Mas o que é que os meus olhos vêem!

Belém é um reflexo das realidades últimas, mostra-nos o amor inesgotável de Deus que satisfaz todos os nossos desejos e, ao mesmo tempo, o coração fechado de Herodes que vive um inferno.

15 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Se não o vejo, não acredito. Com esta frase, o materialismo que nos rodeia afasta qualquer referência à transcendência. Mas e se fosse possível ver Deus com os nossos olhos? São Francisco de Assis pensou nisso e conseguiu.

Na primeira biografia escrita do santo, Tomás de Celano conta que, em 1223, quando se encontrava perto da cidade italiana de Greccio, pediu a um certo João, um nobre de boa reputação, que lhe preparasse uma manjedoura para o Natal, a fim de poder contemplar o presépio. As suas palavras foram: "Quero celebrar a memória do menino que nasceu em Belém e quero contemplar de algum modo com os meus olhos o que ele sofreu na sua incapacidade infantil, como foi deitado na manjedoura e como foi colocado sobre o feno entre o boi e o burro".

O cronista descreve como, nessa noite de Natal, o primeiro presépio da história reuniu uma multidão de frades e famílias das redondezas, que vieram com velas e fogueiras acesas, e a alegria com que o santo o contemplou e pregou na Eucaristia que um sacerdote celebrou no próprio presépio. No meio dos cânticos de louvor da comunidade improvisada, um dos presentes teve uma visão extraordinária. Diz-se que viu "uma criança sem vida deitada na manjedoura" e que, quando Francisco se aproximou, acordou do seu sono. Esta visão não é sem sentido", explica o autor, "pois o menino Jesus, sepultado no esquecimento de muitos corações, ressuscitou por sua graça, através de seu servo Francisco, e sua imagem ficou gravada no coração dos apaixonados". No final da solene vigília, todos voltaram para casa cheios de alegria".

No 800º aniversário deste acontecimento único, o costume de reconstituir o nascimento de Jesus para que crianças e adultos possam contemplar "com os seus olhos" o mistério de Belém continua bem vivo.

Há presépios monumentais e em miniatura, vivos e de cerâmica, populares e napolitanos, estáticos ou mecanizados?

Em cada casa, em cada estabelecimento, em cada paróquia, instituição ou confraria há um "João", como o primeiro presépio de Greccio, que, sozinho ou com um grupo de colaboradores, se esforça todos os anos por montar o melhor presépio possível.

Na carta apostólica "O belo sinal da manjedoura Sobre o significado e o valor do presépio, que recomendo a todos que releiam nesta altura do ano, o Santo Padre recordou que "não é importante o modo como o presépio é preparado, pode ser sempre o mesmo ou ser modificado todos os anos; o que conta é que fale à nossa vida". E é verdade que os presépios falam. Falam-nos da presença quotidiana de Deus no meio da nossa vida quotidiana, mesmo que muitas vezes vivamos longe dele. O seu valor como recurso de transmissão e de renovação da fé é inquestionável.

Ainda no outro dia, estava a tentar resolver as dúvidas de um dos meus filhos sobre o que seria o céu. E é realmente difícil imaginar essa "contemplação de Deus" de que fala o Catecismo. "Que maçada ver Deus todo o dia! diz-me a criança. À procura de uma resposta, olhei para o presépio que já estava montado na sala e reparei na alegria da Virgem Maria, de São José, dos anjos, dos pastorinhos, dos reis... Todos estavam cheios de alegria ao contemplar o Menino Deus.

Imagina que estás em Belém, a dormir ao relento", disse eu, "e de repente aparece um coro de anjos e anuncia-te que nasceu o menino Jesus. Irias vê-lo ou não, porque achas aborrecido? 

-Seria espetacular. Ia a correr", respondeu.

-Imagina o céu assim. Um lugar onde, todos os dias, se pode assistir a um acontecimento extraordinário que nos enche de alegria. Um lugar onde os reis e os pobres partilham o mesmo destino e o mesmo desejo: estar perto de Deus, o mais perto possível e durante o maior tempo possível, porque aborrecer-se... Aborrece-se ao ver um bebé, o seu primo, por exemplo?

-Nem pensar, ela é tão engraçada, podia brincar com ela durante horas.

-Porque um velho amargurado não pensaria em criar o Universo para partilhar a sua vida contigo!

À medida que avançávamos, a conversa fez-me compreender ainda mais profundamente como Belém é um reflexo das realidades últimas, pois mostra-nos também o inferno de Herodes, decrépito e triste porque não quis aceitar a boa nova que lhe é dada. No alto do seu castelo, só tem a si próprio e a sua crueldade, longe da comunhão com Deus e com os homens.

Então, mais uma vez, São Francisco conseguiu. Aquela criança adormecida num sono muito profundo ressuscitou graças a ele para me trazer, 800 anos depois, um novo ensinamento, uma nova esperança. E simplesmente contemplando umas figuras de barro. Ver para crer.

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

Vaticano

Mons. StaglianòA ciência teológica deve ser cada vez mais concebida como sabedoria".

O presidente da Academia Pontifícia de Teologia e arcebispo emérito de Noto concedeu uma entrevista à Omnes na qual explica, em linhas gerais, as mudanças introduzidas pelo Papa Francisco com o Motu Proprio. Ad theologiam promovendam.

Federico Piana-15 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

"Uma reforma em continuidade". Monsenhor Antonio Staglianò escolhe cuidadosamente estas palavras para começar a descrever as profundas mudanças que o Papa, com a carta sob a forma de motu proprio Ad theologiam promovendamintroduziu nos estatutos da Pontifícia Academia de Teologia a que ele preside. Uma revolução de grande importância que representou mesmo uma mudança de paradigma para a Academia fundada por Clemente XI em 1718.

Numa longa conversa com a Omnes, Staglianò salienta que, normalmente, quando se usa a expressão "revolução paradigmática" na ciência, faz-se referência à obra de Thomas Samuel Kuhn intitulada "Revolução Paradigmática". A estrutura das revoluções científicasem que o filósofo americano explica como a ciência produz perturbações que geram novos métodos e uma nova forma de proceder na própria ciência.

"Tomamos emprestada a ideia de paradigma de Kuhn, mas não podemos deixar de a ler no interior da Igreja. Afinal, a teologia é uma forma eclesial, não apenas a ciência, que deve situar-se na Tradição", diz Staglianò. A revolução está aí, mas na continuidade.

Nova teologia

A construção de uma nova ideia de teologia é a maior novidade desta revolução. Monsenhor Staglianò chama-lhe Teologia da SabedoriaChamamos-lhe assim, de acordo com as instruções do Santo Padre. No fundo, a ciência teológica deve ser concebida cada vez mais como sabedoria". 

E se tudo isto é novo, acrescenta, "é novo em relação ao contexto que se criou desde há 300 anos até hoje, ou seja, desde o Iluminismo e o nascimento da ciência, o conhecimento é cada vez mais concebido em termos intelectualistas, racionalistas". 

Este preconceito que o Iluminismo impôs à cultura, segundo Staglianò, "é um preconceito que deve ser derrubado, porque se o conhecimento é fruto da ciência, então a Revelação cristã não pode ser considerada conhecimento, mas acaba por ser classificada como opinião: porque tudo o que não é conhecimento, o preconceito iluminista coloca-o no domínio da opinião, da não-verdade".

Uma nova língua

Estamos, portanto, perante uma situação incómoda, admite Staglianò: "Por um lado, acreditando na Revelação de Deus em Jesus Cristo, chegamos a conhecer realmente Deus, mas este conhecimento - que seria a Verdade de Deus - segundo a abordagem iluminista não teria o carácter de verdade". 

Por isso, defender que a teologia é sabedoria significa sobretudo pedir que "a indicação de que a teologia é sabedoria se aplique também à teologia". Bento XVI O objetivo da razão é alargar os limites da razão num sentido sapiencial. Isto significa que "a razão deve ser medida em relação a toda a experiência humana". 

O conhecimento vem da Revelação, do Evangelho. E a verdadeira novidade consiste em "recuperar, numa nova linguagem, aquilo que a teologia sempre foi antes de se constituir como ciência: a sabedoria", explica Staglianò.

Teologia sem fronteiras

Uma teologia que se redescobre como sabedoria não tem limites nem fronteiras. "E isto - diz Staglianò - por uma razão missionária que está na base da própria fé cristã. A fé corresponde ao Evangelho, e Jesus é o filho de Deus em carne humana, e é portanto a salvação e a redenção que Deus quis para todos". 

Daí uma consequência lógica que o Presidente da Academia Pontifícia de Teologia resume da seguinte forma: "Se o Evangelho é para todos, então todos podem ouvir o Evangelho: refiro-me também àqueles que pertencem a outras religiões ou mesmo àqueles que não acreditam. 

Todos precisam de ser salvos por Jesus Cristo e aqui, diz Staglianò, "entra a questão do serviço que a teologia sapiencial pode prestar à evangelização da própria Igreja Católica, que, talvez, depois de mais de 2000 anos, precisa de ser revigorada. O grande risco é que ela tenha perdido o verdadeiro rosto de Deus".

Novos instrumentos

Entrar em diálogo com estes mundos diversos e distantes é uma das novas e importantes prioridades da Pontifícia Academia de Teologia. Para o efeito, os novos estatutos prevêem novas estruturas. 

Antes de mais, explica Staglianò, "um Conselho de Estudos Superiores chamado a interagir com as esferas da cultura superior, incluindo a cultura institucional. E depois pensamos em cenáculos teológicos com os quais relacionar a teologia sapiencial com o povo, para falar de Deus através dos temas da vida, da carne sofredora, das questões políticas e sociais".  

Para tudo isto, conclui Staglianò, "seremos ajudados por algumas figuras criadas graças aos novos estatutos: a do interlocutor de referência. Serão pessoas ou grupos de pessoas a quem a Pontifícia Academia de Teologia poderá referir-se para abrir espaços de interlocução alargados".

O autorFederico Piana

 Jornalista. Trabalha para a Rádio Vaticano e colabora com L'Osservatore Romano.

Cultura

"A teologia de Ratzinger é sinfónica", diz Pablo Blanco

O padre Pablo Blanco, recentemente galardoado com o Prémio Ratzinger 2023, foi o orador do Fórum Omnes, no dia 14 de dezembro, com o tema "Bento XVI. Razão e fé".

Loreto Rios-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Na quinta-feira, 14 de dezembro, o Fórum Omnes "Bento XVI. La razón y la fe" com o sacerdote Pablo Blanco, galardoado em novembro deste ano com o prémio Prémio Ratzinger 2023. O colóquio foi moderado por Juan Manuel Burgos, Presidente do Associação Espanhola de Personalismo.

Pablo Blanco é professor de Teologia Dogmática na Universidade de Navarra, além de ser membro do comité editorial que publica em espanhol as obras do Papa Emérito da Universidade de Navarra. Editora BAC. Para além disso, é autor de numerosas publicações em editoras como BAC, Rialp, Palavra, Edições Cristianismo, St. Paul's, o Planeta.

O Fórum, realizado no Universidade de Villanuevafoi patrocinado por Banco Sabadell e a Fundação CARF.

Em primeiro lugar, o professor Blanco reflectiu sobre a relação de Joseph Ratzinger com a fé, "um fio de ouro que atravessa todo o seu pensamento", mas que é também um aspeto "marcadamente cristão", uma vez que o cristianismo nunca hesitou em "entrar em diálogo" com a filosofia e os intelectuais. "Razão e religião é algo que está no ADN do cristianismo", afirmou o professor Blanco, e esta relação diferencia o cristianismo das outras religiões.

Discurso de Regensburg

Pablo Blanco analisou depois em profundidade o discurso de Ratsibona, um dos discursos mais famosos de Ratzinger, que foi inicialmente motivo de grande controvérsia devido a uma citação do imperador bizantino Manuel Paleólogo II, na qual este se referia ao Islão.

No entanto, o Professor Blanco explicou que se tratava inicialmente de um discurso puramente académico, do qual "o todo foi tomado pela parte". O objetivo inicial desta passagem era explicar que a verdade só pode ser proposta, não imposta. "Era uma afirmação pacífica, mas incendiou um rasto de pólvora", explicou o vencedor do Prémio Ratzinger.

Logos

Por outro lado, em relação ao tema da razão no mundo ocidental, Pablo Blanco explicou que o logos é entendido no discurso de Ratzinger como razão criadora, de modo que razão e amor estão intimamente unidos. "Com a nossa capacidade racional podemos compreender a natureza e chegar ao Logos com letra maiúscula. Através das coisas criadas podemos conhecer o mundo e Deus". O Professor Blanco salientou que "isto é uma provocação no mundo alemão".

Além disso, "a união entre o logos grego e a fé é uma constante no cristianismo". Em contraste com as afirmações de Adolf Harnack, que acusava o cristianismo de ter sido helenizado, ou melhor, platonizado, Ratzinger afirma o contrário: o cristianismo cristianizou o helenismo.

Habermas

Por outro lado, Pablo Blanco também se debruçou sobre a relação entre o filósofo Jürgen Habermas e Ratzinger. Habermas queria estabelecer uma ponte entre a fé e a razão porque, embora fosse ateu, via a necessidade de uma "energia moral" que o cristianismo podia fornecer. A fé e a razão podem "curar-se" mutuamente: a razão pode impedir o fundamentalismo da fé e a fé pode impedir que a razão conduza a situações como a de Auschwitz. No entanto, após o discurso de Regensburg, Habermas afirmou que Ratzinger era "anti-moderno", porque interpretou o seu discurso como uma tentativa de regressar ao diálogo entre fé e razão da Idade Média.

No entanto, o Professor Blanco argumenta que se trata de uma falta de compreensão do pensamento de Ratzinger em profundidade, uma vez que o que ele está a fazer é a revisão do conceito iluminista de razão.

Conclusões

Finalmente, a releitura do discurso levou a um entendimento e à declaração de Abu Dhabi entre o Papa Francisco e o Grande Imã de al-Azhar em 2019. "Nunca houve tanto diálogo entre católicos e muçulmanos como na sequência deste discurso, e o diálogo continua", afirma Pablo Blanco.

A concluir a sua reflexão, o Prémio Ratzinger comentou, usando a expressão do Papa Francisco, que a teologia de Ratzinger é "uma teologia ajoelhada, e não uma teologia de gabinete ou de laboratório (...) É uma teologia viva. É sinfónica, tudo se liga a tudo".

No final do colóquio, os participantes puderam fazer perguntas ao Professor Blanco e o diretor da Omnes, Alfonso Riobó, agradeceu a presença de todos e aos patrocinadores pela sua colaboração.

O relatório completo da reunião estará disponível no próximo número da revista Omnes.

Vaticano

O Papa reflecte sobre a inteligência artificial

O Papa Francisco divulgou a sua mensagem para o 57º Dia Mundial da Paz, que se celebrará a 1 de janeiro de 2024, com o tema "Inteligência Artificial e Paz".

Loreto Rios-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 6 acta

No mensagem para o 57º Dia Mundial da Paz o Papa reflecte sobre os aspectos positivos do progresso científico, mas também sobre os desafios éticos que alguns avanços, como a inteligência artificial, colocam.

Em primeiro lugar, Francisco recorda que a Sagrada Escritura afirma que "Deus deu aos homens o seu Espírito para que tenham 'habilidade, talento e experiência no desempenho de todo o tipo de trabalho' (Ex 35,31).

Também na constituição pastoral "Gaudium et spes" do Concílio Vaticano II, se afirma que o homem sempre "se esforçou, com o seu trabalho e engenho, por aperfeiçoar a sua vida". Por isso, o Papa sublinha que o progresso da ciência e da técnica "na medida em que contribui para uma melhor ordem da sociedade humana e para o aumento da liberdade e da comunhão fraterna, leva à perfeição do homem e à transformação do mundo", e exprime a sua alegria pelo progresso da ciência, graças ao qual "foi possível remediar inúmeros males que afectavam a vida humana e causavam grandes sofrimentos".

Riscos e algoritmos

Mas, por outro lado, Francisco salienta que estes desenvolvimentos podem conduzir a uma risco em alguns domínios: "O progresso técnico e científico, que permite exercer um controlo sobre a realidade como nunca antes, coloca nas mãos da humanidade um vasto leque de possibilidades, algumas das quais representam um risco para a sobrevivência humana e um perigo para a casa comum".

Francis menciona também as tecnologias que utilizam algoritmos, que extraem "vestígios digitais deixados na Internet, dados que permitem controlar os hábitos mentais e relacionais das pessoas para fins comerciais ou políticos, muitas vezes sem o seu conhecimento, limitando o seu exercício consciente da liberdade de escolha. De facto, num espaço como a Web, caracterizado por uma sobrecarga de informação, o fluxo de dados pode ser estruturado de acordo com critérios de seleção que nem sempre são percebidos pelo utilizador".

O Papa recorda-nos que as inovações não são "neutras, mas sujeitas a influências culturais. Como actividades plenamente humanas, as direcções que tomam reflectem escolhas condicionadas pelos valores pessoais, sociais e culturais de cada época.

Inteligência artificial

O Papa continua a refletir sobre a inteligência artificial, porque "o próprio termo, que entrou na linguagem comum, engloba uma variedade de ciências, teorias e técnicas destinadas a fazer com que as máquinas reproduzam ou imitem, no seu funcionamento, as capacidades cognitivas dos seres humanos".

"O seu impacto", recorda o Papa, "independentemente da tecnologia de base, depende não só do projeto, mas também dos objectivos e interesses do proprietário e do promotor, bem como das situações em que são utilizados.

Por todas estas razões, Francisco salienta que não se deve partir do princípio de que o desenvolvimento da chamada inteligência artificial trará necessariamente algo de positivo para a humanidade: "Tal resultado positivo só será possível se formos capazes de agir de forma responsável e respeitar os valores humanos fundamentais (...). Não basta assumir, mesmo por parte de quem concebe algoritmos e tecnologias digitais, o compromisso de agir de forma ética e responsável. É necessário reforçar ou, se necessário, criar organismos para examinar as questões éticas emergentes e proteger os direitos das pessoas que utilizam formas de inteligência artificial ou são influenciadas por elas.

Além disso, o Papa reflecte sobre a aprendizagem automática e a aprendizagem profunda, uma tecnologia que, embora esteja "numa fase pioneira, já está a introduzir mudanças significativas no tecido das sociedades, exercendo uma influência profunda nas culturas, nos comportamentos sociais e na construção da paz".

Desinformação e preconceito

Além disso, "a capacidade de alguns dispositivos para produzir textos sintáctica e semanticamente coerentes, por exemplo, não é garantia de fiabilidade (...) Podem (...) gerar afirmações que, à primeira vista, parecem plausíveis, mas que, na realidade, são infundadas ou revelam parcialidade. Isto cria um problema grave quando a inteligência artificial é utilizada em campanhas de desinformação que espalham notícias falsas e conduzem a uma desconfiança crescente em relação aos meios de comunicação social. A confidencialidade, a propriedade dos dados e a propriedade intelectual são outras áreas em que as tecnologias em causa apresentam sérios riscos, com outras consequências negativas associadas à sua utilização indevida, como a discriminação, a interferência nos processos eleitorais, a criação de uma sociedade que vigia e controla as pessoas, a exclusão digital e a intensificação de um individualismo cada vez mais desligado do coletivo.

Além disso, o Papa sublinha que os algoritmos não podem fornecer "previsões garantidas do futuro, mas apenas aproximações estatísticas. Nem tudo pode ser previsto, nem tudo pode ser calculado (...). Além disso, a grande quantidade de dados analisados pelas inteligências artificiais não é, por si só, uma garantia de imparcialidade. Quando os algoritmos extrapolam a informação, correm sempre o risco de a distorcer, reproduzindo as injustiças e os preconceitos dos ambientes em que têm origem. Quanto mais rápidos e complexos se tornam, mais difícil é compreender porque é que geraram um determinado resultado.

Por outro lado, as inteligências artificiais não são imparciais, "o objetivo e o sentido das suas operações continuarão a ser determinados ou possibilitados por seres humanos que têm o seu próprio universo de valores". O risco", sublinha o Papa, "é que os critérios subjacentes a certas decisões se tornem menos transparentes, que a responsabilidade das decisões seja escondida e que os produtores possam fugir à obrigação de atuar para o bem da comunidade".

Por isso, é importante o "sentido dos limites", que, segundo Francisco, é "um aspeto muitas vezes negligenciado na mentalidade tecnocrática e eficientista atual, mas decisivo para o desenvolvimento pessoal e social". O ser humano, de facto, mortal por definição, pensando em ultrapassar todos os limites graças à tecnologia, corre o risco, na obsessão de querer controlar tudo, de perder o controlo de si mesmo e, na busca de uma liberdade absoluta, de cair na espiral de uma ditadura tecnológica".

Discriminação e injustiça

O Papa sublinha que todas estas questões colocam grandes desafios éticos: "No futuro, a fiabilidade de um mutuário, a aptidão de um indivíduo para um emprego, a possibilidade de reincidência de uma pessoa condenada ou o direito de asilo político ou de assistência social poderão ser determinados por sistemas de inteligência artificial (...) Os erros sistémicos podem facilmente multiplicar-se, produzindo não só injustiças em casos individuais mas também, por efeito dominó, autênticas formas de desigualdade social".

Por outro lado, existe o risco de influência e de limitação da liberdade humana, uma vez que "as formas de inteligência artificial parecem frequentemente capazes de influenciar as decisões dos indivíduos através de escolhas predeterminadas associadas a estímulos e persuasões, ou através de sistemas de regulação das escolhas pessoais baseados na organização da informação. Estas formas de manipulação ou de controlo social exigem uma atenção e um controlo precisos e implicam uma responsabilidade jurídica clara por parte dos produtores, dos utilizadores e das autoridades governamentais.

O Papa recorda-nos que os direitos humanos devem estar sempre em primeiro lugar: "Não devemos permitir que os algoritmos determinem a forma como entendemos os direitos humanos, que ponham de lado os valores essenciais da compaixão, da misericórdia e do perdão, ou que eliminem a possibilidade de um indivíduo mudar e deixar o passado para trás".

Além disso, outra questão importante a considerar é o impacto "das novas tecnologias no local de trabalho. Os empregos que outrora eram do domínio exclusivo do trabalho humano estão a ser rapidamente absorvidos pelas aplicações industriais da inteligência artificial.

Armas

Outra das grandes preocupações do Papa neste domínio é a corrida aos armamentos: "A possibilidade de conduzir operações militares por meio de sistemas telecomandados levou a uma menor perceção da devastação que causaram e da responsabilidade pela sua utilização, contribuindo para uma abordagem ainda mais fria e distante da imensa tragédia da guerra. A prossecução de tecnologias emergentes no domínio dos chamados "sistemas de armas letais autónomas", incluindo a utilização da inteligência artificial na guerra, constitui uma preocupação ética de monta.

Os sistemas de armas autónomos nunca poderão ser sujeitos moralmente responsáveis. A capacidade exclusivamente humana de julgamento moral e de tomada de decisões éticas é mais do que um conjunto complexo de algoritmos e não pode ser reduzida à programação de uma máquina que, embora "inteligente", não deixa de ser uma máquina. Por esta razão, é imperativo assegurar um controlo humano adequado, significativo e coerente dos sistemas de armamento".

Além disso, outro aspeto a ter em conta é "a possibilidade de armas sofisticadas poderem ir parar às mãos erradas, facilitando, por exemplo, ataques terroristas ou acções destinadas a desestabilizar instituições governamentais legítimas".

Educação

O Papa recorda também que estas tecnologias podem ter um impacto na educação e sublinha a necessidade de "promover o pensamento crítico". Os utilizadores de todas as idades, mas sobretudo os jovens, devem desenvolver uma capacidade de discernimento na utilização dos dados e dos conteúdos obtidos na Internet ou produzidos pelos sistemas de inteligência artificial. As escolas, as universidades e as sociedades científicas são chamadas a ajudar os estudantes e os profissionais a apropriarem-se dos aspectos sociais e éticos do desenvolvimento e da utilização das tecnologias.

Apelo à comunidade internacional

Na mensagem, o Papa indica que estas preocupações não são da responsabilidade de alguns, mas de todos os seres humanos, e que a utilização deste tipo de tecnologia deve ser regulada: "Exorto a comunidade das nações a trabalhar em conjunto para adotar um tratado internacional vinculativo que regule o desenvolvimento e a utilização da inteligência artificial nas suas múltiplas formas".

"A minha oração no início do novo ano é que o rápido desenvolvimento das formas de inteligência artificial não aumente as já numerosas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas ajude a pôr fim às guerras e aos conflitos e a aliviar tantas formas de sofrimento que afectam a família humana", conclui o Papa.

Vaticano

A caminho do veredito do "julgamento do século" no Vaticano. O que precisa de saber

O veredito de culpa ou inocência dos dez arguidos e das quatro empresas relacionadas com o chamado caso Becciu será anunciado a 16 de dezembro, embora o veredito completo, com os motivos e as alegações, seja conhecido mais tarde.

Andrea Gagliarducci-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 5 acta

Foi apelidado de "o julgamento do século". Na realidade, porém, o processo do Vaticano sobre a gestão dos fundos da Secretaria de Estado assemelha-se mais a um processo de direito comercial, sendo as acusações mais comuns a corrupção, a fraude e o desvio de fundos.

Mesmo assim, o processo ganhou repercussão internacional porque, pela primeira vez, um cardeal, Angelo Becciu, foi acusado num tribunal do Vaticano. Até ao Motu proprio do Papa Francisco de 30 de abril de 2021De facto, os cardeais só podiam ser julgados pela Cassação do Vaticano, que é um colégio de três cardeais. 

O veredito, ou seja, a declaração de "culpado" ou "inocente" dos dez arguidos e das quatro empresas em prisão preventiva, será anunciado a 16 de dezembro. Em contrapartida, o veredito completo, fundamentado, deverá ser publicado alguns meses mais tarde.

No entanto, o dispositivo terá de ser interpretado, uma vez que as acusações são múltiplas, por vezes intersectadas e envolvendo vários arguidos, e estão sujeitas a alterações.

Também é possível que o tribunal decida que certas infracções não são exatamente as que constam da acusação prevista pelo Ministério Público, decidindo penas mais leves ou simplesmente declarando que os actos cometidos não constituem um crime. Para o fazer, é necessário começar por compreender em que consiste o julgamento. 

Um ensaio, três ensaios

Os investigadores seguiram três pistas muito diferentes, todas relacionadas com a questão da "gestão dos fundos da Secretaria de Estado". 

A primeira pista é a mais importante: o investimento da Secretaria de Estado nas acções de uma mansão de luxo em Londres, por cerca de 200 milhões de euros. O investimento foi entregue primeiro ao agente Raffaele Mincione e depois ao agente Gianluigi Torzi. Torzi, por sua vez, ficou com as acções do investimento e manteve apenas as 1.000 acções com direito de voto, mantendo assim o controlo total da propriedade.

Por conseguinte, o Secretaria de Estado decidiu comprar as acções e assumir o controlo do edifício. A negociação que levou a Secretaria de Estado a pagar a Torzi uma indemnização pela perda das acções foi considerada "extorsão" pelos investigadores do Vaticano. A Santa Sé vendeu então o palácio sem realizar as operações de desenvolvimento previstas (o investimento não era tanto no palácio em si, mas num projeto para o ampliar e reafectar a sua utilização para fins de arrendamento) por um preço inferior ao valor de mercado. De acordo com a Promotoria de Justiça do Vaticano, o prejuízo para a Santa Sé situar-se-ia entre 139 e 189 milhões de euros. 

125 000 euros à Caritas de Ozieri, na Sardenha, a diocese natal do Cardeal Angelo Becciu. O dinheiro foi entregue pela Caritas à SPES, uma cooperativa ligada à Caritas que desenvolve actividades sociais, e destinava-se a cobrir os custos de uma padaria criada para criar empregos para os marginalizados e a construção de uma "cidadela de caridade". O crime seria o de peculato, porque, segundo a acusação, Becciu utilizou o dinheiro da Secretaria de Estado para fins pessoais e para enriquecer a sua família.

A terceira pista diz respeito à contratação pela Secretaria de Estado de Cecilia Marogna, uma autodenominada especialista em inteligência que alegou colaborar na libertação de alguns reféns, incluindo o da Irmã Cecilia Narvaez, a freira colombiana sequestrada no Mali em 2017. A mulher, segundo a procuradoria, teria gasto para si dinheiro que havia sido destinado pela Secretaria de Estado para completar as operações de libertação.

O que os arguidos arriscam

O promotor de justiça do Vaticano pediu penas totais de 73 anos e um mês de prisão, bem como várias inibições de direitos e multas. De acordo com o promotor de justiça Alessandro Diddi, o fio condutor destas três linhas de investigação é sempre e apenas o Cardeal Angelo Becciu. Pouco importa que Becciu tenha estado envolvido no negócio do palácio de Londres apenas no início, porque foi sob a sua gestão que começou a venda e a compra das acções do edifício.

Precisamente porque o cardeal nunca deu sinais de arrependimento, foi-lhe pedida a pena máxima possível: 7 anos e 3 meses de prisão, inibição de funções públicas, uma multa de 10.329 euros e um pedido de confisco de 14 milhões.

Para René Bruelhart, antigo presidente da Autoridade de Informação Financeira, foi pedida uma pena de prisão de 3 anos e 8 meses, a inibição temporária do exercício de funções públicas e uma coima de 10 329 euros.

Para Tommaso Di Ruzza, diretor da Autoridade de Informação Financeira, foi pedida uma pena de prisão de 4 anos e 3 meses, uma inibição temporária do exercício de funções públicas e uma coima de 9600 euros.

Para o Monsenhor Mauro Carlino, que era o secretário do deputado na altura da operação, são pedidos 5 anos e 4 meses de prisão, inibição vitalícia de funções públicas e uma multa de 8.000 euros.

