas comprometeram-se a fazê-lo diariamente e levam a sério o seu apelo.
"Acho que escolher a vida em vez da morte é como uma escolha que fazemos todos os dias", disse Marie Veritas. É estar consciente da verdade de que se é "amado" e "precioso".
O carisma familiar das "Irmãs da Vida".
As Irmãs da Vida trabalham com os mais vulneráveis: os não nascidos, os não escolhidos, e o seu apelo é "proteger e melhorar cada vida".
Reconhecem que "com a dor do coração humano... podemos procurar o amor no sítio errado... ou substituir o amor pela morte". Encorajam aqueles que encontram a escolher o amor e a lembrarem-se "que as nossas vidas importam, que somos bons, que somos sagrados, que somos importantes".
Madre Mary Concepta, S.V., que foi eleita a nova Madre Superiora das Irmãs da Vida no início deste ano, estava lá para rezar com e pelas novas irmãs. Também estava presente a sua predecessora, Madre Agnes Mary Donovan, S.V., que recentemente se aposentou após 30 anos no cargo. Foi um evento familiar!
Diário de um padre em Lisboa. "Velho sonhador e jovens profetas".
Fernando Mignone, sacerdote canadiano do Opus Dei, foi um dos milhares de sacerdotes que participaram na Jornada Mundial da Juventude.
Fernando Mignone-22 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 11acta
"Do campo", Mignone reuniu as suas impressões num pequeno "diário de viagem" que ilustra, de forma privilegiada, os momentos, os encontros e as anedotas desses dias intensos.
Segunda-feira 31. Neste voo 680 da Air Transat, proveniente de Montreal, talvez um terço dos passageiros sejam peregrinos da JMJ.
Chego a Lisboa na festa de Santo Inácio, encomendando-me ao Papa. Dormirei na Residência Universitária de Montes Claros, juntamente com outros 50 ou 60 sacerdotes da Opus DeiHá também residentes leigos.
Jovens da paróquia Corpus Christi de Vancouver participam na JMJ
Sou da Obra e estou aqui para celebrar a missa, pregar e ouvir as confissões de 55 raparigas canadianas. Encontrar-me-ei também, quando puder e como puder, com 25 rapazes canadianos, também eles ligados à Obra. Mas eles têm outro padre.
Confissões, encontros e selfies
Terça-feira 1. Vou ao Parque do Perdão para ouvir confissões, em cinco línguas. Tem 150 confessionários, construídos por prisioneiros. À chegada, encontro por acaso os seis membros da família Scholten, do Colorado, e outros dos estados da Florida e Indiana, do Jesus Film Project. Foram convidados pelos organizadores da JMJ para promover esta iniciativa (ver jesusfilm.org).
Quando termino a minha confissão, uma jornalista portuguesa da agência Lusa entrevista-me em inglês. Ela quer saber qual é a minha mensagem para os jovens. "É a mensagem do Papa: Cristo está vivo e nós temos de o encontrar.
O autor com o jovem Noah Smith do Iowa
Espero uma hora na fila para poder embarcar no comboio urbano e, no meio da confusão, encontro Noah Smith, de Des Moines, Iowa. Conta-me que o pai é membro do Opus Dei e que vai entrar no noviciado dos jesuítas em setembro. Tirámos uma selfie.
À tarde, concelebrei uma missa no Parque Eduardo VII com o Patriarca de Lisboa, cerca de oito mil padres e centenas de bispos, para mais de meio milhão de jovens. Como o coro canta bem e a orquestra toca bem! O Marquês de Pombal parece olhar-nos com admiração do seu monumento, mais abaixo na colina, e ao fundo o azul da água.
Chegada do Papa Francisco
Quarta-feira 2. ¡Francisco chega! Reúne-se com dignitários. Cita Camões: "Aqui... onde a terra se acaba e o mar começa". Fala-lhes poeticamente de paz, de diálogo, de encontro, de ecologia, de futuro, de fraternidade. De ter mais filhos. "Para onde navegam, a Europa e o Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as tragédias no mar e os berços vazios? Para onde navegam se, perante a dor de viver, oferecem remédios superficiais e errados, como o acesso fácil à morte, uma solução de conveniência que parece doce, mas que na realidade é mais amarga do que as águas do mar? E penso em tantas leis rebuscadas sobre a eutanásia... Lisboa, abraçada pelo oceano, dá-nos no entanto razões de esperança, é uma cidade de esperança. Um oceano de jovens está a inundar esta cidade acolhedora".
O Papa reza as Vésperas com os bispos, sacerdotes, mulheres e homens consagrados portugueses... exortando-os a não desanimarem, a não perderem o ânimo, mas a lançarem-se ao largo. Cita o grande missionário português Padre António Vieira. Dizia que Deus lhes deu uma pequena terra para nascerem; mas, fazendo-os olhar para o oceano, deu-lhes o mundo inteiro para morrerem: "Para nascer, uma pequena terra; para morrer, a terra inteira; para nascer, Portugal; para morrer, o mundo". Lançar de novo as redes e abraçar o mundo com a esperança do Evangelho: é a isto que somos chamados! Não é tempo de parar, não é tempo de desistir, não é tempo de atracar o barco em terra ou de olhar para trás; não temos de fugir a este tempo porque nos assusta e refugiarmo-nos em formas e estilos do passado".
Depois, Francisco encontra-se com vítimas de abusos, ucranianos...
Quinta-feira 3. O vento do mar está a soprar forte: o vento do Espírito Santo. Já passaram quase cinco anos desde que o em pessoacomo dizemos depois da pandemia, o A juventude do Papa. "Os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões".. Num livro que trouxe comigo, Deus é jovem, Francisco cita Joel 3,1. E acrescenta: "Os velhos sonhadores e os jovens profetas são o caminho da salvação para a nossa sociedade desenraizada".
De manhã, na Universidade Católica, o Papa responde aos testemunhos de três raparigas e um rapaz, Beatriz, Mahoor, Mariana e Tomás. Diz aos universitários portugueses que os dois verbos do peregrino são procurar e arriscar. "Estudem bem o que vos estou a dizer. Em nome do progresso, abriu-se o caminho para uma grande regressão. Vós sois a geração que pode vencer este desafio, tendes os instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados, mas por favor não caiam na armadilha das visões parciais. Não esqueçam que precisamos de uma ecologia integral; precisamos de escutar o sofrimento do planeta ao lado do sofrimento dos pobres; precisamos de colocar o drama da desertificação ao lado do drama dos refugiados, a questão das migrações ao lado da diminuição da natalidade; precisamos de tratar a dimensão material da vida dentro de uma dimensão espiritual. Não para criar polarizações, mas visões do todo".
Explica, em Escolas Ocurrentesuma organização cultural para jovens em quase 200 países: "Por vezes, na vida, é preciso sujar as mãos para não sujar o coração". Um jovem evangelista, um católico e um muçulmano falam com Francisco sobre o seu projeto que une arte, cultura e religião.
Cerimónia de boas-vindas à tarde. "Todos nós, todos nós, todos nós cabemos na Igreja!" o Papa dirige-se a quase um milhão de jovens. Foi um belo acontecimento, o primeiro evento de massas com ele. E adverte-nos para não cairmos na maquilhagem, na procura de "gostos". E fala-lhes de vocação.
"Não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não apenas nestes dias, mas desde o início das vossas vidas. Ele chamou-nos a todos desde o início da vida. Chamou-vos pelo nome. Ouvimos a Palavra de Deus chamar-nos pelo nome. Tentem imaginar estas palavras escritas em letras grandes; e depois pensem nelas escritas no interior de cada um de vós, no vosso coração, como constituindo o título da vossa vida, o sentido de quem sois: fostes chamado pelo nomeTu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, aqui, todos nós, eu, todos nós fomos chamados pelo nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados pelo nome. Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo nome. São palavras escritas no coração, e depois pensemos que estão escritas dentro de cada um de nós, no nosso coração, e formam uma espécie de título da nossa vida, o sentido de quem somos, o sentido de quem somos.
"Foste chamado pelo teu nome. Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nome. No início da teia da vida, antes dos talentos que temos, antes das sombras das feridas que trazemos dentro de nós, fomos chamados. Fomos chamados, porquê? Porque somos amados. Fomos chamados porque somos amados. É lindo. Aos olhos de Deus, somos filhos preciosos, a quem Ele chama todos os dias para nos abraçar, para nos encorajar, para fazer de cada um de nós uma obra-prima única e original. Cada um de nós é único e original, e a beleza de tudo isso não podemos vislumbrar."
Janto com um novo amigo, o pároco venezuelano Rolando Rojas, com quem acabo de me cruzar. Ele frequenta os cursos de formação da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz (Opus Dei) na sua diocese.
"Odeio a pobreza, a pobreza dos outros, procuro sempre a vida destilada, aquela que existe na minha fantasia, mas que não existe na realidade? Quantas vidas destiladas, inúteis, que passam pela vida sem deixar rasto, porque a sua vida não tem peso!"
Num restaurante, estou a falar com um desconhecido pela enésima vez. Desta vez é o pároco austríaco Martin Truttenberger, que acaba de atravessar os Alpes de mota em nove dias! Distribui dezenas de medalhas de Nossa Senhora na cafetaria da Universidade Católica, e depois dirigimo-nos ao Oratório de São Josemaria.
A fase em que o Estações da Cruz à tarde, foi construída sobre o camarote do Papa e foi aí que teve lugar a receção papal ontem e a missa com o Patriarca na terça-feira. Torres azuis, escaladas corajosamente pelos jovens actores, amarrados a cordas, transferindo uma cruz de madeira de uma torre para outra. Uma magnífica Via-Sacra, primorosamente coreografada, entre outros, pela conhecida encenadora Matilde Trocado, e magnificamente representada por 50 jovens de muitos países, apoiados por centenas de outros músicos, cantores ou jovens trabalhadores nos bastidores. No total, os rapazes e raparigas vêm de cerca de vinte países.
Esta Via-Sacra foi preparada por padres jesuítas e jovens portugueses durante dois anos, e o texto destaca a vulnerabilidade e a fé. Durante estes anos de sínodos sobre a sinodalidade, milhares de jovens, com a ajuda do Dicastério para os Leigosforam objeto de um inquérito em todo o mundo. As suas preocupações, fraquezas e feridas foram integradas no texto da Via Sacra: a saúde mental (há um testemunho, gravado e mostrado no ecrã gigante, de um jovem português), a solidão, a violência, o medo, o desemprego, as falsas ilusões das redes sociais, as dependências, e dois outros testemunhos gravados, o de uma jovem espanhola que fez um aborto e depois se converteu, e o de um jovem americano que superou as dependências - ambos estão no pódio muito perto do Papa com os respectivos cônjuges.
Foi isto que o Papa nos disse no início da Via Sacra:
"Jesus, com a sua ternura, enxuga as nossas lágrimas escondidas, Jesus está à espera para preencher a nossa solidão com a sua proximidade. Como são tristes os momentos de solidão! Ele está ali, Ele quer preencher a nossa solidão. Jesus quer preencher o nosso medo, o teu medo, o meu medo, esses medos obscuros, quer preenchê-los com a sua consolação, e espera para nos empurrar, para abraçar o risco de amar. Porque tu o sabes, tu o sabes melhor do que eu: amar é arriscado. É preciso correr o risco de amar. É um risco, mas vale a pena correr, e Ele acompanha-nos nisso. Acompanha-nos sempre. Caminha sempre connosco.
"Ele está sempre connosco ao longo da nossa vida. Não quero entrar em mais pormenores. Hoje vamos percorrer o caminho com Ele, o caminho do Seu sofrimento, o caminho das nossas angústias, ... da nossa solidão. Agora, um segundo de silêncio e cada um de nós pensa no seu próprio sofrimento, pensa na sua própria ansiedade, pensa nas suas próprias misérias. (Minuto de silêncio) E Jesus caminha para a Cruz, morre na Cruz para que a nossa alma possa sorrir. Amém".
Sábado 5.O Papa desloca-se a Fátima, capital da paz. Reza pela paz. Reza o terço com jovens doentes, na Capelinha, no lugar onde Maria apareceu à Irmã Lúcia Santos, a Santa Jacinta e a São Francisco Marto, nos dias 13 de maio, abril, junho, julho, setembro e outubro de 1917, em plena Grande Guerra. Rezam a Nossa Senhora da Visitação, "às pressas".
O autor com Peter (irlandês) e Mayara (brasileira) O'Brien, que conheceu em Lisboa.
Por volta da uma hora, termino o meu trabalho pastoral e encontro um irlandês que casou com uma brasileira há um ano: conheceram-se no catholicmatch.com e vivem atualmente em Dublim. Sonham em constituir uma família cristã.
Todos os peregrinos correm, voam, caminham em direção ao Parque das Graças - para ver quem chega primeiro! Pelo caminho, encontrámos, entre muitos outros, dois seminaristas cubanos, Lázaro e Dionne, que vieram com mais de 200 peregrinos da sua ilha.
Chegando ao nosso sector por volta das três horas da tarde, não é fácil conseguir um pedacinho de terra para deitar a cabeça esta noite, para poder assistir à cerimónia da Vigília, para ver o Papa passar. Este sector deve ter ficado cheio antes do meio-dia, e nós tínhamos bilhetes.
Graças a Deus pela tecnologia audiovisual, pelos ecrãs gigantes, pelo trabalho dos 25.000 voluntários de mais de vinte países... Como Charlotte de Victoriaville, Québec. "Vim com a ideia de que estava feliz por ver o dedo mindinho do Papa. Mas como estava encarregada da segurança, consegui vê-lo quatro vezes a poucos metros de distância".
Do pódio-oratório, onde se encontram o Papa e o altar, ouve-se nos grandes ecrãs o testemunho de um sacerdote português e a música que acompanha a dança, o discurso do Papa e, sobretudo, a adoração do Senhor transfigurado. Como soa solenemente o hino. Panis Angelicum! Existem muitas outras composições musicais.
No dia seguinte, o Cardeal Manuel Clemente, de Lisboa, disse ao Vatican News: "a convicção destas pessoas. Não é fácil, no meio de uma multidão, de uma multidão desta dimensão. Viu-se em todas as celebrações... Não foi preciso que alguém pedisse silêncio, imediatamente toda a gente se calou... na adoração eucarística, havia um milhão e meio de jovens, que se perdiam de vista. Mas quando o Santíssimo Sacramento é colocado sobre o altar, o que é que acontece? Convicção, devoção... um momento muito forte... ninguém disse uma palavra. O Santíssimo Sacramento foi colocado e.... tck tckO que é isto? É algo do céu, não é nosso.
Depois, festa, confraternização e tentativa de dormir...
A última Santa Missa
Domingo 6. Festa da Transfiguração do Senhor. É lógico dizer, no singular, "Jornada Mundial da Juventude", porque tudo culmina na celebração desta Eucaristia dominical, neste caso, dado o calendário, liturgicamente a Transfiguração.
Vejo a Igreja transfigurada, enquanto concelebramos com mais de dez mil sacerdotes e cerca de 800 bispos, liderados pelo bispo de Roma: consagramos o pão e o vinho que alimentarão um milhão e meio de jovens cristãos de todos os países, dos cinco continentes, com as suas bandeiras. Igreja transfigurada do século XXI.
Na minha ação de graças depois da comunhão, imune ao suor desidratante, penso que o mundo deu a volta por cima. Como este pontífice é providencial! Na sua homilia, pede aos jovens que não tenham medo!! Ele reza uma ladainha de "obrigados" no final da missa, explicando-nos que estar vinculado significa empenhar-se, atuar. E conclui: "Obrigado a Ti, Senhor Jesus. Obrigado a ti, Maria, nossa Mãe; e agora rezemos" o Angelus.
À tarde, o Francisco convida os voluntários a entrar na onda do Amor de Deus. "A norte de Lisboa há uma cidade, Nazaréonde se pode admirar ondas que atingem até trinta metros de altura e que são uma atração mundial, sobretudo para os surfistas que as desafiam. ...Enfrentaram uma verdadeira onda; não de água, mas de jovens, jovens que inundaram esta cidade. Mas, com a ajuda de Deus, com muita generosidade e apoiando-se mutuamente, vocês enfrentaram esta grande onda. Vejam como são corajosos. Obrigado, obrigado! Quero dizer-vos que continuem assim, que continuem a navegar nas ondas do amor, nas ondas da caridade, ¡ser surfistas do amor!"
Segunda-feira 7. Vou a Fátima, uma hora e meia a norte, de autocarro. Enquanto viajo, avalio a JMJ. Foi a melhor JMJ de sempre? Para este cronista a pé, que já esteve em quatro, esta foi a mais perfeita, dentro do caos habitual. Para o Papa, das suas quatro JMJ (Rio de Janeiro, Cracóvia, Panamá, Lisboa), esta foi a mais bem organizada.
Oh, que boa gente são os portugueses! São simples, discretos, trabalhadores, acolhedores, respeitosos para com os cristãos. Um guia turístico diz que há portugueses que não são católicos mas que recorrem a Nossa Senhora de Fátima nas suas necessidades. Em Fátima, podem ver-se penitentes portugueses a avançar de joelhos em direção à Capelinha das Aparições. Na Via-Sacra, uma multidão de italianos da Comunione e Liberazione reza e canta sob um sol de rachar a respiração.
Terça-feira 8. Regresso a Montreal. No avião, encontro o meu amigo Padre Richard Conlin, da paróquia Corpus Christi de Vancouver. Viaja com 25 paroquianos, jovens dos 16 aos 24 anos e adultos que os acompanham. Os miúdos querem ir a Seul em 2027.
Quarta-feira 9. Francisco chegou ao Vaticano no domingo à noite. Aqui ele resume a JMJ. Para concluir, eis algumas citações da audiência papal de hoje. "Tantos jovens de todo o mundo, tantos! Para ir ao encontro de Jesus". Maria "guia a peregrinação dos jovens nas pegadas de Jesus... Como fez há precisamente um século em Portugal, em Fátima, quando se dirigiu a três crianças confiando-lhes uma mensagem de fé e de esperança para a Igreja e para o mundo".
Em Fátima, "rezei pela paz, porque há tantas guerras em todas as partes do mundo, todas elas".
"Os jovens do mundo vieram a Lisboa em grande número e com grande entusiasmo... Não foram umas férias, uma viagem turística, nem um acontecimento espiritual, um fim em si mesmo; as JMJ são um encontro com Cristo vivo através da Igreja, os jovens vão ao encontro de Cristo... Dou graças a Deus" pelo ambiente festivo. "Onde há jovens, há problemas, eles sabem fazê-lo bem!