Enrico Craso, que foi diretor financeiro da Secretaria de Estado através do Credit Suisse, deverá cumprir 9 anos e 9 meses de prisão, uma multa de 18.000 euros e a inibição vitalícia de exercer funções públicas, segundo a acusação.

Cecilia Marogna incorre numa pena de 4 anos e 8 meses de prisão, inibição vitalícia de exercer funções públicas e uma coima de 10 329 euros.

Raffaele Mincione incorre numa pena de 11 anos e 5 meses de prisão, inibição vitalícia de funções públicas e uma multa de 15450 euros, enquanto Gianluigi Torzi incorre numa pena de 7 anos e 6 meses de prisão, inibição vitalícia de funções públicas e uma multa de 9000 euros. 

Para o advogado Nicola Squillace, que alegou ter agido em nome do Secretário de Estado, 6 anos de prisão, suspensão do exercício da sua profissão e uma coima de 12500 euros. 

A pena mais elevada pedida foi para o funcionário da Secretaria de Estado Fabrizio Tirabassi: 13 anos e 3 meses de prisão, inibição vitalícia de funções públicas e uma coima de 18750 euros. 

Além disso, a Secretaria de Estado do Vaticano, a Administração do Património da Sé Apostólica e a Instituto para Obras de Religião juntaram-se ao processo como demandantes civis: o primeiro pediu uma indemnização pelos danos de imagem causados pelas operações entre 97 e 177 milhões de euros, enquanto o IOR pediu a restituição de 206 milhões de euros e quase um milhão de euros por danos morais e de reputação ao Instituto.

Defesas

As defesas apontaram o que consideram ser contradições na reconstrução do promotor de Justiça e pediram a absolvição dos seus arguidos, por duas razões principais: porque o ato não existe e porque o ato não constitui um crime.

Segundo os arguidos, não houve crime de investimento, nem foi apresentada qualquer prova de que as perdas na compra do edifício constituíssem um crime. A defesa sublinhou também que não havia provas de que o Cardeal Angelo Becciu e a sua família tivessem recebido fundos ilegalmente, pelo que não podia ser acusado de peculato. Por último, a defesa acusou o promotor de justiça do Vaticano de inventar um teorema, independentemente do resultado da audiência.

A sentença permitirá compreender a resiliência do sistema judicial do Vaticano. Se for demonstrado que as investigações foram caracterizadas pela parcialidade, como alegam as defesas, isso poderá minar o próprio sistema judicial do Vaticano. Já um juiz londrino, Baumgartner, num processo relacionado com este processo, chamou às conclusões das investigações uma descaraterização, uma acusação que o promotor de Justiça devolve ao remetente. 

A presença de nada menos do que quatro rescritos papais que alteraram apressadamente as regras da investigação é também uma questão importante. Os rescritos dizem respeito apenas a este processo. Mas será que um processo justo se pode caraterizar por decisões extemporâneas?

O autorAndrea Gagliarducci

Vaticano

O Cardeal Pell compreendeu a reforma económica da Santa Sé antes de outros o fazerem

Numa carta dirigida ao Dicastério para a Economia, o Papa Francisco reconhece os passos dados para melhorar a gestão económica da Santa Sé e oferece mais indicações sobre como continuar o caminho, desde o reconhecimento de uma remuneração justa até investimentos justos.

Giovanni Tridente-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 4 acta

O Cardeal George PellNo seu papel de primeiro prefeito da Secretaria para a Economia, demonstrou coragem e - como na vida cristã - zelo, convicção e determinação, tendo "visto" e compreendido antes dos outros "qual era o caminho a seguir". O Papa Francisco colocou-o preto no branco numa carta dirigida às pessoas que trabalham na Secretaria para a Economia. Economiaescrita uma semana depois de as ter recebido numa audição em meados de novembro.

Naquela ocasião, o Santo Padre lançou um convite a avançar no caminho já iniciado há quase dez anos com a constituição do Organismo, especialmente no que diz respeito à transparência, ao controlo e a procedimentos mais ágeis e eficientes no seio da Cúria Romana.

Conceitos que agora reitera com mais clareza nesta carta divulgada pelo mesmo Dicastério para a Economia a 12 de dezembro: "Olhando para a situação atual, não posso deixar de ver os muitos progressos que foram feitos", começou Francisco, sublinhando também as numerosas apreciações recebidas pelo trabalho realizado na sequência das indicações do primeiro prefeito Pell, para que o património da Santa Sé fosse orientado para a missão, evitando os riscos e os erros do passado.

As bases lançadas pelo Cardeal Pell permitiram aos seus sucessores promover novas reformas, muitas das quais foram aprovadas sob a direção do Padre Juan Antonio Guerrero, que trabalhou "com um estilo baseado no diálogo, na concretude e na simplicidade", reconhece o Pontífice.

A viagem ainda agora começou

Mas o caminho da reforma não está de modo algum terminado. "Pelo contrário", escreve o Papa, "está apenas a começar", porque como para todas as realidades vivas da Igreja em geral, e da Cúria Romana em particular, é sempre necessário orientar-se para o que é melhor, mantendo-se atento aos efeitos das várias mudanças, adaptando-se onde for necessário.

"Não devemos esquecer - acrescenta o Santo Padre - que a boa gestão do património e a sua utilização é um testemunho dado a todos de como se pode fazer muito com pouco", e o trabalho desenvolvido por aqueles que trabalham neste contexto de "economia de missão" é um verdadeiro serviço prestado à Igreja universal.

Trata-se, sem dúvida, de um trabalho "delicado", porque o risco de transformar a autoridade em mando ou o reconhecimento e o respeito em medo está ao virar da esquina, bem como a tentação de "exercer o poder em vez de tomar decisões" ou mesmo de evitar utilizar o dinheiro onde ele é necessário para aumentar e fazer florescer a missão da Igreja, por exemplo, nas circunstâncias "onde há mais necessidade de forma desinteressada".

Um alerta claro para investir adequadamente os recursos, a par da necessidade de exercer a "capacidade de ouvir e ser ouvido", mas também de envolver as várias competências profissionais e técnico-económicas não com base na "vontade arbitrária de quem decide ou autoriza", mas com o objetivo de orientar as várias iniciativas a apoiar "para o bem comum".

É claro que também é necessário ser leal para saber "dizer não quando o que lhe é apresentado ou o que encontra nos controlos trai a missão", mais a favor de interesses particulares, ou com a violação das regras para fins estranhos à Santa Sé e à Igreja e à sua missão.

Prudência e lealdade

"Prudência e lealdade", pede o Papa, "para o bem comum da nossa comunidade de trabalho, da Igreja, dos fiéis e dos necessitados". Um serviço que deve certamente ser efectuado com "profissionalismo, dedicação, estudo aprofundado", sem, no entanto, esquecer "a humildade, a disponibilidade para ouvir, o espírito de serviço e, finalmente, a vigilância e a cultura da legalidade e da transparência".

Perante o défice económico da Santa Sé, que corrói anualmente uma parte do seu património, o Papa apela a "inverter a tendência", convidando todos a "estarem dispostos, com modéstia e espírito de serviço, a renunciar aos seus interesses particulares pelo bem comum", libertando-se da rigidez e abrindo-se à atualização.

Recompensar o mérito

O pensamento do Pontífice é, por um lado, contratar novas figuras - competentes, eticamente preparadas e profissionais - mas também dar aos que já trabalham na Santa Sé a possibilidade de se renovarem, oferecendo-lhes "formação, oportunidades de crescimento, novas experiências", sem diminuir os sinais de confiança e reconhecimento. Isto significa também "uma remuneração justa", "tanto mais justa quanto mais ligada aos resultados e ao contributo que cada um dá ao serviço da Igreja". Evitar o carreirismo, mas certamente premiar o mérito.

O mesmo se deve aplicar aos fornecedores externos a que a Santa Sé recorre: "ética, competência e profissionalismo, ao preço certo para um lucro justo", como já foi regulamentado nos últimos anos. E para o património em geral, cujos frutos da gestão devem também ser partilhados de forma equitativa "para que todos tenham aquilo de que realmente necessitam".

Os investimentos, especifica ainda o Papa Francisco, "não devem ter nem o objetivo de especulação nem o de acumulação" e o mesmo se deve aplicar aos orçamentos e dotações à disposição das várias entidades, para que não haja "entidades ricas e entidades pobres", mas sim harmonia em toda a Santa Sé, porque todos "participam na realização e na busca do mesmo bem".

O autorGiovanni Tridente

Recursos

Vós e Deus preparai-vos para a festa. Coleta do 3º Domingo do Advento

Estamos a meio do Advento e a Igreja surpreende-nos com este domingo chamado GaudeteTrata-se de uma alusão à antífona de entrada da Missa: "Alegrai-vos sempre no Senhor; repito-vos, alegrai-vos. O Senhor está próximo" (Fil 4,4-5).

Carlos Guillén-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

É precisamente esta alegria, motivada pela proximidade do Senhor, que se reflecte também na correspondente oração coleta:

Ó Deus, que contemplais a fidelidade com que o vosso povo espera a festa do nascimento do Senhor, concedei-nos que nos alegremos com tão grande acontecimento de salvação e o celebremos sempre com solenidade e alegria transbordante.

Deus, qui cónspicis pópulum tuum nativitátis domínicae festivitátem fidéliter exspectáre, presta, quaésumus, ut valeámus ad tantae salútis gáudia perveníre, et ea votis sollémnibus semper laetítita celebráre.

Mais uma vez, os responsáveis pela reforma litúrgica acharam por bem transferir a antiga oração em uso para outro dia e encontrar uma que reflectisse melhor a essência deste domingo. Com pequenas modificações, utilizamos atualmente esta oração, que provém do Ritual de Ravena (século VIII). 

Na sua estrutura, encontramos uma breve invocação (Deus), a anamnese que se refere à aproximação do Natal e uma oração subordinada que introduz uma epiclese com duas petições.

Esperar, chegar e festejar

O uso abundante de verbos nesta frase é interessante. Por um lado, os verbos com forma pessoal apresentam-nos dois sujeitos: Deus e o seu povo. Deus é aquele que contempla (conspícuo) sempre com amor paternal e benevolente pelo seu povo peregrino. Nós, como seu povo, dirigimo-nos a ele com confiança filial para lhe pedir (quaésumus) a vossa ajuda, para que possamos (valeámus) para alcançar os bens de salvação que Ele nos destinou. Este é o dinamismo de toda a vida cristã.

Por outro lado, os três verbos que aparecem no infinitivo dão-nos uma boa ideia das atitudes com que a Igreja se coloca neste tempo litúrgico. 

Em primeiro lugar, há a espera (exspectáre): aguardar com esperança o nascimento do Salvador. Sem dúvida, isto desperta no cristão um forte desejo e este desejo origina nele, nela, o movimento de querer ir ao encontro (perveníre) esse horizonte maravilhoso que Deus abre aos olhos da fé. E, claro, a chegada tornar-se-á uma festa (celebrar), com a sua dupla nuance: de celebração, logicamente, mas também de ação litúrgica e, portanto, de participação real e efectiva no mistério da salvação.

Alegria e solenidade

A última ação mencionada, a celebração do nascimento do Senhor, é acompanhada por duas características que lhe dão um tom particular: a alegria (laetítia) e solenidade (votis sollémnibus). 

A alegria é a caraterística específica deste terceiro domingo do mês. Advento. Uma alegria particularmente viva, animada e entusiástica (alacri). Desta forma "muito alegre", Deus encoraja-nos a não nos contentarmos com a alegria que já temos, mas a procurarmos uma alegria mais plena. Uma plenitude que só é possível aproximando-nos dele, confiando mais nele, deixando-nos amar mais por ele. Mesmo sabendo que, no fim de contas, só alcançaremos a alegria perfeita depois desta vida. E, precisamente por isso, compreendemos a necessidade de corresponder mais plenamente à graça de Deus aqui na terra, aproveitando ao máximo o tempo que Deus nos dá.

A outra caraterística a que nos referimos são os ritos solenes e esplêndidos que costumam acompanhar o Natal. Certamente que têm como objetivo ajudar-nos a saborear a bem-aventurança do Céu, juntando-nos já à felicidade perfeita dos coros dos anjos e dos santos. 

Mas, paradoxalmente, tal celebração contrasta radicalmente com a humildade do nascimento do Menino Deus em Belém, numa manjedoura. E contrasta também com a nossa pequenez pessoal, com a nossa falta de mérito e, por vezes, com as nossas derrotas. Talvez assim possamos ver que Deus tem mesmo de providenciar tudo. É ele que faz a festa. Sem Deus, sem a Redenção, não haveria motivo para festejar. Sem dúvida, foi Deus que nos deu o direito de festejar. Mesmo que ainda festejemos sob o véu deste mundo que passa, é uma realidade que o motivo da nossa alegria e da nossa festa já está connosco, e isso é razão suficiente para querermos transformar a nossa vida.

O autorCarlos Guillén

Sacerdote do Peru. Liturgista.

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Estados Unidos da América

O Departamento de Segurança Interna dos EUA procura aumentar a proteção nos locais de culto.

Os locais de culto católico, cristão, judeu e muçulmano tornaram-se alvos potenciais de vandalismo ou ataques, especialmente desde o conflito entre Israel e o Hamas.

Gonzalo Meza-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Desde 2020, registaram-se pelo menos 308 incidentes de vandalismo e destruição em paróquias ou capelas de igrejas nos Estados Unidos. Fogo posto, imagens destruídas, vitrais, objectos litúrgicos roubados, paredes e portas pintadas com linguagem anti-católica, são alguns dos casos de vandalismo ocorridos nos últimos três anos.

Por vezes, estes crimes podem transformar-se em ataques de ódio que resultam na perda de vidas, como aconteceu em 2017 na Igreja de Santo Agostinho em Des Moines, Iowa. Noutras ocasiões, os ataques podem ser cibernéticos, como aconteceu em 2019 na Igreja de Santo Ambrósio, em Brunswick, Ohio, um crime cibernético que causou perdas de milhões de euros. As ameaças aos locais de culto nos EUA são cada vez mais complexas e generalizadas, variando de actos de vandalismo ou ciberataques a ataques com armas.

Perante esta realidade, o Arcebispo Timothy Dolan, Arcebispo de Nova Iorque e presidente do Comité para a Liberdade Religiosa da USCCB, observou em 2022: "Os bispos dos EUA registaram uma tendência preocupante de vandalismo nas igrejas católicas. Não estamos sós. Os nossos amigos de outros grupos religiosos também sofrem estes ataques e, em algumas comunidades, ocorrem com maior frequência".

Locais de culto católicos, cristãos, judeus e muçulmanos tornaram-se alvos potenciais de vandalismo ou ataques, especialmente desde o conflito entre Israel e o Hamas. O diretor do FBI, Christopher Wray, referiu numa comparência perante os legisladores, a 6 de dezembro, que os crimes de ódio nos EUA têm vindo a aumentar há algum tempo, mas o número de casos aumentou 60 % desde outubro de 2023.

Segurança para as comunidades religiosas

Em resposta a estes desenvolvimentos, o Departamento de Segurança Interna (DHS), através da Agência para a Segurança das Infra-estruturas e Cibersegurança, publicou em 6 de dezembro um conjunto de directrizes de segurança para locais de culto. O documento de 16 páginas, intitulado "Physical Security Performance Goals for Religious Communities", contém uma série de acções especificamente concebidas para ajudar as organizações religiosas a planear, proteger os seus edifícios e responder a ameaças.

"Os objectivos de desempenho em matéria de segurança física que hoje divulgamos proporcionam às igrejas, sinagogas, mesquitas e outras instituições religiosas estratégias acessíveis e facilmente implementáveis para melhorar a sua segurança e reduzir o risco para as suas comunidades", afirmou Alejandro N. Mayorkas, Secretário do Departamento de Segurança Interna. Jen Easterly, Directora da Agência do DHS responsável pela Agência de Cibersegurança e Infra-estruturas do DHS, afirmou: "A agência tem uma longa história de apoio às comunidades religiosas para melhorar as práticas de segurança física e cibernética. 

Algumas das recomendações apresentadas no documento são: Monitorizar os pontos de acesso com sistemas de videovigilância, colocar iluminação exterior activada por movimento, instalar alarmes em janelas e portas, controlar o acesso a áreas reservadas como escritórios, instalações eléctricas ou informáticas. No caso das escolas, recomenda-se a existência de um único ponto de entrada controlado.

Para prevenir os ciberataques, a agência recomenda a atualização regular do software, a exigência de palavras-passe fortes para aceder aos ficheiros do computador, a proteção dos dados com métodos de encriptação e a verificação da existência de ligações ou dispositivos não autorizados nos computadores. O texto sugere ainda a formação de uma equipa de planeamento de segurança com membros da comunidade e a existência de um líder, idealmente com experiência profissional na área, para ajudar em situações de emergência.

O DHS também recomenda que os líderes de grupos religiosos entrem em contacto com os agentes e agências locais de aplicação da lei para saberem como podem ajudar a lidar com uma emergência quando esta surgir.

Evangelho

O amigo do noivo. Terceiro Domingo do Advento (B)

Joseph Evans comenta as leituras do terceiro domingo do Advento e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-14 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

O que sobressai no Evangelho de hoje é a transparência de João Batista: a luz da verdade de Deus flui através dele como através da mais clara das janelas. De facto, o evangelista usa a luz como metáfora para descrever o ministério do Batista: "Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditem por meio dele. Ele não era a luz, mas aquele que dava testemunho da luz".

E a sinceridade de João, a sua clareza, transparece nesta passagem: "...a verdade, a clareza, de João transparece nesta passagem: "...".E este é o testemunho de João, quando os judeus enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para lhe perguntarem: "Quem és tu?" Ele confessou e não negou; confessou: "Eu não sou o Messias"".. Ele vê-se apenas como uma "voz" no deserto: não o conteúdo, a Palavra (que é o próprio Cristo), mas apenas um meio que a Palavra utiliza para transmitir a sua mensagem, tal como a nossa voz poderia falar as palavras, as ideias, de outra pessoa.

E quando os sacerdotes e os levitas enviados de Jerusalém perguntam a João porque é que ele baptiza, se não é o Cristo, nem Elias, nem o profeta anunciado por Moisés, ele responde: "Eu batizo com água; no meio de vós há um que não conheceis, aquele que vem depois de mim e cuja correia das sandálias não sou digno de desatar.". O que confere tanta autoridade ao testemunho de João é a sua extraordinária humildade. Ele é muito claro sobre o pouco que é e o que não é: ele não é o Cristo, ele não é o conteúdo da mensagem, mas um mero meio para a sua transmissão. Considera-se mesmo indigno de ser escravo de Cristo: indigno de fazer o trabalho do escravo de desamarrar as sandálias do seu senhor.

Noutra passagem (Jo 3,28-30), que também mostra a humildade de João, ele descreve Cristo como o "marido" dos casamentos e o seu próprio papel como mero "amigo do marido". cuja voz "regozija-se". muito para ouvir. Por isso, não é de estranhar que a Igreja nos ofereça como primeira leitura de hoje um belo texto de Isaías, que também exprime alegria na expetativa da salvação: "Transbordo de alegria no Senhor e regozijo-me com o meu Deus"..

Enquanto os mensageiros das autoridades judaicas se mostram tão sérios e sem alegria ("Quem és tu, para que possamos dar resposta a quem nos enviou? Que dizes de ti mesmo?"), João regozija-se humildemente. Saber que não somos importantes, meros servidores da verdade, é profundamente libertador.

Homilia sobre as leituras do terceiro domingo do Advento (B)

O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Cultura

Santa Lúcia, testemunha da verdade e da luz

Hoje, 13 de dezembro, celebramos Santa Luzia, uma mártir cristã que foi decapitada em 304 sob o imperador Diocleciano. Desde o século XV, a devoção popular identificou Santa Luzia como a padroeira da visão, sendo organizados eventos em muitos países do mundo.

Antonino Piccione-13 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

"Lúcia, mártir de Siracusa, recorda-nos com o seu exemplo que a mais alta dignidade da pessoa humana consiste em dar testemunho da verdade, seguindo a própria consciência a todo o custo, sem duplicidade e sem compromissos. O Papa Francisco, há apenas um ano, dirigiu-se assim aos membros da União Italiana de Cegos e Deficientes Visuais (UICI), recebidos em audiência na Sala Clementina, na véspera da memória litúrgica de Santa Luzia, padroeira dos deficientes visuais.

A fragilidade é um recurso: "Isto significa estar", acrescentou o Santo Padre, "do lado da luz, ao serviço da luz, como o próprio nome Lúcia evoca. Sejam pessoas claras, transparentes, sinceras; comuniquem com os outros de forma aberta, clara, respeitosa. É assim que ajudais a difundir a luz nos ambientes em que viveis, para os tornar mais humanos, mais habitáveis".

Hoje, 13 de dezembro, celebramos Santa Luzia, uma mártir cristã que foi decapitada em 304 sob o imperador Diocleciano. Desde o século XV, a devoção popular identificou Santa Luzia como a padroeira da visão, sendo organizados eventos em muitos países do mundo.

A história de Lúcia começa em Siracusa, entre 280 e 290 d.C.. Nascida no seio de uma família abastada, fica órfã e é desposada por um patrício. A sua vida sofre uma grande reviravolta quando a sua mãe, Eutichia, adoece gravemente. Durante uma peregrinação ao túmulo de Santa Ágata, Lúcia reza pela recuperação da mãe, altura em que tem uma visão em que Santa Ágata lhe anuncia o seu destino como futura padroeira de Siracusa. Após a recuperação da mãe, Lúcia dedicou a sua vida a servir o Senhor, distribuindo os seus bens pelos pobres. Foi perseguida por se recusar a casar, mas apesar das torturas e da ameaça de morte, Lúcia manteve-se firme na sua fé cristã até ao dia em que foi decapitada.

Ao contrário do que se pensa, o dia 13 de dezembro não coincide com o dia mais curto do ano, uma vez que coincide com o solstício de inverno, a 22 de dezembro. No entanto, no período entre 13 e 14 de dezembro, pode desfrutar de um espetáculo celeste com as Geminídeas, semelhante às Perseidas em agosto.

Diz-se que, após a sua conversão ao cristianismo, Santa Luzia perdeu a visão ou mesmo arrancou os olhos, numa tentativa de resistir ao pecado. Em Itália, existe a tradição de que ela leva presentes às crianças, que tem origem num gesto de generosidade atribuído à santa. Após a sua morte, segundo a lenda, Santa Luzia regressa à terra para trazer felicidade às crianças na noite de 13 de dezembro, simbolizando a luz que trouxe ao mundo. A figura de Santa Luzia evoluiu assim no folclore italiano como uma espécie de Pai Natal antecipado que leva alegria e presentes aos mais pequenos, num gesto carregado de significado espiritual. Esta tradição, enraizada na generosidade e no simbolismo, contribuiu para moldar a iconografia da santa como uma figura luminosa e benéfica, especialmente amada pelas crianças.

Em todo o mundo há celebrações diferentes e atractivas ligadas a Santa Luzia. Em Siracusa, a cidade da qual é padroeira, a Festa Nacional das Luzes e da Renovação realiza-se a 12 de dezembro, antecipando a procissão com uma estátua de prata pelas ruas no dia da festa. Na Suécia, as raparigas vestidas de branco levam em procissão biscoitos e pãezinhos de açafrão, usando vestidos brancos que simbolizam a pureza. Na Toscânia, a "Fiera di Santa Lucia" oferece produtos típicos, doces e decorações de Natal, enquanto em Florença a árvore de Natal é acesa com música e brindes.

Noutras partes de Itália, como em Lucca, o hospital de San Luca organiza iniciativas para este dia dedicado ao santo padroeiro da visão. Uma das tradições desta festa é a bênção dos olhos, e haverá também um concerto da banda da brigada de pára-quedistas Folgore. A catedral de Milão, também envolvida na celebração da santa, conserva uma cópia da sua estátua, na qual Lúcia é representada com os olhos sobre um pires, simbolizando o facto de ser a padroeira dos pedreiros.

O autorAntonino Piccione

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Mundo

"A minha mãe ensinou-nos que tínhamos de perdoar", diz a vítima do Boko Haram

A Ajuda à Igreja que Sofre lançou uma campanha para ajudar a Igreja nigeriana com o slogan "Help Nigeria. Igreja martirizada, Igreja viva". De acordo com o Relatório sobre a Liberdade Religiosa lançado pela AIS este ano, "a Nigéria é um dos piores países do mundo para viver a fé cristã".

Loreto Rios-13 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Esta manhã, realizou-se uma conferência de imprensa na sede da GRUPO ACN Espanha, uma fundação da Santa Sé, para explicar a situação atual na Nigéria e os pormenores da Campanha da Ajuda à Igreja que Sofre.

A Nigéria é atualmente um dos países mais perigosos do mundo para os cristãos devido aos numerosos ataques terroristas dos grupos Boko Haram e Estado Islâmico da África Ocidental, bem como dos "Fulani" no centro do país. Desde 2022, foram mortos 39 padres, raptados 30 padres e assassinados 17 catequistas.

Projectos de assistência às vítimas na Nigéria

A conferência de imprensa contou com a presença de Kinga von Schierstaedt, Chefe de Equipa para África no Departamento de Projectos da Ajuda à Igreja que Sofre Internacional (AIS), do Padre Joseph Bature Fidelis, Diretor do Centro de Recursos Humanos e Trauma da Diocese de Maiduguri, e de Janada Marcus, uma sobrevivente dos ataques do Boko Haram.

Segundo a ACN, "os bispos pediram projectos para melhorar a segurança dos padres e dos religiosos". Entre esses projectos contam-se a construção de cercas de segurança nos conventos, carros para que os padres se possam deslocar nas zonas mais rurais em vez de andarem a pé ou de bicicleta, o que dificulta os raptos, e sistemas de alarme nos presbitérios para que os padres possam pedir ajuda em caso de ataque.

Outro projeto foi a construção do Centro de Traumatologia em Maiduguri, uma vez que muitas pessoas necessitam de aconselhamento sobre traumas após os ataques terroristas, especialmente no norte do país. "Chegam aqui destroçadas. Fogem da violência e acorrem à Igreja em busca de apoio e conforto, encontrando cuidados profissionais e espirituais e promoção social. A verdadeira paz só é alcançada quando o trauma dos feridos profundos é curado", diz o diretor do centro, Padre Joseph Bature Fidelis.

Em 2022, a Ajuda à Igreja que Sofre financiou 122 projectos num total de 2,1 milhões de euros: construção ou reconstrução de igrejas, seminários, casas paroquiais e outros edifícios eclesiásticos, formação do clero local, apoio aos padres, ajuda de subsistência às freiras, financiamento de material de catequese e apoio aos meios de transporte e de comunicação.

Testemunho de Janada Marcus

Atualmente, como explicou Kinga von Schierstaedt, a campanha centra-se em quatro tipos de projectos: assistência psico-espiritual e segurança, formação, manutenção do centro de adoração eucarística dedicado aos mártires nigerianos e formação e apoio aos sacerdotes.

Janada Marcus, 25 anos, foi vítima de ataques terroristas quatro vezes. Numa ocasião, foi raptada após uma cirurgia, ainda com uma ferida inflamada e sob anestesia, e mantida em cativeiro durante um ano e oito meses, juntamente com outras pessoas, até conseguir escapar. Noutra ocasião, viu o seu pai ser morto pelo Boko Haram. Janada foi tratada no Maiduguri Trauma Care Centre, para onde a mãe a levou quando a filha tinha pesadelos contínuos e não conseguia falar com as pessoas. Janada disse esta manhã que conseguiu perdoar os terroristas e que agora tem paz de espírito: "A minha mãe ensinou-nos que temos de perdoar. Faz parte da nossa fé cristã.

Agora, conseguiu retomar a sua vida, tem um diploma em Saúde Tropical e Controlo de Doenças e, em março deste ano, visitou o Vaticano e teve a oportunidade de cumprimentar o Papa Francisco.

Apesar do terrorismo, a AIS constata que "a Nigéria é o país com o maior número de seminaristas em África e, apesar da discriminação e da perseguição, o número de aspirantes continua a crescer".

Pode colaborar na campanha a partir da secção Sítio Web da Ajuda à Igreja que Sofre.

Vaticano

Francisco apela à abertura a Jesus e à paz na Terra Santa

Na última sessão do ciclo sobre a paixão de evangelizar, o Papa Francisco convidou a audiência de hoje a refletir sobre a palavra de Jesus aos surdos e mudos, EffetáDirige-se a todos os baptizados para que proclamem o Evangelho e troquem "o dom da amizade". O Papa apelou ainda a um cessar-fogo humanitário e à libertação de todos os reféns na Terra Santa.

Francisco Otamendi-13 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 4 acta

Com um tom de voz mais recuperado e, nalgumas ocasiões, de pé, o Santo Padre presidiu esta manhã à festa de Santa LúciaO Papa, virgem e mártir, realizou a 30ª e última sessão do ciclo de catequeses sobre a paixão de evangelizar, o zelo apostólico do crente, na Sala Paulo VI do Vaticano. O tema da catequese Público foi "EffatáA "Igreja Aberta", baseada na passagem evangélica da cura de um surdo-mudo por Jesus (Mc 7,31-35).

Numerosos cânticos mexicanos à Virgem de Guadalupe, cuja festa foi celebrada ontem, precederam a catequese, juntamente com gritos de Viva o Papa! 

O Pontífice voltou a insistir que "não devemos esquecer-nos de pedir o dom da paz O Presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, apelou a um cessar-fogo humanitário para os povos que sofrem com a guerra, especialmente Israel, a Palestina e a atormentada Ucrânia. O Presidente do Parlamento Europeu recordou a dor e o sofrimento destes povos e apelou a um cessar-fogo humanitário, porque a ajuda humanitária é urgentemente necessária em Gaza. O Presidente do Parlamento Europeu apelou também à libertação de todos os reféns e voltou a gritar: "Não à guerra, sim à paz".

"Lançarmo-nos ao mar do mundo".

Na sua meditação, o Pontífice recordou que "Effatá" é uma expressão dita pelo celebrante no momento do batismo, enquanto toca os ouvidos e os lábios do batizado. "É um apelo a abrir e a alargar toda a pessoa para acolher o anúncio de Jesus e para sair em missão.

"Deixemos que o Senhor toque as nossas línguas e os nossos ouvidos, os abra, os desate para proclamar a sua presença que liberta e conforta todos, especialmente os que mais sofrem", disse o Papa. "Que Ele nos encha com a efusão do Espírito Santo para acender a chama do amor divino no coração de todos, sem medo, com coragem. Abandonando as seguranças pessoais e confiando no chamamento de Jesus, lançar-nos-emos ao mar do mundo, prontos a partir e a anunciar a todos os povos o que vimos e ouvimos".

Não esqueçamos - continuou o Santo Padre - que o Senhor nos chama a abrir-nos ao sopro do Espírito Santo, a escutar a sua voz e a deixar-nos impelir pela paixão de evangelizar; esta é uma tarefa que diz respeito a todos os cristãos. (...) "Também nós, que recebemos o Espírito Santo, somos chamados a abrir-nos ao Espírito Santo, a escutar a sua voz e a deixar-nos impelir pela paixão de evangelizar; esta é uma tarefa que diz respeito a todos os cristãos (...)". effetá do Espírito no batismo, somos chamados a abrir-nos. "Abre-te", diz Jesus a cada crente e à sua Igreja: abre-te porque a mensagem do Evangelho precisa de ti para ser testemunhada e anunciada! Abri-vos, não vos fecheis nas vossas comodidades religiosas e no "sempre se fez assim"! Abri-vos, Igreja, ao sopro do Espírito Santo, que vos impele a ser missionários, evangelizadores".

"O amor que damos

O "Effatá (Abre-te)" de Jesus, "é um convite a redescobrir a alegria da missão no fogo do Espírito. O zelo missionário, de facto, não é propaganda para obter consenso, não é proselitismo, nem encher a cabeça de noções, mas é acender no coração a centelha do amor de Deus. Parafraseando uma bela expressão, poderíamos dizer que o coração daqueles a quem anunciamos não é um recipiente a encher, mas um fogo a acender", explicou o Papa.

Por isso, "o zelo apostólico não depende da organização, mas do ardor; não se mede pelo consentimento que recebemos, mas pelo amor que damos (...). A mensagem é clara: para sermos pastores do povo de Deus, temos de ser pescadores de homens, prontos a deixar as margens da nossa própria segurança para zarpar com o Evangelho no mar do mundo".

Francisco convidou-nos também a examinarmo-nos a nós próprios com estas perguntas: "Perguntemo-nos também a nós próprios: amo realmente o Senhor, a ponto de querer anunciá-lo? Quero tornar-me sua testemunha ou contento-me em ser seu discípulo? Tomo a peito as pessoas que encontro? Levo-as a Jesus na oração? Quero fazer alguma coisa para que a alegria do Evangelho, que transformou a minha vida, torne também a delas mais bela?

"Celebrar a vinda do Menino Jesus no Natal".

Na sua saudação aos peregrinos em várias línguas, o Santo Padre convidou "todos nós, como cristãos baptizados, a dar testemunho de Jesus e a anunciá-lo. Peçamos também a graça de, como Igreja, realizar uma conversão pastoral e missionária" (francês). Peçamos também a graça de, como Igreja, realizar uma conversão pastoral e missionária" (francês). Aos anglófonos, recordou os Advento e a NatalDou as boas-vindas a todos os peregrinos de língua inglesa, especialmente aos grupos da Malásia e dos Estados Unidos da América. A cada um de vós, e às vossas famílias, desejo um frutuoso caminho de Advento para celebrar no Natal a vinda do Menino Jesus, o Salvador do mundo. Que Deus vos abençoe.

Aos germanófonos, recordou: "Que Santa Luzia, Virgem e Mártir, cuja memória litúrgica se celebra hoje, nos ajude a fazer brilhar Cristo através do nosso testemunho de fé, luz dos povos".

O Papa disse aos árabes que "em virtude do batismo, cada cristão é chamado a ser profeta, testemunha e missionário do Senhor, pela força do Espírito Santo e até aos confins da terra. Que o Senhor vos abençoe a todos e vos proteja sempre de todo o mal.

O Papa sublinhou aos polacos que "uma forma especial de viver o Advento na sua terra natal é participar nas missas. Rorate caeli. Que esta bela tradição, que exprime com Maria a expetativa da vinda do Salvador, se torne uma oportunidade para testemunhar a vossa fé viva. 

E encorajou os falantes de espanhol a "não esquecerem que o Senhor nos chama a abrirmo-nos ao sopro do Espírito Santo para escutarmos a sua voz e para nos deixarmos levar pela paixão de evangelizar; esta é uma tarefa que diz respeito a todos os cristãos. Que Jesus vos abençoe e a Virgem Santa vos guarde".

Por fim, em italiano, Francisco recordou Santa Luzia e recordou que "nalgumas partes de Itália e da Europa é costume trocar presentes nesta festa por causa da proximidade do Natal. Gostaria de vos convidar a todos a trocar o dom da amizade e do testemunho cristão, que é um dom precioso".

O autorFrancisco Otamendi

Vaticano

O Papa apela à comunhão entre os católicos siro-malabares

O modo de celebração da Santa Qurbana, o rito eucarístico desta antiga Igreja de rito oriental em comunhão com Roma, tem sido recentemente objeto de controvérsia. O Papa enviou uma forte mensagem vídeo à arquidiocese de Ernakulam-Angamaly pedindo que o rito eucarístico seja celebrado no próximo Natal segundo o modo adotado pelo Sínodo da Igreja Siro-Malabar.

Antonino Piccione-13 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

O Papa remodelou a direção da Igreja siro-malabar da Índia, no Estado de Kerala, aceitando a demissão do arcebispo sénior, o cardeal George Alencherry, e de D. Andrew Thazhath, o administrador apostólico que nomeou há dois anos para a arquidiocese "rebelde" de Ernakulam-Angamaly. Uma medida que se seguiu à missão mal sucedida, como delegado pontifício, do arcebispo eslovaco Cyril Vasil, antigo secretário da Congregação para as Igrejas Orientais, que em nada contribuiu para aliviar as tensões entre a arquidiocese de Ernakulam-Angamaly e o resto da Igreja Siro-Malabar.

O objeto de controvérsia, uma vez que tanto o Notícias do Vaticano como Asia News, continua a ser o modo de celebração adotado pelo Sínodo Siro-Malabar em 2021, que prevê que o celebrante fique de frente para o altar durante o momento central da liturgia. Uma solução que a grande maioria do clero de Ernakulam-Angamaly - a maior arquidiocese da Igreja Siro-Malabar, compreendendo cerca de um décimo dos fiéis - não quer aceitar, tendo adotado o rito em que o celebrante está virado para a assembleia após o Concílio Vaticano II. Assim, a disputa de longa data sobre uma liturgia unificada, que há muito divide esta antiquíssima Igreja dos Índias Os orientais continuam por resolver.

A chamada de atenção do Papa

O Papa Francisco, longe de subestimar a gravidade da situação, envia uma forte mensagem de vídeo à arquidiocese de Ernakulam-Angamaly, pedindo que o rito eucarístico seja celebrado no próximo Natal em todas as Igrejas, de acordo com a modalidade "unificada" adoptada pelo Sínodo da Igreja Siro-Malabar após anos de discussão, mas rejeitada pelo clero da diocese onde se encontra a sede do arcebispo maior.

"Vós sois Igrejas, não vos torneis uma seita", diz Francisco. "Não obrigueis a autoridade eclesiástica competente a tomar nota de que abandonastes a Igreja, porque já não estais em comunhão com os vossos pastores e com o sucessor do apóstolo Pedro, chamado a confirmar todos os irmãos na fé e a conservá-los na unidade da Igreja."

O Cardeal Alencherry, que foi eleito arcebispo maior pelo Sínodo Siro-Malabar em 2012, está envolvido desde 2017 num caso relacionado com a venda de terrenos pertencentes à Igreja, que causou escândalo e controvérsia na comunidade católica de Kerala. Na sua carta ao cardeal, o Pontífice renova, no entanto, a sua estima pessoal, recordando também que Alencherry já tinha apresentado a sua demissão em 2019, mas a Santa Sé - aceitando o parecer do Sínodo - tinha-a rejeitado. Agora, portanto, a liderança da Igreja Siro-Malabar, de acordo com a lei, foi confiada ao bispo curial Sebastian Vaniyapurackal, até à eleição do novo arcebispo maior, que deverá ter lugar em janeiro.

Novo administrador apostólico

Quanto à arquidiocese de Ernakulam-Angamaly, aceitando a demissão do bispo Andrews Thazhath como administrador apostólico (que continua a ser arcebispo de Trichur), Francisco nomeou o bispo Bosco Puthur, bispo emérito da eparquia de Melbourne do Syro-Malabar, como novo administrador apostólico. Thazhath foi também amplamente questionado sobre a forma como cumpriu o mandato que lhe foi conferido pelo Papa Francisco para resolver a disputa sobre a liturgia.

Nos últimos dias, foi também publicada uma carta em que se dizia que os oito diáconos da diocese que aguardam a ordenação sacerdotal só poderiam ser ordenados depois de terem prestado o juramento de celebrar a Qurbana (o rito eucarístico) apenas segundo as modalidades estabelecidas pelo Sínodo, que, como já foi referido, exige que o celebrante esteja virado para a assembleia durante a primeira parte da liturgia, mas que depois se volte para o altar no momento da consagração.

Mensagem vídeo do Papa à Arquidiocese de Ernakulam-Angamaly.
O autorAntonino Piccione

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Começa uma nova era: Prefácio do Advento III

Neste "tempo forte" do ano litúrgico, continuamos a série sobre os Prefácios do Advento. Para além dos Prefácios presentes na edição típica latina, o nosso Missal acrescenta dois outros, compostos de novo. O primeiro, chamado Prefácio III do Advento, pode ser usado até 16 de dezembro. 

Giovanni Zaccaria-13 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Também aqui, como no Prefácio do Advento IO carácter escatológico desta parte do tempo de preparação para o Natal é predominante.

É de facto justo agradecer-vos,

é nosso dever cantar em vossa honra

hinos de bênção e louvor,

Pai todo-poderoso, princípio e fim de toda a criação.

Escondeste-nos o dia e a hora

em que Cristo, vosso Filho,

Senhor e juiz da história,

aparecerá, revestido de poder e glória

acima das nuvens no céu.

Nesse dia terrível e glorioso

a figura deste mundo passará

e nascerão os novos céus e a nova terra.

O mesmo Senhor que depois se nos mostrará cheio de glória

vem agora ao nosso encontro

em cada homem e em cada acontecimento

para o recebermos com fé

e pelo amor testemunhemos

da feliz expetativa do seu reino.

Por isso, enquanto aguardamos a sua última vinda,

unidos aos anjos e santos,

cantamos o hino da tua glória:

Santo, Santo, Santo...

O texto apresenta uma certa novidade desde o início, pois apresenta um protocolo inicial diferente da maioria dos outros Prefácios. Desde as primeiras expressões, dirige o olhar contemplativo dos fiéis para Deus Pai todo-poderoso, princípio e fim de todas as coisas: deste modo, introduz-nos imediatamente numa perspetiva simultaneamente cósmica e histórico-escatológica.

O embolismo do prefácio é composto por três secções, também indicadas graficamente no texto do Missal. A primeira secção recorda o texto de Mateus 2436, em que o próprio Jesus afirma que ninguém sabe o dia e a hora da manifestação final do Filho; estas palavras são, em si mesmas, um convite à vigilância, um tema típico deste tempo de Advento.

Passamos então à visão profética da segunda vinda de Cristo, quando "verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e glória" (Mt 24,30). Ele virá como Senhor (cf. Act 2,36) - que traduz o grego Kyriose Juiz (cf. Act 10, 42), ou seja, o encarregado de estabelecer a justiça de uma vez por todas (cf. Ap 20, 11-12).

Do "fim dos tempos" à vida quotidiana

A segunda parte continua com a descrição desse último dia e define-o como tremendo (cf. Gl 2,11) e glorioso (cf. Ez 39,13 e Act 2,20), adjectivos que mostram a extraordinariedade do momento, que infunde admiração e, ao mesmo tempo, revela a majestade de Deus (glorioso é um adjetivo que normalmente se refere a Deus). A visão, porém, não se esgota aqui, mas abre-se à contemplação grandiosa dos novos céus e da nova terra: a figura deste mundo passa (cf. 1 Cor 7,31) e começa uma nova era, caracterizada não mais pela fragilidade, mas pela plenitude e pela definitividade, como testemunham as profecias de Isaías (cf. Is 65,17 e 66,22), retomadas mais tarde por 2 Pd 3,13 e Ap 21,5.

Na Epístola aos Romanos, Paulo também olha para esta plenitude quando diz: "Porque a criação foi sujeita à queda (...) na esperança de que também a própria criação seja libertada da escravidão da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8, 20-21). É belo observar como, neste fresco do que será, a dimensão material não só não é desprezada, mas, pelo contrário, é exaltada, nesta recapitulação de todas as coisas que inclui não só o homem, mas todo o cosmos.

Por fim, a terceira parte do prefácio propõe a passagem desta contemplação grandiosa dos acontecimentos do "fim dos tempos" para a vida quotidiana: preparar a vinda do Senhor significa, antes de mais, abrir o coração ao próximo e acolher cada pessoa e cada acontecimento; nas pessoas que o Senhor coloca ao nosso lado e nos acontecimentos que nos ocorrem, Deus fala. Há aqui um eco das palavras de Gaudium et Spes 22: "Pela encarnação, o Filho de Deus uniu-se, de certo modo, a cada homem".

O texto conclui com uma frase tripartida, que sublinha a necessidade das virtudes teologais para a vida quotidiana: a fé é necessária para poder reconhecer Cristo que se faz presente nos acontecimentos da vida e para poder acolher esta sua presença; a caridade é indispensável para testemunhar a vida cristã, que se abre à esperança, isto é, à espera confiante da realização dos projectos de salvação que Deus tem para nós.

Por fim, precisamente por alimentarmos a expetativa da segunda vinda, somos convidados a juntar-nos aos anjos e aos santos no canto do Sanctus.

O autorGiovanni Zaccaria

Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma)

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Vaticano

O que esperar do Sínodo sobre a Sinodalidade em 2024

Todos os bispos do mundo receberam um documento que os encoraja a aprofundar os trabalhos do Sínodo da Sinodalidade e a preparar a sessão de outubro de 2024.

Paloma López Campos-12 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

O portal de notícias Notícias do Vaticano informa que todos os bispos do mundo receberam um documento e uma carta dos Cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich sobre o Sínodo da Sinodalidade que a Igreja está a viver.

O documento enviado começa por encorajar o episcopado a refletir sobre a sessão que teve lugar em outubro de 2023, durante a qual foi seguida uma dinâmica de trabalho baseada no diálogo e na experiência. No final da Assembleia, foi tornada pública a síntese dos temas tratados, à qual os bispos são convidados a regressar para continuar a refletir sobre o trabalho realizado.

O texto esclarece ainda que o Sínodo não se baseia nas questões debatidas. Citando o Papa Francisco explica que "o importante é a forma como a reflexão é feita, ou seja, de uma forma sinodal". No entanto, é importante não perder de vista os temas que os participantes irão debater em 2024. Por isso, o Papa indicará as questões que considera relevantes e convocará grupos de peritos de todos os continentes para trabalhar, com a participação dos Dicastérios competentes da Cúria Romana, numa dinamização eclesial coordenada pela Secretaria Geral do Sínodo". Por fim, os grupos apresentarão relatórios de trabalho na reunião do próximo ano.

Por outro lado, o documento enviado aos bispos pede-lhes que aprofundem "as formas concretas do compromisso missionário a que somos chamados, no dinamismo entre unidade e diversidade próprio de uma Igreja sinodal". Para isso, o trabalho será feito tanto a nível da Igreja local como a nível das Igrejas locais com o Papa, para o que é necessário que cada bispo consulte a sua comunidade.

Directrizes

As directrizes de trabalho enviadas a todos os bispos encorajam uma "reflexão focalizada sobre o tema da corresponsabilidade diferenciada pela missão de todos os membros do Povo de Deus". No entanto, também se insiste na procura de vozes de peritos. O documento apela ao "envolvimento de peritos e instituições académicas presentes na área, de modo a que a contribuição da perícia teológica e canónica, bem como das ciências humanas e sociais relevantes, possa estar presente".

Por outro lado, o Conselho Ordinário do Sínodo quer alargar as experiências de sinodalidade a nível local, promovendo iniciativas, convidando aqueles que vivem em situações de exclusão, cristãos de outras confissões e pessoas que confessam outras religiões.

Para facilitar o processo, o Secretariado Geral do Sínodo publicou uma possível ficha de trabalho na qual as Igrejas locais podem inspirar-se. O documento pode ser consultado no sítio oficial do Sínodo e está disponível em várias línguas.

Novo Instrumentum Laboris

Após a consulta, cada conferência episcopal deverá enviar um resumo dos trabalhos ao Secretariado Geral do Sínodo até 15 de maio de 2024. Com as contribuições das Igrejas locais, o "Instrumentum Laboris" da sessão de outubro será redigido pelo órgão responsável.

Embora o material enviado pelas igrejas locais "não constitua diretamente o objeto de discernimento" da reunião de 2024, ajudará a "compor um quadro no qual situar os trabalhos da Assembleia".

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Educação

Lançamento de um mestrado sobre João Paulo II

A Associação Espanhola de Personalismo (AEP) vai oferecer um mestrado sobre Karol Wojtyla/João Paulo II que decorrerá de janeiro a outubro de 2024. A data limite para a inscrição é 10 de janeiro de 2024.

Loreto Rios-12 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

O Associação Espanhola de PersonalismoA "associação civil sem fins lucrativos de carácter cultural", cujo objetivo é "promover, divulgar, aprofundar e desenvolver a filosofia personalista" tem o seu novo título: "Filosofia Personalista".Mestrado em linha em Karol Wojtyla-João Paulo II".

O mestrado decorrerá de janeiro a outubro de 2024 e o o prazo de inscrição termina a 10 de janeiro de 2024.. As sessões, que se realizarão às quartas-feiras à tarde, terão uma duração de três horas e serão gravadas para que os inscritos as possam apreciar mais tarde.

O custo total da inscrição é de 1500 euros, embora exista a possibilidade de efetuar o mestrado em módulos de duas disciplinas. Os membros da Associação Espanhola de Personalismo beneficiarão de um desconto de 5 % na taxa de inscrição no mestrado.

"Este mestrado oferece uma visão completa e inter-relacionada das múltiplas facetas de Karol Wojtyla/João Paulo II: a sua vocação poética e teatral inicial, a sua formação filosófica e teológica, a sua própria proposta antropológica, a que chamou personalismo, e a sua inovadora teologia do corpo. O mestrado pode ser entendido como uma homenagem a Karol Wojtyla/João Paulo II que procura divulgar o seu imenso legado pessoal, doutrinal e espiritual", afirmam no web. O título também "oferece uma visão completa da sua vida e obra, única na língua espanhola".

Para mais informações, contactar a directora adjunta do mestrado, Nieves Gómez, através do seguinte endereço eletrónico [email protected].

Temas

O primeiro bloco de disciplinas decorrerá de janeiro a fevereiro com os seguintes temas: "Karol Wojtyla / João Paulo II (1920-2005)" ("O contexto polaco. Estudante de filologia durante o nazismo. Sacerdote e professor de ética. Arcebispo de Cracóvia na Polónia ocupada. O Concílio Vaticano II. O Papa João Paulo II e a sua influência no século XX"); e "A beleza da palavra: obra poética e teatral" ("Dos sonetos e do Saltério renascentista aos poemas da maturidade. As peças do período neorromântico: Job e Jeremias. Dramas do período rapsódico. A oficina do ourives. Tríptico romano: síntese e cume da sua obra literária").

O segundo bloco decorrerá de março a abril, com dois outros temas: "Ética, amor e responsabilidade" ("A renovação da ética na escola de Lublin sob a influência de Scheler, Kant e Tomás de Aquino. Amor e responsabilidade. A norma personalista. Prazer e sexualidade. A pessoa e o amor"); e, em segundo lugar, "Antropologia personalista" ("O personalismo de Karol Wojtyla. O projeto de Pessoa e ação. Consciência e autoconsciência. Liberdade como escolha e auto-determinação. Psique, soma, integração e auto-realização. A estrutura da afetividade").

O terceiro bloco terá lugar em maio e junho e centrar-se-á nos dois temas seguintes: "Teologia do corpo" ("O mistério do princípio: homem e mulher os criou. O casal humano como imagem da Trindade. A redenção do coração. O corpo e a obra de arte. A ressurreição da carne"); e "O matrimónio e a família como 'communio personarum'" ("O génio feminino e a 'mulieris dignitatem'. Amor conjugal e fecundidade. O matrimónio como instituição. A família como lugar da pessoa. Paternidade, maternidade, filiação").

Finalmente, de setembro a outubro, será desenvolvido o quarto e último bloco, com os temas "Pensamento sócio-político" ("Participação e alienação. Trabalho: dimensão objetiva e subjectiva 'Laborem exercens'. O debate da Teologia da Libertação. Democracia, sociedade, solidariedade, mercado"); e, em segundo lugar, "Igreja e cristianismo em João Paulo II ("A perspetiva cristológica: Cristo revela o homem ao homem, 'Redemptor hominis'. Ciência, razão e fé. A Igreja e a sua história. Uma perspetiva ecuménica. Do Concílio Vaticano II ao terceiro milénio. Totus tuus").

Docentes

Quanto ao corpo docente, o diretor do mestrado é Juan Manuel Burgos, presidente da AEP e da AIP, e professor na Universidade CEU San Pablo e na Universidade Villanueva de Madrid. Editou as obras completas de Karol Wojtyla em espanhol, e é autor, entre outros, dos livros "Para comprender a Karol Wojtyla" (BAC) e "La filosofía personalista de Karol Wojtyla" (Palabra).

A vice-diretora do mestrado é Nieves Gómez Álvarez, doutora em Filosofia pela UCM e professora na Universidad Villanueva e UDIMA em Madrid, e na Universidad Anáhuac no México. Foi professora colaboradora do Pontifício Instituto João Paulo II e em 2021 leccionou na Cátedra João Paulo II do CITES (Ávila) o curso intensivo "A defesa da pessoa. Wojtyla face aos humanismos ateus".

Participarão também Juan José Pérez Soba, diretor da Área Internacional de Investigação em Teologia Moral do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II, em Roma, e professor de Teologia Pastoral do Matrimónio e da Família no mesmo instituto, e Bogdan Piotrowski, autor, tradutor e coautor de 14 livros relacionados com a obra e os ensinamentos de Karol Wojtyla, e membro da Academia Colombiana da Língua. Conheceu pessoalmente João Paulo II e a Santa Sé nomeou-o tradutor oficial das suas obras em espanhol para a América Latina. Leccionará o módulo "A beleza da palavra: obra poética e teatral".

Outros professores incluem Benjamin Wilkinson, Alejandro Burgos, Marco Lome, Patricia Garza Peraza e Andrzej Dobrzynski.

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A Virgem Maria aparece?

A aparição da Virgem de Guadalupe ao índio Juan Diego é uma das aparições marianas verificadas pela Igreja e conhecidas em todo o mundo. Embora existam muitos relatos de aparições, a Igreja Católica é muito cuidadosa na determinação da sua veracidade, falsidade ou possibilidade.

Alejandro Vázquez-Dodero-12 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 6 acta

Desde o início do cristianismo, a proteção e a ajuda da Virgem Maria aos cristãos são uma constante na história. A devoção mariana, húmus de fé confiante e filial, baseia-se muitas vezes nas aparições da Mãe de Deus a diferentes pessoas, em diferentes tempos e lugares.

As aparições de Nossa Senhora são um dos temas sobre os quais a Igreja se debruça com mais cuidado e estudo antes de determinar a veracidade dessas aparições que são, quando ocorrem, o epicentro da fé em Deus.

Conceito de "aparição mariana".

Para a Igreja Católica, a Revelação - o dar a conhecer Deus através do homem - terminou com a morte do último dos Apóstolos. Com isso, o depósito da Fé já apresentava tudo o que devia necessariamente ser acreditado ou praticado para que as almas se salvassem eternamente ou chegassem ao céu.

Mas isso não impede de forma alguma as revelações privadas - aparições, visões, mensagens... - de Deus, dos santos e também da Virgem Maria.

Naturalmente, a Igreja reserva-se a autoridade para emitir um juízo autêntico sobre as visões ou aparições, para as aprovar ou desaprovar, tendo em conta que, embora ajudem as pessoas cristãs a aumentar a sua religiosidade, não são questões de fé necessárias.

As aparições marianas são manifestações da Virgem Maria a uma ou mais pessoas, num determinado lugar e num determinado momento da história, que a Igreja Católica pronuncia para determinar a sua veracidade, falsidade ou possibilidade.

Algumas das aparições deram origem a lugares de culto ou de peregrinação de grande significado religioso, como a Basílica de Guadalupe, ou os santuários de Fátima e Lourdes. Outras aparições inspiraram o nascimento de ordens religiosas, como os Carmelitas, os Mercedários ou as Concepcionistas.

No que diz respeito a possíveis aparições, a Igreja é extremamente cautelosa, prudente e caridosa, e sobretudo sublinha a distinção entre a revelação pública, contida na Sagrada Escritura e na Tradição, que constitui o "depositum fidei", e as revelações privadas, a que nos referimos neste fascículo. A revelação pública, como dissemos, é completa, mas não completamente explícita, e cabe ao Magistério - a tarefa pedagógica da Igreja - aprofundar a riqueza do seu conteúdo ao longo do tempo, sob a orientação do Magistério.

Não podemos afirmar que a aprovação de uma aparição mariana garanta que as palavras que os videntes transmitem tenham sido ditas por Maria. Não se trata da Sagrada Escritura ou de inspiração divina, mas de algo que a Mãe de Deus quis comunicar num determinado momento, com um determinado objetivo e através de determinados videntes.

Assim, o Catecismo afirma no ponto 67 que ".Ao longo da história, houve as chamadas revelações "privadas", algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Estas, porém, não pertencem ao depósito da fé. A sua função não é "melhorar" ou "completar" a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente numa determinada época da história.".

Algumas aparências são verdadeiras e outras falsas?

Quanto às aparições - que seriam revelações privadas - também as podemos classificar como públicas ou privadas.

Entre as aparições públicas, ou com relevância externa, a Igreja reconheceu, até à data, quase trinta como sendo de origem sobrenatural. Estas são algumas das mais conhecidas:

A primeira é a Virgem do Pilar, que apareceu ao apóstolo Santiago em Saragoça, Espanha, por volta do ano 40.

Mais tarde, no século XIII, a Virgem do Rosário, em França, e a Virgem do Carmo, na Terra Santa.

No século XVI, a Virgem de Guadalupe no México, Nossa Senhora de Velankanni na Índia - hoje Bharat -. No século XVII, Nossa Senhora de Laus em França.

No final do século XVIII, Nossa Senhora de La Vang, no Vietname.

No século XIX, em França, a Medalha Milagrosa, Nossa Senhora das Vitórias, Nossa Senhora de La Salette, Nossa Senhora de Lourdes, Mãe da Esperança e Mãe da Misericórdia; também no século XIX, Nossa Senhora de Knock, na Irlanda.

E no século XX, Nossa Senhora de Fátima, em Portugal; Mãe de Deus e Nossa Senhora dos Pobres, na Bélgica; Nossa Senhora de Todas as Nações, na Holanda; em Itália, Nossa Senhora do Apocalipse e Nossa Senhora das Lágrimas; Nossa Senhora das Preces, em França; Nossa Senhora da América nos EUA; Nossa Senhora de Akita no Japão; Nossa Senhora e Mãe Reconciliadora na Venezuela; Nossa Senhora de Cápua na Nicarágua; a Mãe da Palavra no Ruanda; Nossa Senhora Soufanieh na Síria; Nossa Senhora do Rosário de São Nicolau na Argentina; e a Guardiã da Fé no Equador.

A Igreja também declarou a falsidade de algumas aparições, incluindo Bayside, nos EUA, Belluno, em Itália, e Palmar de Troya, em Espanha.

Por fim, referiremos algumas aparições de veracidade duvidosa, o que não implica que sejam necessariamente consideradas falsas, uma vez que no futuro se poderia esperar que fossem reconhecidas: Garabandal em Espanha, Nossa Senhora de Zeitun no Egipto e a Rainha da Paz em Medjugorje, na Bósnia.

Como é que a Igreja aprova uma aparição mariana?

Em primeiro lugar, é preciso notar que não existe qualquer regulamentação deste fenómeno, nem no Código de Direito Canónico ou qualquer outro instrumento. Temos o Observatório de aparições e fenómenos místicos ligada à figura da Virgem Maria no mundo, criada pelo Pontifícia Academia Mariana Internacional com o objetivo de analisar e interpretar os vários casos de aparições marianas que aguardam um pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a sua autenticidade.

A Igreja reconhece que Deus - pessoalmente ou através, por exemplo, da sua Mãe - pode falar diretamente a algumas almas e comunicar-lhes algum bem, para elas próprias ou para a sociedade. Mas, como já foi dito, essas revelações nada acrescentam à doutrina cristã, já revelada por Cristo e sempre em processo de estudo e discernimento pelo Magistério. O objetivo destas revelações seria a ajuda dada por Nossa Senhora para viver a fé de acordo com o ensinamento da Igreja.