E enquanto na Ucrânia e noutras partes do mundo há combates, e enquanto em certas salas escondidas se planeia a guerra, a JMJ mostrou a todos que um outro mundo é possível. "Um mundo de irmãos e irmãs, onde as bandeiras de todos os povos voam juntas, lado a lado, sem ódio, sem medo, sem fechamentos, sem armas. Será que os "grandes da terra" vão dar ouvidos a este entusiasmo juvenil pela paz?
É uma parábola para o nosso tempo, e ainda hoje Jesus diz: "Quem tem ouvidos, ouça! Quem tem olhos, veja!" Esperamos que o mundo inteiro escute esta Jornada da Juventude e veja esta beleza dos jovens a avançar. Esperamos que o mundo inteiro escute esta Jornada da Juventude e veja esta beleza dos jovens a avançar".
O autorFernando Mignone
Montreal
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A cura de Jimena durante a JMJ, uma rapariga de dezasseis anos de Madrid que é praticamente cega, comoveu o mundo inteiro. Aconteceu a 5 de agosto, na festa de Nossa Senhora das Neves, no último dia de uma novena que ela e todos os seus amigos estavam a fazer para rezar pela sua cura. E aconteceu em pleno dia de Dia Mundial da JuventudeO evento teve lugar em Lisboa, onde Jimena participou, juntando-se a inúmeros jovens de todo o mundo.
Fiquei surpreendido (talvez não demasiado) com a reação de alguns jornalistas que, mesmo com a evidência perante os seus próprios olhos de que esta rapariga era cega e agora vê, se recusam a reconhecer este facto inexplicável, este possível milagre. Estão simplesmente a ver com os seus próprios olhos, mas não acreditam em milagres.
Eles são mais cegos do que a Jimena era. Está mesmo à frente dos seus olhos e não o vêem.
Na realidade, esta cegueira é a cegueira da nossa sociedade no seu conjunto. O nosso mundo não acredita em milagres. E mesmo aqueles de nós que se dizem crentes têm dificuldade em acreditar nessas manifestações extraordinárias do sobrenatural nas nossas vidas. A razão principal é que temos um preconceito materialista da realidade em que, mesmo que acreditemos na existência de Deus, não acreditamos que Deus possa atuar na realidade material. Concebemos Deus e todo o sobrenatural como uma realidade distinta e distante da realidade material, sem qualquer ligação. A visão deísta de um relojoeiro que põe em movimento uma máquina que depois funciona por si própria foi-se infiltrando.
Mas essa não é a visão cristã de Deus e da sua relação com o mundo. Deus não criou simplesmente o mundo há milhões de anos. Deus continua a criá-lo e a sustentá-lo na sua existência. E, como Pai amoroso, está presente nas nossas vidas e cuida de nós na sua providência.
Um dia, Jesus deu um grito de alegria porque o Pai do Céu estava a esconder os mistérios do Reino aos sábios e inteligentes e a mostrá-los aos simples (cf. Mt 11,25). É o que acontece também hoje. Para os milhões de jovens que, como Jimena, assistiram às JMJ, era extraordinariamente normal para eles que Deus operasse este possível milagre e alegraram-se com Jimena pela sua cura. Talvez porque, durante esses dias, eles próprios tinham vivido numa atmosfera de espiritualidade e transcendência em que Deus estava intimamente presente.
Os milagres são sinais que Deus realiza para nos mostrar a proximidade de um Reino que já está entre nós. Jesus curou os cegos, não apenas como um ato de caridade e de misericórdia, mas para nos ensinar a ver mais profundamente, com os olhos da fé.
A grande questão que se coloca no meu coração é: o que é que Deus nos quis dizer com este possível milagre? Sem dúvida que o Senhor respondeu à fé de Jimena e dos seus amigos que fizeram aquela novena pela sua cura. Quantos jovens se atreveriam a dizer aos seus amigos que se juntassem a eles na oração para pedir alguma coisa? É preciso coragem para o fazer, como salientou D. Ignacio Munilla num encontro com jovens na JMJ, ao comentar este acontecimento.
Mas creio também que Deus nos está a dizer muito mais com esta cura. Ele está a confirmar aos jovens de todo o mundo, no caminho que percorreram de mãos dadas com Francisco nestes dias, que, como Maria, devem levantar-se e ir ao encontro dos seus irmãos e irmãs, levando Jesus no coração. Que a fraternidade universal é possível. E que Deus, o Emanuel, caminha connosco como o Deus próximo e real.
E o facto é que, como eu disse ChestertonO mais incrível dos milagres é o facto de acontecerem.
E agora os jovens de todo o mundo sabem-no. Viram-no com os seus próprios olhos.
Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.
Cerca de 2 000 jovens puderam estudar graças à Fundação CARF em 2022
1.915 seminaristas, padres diocesanos e religiosos de 79 países diferentes dos cinco continentes puderam estudar em várias faculdades da Igreja graças à generosidade de milhares de pessoas através da Fundação CARF.
A Fundação CARF apresentou o seu Relatório relativo ao exercício de 2022. Um ano em que se registou um número recorde de donativos que permitiram a 1.915 estudantes de todo o mundo estudar teologia e filosofia em Roma e Pamplona.
O Fundação CARF apoiou 1.915 seminaristas, sacerdotes diocesanos e religiosos de 79 países diferentes nos cinco continentes durante o ano académico de 2022. Para financiar os seus estudos, a Fundação atribuiu 5 810 000 euros (incluindo a ajuda do Conselho de Administração para a Ação Social), o que representa 67,6 % do total dos recursos aplicados durante 2022.
Além disso, o dotação O fundo de dotação da Fundação CARF disponibilizou 450 000 euros para bolsas de estudo, o que representa 8 % do total das subvenções concedidas.
Mais donativos mas exercício negativo
De acordo com o relatório anual, os donativos recorrentes e pontuais em 2022 ascenderam a 5 264 000 euros. Deste total, 1 415 000 euros provêm de donativos recorrentes e assinaturas, enquanto 3 849 000 euros provêm de donativos pontuais. De facto, a Fundação CARF não recebe subsídios públicos e os cerca de 5 300 doadores anuais garantem a independência e a continuidade da instituição.
Nesta secção, no entanto, verificou-se uma diminuição significativa dos recursos provenientes de legados e testamentos, que atingiram 872 000 euros em 2022, muito abaixo dos 4 206 000 euros recebidos em 2021, e o total obtido com rendimentos e receitas provenientes da gestão de ativos, que se situou em 533 000 euros em 2022, também diminuiu.
A diminuição destas duas últimas rubricas conduziu a um final de ano negativo e a Fundação encerrou com uma perda de 1 906 000 euros em 2022.
O trabalho da Fundação CARF
Apesar deste declínio, o Fundação CARF continua a cumprir os seus objectivos: rezar pelas vocações e pelos sacerdotes, difundir o seu bom nome em todo o mundo e ajudar na formação dos sacerdotes para que nenhuma vocação de seminarista, sacerdote diocesano ou religioso se perca por falta de meios financeiros.
Países de origem dos estudantes apoiados pela Fundação CARF
Campanhas da Fundação CARF
Em 2022, a Fundação CARF lançou quatro campanhas de donativos com diferentes missões: Doar caixas de vasos sagradosOs seminaristas, quando regressam às suas dioceses para serem ordenados sacerdotes, pode celebrar a Santa Missa em lugares inacessíveis e com recursos escassos.
Legados e testamentos de solidariedade: toda a sua vida para doarO objetivo é sensibilizar para a importância de transcender perpetuamente a vida e continuar a apoiar os sacerdotes e seminaristas em todo o mundo;
a iniciativa Ajudai-nos a semear o mundo com sacerdotes: que nenhuma vocação se perca que tem como objetivo transmitir a urgência de promover as vocações, indispensáveis para a administração dos sacramentos.
Finalmente, Sacerdotes, o sorriso de Deus na terra: dêem um rosto à vossa doação, centra-se nos doadores cuja contribuição é superior a 500 euros por ano e atribui-lhes um bolseiro, com nome e apelido, a quem o seu apoio será atribuído.
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Atualmente, a comunidade de Carmelitas Descalzas de Santiago de Compostela é composta por cinco freiras. No início do ano de 2022, iniciaram um processo para discernir o que fazer com a comunidade e decidiram finalmente encerrá-la.
Em abril de 2022, a nossa comunidade iniciou um período de discernimento sobre o seu futuro, uma vez que temos vindo a diminuir em número, a ponto de ser realmente difícil manter um ritmo de vida sereno e contemplativo, harmonizando a nossa comunidade com as necessidades da comunidade...".
a vida de oração e de trabalho", diz um comunicado da ordem.
O mesmo comunicado assinala que todo este processo e a decisão final foram verificados em todo o momento com os arcebispos de Santiago e com os superiores do Carmelo Descalço, "tanto a nível provincial como geral". A carta prossegue afirmando que "da parte da Ordem do Carmelo Descalço queremos deixar claro que os Carmelitas Descalços de Santiago de Compostela procuraram alternativas antes de decidirem acabar com a fundação. Concretamente, pediram a outros mosteiros de diferentes países uma irmã carmelita para reforçar esta comunidade. A atual falta de vocações tornou esta possibilidade inviável".
No entanto, desde que essa opção foi descartada, os Carmelitas procuraram um meio para que o mosteiro continuasse a ter uma vida religiosa, objetivo que foi alcançado graças aos Irmãos Carmelitas Contemplativos.
"Quando a comunidade decidiu que tínhamos de tomar a dolorosa decisão de deixar o nosso Carmelo, todas as irmãs só tinham um desejo: que a igreja do Carmelo permanecesse aberta, que a Virgem continuasse a receber culto, que o mosteiro pudesse continuar a albergar uma vida de oração e intercessão e que se cuidasse do túmulo e da Causa da Nossa Venerável Madre M.ª Antonia de Jesús", indicam as Carmelitas Descalças de Santiago de Compostela na sua carta ao Padre Miguel Márquez. A Madre M.ª Antonia de Jesús, declarada Venerável, está atualmente em processo de beatificação.
No comunicado da ordem, os carmelitas agradecem ao arcebispado de Santiago "a sua proximidade e acompanhamento durante esta fase difícil" e "o respeito e o afeto que a cidade sempre demonstrou para com eles".
As datas definitivas para o encerramento da comunidade ainda não são conhecidas, embora se preveja que seja durante 2024.
O Observatório Astronómico do Vaticano é uma instituição de investigação astronómica e de ensino financiada pela Santa Sé.
Está atualmente sediado em Castel Gandandolfo, Itália, e opera um telescópio no Observatório Internacional de Mount Graham, nos Estados Unidos.
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A piedade popular como oportunidade para uma nova evangelização
David Schwingenschuh é pároco das duas paróquias de Krieglach e Langenwang, na diocese de Graz-Seckau, na província da Estíria, no sudeste da Áustria. Neste artigo, fala sobre as tradições populares da Áustria rural e os desafios pastorais da região.
David Schwingenschuh-21 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 4acta
As paróquias de Krieglach e Langenwang estão situadas no vale do Mürz, ÁustriaA cidade caracteriza-se pelo trânsito do nordeste para o sudoeste, tendo como vias de comunicação a via férrea e a autoestrada, pelo que o santo padroeiro da igreja paroquial de Krieglach é muito apropriado: é dedicado ao apóstolo Santiago. Com mais de 5.000 e pouco mais de 3.000 habitantes, não são particularmente grandes e, à semelhança de outras cidades e das zonas rurais circundantes, caracterizam-se pela coexistência da agricultura e de pequenas empresas industriais. Assim, na vida secular e eclesiástica, as tradições e os costumes destas aldeias, alguns dos quais bastante antigos, são preservados a par de todas as inovações do século XXI.
O ponto de partida para as minhas reflexões é a minha própria posição como pároco nesta região rural da Áustria. Por um lado, existe uma tradição religiosa popular e uma estrutura pastoral bem estabelecida. Por outro lado, estou a servir sozinho onde, há 50 anos, trabalhavam três padres.
Além disso, por um lado, há uma forte mudança na vida religiosa e eclesiástica da população, mas, por outro lado, há um apelo a uma nova evangelização ou missão no próprio país.
Algumas pessoas vêem as expectativas tradicionais do padre e da paróquia como um obstáculo a um novo ministério pastoral e descartam-nas como uma perda de tempo. Eu tento ver as coisas de outra forma e senti-me encorajado por um artigo do 30giorni que li quando era um pároco muito jovem, em 2008. Descrevia o trabalho de padres em Buenos Aires que, com o apoio ativo do seu então bispo, Jorge Bergoglio, alcançaram e evangelizaram muitas pessoas em áreas problemáticas da cidade através da devoção popular, capelas e obras sociais relacionadas.
Evangelização através da piedade popular
Então, porquê rejeitar o que já existe para pôr em prática algo novo e não experimentado? "Porque não utilizar os elementos da piedade popular para proclamar a fé? Afinal, alguns eventos demasiado intelectuais ou supostamente modernos atraem poucas pessoas, enquanto muitas festas tradicionais atraem multidões. Parece-me que estas festas simples e populares levam especialmente a sério a verdade de fé da Encarnação, porque a parte corporal do ser humano não é esbatida. O aspeto social também não é esquecido, porque a maior necessidade nas nossas latitudes é provavelmente a solidão, que é contrariada por estas celebrações litúrgico-pastorais.
Bênção dos cavalos
Um bom exemplo é a chamada "bênção da carne", oficialmente designada "Bênção dos alimentos pascais". É celebrada em diferentes capelas e cruzamentos e atrai muitas, muitas pessoas, que trazem grandes cestos de carne, ovos e pão para serem benzidos. Em vez de os repreender por nunca terem vindo à igreja, a mensagem da ressurreição pode ser explicada de forma breve e concisa e, com um pouco de humor, podem também ser admoestados. Como há muitos lugares, os leigos formados também são encarregados de dirigir as orações e uma simples bênção. Em geral, é uma grande ajuda ter leigos fiéis nesta ocupação, que aliviam uma das muitas tarefas. Muitas vezes, são também catequistas, mas, por vezes, são muito práticos e funcionais, como mostra o ponto seguinte.
Passagens de nível e outras alfândegas
Há muitas capelas e cruzeiros à beira da estrada que são cuidados com carinho. Muitas vezes são remotas, em pequenas aldeias, e eu tento reunir os fiéis pelo menos uma vez por ano e reforçar a sua fé com a Eucaristia ou com uma devoção mariana. Muitas vezes, depois da missa, há um ágape ou mesmo uma pequena festa, o que favorece muito a ligação com a população local. Muitas vezes, no decurso desse encontro, tem lugar uma conversa sobre a fé ou a iniciação a um sacramento.
Em alguns vales, várias cruzes, muitas vezes situadas no meio de quintas ou isoladas na floresta, são ligadas para formar um percurso, que é depois seguido para celebrar uma Via Sacra durante a Quaresma. Além disso, existem algumas festas associadas a tradições, como o Dia de Todos os Santos, o Dia de São Martinho, o Dia de Santa Isabel, o Dia de Santa Bárbara, o Dia de São Nicolau, o Dia de Reis e muitos outros. Estes costumes são especialmente bons para as crianças e, por conseguinte, também para os pais.
Na Páscoa, existem outros costumes únicos. Por exemplo, uma procissão solene das várias aldeias, acompanhada por bandas, acólitos e sacerdotes, nas primeiras horas da manhã de Páscoa. Recria-se assim a viagem dos apóstolos Pedro e João até ao túmulo vazio.
Bênção de um Bildstock
Como estes costumes foram restringidos ou impossíveis de celebrar durante a pandemia, muitas pessoas tomaram consciência do seu apego a eles e do significado da sua fé. Por isso, recentemente, a participação voltou a ser muito elevada e tornou-se uma oportunidade para proclamar a fé. Parece-me que, com uma pitada de humor e uma profunda seriedade em relação às preocupações dos outros, se pode semear a mensagem de esperança no coração das pessoas de uma forma piedosa e autêntica, e depois pedir ao Senhor da messe a sua bênção e graça para a semente que germinou.
Reflexões sobre o possível milagre de Jimena na JMJ
Durante a JMJ Lisboa 2023 teve lugar uma cura que alguns, como o autor deste artigo, consideram milagrosa. Cabe à Igreja determinar se se trata efetivamente de um acontecimento sobrenatural.
Sergio Gascón Valverde-21 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 10acta
Para os cristãos, as coisas não acontecem por acaso. A providência de Deus guia-nos e cuida de nós. Deus continua a falar ao homem. Fá-lo através do Espírito Santo, o Espírito de Jesus Cristo. Jesus Cristo falou através de sinais (milagres) e de palavras. A sua maneira de explicar os seus ensinamentos era a da sua cultura e da sua língua aramaica, ou seja, através de parábolas, imagens simbólicas, etc. Esta forma de comunicar é melhor compreendida pelos homens de todos os tempos, porque se dirige ao coração do homem e não apenas ao seu entendimento.
Estes sinais e imagens usados por Jesus são uma fonte de luz para o coração humano, quando este os tenta ponderar ("meditar") no seu coração. Lucas diz explicitamente que o comportamento do Jesus adolescente (cheio de simbolismo teológico e antropológico) é difícil de compreender, Maria, por seu lado, guardava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. (Lc 2,19).
Nos últimos tempos, Deus comunicou mensagens muito claras através da Sua Santíssima Filha, Mãe e Esposa, a Virgem Maria. E continua a fazê-lo com sinais (milagres) e imagens, acontecimentos que vale a pena refletir no coração, no espírito da doutrina evangélica que a Igreja conserva e ensina.
Neste milagre, há algumas circunstâncias, sinais e imagens que incitam à reflexão e à ponderação. É por isso que tomei a coragem de escrever sobre ele.
O milagre
Jimena é uma rapariga espanhola de 16 anos que vai à JMJ '23 em Lisboa com um grupo de amigos, numa viagem organizada por um clube de jovens e um colégio do Opus Dei em Madrid. Durante dois anos e meio perdeu a visão 95%. Os médicos tinham-na considerado incurável. Começou a estudar o sistema de leitura Braille. Antes da viagem - diz ela - sentiu que a Virgem a ia curar e pediu aos seus pais, familiares e amigos que rezassem uma novena à Virgem das Neves, cuja festa se celebra a 5 de agosto, para pedir a sua cura. Com fé, iniciaram a novena e ela foi à JMJ. No sábado, 5 de agosto, assistiu à Santa Missa, como costumava fazer nesses dias das JMJ. Jimena foi à comunhão. Começou a chorar. Cheia de lágrimas durante a ação de graças depois da comunhão, abriu os olhos e conseguiu ver perfeitamente. Ela própria o conta num áudio que foi difundido nas redes sociais.