Para verificar a autenticidade das aparições, a Igreja avaliará fundamentalmente os seguintes elementos: o equilíbrio mental da pessoa que se diz vidente; o seu nível de formação cultural e doutrinal, bem como a sua comunhão com a Igreja; a sua probidade de vida ou vida virtuosa, pois embora Maria possa aparecer a qualquer pessoa, não parece admissível que se mostre a quem parece ser pecador ou estar longe de Deus; se existe algum desejo de lucro financeiro com as aparições; a transparência e naturalidade das aparições, para excluir a possibilidade de alguma aparição estar centrada na pessoa que se diz vidente; o número de aparições e o conteúdo da mensagem recebida; os sinais extraordinários ligados às aparições, como curas, milagres, fenómenos cósmicos, etc.; os frutos espirituais, como curas, milagres, fenómenos cósmicos, etc.; os frutos espirituais, como os frutos espirituais das aparições, como os milagres dos videntes, etc.Os frutos espirituais, como as conversões ou, em geral, os frutos nas almas dos que desfrutam das aparições; e a conformidade dos supostos videntes com as disposições do ordinário local, geralmente o bispo.

Se, após essa verificação, a autoridade eclesiástica - o bispo local ou a Santa Sé - aprovar a aparição em estudo, esta pode ser acreditada apenas com a fé humana, desde que nada de contrário à fé e aos bons costumes apareça na aparição e se prove que ela se deve a causas sobrenaturais.

Em suma, os aspectos a ter em conta para aprovar uma alegada aparição mariana são a pessoa do vidente, o conteúdo da visão ou aparição, a sua natureza, forma e objetivo.

Em termos de processo de aprovação, há várias fases: uma declaração favorável do bispo, quando este declara que as alegadas aparições não contêm nada contrário à fé ou à moral; a permissão para a celebração da liturgia, quando é permitido celebrar a Santa Missa no local das aparições; o reconhecimento papal, quando a aparição tem um impacto notório a nível mundial; e, finalmente, o reconhecimento litúrgico, quando a aparição passa a fazer parte do calendário litúrgico.

A aprovação pode ser dada pelo próprio bispo, no pressuposto de que, se a Santa Sé não interveio na aprovação, isso não significa que a rejeite.

Notas comuns às aparições marianas aprovadas pela Igreja.

Das várias aparições aprovadas pela Igreja podemos concluir uma série de aspectos que, de um modo geral, são comuns a todas elas e que, de algum modo, comprovam a sua autenticidade:

Os videntes são pessoas psicologicamente sãs e simples. Não manifestam desvios emocionais e evitam chamar a atenção para a sua pessoa. Antes da aparição, em vários casos, não eram particularmente espirituais e não afirmavam ter visões.

A humildade, o evitar a auto-referencialidade e a admissão de que pode ser algo ilusório se a autoridade eclesiástica assim o dispuser, são notas comuns aos visionários. Além disso, um outro sinal da sua humildade é o facto de serem capazes de obedecer à autoridade quando esta assim o dispõe.

A aparição implica uma série de provas e dificuldades para a vida dos videntes, que serão normais ou não, e exigirão sempre factos ou sinais sobrenaturais.

Normalmente, têm lugar em locais isolados e silenciosos que convidam ao recolhimento e à oração.

A mensagem de Nossa Senhora que lhes é dirigida exorta-os habitualmente a viver o Evangelho, a aumentar a vida de piedade e as obras de misericórdia e a recordar aspectos esquecidos da Fé ou em vias de esquecimento.

Em suma, encontramos acontecimentos que, embora não façam parte do depósito da Fé, podem ajudar a fortalecer essa Fé e a saber o que Deus, através da Virgem Maria, quer para os seus filhos homens num determinado momento da história da sua salvação.

O aroma da tuberosa fina e da mulher-perfume

Cada vez que tu, mulher, derramas aos pés de Jesus lágrimas de quebrantamento, de arrependimento e de ação de graças, transformas a tua dor num perfume precioso.

11 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 5 acta

Ao longo dos Evangelhos, vemos Jesus ser seguido por milhares de pessoas que procuravam os seus favores misericordiosos. Multidões afluíam facilmente a ele em busca de cura, de libertação ou para ouvir os seus ensinamentos transformadores. Apresentavam-Lhe necessidades reais, como a paralisia, a cegueira, a lepra, ou traziam-Lhe os doentes e os desesperados em repetidas cenas e quadros de dor.

Seria estranho ver uma igreja cheia de fiéis agradecidos, que não vêm pedir, mas apenas oferecer em sinal de gratidão! Mas sejam todos bem-vindos, pois Ele convidou-os incondicionalmente a dizer, Vinde a mim, os cansados e oprimidos, e trazei-me os vossos fardos. (Mateus 11, 28).

Nos Evangelhos, lemos duas excepções que poderíamos destacar daqueles que vieram prostrar-se para lhe oferecer presentes: uma no início da sua vida e outra no final. Na primeira ocasião, alguns personagens interessantes do Oriente (reis, magos ou astrólogos) que, seguindo o presságio da estrela, o procuravam obsessivamente para lhe oferecerem arcas caras de incenso, ouro e mirra.

A segunda ocasião foi o caso da mulher misteriosa com um perfume de nardo puro num frasco de alabastro que custava 300 denários, o salário anual de um operário no tempo de Jesus. Naqueles tempos, quando se transportava ou armazenava um óleo ou um perfume caro, o frasco era fechado para não correr o risco de se evaporar ou de ser utilizado como desperdício. Por isso, era necessário partir o frasco para utilizar finalmente o conteúdo dispendioso.

A mulher com o perfume 

Uma interessante tradição dos tempos antigos ajuda-nos a compreender este Evangelho. Diz-se que, em certas culturas, as donzelas solteiras costumavam preparar um vaso com um perfume caro e guardá-lo até ao dia em que o homem desejado as pedisse em casamento. Se a jovem aceitasse o pedido, provava-o partindo o vaso e deitando-lhe o perfume nos pés, como que a dizerRecebo-te no meu coração e na minha vida, e dou-te o tesouro da minha pureza reservado para ti.. O Cântico dos Cânticos também menciona o perfume de nardo fino como símbolo de fidelidade e pureza no amor conjugal.  

Em Marcos 14, 3-9Uma mulher conhecida como pecadora, ao ouvir dizer que Jesus estava a comer em casa de um fariseu, entrou com um frasco de alabastro cheio do perfume caro de nardo fino, partiu-o e, aproximando-se de Jesus, ungiu-lhe a cabeça e todos os cabelos e caiu-lhe aos pés, molhando-os com as suas lágrimas e secando-os com os seus próprios cabelos. Quem é esta mulher, que não estava incluída na lista de convidados para essa suculenta ceia? Uma amante silenciosa de Jesus? Uma que encontrou o amor da sua vida e quis mostrá-lo a ele, como as donzelas enamoradas da antiguidade? Ou é uma figura profética da humanidade prostrada aos seus pés, chorando de amor e arrependimento, oferecendo a sua única riqueza em troca do perdão dos seus muitos pecados? 

É interessante que os quatro Evangelhos falem dela: em Lucas, Mateus e Marcos, a mulher é anónima, mas no Evangelho de João é identificada como Maria de Betânia, irmã de Lázaro e amiga de Jesus. Agora faz mais sentido! Aquela que, noutros tempos, se sentava aos seus pés e o escutava durante longas horas, fica obcecada por ele e professa o seu amor, oferecendo-lhe o seu fino nardo conservado. Mas, à sua maneira, Jesus transforma um momento carregado de sentimentos e realidades humanas em linguagens espirituais e experiências sobrenaturais. O lugar tornou-se um daqueles confessionários onde ninguém jamais não se ouvem palavras, mas vêem-se as lágrimas de rostos arrependidos.

O mulher é profeticamente dimensionado para prefigurar todos aqueles que, de coração contrito, diante dos seus pés, valorizam finalmente as riquezas espirituais acima das riquezas materiais ou humanas e comunicam em linguagem de amor santificado. Os convidados do jantar são os mesmos de sempre, que não vêem para além do mundano e do quotidiano e questionam o valor dos ganhos espirituais. E os pobres que devem ser sempre atendidos são aqueles que são afetivamente mais do que materialmente carenciados, e que precisam não só de pão físico, mas também de alimento para a alma.

Cristo e as murmurações

Fosse quem fosse esta mulher, no final do momento de renome, Jesus disse algo que não Nunca se disse nada de nenhum dos convidados do jantar, nem de nenhum dos seguidores ou discípulos."Onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também o que ela fez será contado para sua memória" (Marcos 14,9). 

Os observadores tabelavam e contavam avidamente esta oferta, como ainda hoje o fazem. O mundo, com a sua mentalidade bancária, não compreende a dedicação desmedida de uma vida consagrada, nem um ato de entrega e de sacrifício incondicionais. Um ano de salário desperdiçado num momento de sentimentalismo exagerado... Que desperdício de tão magras riquezas! Além disso, não faltava quem achasse que esse perfume estava manchado de pecado, pois que mulher, naquele tempo, podia dar-se a esse luxo? Só quem ganhava bem a vida em negócios pecaminosos.

Jesus não quer saber dos comentários do seu passado ou do seu pecado. Tudo isso se dilui nas lágrimas de arrependimento de uma mulher contrita. "Deixa-a em paz, porque, tendo sido muito perdoada, muito me amou" (Lucas 7,47-50). Os convidados viram apenas uma jarra partida e um caro nardo desperdiçado. Mas, para Jesus, o "ouro moído" da nardo não se compara com as suas lágrimas sinceras, que brotam de um coração despedaçado: estas são muito mais caras e valiosas. Porque, tal como só a quebra do alabastro faz nascer o nardo, assim também a quebra interior desencadeia invocações poderosas, virtudes irreconhecíveis e correntes de graça. O cheiro do unguento importado encheu a casa e impregnou até as roupas dos convidados que estavam naquela sala. Era o tipo de fragrância cara que se usava aos poucos, devido ao seu cheiro forte, e o derrame de um frasco inteiro inundava a atmosfera até que ainda se podia sentir vários dias depois.

O bom cheiro de Cristo

Poucos dias depois dos acontecimentos desta penúltima ceia pública, Jesus lava os pés dos seus discípulos na última ceia e, horas mais tarde, enfrenta a sua paixão e morte. Mas no caminho para o Calvário, Jesus não cheirava a sangue, suor ou morte. O perfume de nardo fino impregnou-o ao longo do caminho de dor, simbolizando a fragrância da misericórdia. Jesus derramaria o seu sangue em benefício de todos os prostrados diante daquela cruz ao longo da história. O frasco estilhaçado é uma figura do corpo de Jesus, que seria quebrado. O seu sangue derramado seria mais precioso do que o óleo mais puro: uma fragrância de perdão eternamente presente e penetrante, de valor incomparável e de poder redentor.

Cada vez que tu, mulher, derramas aos pés de Jesus lágrimas de quebrantamento, de arrependimento e de ação de graças, transformas a tua dor num perfume precioso, estás a entregar-lhe toda uma história de alegrias e de lágrimas, de conquistas e de fracassos, de esforços e de recompensas, de ganhos e de perdas. Valerá a pena sacrificar esse dízimo em troca da vida eterna! Valerá a pena assinar esse tratado de paz e esse acordo de misericórdia para ouvires as mesmas palavras que Jesus lhe disse: os seus muitos pecados estão perdoados porque ela me mostrou muito amor (Lucas 7,47). Já não serão os teus pecados passados ou as tuas fraquezas que te identificarão, mas serás reconhecido pelo aroma da fina nardoa que a Sua misericórdia impregnará em ti.

O autorMartha Reyes

Doutoramento em Psicologia Clínica.

Vaticano

Papa Francisco institui o Dia Mundial da Criança: paz, ambiente e fraternidade

O primeiro Dia Mundial da Criança terá lugar a 25 e 26 de maio de 2024, anunciou recentemente o Papa Francisco.

Giovanni Tridente-11 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

Depois de instituir o Dia Mundial dos Pobres, em 2017, como legado do Jubileu da Misericórdia, e o Dia Mundial dos Avós e Idosos, em 2021, ainda em tempos de pandemia, o Papa Francisco anunciou no Angelus de 8 de dezembro a instituição do Dia Mundial da Criança, cuja primeira edição se realizará a 25 e 26 de maio de 2024.

"A iniciativa responde à pergunta: que tipo de mundo queremos legar às crianças que estão a crescer?", disse o Papa, também em resposta ao convite de Jesus para cuidar delas. Os pobres, os idosos e as crianças, juntamente com os jovens (cujo Dia Mundial foi instituído pela primeira vez por São João Paulo II em 1986), sempre estiveram no centro do magistério do Papa Francisco.

Enquanto a primeira iniciativa, dedicada aos pobres, é coordenada pelo Dicastério para a Evangelização, o dia dos avós e dos idosos está a cargo do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. A segunda, destinada às crianças, será promovida pelo Dicastério para a Cultura e a Educação.

O evento no Vaticano

No passado dia 6 de novembro, na Sala Paulo VI do Vaticano, realizou-se uma alusão a este dia com milhares de crianças de diferentes partes do mundo, cerca de 80 países, que puderam contar os seus sonhos e desejos diretamente ao Papa. O Pontífice passou algum tempo com elas, ouvindo as perguntas de alguns dos "representantes": Isidora do Brasil, Rania da Palestina, Massimo de Roma, Ivan da Ucrânia, Kim Ngan do Vietname, Antrànik da Síria, Celeste do Peru, Pauline do Congo, Sofia das Filipinas, Luxelle de África, Susa de Samoa Tonga, Chris do Haiti, Drew da Austrália, Salma do Gana.

Foram convocados pelo mesmo Dicastério da Cultura para o evento "Aprendamos com as crianças", em sinergia com a Comunidade de Santo Egídio, a Cooperativa Auxilium e com o apoio dos Franciscanos.

"Falámos de muitas coisas bonitas, mas a coisa mais bonita que toca os vossos corações é a paz, porque vocês não querem a guerra, querem a paz no mundo", disse o Papa Francisco no final do encontro, depois de responder individualmente a cada criança.

Um mundo mais belo e bom

Para a ocasião, foi apresentada a "Encíclica das Crianças", um livro assinado pelos franciscanos Enzo Fortunato e Aldo Cagnoli, no qual o Papa escreve no prefácio: "Queridas crianças, abraço-vos e saibam que o vosso Papa e o vosso 'avô' farão tudo o que for possível para que vivais num mundo mais belo e bom".

O mesmo grupo coordenador da iniciativa de novembro criará a base para os futuros Dias Mundiais da Criança. Comentando a decisão do Santo Padre de instituir a Jornada de forma permanente, a comissão organizadora sublinhou o espírito com que nasceu o projeto: querer imaginar com as crianças "um mundo diferente, onde haja paz, cuidado com o ambiente e opção pela fraternidade".

O autorGiovanni Tridente

Cinema

A história de Carlo Acutis, a recomendação de filme deste mês

"A pulsação do céu" e "A oferta" são as recomendações deste mês para ver no cinema ou nas plataformas audiovisuais.

Patricio Sánchez-Jáuregui-11 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: < 1 minuto

Carlo Acutis era um jovem católico italiano e web designer, mais conhecido por documentar milagres eucarísticos e aparições marianas aprovadas em todo o mundo, catalogando-os num sítio Web que criou antes de morrer precocemente de leucemia.

O bater do coração do céu

DirectorJosé María Zavala e Borja Zavala
FotografiaMiguel Gilaberte
MúsicaLuis Mas
Plataforma: Cinemas

"The Heartbeat of Heaven" é um documentário sobre a sua vida e obra. Um compêndio que nos leva ao seu universo, entrevistando a sua família, o seu pároco e as pessoas que ele mudou ao longo da sua vida, como o indiano Rajesh Mohur, membro de uma casta sacerdotal brâmane que abraçou o catolicismo graças ao exemplo quotidiano do Beato italiano.

Carlo, apóstolo da Eucaristia, dedicou anos inteiros da sua curta vida à investigação de milagres eucarísticos em todo o mundo.

Os irmãos Zavala viajam por todo o mundo para seguir o seu rasto e fornecem um vasto material inédito, entrelaçando documentário e ação animada. Desde gravações do próprio Carlo Acutis na sua voz original, até recriações da sua vida e dos seus milagres eucarísticos.

A oferta

As anedotas que rodeiam a rodagem de "O Padrinho" sempre encantaram cinéfilos e agnósticos. O conflito com a mafia, o boicote de Frank Sinatra, a capacidade de pôr de pé o projeto com uma equipa talentosa e um orçamento escasso...; é disso que se trata. A oferta.

A oferta

CriadorMichael Tolkin
ActoresMiles Teller, Matthew Goode, Dan Fogler, Burn Gorman, Colin Hanks, Giovanni Ribisi, Juno Temple
Plataforma: Sky Showtime e Paramount +

Uma série fechada das experiências nunca antes reveladas do seu produtor, Albert S. Ruddy. 10 capítulos que se podem devorar apreciando a história, os diálogos, as actuações, os figurinos ....;

Uma criação premiada que galvanizou a opinião pública e cujos fãs - incluindo eu próprio - a recomendam a todos os que a querem ouvir. Esta é uma série cuidadosamente elaborada. Uma carta de amor ao cinema.

Vaticano

"O silêncio e a sobriedade são essenciais na vida cristã", diz o Papa

No Angelus de hoje, o Papa reflectiu sobre a figura de São João Batista, o precursor do Senhor. Recordou também os prisioneiros arménios e azeris, e o sofrimento na Ucrânia, em Israel e na Palestina.

Loreto Rios-10 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

No Angelus de hoje, o Papa reflectiu sobre a figura de São João Batista, centrando-se em dois aspectos: o "deserto" e a "voz". O deserto, comentou o Papa, é um "lugar vazio, onde não há comunicação, e a voz, o meio de falar, parecem ser duas imagens contraditórias, mas no Batista estão combinadas".

Sobre o deserto, Francisco disse que "João prega ali, nas margens do rio Jordão, perto do ponto onde o seu povo, muitos séculos antes, entrou na Terra Prometida", o que tem um simbolismo: "Para escutar Deus é preciso voltar ao lugar onde durante quarenta anos ele acompanhou, protegeu e educou o seu povo, no deserto. Este é o lugar do silêncio e da essencialidade, onde não nos podemos deixar distrair por coisas inúteis, mas devemos concentrar-nos no que é indispensável à vida".

O Papa afirmou que tudo isto pode ser aplicado à nossa realidade atual: "Para prosseguir no caminho da vida é necessário despojar-se do 'extra', porque viver bem não significa encher-se de coisas inúteis, mas libertar-se do supérfluo, ir ao fundo de si mesmo, para captar o que é verdadeiramente importante diante de Deus. Só se, através do silêncio e da oração, dermos espaço a Jesus, que é a Palavra do Pai, é que saberemos libertar-nos da contaminação das palavras vãs e da conversa fiada. O silêncio e a sobriedade - nas palavras, no uso das coisas, dos media e das redes - não são apenas "ornamentos" ou virtudes, são elementos essenciais da vida cristã.

Sobre o simbolismo da "voz", o Papa disse que "é o instrumento com o qual exprimimos o que pensamos e o que trazemos no coração. Compreendemos então que ela está intimamente ligada ao silêncio, porque exprime o que amadurece no interior, a partir da escuta do que o Espírito sugere. Irmãos e irmãs, se não se sabe fazer silêncio, é difícil ter algo de bom para dizer; por outro lado, quanto mais atento for o silêncio, mais forte será a palavra. Em João Batista, essa voz está ligada à autenticidade da sua experiência e à limpidez do seu coração".

Na conclusão do Angelus, o Papa recordou que há 75 anos, a 10 de dezembro, foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. "A este respeito, estou próximo de todos aqueles que, sem proclamações, na vida concreta de cada dia, lutam e pagam pessoalmente para defender os direitos daqueles que não contam", disse Francisco.

O Papa expressou também a sua alegria "pela libertação de um número significativo de prisioneiros arménios e azeris. Vejo com grande esperança este sinal positivo para as relações entre a Arménia e o Azerbaijão, para a paz no Cáucaso do Sul, e encorajo as partes e os seus líderes a concluir o tratado de paz o mais rapidamente possível.

Francisco recordou ainda o sofrimento na Ucrânia, em Israel e na Palestina, e assegurou as suas "orações também pelas vítimas do incêndio no hospital de Tivoli, há dois dias".

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Cultura

Simbang Gabi, a devoção do Advento nas Filipinas

O "Simbang Gabi" é uma tradição filipina que consiste numa novena de missas em honra de Nossa Senhora que começa a 16 de dezembro (ou na noite de 15 de dezembro) e termina no dia 24, com a missa da meia-noite na véspera de Natal.

Gonzalo Meza-10 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

O tempo do Advento é um tempo de preparação espiritual para a celebração da Encarnação do Verbo Divino. Com esperança, alegria e certeza, os paroquianos renovam o desejo ardente da sua segunda vinda. Deste modo, o CatecismoA Igreja actualiza a expetativa do Messias.

Ao longo da história, diferentes culturas desenvolveram muitas formas de viver o tempo do Advento em preparação para a vinda de Cristo. Natal. Uma delas é a "Simbang Gabi", que significa literalmente "Missa ao amanhecer". Esta devoção, que tem as suas origens na Nova Espanha e no arquipélago das Filipinas no século XVI, chegou aos Estados Unidos com os imigrantes filipinos. É o terceiro maior grupo étnico asiático nos EUA, com cerca de 4,5 milhões de pessoas, das quais 65 % se consideram católicas. Estão presentes na maioria dos estados norte-americanos, mas sobretudo na Califórnia, no Havai e no Texas.

Significado e origens

O "Simbang Gabi" é uma novena de missas em honra de Nossa Senhora que começa no dia 16 de dezembro (ou na noite do dia 15) e termina no dia 24, com a Misa de Gallo na véspera de Natal. Esta devoção tem as suas raízes no século XVI, na Nova Espanha. Foi trazida por missionários que viajavam do México para as Filipinas, durante o tempo em que o arquipélago era governado pelo Vice-Reino da Nova Espanha.

Nos primeiros tempos, muitos dos trabalhadores que participavam no "Simbang Gabi" nas Filipinas eram agricultores ou pescadores que começavam ou acabavam o seu dia de madrugada. Por isso, esta novena de missas é celebrada de madrugada, entre as 4 e as 5 horas da manhã. Ao toque dos sinos, bandas musicais convidavam as pessoas a participar na celebração litúrgica. As famílias dirigiam-se para as igrejas iluminadas por velas colocadas dentro de pequenas lanternas ou de lanternas em forma de estrela feitas de bambu e papel colorido. Na missa, os paroquianos entravam em procissão, vestidos com os seus trajes tradicionais e transportando as lanternas, que eram depois expostas no interior das igrejas. A cerimónia incluía cânticos e expressões de fé locais.

No final da missa, as famílias e os amigos partilhavam as suas refeições, reforçando os laços espirituais e de fraternidade. Atualmente, as missas "Simbang Gabi" mantêm os elementos centrais que lhes deram origem; por exemplo, os paroquianos vêm à missa vestidos com trajes tradicionais. No início da cerimónia, há uma procissão de lanternas. A missa é celebrada em inglês, tagalo ou num dialeto e, no final da liturgia, as pessoas partilham a comida num ambiente familiar.

"Simbang Gabi" nos EUA

O "Simbang Gabi" realiza-se em dezenas de igrejas de pelo menos vinte dioceses dos Estados Unidos. Sendo uma devoção que inclui uma missa durante o tempo do Advento, os ordinários de cada diocese dos EUA emitem uma série de directrizes litúrgicas para a sua celebração. Por exemplo, a Arquidiocese de Los Angeles declara que as missas do "Simbang Gabi" nesta jurisdição devem ser celebradas em inglês e tagalo (língua das Filipinas), mas podem incluir o uso de outros dialectos falados no arquipélago, como o ilocano ou o cebuano.

Da mesma forma, a cor litúrgica será o roxo ou o rosa (no terceiro domingo do Advento) e os paramentos decorativos e a música sacra (devidamente aprovados pela autoridade eclesiástica) deverão ser sóbrios, reflectindo "o carácter do Advento, de alegria expetante em preparação para o Natal", diz a Arquidiocese de Los Angeles. Nesta arquidiocese, a primeira missa, a 15 de dezembro, será presidida pelo Arcebispo José Gómez. A cerimónia na catedral contará com a presença de delegações que representam mais de 120 paróquias de Los Angeles onde está presente a comunidade filipina. 

Esta devoção não só ajuda os paroquianos a preparar os seus corações e almas para a vinda de Cristo no Natal, como também reforça os laços de fraternidade entre a comunidade filipino-americana. É também uma oportunidade para os católicos de outras nacionalidades conhecerem a rica cultura filipina, não só através da fé, mas também através da comida, da música e dos trajes do arquipélago. 

Vocações

Frei ManuelÉ comovente ver cristãos convencidos de que a paz é possível".

Frei Manuel vive em Jerusalém, num bairro de "uma zona árabe bastante radical". No entanto, afirma que o tempo de guerra "impele-nos, com grande força, a viver algo que só é próprio do cristianismo: a cultura do perdão".

Loreto Rios-10 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 7 acta

Fray Manuel pertence ao Custódia da Terra SantaA Ordem, fundada por S. Francisco de Assis, foi encarregada pela Santa Sé de guardar os lugares que testemunharam a Encarnação de Cristo. Manuel encontra-se atualmente no santuário de Betfagésituado no Monte das Oliveiras. Deste ponto, Jesus iniciou a sua viagem para Jerusalém antes da Paixão, montado num burro e rodeado por uma multidão que o aplaudia com ramos de palmeira.

Este frade, que também residiu em Nazaré y Beit Sahour (o acampamento dos pastores a quem o anjo apareceu, perto de Belém), diz que, apesar de a guerra os ter "abalado com uma força invulgar", vêem Deus presente no meio de todas as pessoas de diferentes crenças que se reúnem para rezar pela paz.

Como foi o teu processo vocacional, onde estás agora e qual é o teu trabalho?

Há muitos anos, depois de ter terminado os meus estudos de Filologia Hispânica, pude dar um nome a um processo interior que não sabia muito bem em que consistia e como se desenvolvia. Depois de dois anos, compreendi que era possível seguir Jesus no caminho da vida consagrada, no caminho franciscano, uma vez que São Francisco desempenhou um papel essencial em todo o processo. Servi na antiga Província Bética OFM e, depois de ter vivido fortes experiências interiores com grupos de peregrinos na Terra Santa, Deus deu-me o desejo de vir à terra onde começou e terminou a nossa salvação.

Depois da união de sete províncias franciscanas na Província da Imaculada Conceição de Espanha, foi-me concedida a obediência para servir a Custódia. Vivi em Nazaré, Beit Sahour e, atualmente, estou em Jerusalém, no Monte das Oliveiras, no Santuário das Palmas, em Betfagé, que recorda o lugar de onde Jesus partiu, montado num burro, com os seus discípulos e o grupo para Jerusalém, para viver a sua paixão, morte e ressurreição.

Qual é a missão da Custódia?

No seu ministério pastoral, a Custódia da Terra Santa abrange vários campos de ação:

-Santuários e atendimento aos peregrinos: os franciscanos estão presentes em 50 santuários, lugares que recordam acontecimentos da salvação do Senhor ou fazem referência aos apóstolos ou à Sagrada Escritura; além disso, as pedras dos santuários e sua permanência ao longo dos séculos garantem a verdade histórica do que é recordado e celebrado. Os frades acolhem uma multidão de peregrinos de todo o mundo, acompanhando os grupos como assistentes espirituais, fornecendo tudo o que é necessário para as celebrações, escutando, partilhando e oferecendo um testemunho sobre o lugar que favorece o fortalecimento da fé ou a sua consolidação. Para além disso, a Custódia oferece aos peregrinos lugares para ficarem durante dias, chamados "Casa Nova": hotéis ou albergues onde podem trabalhar a partir de uma perspetiva diferente.

-Paróquias: o ministério paroquial da Custódia é exercido em 29 paróquias, sendo as mais importantes e conhecidas as de Jerusalém, Belém, Yaffo (Jaffa) e Nazaré, com igrejas na Síria e no Líbano. As paróquias árabes são uma das actividades mais importantes da Custódia; foram criadas para o cuidado pastoral dos cristãos de rito latino, uma minoria no Oriente, e com as actividades das paróquias, as pedras vivas (os cristãos locais) que mantiveram a fé ao longo dos séculos, sentem-se fortalecidos e acompanhados na sua peregrinação diária.

-Ensino, atividade artística e intelectual: a educação e a cultura são outras actividades importantes da Custódia, que tem 15 escolas chamadas "Terra Sancta College" e cerca de 10.000 alunos em centros em Israel, PalestinaJordânia, Líbano e Chipre. Nas escolas, a coexistência entre muçulmanos e cristãos, o diálogo efetivo e a aceitação mútua são procurados desde a mais tenra idade.

Esta tarefa é uma das que mais contribuem para a busca do caminho da paz, pois, a exemplo de São Francisco, nas escolas da Custódia, a paz é encontrada onde há ódio, e os caminhos são procurados onde podem ser deixados traços de harmonia. A tarefa de ensinar exige um grande esforço, porque as possibilidades económicas dos cristãos são escassas e a Custódia acolhe estes alunos gratuitamente, mesmo nos cursos que seguem a escolaridade obrigatória. Para os jovens qualificados, a Custódia concede-lhes uma bolsa de estudos para prosseguir os estudos na universidade.

Para além disso, a Custódia tem a "Studium Biblicum Franciscanum"O "Centro Muski para os Estudos Cristãos Orientais", no Cairo, e o Instituto "Magnificat", em Jerusalém, que é um conservatório aberto a cristãos, judeus e muçulmanos; a música reúne frequentemente pessoas de diferentes credos e condições, e o conservatório desenvolve um trabalho inestimável neste domínio. A Custódia dispõe também de um "Centro de Informação Cristã", que fornece a todo o mundo, através dos meios de comunicação social, a transmissão dos principais acontecimentos, notícias e tudo o que diz respeito à vida cristã na Terra Santa.