Os meus pensamentos
1) Deus continua a fazer milagres quando quer, como quer e a quem quer. Porque é que o faz à Jimena e não a outros. Deus sabe o que é melhor para cada alma. Para alguns não convém que o Senhor lhes faça um milagre, porque sabem que não lhes fará bem ou que, não o fazendo, conseguirão coisas melhores para si e para os que estão com eles. Por outro lado, para fazer milagres, Nosso Senhor pede-nos fé e confiança n'Ele. Jimena acreditava, estava convencida de que Nossa Senhora a iria curar. Por isso, pediu à sua família e aos seus amigos que começassem uma novena a Nossa Senhora das Neves.1 cuja festa se celebra a 5 de agosto e no dia em que terminou a novena de orações. E com essa convicção, cega fisicamente, foi para Lisboa participar na JMJ '23. Porquê a novena à Virgem das Neves, não sei. Teremos de lhe perguntar.
O pai de Jimena conta à ACI Prensa, com simplicidade e firmeza, os pormenores do que define como "um salto na fé" e um "presente da Virgem Maria para as JMJ".
Para ver, é preciso aceitar de coração a vontade de Deus, o bom Pai, que sabe o que é correto para cada um de nós e em todas as circunstâncias..
2. a necessidade de chorar para poder ver. Jimena comunga cega na missa de 5 de agosto. Toma a comunhão, volta para o seu banco e começa a chorar sem parar, de olhos fechados. Por fim, com os olhos cheios de lágrimas, abre os olhos e vê perfeitamente.
Parece que o Senhor nos diz que é importante ver, mas que só podemos ver verdadeiramente se primeiro aprendermos a chorar. O Papa Francisco nas Filipinas em 2015, de forma espontânea, explicou a necessidade de chorar como uma forma de explicar coisas que não têm resposta (neste caso era a prostituição infantil sofrida por aquela pobre rapariga que, ao perguntar ao Papa sobre isso, desatou a chorar por causa das memórias da experiência que tinha vivido). Aqui pode ver:
É preciso purificar o coração para poder ver. O choro é uma expressão corporal do que se passa no coração. Nós, homens, passamos por todo o tipo de experiências na vida. Muitas delas deixam marcas no coração. Não podemos escondê-las ou calá-las. O choro ajuda a trazê-los para fora e a partilhá-los com um outro que aceita o sofrimento ou a alegria que o choro produz. É especialmente necessário chorar pelos pecados pessoais e pelos pecados dos homens, chorar pela presença do mal no mundo, pelo engano do demónio em que caem tantas almas.
Ainda no dia anterior, o Papa falou, durante o discurso da Via Sacra, da necessidade de chorar. Disse o seguinte:
Jesus caminha e espera com o seu amor, espera com a sua ternura, para nos consolar, para enxugar as nossas lágrimas. Faço-vos agora uma pergunta, mas não a respondam em voz alta, cada um de vós responda a si próprio: choro de vez em quando? Há coisas na vida que me fazem chorar? Todos nós já chorámos na nossa vida, e continuamos a chorar. E Jesus está connosco, chora connosco, porque nos acompanha na escuridão que nos leva ao choro. Cada um de nós diz-lhe isso agora, em silêncio.
Jesus, com a sua ternura, enxuga as nossas lágrimas escondidas. Jesus está à espera para preencher a nossa solidão com a sua proximidade. Como são tristes os momentos de solidão! Ele está ali, quer preencher essa solidão. Jesus quer preencher o nosso medo, o teu medo, o meu medo, esses medos obscuros que Ele quer preencher com a sua consolação.
Cada um de nós pensa no seu próprio sofrimento, pensa na sua própria ansiedade, pensa nas suas próprias misérias. Não tenham medo, pensem nelas. E pensem no desejo de que a alma volte a sorrir.
Jimena tem uma grande dor no seu coração que a faz sofrer muito e chora no momento da comunhão e pede a cura com fé. Parece que o Senhor nos quer recordar que devemos aprender a abrir o nosso coração a Deus e a chorar as nossas misérias para que a compunção e o verdadeiro amor limpem e purifiquem a presença do mal no nosso coração. Mas devemos chorar diante de Jesus Cristo que nos cura. E nós encontramos Jesus Cristo no nosso coração e na Eucaristia. Chorar diante de outras pessoas pode consolar e ajudar, mas não cura em profundidade. O choro diante de Jesus Cristo consola e cura o coração. Nosso Senhor continua o mesmo, continua a curar os homens e as mulheres do nosso tempo.
Para ver, precisamos primeiro de aprender a chorar pelo que realmente importa na vida.
3. Os cegos vêem. Chama-me a atenção o facto de o milagre ocorrer num cego e não, por exemplo, num paralítico, num surdo ou em qualquer outro tipo de deficiência. Parece que o Senhor, através de Nossa Senhora, nos está a dizer para vermos. Àqueles que sabem que são cegos para as coisas de Deus e o reconhecem, Ele confirma - se pedirem ajuda com fé - que podem ver ou recuperar a visão, se a perderam em algum momento; àqueles que não vêem e dizem que vêem, Ele diz a mesma coisa com este milagre: que vêem a verdade, não a sua verdade. O diabo, com as suas mentiras, tolda-nos a vista e deixa-nos cegos, promovendo em nós o orgulho. Orgulho que cega e não nos permite reconhecer e aceitar as coisas que aconteceram na nossa vida, os nossos erros pessoais ou os erros dos outros cometidos sobre nós. Com humildade e fé, como faz Jimena, temos de pedir a Deus, através da Virgem Santíssima, para ver as coisas importantes da vida que só podem ser vistas com o coração.
Para ver, temos de reconhecer e aceitar que não vemos e que queremos ver.
4. A Eucaristia e Nossa Senhora. O milagre acontece durante a celebração da Santa Missa e logo depois de Jimena receber o Corpo de Jesus Cristo na comunhão. Parece que Deus quer deixar clara a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja. A Eucaristia, o maior e mais importante milagre que acontece na terra todos os dias. É como se Deus quisesse confirmar que temos de cuidar da Eucaristia. A Eucaristia faz a Igreja. Este é o título da última encíclica de São João Paulo II. Sem a Eucaristia, a Igreja desapareceria. É como se o Senhor quisesse sublinhar a necessidade de adorar, de celebrar, de cuidar da Eucaristia. Jesus Cristo na Eucaristia é o centro e a raiz da vida cristã ou, como diz o Concílio Vaticano II, a fonte e o cume da vida da Igreja.
A fé move o coração de Jesus Cristo. A própria Jimena diz no seu áudio: "isto foi uma prova de fé". Os cristãos são sempre confrontados com a prova de fé da presença de Jesus Cristo na Eucaristia. Ele está ali com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Ou se crê ou não se crê. E se se acredita, é preciso ser coerente com a imensidão do amor de Deus que isso implica. Isto significa: ir ter com Ele na Eucaristia para O louvar, adorar, agradecer, agradecer e rezar. A Virgem Santíssima leva-nos ao seu Filho na Eucaristia. Antes da primeira aparição de Nossa Senhora, um anjo apareceu várias vezes aos três pastorinhos videntes de Fátima. Na sua última aparição, deu-lhes o Corpo e o Sangue de Jesus para receberem a comunhão sob as duas espécies. Seguiram-se as aparições da Santíssima Virgem.
Jimena, a sua família e os seus amigos fizeram uma novena a Nossa Senhora das Neves. Pediram à Virgem Maria. Mais uma vez, ela responde às orações de uma menina. Nossa Senhora atende sempre as orações dos seus filhos. Deus, na sua providência, concede o que é pedido. Maria, sem dúvida e pela fé, intercede por nós de um modo especial. O Senhor tornou mais uma vez clara a poderosa intercessão da sua Mãe, Medianeira de todas as graças. Ele quer que peçamos através da sua Mãe. Nossa Senhora está com os jovens. Ela não abandona os jovens que não vêem ou não querem ver. Ela abre-nos os olhos para o mistério do seu Filho.
Para ver, precisamos de ver Jesus Cristo na Eucaristia. Maria é o caminho mais curto e mais seguro para o conseguir.
5. O contexto do milagre. Este milagre aconteceu num momento muito específico: teve lugar num contexto muito especial de comunhão eclesial, a JMJ. 1,5 milhões de jovens reunidos pelo Papa Francisco e com a participação de dezenas de bispos de todo o mundo e centenas de sacerdotes dos cinco continentes. O Papa esteve em Fátima a 5 de agosto. Cerca de 200.000 peregrinos vieram rezar a Nossa Senhora com Francisco, que curiosamente se fez acompanhar de jovens doentes que não puderam participar nas JMJ. Fátima, um santuário mariano tão intimamente ligado a acontecimentos recentes da história da humanidade. A difusão da sua mensagem e da sua história é universal.
Parece que o Senhor, através de Nossa Senhora, nos pede: mantenham-se unidos, em comunhão com o meu Vigário na terra, à volta da minha Mãe. Mantenham a vossa unidade. Rezem juntos, trabalhem juntos, sofram juntos e os corações ver-se-ão. E, ao mesmo tempo, pede-nos que demos testemunho das graças que recebemos. No caso de Jimena foi também uma graça corporal. E toda essa comunhão que foi vivida na JMJ, a alegria da fé, tudo isso deve ser testemunhado no mundo de hoje, especialmente pelos jovens.
Para ver, precisamos de estar unidos com o Papa e uns com os outros, os filhos da Igreja. Ver juntos para caminhar juntos.
Epílogo
Atualmente, estamos saturados de imagens audiovisuais de coisas por vezes muito chocantes. Habituamo-nos a ver coisas que, há alguns anos, achávamos fascinantes ou muito chocantes. Agora, de facto, no Youtube, no Tiktok, etc., já poucas coisas nos espantam.
Com este milagre em direto, em plena JMJ, com o Papa presente, com 1,5 milhões de jovens, Nosso Senhor e a sua Mãe deram-nos esta graça que não podemos deixar passar como mais um vídeo no Tiktok ou no Youtube. Não. Temos de parar para pensar e sobretudo para rezar. Devemos refletir na presença de Deus, como fizeram Nossa Senhora e os santos. E aí devemos receber a luz do Espírito Santo que Ele nos quer enviar.
Especialmente aqueles de nós que participaram nesta JMJ têm uma maior sensibilidade para o fazer. Mas sobretudo os jovens de hoje, cristãos ou não, devem fazê-lo. 1,5 milhões de jovens junto a um venerável ancião de 86 anos cantando e adorando Jesus Cristo e sua Mãe não é uma questão superficial. E se, para além disso, houve um milagre evidente como o de Jimena, seria triste ficar indiferente.
Como comentário anedótico. O ambiente de formação cristã em que Jimena cresceu, tanto na sua família como na escola, é o da espiritualidade do Opus Dei. Prega a chamada universal à santidade na vida quotidiana. O carisma que o Espírito Santo infundiu no fundador do Opus Dei, S. Josemaria Escrivá, inspira-nos a procurar Jesus Cristo na vida quotidiana mais ordinária, sem esperar nem procurar actos extraordinários. O próprio São Josemaria (que recebeu graças extraordinárias na sua vida, realizadas com total discrição) dizia neste sentido Não sou um milagreiro. Escrevi durante anos, e disse tantas vezes de boca em boca, que os milagres do Evangelho me bastam. Mas se eu dissesse que não toco em Deus, que não sinto toda a força da sua omnipotência, estaria a mentir!2
O facto de vir de uma família e de um ambiente cristão que não é muito propenso a milagres ou a "milagres", mas, pelo contrário, à vida cristã normal e ao trabalho quotidiano, faz-me ver o bom humor de Deus, por um lado, e, por outro, faz-me pensar com mais convicção que Deus quis falar-nos através deste milagre por intercessão de Maria.
E noutra ocasião São Josemaria disse A nossa vida não contém milagres. Contém, sim, as nossas ninharias quotidianas, o nosso trabalho bem feito, a nossa vida de piedade e, sobretudo, o complemento inefável da força e da Omnipotência de Deus. Mas não nos podemos contentar apenas com a ambição pessoal de chegar ao Céu: se estivermos verdadeiramente unidos a Deus e confiarmos em Deus, faremos com que todas as almas conheçam o Senhor e O sigam, amando os Seus mandamentos.3
Maria fala-nos mais uma vez através de Jimena e das JMJ. Ela ordena-nos que cuidemos de nós próprios no século XXI. para que todas as almas conheçam o Senhor e o sigam, amando os seus mandamentos.
1 Esta é a invocação da Virgem venerada na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma. É a mais antiga igreja dedicada à Virgem Maria no Ocidente. Data da segunda metade do século IV. A Virgem apareceu a um casal romano e simultaneamente ao Papa Libério. A Virgem pediu-lhes que construíssem ali um templo em sua honra. O local para o construir seria numa das colinas de Roma, onde teria nevado. Assim, num dia quente de 5 de agosto, nevou na Colina Esquilina, onde se encontra desde então a Basílica de Santa Maria Maggiore. Aí se encontra o famoso ícone da Virgem Maria. Salus Populi Romani. Ela é muito amada em Roma. Esta é a imagem que o Papa Francisco visita sempre antes e depois de cada viagem que faz fora de Roma.
2 JAVIER ECHEVARRÍA, Memoria del Beato Josemaría Escrivá (Entrevista a Salvador Bernal) Rialp, 2ª ed., Madrid 2000, pp. 175-176.
3 JAVIER ECHEVARRÍA, Memoria del Beato Josemaría Escrivá (Entrevista a Salvador Bernal) Rialp, 2.ª ed. Madrid 2000, p. 268.
Monsenhor Masondole: "Em África não há vergonha em dizer 'sou cristão'".
Monsenhor Simon Chibuga Masondole é bispo da diocese de Bunda, na Tanzânia. Ele vem de uma tribo das ilhas Ukerewe, uma comunidade que foi sustentada por catequistas, pois não havia padres na região. Nesta entrevista ao Omnes, fala sobre a Igreja em África.
Loreto Rios-20 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 12acta
Monsenhor Simon Chibuga Masondole visitou em maio a ad limina com o Papa e depois foi a Espanha para visitar seminaristas tanzanianos que estudam no país. Nesta entrevista à Omnes, fala-nos dos principais desafios e pontos fortes da Igreja africana, das diferenças na experiência de fé entre a África e a Europa e da situação atual da sua diocese, que partilha características com muitas outras do continente africano.
Como vê a situação da Igreja em África e na Tanzânia em particular? Que pontos fortes e que desafios encontra?
Uma das principais características da Igreja na Tanzânia é o facto de ser uma Igreja jovem, em crescimento, que acaba de celebrar 150 anos de evangelização. Há um grande número de conversões, tanto de jovens como de adultos. As famílias que se converteram há mais tempo caracterizam-se também pelo facto de serem as que estão mais bem enraizadas na fé e são a sementeira de vocações para a Igreja.
Neste contexto, existem muitos movimentos apostólicos, por exemplo a Infância Missionária ou TYCS (Tanzanian Catholic Students). Além disso, muitos jovens que estão na universidade formam coros. O coro na Tanzânia é como um movimento apostólico, tem o seu registo, as suas regras. A sua forma de evangelizar é através do canto. Não é como na Europa, o "coro paroquial", é um apostolado concreto.
Dom Simon antes da Confirmação das crianças (de vermelho e branco) da paróquia de Murutunguru.
Perante esta bênção que é o aumento do número de cristãos e a esperança de ver a Igreja crescer, temos a dificuldade de ter falta de pastores, tanto em termos de número como de formação. Não só na Tanzânia, mas em África em geral.
Por outro lado, também se nota que em África há uma espécie de sincretismo. Não há fronteiras para dizer: eu sou católico e a vida cristã é isto. Por isso, há muitas situações em que há pessoas que vêm à Igreja Católica pedir ajuda ou oração porque estão doentes, mas se o problema persistir e não virem as suas necessidades satisfeitas, não têm qualquer problema em ir a outras denominações ou a outros lugares.
Podem passar uma manhã numa igreja católica a pedir a unção dos doentes, mas depois vão a uma oração de cura pentecostal e, se isso também não resultar, vão a um xamã ou a um curandeiro. Portanto, é verdade que há uma necessidade do Senhor, mas há também uma necessidade quotidiana de ultrapassar estas dificuldades. Portanto, o desafio é também esta tarefa evangelizadora, lidar com este sincretismo, que em parte vem de uma fé que ainda não está firme, que ainda se está a desenvolver, e por outro lado, de uma tradição de milénios que está muito ancorada.
Este grupo de cristãos que "vagueia" com os seus problemas de um lado para o outro está a crescer e tem uma certa dimensão. É um desafio para a Igreja em África cuidar deles, mas também ajudá-los a enraizarem-se na fé católica e nestas fronteiras da fé.
Outra dificuldade com que se depara não só a Igreja, mas também a população africana, é a proliferação de grupos que se dizem cristãos, mas que no fundo são pregadores de falsidades, em busca de lucros pessoais. Por exemplo, com fórmulas do tipo: "Se pisares este óleo sagrado, ficarás rico".
Eles aproveitam-se dessa necessidade humana que as pessoas têm. Recentemente, tivemos um caso no Quénia: na Páscoa, o pastor pregou que o encontro com Cristo se faz através da morte, e influenciou as pessoas ao ponto de elas jejuarem até à morte, e a polícia teve de intervir. Outro caso foi o que chamamos de Jesus de Tongaren, um homem que se autoproclamou Jesus, dizendo que veio à Terra na Segunda Vinda, e que tem um grupo de seguidores.
Ou, há uns anos, um outro pregador que dizia que era o fim do mundo e fazia com que as pessoas se untassem com óleo e pegassem fogo à igreja com as pessoas lá dentro, e houve mortes. Estes são normalmente grupos pentecostais, mas não só pentecostais, há outros ramos. Por isso, outro desafio para a Igreja em África é o aumento destes grupos, que dizem que o Espírito Santo lhes falou e lhes pediu para fundarem algo novo. Através da pregação, também angariam fundos. Há um grupo em particular em que cada tipo de bênção envolve uma quantia diferente de dinheiro: se são apenas algumas palavras, é uma certa quantia; se tenho de impor as mãos sobre ti, é outra quantia.
A Igreja Católica tem de ter o cuidado de pregar o Evangelho autêntico, mas também de ajudar e cuidar destas pessoas que são enganadas, abusadas e burladas usando o nome de Cristo.
Devemos também pedir mais vocações, promover a pastoral vocacional, mas, ao mesmo tempo, reforçar a formação dos padres, que são filhos do seu tempo e podem vir com tradições ou costumes que não são próprios do cristianismo.