-O ministério da caridade, o trabalho social: apoiar os cristãos locais e outras pessoas que se dirigem à Caritas ou aos seus próprios centros, como lares para idosos, ou que cuidam de crianças, adolescentes e jovens de famílias desestruturadas, como é o caso da "Caritas para idosos".Casa del fanciullo"em Belém. A Custódia constrói também casas para os cristãos: o exemplo mais significativo é o do bairro de S. Francisco, em Betfagé; além disso, oferece alojamento com casas, propriedade da Custódia, a troco de uma renda simbólica, uma realidade de que beneficiam 350 famílias.

-Pastoral dos migrantes: outra realidade encontrada na área territorial da Custódia é a assistência aos católicos das Filipinas, da América Latina, da Europa de Leste e de África que vêm, sobretudo mulheres, para Israel para trabalhar. Em particular, a paróquia de Santo António de Yaffo (Jaffa) serve uma grande comunidade de filipinos, não só com celebrações litúrgicas, mas também oferecendo locais para encontros e actividades.

Através de todas estas actividades, a Custódia desenvolve um trabalho silencioso e quotidiano na procura da convivência e da paz.

Como é que é viver a fé na Terra de Jesus?

Viver a fé nos lugares que contemplaram a nossa salvação implica uma grande responsabilidade porque, por um lado, passamos ou visitamos os santuários que recordam um acontecimento de Jesus, seja ele histórico ou ressuscitado, e este facto faz-nos sentir privilegiados, já que muitos cristãos gostariam de fazer a mesma experiência e não podem; por outro lado, assumimos a responsabilidade de ser testemunhas do que vemos perante os outros, procurando sempre a coerência de vida e caminhando na verdade.

Os vestígios deixados pelo Mestre de Nazaré são intensos e basta ir ao Santo Sepulcro ou ao Calvário para reviver diariamente o grande amor com que fomos amados e para descobrir a beleza do Evangelho, uma vez que ressoam continuamente as palavras: "Porque procurais o vivo entre os mortos? Ele não está aqui, ressuscitou" (Lc 24,5-6). Este facto faz de ti um portador de esperança, um mensageiro de paz e de bondade; impele-te a caminhar com as pessoas e a despojar-te de muitas coisas para confortar, escutar e tornar credível que o Reino é uma realidade.

Fechar-me em mim mesmo, não ser acolhedor ou não partilhar a vida dos outros seria ir contra aquilo que vejo todos os dias: as pedras que me recordam as pedras vivas que constituem a Igreja, onde o Senhor continua a ensinar, a curar, a encorajar e a ter palavras de vida.

Para além da guarda dos Lugares Santos, a Custódia tem também um papel ecuménico. Que diligências foram feitas junto das outras confissões cristãs e qual é o clima atual?

Os Estatutos Particulares da Custódia da Terra Santa dedicam um capítulo inteiro ao ecumenismo e às relações com as outras religiões. Seguindo a tradição secular de tantos franciscanos que, no Médio Oriente, trabalharam incansavelmente para o encontro e o diálogo com as várias confissões cristãs, a Custódia continua o seu empenho na busca do respeito e do diálogo com as outras confissões e suas tradições.

Muitos gestos, pequenos ou mais significativos, são realizados: o acolhimento de outras confissões nos santuários e a disponibilização do espaço e dos meios necessários para as celebrações e o culto (ortodoxo e protestante); a organização de concertos, através do Instituto MagnificatAs actividades da UE nesta terra multifacetada incluem um encontro de Natal de judeus, cristãos e muçulmanos, reuniões de Natal com os patriarcas das denominações cristãs, a assinatura de documentos conjuntos e a tomada de decisões face a circunstâncias adversas, bem como uma série de outras actividades que marcam a vida quotidiana desta terra multifacetada.

Atualmente, existe um bom clima com as outras Igrejas, quer na Comissão do "Conselho Mundial das Igrejas" (CMI), quer no "Conselho Mundial das Igrejas" (CMI).Status quo"A Custódia participa também nos eventos de oração pela paz, nos quais participam fiéis, patriarcas e delegados. Finalmente, a Custódia mantém um diálogo fluido tanto com a Autoridade Palestiniana como com o Estado de Israel, pois, como se poderia dizer, estamos no mesmo barco.

Como é que se vive a vocação no meio da guerra?

A guerra abalou-nos com uma força invulgar e atirou-nos para o pior do género humano: o confronto, o ódio, a violência e a discórdia. Se Jerusalém já vive no meio de ataques, rusgas, vigilância e todas as outras medidas que se possam imaginar, durante este tempo de guerra tudo se alterou. A cultura do ódio e do medo leva-me a procurar, acima de tudo, a paz e a compreensão com todos; sei que isto é específico da nossa vocação franciscana, mas estes tempos difíceis na Terra Santa fazem com que esta dimensão se manifeste ainda mais fortemente.

Da mesma forma, a guerra leva-me a um exercício de introspeção para ver o que é realmente valioso e bom no meu coração, para conhecer as minhas zonas obscuras e para começar um exercício sério de reconciliação comigo mesmo. São Francisco dizia que se não houver paz no nosso coração, não podemos dar paz aos outros. Da mesma forma, o tempo de guerra impele-me, com grande força, a viver algo que é único no cristianismo: a cultura do perdão. Não é fácil, mas uma frase do beneditino Anselm Grün sustenta-me: "Se aceitares perdoar-te a ti próprio, perdoarás".

No meio de um conflito como o que estamos a viver, que testemunhos de esperança já experimentaram? Em que situações puderam ver a mão de Deus?

Para mim, os maiores testemunhos vieram dos encontros de oração pela paz na Terra Santa, porque vemos pessoas de diferentes credos reunirem-se com base na única coisa que é a nossa força: a oração. No meu santuário de Betfagé, que tem um bairro cristão construído pela Custódia, e que se situa numa zona árabe bastante radical, às terças, quintas e sábados reunimo-nos para rezar o terço pela paz. É comovente ver os cristãos, na sua maioria palestinianos, reunirem-se convencidos de que a paz é possível se soubermos permanecer unidos no Deus da paz e que Maria, Rainha da Paz, é a nossa força.

Vaticano

Antes do presépio, pensemos "no drama da Terra Santa", diz o Papa

O Santo Padre recebeu no Vaticano as delegações dos lugares de origem da árvore de Natal e do presépio, que este ano evocam a primeira representação natalícia criada há 800 anos por São Francisco de Assis. "Da Praça de São Pedro, pensaremos em Greccio, que por sua vez nos leva de volta a Belém", disse o Papa Francisco.

Francisco Otamendi-9 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

O presépio instalado na Praça de São Pedro pretende evocar, ao fim de oitocentos anos, o ambiente natalício do ano 1223 no Vale de Rieti, onde São Francisco parou para descansar, explicou o Papa às delegações.

"A viagem que tinha feito à Terra Santa ainda estava viva na sua mente e as grutas de Greccio lembravam-lhe a paisagem de Belém. Por isso, pediu que a cena de Natal fosse representada nessa pequena aldeia. Chegaram também várias peças e homens e mulheres das cabanas da zona, criando um presépio vivo. Assim nasceu a tradição do presépio tal como a entendemos", explicou o Pontífice.

"Este ano, portanto, a partir da Praça de São Pedro, vamos pensar em Greccio, que por sua vez nos remete para Belén"Continuou o Santo Padre. "E ao contemplar Jesus, Deus feito homem, pequeno, pobre, indefeso, não podemos deixar de pensar no drama que os habitantes da Terra Santa estão a viver, manifestando a nossa proximidade e o nosso apoio espiritual a estes nossos irmãos e irmãs, especialmente às crianças e aos seus pais. São eles que pagam o verdadeiro preço da guerra.

Silêncio e oração. "Maria é o nosso modelo".

Em frente ao cada berçoMesmo através dos acontecimentos nas nossas casas, revivemos o que aconteceu em Belém há mais de dois mil anos, sublinhou o Papa. "Isto deve despertar em nós o desejo de silêncio e de oração na nossa vida quotidiana, muitas vezes agitada. Silêncio, para podermos escutar o que Jesus nos diz a partir daquela "cadeira" única que é a manjedoura. 

"Oração, para exprimir o espanto agradecido, a ternura, talvez as lágrimas que o presépio suscita em nós. E em tudo isto, Maria é o nosso modelo: ela não diz nada, mas contempla e adora", continuado Francisco. "Na praça, junto ao presépio, está a árvore, cujas luzes serão acesas esta noite, no final da cerimónia. Está decorada com edelvais cultivados nas planícies, para proteger os que crescem nas altas montanhas. É também uma escolha que suscita a reflexão, sublinhando a importância de cuidar da nossa casa comum: os pequenos gestos são essenciais na conversão ecológica, gestos de respeito e de gratidão pelos dons de Deus".

100 presépios no Vaticano

Ontem à tarde foi inaugurada a exposição internacional "100 presépios no Vaticano", um dos eventos preparatórios para o Jubileu 2025, no âmbito da iniciativa "Jubileu é Cultura". A inauguração contou com a presença de Monsenhor Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, do Embaixador de Itália junto da Santa Sé, Francesco di Nitto, do Padre Massimo Fusarelli, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, e do Presidente da Câmara de Greccio, Emiliano Fabi.

A exposição, que inclui mais de 120 presépios de 22 países diferentes, comemora o 800º aniversário do presépio que São Francisco criou no Natal de 1223, dando início à tradição dos presépios, como explicou o Papa.

O autorFrancisco Otamendi

Vaticano

Francisco confia à Imaculada Conceição as mães que sofrem com a guerra

O Papa Francisco rezou ontem na Escadaria de Espanha, em Roma, à Imaculada Conceição e confiou-lhe a dor das mães que choram os seus filhos mortos pela guerra e pelo terrorismo, e de todas as mulheres vítimas de violência.

Francisco Otamendi-9 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Após duas semanas de atividade reduzida devido a uma inflamação pulmonar, o Papa deixou ontem o Vaticano. Antes de se dirigir à Escadaria Espanhola, no centro da capital italiana, para rezar aos pés da estátua da Virgem Maria, o Papa parou na Basílica de Santa Maria Maggiore para venerar o ícone da Virgem Maria. Salus Populi Romani y oferecer-lhe a Rosa de Ouro, símbolo da bênção papal

Depois, na oração tradicional, pediu ao Virgem Imaculada para voltar o seu "olhar de misericórdia para todos os povos oprimidos pela injustiça e pela pobreza, provados pela guerra: "Mãe, olha para o povo atormentado da Ucrânia, para o povo palestiniano e para o povo israelita, mais uma vez mergulhados na espiral da violência".

"Mostra-nos de novo, ó Mãe, o caminho da conversão, porque não há paz sem perdão e não há perdão sem arrependimento", rezou o Pontífice. "O mundo muda se os corações mudarem; e todos devem dizer: a começar pelo meu.

Este é o texto completo da oração do Papa no lei de veneração da Imaculada Conceição na Praça de Espanha:

Oração do Santo Padre à Imaculada Conceição em Roma

"Virgem Imaculada!

Dirigimo-nos a ti com o coração dividido entre a esperança e a angústia.

Precisamos de ti, nossa Mãe.

Mas, antes de mais, queremos agradecer-vos

porque silenciosamente, como é vosso estilo, vigiais esta cidade

que hoje te embrulha em flores para te dizer o seu amor.

Silenciosamente, dia e noite, velais por nós:

sobre as famílias, com as suas alegrias e preocupações - sabe-o bem;

nos locais de estudo e de trabalho; nas instituições e nos serviços públicos;

nos hospitais e asilos; nas prisões; nas pessoas que vivem na rua;

nas paróquias e em todas as comunidades da Igreja de Roma.

Obrigado pela vossa presença discreta e constante

que nos dá conforto e esperança.

Precisamos de ti, mãe,

porque tu és a Imaculada Conceição.

A sua pessoa, o próprio facto da sua existência

lembra-nos que o mal não tem nem a primeira nem a última palavra;

que o nosso destino não é a morte, mas a vida,

não o ódio, mas a fraternidade, não o conflito, mas a harmonia,

não é a guerra, mas a paz.

Olhando para vós, somos confirmados nesta fé

que os acontecimentos por vezes põem à prova.

E tu, Mãe, volta os teus olhos de misericórdia

a todos os povos oprimidos pela injustiça e pela pobreza,

Testado em guerra: Mãe, olha para o povo atormentado da Ucrânia,

o povo palestiniano e o povo israelita,

mergulharam de novo na espiral de violência.

Hoje, Santa Mãe, trazemos aqui sob o teu olhar

a tantas mães que, como vós, estão de luto.

Mães em luto pelos seus filhos mortos pela guerra e pelo terrorismo.

As mães que os vêem partem em viagens de esperança desesperada.

E o mesmo acontece com as mães que tentam libertá-los dos laços da dependência,

e aqueles que os assistem durante uma longa e dura doença.

Hoje, Maria, precisamos de ti como mulher,

confiar-vos todas as mulheres vítimas de violência

e aqueles que ainda são vítimas do mesmo,

nesta cidade, em Itália e em todo o mundo.

Conhecemo-los um a um, conhecemos os seus rostos.

Por favor, enxuguem as suas lágrimas e as dos seus entes queridos.

E ajuda-nos a fazer um caminho de educação e de purificação,

reconhecer e combater a violência à espreita

nos nossos corações e mentes

e pedir a Deus que nos livre dela.

Mostra-nos de novo, ó Mãe, o caminho da conversão,

porque não há paz sem perdão

e não há perdão sem arrependimento.

O mundo muda se os corações mudarem;

e todos deveriam dizer: a começar pelo meu.

Mas só Deus pode mudar o coração humano

com a sua graça: a graça em que tu, Maria,

é-se imerso desde o primeiro momento.

A graça de Jesus Cristo, nosso Senhor,

a quem geraste na carne,

que morreu e ressuscitou por nós, e que nos indicais sempre.

Ele é a salvação, para cada homem e para o mundo.

Vem, Senhor Jesus!

Venha a nós o vosso reino de amor, de justiça e de paz.

Amém."

O autorFrancisco Otamendi

Mundo

Etiópia: Pátria da Humanidade (II)

Nesta segunda parte de uma série de duas partes sobre a Etiópia, Ferrara apresenta-nos o cristianismo, a cultura e a influência judaica na Etiópia.

Gerardo Ferrara-9 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 7 acta

Tal como referido no artigo anterior, a Etiópia tem várias línguas semíticas com características distintas. A mais antiga e mais conhecida é a língua litúrgica e literária da Igreja Ortodoxa Tawahedo da Etiópia, o Ge'ez. Trata-se de uma língua semítica sul-arábica aparentada com o Sabaean e escrita com um alfabeto também chamado Ge'ez (comum às línguas amárico, tigrínia e tigrina, seus descendentes directos, bem como a outras línguas etíopes).

Uma cultura única

O Ge'ez parece derivar de uma língua ainda mais antiga, falada no reino de D'mt, diretamente relacionada com o Sabaean e escrita no mesmo alfabeto Sudarabic Musnad. Atualmente, está praticamente extinta na forma falada, tendo sido substituída pelo amárico (a língua oficial federal da Etiópia), pelo tigrínia, pelo tigrino e por outras línguas semíticas, enquanto a outra língua muito falada na Etiópia é o oromo (a língua cushitica do povo oromo, o grupo étnico maioritário no país). O árabe, o somali, as línguas semíticas como o gauguaz e outras estão também presentes, perfazendo um total de mais de 90 línguas e 100 grupos étnicos.

A maioria da população é cristã (mais de 62%), maioritariamente adepta da Igreja Ortodoxa de Tawahedo. Em contrapartida, um terço da população pertence ao Islão, que já tinha chegado à região durante a vida de Maomé (é célebre o episódio do acolhimento, pelo rei de Aksum, Ashama, de algumas dezenas dos seus companheiros perseguidos em Meca pelos pagãos).

Também é famosa a presença de uma comunidade judaica muito antiga, os Beta Israel (também conhecidos como Falashah), cujas origens se perdem no tempo e que foram quase completamente evacuados da Etiópia. De facto, durante a época do DERG, devido à fome, à discriminação e à violência governamental, os Beta Israel migraram para o Sudão, onde também encontraram um governo hostil. Sobrelotados em campos de refugiados e morrendo às centenas nas longas travessias do deserto entre a Etiópia e o Sudão, Israel organizou uma série de missões secretas entre as décadas de 1980 e 1990, denominadas Operação Moisés, Operação Josué e Operação Salomão, nas quais cerca de 95.000 judeus etíopes, 85% da comunidade, foram transportados por via aérea. Atualmente, 135.000 judeus etíopes vivem em Israel (que também foram alvo de discriminação ao longo dos anos) e cerca de 4.000 na Etiópia.

Outro fenómeno religioso interessante no país é o dos rastafarianos (mencionado no artigo anterior), que, embora aceitem os livros sagrados e a doutrina da Igreja Ortodoxa Etíope, veneram a figura de Haile Selassie como "Jesus na sua segunda vinda em glória". Esta doutrina teve origem sobretudo como uma forma de nacionalismo "etíope" e evoluiu através da pregação do seu líder e fundador, o jamaicano Marcus Mosiah Garvey (1887-1940), difundindo-se mundialmente sobretudo através da música reggae de outros jamaicanos, Bob Marley (1945-1981) e Peter Tosh (1944-1987).

Os rastafarianos têm um profundo respeito pelas outras religiões, embora rejeitem o politeísmo, e acreditam que Haile Selassie I não morreu, mas simplesmente se escondeu voluntariamente dos olhos da humanidade.

Cristianismo na Etiópia

A maioria dos cristãos etíopes professa a fé ortodoxa tawahedo. Por ortodoxos, quando falamos de Igrejas cristãs, e não apenas de Igrejas arménias, coptas, etíopes ou outras, não nos referimos aos ortodoxos bizantinos, mas à denominação que uma determinada Igreja dá a si própria. De facto, o termo "Ortodoxia", de origem grega, significa literalmente "doutrina correcta". Podemos, portanto, dizer que cada Igreja cristã se autodenomina "ortodoxa", em referência às outras, que são consideradas "heterodoxas", ou seja, parcialmente em erro em relação à reta doutrina.

A palavra ge'ez "tawahedo" (ተተዋሕዶ: "feito um", "unificado") refere-se à doutrina miafisita que sanciona a natureza única e unificada de Cristo, ou seja, a união completa da natureza humana e divina (não misturada, mas não separada). Neste caso, fala-se de união "hipostática". A doutrina miafisita não-calcedoniana opõe-se à doutrina diafisita calcedoniana (católica, ortodoxa, protestante), que professa a coexistência de duas naturezas em Cristo, humana e divina. Tal como referido nos artigos sobre os cristãos arménios e CoptasA separação entre as igrejas calcedonianas e não calcedonianas centrou-se precisamente na questão cristológica, ou seja, a natureza de Cristo, sobre a qual o Concílio de Calcedónia, em 451, se pronunciou.

A Igreja Ortodoxa Etíope Tawahedo da Etiópia é, por conseguinte, uma Igreja não-calcedoniana, ou seja, não reconhece os decretos do Concílio de Calcedónia. Desde as suas origens, com o abuna (bispo) Frumentius, no século IV d.C., esteve estreitamente ligada à Igreja do Egipto, uma vez que o próprio Frumentius foi consagrado bispo e enviado para a Etiópia pelo Patriarca de Alexandria, Atanásio. Atualmente, tem cerca de 50 milhões de adeptos, sobretudo na Etiópia, e é a maior de todas as Igrejas Orientais não calcedonianas, incluindo a Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, a Igreja Apostólica Arménia, a Igreja Ortodoxa Siro-Ortodoxa, a Igreja Ortodoxa Siro-Malankar da Índia e as Igrejas Ortodoxas Tawahedo da Etiópia e da Eritreia.

Segundo a tradição etíope, o cristianismo entrou no país já no século I d.C., com a rainha Candace, eunuco oficial, baptizada por Filipe, mencionada nos Actos dos Apóstolos. Esta rainha Candace existiu de facto: Gersamot Händäke VII, rainha da Etiópia em meados do século I d.C.

No entanto, vimos que o cristianismo se tornou a religião do Estado em 400 d.C., quando o jovem rei axumita Ezanà foi convertido por Frumêncio, que mais tarde se tornou o primeiro bispo da Etiópia (segundo Rufino na sua "História Eclesiástica"). Desde então, até ao início do século XX, cabia ao Patriarca de Alexandria (papa da Igreja Ortodoxa Copta do Egipto) nomear o arcebispo etíope (arquieparca) e o primaz da Igreja de Tawahedo era um copta egípcio. A Igreja etíope obteve então a autocefalia.

As fortunas das duas Igrejas, etíope e egípcia, continuaram a entrelaçar-se mesmo sob o domínio islâmico, ao ponto de, em 1507, o imperador da Etiópia ter procurado e obtido a ajuda de Portugal contra os muçulmanos que pretendiam conquistar o país. Mais tarde, foi a vez dos jesuítas entrarem no Império Abissínio, encontrando forte oposição dos locais.

Sempre se opuseram fortemente à influência estrangeira, de tal forma que, em 1624, o imperador Susenyos converteu-se ao catolicismo em troca de apoio militar de Portugal e Espanha e obrigou os seus súbditos a fazerem o mesmo, pelo que foi forçado a abdicar e, em 1632, o seu filho Fasilides reconverteu-se à ortodoxia copta e restaurou-a como religião do Estado, banindo os europeus, incluindo os jesuítas, dos seus territórios e queimando todos os livros católicos. Durante séculos, não foi permitida a entrada de estrangeiros no império.

A Igreja Ortodoxa Tawahedo e a Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria só se "separaram" em 1959, quando o Papa Cirilo de Alexandria coroou Abuna Basilios como primeiro Patriarca da Etiópia. A Igreja Tawahedo da Eritreia também se separou da Igreja da Etiópia em 1993, com a independência da Eritreia da Etiópia.

Atualmente, os cristãos tawahedo etíopes são cerca de 50 milhões na Etiópia, juntamente com 12 milhões de protestantes e uma pequena minoria de católicos. Concentram-se principalmente no norte, no sul e no centro do país (na Abissínia histórica, berço do reino Axumita e do Império Etíope). Por outro lado, um terço dos etíopes são muçulmanos, embora o Islão praticado na Etiópia seja também muito peculiar, tendo sido isolado durante séculos sob a égide dos imperadores da Etiópia e da sua xenofobia e tendo tomado emprestados muitos elementos do cristianismo. Por outro lado, o cristianismo etíope é também fortemente influenciado pelo judaísmo e vice-versa.

Influência judaica

A influência judaica, embora não se manifeste obviamente na veneração da Trindade (em ge'ez: Selassie), da Virgem Maria e dos santos, é particularmente evidente no culto. De facto, apenas os sacerdotes podem entrar no sancta sanctorum (tabòt, ou seja, "arca") da Igreja durante a celebração, enquanto a maioria dos fiéis permanece fora do recinto sagrado.

É também evidente no valor atribuído às práticas e ensinamentos do Antigo Testamento, como a observância do Shabbat, juntamente com o domingo, as regras alimentares do tipo kashrùt e a proibição da carne de porco, a proibição de as mulheres entrarem na igreja durante o seu ciclo menstrual e a exigência de cobrirem sempre a cabeça com um pano chamado shamma, bem como de ocuparem um lugar separado dos homens.

Além disso, atribui-se grande importância à pureza ritual: só recebem a Eucaristia os fiéis que se sentem puros, que jejuaram (o jejum ritual consiste num programa de abstinência periódica de carne e de produtos animais e/ou de atividade sexual durante um período total de 250 dias por ano, com base na escolha autónoma dos fiéis ou imposta pela liturgia) e que mantiveram uma conduta conforme aos mandamentos da Igreja. Assim, geralmente só as crianças e os idosos recebem a comunhão, enquanto as pessoas em idade sexual se abstêm normalmente da comunhão.

Algumas curiosidades

Tal como os muçulmanos fazem quando entram numa mesquita, os fiéis cristãos etíopes tiram os sapatos quando entram numa igreja. Também beijam o chão em frente à porta, pois a igreja é um lugar sagrado. Em comparação com outras igrejas cristãs, é dada mais importância à prática do exorcismo, efectuada em reuniões especiais da igreja.

A língua litúrgica continua a ser o Ge'ez (que é um pouco como o latim para os católicos), embora desde o século XIX, e especialmente no tempo de Haile Selassie, o Cânone das Escrituras tenha sido traduzido para amárico e outras línguas comuns, que também são utilizadas para sermões e homilias. O Cânone é constituído pelos mesmos livros que as outras igrejas cristãs, com a adição de alguns livros típicos, como Enoque, os Jubileus e o I, II e III Meqabyan (Macabeus Etíopes).

A peregrinação é também de grande importância, especialmente para Aksum, a cidade mais sagrada da Etiópia, e Lalibela, famosa pelas suas igrejas monolíticas (esculpidas num único pedaço de rocha), que são normalmente construídas de cima para baixo no solo, pelo que não são visíveis do exterior.

Uma última curiosidade é a tradição etíope segundo a qual a Arca da Aliança se encontra no interior da Capela Tabot, em Aksum, à qual só os sacerdotes têm acesso, pelo que, até agora, mais ninguém teve a oportunidade de ver e analisar o objeto sagrado.

O autorGerardo Ferrara

Escritor, historiador e especialista em história, política e cultura do Médio Oriente.

Mundo

"O Evangelho mostra-nos a coragem de Maria", diz o Papa

Muitas pessoas prestaram homenagem à Imaculada Conceição hoje em Roma. Entre elas, o Papa Francisco rezará esta tarde diante da estátua de Nossa Senhora na Piazza di Spagna, inaugurada por Pio IX em 1857. O Papa também reflectiu brevemente sobre a figura de Maria no Angelus.

Loreto Rios-8 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

Hoje é a festa da Imaculada Conceição de Maria e muitas pessoas deslocaram-se à Escadaria de Espanha, em Roma, para venerar a estátua da Virgem Maria, inaugurada por Pio IX em honra da Imaculada Conceição, alguns anos depois proclamação do dogma.

Esta manhã, o Papa rezou o Angelus na Praça de São Pedro, no qual recordou que o anjo Gabriel, ao saudar a Virgem na Anunciação, não a chama "Maria": "Não a chama pelo seu nome, Maria, mas por um nome novo que ela não conhecia: cheio de graça. Cheia de graça e, portanto, vazia de pecado, é o nome que Deus lhe dá e que hoje celebramos. (...) Conservar a nossa beleza tem um custo, tem uma luta. De facto, o Evangelho mostra-nos a coragem de Maria, que disse "sim" a Deus, que escolheu correr o risco de Deuse a passagem do Génesis sobre o pecado original fala-nos de uma luta contra o tentador e as suas tentações". 

O Papa recordou também as vítimas dos países devastados pela guerra e pediu o dom da paz.

Roma presta homenagem à Imaculada Conceição

Estão também previstas outras homenagens à Mãe de Deus ao longo do dia: às 15h30, Francis para doar uma Rosa de Ouro à imagem da Virgem Salus Populi Romani.

Em seguida, por volta das 16 horas, o Papa deslocar-se-á à Escadaria de Espanha, em Roma, para venerar a imagem de Nossa Senhora, uma tradição que remonta a 1857, quando o Papa Pio IX inaugurou esta estátua em homenagem à Imaculada Conceição.

A coluna do monumento tem 12 metros de altura e foi concebida pelo arquiteto Luigi Poletti. No topo, encontra-se a estátua de bronze da Madonna, criada pelo escultor Giuseppe Obici.

À sua chegada, Francisco será recebido pelo Cardeal Angelo De Donatis e pelas autoridades civis, rezará diante da estátua e depositará flores aos seus pés.

Esta estátua recebe numerosas visitas ao longo do dia 8 de dezembro, tanto de particulares como de organizações. Em primeiro lugar, como é tradição, os bombeiros vêm à Praça de Espanha às 7 horas da manhã, pois foram eles que inauguraram o monumento em 1857. A Ordem de Malta, o Corpo de Gendarmaria do Vaticano e o embaixador de Espanha junto da Santa Sé, entre outros, também lhe prestam homenagem.

Por seu lado, a Basílica dos Doze Santos Apóstolos conserva a mais antiga novena da Imaculada Conceição de Roma. Hoje, para a conclusão da novena, o Cardeal Giovanni Battista Re celebrará a Missa.

"100 presépios no Vaticano".

Esta tarde será também inaugurada a exposição internacional "100 Presépios no Vaticano", um dos eventos preparatórios do Jubileu 2025, no âmbito da iniciativa "Jubileu é Cultura". A inauguração contará com a presença de Monsenhor Rino Fisichella, proprefeito do Dicastério para a Evangelização, e do embaixador de Itália junto da Santa Sé, Francesco di Nitto.

O evento contará também com a presença do Padre Massimo Fusarelli, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, e do Presidente da Câmara de Greccio, Emiliano Fabi.

A exposição, que inclui mais de 120 presépios de 22 países diferentes, comemora o 800º aniversário do presépio que São Francisco criou no Natal de 1223 na aldeia de Greccio, a poucos quilómetros de Rieti, e que marcou o início da tradição dos presépios.

Evangelização

A Imaculada Conceição de Maria: origens e tradição

Em 1854, o Papa Pio IX proclamou a Imaculada Conceição como dogma de fé. No entanto, esta doutrina tem as suas raízes na tradição da Igreja e tem sido adoptada pelos cristãos desde a antiguidade.

Loreto Rios-8 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 4 acta

A Imaculada Conceição é uma antiga festa da Igreja que se celebra a 8 de dezembro. A seguir, revemos as principais características desta festa, a origem do dogma e a razão pela qual Espanha tem tido uma relação especial com esta doutrina.

A festa

A Imaculada Conceição refere-se à A conceção de Maria no seio de Santa Ana: por uma graça especial, Maria foi concebida sem o pecado original, com o qual toda a pessoa nasce por causa de Adão. Esta doutrina não tem nada a ver com a conceção virginal de Jesus no seio de Maria, ao contrário do que muitas pessoas ainda acreditam. Esta doutrina não tem nada a ver com a conceção virginal de Jesus no ventre de Maria, ao contrário do que muitas pessoas ainda acreditam.

Precisamente porque se refere à conceção de Maria (e não de Jesus), esta festa é celebrada desde a antiguidade a 8 de dezembro, nove meses antes da festa da Natividade de Maria, que é comemorada a 8 de setembro.

A cor da festa é o azul celeste. Embora a data coincida sempre com o tempo do Advento, a Espanha e os países hispânicos podem celebrar este dia com o azul claro como cor litúrgica, graças a um privilégio especial concedido pelo Papa Pio IX em 1864 (Decreto 4083 da Sagrada Congregação dos Ritos).

Em Espanha, é um dia santo obrigatório, uma vez que a Imaculada Conceição é a padroeira de Espanha (ao contrário da Virgen del Pilar, que é a padroeira de Espanha).

Dogma

A 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX proclamou a Imaculada Conceição como dogma de fé. Embora não tivesse sido proclamada como dogma até então, era uma doutrina em que a Igreja acreditava desde os primórdios do cristianismo e, de facto, desde a antiguidade existiam confrarias, congregações, mosteiros e templos com este nome, bem como diferentes padroados da Imaculada Conceição.

A proclamação do dogma foi feita através da carta apostólica "...".Ineffabilis Deus". Como Pio IX assinalou neste texto, "a Igreja Católica, que, instruída pelo Espírito de Deus, é a coluna e o fundamento da verdade, sempre teve como divinamente revelada e como contida no depósito da revelação celeste esta doutrina sobre a inocência original da augusta Virgem, que está tão perfeitamente em harmonia com a sua maravilhosa santidade e com a sua eminente dignidade de Mãe de Deus; E como tal não cessou de a explicar, de a ensinar e de a favorecer cada dia mais, de muitas maneiras e com actos solenes".

Pio IX recordou também na "Ineffabilis Deus" que no Concílio de Trento (1545-1563), ao definir o dogma do pecado original, que afecta todos os homens, foi especificado que a Virgem Maria não estava incluída neste "todos".

A Imaculada Conceição e Espanha

O Papa Clemente XIII declarou a Imaculada Conceição padroeira de Espanha em 1760, através da bula "Quantum Ornamenti", a pedido do rei Carlos III. O rei ratificou-o através da lei "Padroado Universal de Nossa Senhora da Imaculada Conceição em todos os Reinos de Espanha e das Índias". Esta data não marca o início da relação da Imaculada Conceição com Espanha, pois esta era uma festa importante desde há séculos.

João Paulo II, numa homilia proferida em Saragoça a 6 de novembro de 1982Recordou os esforços da Espanha ao longo da história para a proclamação do dogma: "Na vossa história, o amor mariano foi o fermento do catolicismo. Impulsionou o povo espanhol a uma firme devoção e à defesa intrépida da grandeza de Maria, especialmente na sua Imaculada Conceição".

De facto, na carta apostólica "Ineffabilis Deus", o Papa Pio IX recordou um texto do Papa Alexandre VII (1599-1667) em que este falava da doutrina da Imaculada Conceição e da obra de um determinado rei de Espanha, Filipe IV: "Portanto, aceitando as petições e súplicas que nos foram apresentadas pelos referidos bispos, pelos capítulos das suas igrejas e pelo rei Filipe e os seus reinos, renovamos as constituições e decretos emitidos pelos nossos predecessores, os Romanos Pontífices, e especialmente por Sisto IV, Paulo V e Gregório XV, em defesa da sentença que sustenta que a alma da Santíssima Virgem Maria , na sua criação e infusão no corpo, teve o dom da graça do Espírito Santo e foi preservada do pecado original, e em favor da festa e do culto da conceção da mesma Virgem Mãe de Deus, entendida segundo a piedosa sentença acima exposta, e ordenamos que estas constituições e decretos sejam observados na sua totalidade, sob pena de incorrer nas censuras e outras penas previstas nestas constituições".

A Espanha sempre foi um país com uma tradição marcadamente mariana, mas a devoção à Imaculada Conceição também tem raízes históricas.

O milagre do Empel

"Em 1585, quatro mil bravos soldados espanhóis escaparam por pouco à aniquilação total". Assim começa um artigo do Museu da Academia Militar Holandesaescrito pelo Dr. C. M. Schutten.

O milagre ocorreu durante a Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648), mais concretamente em 1585, quando parte da população holandesa se revoltou contra o Império Espanhol. O curioso do episódio do milagre de Empel é o facto de ter sido reconhecido não só pelos católicos, mas também pelos protestantes, embora estes últimos o tenham considerado "uma infeliz coincidência", segundo Schutten.

A história passa-se na ilha de Bommel, entre os rios Mosa e Waal. O exército rebelde destruiu alguns diques, o que inundou toda a zona e a companhia do mestre de campo Francisco Arias de Bobadilla ficou encurralada na colina de Empel. A companhia do mestre de campo Francisco Arias de Bobadilla ficou encurralada na colina de Empel, cercada por navios inimigos e parecia não ter saída.

Os soldados começaram a cavar trincheiras para resistir e morrer a combater (decidiram fazê-lo, pois parecia não haver hipótese de sair com vida). Durante a escavação, um dos soldados encontrou uma imagem da Imaculada Conceição enterrada. Como era 7 de dezembro de 1585, véspera da festa, a companhia interpretou o facto como um sinal e encomendou-se à Virgem.

Nessa noite, um vento repentino e gelado congelou as águas à volta de Empel. Este facto impediu o avanço dos navios rebeldes, que tiveram de recuar para não encalharem. "Quando os rebeldes estavam a passar rio abaixo com os seus navios, disseram aos espanhóis, na língua castelhana, que só podia ser que Deus fosse espanhol, porque tinha feito um grande milagre com eles, explica o capitão Alonso Vázquez (c. 1556-1615) em "Os acontecimentos da Flandres e da França no tempo de Alexandre Farnese".

Atualmente, ainda existe uma capela católica em Empel para comemorar este milagre. Em 1892, a rainha Maria Cristina declarou a Imaculada Conceição como padroeira da infantaria espanhola, embora de facto já fosse considerada como tal.

Recursos

Neste Advento, não se esqueça do significado do Natal

Damian O'Connell, da Catedral de St Patrick, escreve esta carta aos leitores do Omnes, convidando-os a recuperar o verdadeiro significado do Advento e do Natal.

Damian O'Connell-7 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

Caros leitores,

O que é que esperamos do Advento? O que é que pensamos que está para vir? 

Quando éramos crianças, vivíamos as quatro semanas que antecediam o Natal como um período de ansiosa antecipação da próxima celebração do nascimento de Cristo. A coroa do Advento e o calendário do Advento, a preparação de pães especiais e de biscoitos de Natal aumentavam a nossa expetativa da celebração que se aproximava e eram marcos num tempo que parecia não ter fim.

Como adultos, aprendemos que o Advento é mais do que um simples preparação para a celebração de um acontecimento passado: o nascimento de Cristo. É também um momento para voltarmos a nossa atenção para a preparação da futura vinda de Cristo em glória. Porque a fé da Igreja é que aquele que veio até nós como a pobre criança sem lar de Belén voltará como o Senhor triunfante de toda a criação.

O Advento é, pois, um período que olha para trás e recorda o anseio histórico pela vinda de Cristo e o acontecimento do seu nascimento. O Advento também olha com fé para o futuro, para o regresso e a glória de Cristo. Durante as quatro semanas do Advento, recordamos as acções de Deus ao longo da história humana que prepararam a vinda do Salvador e aguardamos com expetativa que as histórias se completem com o regresso do Salvador.

A presença de Deus no Advento

O Advento é uma das nossas épocas preferidas do ano. A sua música, as suas cores, os seus tons menores e sombrios, as suas vistas, sons e cheiros têm um grande poder evocativo. Embora nem todas as promessas de Deus tenham ainda sido cumpridas neste tempo de Advento, temos a convicção sincera de que, mesmo na experiência da incompletude, as grandes promessas de Deus serão cumpridas.

Além disso, é um tempo cheio de sinais seguros e de esperança confiante de que o Natal chegará; e com o Natal a promessa de Deus nascerá entre nós. Em todos os anos da nossa vida, essa esperança nunca foi defraudada. O Natal chegou sempre.

Chegou o momento de decidirmos agir de acordo com a nossa fé e desempenhar o nosso papel na missão de Jesus em prol do mundo. Unidos a Jesus, somos os instrumentos de Deus para levar a paz e a alegria do Reino de Deus a todos aqueles cujas vidas tocamos.

Chegou o momento de reconhecer que não somos nós que esperamos que Deus actue. É Deus que está à espera que o deixemos agir. Não esperemos nem mais um momento.

O autorDamian O'Connell

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Evangelização

A vigilância na expetativa, com a Virgem Maria e São João: o prefácio do Segundo Advento

Na liturgia do Advento, o Prefácio II da Santa Missa prepara a primeira vinda de Cristo e recorda as figuras que o esperaram na história. Um lugar central é ocupado por Maria, sua Mãe, e João Batista.

Giovanni Zaccaria-7 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

De 17 a 24 de dezembro, próximo da celebração litúrgica da NatalA Igreja convida-nos a rezar com um prefácio específico, o Prefácio II do Advento, que sublinha a contemplação dos acontecimentos que rodeiam a primeira vinda de Cristo, convidando o povo de Deus à vigília alegre e à exultação no louvor.

"Quem prædixérunt cunctórum præcónia prophetárum, Virgo Mater ineffábili dilectióne sustínuit, Ioánnes cécinit affutúrum et adésse monstrávit. Qui suæ suæ nativitátis mystérium tríbuit nos præveníre gaudéntes, ut et in oratióne pervígiles et in suis invéniat láudibus exsultántes".

"Aquele que todos os profetas anunciaram, a Virgem aguardava com inefável amor materno; João anunciou-o já próximo e depois apontou-o entre os homens. O próprio Senhor nos concede agora que nos preparemos com alegria para o mistério do seu nascimento, a fim de que, quando ele vier, nos encontremos vigilantes na oração e cantando o seu louvor".

Trata-se de um texto de composição recente, baseado num prefácio muito antigo, datado dos séculos IV-V e conservado no Sacramentário Veronês. Alguns elementos deste texto antigo foram acrescentados a outros provenientes de outras fontes, formando um texto muito belo e equilibrado.

É composto por duas partes; a primeira tem como sujeito Cristo, que é objeto das proclamações dos profetas ("cunctorum praeconia prophetarum"), objeto do amor inefável da Virgem, que o espera e o traz dentro de si, e objeto da pregação de João Batista, que tinha também a tarefa de o indicar como o Cordeiro que tira o pecado do mundo (cfr. Jo 1, 29).

Compêndio da História da Salvação

Também aqui, tal como no prefácio do primeiro Advento, nos encontramos perante uma espécie de compêndio da história da salvação, que é resumida através de alguns pontos particularmente esclarecedores.

A preparação para a vinda de Cristo na carne começa com os profetas, como nos recorda a Carta aos Hebreus: "Deus falou antigamente aos pais, de muitas e variadas maneiras, pelos profetas. Nesta última fase, falou-nos pelo Filho" (Heb 1,1-2). As primeiras leituras da Missa dos dias 17 a 24 de dezembro contêm perícopes proféticas, como a famosa profecia de Is 7,14 ("Eis que a Virgem está grávida e dá à luz um filho, a quem porá o nome de Emanuel"), mas também o nascimento de figuras que são tipos de Cristo, como Sansão, Samuel, etc. A história humana do Filho de Deus insere-se numa história antiga, caracterizada pela expetativa do Messias.

Dentro desta história de espera, um lugar de destaque é ocupado pela Virgem Mãe: nem sequer é necessário dizer o seu nome, pois neste ser a sempre Virgem Mãe de Deus é a figura da grandeza de Maria, que com indizível amor se dispôs a suportar o doce fardo da gravidez para dar à luz o Messias.

Por fim, em último lugar entre os profetas da Antiga Aliança, é mencionado João Batista, que com a sua profecia (cf. Mt 3,11) e a sua indicação de Cristo presente no mundo (cf. Jo 1,29-31.34) encerra ao mesmo tempo o tempo antigo e inaugura o novo.

A segunda parte do prefácio, pelo contrário, é caracterizada por Cristo como sujeito, e o tema dominante é a preparação para o acolhimento de Cristo pelo seu povo. Passa-se, assim, da contemplação da expetativa histórica do Messias para uma indicação da atitude própria de quem espera hoje a celebração litúrgica da vinda do Salvador. O tema da vigilância volta aqui, como no Prefácio do Advento I, mas aqui a tónica é posta na oração que deve acompanhar a espera (cf. 1Pd 4,7) e está presente também o tema da alegria, típica do tempo do Natal (cf. Lc 2,10).

O autorGiovanni Zaccaria

Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma)

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Três sábios medievais e a existência de Deus

Neste artigo, o autor passa em revista três figuras: Anselmo de Cantuária, Ricardo de S. Vítor e Tomás de Aquino, exemplos de uma vasta cultura e de uma fé forte.

7 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 6 acta

Anselmo de Cantuária, Ricardo de S. Victor e Tomás de Aquino são três exemplos de inteligência, estudo, raciocínio e fé que deram origem a escolas de pensamento distintas e cuja influência atravessa a história até aos nossos dias.

Anselmo de Cantuária

Anselmo de Cantuária nasceu em Aosta (norte de Itália) em 1033 ou 1034. Filho de pais nobres, descendentes de um povo germânico, os Longobardos; após a morte da sua piedosa mãe, começou uma vida dissipada e teve um conflito com o pai que o levou a abandonar a casa paterna. Atraído pela fama de Lancfranco, professor de uma escola na Normandia, juntou-se à escola e, em 1060, entrou como monge na abadia normanda de Bec. Em 1078, foi eleito abade de Bec, sucedendo a Lanfranc. Em 1093, foi ordenado arcebispo de Cantuária, onde morreu em 1109.

Seguindo os passos de Agostinho, definiu a teologia como a fé que procura compreender. É mais conhecido pelo seu famoso argumento, que se encontra no início da sua obra Proslogion e que foi qualificado por Kant como ontológico, porque procura demonstrar a existência de Deus a partir da própria ideia de Deus, sem recorrer à criação, à Sagrada Escritura ou à tradição patrística:

Por isso, Senhor, Tu que dás a inteligência da fé, concede-me, na medida em que este conhecimento me seja útil, compreender que Tu existes, como nós acreditamos, e que Tu és aquilo em que acreditamos.  

Acreditamos que, acima de Ti, nada pode ser concebido pelo pensamento. Trata-se, portanto, de saber se tal ser existe, porque o insensato disse no seu coração: "Deus não existe". Mas quando ouve dizer que existe um ser acima do qual não se pode imaginar nada maior, esse mesmo tolo compreende o que ouviu dizer; o pensamento está na sua inteligência, mesmo que não acredite que o objeto desse pensamento exista. Porque uma coisa é ter uma ideia de qualquer objeto e outra é acreditar na sua existência. Quando o pintor pensa antecipadamente no quadro que vai pintar, tem-no certamente na sua mente, mas sabe que ele ainda não existe, porque ainda não o executou. Quando, pelo contrário, o pintou, não só o tem na sua mente, como também sabe que o fez. O tolo deve concordar que tem na sua mente a ideia de um ser acima do qual não se pode imaginar nada maior, porque quando ouve este pensamento enunciado, compreende-o, e tudo o que é compreendido está na inteligência: e sem dúvida que este objeto acima do qual não se pode conceber nada maior não existe apenas na inteligência, porque, se existisse, poderia pelo menos ser suposto existir também na realidade, uma nova condição que tornaria um ser maior do que aquele que não tem existência exceto no pensamento puro e simples.

Portanto, se esse objeto acima do qual não há nada maior estivesse apenas na inteligência, seria contudo tal que haveria algo acima dele, conclusão que não seria legítima. Existe, portanto, de certo modo, um ser acima do qual nada se pode imaginar, nem no pensamento nem na realidade.

Ricardo de San Victor

Ricardo de São Victor era natural da Escócia e viveu de 1110 a 1173. Entrou para a Abadia de São Victor em Paris e foi eleito vice-prior em 1157, sucedendo ao seu mestre Hugo como prior, cargo que ocupou até à sua morte. Dante Alighiere, na sua Divina Comédia, colocou Ricardo no Paraíso, na quarta esfera, onde colocou os sábios. No seu décimo Canto, Dante diz:

Vede, além disso, o espírito ardente que flameja/ de Isidoro, de Beda e de Ricardo/ que, para considerar, era mais do que um homem.

Ricardo de S. Victor utiliza três meios para provar a existência de Deus:

Primeiro. - A temporalidade dos seres percebidos sustenta a necessidade de um Ser eterno.

Em segundo lugar. - Nos seres que percebemos pelos sentidos, observa-se um aumento de perfeição entre uns e outros, o que torna necessária a existência de um Ser que é todo perfeição.

Terceiro. - Partindo dos seres apreendidos pelos sentidos, é possível deduzir as essências que os compõem e que encontram um modelo exemplar na essência de Deus.

Agostinho de Hipona, na sua obra De TrinitateEle diz: "Se vês o Amor, vês a Trindade". Ricardo de S. Victor, na sua obra De Trinitate, desenvolve esta visão da Trindade divina proposta por Santo Agostinho. Ele tenta responder a três grandes questões sobre o Deus Trino cristão:

1º - Porque é que a unidade divina implica a pluralidade.

2º - Porque é que esta pluralidade é três.

3º: Como é que estas três Pessoas devem ser entendidas.

Para responder, parte-se do Amor como categoria fundamental:

1 - Não há amor verdadeiro sem alteridade. O amor a si próprio não é amor verdadeiro. Se o único Deus é o amor perfeito, deve haver várias Pessoas.

2º - Três Pessoas e não duas, porque o amor perfeito não se fecha na dualidade, mas dirige-se a uma terceira: o Condilectus, o Amigo comum das outras duas Pessoas.

Ricardo de San Víctor revê o conceito de Pessoa, uma categoria utilizada para compreender o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

a) A pessoa é, antes de mais, o sujeito de si mesmo. Só na posse do eu é que a essência, ou seja, a natureza, pode e se personaliza (a natureza é o quid, o que eu sou, e a pessoa é o quis, o que eu sou): como pessoa, possuo-me a mim próprio e posso agir como dono da minha própria realidade.

b) Uma pessoa é o que é de acordo com a sua origem. Para ser senhor de si mesmo, é preciso especificar o modo como se é. O Pai é senhor da sua própria natureza divina inata. O Filho é senhor da sua própria natureza divina recebida do Pai. O Espírito Santo possui essa mesma natureza que recebe do Pai e do Filho.

c) A pessoa é comunhão: o Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem a sua natureza divina na medida em que a dão, recebem e partilham; possuem-se a si mesmos na medida em que se dão no amor.

A Trindade é, portanto, uma única e mesma natureza divina realizada em três Pessoas. O Deus que nos é revelado no Evangelho é um Deus trinitário. Um Deus solitário e pré-trinitário, sem amor interior, é inconcebível aos olhos cristãos de Ricardo de São Victor. Segundo o Evangelho, Deus é Amor e o processo de realização desse Amor é o mistério trinitário, a Vida como entrega, acolhimento e encontro, existência partilhada.

Tomás de Aquino

Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, perto de Aquino, no norte do Reino de Nápoles, por volta de 1225. Em 1244, tomou o hábito de São Domingos em Nápoles. Estudou com Alberto Magno em Paris e Colónia. Em 1252, regressou a Paris, onde se tornou mestre de teologia. Morreu em Fossanova, em 1274, antes dos 50 anos de idade. Foi canonizado em 1323. A sua obra mais importante é a Summa theologica.

Tomás afirma que, tal como a teologia se funda na revelação divina, também a filosofia se funda na razão humana. A filosofia e a teologia devem ser verdadeiras: Deus é a própria verdade, e não pode haver dúvidas sobre a revelação; a razão, corretamente utilizada, também nos conduz à verdade. Por conseguinte, não pode haver conflito entre a filosofia e a teologia. Ele demonstra a existência de Deus de cinco maneiras, que são as famosas cinco maneiras:

1º - Por movimento: há movimento; tudo o que se move é movido por um motor; se este motor se move, precisará por sua vez de outro motor para o mover, e assim por diante, até chegar ao primeiro motor, que é Deus.

2º - Pela causa eficiente (causa que tem o poder de realizar um determinado efeito): há uma série de causas eficientes; tem de haver uma causa primeira, porque senão não haveria efeito, e essa causa primeira é Deus.

3º - Para o possível e o necessário: a geração e a corrupção mostram que os entes que observamos podem ser ou não ser, não são necessários. Deve haver um ente necessário em si mesmo, e ele se chama Deus.                                                                      

Pelos graus de perfeição: há diferentes graus de todas as perfeições, que estão mais ou menos próximos das perfeições absolutas e, portanto, são graus delas; há, portanto, uma entidade que é supremamente perfeita, e é a entidade suprema; essa entidade é a causa de toda a perfeição e de todo o ser, e é chamada Deus.

Para o governo do mundo: os entes inteligentes tendem para um fim e uma ordem, não por acaso, mas pela inteligência que os dirige; há um ente inteligente que ordena a natureza e a conduz para o seu fim, e esse ente é Deus.

A ideia que anima as cinco vias é que Deus, invisível e infinito, é demonstrável pelos seus efeitos visíveis e finitos.

Evangelização

Isabel Sanchez: "O apóstolo amigo não faz marketing"

Isabel Sánchez, directora da Assessoria Central do Opus Dei e uma das oradoras do XI Simpósio São Josemaria, fala nesta entrevista sobre a amizade, o apostolado e o papel dos leigos na Igreja.

Maria José Atienza-7 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 5 acta

Quando o seu livro "Mujeres Brújula" foi posto à venda, houve quem a qualificasse como "a mulher mais poderosa do Opus Dei". Um título de que Isabel Sánchez ainda hoje se ri. Esta leiga de aspeto frágil é a directora da Assessoria Central do Opus Dei. Opus Deio órgão de direção da Opus Dei para mais de 50.000 mulheres em 70 países em todo o mundo.

Há algumas semanas, Sánchez trocou a capital do Tibre pela cidade olivícola de Jaén. Aí participou no XI Simpósio Internacional São Josemaria que, nesta décima primeira edição, centrou a sua atenção no tema da amizade com oradores como Enrique García MáiquezLuis Gutiérrez Rojas e Ana Sánchez de la Nieta.

"Amigos de Deus e dos homens" é como São Josemaria gostava de definir os fiéis da Obra, recordando aqueles "fortes amigos de Deus" de Santa Teresa de Jesus. Isabel Sánchez fala à Omnes sobre a amizade, o apostolado, a juventude de coração e todo o panorama, muito amplo, dos "amigos de Deus e dos homens". pessoas leigas na construção da Igreja.

Antes de falarmos de qualquer coisa, temos de ser claros quanto ao conceito. O que é que entende por amizade?

- Gosto de o definir como uma descoberta do coração. É a relação afectiva que nasce de um encontro casual com alguém em quem encontramos uma aceitação plena, uma certa harmonia interior e uma ajuda desinteressada, para enfrentarmos juntos o mundo, em alguns dos seus aspectos.

Através da relação e do hábito, essa relação pode tornar-se mais profunda, mais forte e mais poderosa. Pela forma como surge (é encontrada) e pela forma como afecta a nossa vida (a enriquece), podemos dizer que a amizade é um tesouro humano.

De facto, é uma das obras mais conhecidas de S. Josemaria, Amigos de Deus. Falamos muito da "amizade com Deus", mas talvez não saibamos como ser amigos dos "homens" e até achamos "suspeita" uma amizade desinteressada... Será que temos um problema de partida?

- Estou agradavelmente surpreendido por dizer que falamos muito da amizade com Deus. A verdade é que, no meu ambiente, com os meus amigos, não tenho visto que seja assim tão comum falar disso: antes, deparo-me com uma certa indiferença em relação à religião ou, no melhor dos casos, com um desejo de chegar a uma relação íntima com Deus sem saber como se ligar a Ele...

Em todo o caso, desde que Deus se fez Homem, o círculo está fechado: toda a amizade com outro homem tem algo de divino, e toda a amizade com Jesus Cristo realça e enobrece a amizade com os homens. O único problema inicial poderia ser o individualismo egocêntrico ou aquilo a que o Papa Francisco chama a globalização da indiferença.

Se nos fecharmos em nós mesmos, tornamo-nos incapazes de amizade, tanto com as pessoas como com Deus. E, perante isto, São Josemaria convida-nos, pondo na boca de Jesus Amigo este convite: "Sai dessa vida estreita, que não é vida" ("...").É Cristo quem passa por aqui", n. 93)

Os jovens de hoje viverão a amizade da forma como nós, adultos, os ensinarmos a vivê-la.

Isabel Sánchez. Secretário-geral do Opus Dei

No Simpósio São Josemaria Acha que os jovens concebem e vivem a amizade de uma forma completamente "dada"?

- A juventude é uma fase vital da vida em que se sai, por assim dizer, de casa para o mundo. É um período de exploração do universo humano em que os amigos assumem uma relevância especial. Os amigos são aqueles com quem se sai para navegar na vida.

Os corações jovens estão sempre prontos a dar tudo de si, mas esta é uma arte que se aprende. Os jovens de hoje viverão a amizade da forma como nós, adultos, os ensinamos a vivê-la: o nosso exemplo conta muito; os modelos que lhes apresentamos em séries, filmes, novelas; a vida e a narrativa dos influenciadores...

Uma das primeiras coisas que os nativos digitais precisam de aprender é a distinguir entre amigos e seguidoresA amizade requer presença, tempo e a aplicação da lógica da gratuidade, não a do mercado.

Falando de amizade desinteressada, São Josemaria dizia que "de cem almas interessam-nos cem". Como conjugar a amizade com uma verdadeira vocação apostólica sem instrumentalizar a amizade?

- Uma verdadeira vocação apostólica parte do respeito total pela liberdade de Deus - que procura amigos, não escravos -, pela própria liberdade - reconhecida como um grande dom que não pode ser usado para subjugar os outros - e pela liberdade do amigo, que se ama em toda a sua dignidade.

O apóstolo amigo anuncia Cristo, ilumina o caminho para Ele e faz tudo o que pode para acender no amigo o desejo de Deus. Ajuda a acender uma centelha divina no interior da pessoa, que ela já possui, mesmo que por vezes esteja obscurecida ou distorcida. Não comercializa um bem exterior, mas ajuda a descobrir um tesouro interior que pertence ao outro, mas que ele tem de decidir se aceita e cultiva.

O apóstolo, como Jesus, não dá para receber; simplesmente dá-se a si próprio, assumindo o risco da liberdade.

isabel sanchez
Isabel Sánchez (à direita) durante o encontro com os jovens do XI Simpósio de São Josemaria.

Uma amizade é um ato recíproco... e, no caso de Deus, completamente assimétrico. O que é que o homem "contribui" para Deus?

- Este é um grande mistério, mas o próprio Deus nos disse o que quer de nós: "Dá-me, meu filho, o teu coração" (Prov, 23, 26).

O que o homem traz a Deus é nada mais nada menos do que a livre correspondência ao seu Amor. Cada pequeno ato de amor é uma bela e alegre novidade na Criação; é por isso que todos nós somos importantes para Ele.

Como numerário do Opus Dei, vive e trabalha como qualquer leigo normal, seguindo o espírito de São Josemaria. Como viveu São Josemaria esta amizade com "o céu e a terra"?

- Com um coração de carne, nobre, generoso e indiviso. Com o mesmo coração com que amava ternamente os seus pais, fortemente os seus amigos, incondicionalmente os seus filhos, apaixonadamente o mundo, com esse mesmo coração amava loucamente Jesus Cristo. Para ele, a caridade e a amizade fundem-se numa só e mesma coisa: a luz divina que aquece (Forge, 565).

E tudo isto com muita graça: graça divina, que a levou a dar-se com grande generosidade a Deus e aos outros, e graça humana, feita de sorriso e bom humor.

Haverá ainda um longo caminho a percorrer, dentro e fora da Igreja, na compreensão de uma relação 100% com Deus por parte dos leigos? 

- Parece-me que há ainda um longo caminho a percorrer até compreendermos o poder dos milhões de leigos que constituem a grande maioria da Igreja. Podemos aprofundar ainda mais a força transformadora do simples batismo, que nos permite chegar à mais alta intimidade com Cristo, até à entrega livre e exclusiva a Ele no meio do mundo, e a do sacramento da confirmação, que nos dá um verdadeiro impulso apostólico, decorrente da configuração a Ele e da força do Espírito Santo.

Mas o Espírito Santo, o grande Mestre, está a suscitar muitos exemplos desta "santidade ao lado", como lhe chamou o Papa Francisco, para que possamos ver com os nossos olhos a que alturas de espiritualidade são chamados os baptizados. Basta pensar em Carlo AcutisChiara Corbella, Guadalupe Ortiz de Landázuri e tantos outros: toda uma cadeia de jovens amigos de Deus. 

Evangelho

O precursor do Senhor. Segundo Domingo do Advento (B)

Joseph Evans comenta as leituras do segundo domingo do Advento (B) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-7 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

A figura de João Batista está muito presente no Advento. Estamos à espera da vinda de Cristo e João foi enviado para preparar Israel para a vinda de Nosso Senhor. No entanto, temos de estar prontos, abertos à graça de Deus. A primeira leitura de hoje coloca tudo no seu contexto. Israel tinha pecado (e recordemos que também nós somos o novo Israel na nossa pecaminosidade) e tinha sido castigado por Deus.