Mas o que é bom é que o número de cristãos está a aumentar, nomeadamente na Tanzânia há mais cristãos do que muçulmanos. O aspeto positivo é que não há fundamentalismo, há liberdade de relacionamento entre as confissões, mas também temos de estabelecer o limite de, sem sermos fundamentalistas, sermos capazes de reconhecer o que se enquadra na fé católica e o que não se enquadra.
Quais são, na sua opinião, as principais diferenças entre a Igreja na Europa e em África?
A primeira diferença é que a Igreja em África está a crescer rapidamente em número de cristãos, enquanto na Europa esse crescimento abrandou.
Em Espanha, nas paróquias onde estive, vi que há jovens, ao passo que, no que conheço de Itália, isso é muito difícil de encontrar. Embora seja uma coisa má, penso que, em geral, na Europa, fiquei contente por ver que em Espanha ainda há uma semente viva do Evangelho.
Além disso, em África, não há vergonha de dizer "sou cristão" ou "procuro Deus". Os jovens na universidade não têm vergonha de dizer que são cristãos, que vão à igreja, ao ensaio do coro... Os profissionais católicos também não têm vergonha, pode-se ser médico e sabe-se que se é cristão e não há problema. Na Europa, vejo este embaraço quando se trata de dizer que se é cristão, ou de proclamar o Evangelho. E parece haver a convicção de que não se pode ser um bom profissional e católico, que são incompatíveis.
Outra diferença em relação às que já mencionei é que, na Igreja em África, a expressão da fé através do corpo é muito importante na celebração litúrgica. Por exemplo, em cada hino há sempre uma coreografia, não é só música. Ou há também as crianças da Infância Missionária, que se encarregam de dançar na Eucaristia. Na liturgia europeia, tudo é mais estático. É a morte da emoção, em contraste com a vivacidade da expressão na Igreja em África: dança, palmas, o vigelegele ou grito de alegria, e também na procissão de entrada o coro tem um passo de entrada.
É uma dança litúrgica, claro, mas não se entra assim sem mais nem menos. Na Europa, para ver emoções, é preciso haver um acidente na estrada. Mas se não houver, não são expressas. No outro dia, falando com o reitor de Jaén, estávamos a dizer que em nenhuma parte da Bíblia está escrito que a missa tem de ser uma missa de corpo rígido. O importante é respeitar o rito litúrgico, mas isso não impede a expressão emocional ou corporal.
Talvez na Europa estejamos a assistir a uma maior exaltação do corpo através de tatuagens, piercings... Mas não na celebração litúrgica. Recuperar a corporeidade na celebração é também uma forma de purificar a conceção de corporeidade entre os jovens, em vez de piercings e tatuagens.
A Igreja em África traz esse desleixo dentro do rito, para compreender que a minha fé também se manifesta através do corpo. O homem é corpo e alma.
Outra diferença é o significado do ofertório na missa. Por um lado, há a oferta económica. Não sei muito sobre a situação em Espanha, mas a minha experiência em Itália, onde vivi durante dez anos, é que o normal é dar 50 cêntimos. Perdeu-se o sentido da oferta como expressão da união da nossa vida à doação do Senhor, e isso tem um sentido material. Isto está muito vivo em África. Se uma comunidade vê que precisa de uma igreja, não fica à espera que o bispo mande construir uma igreja. Põem mãos à obra, fazem coleta e constroem-na.
Talvez seja porque na Europa as pessoas estão habituadas ao facto de os padres serem pagos, mas perdem a noção de que é o povo que sustenta os padres. Por outro lado, há a oferta material. Em África, para além do dinheiro, também se oferecem coisas: galinhas, ovos, fósforos, sal, farinha, fruta... Estas coisas são realmente uma oferta, a pessoa está a dar e entrega-as à igreja, e depois o padre administra-as: algumas coisas vão para se sustentar, porque não tem outra forma de se sustentar, e outras para distribuir pelos pobres.
No entanto, o que tenho observado na Europa é que, quando se oferece algo que não é dinheiro, nas missas dos jovens ou das crianças, é uma oferta simbólica, por exemplo: "Ofereço-vos estes sapatos como representação da nossa caminhada cristã". Mas depois da missa os sapatos são retirados, não há uma oferta para que pelo menos esses sapatos possam servir a um pobre, não é uma verdadeira oferta.
Toda a Igreja em África é sustentada por ofertas, ninguém recebe um salário?
Não, ninguém é pago. Em África não existe tal coisa. A não ser que seja um padre que trabalhe numa escola, aí recebe um salário de professor. Mas um pároco, ou um bispo, não recebem salário, vivem das ofertas das missas e do que as pessoas dão, quer financeira quer materialmente. Há também o pagamento do dízimo no fim do mês, que é outra forma de oferta. Consoante o tipo de trabalho efectuado, há um montante atribuído, que não é realmente os 10 %, é simbólico. Os funcionários públicos têm um montante atribuído, o que é diferente dos agricultores ou dos estudantes.
O que o padre faz é administrar aquilo que recebe através dos dízimos e das ofertas: para o seu próprio sustento (desde a comida até à gasolina para o carro para ir celebrar a missa nas aldeias ou para cuidar dos doentes), para o desenvolvimento e as reparações da igreja e para as necessidades dos pobres. O problema é que as paróquias da cidade são mais ricas e vivem mais confortavelmente, e as paróquias das aldeias são mais necessitadas.
Enviou vários seminaristas para estudar na Universidade de Navarra, em Pamplona. Como pensa que esta experiência os pode enriquecer?
A ideia de enviar padres e seminaristas para estudar em Navarra surgiu quando eu estava a estudar em Roma. Aí conheci um padre que me disse que tinha estudado em Navarra. Ele deu-me o contacto para falar com o bispo e conseguimos um lugar para o primeiro padre tanzaniano que foi para Navarra. Bidasoada minha diocese de Bunda. Quando esteve em Navarra, descobriu que os seminaristas também podiam ir, pelo que os pedimos para o ano seguinte e começámos a enviá-los também.
O bispo com os seminaristas tanzanianos que estudam em Bidasoa, Navarra.
Os seminaristas e os padres que estudam no estrangeiro têm muitas vantagens. Em primeiro lugar, desta forma vêem que a Igreja é una, católica, apostólica e romana. Vêem a universalidade e a unidade da Igreja. Todos os institutos ou universidades são um bem da Igreja, portanto são para todos. Ir estudar para qualquer universidade é uma forma de experimentar na carne que a Igreja é uma só, que em todo o lado há universidades católicas e que a teologia é a mesma.
Nem todos os seminários têm um sistema que lhes permita acolher estudantes estrangeiros. Bidasoa é um dos poucos seminários internacionais, foi expressamente concebido para a formação de seminaristas provenientes de diferentes partes do mundo, não é um seminário diocesano.
Por outro lado, o ensino também envolve uma tradição. Não se pode comparar a tradição de vida cristã e de universidades cristãs que a Igreja na Europa tem com a da Tanzânia, que acaba de celebrar 150 anos desde a chegada dos primeiros missionários.
A Igreja na Europa tem um tesouro de ensino, bibliotecas, livros, professores bem formados, que são também investigadores e escritores, que a África não tem. É inútil dizer que estamos em pé de igualdade.
A ideia é que eles recebam esta formação para a poderem levar à igreja africana e enriquecê-la.
Tive a oportunidade, nesta visita a Espanha, de ver muitas bibliotecas, e esta é a primeira vez que vejo um livro de pergaminho. Ou eu, por exemplo, sou doutorado em Liturgia pelo Ateneu Pontifício de Santo Anselmo, e vi pela primeira vez um sacramentário, os primeiros livros litúrgicos. Tinha estudado ou memorizado coisas que nunca tinha podido ver fisicamente. A Igreja em África não tem essa riqueza, nem uma biblioteca onde possa ver essas coisas.
Por outro lado, em África, somos de rito latino. Há o rito copta no Egipto, mas basicamente somos de rito latino. Na Europa, porém, há o rito romano, moçárabe, ambrosiano... Nesta viagem a Espanha, tive a oportunidade de assistir pela primeira vez a uma missa no rito moçárabe.
Além disso, em cada igreja local existe uma forma de piedade popular. Poder sair de casa e ver outras formas culturais de viver e exprimir a fé é uma grande riqueza, porque há muitas coisas a aprender. Ajuda também a conhecer o que é negativo, para evitar que isso aconteça na diocese de origem.
Tradição é aprofundamento, é desenvolvimento. Em África ainda não temos isso. Estuda-se o que é uma basílica, mas em África não há basílicas, nem edifícios tão grandes. Penso que há duas em toda a África que podem ser consideradas basílicas. Na Europa, há tanta história e tantos estilos arquitectónicos, com igrejas românicas, góticas, barrocas, renascentistas, neoclássicas... É uma riqueza.
Ou os cónegos de uma catedral, em África é uma figura que não existe, mas aqui vi que é muito comum. Estudar noutra diocese abre-nos os horizontes e as perspectivas.
Havia uma tradição cristã africana, mas sobretudo na parte norte, que se perdeu com a chegada do Islão. Assim, dentro de África, havia uma barreira de comunicação do que poderia ter sido a tradição africana da fé cristã.
Gostaria também de apelar à Igreja ocidental para que abra um pouco mais as suas portas. Em África, faltam-nos estas raízes da história, da educação, da tradição litúrgica... Se isto não for conhecido e aprofundado, corre-se também o risco de a fé africana ficar sem raízes. Ajudar-nos-ia muito se o Ocidente abrisse mais as suas portas à Igreja africana e facilitasse esta formação. É necessário fomentar esta firmeza na fé.
Por outro lado, é também uma vantagem para a Igreja europeia. A Igreja africana é jovem, ainda não tem medo de dizer "sou católico". O facto de os jovens africanos virem à Igreja europeia é um testemunho. É uma fé sem medo. E é também um benefício para a igreja local ver outra forma de viver a fé. O intercâmbio é benéfico para todos. Precisamos uns dos outros para sermos realmente universais.
Como foi o seu processo vocacional e o que o encorajou a ser ordenado?
Venho de uma família cristã e a minha vocação surgiu quando era criança. Há dois momentos-chave de que me lembro. Quando tinha 5 ou 6 anos, o bispo veio à minha ilha pela primeira vez (sou de Ukara, uma ilha do arquipélago de Ukerewe, no Lago Vitória). Tinham acabado de construir o primeiro kigango em Bukiko, a minha aldeia natal, e o bispo veio inaugurá-lo. Lembro-me de como demos as boas-vindas ao bispo, dos cânticos... O bispo falou da importância de os pais se empenharem na educação dos filhos. De todas as crianças, ele aproximou-se de mim, pôs a mão na minha cabeça e disse: "Uma criança como esta, se estudar, um dia pode vir a ser padre".
O segundo momento chegou pouco depois. Não havia padres na ilha, só vinham para celebrar a Páscoa e o Natal. Nem sequer havia missa aos domingos, porque não tínhamos um ferry como agora, tínhamos de ir de barco de pesca. A fé na minha comunidade foi preservada e difundida pelos catequistas, e eu também fui formado através deles.
Nesse ano, a minha mãe levou-me à missa de Natal e deixou o meu irmão mais velho a tomar conta da casa. A paróquia é muito longe e tínhamos de ir a pé, por isso não podíamos ir todos. Lembro-me de entrar na igreja e ver um padre pela primeira vez. Disse: "Quero ser como ele". Depois estudei no seminário menor, depois no seminário maior e fui ordenado sacerdote em 2006. Fui consagrado bispo em 2021.
Quais são os principais desafios pastorais na sua diocese?
A diocese de Bunda é muito jovem, tem doze anos, foi erigida no último ano do Papa Bento XVI. Por isso, ainda está a crescer.
Uma das primeiras dificuldades na diocese são algumas tradições e costumes profundamente enraizados, como a veneração ou o medo de certos animais considerados totémicos. Por exemplo, nas ilhas, a cobra piton. A tal ponto que se pusermos uma pitão, mesmo morta, à porta da igreja, ninguém vai lá, porque pensam que ela os pode amaldiçoar, mesmo sendo cristãos.
A crença de que a piton tem o poder de os amaldiçoar é muito maior do que a sua fé cristã.
Se houvesse uma pitão à porta da minha paróquia, eu também não entraria.
(risos)
Mas temê-la-ias como uma cobra, não como um animal sagrado que tem o poder de te amaldiçoar vivo ou morto.
Depois, há costumes que estão tão profundamente enraizados que é muito difícil extirpá-los. Por exemplo, os ritos de purificação: quando se fica viúvo ou viúva, embora isso seja mais comum entre as mulheres, é preciso purificar-se, e o meio é dormir com outro homem. Ou a poligamia. Em certas tribos, o monogamismo é mal visto, é preciso ser poligâmico, e isso afecta a vida cristã, o casamento e as famílias. Em particular, é muito difícil para os homens da tribo Kurya irem à missa por esta razão.
Ou, por vezes, acontece, por exemplo, que a quinta esposa quer tornar-se cristã. Pede para ser baptizada, mas continua a viver como quinta esposa. Este é também um problema pastoral para a administração dos sacramentos.
Há outros problemas administrativos: não temos uma cúria, um edifício para gerir as coisas. Fizemos uma divisão na sala de estar da minha residência com três pequenos gabinetes, mas ainda nos falta essa estrutura, embora estejamos a tentar obtê-la.
Além disso, a diocese de Bunda é uma diocese pobre. Para ter padres formados para formar a população, é preciso dinheiro. Por isso, receber uma bolsa de estudo para nós é uma grande ajuda.
Por outro lado, temos muito poucos padres. Por isso, os catequistas na nossa diocese são muito importantes, mas têm de ser bem formados. As duas grandes obras que temos em mãos são a construção da cúria e de uma pequena escola para os catequistas, com salas de aula e um escritório, que serviria também como local de retiro onde poderiam ir durante um fim de semana ou um mês e fazer um curso intensivo de temas pastorais ou de liturgia. Dado que os catequistas são um elemento-chave na evangelização da nossa diocese, é necessário que tenham uma formação de acordo com o trabalho que realizam.
Estamos a dar pequenos passos para crescer, mas ainda estamos numa fase muito inicial. Mas estamos muito encorajados e a avançar.
Steven Schloeder: "Com a arquitetura, procuramos exprimir uma verdade mais profunda".
Nesta entrevista à Omnes, o arquiteto e teólogo Steven Schloeder analisa os aspectos fundamentais da arquitetura sagrada e o seu desenvolvimento histórico.
Loreto Rios-19 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 11acta
Arquiteto e teólogo, Steven Schloeder procura responder aos desafios contemporâneos na construção de igrejas católicas, recorrendo ao simbolismo que as tem acompanhado ao longo da história. No seu livro Arquitetura em comunhão (Ignatius Press), ainda não traduzido para inglês, fala de três símbolos principais na linguagem da arquitetura: o corpo, o templo e a cidade.
Como é que a arquitetura simboliza e representa a importância do que está a ser celebrado?
-Em primeiro lugar, construímos igrejas para a celebração da liturgia, que é necessariamente um acontecimento comunitário de crentes em Cristo reunidos. A liturgia manifesta o Corpo de Cristo. A Igreja é o Corpo de Cristo e a continuação do Corpo de Cristo na terra. É uma realidade física e espiritual, eterna e temporal, celeste e terrena.
Deus revela-se através de símbolos, e Cristo revelou-nos o significado de símbolos específicos: o símbolo do corpo, do sangue, da sua crucificação. Estes são símbolos sacramentais, efectivos, a verdadeira realidade de que participamos. A liturgia é simultaneamente material e espiritual, comunitária e hierárquica.
Quando nos aproximamos de uma igreja pelo lado de fora, na rua, é bom que ela se pareça com uma igreja. Nem todas as igrejas contemporâneas se parecem com igrejas, e esse é um problema que precisa de ser resolvido. Quando nos aproximamos de uma igreja, aproximamo-nos da Jerusalém celeste, a Cidade de Deus, o Corpo de Cristo, o Templo do Espírito Santo, e penso que a paróquia ou a catedral local devem ser consideradas como a presença da Jerusalém celeste na nossa cidade. É uma interrupção no tecido da cidade, o lugar onde algo de sagrado está a acontecer. No Apocalipse, há esta imagem da Jerusalém celeste que desce, Deus a viver entre os homens, e é isso que devemos realmente ver quando vemos uma igreja e o que nós, arquitectos, devemos exprimir de alguma forma.
Quando estamos dentro da Igreja e nos aproximamos do altar, a linguagem do altar ajuda-nos a compreender que estamos a entrar num acontecimento sagrado e num lugar sagrado. Muito significativo é o crucifixo como ícone central da liturgia, como disse o Cardeal Ratzinger.
Não se trata apenas de uma refeição, não se trata apenas de uma mesa, não se trata apenas de uma reunião de pessoas, mas das pessoas da Terra e da Jerusalém celeste, a Igreja triunfante. Penso que a formalidade da linguagem da arquitetura e coisas como a simetria, a altura ou a qualidade dos materiais são fundamentais, porque estamos a tentar exprimir algo que é tremendamente importante. Expressamos importância e dignidade através do valor e da forma como tratamos as coisas na nossa cultura material.
Um altar, por exemplo, não é apenas uma tábua de madeira, como uma mesa de jantar. Bons paramentos, objectos litúrgicos de valor, como o cálice ou o cibório, bom linho e pedra de boa qualidade ajudam-nos a compreender a importância do que está a ser dito. Depois, evidentemente, há os próprios textos litúrgicos, as orações do sacerdote e as respostas. É isto que transmite a intenção da Igreja: oferecer este sacrifício perfeito na missa.
É por isso que existe disciplina litúrgica: jejuar antes de comungar, estar em estado de graça antes de comungar, vestir-se adequadamente, ter um sentido de verdadeira dignidade em termos do ambiente material da igreja. Penso que essa é uma das coisas importantes sobre as gerações anteriores de arquitetura, que a igreja era muito deliberada e intencional na sua cultura material e arquitetónico.
Mostrou que se tratava de algo de grande importância e que merecia toda a nossa atenção.
Como é que as igrejas evoluíram ao longo do tempo e quais foram os pontos de viragem mais importantes?
-Sabemos que, inicialmente, as comunidades se reuniam em casas. Muito cedo, em meados do século II, há vestígios de igrejas consagradas. Não temos provas arqueológicas disso, porque se perderam. As primeiras igrejas que sobreviveram datam de cerca de um século mais tarde, mas temos provas, através de documentos escritos, de que havia igrejas cerca de cem anos antes, edifícios visíveis que podiam ser identificados como locais de culto. Os cristãos tinham-se estabelecido em comunidades que podiam possuir terras e construir. Isto acontece muito cedo na história do cristianismo. Antes de Constantino, durante as perseguições no final do século III - início do século IV, Lactâncio, por exemplo, o historiador, fala de grandes edifícios que foram destruídos como parte da perseguição. Assim, a Igreja tinha uma forte identidade quando se tratava de deixar a sua marca na cidade ou na aldeia.