Mas o Senhor, através de Isaías, oferece uma mensagem de conforto. Como é apropriado para o Advento: o que pode ser mais reconfortante do que a vinda do Deus todo-poderoso como uma criança pequena e indefesa que precisa do nosso afeto?

Deus quer confortar-nos se estivermos dispostos a ser confortados. "O seu pecado foi expiado" e Deus prepara um caminho para que os exilados na Babilónia regressem à sua terra (parte do castigo pelos pecados de Israel foi o exílio nesta grande cidade pagã). É preparado um caminho reto para Israel, com montanhas e colinas rebaixadas e penhascos aplanados.

Não temos de entender isto literalmente, como se Deus estivesse a fazer jardinagem para ajudar o povo de Israel a regressar a casa. É simplesmente que Deus está a simplificar tudo para que o povo regresse a Ele.

Somos nós que complicamos as coisas. De facto, parte da nossa conversão neste Advento pode muito bem ser um esforço para sermos mais simples e mais directos, para tentarmos evitar a duplicidade e a insinceridade.

João apresenta-se deliberadamente como uma figura do tipo Elias, ministrando na mesma zona e vestindo mesmo o mesmo tipo de roupa rude que o profeta usava nove séculos antes de Cristo, uma veste de pele de camelo.

Todos esses séculos antes, Elias tinha sido enviado para converter Israel da sua duplicidade, quando tentavam adorar tanto Deus como o falso deus da fertilidade Baal, cujo culto permitia numerosas formas de imoralidade.

Ao agir desta forma, o Batista estava a cumprir as antigas profecias de que Elias voltaria. Esperava-se que Elias - que tinha sido levado para o céu aparentemente vivo num carro de fogo - regressasse. Ele não regressou pessoalmente, mas Jesus explicou que João cumpria essa profecia: ele próprio era como um novo Elias.

João aponta para o poder maior daquele que ele espera, Jesus Cristo, que baptiza com o Espírito Santo, com Deus, porque ele próprio é Deus. As leituras querem tornar-nos mais conscientes do poder de Deus, também no decurso do tempo. A segunda leitura ensina-nos que Deus está totalmente para além do nosso conceito limitado de tempo: "Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia"..

Somos convidados a tomar consciência do poder salvador de Deus, também para não cairmos no pessimismo ou no desespero, como se a nossa situação fosse irremediável. Deus pode agir para nos salvar, e está pronto a fazê-lo: só quer um pouco de honestidade da nossa parte.

Homilia sobre as leituras do segundo domingo do Advento (B)

O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Vaticano

Na véspera da Imaculada Conceição, o Papa invoca o Espírito Santo

Na sua catequese de hoje, o Papa Francisco encorajou-nos a invocar o Espírito Santo todos os dias, para que ele seja "o sopro do nosso anúncio, a fonte do nosso zelo apostólico". O Papa encorajou-nos também a aprender com o "sim" de Maria, muito próximo da solenidade da Imaculada Conceição, e rezou pelo povo da Ucrânia, de Israel e da Palestina.

Francisco Otamendi-6 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Numa Sala Paulo VI do Vaticano repleta de peregrinos de Itália e de outros países, o Papa centrou a sua catequese do dia na Público geral nesta quarta-feira, a festa de São Nicolausobre o tema "O anúncio está no Espírito Santo". 

Francisco disse sentir-se "melhor", mas deixou que lhe lessem as palavras, exceto as primeiras, de pé, e as últimas, em italiano, que ele próprio disse. 

A oração não deve ser esquecida "para rezar por todos aqueles que sofrem a tragédia da guerra, especialmente pelos povos de Ucrânia, Israel y Palestina". Estas, como habitualmente, com o aditamento de que "a guerra é sempre uma derrota" e "ninguém ganha, toda a gente perde, só os fabricantes de armas ganham".

A Igreja anuncia o "Dom" do Espírito Santo

"Vimos nas catequeses anteriores três características do anúncio do Evangelho: é

alegria, para todos e para hoje. Nesta ocasião, reflectimos sobre um último aspeto: a

O protagonista do anúncio é o Espírito Santo", começou o Santo Padre a sua meditação.

"Sem o Espírito Santo, o zelo apostólico seria vão, tornar-se-ia só nosso e não daria verdadeiro fruto. A Igreja não se proclama a si mesma, mas proclama uma graça, um dom, precisamente o "Dom de Deus", com maiúscula, que é o seu próprio Espírito", acrescentou.

Missão com criatividade e simplicidade

O Papa sublinhou que o Espírito Santo "inspira a missão com criatividade e simplicidade; dois traços distintivos que também nós somos chamados a viver. Antes de mais, a criatividade pastoral, para anunciar Jesus em todas as circunstâncias e procurar caminhos evangelizadores sempre novos para ir ao encontro dos homens e das mulheres do nosso tempo.

"E também a simplicidade, para que, iluminados pelo Espírito Santo, saibamos voltar às fontes do primeiro anúncio e transmitir com frescura e entusiasmo a essência da nossa fé".

"É o fogo do Espírito que nos faz acreditar em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai", acrescentou. 

"Vem, Espírito Santo"

"Irmãos e irmãs", encorajou o Pontífice, "deixemo-nos cativar pelo Espírito Santo e invoquemo-lo todos os dias: seja Ele o princípio do nosso ser e do nosso agir; seja Ele o princípio de cada atividade, encontro, reunião e anúncio. Ele anima e rejuvenesce a Igreja: com Ele não precisamos de ter medo, porque Ele é a harmonia, que mantém sempre unidas a criatividade e a simplicidade, que faz comunhão e envia em missão, que abre à diversidade e conduz à unidade. Ele é a nossa força, o sopro do nosso anúncio, a fonte do zelo apostólico. Vinde, Espírito Santo".

"Maria respondeu com o seu sim".

No seu resumoO Papa disse: "Peçamos ao Espírito Santo, por intercessão da nossa Mãe Imaculada - cuja solenidade celebramos na próxima sexta-feira - que nos preceda e acompanhe em cada um dos nossos apostolados e renove o nosso zelo apostólico, concedendo-nos criatividade pastoral e simplicidade evangélica. Que Jesus vos abençoe e a Virgem Santa vos guarde".

Nas suas palavras aos peregrinos multilingues, o Papa recordou a Virgem Maria. "Estamos a aproximar-nos da Solenidade da Imaculada Conceição. Maria "acreditou no amor de Deus e respondeu com o seu 'sim'. Aprendei com ela a confiança plena no Senhor para testemunhar por toda a parte a bondade e o amor do Evangelho".

Aos fiéis de língua polaca, o Papa Francisco dirigiu uma saudação especial aos artistas que participam no concerto "Salmos de paz e de ação de graças", que comemora a beatificação do Papa Francisco de Assis, nascido na Polónia. Família Ulma

Referiu ainda que "este domingo será celebrado na Polónia o Dia de Oração e Ajuda Material à Igreja do Oriente. Agradeço a todos os que apoiam a Igreja naqueles territórios com as suas orações e ofertas, especialmente na atormentada Ucrânia. Abençoo-vos de coração.

São Nicolau, formadores do seminário, famílias de língua inglesa

Na sua saudação aos peregrinos de língua italiana, o Papa deu "as boas-vindas cordiais aos formadores dos seminários que participam no curso promovido pelo Dicastério para a Evangelização. Queridos sacerdotes, sejam acompanhados pela constante assistência do Senhor, para que estes dias de estudo animem o vosso serviço à Igreja".

"Caros irmãos e irmãs, hoje é a memória de São Nicolau, bispo de Myra. Professando com firmeza a sua fé em Jesus Cristo, o Filho Unigénito de Deus, ele trabalhou sempre em prol dos mais vulneráveis da sociedade. Sigamos o seu exemplo para vivermos bem neste tempo de Advento"O Santo Padre dirigiu-se aos peregrinos de língua alemã.

O Papa saudou também "todos os peregrinos de língua inglesa, especialmente os grupos de Malta, Austrália, Malásia, Japão, Indonésia e Estados Unidos da América. Sobre todos vós e vossas famílias, invoco a alegria e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que Deus vos abençoe.

Mexicanos, apoio às vítimas de Acapulco

Antes de rezar o Pai-Nosso e dar a bênção aos peregrinos, o Pontífice recordou as vítimas do recente furacão e apelou ao apoio. "Saúdo os membros da Fundação Teleton no México. Caros mexicanos, convido-vos a colaborar com as vítimas de Acapulco; convido-vos a incluir todas as pessoas com deficiência no México. Lutemos contra a sociedade do desperdício, defendamos a dignidade de cada pessoa", encorajou.

O autorFrancisco Otamendi

Cultura

A lenda de São Nicolau: a origem do Pai Natal

O Natal é uma época de família, luzes e chocolates. É uma época de contos, lendas e histórias verdadeiras. Uma das histórias de Natal mais conhecidas é a do Pai Natal, cuja origem remonta a São Nicolau de Bari.

Paloma López Campos-6 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 4 acta

A grande maioria das pessoas sabe que neste Natal, como em todos os anteriores, haverá um momento para contar histórias. Quer se trate de histórias de família, de contos para os mais pequenos ou daquele filme romântico que passa na televisão, a narração de histórias é um elemento típico do Natal, juntamente com os polvorones, os presentes e as decorações.

Há uma figura deste período que é conhecida praticamente em todo o mundo, embora não seja o verdadeiro importante, que é Cristo, mas um bom amigo seu: São Nicolau de Bari. Se o nome não se adequar bem, talvez esteja mais familiarizado com o seu pseudónimo: Pai Natal.

Antes de o homem barbudo conquistar as montras das lojas, a figura do Pai Natal lembrava muito mais São Nicolau, um bispo do século IV que inspirou o folclore a criar a lenda do Pai Natal.

A origem

Pouco se sabe sobre a vida real de Nicolau de Bari. Nasceu sob o domínio do Império Romano e há quem diga que participou no Primeiro Concílio de Niceia. Parece que provinha de uma família cristã abastada e que foi nomeado bispo quase por acaso. É mais certo que era um homem muito generoso e que, aquando da sua morte, as pessoas já lhe eram muito devotas.

Bispo São Nicolau de Bari (Wikimedia Commons)

Após a morte de Nicolau, o imperador Teodósio mandou construir uma igreja no local da sua sede episcopal para venerar as suas relíquias. No entanto, os ossos do santo foram deslocados várias vezes, pois os mercadores e os devotos mudaram os seus restos mortais de cidade para cidade. A localização exacta do corpo de São Nicolau de Bari é objeto de controvérsia e está ainda nas mãos dos arqueólogos.

Mas como é que uma pessoa de quem sabemos tão pouco se tornou numa das figuras mais reconhecidas do Natal? É aqui que entra em jogo a lenda.

Reza a história que São Nicolau de Bari salvou três jovens cujo pai estava na ruína. Impossibilitadas de contrair matrimónio por falta de dinheiro ou de meios de subsistência, as três mulheres estavam destinadas à prostituição. Ao saber disto, o bispo atirou um saco com moedas de ouro pela janela da casa, sem que ninguém se apercebesse. Quando o pai o encontrou, pôde casar com a filha mais velha, pois tinha um dote. Pouco tempo depois, Nicolau de Bari repetiu o gesto. A segunda filha também pôde celebrar o seu casamento.

No seu terceiro ato de generosidade, o benfeitor não consegue passar despercebido. O pai reparou e não pôde deixar de se ajoelhar perante o bispo para lhe agradecer o seu gesto. São Nicolau pediu ao homem que não contasse a ninguém a origem dos três presentes. É por isso que, atualmente, esta é a história mais famosa do santo.

Pai Natal e São Nicolau

A figura do Pai Natal baseia-se em parte nesta história. Algumas variações da história dizem que São Nicolau deixou cair as moedas pela chaminé da casa (tal como o Pai Natal faz hoje), de modo que o ouro caiu nas meias que as raparigas tinham deixado a secar (e é por isso que as meias têm de ser penduradas na chaminé todos os anos).

Diz-se também que o santo salvou várias crianças. Aparentemente, durante a sua vida, ressuscitou três crianças que tinham morrido depois de caírem de uma árvore. Também intercedeu para trazer de volta à vida crianças que tinham sido assassinadas por um estalajadeiro cruel. Chegou mesmo a salvar uma criança durante a Segunda Guerra Mundial. A mãe da criança perdeu-a de vista durante um bombardeamento na cidade de Bari. Horas depois, o menino apareceu ileso à sua porta, explicando que um São Nicolau o tinha protegido e ajudado a regressar.

Mas a relação do bispo com o Natal Este facto não é novo. Desde a Idade Média que é costume oferecer presentes aos mais pequenos, de quem São Nicolau era claramente o guardião, na véspera da sua festa, a 6 de dezembro.

São Nicolau hoje

Esta bela recordação assumiu a sua forma atual através da influência de outras figuras e lendas europeias. Entre elas, contam-se o "Pai Natal", uma personagem de um poema inglês do século XV; o "Sinterklaas", um velho majestoso que veste um manto e que se inspira na cultura dos Países Baixos, da Suíça e da Bélgica; e o "Mikulás", uma personagem lendária do povo húngaro.

Ao longo do tempo, a memória de São Nicolau de Bari, das suas prendas e do seu apreço pelas crianças foi distorcida. O Pai Natal que conhecemos hoje surgiu através de reinterpretações das tradições europeias nos Estados Unidos. Gradualmente, o santo cristão foi transformado de um desenho de banda desenhada no velhinho vestido de vermelho e branco (o facto de as cores se deverem a uma conhecida marca de bebidas também faz parte da lenda).

Alguns países vêem o Pai Natal como o resultado da retirada de Deus do Natal, fazendo com que este perca a sua essência. Para outros, é um artifício comercial que convida ao consumo. No entanto, ninguém pode tirar aos católicos o seu São Nicolau, que funciona um pouco como precursor do dia mais importante da quadra e que, como bom aluno do seu Mestre, deu vida à célebre frase: "Deixai vir a mim as criancinhas" (Mateus 19,14).

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Cultura

A coroa de Advento, uma tradição de longa data na Alemanha

A coroa de Advento começou por se difundir nos meios protestantes, mas hoje em dia é obrigatória, tanto nas igrejas como nas famílias católicas.

José M. García Pelegrín-6 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 4 acta

Embora se possam reconhecer antecessores pagãos na coroa do Advento, como as tochas que eram acesas na época escura do ano como uma espécie de encantamento ao deus Sol para o seu regresso, a sua história autêntica é relativamente recente.

O teólogo protestante Johann Hinrich Wichern (1808 -1881) fundou uma espécie de aldeia na sua cidade natal, Hamburgo, para "salvar crianças negligenciadas e difíceis de educar" - a "Rauhes Haus" - a "Rauhes Haus". Com um conceito educativo revolucionário para a época, aprendiam a ler e a escrever, mas também a deixar o seu passado para trás. Quem entrava na "Rauhes Haus" "tinha de perdoar tudo completamente e para sempre".

Wichern colocou a primeira coroa de Advento na casa em 1839, pendurando-a na sala de oração para preparar os seus alunos para o Natal. A coroa "original" ou a chamada coroa "Wichern" consistia numa roda de carroça coberta de ramos de abeto, com quatro grandes velas brancas, que simbolizavam os domingos, intercaladas por outras mais pequenas e vermelhas, que representavam os dias úteis. A primeira vela era acesa no primeiro domingo do Advento e a última no dia 24 de dezembro.

A "coroa de Wichern", com quatro velas brancas e 20 velas vermelhas mais finas, ainda é utilizada em alguns edifícios particularmente importantes, como o Bundestag ou Parlamento alemão, a Câmara Municipal de Hamburgo ou a "Sankt Michaelis", a igreja evangélica mais importante da mesma cidade. No entanto, principalmente por razões práticas, foi rapidamente substituída por quatro velas, uma para cada domingo do Advento.

No início do século XX, o que era um costume no mundo protestante estendeu-se também ao mundo católico: em 1925, foi colocada pela primeira vez uma coroa de Advento numa igreja católica em Colónia; em 1930, Munique seguiu o exemplo.

A tentativa de destruição da coroa do Advento pelos nazis

Durante a era nacional-socialista (1933-1945), os ideólogos nazis tentaram apoderar-se do Natal e transformar o Natal cristão num "Natal alemão", "Yule" ou "Festival do Solstício de inverno".

A coroa do Advento passou a representar as quatro estações do ano. Além disso, em vez da clássica coroa de ramos de abeto, foram acrescentadas formas alternativas à estrutura de suporte, como a roda do sol ou decorações vikings que simbolizavam as origens germânicas; noutros casos, foi utilizada uma base com a forma de uma suástica. Também se tentou substituir um símbolo pagão especial: o "Julleuchter" ("castiçal de Yule"). Este castiçal de barro, decorado com runas germânicas, estava associado ao "festival do solstício de inverno"; apesar de ser um símbolo antigo, foi apropriado pelo nazismo.

A estreita ligação entre este símbolo pagão e o terror nacional-socialista levou à sua quase total destruição após 1945. Surpreendentemente, talvez devido aos actuais esforços para desvirtuar o carácter cristão do Natal, estes castiçais voltam a ser produzidos hoje em dia.

Apesar destes esforços, a coroa de Advento já estava de tal forma difundida que os nazis não conseguiram substituí-la. Embora hoje em dia possa ser feita de todas as formas - e não apenas em círculo - com outros tipos de suporte, como madeira ou metal, e com velas de diferentes cores, a coroa de Advento tradicional tem a forma circular, com o suporte verde formado por ramos de abeto e as velas vermelhas ou brancas, pelo menos nas casas particulares ou também nas lojas, etc.

A coroa de Advento hoje

Para uso litúrgico, ou seja, nas igrejas, a coroa de Advento pode ter as velas na cor litúrgica, violeta ou roxa. Neste caso - também para uso litúrgico - a terceira vela é de cor mais clara ou mesmo cor-de-rosa, pois esta é a cor dos paramentos usados no terceiro domingo do Advento, ou domingo "gaudete". Nalguns casos, acrescenta-se uma vela branca ao centro da coroa, que é acesa na noite de Natal.

Menos frequentemente, podem ser vistas nas igrejas coroas de Advento com velas nas quatro cores litúrgicas: branco, verde, vermelho e violeta. No entanto, mesmo nas igrejas alemãs, continuam a predominar as tradicionais coroas com velas vermelhas.

As mais famosas coroas de Advento

A maior coroa de Advento suspensa do mundo - pelo menos tradicionalmente considerada como tal - encontra-se por cima da fonte na praça principal da cidade austríaca de Mariazell. Tem um diâmetro de 12 metros e pesa seis toneladas. É inspirada na coroa de Advento original de Wichern e decorada com 24 luzes: quatro para os domingos de Advento e 20 para os dias de semana.

Coroa de Advento de Mariazell

No entanto, como esta é feita de materiais artificiais, a maior coroa de Advento "verdadeira" do mundo encontra-se em Kaufbeuren: é colocada na Fonte de Neptuno desde o primeiro domingo do Advento até à Festa dos Reis Magos e tem um diâmetro de oito metros.

Esta coroa de flores é feita de ramos de abeto verdadeiros e decorada com velas de cera com quase dois metros de altura.

Coroa de Advento de Kaufbeuren

Simbolismo da coroa do Advento

A coroa de Advento contém vários símbolos; o facto de, à medida que cada vela é acesa, a luz aumentar simboliza a vinda daquele que é a "luz do mundo".

Os seus vários elementos têm também um certo simbolismo: a forma circular - o círculo não tem princípio nem fim - recorda a unidade e a eternidade de Deus.

Os ramos verdes representam o Cristo vivo, uma vez que o verde simboliza a esperança e a vida, e já fazem lembrar a árvore de Natal.

Até a cor das velas tem o seu próprio simbolismo: a cor mais comum, o vermelho, simboliza que Jesus Cristo deu a sua vida pela humanidade; já nos referimos ao violeta como símbolo do Advento.

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Evangelização

Com pressa e saltando sobre obstáculos. Coleta do segundo domingo do Advento

Para a segunda semana do Advento, há uma oração de coleta tirada do antigo sacramentário gelasiano, que sabemos ter sido usado também durante o Advento. Substitui uma outra oração, que estava em uso até ao missal de 1962, e que foi transferida para outro dia do mesmo tempo litúrgico.

Carlos Guillén-6 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Como podemos ler a seguir, o tema da saída ao encontro de Cristo continua a estar fortemente presente nesta parte do Advento:

"Deus omnipotente, rico em misericórdia, não deixes que as preocupações terrenas nos impeçam de ir com coragem ao encontro do teu Filho, para que, aprendendo da sabedoria celeste, possamos participar plenamente na sua vida.

"Omnípotens et miséricors Deus, in tui occúrsum Fílii festinántes nulla ópera terréni actus impédiant, sed sapiéntiae caeléstis erudítio nos fáciat eius esse consortes".

A estrutura desta coleta, na sua versão latina, é constituída por uma rica invocação, seguida de uma petição composta por duas partes opostas. Por outro lado, não tem o elemento conhecido como "anamnesis", uma referência a uma ação salvífica de Deus que é recordada, semelhante, neste aspeto, à que já analisámos na primeiro domingo.

Deus está com pressa, e tu?

O destinatário da nossa oração é Deus Pai, mas dirigimo-nos de uma forma especial ao seu Poder e Misericórdia omnipotentes. Afinal, "Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (Jo 3,16-17).

As primeiras palavras da petição ("in tui occúrsum Fílii festinántes") estão em continuidade com o modo como a liturgia propôs iniciar o Advento no domingo passado, ou seja, saindo ao encontro do Filho de Deus que vem. A novidade, porém, é a ênfase no particípio "festinántes", que transmite a ideia de pressa (embora tenha ficado um pouco esbatido na tradução espanhola).

Já encontrámos esta palavra antes, quando estudámos as colecções do tempo da Quaresma (quarto domingo). É interessante ver o papel que desempenha para que os fiéis tomem consciência da sucessão do tempo. Com efeito, as semanas passam rapidamente e o tempo de espera é cada vez mais curto.

Mas não podemos considerá-lo apenas no seu sentido puramente cronológico. Descreve também a atitude da Virgem quando vai visitar a sua prima Isabel (Lc 1,39) e a atitude dos pastores que se aproximam de Belém à procura do Menino depois do anúncio dos anjos (Lc 2,16). Por isso, pretende também retratar a atitude interior dos fiéis, que são chamados a dar maior prioridade à vivência da fé, ao encontro com o mistério de Deus.

Só na Coleta da Missa da manhã de 24 de dezembro é que a Igreja se atreve a pedir esta pressa ao próprio Deus, e não aos fiéis: "Apressai-vos, Senhor Jesus, nós vos pedimos, não tardeis". É espantoso como podemos estar confiantes, como Igreja, para nos dirigirmos a Deus com um pedido que soa quase como uma exigência. Mas, evidentemente, se alguém tem pressa de amar, de se dar, esse alguém é Deus.

Os caminhos divinos da terra foram abertos

Como a primeira parte da petição indica, a resposta pronta do cristão ao amor de Deus encontra uma possível oposição nas preocupações terrenas ("actus terreni"). Por isso, pedimos ajuda para que elas não sejam um impedimento à nossa vontade de ir ao encontro do Senhor. Estas preocupações "terrenas" podem lembrar-nos os diferentes "tipos de terra" em que cai a semente, segundo outra conhecida parábola de Jesus (Mt 13). Ou seja, as diferentes respostas possíveis à Palavra de Deus e os diferentes frutos que ela produz na vida de cada um.

Mas não devemos pensar em abandonar as nossas ocupações quotidianas para gerar uma vida espiritual paralela às realidades quotidianas em que temos de nos envolver. A Encarnação de Cristo, a sua vida escondida em Nazaré e o seu trabalho mostram-nos que o problema não está na materialidade dessas acções (que, em si mesmas, não nos impedem de encontrar Deus), mas na nossa falta do Espírito de Jesus, capaz de transformar cada momento num diálogo com o seu Pai e cada ato numa demonstração de obediência e de amor.

Por isso, é a sabedoria celeste ("sapientiae caelestis eruditio") com que queremos ser preenchidos que se opõe a esta possível falta. Se nos deixarmos instruir pelo Espírito de Sabedoria e o aplicarmos à vida corrente em que o próprio Deus nos colocou, conseguiremos transformá-la num caminho de santidade que nos tornará co-herdeiros (consortes) juntamente com o Filho. O Advento é, pois, um tempo de enriquecimento espiritual e um novo apelo a acelerar o passo. Todos os cristãos que vivem e trabalham no meio do mundo são chamados a transformar as suas realizações quotidianas em obras preciosas aos olhos de Deus. Como ensinava S. Josemaria: "Há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, que cabe a cada um de vós descobrir" (Homilia "Amar o mundo com paixão").

O autorCarlos Guillén

Sacerdote do Peru. Liturgista.

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Notícias

Terra Santa. Uma paz inatingível, tema do número de dezembro da revista Omnes

A revista impressa Omnes de dezembro de 2023 centra o seu dossier na Terra Santa, nas origens do conflito, na sua história e idiossincrasias e nos testemunhos em primeira mão. Paralelamente a este tema, o Nagorno-Karabakh e a síntese do Fórum Omnes com Jacques Philippe.

Maria José Atienza-5 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

A Terra Santa, a terra de Jesus, onde se desenrolaram os factos históricos da encarnação, vida e morte de Cristo, é o tema central da Número 734 da revista Omnes.

O novo conflito na região, na sequência do ataque surpresa do Hamas a cidadãos israelitas em outubro de 2023 e da subsequente declaração de guerra, voltou a atrair a atenção dos meios de comunicação social, políticos e religiosos de todo o mundo.

O dossier começa com uma extensa e bem documentada introdução histórica de Gerardo Ferrara, que explica as origens históricas das tensões na Terra Santa, bem como as suas ramificações políticas e religiosas.

O número explora também algumas das instituições cristãs presentes na região, em particular o trabalho e a história da Custódia Franciscana da Terra Santa, que assegura a presença cristã em lugares-chave como a Basílica da Natividade, em Belém, e a Basílica da Agonia, situada no Jardim das Oliveiras.

Duas mulheres, uma israelita e uma palestiniana, partilham também as suas diferentes opiniões sobre os acontecimentos, bem como as lições que a sociedade pode retirar da guerra.

10 anos de Evangelii Gaudium

O nosso editor em Roma, Giovanni Tridente, faz o balanço da presença dos temas-chave da exortação apostólica. Evangelii Gaudium nos últimos discursos do Papa Francisco.

Este documento, que inaugurou o pontificado do Papa Francisco, continua a ser atualmente um dos textos-chave do magistério do pontífice, que faz referências específicas a este texto em numerosas ocasiões.

O conflito no Nagorno-Karabakh

A secção dedicada a Mundo este mês centra a sua atenção no pouco conhecido conflito de Nagorno-Karabakh. Este enclave, historicamente ligado a Arménia mas situada na fronteira com o Azerbaijão, assistiu ao desaparecimento prático da presença arménia cristã, na sequência das guerras de 2020 e 2021 e dos últimos ataques do exército azeri.

Aquela que foi a primeira nação cristã do Ocidente enfrenta agora o desaparecimento do seu património religioso e cultural.

A filosofia cristã e Jacques Philippe

Pela sua parte, Juan Luis Lorda estabelece no seu Teologia do século XX a influência do cristianismo no desenvolvimento filosófico, contribuindo, por exemplo, com uma ideia da pessoa, do amor e da família, da ordem natural do mundo, do sentido da liberdade e da responsabilidade humanas, dos ideais de justiça e de fraternidade, em conformidade com a dignidade humana.

O autor argumenta que a nossa cultura democrática se baseia neles. São questões que podem ser tratadas pela razão, mas que, em grande medida, foram estabelecidas pelo impulso da fé.

Além disso, a revista inclui um extenso relatório dedicado ao Fórum Omnes, realizada a 24 de novembro em Madrid e que contou com a presença do conhecido autor espiritual Jacques Philippe.

Neste encontro, que contou com a presença de mais de 200 pessoas, Philippe falou das consequências da morte "traumática" de Deus na sociedade atual. Entre outras coisas, recordou que, ao desprezarmos Deus, já "não há paz nem consolo".. Sem esperança, sem misericórdia e sem a possibilidade de perdão, o homem não pode sequer amar-se a si próprio.

O conteúdo do presente revista já está disponível para os assinantes do Omnes. O número de dezembro de 2023 do Omnes já está disponível na sua versão digital para os assinantes do Omnes. Nos próximos dias, será também entregue na morada habitual dos subscritores deste tipo de assinatura. subscrição.

Vaticano

O Papa oferece uma Rosa de Ouro à imagem da Virgem Maria Salus Populi Romani

O Papa Francisco anunciou a sua decisão de doar uma nova Rosa de Ouro ao ícone da "Salus Populi Romani", que visita antes e depois de cada viagem ou hospitalização.

Giovanni Tridente-5 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Depois de dois exemplares historicamente importantes mas perdidos, o Papa Francisco decidiu doar uma nova Rosa de Ouro ao ícone da Salus Populi Romani que é venerado na Basílica de Santa María la Mayor, ao qual o Pontífice argentino está muito ligado, tanto que o visita desde o dia seguinte à sua eleição, no início e no fim de cada viagem ao estrangeiro, ou no final de internamentos hospitalares.

A homenagem terá lugar na noite de sexta-feira, 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, antes de o Papa vir - como sempre foi sua tradição, mesmo durante o trágico período da pandemia - prestar homenagem à imagem de Nossa Senhora na Piazza Mignanelli, junto à Escadaria Espanhola.

Uma ligação antiga

"Ao fim de 400 anos, o Pontífice quis dar um sinal tangível da sua devoção ao venerado ícone", lê-se numa nota da Basílica de Santa Maria Maggiore, "reforçando o laço milenar entre a Igreja Católica e a cidade de Roma".