Eusébio tem uma passagem fantástica no seu História sobre a dedicação da catedral de Tiro, que fala do simbolismo, da beleza e da importância do edifício. Penso que Eusébio não está a inventar esta linguagem da arquitetura da igreja, mas já havia um conhecimento bem estabelecido do que deveria ser uma igreja, porque ele está a escrever no início do século IV e tem uma teologia da arquitetura completamente formada que não creio que lhe tenha surgido do nada, mas está a exprimir o que a Igreja já tinha cultivado. Portanto, já existiam edifícios monumentais que eram importantes e identificáveis.
Talvez sob Constantino, que é o chefe de Eusébio, a Igreja tenha provavelmente adotado uma formalidade que imita a corte real, como convém ao Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores. Nesta altura, foi adoptada a planta basílica, a forma tradicional da igreja, que aparece no século III e provavelmente um pouco antes. A partir desta altura, assiste-se a uma série de inovações estilísticas: arquitetura bizantina, românica, gótica...
A questão é que cada um destes estilos segue um padrão. Encontramos um ponto comum na linguagem formal da arquitetura. Antes de mais, existe uma linguagem relacionada com o corpo: simétrica e hierárquica (temos cabeça, peito, pernas...). E isto é algo precioso que penso que temos de recuperar tanto na arquitetura como na arte: reencontrar o nosso corpo num sentido sacramental.
Numa igreja em forma de cruz, a cabeça é a abside, onde está a sede do bispo, porque representa Cristo a governar a Igreja, o transepto é o peito, onde está o altar, o coração; daí saem os braços, e os pés são a entrada, porque se entra na Igreja. Há uma forma de pensar simbólica relacionada com o corpo.
Creio também que isto se refere à Encarnação e defende-a como o "logos", que é comunicativo, formativo e cria realidade. A Encarnação de Cristo num corpo humano é sempre o nosso modelo para compreender o que somos como pessoas e como Igreja. Lembramo-nos imediatamente de S. Paulo (1 Cor 12,12).
Há também linguagem relacionada com o templo, com a Tenda da Reunião e com o templo de Salomão. O próprio Cristo fala do seu corpo como "o templo". É ele próprio que estabelece estas relações. S. Paulo desenvolve-o, tal como Eusébio. Pensamos sempre na forma de forma simbólica. Com a arquitetura, procuramos exprimir uma verdade mais profunda.
No Apocalipse 21-22, vemos que o tabernáculo é depois transformado na Cidade. Se olharmos para uma igreja gótica, é brilhante a forma como é representada: cada parte do edifício, o cibório ou o baldaquino sobre o altar, é um pequeno edifício. Os contrafortes no exterior do edifício são pequenos santuários e todos os santuários são pequenas casas que formam uma cidade. As naves e os corredores são como estradas. Há analogias directas que nos ajudam a compreender esta interligação entre o corpo, o templo e a cidade.
Ao longo dos séculos, independentemente do estilo da igreja, esta é a linguagem principal, que de alguma forma remete para o facto de sermos corpo e vivermos em edifícios, casas, que é a casa da família, a igreja doméstica. Isso é fundamental para a importância da família como núcleo central da sociedade. E também está subjacente ao conceito de que somos seres sociais e temos que viver em comunidade para crescer. A igreja como um edifício e a teologia da arquitetura devem, de alguma forma, representar tudo isto. São conceitos fiéis à forma como Deus se revelou a nós: o Corpo de Cristo e a Igreja como templo, como a cidade celestial.
Depois chegamos ao século XX, que é uma rutura radical. Surge sobretudo na Alemanha, através do trabalho de Rudolf Schwarz, por exemplo, e da Bauhaus. Muitas outras pessoas que não faziam parte da Bauhaus estavam a fazer coisas semelhantes, mas falamos de arquitetura modernista em geral.
As igrejas deixam de ser hierárquicas e começam a assumir formas circulares. Os luteranos e os católicos alemães começam a jogar com outras formas mais centralizadas. E, nessa altura, penso que perdemos a unidade da Igreja como apresentação simbólica da realidade celeste. Não é que esteja completamente divorciada do que veio antes, mas a forma centralizada, que geralmente tem uma espécie de forma inclinada, semelhante a uma tenda, é uma rutura decisiva na continuidade que existia 1900 anos antes. Torna-se a principal forma de arquitetura sagrada na Europa e na América, especialmente após a Segunda Guerra Mundial e a ascensão do modernismo. Muitas das cidades da Europa que tinham sido bombardeadas foram reconstruídas com formas modernistas.
Qual foi a evolução do batistério e do seu simbolismo?
O principal aspeto do batismo é que ele é um dos sacramentos da iniciação, introduzindo-nos no Corpo de Cristo. No rito anterior, antes das revisões dos anos sessenta, havia uma linguagem muito interessante relacionada com a passagem da região das trevas para o reino da vida. Havia uma série de orações quando a pessoa entrava pela primeira vez na igreja, porque estava a ser introduzida no Reino. Naquela época, o batistério era cercado, com uma vedação à volta ou uma espécie de dispositivo de proteção, porque havia a sensação de sermos trazidos de volta à inocência e à justiça primordiais, e as portas do Paraíso eram abertas para nós. O batismo é uma entrada na Igreja, no Reino de Deus, fora das trevas e do caos, e a luz torna-se um elemento muito importante.
Ora, normalmente o batistério é colocado à entrada da igreja, o que não está errado, é de facto uma entrada para a igreja, mas muitas vezes é colocado em linha com o altar, pelo menos nos Estados Unidos. Porque na América, nos anos 50, um liturgista alemão publicou um livro em que dizia que o mais importante era o altar e depois o batistério, e toda a gente se junta à volta dos dois. Assim, alinham-se e todos têm de dar a volta ao batistério, não se pode fazer uma procissão a direito. Isto tornou-se um motivo estilístico.
O símbolo que se perdeu é que o batistério é também um lugar de morte, onde morremos para os nossos pecados e nos tornamos um homem novo. O batistério é o ventre onde nascem os cristãos, mas também o túmulo onde morremos e nascemos em Cristo. Os modelos antigos podem já não ser válidos: se olharmos para alguns dos baptistérios famosos, como os de Pisa, Florença ou Ravena, eles têm geralmente uma forma octogonal, baseada no mausoléu romano. Mas temos de recuperar uma forma de exprimir os diferentes significados do batistério: água, vida, morte, incorporação no Corpo de Cristo. Nós, arquitectos, jogamos com uma linguagem rica em simbolismo, com a qual tentamos transmitir e apoiar o que a Igreja nos quer ensinar, e o batistério é, neste sentido, um microcosmos.
Na arquitetura, creio que nos últimos vinte anos temos vindo a trabalhar para recuperar a dimensão sacramental do edifício.
E o confessionário?
-O que sabemos sobre a confissão é que, antigamente, quando os assassinos estavam a caminho da execução, gritavam: "Pequei, rezem por mim". Temos alguns documentos sobre isso. Depois, na Igreja primitiva, só se podia confessar uma vez na vida, por isso era normalmente no fim da vida. Tinha de se apresentar nos degraus da igreja e confessar os seus pecados ao bispo. E toda a gente sabia disso. Por isso, penso que foi razoável desenvolver a confissão privada numa perspetiva mais pastoral, que foi especialmente desenvolvida pelos monges na Irlanda.
Atualmente, tenho visto confessionários que têm cabinas de vidro, como um escritório, com uma mesa para o penitente e o confessor. É muito transacional. Penso que temos de recuperar o sentido da confissão como um sacramento que merece o seu próprio espaço, como o confessionário barroco, onde temos o padre no centro e espaço para os penitentes de cada lado. Torna-se um objeto no espaço, no lugar do sacramento.
Nos últimos vinte anos, tem-se verificado uma revisão da importância da confissão privada, discreta e anónima, tanto para o sacerdote como para o penitente. É um encontro com Cristo, através do ministro e das palavras do sacerdote de Cristo. Estamos num momento interessante do desenvolvimento da arquitetura sagrada, em que temos o padre frente a frente e nos familiarizamos com ele, e o mesmo acontece com a confissão.
Como teólogo e arquiteto, o que procuro fazer é dar corpo à linguagem do arranjo e da forma arquitectónicos, de modo a apoiar o que a Igreja faz sacramentalmente.
Que características devem ter os elementos do santuário e o que deve ser tido em conta na sua construção?
-O altar é o lugar central e predominante, e o ambão é o lugar da proclamação. No tempo de São João Paulo II foi desenvolvido o conceito das "duas mesas": a mesa do sacrifício e a mesa da Palavra. Penso que é importante estabelecer uma relação entre a Palavra proclamada e a Palavra como pão (Mt 4,4). São dois elementos que devem estar relacionados arquitetonicamente.
Depois temos também o lugar da reserva eucarística, o tabernáculo. Não sei qual é a situação em Espanha, mas há alguns anos houve um grande movimento nos Estados Unidos para separar o tabernáculo numa capela à parte. Foi, de certa forma, imposto pelos liturgistas. Atualmente, a tendência é restabelecer o tabernáculo no templo, e penso que com razão. Porque um dos argumentos era que, estando o sacerdote virado para a assembleia, estava a voltar as costas ao tabernáculo.
Mas a linguagem do tabernáculo já resolve isso. É a Tenda da Reunião. É adequadamente opaca, sólida e coberta, por isso é a sua própria sala, o seu próprio espaço sagrado, quando está corretamente construída. É a mesma linguagem de "ocultar" ou "velar" que se encontra na Tenda da Reunião ou no templo de Salomão. Quando as portas estão fechadas, a vida pode continuar. Quando se abrem, vemos o Senhor na sua glória, na sua glória, na sua glória. shehinah. Isto permite-nos viver a nossa vida na presença de Deus. Porque, se vemos Deus face a face, o que podemos fazer senão ajoelharmo-nos em adoração?
Penso que o ponto em que estamos agora, devolvendo o tabernáculo ao seu lugar original, funciona, porque, quando entramos numa igreja, ajoelhamo-nos perante o Senhor que está no tabernáculo, não precisamos de olhar em volta para o encontrar.
No que diz respeito à sé, os documentos da Igreja indicam que esta sublinha a presença do ministro como Cristo que preside ao seu povo. O padre está a representar o bispo. É um lugar de dignidade, um lugar de presidirA Igreja não nos diz muito sobre isso. A Igreja não nos diz muito sobre isso. Em alguns dos documentos mais antigos, fala-se do assento ser colocado no ápice, no ponto mais alto do santuário, mas não deve parecer um trono. Mas se olharmos para qualquer trono real, ele está sempre no lugar mais alto, no centro. Portanto, há mensagens contraditórias na linguagem do assento. É um lugar de serviço, um lugar para presidir, mas não deve ser um trono ou uma cátedra.
Depois, há o próprio crucifixo. Nas palavras do Cardeal Ratzinger, é o ícone central da liturgia, porque tudo tem a ver com o madeiro da Cruz e com a crucificação de Cristo e a sua morte na Cruz. Então, qual é o melhor lugar para o colocar? O que é que ele representa? Não estamos a rezar à Cruz, não estamos a rezar a Cristo, estamos a participar com Cristo na sua oferta ao Pai, e essa é a teologia do crucifixo, essa é a mensagem central da missa no seu sentido sacramental, sacerdotal e sacrificial.
Cristo, o Sumo Sacerdote, oferecendo-se a si próprio na Cruz. Em A festa da féRatzinger disse que o crucifixo se torna uma iconostase aberta para a qual olham tanto o sacerdote como a assembleia. Está no meio, por cima do altar, e penso que é um lugar precioso e razoável, torna-se um ponto de referência partilhado por toda a Igreja na oração, o sacerdote ministerial e o sacerdócio real, do batismo, oferecendo as nossas vidas unidas ao ministro num só sacerdote.
É essa a dinâmica da liturgia, que o crucifixo deve apoiar. Tem a importância de desenvolver a teologia dos leigos como membros do sacerdócio batismal. E essa foi uma mensagem muito clara nos documentos do Concílio Vaticano II, que há de facto um sacrifício que nós, como leigos, somos chamados a oferecer, que é o sacrifício da carta de São Paulo aos Romanos: apresentai-vos como "um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Rm 12,1). Por isso, creio que somos chamados a pegar em toda a nossa vida e levá-la ao altar. Ao apresentarmos as ofertas de pão e vinho, estamos a apresentar os nossos corações para que Cristo os cure e estamos também a oferecer a nossa própria vida.
Rimini reunirá cientistas, intelectuais e artistas num evento cultural
A 44.ª edição do Encontro para a Amizade entre os Povos terá lugar em Rimini, de 20 a 25 de agosto de 2023. Este ano, o evento centrar-se-á no tema "A existência humana é uma amizade inesgotável".
Loreto Rios-18 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 3acta
O Encontro de Amizade dos Povos terá início no domingo, 20 de agosto, com uma missa presidida pelo Cardeal Matteo Zuppi e concelebrada pelo Bispo de Rimini, Nicolò Anselmi.
História do Encontro
Organizado pelo movimento católico de Comunhão e LibertaçãoA primeira edição do encontro realizou-se em 1980. Em 2008, o comité promotor, que era uma associação desde 8 de dezembro de 1980, passou a ser a Fundação Encontro de Amizade entre os Povos, responsável pela organização do encontro todos os anos.
Esta fundação, segundo o sítio Web, "nasceu do desejo de alguns amigos de encontrar, conhecer e levar a Rimini tudo o que é belo e bom na cultura" do nosso tempo. A Fundação Meeting "apoia-se no desejo e na paixão que cada homem tem no seu coração para criar um espaço comum de encontro e de diálogo". Os voluntários são um pilar fundamental na organização do evento, colocando "em comum" a sua inclinação "para a verdade, o bem e a beleza".
Durante sete dias em agosto, o Encontro reúne todos os anos personalidades importantes de diferentes áreas académicas e artísticas e de diferentes religiões e culturas, sendo definido como "o festival cultural mais participativo do mundo" e "um lugar de amizade onde se constrói a paz, a convivência e a amizade entre os povos".
O programa é muito variado: inclui conferências sobre diferentes temas (economia, arte, literatura, ciência, política...), mesas redondas, exposições, concertos e espectáculos de teatro.
Edição 2023
O lema da edição de 2023, "A existência humana é uma amizade inesgotável", é "um convite a descobrir o significado mais profundo da amizade, a sua força geradora, as suas origens e as suas perspectivas para a existência de cada ser humano e para a construção de uma nova sociedade. A amizade sempre esteve no centro do desejo do coração humano; é um dom que ninguém pode reclamar.
Este ano, o programa abordará temas relacionados com a educação, a responsabilidade da imprensa, a ciência, a física, a política, a amizade na Bíblia, a fusão nuclear, a vocação no trabalho, a encíclica Fratelli Tutti, a razão e a fé, a inteligência artificial, a saúde, a demografia, a literatura e a poesia, a arquitetura, a economia azul e circular, a natureza, entre outros.
Tolkien, Dostoiévski e moto GP
Alguns dos destaques são o encontro com o Presidente de Itália, Sergio Mattarella, na sexta-feira, dia 25, e a entrevista com Marco Bezzecchi, piloto de Moto GP. Haverá também um concurso de música, o Meeting Music Contest e um workshop de escrita criativa.
No que respeita às artes performativas, destacam-se a encenação de "O Sonho de um Homem Ridículo", de Dostoievski, protagonizada pelo ícone do teatro italiano Gabriele Lavia, e o concerto "O Coração em Tudo", dedicado ao cirurgião e educador Enzo Piccinini, em processo de beatificação.
Tolkien também estará presente no programa com a palestra "A missão de Frodo: indivíduo e empresa em 'O Senhor dos Anéis'. 50 anos após a morte de Tolkien", por Giuseppe Pezzini, professor do Corpus Christi College de Oxford, e Paolo Prosperi, sacerdote da Fraternidade São Carlos Borromeu.
O Encontro incluirá também apresentações que recordarão personalidades como Aldo Moro, Lorenzo Milani, Dorothy Day, o Beato venezuelano José Gregorio Hernández, o Beato Pino Puglisi e o japonês Takashi Pablo Nagai, médico sobrevivente da bomba atómica e em processo de beatificação, sobre o qual as Edições Encuentro publicaram recentemente o livro "O Mundo da Bomba Atómica", e que se encontra atualmente em processo de beatificação.O que nunca morre". Este último trabalho, intitulado "Amizades inesgotáveis. O que nunca morre. A figura de Takashi Nagai", contará com a participação de Paola Marenco, vice-presidente do Comité de Amigos de Takashi e Midori Nagai.
Mensagem do Papa
Por ocasião do Encontro, o Papa enviou uma mensagem ao Bispo de Rimini, D. Nicolò Anselmi, através do Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, na qual sublinha que o Encontro para a Amizade entre os Povos pretende "ser um lugar de amizade entre pessoas e povos, abrindo caminhos de encontro e de diálogo".
Por fim, o comunicado sublinha que "o Papa Francisco deseja que o Encontro para a Amizade entre os Povos continue a promover a cultura do encontro, aberta a todos, sem excluir ninguém, porque em todos há um reflexo do Pai (...). Que cada um dos participantes aprenda um pouco a aproximar-se dos outros à maneira de Jesus (...)".
A Ana e o Gerardo passaram por uma difícil prova de infidelidade. Tinham levado o assunto ao divórcio. No dia em que a assinatura final devia ser dada, ela fê-lo, mas ele parou. Algo no seu íntimo dizia-lhe que isso não resolveria nada. Pensou nos filhos, desistiu dos seus critérios e, em nome de Deus, decidiu não assinar: "Não quero o divórcio", disse ao advogado. Levantou-se e saiu dali decidido a lutar pela unidade da sua família.
Ana estava interiormente feliz com este ato. Apercebeu-se de que não queria pôr fim à sua casamentoEu só queria acabar com os problemas deles. Desde então, os dois recomeçaram a sua relação. Perdoaram-se um ao outro, renovaram o seu lar com a compreensão de que só Deus nos dá a capacidade de amar verdadeiramente, de perdoar o que parece imperdoável, de morrer para nós próprios para um bem maior.
Hoje, a família de Gerardo e Ana serve o Senhor, é testemunha dos frutos do perdão e anuncia-o com entusiasmo.
O ensinamento de Cristo
Perdoar não é humano, é divino. Não nos é possível perdoar o que consideramos imperdoável. No fundo do nosso coração, sentimos que não quero, não é justo, não mereço, porquê eu?
Só Jesus Cristo fala de um perdão que é necessário à vida. Ninguém mais, nenhuma outra forma de pensar aborda o perdão como Ele o faz. A nossa verdadeira procura de justiça afirma: "quem faz, paga".
Mas Deus chega à terra e as suas palavras deixam-nos perplexos:
"Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo" (Ef 4,32).
"Porque, se perdoardes aos outros as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós" (Mt 6,14).
"Por isso, deveis tolerar-vos uns aos outros e perdoar-vos mutuamente, se alguém tiver alguma queixa contra outro. Como o Senhor vos perdoou, assim também vós deveis perdoar" (Col 3,13).
"Não julgueis, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados. Perdoai, e sereis perdoados" (Lc 6,37).
"Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes devo perdoar ao meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes? -Jesus respondeu-lhe: "Digo-te que não são sete vezes, mas setenta e sete vezes" (Mt 18,21-22).
Não queremos perdoar, mas apercebemo-nos de que é necessário. Pensamos nos nossos filhos que amamos e que não queremos que sofram. De repente, sabe que é entregando-se a si próprio que pode salvá-los. Talvez comeces a compreender que Deus fez o mesmo por ti. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto" (Jo 12,24).
Hoje em dia, os lares e os corações estão a ser partidos devido à infidelidade. Se é necessário pôr fim a este flagelo e viver o amor fiel, é também essencial reforçar o amor na família através do perdão cristão, o verdadeiro perdão, aquele que edifica, que reconstrói a partir da fé e que põe fim ao mal da única maneira possível: em abundância de bem!
J. Marrodán: "Mais do que nunca, somos chamados a procurar um terreno comum".
Javier Marrodán, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, foi ordenado sacerdote no passado dia 20 de maio pelo cardeal coreano Lazzaro You Heung-sik, prefeito do Dicastério para o Clero, juntamente com outros 24 membros do Opus Dei. Depois de quase 100 dias de ordenação, fala à Omnes de Sevilha sobre o seu trabalho pastoral e a atualidade.
Francisco Otamendi-18 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 6acta
Não foi possível entrevistar Javier Marrodán, de Navarra, quando foi ordenado sacerdote em Roma pelo Cardeal da Coreia Lazzaro You Heung-sik, prefeito do clero. Agora, quase 100 dias como padre, fala com Omnes sobre algumas das suas preocupações.
Por exemplo, a sua "admiração" por Albert Camus, objeto da sua tese de doutoramento. Marrodán comove-se com o facto de "alguém supostamente afastado de Deus e da Igreja, como Albert Camus, propor um modo de vida tão próximo do Evangelho, e de o fazer de forma tão convicta e autêntica".
Em parte por esta razão, acredita que "hoje somos chamados, mais do que nunca, a procurar pontos de convergência e a descobrir nos outros preocupações e aspirações relacionadas com as nossas", e dá o exemplo de Jesus com a mulher samaritana no poço de Sicar, como se pode ver na entrevista.
Javier Marrodán comenta "a paixão de evangelizar através da alegria" que o Papa FranciscoSobre o "amor aos inimigos", salienta que "não é habitual ter inimigos declarados ou agressivos, mas quase todos nós guardamos as nossas pequenas listas negras num canto da nossa alma. Sair desta espiral é uma verdadeira revolução".
És padre há três meses. Como é a sua tarefa pastoral? O que é que o Cardeal Lazzaro You Heung-sik lhe sublinhou na ordenação?
-Fiz a minha estreia como sacerdote em Sevilha. Vivo no Colégio Mayor Almonte e, por agora, participo em algumas actividades relacionadas com a obra do Opus Dei: um retiro, alguns retiros, meditações para jovens, um acampamento para raparigas na Serra de Cazorla... Também dou uma ajuda na igreja do Senhor São José. O Cardeal Lazzaro You Heung-sik recordou-nos na homilia da ordenação que o próprio Cristo falaria através de nós, que através das nossas mãos daria a absolvição dos pecados e reconciliaria os fiéis com o Pai.
Quase todos os dias passo algum tempo no confessionário e tento sempre recordar o pai da parábola do filho pródigo: tenho esperança de que Deus se sirva de mim para acolher todos os que chegam, não quero manchar ou dificultar a sua misericórdia de forma alguma. O Papa Francisco escreveu aos 25 sacerdotes que foram ordenados em maio que "o estilo de Deus é a compaixão, a proximidade e a ternura". E o prelado do Opus Dei pediu-nos também para sermos acolhedores, para semearmos esperança. Espero nunca me desviar destas coordenadas.
Trabalhou em Diário de Navarrafoi também professor. Diz-se frequentemente que "o jornalismo é um sacerdócio". Como é que o vê e como é que vai continuar a contar histórias?
- Penso que se pode dizer que o jornalismo consiste essencialmente em fornecer informações para que a sociedade tenha mais e melhores elementos de julgamento, para que as pessoas possam tomar as suas decisões mais livremente. Nesse sentido, podemos falar de uma certa continuidade profissional: afinal, o padre também está a tentar transmitir eficazmente a boa nova do Evangelho.
Há, no entanto, uma diferença importante que já notei nestas primeiras semanas de trabalho pastoral. Como jornalista, há muito que me dedico a descobrir e documentar histórias para depois as contar, e havia um objetivo muito claro que é quase uma premissa do trabalho noticioso: trata-se de contar histórias para alguém.
Como padre, as histórias que conheço e ouço não me pertencem, não me chegam para serem escritas ou completadas: são histórias que muitas pessoas colocam nas minhas mãos para que eu as apresente a Deus, para que eu as conte apenas a Ele. Nesse sentido, a diferença é profunda.
Todos os dias, quando me aproximo do altar para celebrar a santa missa, levo comigo as preocupações, os pecados, as ilusões, os problemas, as alegrias e as lágrimas daqueles que se voltaram para Deus através de mim, por vezes inconscientemente. Continuam a existir histórias e eu continuo a ser um mediador, mas agora viro-me noutra órbita, na órbita de Deus.
O seu último livro é "Puxar o fio à meada". O que é que nos queria dizer?
-Penso que a principal caraterística deste livro é precisamente o facto de eu não querer dizer nada. Comecei a escrevê-lo durante o primeiro confinamento, de uma forma algo improvisada, sem quaisquer aspirações editoriais. Dediquei-me sobretudo a recolher histórias dispersas que já tinha escrito, histórias de pessoas e acontecimentos que foram importantes para mim por uma série de razões muito pessoais. Depois vi que todo este material podia ser organizado e reunido, que fazia sentido. O subtítulo resume-o de certa forma: Todas as histórias que me conduziram a Roma"..
No fundo, suponho, o livro é um hino de agradecimento a Deus, que me fez cruzar com tanta gente boa, interessante e inesquecível. E oferece algumas pistas sobre a mudança de direção que tomei nesta altura da vida.
Há 41 anos que é membro do Opus Dei. Como percebeu que Deus o chamava para o sacerdócio? Pode dar-nos alguns conselhos para viver com alegria a paixão de evangelizar, como pede o Papa?
-Eu tinha considerado a possibilidade do sacerdócio em muitas ocasiões, mas houve um dia muito específico em 2018 em que a vi muito mais claramente. Acho que a palavra "chamada". Senti que Jesus Cristo me estava a encorajar a passar os próximos anos a tentar fazer o seu trabalho de uma forma ministerial, transmitindo as suas mensagens, ajudando-o a administrar os sacramentos, envolvendo-me totalmente no grande "hospital de campanha" que é a Igreja - a expressão é do Papa Francisco - tentando ser um dos sacerdotes. "santo, culto, humilde, alegre e desportivo". que São Josemaria queria. Gosto da expressão de ajudar Deus que Etty Hillesum utilizou, é nisso que vou tentar concentrar-me a partir de agora.
Relativamente à paixão de que fala o Papa, penso que uma chave é precisamente a de evangelizar através da alegria: nós, cristãos, temos mais e melhores razões do que ninguém para sermos felizes apesar de tudo, para oferecermos a melhor versão de nós mesmos, para nos sentirmos bem no mundo. Tudo isto vem do encontro pessoal de cada um de nós com Jesus: se nos deixarmos interpelar e amar por ele, deixamos de ser peregrinos e tornamo-nos apóstolos. "A alegria é missionária", repetiu o Papa várias vezes no memorável Vigília da JMJ em Lisboa.
Por vezes, vemos posições sociais e políticas que parecem irreconciliáveis. Do seu ponto de vista de professor de Comunicação, e agora de padre, como concilia posições antagónicas com a legítima defesa, por exemplo, de uma visão cristã da sociedade, que sublinha a dignidade da pessoa humana?
- Durante os anos que passei em Roma, terminei a minha licenciatura em Teologia Moral e uma tese de doutoramento intitulada "A dimensão teológica e moral da literatura. O caso de Albert Camus". Interessei-me por Albert Camus há muitos anos, quando li o primeiro capítulo do primeiro volume de Literatura e Cristianismo do Século XX, do grande Charles Moeller, um padre belga que estabeleceu um diálogo muito interessante, baseado na fé, com os grandes autores do seu tempo.
Admiro e comovo-me com o facto de alguém supostamente afastado de Deus e da Igreja, como Albert Camus, propor um modo de vida tão próximo do Evangelho, e de o fazer de forma tão convicta e autêntica. Aventurei-me nesta tese porque fui atraído pela ideia de construir uma ponte para Camus a partir da margem da teologia. Por vezes, reduzimos as nossas relações àquelas pessoas ou instituições com as quais estamos em total sintonia.
Este fenómeno pode ser visto de forma matemática nas redes sociais, que oferecem um viés de confirmação, mas algo semelhante acontece na política e na sociedade, tantas vezes fracturada pelas posições antagónicas que menciona na sua pergunta. Creio que hoje, mais do que nunca, somos chamados a procurar pontos comuns e a descobrir nos outros preocupações e aspirações semelhantes às nossas. A samaritana junto ao poço de Sicar levava uma vida moralmente desordenada, mas era sobretudo uma pessoa que andava à procura. Jesus aproveita-se do seu desejo e canaliza-o de uma forma que ela não podia imaginar.
Jesus disse: amai os vossos inimigos, rezai por aqueles que vos perseguem. Em 1932, São Josemaria mandou afixar nos centros da Obra um quadro com estas palavras de Jesus: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros".Algum comentário?
Uma das mensagens mais revolucionárias do Evangelho é a do amor aos inimigos. Não é habitual ter inimigos declarados ou agressivos, mas quase todos nós guardamos nalgum canto da nossa alma as nossas pequenas listas negras. Sair desta espiral é uma verdadeira revolução. Penso que a novidade do mandamento de Jesus tem tanto a ver com o facto de ter sido proposto pela primeira vez por ele como com a evidência de que é sempre novo, precisamente porque nós, homens, tendemos facilmente para o contrário.
O novo mandamento é um apelo a superar as nossas inclinações, as nossas queixas acumuladas, os nossos preconceitos, o que se apresenta como mais fácil ou mais cómodo; é um convite a dar o melhor de nós próprios na nossa relação com qualquer outra pessoa.
O sussurro de Deus na tragédia. Incêndios devastadores no Havai
Até 15 de agosto, os incêndios florestais no Havai causaram 99 mortos, dezenas de desaparecidos e milhares de afectados.
Gonzalo Meza-17 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 3acta
Os incêndios florestais que começaram em 8 de agosto na ilha de Maui, no Havai, fizeram 99 mortos, dezenas de desaparecidos e milhares de afectados até 15 de agosto. Com o passar dos dias, este número poderá aumentar, segundo o governador do Havai, Josh Green. Embora os incêndios tenham sido controlados, as autoridades prosseguem os esforços de salvamento e de busca.
O incêndio destruiu milhares de estruturas, na sua maioria áreas residenciais na cidade de Lahaina, uma cidade de 12.000 habitantes na costa oeste da ilha de Maui e a segunda maior do arquipélago. Outras comunidades gravemente afectadas foram a zona de "Kihei" e as comunidades do interior conhecidas como "Upcountry".
Em 11 de agosto, o Presidente Biden declarou o estado do Havai como zona de catástrofe e disponibilizou ao estado uma série de ajudas federais, desde abrigos temporários a ajuda financeira às vítimas. As autoridades estatais e locais disponibilizaram também seis centros de acolhimento temporário, abrigos, centros médicos móveis, transportes e centros de assistência.
A Diocese de Honolulu
O Papa FranciscoNa sua mensagem após o Angelus de 13 de agosto, expressou a sua tristeza pela tragédia e assegurou às vítimas as suas orações. Num telegrama enviado no dia anterior, Sua Santidade exprimiu também a sua proximidade e solidariedade para com as pessoas que perderam os seus entes queridos.
Eclesiasticamente, Maui e as outras ilhas do arquipélago havaiano pertencem à Diocese de Honolulu, governada pelo Bispo Clarence R. Silva. Clarence R. Silva. A diocese tem 66 paróquias servidas por 56 sacerdotes. Na ilha de Maui existem 18 igrejas, uma das quais chamada "Maria Lanakila", situada no centro histórico de Lahaina, uma das zonas mais devastadas. No entanto, a igreja paroquial não foi afetada em grande parte. Esta igreja foi construída em 1846, embora a primeira missa tenha sido celebrada em Lahaina em 1841.
Deus ainda está perto
O Bispo Clarence Silva visitou a zona sinistrada em Maui e presidiu à Missa de 13 de agosto na Igreja dos Sagrados Corações em Kapalua. Na sua homilia, disse que, mesmo no meio destes acontecimentos dramáticos, a voz de Deus assegura-nos o seu amor e o seu cuidado.
Apesar desta tragédia, disse, "Deus nunca nos abandona, mas abraça-nos com sussurros de conforto e amor. A mão de Deus está próxima e é visível através dos milhares de pessoas no Havai, nos Estados Unidos e em todo o mundo que rezam por vós. O sussurro do amor de Deus é mais alto do que o barulho e o drama do desastre", disse o cardeal. Durante a sua visita, D. José Silva ouviu as histórias dramáticas das famílias que sofreram danos ou perdas. "Contemplar os escombros da cidade de Lahaina foi um momento muito triste", disse ele.
O Havai tornou-se o 50º estado dos EUA em 1959. Está localizado a 3.200 quilómetros a sudoeste da Califórnia. É um arquipélago de 8 ilhas com várias ilhotas e atóis. A sua capital é Honolulu. Devido à sua beleza natural e ao seu clima, o turismo é a principal atividade económica do estado.
Para ajudar as pessoas afectadas em Maui, o Caridades Católicas do Havai apelaram a donativos através do seu sítio Web oficial.
Além disso, a Arquidiocese de Los Angeles pediu a todas as suas paróquias que fizessem uma coleta especial nos fins-de-semana de 19-20 e 26-27 de agosto para enviar às vítimas da catástrofe. As receitas das paróquias de Los Angeles serão enviadas para o Havai através do Obras Missionárias Pontifícias de Los Angeles ("As Pontifícias Obras Missionárias em Los Angeles").
Joseph Evans comenta as leituras do XX Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera apresenta uma breve homilia em vídeo.
Joseph Evans-17 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
Como o Santo Padre insiste no cuidado e acolhimento dos migrantes e refugiados! O Papa Francisco tem repetidamente exortado o mundo e a Igreja a estarem mais abertos aos nossos irmãos e irmãs que sofrem e que chegam às nossas costas fugindo da pobreza e da perseguição, independentemente da sua origem étnica ou religiosa. Um verdadeiro coração católico não faz distinções. Ser católico, para Francisco, significa "ir ao encontro de todos", especialmente dos excluídos - aqueles que se encontram nas "periferias existenciais", como ele diz - e "acolher todos", amando primeiro e só depois pensando nos problemas concretos, e mesmo assim apenas para os resolver.
Mas esta insistência não é uma invenção do Papa. É o ensinamento da Bíblia e, muito concretamente, de Nosso Senhor Jesus. E isto fica bem claro nas leituras de hoje. Numa altura em que a santidade, para o povo de Israel, era frequentemente vista como algo de exclusivo, mantendo a distância das nações pagãs, que eram vistas como idólatras e fontes de tentação, Deus insiste, através do profeta Isaías, em integrá-las na vida e no culto de Israel.
"Os estrangeiros que se uniram ao Senhor para o servirem, para amarem o nome do Senhor e serem seus servos, que observam o sábado sem o profanar e guardam a minha aliança, levá-los-ei ao meu santo monte, enchê-los-ei de alegria na minha casa de oração; os seus holocaustos e sacrifícios serão agradáveis no meu altar, porque a minha casa é uma casa de oração, e assim lhe chamarão todos os povos.".
Na segunda leitura, S. Paulo fala de ter sido "enviado aos pagãos"Um facto de que se orgulha. De facto, explica, o seu ministério junto deles destina-se em parte a levar os israelitas à conversão. O nosso próprio contacto com os não católicos e outros grupos étnicos pode também levar-nos à conversão.
E todo o Evangelho é sobre o facto de Jesus ir ao encontro de uma pessoa - uma mulher pagã - para além dos limites considerados "aceitáveis" pelos israelitas da época. Jesus usa uma imagem gráfica para mostrar que a sua missão principal era de facto dirigida ao próprio Israel: "...".Não é correto", diz ele, "tirar o pão das crianças e atirá-lo aos cachorros". É certo que muitos israelitas teriam visto os pagãos como simples cães. Mas Jesus utiliza a imagem num sentido mais profundo: Israel é o povo eleito de Deus, o seu primogénito, o seu filho e, por isso, tem um direito preferencial ao seu ensino. Mas a resposta da mulher surpreende Jesus e leva-o a elogiá-la pela sua grande fé: "...".Mas ela respondeu: "Tens razão, Senhor, mas até os cães pequenos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos".". Como se vê também noutras ocasiões (cf. Mt 8,10), os pagãos podem, se tiverem oportunidade, mostrar mais fé do que o próprio povo de Deus.
E o mesmo é verdade hoje: se tiverem oportunidade, os estrangeiros, os imigrantes, os refugiados, os migrantes podem também ultrapassar-nos na fé. Por isso, não os vejamos como um problema, mas como uma oportunidade de evangelização.
Homilia sobre as leituras do 18º Domingo do Tempo Comum (A)
O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.
A "Vocação de São Mateus" é um famoso quadro do pintor italiano Michelangelo Merisi Caravaggio. A riqueza do seu simbolismo e o seu tema exprimem realidades profundas da doutrina cristã.
Alfonso García-Huidobro-17 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 9acta
A "Vocazione di San Matteo" (1599-1600) do mestre italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio presta-se, quer pelas palavras do Evangelho em que se inspira, quer pelo seu rico simbolismo, a um comentário teológico. Os contrastes cromáticos, típicos da técnica barroca do claro-escuro, a expressividade dos rostos e a intensidade dos olhares, e muitos outros pequenos pormenores, captam imediatamente a atenção do espetador. O mesmo se pode dizer de alguns elementos ou objectos cujo significado não é imediatamente compreendido, como, por exemplo, o facto de a janela cega no topo do quadro ser tão grande, apesar de a luz que domina a cena não entrar por ela.
Aspectos importantes da imagem
Um primeiro olhar sobre a parte inferior da pintura - delimitada pela projeção horizontal da base da janela - revela um grupo de sete pessoas. Na parte superior, é possível ver, da esquerda para a direita, uma zona de escuridão, uma janela e a entrada de um raio de luz.
Na parte inferior, podemos ver um primeiro grupo de cinco pessoas reunidas à volta de uma mesa de cobrança de impostos, o que sugere que estão a exercer a profissão de cobrador de impostos ou, pelo menos, que estão a colaborar nela. Estão vestidas ao estilo do século XV-XVI, ou seja, da época de Caravaggio. No segundo grupo, pelo contrário, podemos distinguir duas figuras vestidas com túnicas antigas, características do tempo de Cristo. Pode dizer-se, portanto, que entre os dois grupos de pessoas se simboliza uma separação temporal. Do ponto de vista da composição da pintura, a linha que separa o presente do passado é a projeção da mediana vertical da janela.
No grupo de coleccionadores, a primeira coisa que salta à vista é a progressiva variedade de idades que caracteriza o grupo: o rapaz de amarelo e vermelho, quase uma criança, com um olhar cândido e inocente; um outro rapaz de preto e branco, com as feições e o porte de um adolescente; o de vermelho e azul, que parece já ter atingido uma certa maturidade; o homem barbudo e maduro ao centro; e, por fim, o velho, meio careca e míope.
Alguns objectos transportados ou usados pelos coleccionadores são igualmente marcantes: um vistoso chapéu de penas brancas (o segundo está à meia-luz), uma espada, um saco de dinheiro atado ao cinto, as moedas e o livro de contas sobre a mesa e ainda um par de óculos. Pode entender-se que se trata de objectos mais ou menos característicos do ofício.
Simbolismo
Não é, pois, difícil ver um simbolismo nesta caraterização. Existe o colecionador em todas as fases da sua profissão (da aprendizagem à reforma) e, se quisermos ter uma visão mais ampla, o homem de todos os tempos nas diferentes fases da sua vida. A mesa de coleção e os objectos acima descritos são como uma encenação do mundo com os seus elementos característicos: beleza e vaidade, poder e força, dinheiro e procura de lucro, e um certo desejo autossuficiente de sabedoria. É o lugar habitual e caraterístico da vocação: o homem imerso nos cuidados do mundo.
As duas figuras da direita estão ambas de pé. Cristo distingue-se claramente pela auréola que tem na cabeça. É de notar que só o rosto é iluminado, parcialmente na semi-obscuridade, e a mão direita, que está totalmente estendida. O olhar transmite determinação, e a mão, fortemente evocativa no seu gesto, sugere simultaneamente domínio e suavidade. Os pés, pouco perceptíveis na meia-luz, não estão na direção do rosto e da mão, mas quase perpendiculares a eles, na direção da saída, em consonância com o texto evangélico: "Quando se afastava dali, saía"., Ao passar, Jesus viu um homem chamado Mateus". O braço e a mão esquerdos são também pouco perceptíveis à meia-luz e a sua posição aberta sugere convite e acolhimento.
A segunda figura, segundo a opinião comum, foi acrescentada mais tarde pelo próprio Caravaggio. Cobre quase completamente a figura de Cristo e pode dizer-se com certeza que se trata de São Pedro, que tem na mão o cajado de pastor, encarregado de apascentar o rebanho. De facto, Pedro foi constituído como o primeiro sucessor do Bom Pastor, segundo o mandato que d'Ele recebeu: "Apascenta as minhas ovelhas" (cf. Jo 21, 16). A sua posição tão próxima de Cristo confirma-o como seu discípulo, assim como o gesto da sua mão esquerda, que é como uma réplica do gesto da mão do Mestre. Os seus pés, como os de Cristo, movem-se, mas não na direção da saída, mas para o interior da cena.
A posição relativa, a tonalidade das cores, os gestos e os movimentos das figuras de Cristo e de Pedro têm um significado. O corpo de Pedro esconde quase completamente Cristo, deixando atrás de si apenas o rosto e a mão do Mestre. O seu aspeto baço e cansado contrasta com a atitude jovem, imperial e enérgica de Cristo.
Daí que a figura de Pedro possa ser interpretada como um símbolo da Igreja: ele transmite de geração em geração os gestos e as palavras de Cristo, embora nem sempre o consiga fazer com a força e o brilho originais, devido à frágil condição humana daqueles que compõem a Igreja. A direção para onde se dirige, para a mesa, confirma a sua missão de estar no mundo, no meio dos homens; e o bastão que traz na mão, a sua condição de peregrina ao longo da história, até ao fim dos tempos.
Elementos da parte superior
A parte superior do quadro, em contraste com a cena representada na parte inferior, é de uma simplicidade e quietude absolutas. É constituída apenas por três elementos: o raio de luz que entra pela direita, uma janela cega e uma zona de escuridão total. O único sinal de movimento é o raio de luz que entra na cena, mas de uma forma tão serena e estável que parece imóvel. É possível compreender a relação entre estes três elementos através do uso do contraste, tão típico da pintura barroca: a janela é a fronteira entre a luz e a escuridão.
Mas agora, não será de perguntar se as partes do quadro, com sentido e significado em si mesmas, não formam um todo, uma unidade de sentido como em todas as obras-primas? Por exemplo, a janela está intimamente relacionada com a vocação de Mateus? A resposta é obviamente afirmativa. Há uma unidade de sentido e há também uma chave para a compreensão de todo o quadro. Essa chave é a mão estendida de Cristo. E agora veremos porquê.
Vocação
A mão de Cristo não está no centro geométrico do quadro, mas na encruzilhada dramática da cena. Para lá convergem a linha que une o olhar de Cristo e do cobrador de impostos sentado no centro da mesa; a projeção da mediana vertical da janela que, como já foi referido, constitui uma fronteira temporal da cena: o grupo de cobradores de impostos à esquerda, no presente, Cristo e Pedro à direita, no passado; e, em terceiro lugar, a diagonal formada pelo raio de luz que parece reger a direção da mão de Cristo.
O gesto da mão de Cristo é bastante singular e não passa despercebido a quem conhece a arte romana da época e as salas do Vaticano. Faz lembrar a cena da criação pintada por Michelangelo Buonaroti no teto da Capela Sistina. A mão direita de Cristo é uma réplica em espelho da mão esquerda de Adão. Por isso, pode dizer-se que Cristo é representado como um novo Adão: "Porque, se pela queda de um só homem todos morreram, quanto mais a graça de Deus e o dom que é dado na graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou para todos" (cf. Rm 5,15).
Por isso, também é claro que a vocação é uma graça intimamente ligada à criação de cada homem, pois é o que dá sentido à sua existência. Mas porque é precisamente a mão direita de Cristo e porque Cristo não só tem a natureza humana de Adão, mas também a natureza divina de Deus Pai, essa mão é a imagem do poder e da vontade omnipotente do Pai: o dedo de Deus.
Por outro lado, a janela cega, opaca e simples, como já foi referido, não cumpre a função de deixar entrar a luz na cena. A sua função é simbólica e muito importante, dadas as suas dimensões. Ela esconde algo que normalmente passa despercebido e até desprezado: a cruz. No contexto da pintura, ela pode ser interpretada como a cruz de Cristo. Situada no alto, logo acima da mão do Mestre, ela é o sinal do cristão e o lugar onde Cristo realiza a sua própria vocação: dar a vida pela salvação do mundo.
A cruz é o caminho de vida para aquele que recebeu a vocação e quer ser discípulo de Cristo: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me".(Mt 16,24). É, finalmente, o meio para alcançar a salvação e a bem-aventurança, o fim da vocação cristã. Não só Cristo morreu nela, mas também Pedro e Mateus. Ambos deram prova da sua fidelidade como discípulos de Cristo e coroaram a sua própria vocação.
A cruz, situada na composição do quadro como fronteira entre a luz e as trevas, simboliza o instrumento que permite resolver a oposição permanente entre o bem e o mal, a verdade e a mentira e, no caso da vocação, entre a indecisão e a passagem da fé.
Quem é o Mateo?
Por último, podemos perguntar-nos qual dos cinco coleccionadores é Matthew, uma vez que os críticos contemporâneos questionaram se ele é o colecionador barbudo no centro, para o qual o olhar do espetador está naturalmente focado.
Em primeiro lugar, há um elemento comum que caracteriza cada uma das sete personagens da cena: o olhar. Há um intenso jogo de olhares que domina a comunicação silenciosa entre as personagens e enche o momento de tensão dramática. Os dois cobradores de impostos da esquerda mantêm o olhar fixo no dinheiro que está sobre a mesa, completamente absorvidos por ele e sem se aperceberem da presença de Cristo e dos outros dois da direita. Pedro.
Simbolizam a parte dos homens que, mergulhados nas coisas materiais, são como que incapazes de se aperceberem da presença e da existência de Deus e de tudo o que é espiritual. Os outros três cobradores de impostos, pelo contrário, têm os olhos fixos em Cristo e em Pedro, que, como dois visitantes misteriosos do passado, aparecem de repente. Também eles estão a olhar para os cobradores de impostos. No entanto, há apenas um cruzamento de olhares que é explicitamente assinalado: o de Cristo e o do cobrador de impostos no centro. Ambos se cruzam na mão estendida de Cristo.
Em segundo lugar, não parece coincidência que o gesto da mão de Cristo, de Pedro e do cobrador de impostos no centro seja apresentado como um trio: a mão de Cristo é a mão daquele que chama; a mão de Pedro é a mão daquele que já foi chamado; e a mão do cobrador de impostos é a mão daquele que está a ser chamado. Cheio de espanto e perplexidade, pergunta-se se é ele que está a ser chamado ou se é o seu companheiro sentado à sua direita, ao fundo da mesa.
Em terceiro lugar, no grupo dos coleccionadores há apenas dois rostos que são quase completamente visíveis e especialmente iluminados. A que mais brilha é a pequena, de cor amarela e vermelha, com um chapéu de penas brancas. Não é possível estabelecer com certeza a origem da fonte que o ilumina. No caso do colecionador do centro, é evidente que a luz que ilumina o seu rosto não provém de Cristo. Vem do feixe de luz diagonal. O seu rosto é literalmente enquadrado pela projeção da parte superior e inferior desse raio, cuja origem ou fonte não se vê.
Por isso, pode dizer-se que o colecionador no centro é precisamente Mateus. O suave raio de luz que lhe chega ao rosto é apenas um símbolo da graça que vem do alto, isto é, de Deus Pai. Deus Pai, que está no céu, transcendente ao mundo, mas condescendente com os homens, foi sempre considerado como a fonte invisível, inacessível e misteriosa de toda a graça. O tom imutável e sereno do raio de luz, que introduz o equilíbrio e a harmonia na cena, simboliza a origem intemporal daquilo que é anterior à vocação, ou seja, a escolha. É Deus Pai que escolhe.
O ponto de confluência do suave raio de luz, do olhar e da mão de Cristo, é também o rosto do colecionador do centro. Cristo, secundando a vontade do Pai, actualiza no tempo a eleição eterna, e chama: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, (...) porque nele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor" (Ef 1,4).
A resposta à vocação
Agora só resta esperar pela resposta gratuita daquele que foi escolhido e chamado. Daquele que ainda tem a mão direita perto do dinheiro. É precisamente o instante imortalizado por Caravaggio.
Para concluir, uma pergunta e uma reflexão: será que a intuição criativa do artista o levou a interpretar na sua obra o momento exato da vocação de Mateus, não só de forma magistral do ponto de vista estético, mas também com uma profundidade teológica surpreendente... Não sabemos. O que é certo é que a "Vocazione di San Matteo" ainda lá está, na capela Contarelli da igreja "San Luigi dei Francesi", a poucos passos da "Piazza Navona", em Roma, causando admiração e espanto em quem a contempla.
No entanto, um pormenor não pode passar despercebido: a mesa representada na pintura, em torno da qual se reúnem os cobradores de impostos, deixa um espaço vazio no ângulo em que o observador necessariamente se encontra. Este vazio parece ser um convite ao observador do século XVI, do século XXI e de todas as épocas para sair da sua contemplação passiva e entrar em cena como outra personagem... E, talvez, para se colocar a questão decisiva, a mais importante: a questão da sua própria vocação, porquê e para quê estou neste mundo?
Todos os anos, um dos eventos pastorais mais importantes para as famílias cristãs na Áustria tem lugar em Pöllau, uma pequena cidade na região austríaca oriental da Estíria: o "Festival da Estíria".Reuniões de famílias jovens"ou "Encontro de famílias jovens". Este ano, realizou-se de 18 a 23 de julho, com a participação de 170 famílias e mais de 200 ajudantes, num total de quase 1000 pessoas provenientes de toda a Áustria e de alguns países vizinhos. O lema da semana foi: "Renovar a glória". A tónica foi colocada na família: cada família participante veio também para se encontrar com outras famílias, para se recarregar, trocar e encorajar mutuamente, para rezar em conjunto, para "reforçar o matrimónio e receber os sacramentos".
Tudo começou há mais de 30 anos. No âmbito do Renovamento Carismático Católico e com um grande e evidente apoio da paróquia e do pároco, os encontros de jovens começaram em Pöllau em 1992. Quando os jovens cresceram, casaram e tiveram filhos, começaram os encontros para as famílias jovens, e assim, em 2003, realizou-se o primeiro "Encontro de famílias jovens": queriam experimentar o que tinham experimentado em Pöllau quando eram jovens: a comunidade de jovens cristãos, a renovação na fé e a nova alegria na vida cristã, rezando e cantando juntos e também divertindo-se juntos, agora como famílias, e transmitir isto aos seus filhos e também a outras famílias.
Não só com um entusiasmo "carismático", mas com muita dedicação e esforço, fé e alegria, os organizadores e, desde o início, muitos voluntários, organizaram até agora 21 encontros deste tipo com cerca de 3300 famílias, e realizaram-nos com grande sucesso; sucesso, não só no sentido mundano, mas de cada vez com muitos ganhos espirituais, uma experiência com muita alegria para todos, para as famílias participantes e para os ajudantes, que são na sua maioria jovens.
Três elementos essenciais
Naquilo que para as famílias - para os pais e para as crianças - é simplesmente um grande programa global, um observador objetivo poderia identificar três elementos principais: conferências e workshops, programa espiritual, convívio.
Os títulos das conferências, tais como "Verdade e amor", "Liberdade e profundidade", "Fontes do amor conjugal" falam por si aos adultos: transmitir valores duradouros e, ao mesmo tempo, uma ajuda prática para as famílias e o seu futuro.
Mas no centro e ao longo de toda a semana está o programa espiritual, com a Santa Missa, a oração da manhã e da noite, a vigília, ou melhor, a Festa da Misericórdia, a peregrinação. A missa diária é celebrada na grande igreja da aldeia, mesmo ao lado do local onde decorrem os eventos. Na tenda com o Santíssimo Sacramento, o Senhor pode ser adorado no Sacramento do Altar durante várias horas por dia. Sempre de novo, as crianças e os jovens vêm rezar um pouco; para eles é muito natural encontrar Jesus aqui, "no meio do prado".
E tudo com um alegre convívio ao longo do dia, com um programa especial para as crianças com teatro infantil e a Abelha Maia, e sessões para os jovens com conversas e debates. Durante todo o dia, é como uma troca constante de famílias entre si, durante as refeições em conjunto, durante os passeios no prado, ou mesmo de casais entre si durante a renovação do matrimónio. No sítio Web do "Encontro de Famílias Jovens" pode ler-se o testemunho de Andreas e Maria: "Recebemos muitas graças como casal, fomos confortados na vigília de renovação do matrimónio e Deus deu-nos orientações para a educação dos nossos filhos".
Nova abordagem
Os "Encontros de Famílias Jovens" são apoiados pela ICF, a Iniciativa Cristã para a Família. A ICF trabalha em nome da Conferência Episcopal Austríaca. O seu sítio Web descreve o seu trabalho: "Na qualidade de ICF, consideramo-nos fornecedores e organizadores de ofertas para famílias, casais e crianças. A nossa preocupação é servir as famílias e fortalecê-las na sua vocação. Com as nossas ofertas, queremos sensibilizar as pessoas para o elevado valor do casamento e da família na nossa sociedade". O diretor do ICF, Robert Schmalzbauer, esteve envolvido desde o início nos encontros de jovens famílias como animador, juntamente com a sua mulher Michaela. Desde então, tornaram-se avós e os seus oito filhos participam: os mais novos ainda no programa infantil, os mais velhos já como pais com os seus próprios filhos.
Não só a sua própria experiência, mas também décadas de trabalho pastoral com famílias levaram Robert Schmalzbauer à convicção de que a família é essencial para o trabalho pastoral com os jovens. Segundo ele, é evidente para todos que os jovens são o futuro. Mas quando os jovens crescem numa família fortalecida na fé e na sua própria vida, crescem de uma forma diferente. "E quando muitos jovens regressam aqui para servir as famílias juntamente com padres e religiosos, isso influencia a sua visão do casamento, da família e também do sacerdócio ou da vocação religiosa. Vêem aqui que as famílias precisam dos padres e os padres precisam das famílias".
É por isso que é importante cuidar muito bem das famílias em Pöllau, para que esta semana signifique para elas um reforço como família, também como família cristã e crente: que haja um programa bem pensado para todas as idades; que haja tantos voluntários que se ocupem de tudo o que é necessário; que os casais também tenham espaço para isso com a ajuda do programa infantil, para que também possam ter tempo suficiente para os seus filhos durante esta semana.
Assim, o Encontro de Famílias Jovens torna-se um acontecimento espiritual para todos, para os casais, para toda a família e para os organizadores e voluntários, que os fortalece para as semanas e meses seguintes e os faz esperar ansiosamente pelo próximo Encontro de Famílias Jovens. No sítio https://jungfamilien, Christoph e Katharina afirmam: "A nossa família uniu-se mais profundamente durante esta semana e a nossa relação conheceu uma dimensão mais íntima. Conseguimos sentir Deus na nossa família.
Em 2024, o encontro deixará de se realizar em Pöllau, porque a paróquia já não dispõe das infra-estruturas necessárias, pelo que já não é viável realizar o encontro da forma habitual. O novo local é a abadia beneditina de Kremsmünster, na Alta Áustria, fundada no ano 777 e onde há muita experiência em eventos de grande escala, com o "Treffpunkt Benedikt" (Ponto de Encontro Bento) mensal como oferta espiritual para os jovens.
Inteligência Artificial, vantagem ou perigo no domínio da educação?
Como é que a tecnologia, e em particular a Inteligência Artificial, pode ser utilizada para melhorar os processos de ensino e melhorar a educação? Quais são os desafios e as vantagens para professores e alunos? Para responder a estas questões, a Omnes entrevistou Rushton Huxley, fundador da organização "Next Vista for Learning".
Gonzalo Meza-16 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 6acta
A emergência da inteligência artificial (IA) constitui um marco na informática e na sociedade. Os notáveis progressos realizados neste domínio terão um impacto cada vez mais profundo em todas as áreas da atividade humana, política, económica e social. O Papa Francisco salientou que é necessário estar atento para que uma lógica de violência não se enraíze na utilização da IA. Por isso, o tema do próximo Dia Mundial da Paz, a 1 de janeiro de 2024, é "Inteligências Artificiais e Paz".
A este respeito, o Dicastério para o Desenvolvimento Humano e Integral nota que o Santo Padre apela a um diálogo sobre as potencialidades e os riscos da IA. O Pontífice exorta a orientar o uso da IA de uma forma responsável e ao serviço da humanidade. "A tutela da dignidade A consciência da pessoa e o cuidado da fraternidade humana são condições essenciais para que o desenvolvimento tecnológico possa contribuir para a promoção da justiça e da paz no mundo", indica o Dicastério.
Um dos domínios com enorme potencial é a utilização da IA ao serviço da educação. As ferramentas derivadas da IA têm a capacidade e o potencial de mudar para melhor (ou pior) a forma como aprendemos. Como utilizar a tecnologia e, em particular, a Inteligência Artificial para melhorar os processos de ensino e reforçar a educação? Quais são os desafios e as vantagens para professores e alunos?
Para responder a estas questões, a Omnes entrevistou Rushton Huxley, fundador da organização ".Next Vista for Learning"e professor de "Soluções Criativas para o Bem Global" e "Soluções Avançadas para o Bem Global" na Junipero Serra Catholic High School em San Mateo, Califórnia. Huxley foi o orador principal da Conferência C3 para a Comunicação Global, organizada pela Arquidiocese de Los Angeles, de 2 a 4 de agosto, com o objetivo de formar o corpo docente e o pessoal das escolas católicas sobre o potencial da IA nas instituições educativas católicas.
Pode falar-nos um pouco sobre o seu trabalho e a organização que fundou, a Next Vista Learning?
- Sou o fundador e diretor executivo da Next Vista Learning, que dirijo há 18 anos. A organização gere um sítio Web que é basicamente uma biblioteca de vídeos feitos por e para professores e estudantes de todo o mundo sobre abordagens criativas ao ensino e à aprendizagem. Sou também diretor de inovação na Junipero Serra High School em San Mateo, Califórnia. E dou aulas lá com outro professor.
Porque é que a Next Vista Learning foi criada?
- Em 2005, reparei que muitas crianças tinham problemas em aprender algumas matérias na escola. Eu sabia que, algures, havia um professor que tinha uma forma inteligente ou criativa de explicar a matéria. Por isso, decidi criar um espaço onde essas explicações inteligentes e curtas estivessem disponíveis gratuitamente para as crianças. Ao longo do tempo, foram também adicionados à biblioteca vídeos em que as próprias crianças explicam alguns tópicos e fazem-no demonstrando como aprenderam, partilhando ideias sobre como aprender. Já temos cerca de 2.800 vídeos no sítio Web. Abrangem vários temas, desde a aprendizagem do inglês até ao serviço nas comunidades. Há diferentes conteúdos neste espaço.
Acha que a inteligência artificial vai marcar um antes e um depois na educação?
- Sim, estou no mundo da tecnologia educativa há muito tempo e, nos últimos anos, surgiram muitas ferramentas que permitem criar os seus próprios meios digitais e colaborar em equipas, por exemplo, com o "Google Workspace". Atualmente, é possível mostrar mapas aos alunos através da realidade virtual. A Inteligência Artificial (IA) generativa, como o chat GPT, ou o "Google Bard" desafia-nos de muitas formas. Um deles é pensar se, no ensino, temos pedido aos alunos que formulem as suas perguntas e respondam corretamente. Por exemplo, se queremos que eles aprendam a escrever, podemos pedir-lhes que escrevam um texto muito elaborado, com indicações precisas. Nesse caso, o que temos de fazer é ensiná-los a pensar sobre o tipo de coisas que devem estar lá antes de gerar a escrita. Depois, avaliá-la e, por fim, complementá-la. É muito importante que as crianças aprendam a escrever, mas há novas formas de o fazer graças às ferramentas que temos à nossa disposição.
Numa perspetiva educativa, quais são as vantagens e desvantagens das aplicações de inteligência artificial?
- Para mim, a esperança disto é que as pessoas pensem de forma muito diferente sobre as suas próprias possibilidades. A maior vantagem para um professor é o facto de poupar tempo. Porque se pode dizer à aplicação: "Escreva um programa para a turma sobre este tema". O professor pega nessa informação e utiliza-a na aula. 80 % do trabalho já está feito. Ou, por exemplo, se pedir à IA ideias sobre como trabalhar o tema da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Provavelmente, a aplicação dir-lhe-á para pedir aos alunos que leiam a "carta da cadeia de Birmingham" de Martin Luther King Jr. Ou pedir à IA: "dê-me 10 perguntas para os alunos sobre esse argumento". Com esta tecnologia, obtém o que é útil numa questão de segundos e isso permitir-lhe-á, enquanto professor, ser mais criativo na decisão de como ensinar ou melhorar a sua aula.
No caso da IA e dos estudantes, há muitas formas de aproveitar o seu potencial. Por exemplo, se escreverem um ensaio e quiserem melhorá-lo, podem introduzi-lo na aplicação de IA e pedir-lhe ideias sobre como o melhorar. Depois, podem receber feedback. O feedback não é obtido porque a IA está a pensar como um ser humano, mas porque pode gerar uma redação coerente com a pergunta que se faz, com base na vasta quantidade de informação que tem disponível. Como outro exemplo, um aluno pode perguntar à aplicação: "Faça um resumo de uma página sobre este tópico. Porquê escolher este tema? Para que, no dia seguinte, esse aluno vá para a aula e saiba o que o professor vai apresentar e, assim, possa contribuir para a aula. Não vão ser especialistas, mas quando o professor começar a ensinar a matéria, vão compreendê-la melhor. E se acharem difícil, podem pedir à IA que gere um resumo do mesmo tópico utilizando terminologia simples em inglês corrente (para alunos que falam inglês). Outro exemplo. Para os alunos que aprendem inglês (ou línguas), podem pedir à IA que gere uma lista de vocabulário relacionado com um tópico. O que é que os alunos não encontram numa IA? Se lhe pedirem para descrever uma cidade como Los Angeles ou Nova Iorque, a IA fá-lo-á. Mas se lhe pedirmos informações sobre a vida da nossa avó, que vive na cidade de Coalinga, na Califórnia, provavelmente não produzirá resultados.
Um dos riscos da IA é a desonestidade ou a batota na sala de aula, ou seja, os alunos copiam e colam textos que não são da sua autoria. Trata-se de um comportamento muito sensível que, nas universidades americanas, acarreta sanções muito graves, incluindo a expulsão. Como evitá-lo?
- Nesse sentido, é um risco. Se não falarmos com os alunos sobre as coisas realmente boas, honestas e surpreendentes para as quais podem utilizar esta tecnologia, eles vão efetivamente vê-la simplesmente como uma ferramenta para fazer batota. A questão que temos de colocar a nós próprios é "será que estamos a criar os factores que tornam os alunos mais propensos a fazer batota?" As competências estão adquiridas porque foram praticadas e melhoradas. Do ponto de vista académico, quanto mais simples forem as instruções que damos aos nossos alunos, mais facilmente eles o conseguem fazer. A IA permite-nos desafiar os alunos a pensar de forma mais complexa sobre o mundo que os rodeia, sobre a validade das fontes, sobre a sua capacidade de avaliar a qualidade de um texto bem escrito com gramática e ortografia correctas. Mas para que um aluno possa pensar com esse esquema, tem de ter conhecimentos de gramática e ortografia para depois os reconhecer e avaliar.
Para chegar a esse ponto, é importante mostrar-lhes histórias de vida ou experiências em que apreciem como as abordagens criativas e inovadoras podem ser úteis aos outros e fazer a diferença numa comunidade. "Posso fazer alguma coisa que faça a diferença na minha comunidade?" Mesmo que seja algo pequeno, isso cria confiança. A tarefa do professor é permitir que o aluno saiba que existe um espaço onde pode fazer algo muito interessante e academicamente significativo. Isto implica fazer mudanças na forma como os professores trabalham. Muitas coisas resultam de mudanças muito simples. Escrevi um livro chamado "Making Your Teaching Something Special". Baseia-se na premissa de que pequenas coisas feitas em quantidade e qualidade fazem de si um melhor professor. Por exemplo, algo que acontece em todas as salas de aula é que os alunos estão sempre a gritar e parecem ser incontroláveis. O professor tem de encontrar formas de os fazer calar. Pode gritar "cala-te" várias vezes em voz alta; mas esses gritos podem fazer a criança lembrar-se dos gritos que ouve em casa e resultar numa má associação cognitiva. Mas se o professor mudar de estratégia e, em vez de gritar, pegar num sino de quinta (sou do Texas e usamos muito os sinos de quinta) e lhes sorrir para os mandar calar, é mais provável que os alunos comecem a associar o barulho do sino de quinta ao silêncio.
Voltando à IA generativa, há pequenas coisas que se podem usar para ser um melhor professor. Há muitas coisas que podemos fazer para tornar o nosso trabalho mais eficaz e satisfatório a nível pessoal e profissional.
Joseph Evans comenta as leituras da Assunção de Maria (A).
Joseph Evans-15 de agosto de 2023-Tempo de leitura: 2acta
A preciosa festa que hoje celebramos ensina-nos que MariaNo fim da sua vida na terra, foi levada de corpo e alma para o Céu. A Igreja não define se ela morreu ou não, mas a maior parte dos teólogos e dos santos ao longo dos séculos pensaram que Maria experimentou de facto a morte, não como um castigo pelo pecado, mas para estar completamente unida ao seu Filho, que voluntariamente sofreu a morte para nos salvar. Nossa Senhora ajuda-nos a não ter medo da morte e a morrer para nós próprios todos os dias, porque este é o caminho para a vida. Assim é, portanto, também a velhice.
A primeira leitura de hoje mostra-nos Nossa Senhora na glória. Não só "brilha como o sol"como Jesus diz que acontecerá aos justos. É "vestido ao sol"com uma coroa de doze estrelas e a lua a seus pés. A sua glória é muito maior do que a nossa, porque a sua santidade é muito maior. Isto ensina-nos como Deus nos recompensa generosamente e nos dá a esperança do Céu. Mas isso aconteceu porque Maria se humilhou. Ela é exaltada pela sua humildade, como se pode ver na sua resposta ao anjo (Lc 1,38) e no seu Magnificat. Os soberbos e os ricos são deitados abaixo, e os humildes são exaltados. Se quisermos participar na glória celeste de Nossa Senhora, temos de ser humildes e pobres.
Esta festa ensina-nos também a importância da feminilidade: Maria é levada para o Céu com um corpo de mulher (e não apenas com uma alma puramente espiritual), como a primeira de todas as mulheres santas. A feminilidade é muito importante para Deus. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus como homem e mulher. Mas a verdadeira feminilidade envolve tudo o que vemos Maria viver: a sua resposta total a Deus e a sua flexibilidade para responder aos seus projectos, mesmo quando estes parecem mudar os seus; a sua generosidade ao ir ajudar os necessitados, como foi ajudar a sua prima; e a alegria com que se estende, louvando a Deus com um coração alegre, um coração que se alegra com o poder de Deus e com as suas obras salvadoras, e se alegra por ser um dos seus pequeninos.
A verdadeira feminilidade é a atenção de Maria às necessidades dos outros, como em Caná, e a sua audácia ao voltar-se para o seu Filho, e a sua suave insistência. É a sua coragem aos pés da Cruz. Ela não pode fazer muito, mas está lá, e isso já é muito. A verdadeira feminilidade é a solicitude materna de Maria pela Igreja, mantendo-a unida quando corria o risco de se desfazer, e a sua presença no Pentecostes no coração da Igreja orante, pois o que é a Igreja sem a oração das mulheres?
Maria intercede por nós a partir do Céu e convida-nos a segui-la. E, mais uma vez, a maneira de a seguir é pedir a sua ajuda para ser humilde. "Derrubai os poderosos do seu trono e exaltai os humildes"Dos seus tronos, dos seus cavalos altos, dos seus lugares de superioridade assumidos. Maria ajuda-nos a vermo-nos e a vivermos como servos, e a encontrarmos nisso a nossa alegria.
Hoje, dia 15 de agosto, celebramos a Assunção da Virgem Maria, ou seja, que Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma e que, por isso, o seu corpo já está glorificado, como uma antecipação do que acontecerá a todos os salvos no fim dos tempos.
A 15 de agosto celebramos o Asunción Esta é uma das festas cristãs mais populares, mas baseia-se num dos artigos mais impopulares do nosso credo, o da "ressurreição da carne": como são poucos os que acreditam nela!
Seria um exercício curioso se nos dirigíssemos a uma dessas avenidas comerciais apinhadas de gente, onde os repórteres fazem os habituais inquéritos de rua, e perguntássemos às pessoas quais as suas crenças sobre a vida depois da morte. Muitos negá-lo-iam; muitos outros afirmariam inequivocamente que acreditam na reencarnação ou na fusão com uma energia cósmica ambígua; quando muito, alguns atrever-se-iam a falar de um céu etéreo com nuvenzinhas e anjos?Mas poucos, muito poucos, afirmariam categoricamente que acreditam - como afirma a Igreja - que o seu corpo, o seu próprio corpo (mãos, pés, dentes, fígado, estômago...), ressuscitará transfigurado no fim dos tempos para a vida eterna. Acha que a amostra seria muito diferente se fizéssemos o inquérito à porta de uma igreja paroquial, depois da missa? Tenho as minhas dúvidas.
O dogma da Assunção de Maria, cuja festa fazemos coincidir em meados de agosto com inúmeras invocações marianas locais, proclama que a Virgem, tal como o seu Filho, ressuscitou em corpo e alma e vive já eternamente com Ele. O destino de Maria é o mesmo que nos espera. É o que Jesus nos prometeu. O seu único privilégio é ter antecipado o momento. Não teve de esperar, como nós, pelo fim dos tempos. Tratamento VIP para uma mulher verdadeiramente VIP, nada mais nada menos que a mãe de Deus.
Mas porque é que nos custa tanto acreditar? Perdoem-me a insistência, mas o assunto parece-me muito importante porque toca no fundamento do cristianismo: o túmulo vazio. Se Cristo não ressuscitou, de que serve a fé?
Penso que uma das razões para esta descrença é o facto de ser bastante contra-intuitivo. Quando alguém morre, vemos como o seu corpo se corrompe. Mesmo se lermos as escrituras antigas, os testemunhos dos primeiros cristãos e dissermos que esperamos a ressurreição, não sabemos realmente como será, porque a matéria desaparece na nossa dimensão temporal. Muito mais intuitivas são as ideias platónicas que impregnam a nossa cultura e, com ela, o cristianismo.
A divisão clássica entre corpo mortal e alma imortal leva-nos a cair repetidamente numa doutrina, a dualista, que é contrária ao que a comunidade cristã acreditou historicamente e acredita atualmente. Também recorremos ocasionalmente a ideias maniqueístas (igualmente contrárias ao depósito da nossa fé), como as que seduziram Santo Agostinho e das quais ele tanto se arrependeu, em que o corpo é considerado a origem do mal, enquanto o espírito é a origem do bem.
Estas duas doutrinas estão na base de muitas das colonizações ideológicas que o Papa Francisco voltou a denunciar no JMJ e que hoje permeiam o pensamento da maioria das pessoas. As gerações mais jovens, por exemplo, consideram normal entregar o seu corpo numa saída à noite a um estranho com quem nem sequer partilham o número de telefone, porque o corpo é, afinal, apenas matéria que será comida pela terra. É como se fosse uma realidade diferente para mim.
Por outro lado, há cada vez mais pessoas que rejeitam o seu corpo porque o vêem como a fonte do mal que as afecta. Alguns não concordam com o seu sexo, outros com a sua silhueta ou o seu rosto. Vêem-se a si próprios como almas puras (nas quais não há lugar para o erro) presas num corpo (errado) e estão dispostos a mutilá-lo ou a forçá-lo a assumir a forma ou o uso que acreditam ser perfeito. Há também aqueles que pedem que as suas cinzas sejam espalhadas neste ou naquele lugar idílico, como forma de finalmente deixarem de ser eles próprios e de se juntarem a um universo impessoal.
Em contraste com estas formas de dualismo, maniqueísmo ou materialismo prático, a Igreja afirma que o ser humano é um ser simultaneamente corporal e espiritual. O corpo e a alma têm dignidade. Daí o respeito secular pelo próprio corpo e pelo corpo do próximo, mesmo depois da morte. Com efeito, a carne não é uma espécie de bainha ou de invólucro descartável, mas é o próprio ser humano, obra perfeita do criador, templo do Espírito Santo.
Glorificai a Deus com o vosso corpo", pedia S. Paulo aos Coríntios. Foi isso que Maria foi pioneira, pondo a sua carne, toda a sua vida, ao serviço de Deus e da humanidade. E é por isso que comemoramos o facto de a sua carne ser agora imortal. Um conselho para celebrar esta festa: olha-te ao espelho, contempla cada pormenor (quer gostes quer não), pensando, como Maria, que se Deus assim o quis: "Eis a serva do Senhor". Olha para as tuas mãos, leva-as à boca e beija-as: elas acompanhar-te-ão na eternidade. E glorificai a Deus com elas: juntai-as para rezar, estendei-as para abraçar quem precisa de afeto ou de conforto, erguei-as para ajudar quem precisa, batei palmas para aplaudir Maria na sua assunção ao céu. Ela espera-nos (aqui e ali), de corpo e alma.
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.
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