De facto, já existem duas Rosas atribuídas ao Salus Populi RomaniO primeiro foi doado pelo Papa Júlio III em 1551 e o segundo pelo Papa Paulo V em 1613. O primeiro pontífice era muito ligado à Basílica, tanto que celebrou a sua primeira missa no altar do Presépio. Paulo V, por seu lado, doou-o por ocasião da transferência do Ícone da Virgem para a nova Capela Paulina, construída expressamente para o albergar e onde ainda hoje se conserva. Não restam vestígios de ambas as Rosas e supõe-se que se perderam em 1797 (Tratado de Tolentino), após a invasão napoleónica dos Estados Pontifícios.

Comentando a oferta, o conservador extraordinário da Basílica de Santa Maria Maior, Monsenhor Rolandas Makrickas, descreveu a oferta do Santo Padre como um "gesto histórico" que confirma a ligação do Pontífice "com a Mãe de Deus". Além disso, através desta dádiva "o povo de Deus será ainda mais reforçado na sua ligação espiritual e devocional com a Santíssima Virgem Maria".

O Rosário pela Paz

No final do mês mariano do ano passado, o Papa Francisco escolheu a Basílica de Santa Maria Maior para rezar o Terço da Paz - especialmente pela atormentada Ucrânia - diante do Ícone da Salus Populi Romani, juntamente com os santuários de vários países do mundo ligados por streaming.

E nessa ocasião invocou: "Concedei o grande dom da paz, para que cesse em breve a guerra que há décadas grassa em várias partes do mundo". E ainda: "intercedei por nós junto do vosso Filho, reconciliai os corações cheios de violência e de vingança, endireitai os pensamentos cegos pelo desejo de enriquecimento fácil, fazei reinar a vossa paz sobre toda a terra".

Infelizmente, estas palavras continuam a ser actuais e apelam à intervenção da oração.

Homenagem à Imaculada Conceição

Sem dúvida que o Papa também o mencionará diante da estátua da Imaculada Conceição na Praça Mignanelli, que visitará na noite de 8 de dezembro.

Uma tradição puramente "romana" que o Pontífice nunca quis perder. No ano passado, a Ucrânia estava ainda no centro das suas reflexões: "Gostaria de vos trazer hoje o agradecimento do povo ucraniano pela paz que há tanto tempo pedimos ao Senhor. Por outro lado, tenho ainda de vos trazer o apelo das crianças, dos idosos, dos pais e mães, dos jovens desta terra atormentada que tanto sofre".

Hoje, infelizmente, juntamos os nossos pensamentos à Terra Santa, tragicamente afetada por um conflito súbito e ao mesmo tempo desproporcionado que está a fazer milhares de vítimas inocentes. Que mais uma vez: "sobre o ódio triunfe o amor, sobre a mentira triunfe a verdade, sobre a ofensa triunfe o perdão, sobre a guerra triunfe a paz". Uma esperança que se torna agora uma necessidade absoluta para o mundo inteiro.

Cultura

Quando o pensamento não é óbvio

O autor propõe como leitura "O Elogio do Pensamento", do Professor Ricardo Piñero, em que, utilizando como fio condutor várias obras de arte, Piñero reflecte sobre a dignidade, a conetividade, a solidariedade, a sustentabilidade e a perfetibilidade.

Juan Ignacio Izquierdo Hübner-5 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta

Que livro recomendaria a alguém que está a entrar na universidade? Foi o que me pediu um amigo que está a comprar presentes de Natal. Não hesitei: o último livro de Ricardo Piñero (professor de Estética e Teoria das Artes na Universidade de Navarra): Em louvor do pensamentoque também poderia ter sido intitulado "Cinco chaves para pensar com um coração magnânimo".

"Pensar é uma forma de conhecer, de saborear, é uma forma de degustar, de aprender a discernir, de aceitar e negar, de protestar e admitir, de partilhar o que somos para sermos, entre todos, melhores". Por outras palavras, pensar não é uma coisa óbvia.

Através de obras de arte, de textos divertidos e de citações de filósofos, o autor coloca-nos perante cinco temas que estão na base de uma atitude reflexiva: a dignidade, a conetividade, a solidariedade, a sustentabilidade e a perfetibilidade. Tudo isto em 109 páginas que se terminam rapidamente e deixam a impressão de que a brevidade foi propositada.

Piñero escreve para despertar a nossa curiosidade, estimular o nosso espírito e convidar-nos a ficar à volta das questões; ele apenas coloca a escada no avião, mas depois de a subirmos, passamos a ser o piloto.

Porquê pensar nestas questões? Porque, apesar de sabermos que são inevitáveis, evitamo-las. Este é o drama do nosso século. Temos de estar mais conscientes do valor e da digno esquecemo-nos de que as melhores ideias exigem que nos relacionemos com os outros.

Deixámo-nos ficar... talvez porque, assim que vislumbramos o desconforto, perdemos o desejo de explorar, mas então para que é que vivemos? É tempo de acordar, porque se nos decidirmos a exercitar o nosso pensamento e a participar nas grandes conversas do nosso tempo, então seremos capazes de semear e dar frutos. Frutos, muitos frutos, porque é que não podemos encher o mundo de frutos? Cada um dará o que puder, eu adoro castanhas, sobretudo no inverno, quando são assadas na hora naqueles carrinhos mágicos de Pamplona.

O pensamento que o autor propõe é um pensamento comprometido com as pessoas e com o bem comum, até mesmo bem-humorado; assemelha-se ao conhecimento do coração de Pascal, ao conhecimento emocional de Scheler ou à força cognitiva do amor de Agostinho e Boaventura. Seremos capazes de pensar assim, com o coração? Sim, porque primeiro fomos amados pelo Cordeiro.

Em louvor do pensamento

AutorRicardo Piñero Moral
Editorial: Palavra
Páginas: 112
Ano: 2023

O mesmo Cordeiro é representado no canto inferior direito da capa do livro, agachado ao lado de João Batista. A pintura é da autoria de Bosch (1489) e Piñero comenta-a nas últimas páginas do livro: "João tem os olhos fechados, mas vê tudo claramente e mostra-nos o caminho a seguir, mostra-nos calmamente o que temos de escolher, que nem tudo vale o mesmo, mas que há um caminho, uma estrada firme, que está diante de nós, mesmo que pareça tão simples e humilde como aquele cordeiro branco amontoado entre a vegetação, mas que é pura luz, que é a Verdade de que ele é o mensageiro...".

Em poucas palavras, Em louvor do pensamento é um bom livro para oferecer como prenda. Pouco mais de uma hora para subir a escada e pilotar o avião.

Pequenos capítulos para se revoltarem contra a vida árida proposta por tantos incautos e para encorajar o desejo de dar frutos de serviço, confiantes de que o Cordeiro é a Luz que nos indica o caminho e também o destino da nossa viagem.

Pensar com um coração magnânimo é uma dádiva que Lhe devemos e de que o mundo está a precisar. Foi por isso que disse para mudar o título para "Cinco chaves para pensar com um coração magnânimo", e é por isso que estou tão grato a professores como Ricardo Piñero que nos ensinam a viver e a pensar com qualidade.

O autorJuan Ignacio Izquierdo Hübner

Estar em paz com todos os homens

A nossa sociedade exige direitos, o que é legítimo, claro, mas há sofrimento quando esperamos que sejam respeitados em relação a nós próprios, mas não em relação aos outros. Esta realidade é agravada quando, para além disso, chamamos direitos aos nossos desejos.

5 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

Os seres humanos têm direitos... e responsabilidades!

Com o aparecimento de várias iniciativas para a defesa dos direitos humanos, parece que nos esquecemos de que estes são indissociáveis dos deveres. A nossa sociedade exige direitos, o que é legítimo, evidentemente, mas sofremos quando esperamos que eles sejam respeitados em relação a nós próprios, mas não em relação aos outros. Esta realidade é agravada quando, para além disso, chamamos direitos aos nossos desejos. 

Recentemente, uma mulher madura veio ao meu consultório, angustiada com a chegada iminente da sogra a sua casa. Ela chorava: "Porque é que ela tem de vir? Eu tenho o direito de ser feliz. 

Acompanhei com empatia os seus sentimentos e, pouco a pouco, abrimo-nos a uma reflexão profunda sobre o amor na família. A certa altura da conversa, ela revelou o que lhe ia no coração e na consciência: 

"Toda a minha vida fui rejeitada pela minha sogra e agora que ela está doente não tenho vontade de a ver. Mas eu amo o meu marido e sei que seria precioso para ele se eu mostrasse alguma compaixão. Sei que ele fica magoado com a minha frieza e não quero ser assim, mas no fundo do meu coração não me apetece aproximar-me. O que posso fazer?

Na sua carta aos Romanos, S. Paulo exorta-nos a dar vida à nossa fé através de certas atitudes fundamentais: "Tende o mesmo sentimento uns para com os outros, não sejais arrogantes nos vossos pensamentos, mas sede condescendentes com os mais pequenos. Não sejais sábios na vossa própria opinião. Nunca retribuais a ninguém mal por mal. Se possível, na medida em que depender de vós, estai em paz com todos os homens" (Rom, 12, 16-18).

Isto, que parece utópico, pode ser alcançado com determinação pessoal: "Vou fazer o que está certo, mesmo que não me apeteça". Atualmente, graças aos progressos da neurociência, confirma-se que é possível mudar os nossos sentimentos e atitudes modificando os nossos comportamentos e pensamentos. Por outras palavras, não devemos fazer depender as nossas acções dos nossos sentimentos; todos nós podemos escolher as nossas reacções, pensando nas consequências e seleccionando a melhor resposta a cada circunstância.

O neurologista alemão Eduard Hitzig, já no final do século XIX, concebeu o que hoje conhecemos como o alfabeto emocional. Detectou uma correlação entre certos sentimentos e atitudes. 

Afirmou que os sentimentos "R" geram atitudes "D":

-Raiva, ressentimento, rancor, rejeição

Geram atitudes "D":

-Depressão, desânimo, desalento, desesperança, desespero

Em contrapartida, os sentimentos "S" produzem atitudes "A":

-Serenidade, sociabilidade, sonolência, sorriso, sabedoria

Geram atitudes "A":

-Amor, amizade, apreço, encorajamento, proximidade

De acordo com as observações do Dr. Hitzig, o nosso cérebro pode ser moldado: o cérebro é um "músculo" fácil de enganar; se sorrirmos, ele pensa que estamos felizes e faz-nos sentir melhor.

Por isso, será necessário encarar as intempéries com bons olhos e fazer o que é correto, mesmo que não nos apeteça, o que nos dará maturidade emocional. Esforcemo-nos por praticar as virtudes humanas, esta foi a caminhada dos santos, e nós somos chamados a ser santos. 

Quando a Palavra de Deus nos pede para retribuir o mal com o bem, é porque, conhecendo a nossa natureza humana, nos recomenda que façamos o que é melhor para nós, e não o que os nossos ressentimentos ditam.

Escutar a voz do Criador e obedecer-lhe torna-nos verdadeiramente livres e felizes.

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Vaticano

O pensamento de Bento XVI, um farol para a Igreja

Relatórios de Roma-4 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

No dia 30 de novembro, Pablo Blanco e Francesc Torralba receberam o Prémio Ratzinger das mãos do Cardeal Parolin. Em seguida, tiveram a oportunidade de cumprimentar o Papa Francisco.

Ambos os laureados sublinham que o pensamento e o legado de Joseph Ratzinger iluminarão fortemente a Igreja do presente e do futuro.


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Advento: Velas para esperar o Senhor

As crianças colocam velas enquanto preparam uma coroa de Advento na Igreja de S. Carlos Borromeu em Nova Iorque. A coroa de Advento é uma das tradições típicas desta época litúrgica.

Maria José Atienza-4 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vocações

A vida quotidiana do reitor da Catedral de São Patrício, em Nova Iorque

O reitor da catedral de St. Patrick em Nova Iorque, Enrique Salvo, sente uma forte ligação com os fiéis católicos latinos, uma vez que ele próprio é natural da Nicarágua. No seu trabalho quotidiano, para além de servir a comunidade com prazer, tenta promover a devoção à Divina Misericórdia, de que é particularmente apreciador.

Jennifer Elizabeth Terranova-4 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 4 acta

Não há mundanismo quando se é reitor da Catedral de S. Patrício e diretor da Basílica Velha de S. Patrício.

"Não há dois dias iguais", diz o Padre Salvoe "não há rotina, porque todas as semanas há outro foco e outra coisa, e isso mantém-no excitante... e não tenho de ter uma rotina fixa de quantas horas vou estar na minha secretária e na igreja". E acrescenta: "Hoje em dia, temos mais flexibilidade para trabalhar a partir de muitos sítios", algo que o Padre Salvo agradece.

Ter esta "flexibilidade" é útil porque lhe permite "estabelecer prioridades de acordo com as necessidades de cada dia, que são muito diferentes, e faz parte do entusiasmo deste lugar", disse o Padre Salvo.

No início do mandato do P. Enrique Salvo, todos os fiéis da Congregação estavam ansiosos e entusiasmados por dar as boas-vindas ao novo reitor, desejar-lhe felicidades e rezar por ele; alguns, porém, tinham uma ou outra sugestão amiga que lhes era pessoal. O novo reitor mostrou-se simpático, disponível e feliz por escutar o seu novo rebanho. Uma delas, em particular, é Madeline, que tem 93 anos e é paroquiana quotidiana há mais de 55 anos. Madeline elogiou o Padre Salvo por muitas razões. Diz que ele estava muito disposto a ajudá-la a ser colocada num lar católico e pela sua decisão de ressuscitar a imagem da Divina Misericórdia, que tinha estado guardada antes da sua reitoria. Tal como muitos católicos, Madeline é devota da Divina Misericórdia; por coincidência, o Padre Salvo e a sua família também têm uma devoção fervorosa.

Misericórdia Divina

Antes da reitoria do Padre Salvo, uma bela imagem da Divina Misericórdia permanecia guardada na Catedral de São Patrício. Patrick. Ele conta à Omnes que foi feita especialmente para a Catedral de Cracóvia, no santuário da Divina Misericórdia, e que foi doada por um antigo e muito fiel paroquiano, muito ativo na catedral, mas que faleceu há algum tempo.

"Madeline ajudou-me a pensar no assunto e deu-me uma imagem mais pequena para me lembrar" de a tornar visível na igreja, recorda o Padre Salvo. Ela fê-lo e criou um santuário na catedral. O Padre Salvo concorda que é bonito, mas diz: "O mais importante de tudo é acreditar nas mensagens, o que naturalmente somos convidados a fazer e que a Igreja encoraja. O Padre Salvo também está consciente das muitas pessoas que têm esta devoção e falou de São João Paulo II e de como "ele se certificou de que todos nós sabíamos que tudo isto aconteceu, que é real e que é algo em que devemos confiar". Entre as coisas que nos pediu, incluindo a grande festa da Divina Misericórdia no segundo domingo de Páscoa, é que queria que esta imagem se espalhasse, porque não é apenas uma imagem que nos ajuda a rezar porque é bonita.

O interior da Catedral de S. Patrício é um espetáculo e tem uma infinidade de estátuas onde se pode escolher rezar uma oração, fazer uma novena ou acender uma vela. O Reitor Salvo aprecia todas as imagens e estátuas, juntamente com a nossa Mãe Santíssima, que se encontram na igreja, "são todas doces e bonitas, e temos Jesus no Santíssimo Sacramento, e depois temos o crucifixo", reconhece o Padre Salvo. No entanto, aprecia o facto de ter "um de Jesus que não está crucificado ou na cruz". Segundo ele, "é bonito ver uma imagem de Jesus tal como Ele é representado na Divina Misericórdia", que raramente vemos.

"Também temos a Pietá", diz o Padre Salvo, mas reitera a importância da Divina Misericórdia e de como Nosso Senhor "queria que essa imagem se espalhasse, por isso é muito mais bonito termos seis milhões de pessoas de todo o mundo a passar todos os anos pela catedral". "Vejo pessoas quase todo o dia a tirar fotografias, e agora toda a gente publica tudo, por isso penso que a Catedral de São Patrício está a ajudar essa missão de uma forma muito especial, porque difunde essa imagem, que é uma imagem ungida, de um lembrete do quanto devemos confiar n'Ele".

A Nicarágua e a Misericórdia Divina

O Padre Salvo nasceu na Nicarágua e partilha que tem uma história familiar relacionada com a imagem da Divina Misericórdia. Diz à Omnes que a imagem está há muito tempo perto da sua família. O seu tio, um promotor imobiliário, construiu uma das duas montanhas que formam a baía de San Juan del Sur, a cidade costeira mais popular da Nicarágua. O seu tio teve "este momento milagroso e belo com Jesus da Divina Misericórdia e começou uma grande devoção a Ele". E foi inspirado a construir "uma bela" estátua no cimo da montanha, para que, onde quer que se esteja na cidade, se veja a grande estátua de Jesus, e as pessoas venham em peregrinação", partilha o Padre Salvo.

Há também uma capela na sua base, onde o Reitor Salvo celebrou a primeira missa. A estátua colossal é uma das estátuas de Jesus mais altas do mundo e, quando os navios de cruzeiro chegam à Nicarágua, a primeira coisa que vêem é a Divina Misericórdia - que forma de receber toda a gente!

Jesus, em Ti confio

O Padre Salvo diz estar grato ao seu tio, que o influenciou a ter uma devoção à Divina Misericórdia, e aprecia "a oportunidade de a divulgar, não só como padre católico, mas também como alguém de uma família que tem esta devoção". O tio sofreu um acidente vascular cerebral e não está bem de saúde, mas felizmente tem um sobrinho que reza pelo homem que lhe incutiu o amor pela Divina Misericórdia sempre que passa pela imagem na Catedral de St Patrick.

Viva os latinos católicos

Os hispânicos representam mais de 48 % dos Arquidiocese de Nova IorqueO P. Enrique Salvo iniciou o seu mandato de reitor. O primeiro hispânico foi memorável e histórico.

O Padre Salvo diz que os hispânicos são a "vida da Igreja". E todos eles estão a deixar uma marca na sua comunidade de fé aqui. O reitor fala do Bispo Joseph Espaillat, que foi ordenado bispo no ano passado e é o primeiro bispo de ascendência dominicana; os seus pais nasceram na República Dominicana.

Estamos a testemunhar como os hispânicos "deixam aqui a sua marca na sua comunidade de fé, e é bonito fazer parte disso", diz o Padre Salvo.

Embora a maioria das liturgias seja em inglês, St. Patrick's tem uma missa em espanhol todos os domingos às 16:00, que o Padre Salvo diz que "adora celebrar", e diz que "é uma boa combinação de pessoas que vejo lá todos os domingos, e pessoas vindas de todo o mundo, porque há muitos turistas da América Latina aqui em Nova Iorque".

Em breve poderá ler mais sobre a minha entrevista com o Padre Enrique Salvo.

Vaticano

Papa alerta para o risco de vida de milhões de pessoas na sua mensagem para a COP28

Embora não tenha podido participar pessoalmente, o Papa quis estar presente na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas através de uma mensagem.

Antonino Piccione-4 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

Os Emirados Árabes Unidos acolhem atualmente a Cimeira Internacional COP28. Uma reunião que centra os seus objectivos nas difíceis negociações para o abandono gradual de alguns tipos de combustíveis.

198 países participam nesta reunião com a missão de delinear medidas e acções sociais e económicas para conseguir uma transição para outras fontes de energia renováveis, como a energia solar, eólica, hidroelétrica e geotérmica. Na sua mensagem de abertura, António Guterres, Secretário-Geral da ONU, exortou a comunidade internacional a erradicar os combustíveis fósseis. 

A presença do Papa estava prevista, mas - como é sabido - cancelou a sua participação há alguns dias devido a problemas de saúde. Nem o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nem o líder da República Popular da China, Xi Jinping, que juntos são responsáveis por 40% das emissões anuais de gases com efeito de estufa, estiveram presentes. 

Embora o pontífice não esteja presente pessoalmente, não quis deixar de manifestar o seu interesse e atenção por estes problemas. Prova disso são algumas das últimas mensagens que partilhou na rede social X: "Pedem-nos agora que assumamos a responsabilidade pela herança que deixaremos depois da nossa passagem por este mundo. Se não reagirmos agora, as alterações climáticas vão prejudicar cada vez mais a vida de milhões de pessoas".

O Papa também enviou uma mensagem de vídeo para este encontro, palavras que se juntam ao discurso do Cardeal Parolin, Secretário de Estado que dirige a Delegação da Santa Sé - já presente no Dubai durante a COP28 - e que inaugurou, juntamente com o Cardeal Ayuso, Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, o Pavilhão da Fé, o pavilhão da Santa Sé nesta conferência.

O Cardeal Parolin não escondeu o seu pesar pela impossibilidade de ter o Papa presente nos encontros bilaterais previstos para sábado com vários chefes de Estado e de governo presentes no evento. "Havia muitas personalidades políticas que queriam ver o Papa", revelou o cardeal antes de partir para o Dubai. "No coração do Papa - assegurou o Secretário de Estado - está a consciência da necessidade de agir para o cuidado da casa comum, a urgência de posições corajosas e um novo impulso às políticas locais e internacionais para que o homem não seja ameaçado por interesses partidários, míopes ou predatórios". 

Como é sabido, a COP28 é chamada a dar uma resposta clara da comunidade política para enfrentar decisivamente a atual crise climática dentro do prazo urgente indicado pela ciência.

O Papa - nas palavras de Parolin - explica que "com o passar do tempo... não reagimos suficientemente, pois o mundo que nos acolhe está a desmoronar-se e talvez se aproxime de um ponto de rutura".

Não só os estudos científicos evidenciam os graves impactos das alterações climáticas provocadas pelo comportamento antropogénico, como também é hoje um acontecimento diário em todo o mundo assistir a fenómenos naturais extremos que afectam gravemente a qualidade de vida de grande parte da população humana.

O autorAntonino Piccione

Cultura

Fundação Contemplare. Mostrar a riqueza da vida contemplativa

Dedicavam-se ao mundo dos negócios, da química ou do empreendedorismo, mas estavam unidos por um fascínio pela vida contemplativa e, acima de tudo, por uma ideia comum de ajudar, da forma que fosse necessária, um dos 725 mosteiros de vida contemplativa que ainda existem em Espanha.

Maria José Atienza-4 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 5 acta

A Espanha é uma das "primeiras potências" mundiais da vida contemplativa, com mais de 8.000 monges e monjas de vida contemplativa. Eles, com a sua oração, apoiam o mundo e este grupo de leigos decidiu, através do fundação Pasmepara ajudar os mosteiros onde pudessem com as necessidades que apresentavam.

Alejandra Salinas, directora da fundação Pasmeé uma dessas mulheres de negócios que "atirou o seu chapéu para o ringue" e colocou os seus conhecimentos profissionais ao serviço desta causa.

Atualmente, a fundação Pasme colabora com mais de uma centena destes mosteiros ajudando, por um lado, nas suas diferentes necessidades e, sobretudo, sendo uma montra atual, online e universal dos produtos elaborados por monjas e monges de toda a Espanha.

Alejandra Salinas, directora da Fundação Contemplare
Alejandra Salinas, directora da Fundação Contemplare,

Como é que criaram aquilo a que alguns chamaram "a Amazónia dos mosteiros"? Alejandra Salinas sublinha que "não se tratava de bater à porta dos mosteiros dizendo 'somos uma fundação com sede em Madrid para vos ajudar', porque isso é frio e, além disso, já foram enganados muitas vezes. Por isso, decidimos confiar tudo à Providência.

O contacto com cada mosteiro é pessoal: através de um padre, porque nos dão a referência de outro mosteiro, por alguém que os conhece e, claro, também através das federações".

Desta forma, foram tecendo uma relação que "é um processo lento, explicando-lhes o que fazemos, vendo como os podemos ajudar, etc. Ficam muito perplexos com o facto de haver leigos, de saltos altos, que os querem ajudar... embora quem cuide de nós sejam estes mosteiros que rezam pelo mundo", salienta Alejandra Salinas com convicção. 

Irmãs, do que é que precisam?

A questão com que se confrontam, a partir de Pasme A resposta a cada um dos mosteiros que contactam é sempre a mesma: "Irmãs, irmãos, de que precisam?

Como salienta Salinas, "as necessidades são muitas, mas apercebemo-nos de que o que mais pediam era ajuda para vender os produtos artesanais feitos em cada uma destas comunidades. São estes produtos, fruto do seu ora et labora, que ajudam a pagar as contas.

As despesas dos mosteiros são elevadas, apesar da pobreza e da austeridade com que vivem, diz o diretor do Pasme Mas, como salienta Salinas, não se trata apenas de cobrir uma necessidade, mas também de honrar esta vida de oração e de trabalho, dando-a a conhecer". 

Uma antecâmara dos mosteiros 

Contemplare não é apenas uma forma de vender produtos, é um prelúdio para o mosteiro: "Queremos que todos saibam o que é e o que significa a vida contemplativa, a vida de um mosteiro, destes homens e mulheres que se fecham e rezam por nós. Convidamos as pessoas a virem aos mosteiros porque é esse o nosso objetivo: mostrar a riqueza da vida contemplativa.

É por isso que a sua loja física "la casita", situada em Aravaca (Madrid), é um pequeno oásis de silêncio e austeridade no meio da cidade. Ali, como na webNos mosteiros, é possível ver tudo o que estes mosteiros fabricam: compotas, pastelaria de Natal, imagens religiosas, mas também licores, queijos, patés e roupas de bebé. 

A loja online desenvolveu-se muito durante o período da pandemia, recorda Alejandra Salinas: "Criámos uma mercado com os produtos destes mosteiros que tinham sido diretamente afectados pela impossibilidade de se deslocarem e que se encontravam numa situação desesperada". 

É pessoal, não apenas comercial

Ao contrário da famosa frase "It's not personal, It's strictly business" do filme de O Padrinhoo trabalho da fundação Pasme ultrapassa sempre o nível puramente profissional. Esta é também uma questão vocacional para os membros da fundação e para aqueles que trabalham com ela.

Salinas afirma que "aqueles de nós que trabalham em Pasme enriquecemo-nos pessoalmente. Sabemos que temos fornecedores extraordinários. Nunca se tem uma conversa superficial com uma freira de clausura, mesmo que dure dois minutos. Nós, que estamos lá, ficamos extasiados a cada momento, porque são circunstâncias, conversas, histórias que surgem... Estar perto destas pessoas faz-nos ver a vida de uma forma diferente.

De facto, como ela própria, empresária de profissão, sublinha, "o facto de a missão deles na terra não ser 'fazer mantecados' situa-nos, muda tudo. Eles cumprem sempre e preocupam-se em cumprir, mas há algo acima de tudo isso. Nós, que estamos no mundo, vivemos 'em prazos' e, realmente, estamos fora de nós. O facto de nos situarem, de nos dizerem: 'Alejandra, senta-te e lembra-te para que estás aqui', como me disse uma freira, muda tudo". 

Com este produto, está a apoiar um mosteiro

Graças à fundação Pasme são muitas e variadas as empresas e os particulares que, por exemplo, na época do Natal, ajudam um ou mais mosteiros, comprando os seus cabazes de Natal ou incluindo um produto de um dos mosteiros no cabaz da empresa.

A fundação actua como uma "ponte": "Uma das nossas tarefas é entrar em contacto com grandes empresas que, por exemplo, fazem cabazes de Natal, e nós oferecemos-lhes um produto de um mosteiro nesses cabazes. Já o fazemos há algum tempo com Inditex. Ou fazemos o cesto completo, que pode ser norma ou, no caso das empresas com um volume elevado, existe a possibilidade de nos encomendarem os seus próprios cabazes, com um orçamento específico, etc.". 

Por um lado, diz Alejandra Salinas, "tudo o que é artesanal, feito à mão num mosteiro, é muito atrativo, porque são coisas de qualidade e, além disso, muitas pessoas sentem o desejo de ajudar os mosteiros, mesmo que não sejam católicos praticantes ou convictos. É também uma forma de lhes dar a conhecer que estas pessoas que rezam por nós ainda existem. 

O Natal é sempre uma época de grande volume de vendas, mas a fundação também os ajuda a "dessazonalizar" os seus rendimentos. Para o efeito, organizaram cursos de culinária em colaboração com o Cordon Bleu O centro, sediado em Madrid, ensina-os a confecionar produtos culinários para além da pastelaria de Natal, ou aconselha-os sobre as tendências da roupa de bebé vendida em mercados de caridade ou na Internet. 

A chave está resumida na frase que acompanha cada um dos produtos "com este produto ajuda um mosteiro", embora talvez, como repete Salinas, "compreenda que, embora esteja a dizer 'Aqui estou eu para ajudar', na realidade, é o contrário".

Feira de produtos monásticos

contemplar de forma justa

Entre as iniciativas da fundação PasmeA próxima edição do 1ª Feira MonásticaO evento reunirá, na central Casa de la Panadería, em Madrid, quase um milhar de produtos de 80 conventos.

Neste espaço é possível comprar até 650 tipos diferentes de doces de Natal, diretamente da padaria.

A par desta mostra gastronómica, estarão também à venda presépios, figuras de Natal, esculturas e ícones: 300 objectos artísticos diferentes, moldados e pintados pelos contemplativos. Mas também roupa de bebé, cosméticos naturais e toalhas de mesa bordadas à moda antiga.

Além disso, todas as noites haverá um momento de escuta e de diálogo com monjas e monges dos mosteiros que o Contemplare apoia, concertos surpresa de música sacra e oportunidades de diálogo pessoal.

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Vaticano

O Papa encoraja a preparação para o encontro com Cristo

Na sua meditação do Angelus, o Papa Francisco aprofundou a virtude evangélica da vigilância, com base nas leituras de domingo.

Paloma López Campos-3 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

O Papa Francisco rezou o Angelus neste primeiro domingo de Advento de Santa Marta. Embora o seu estado de saúde continue a melhorar, como informa a Santa Sé, os médicos recomendaram que o Pontífice acompanhasse os fiéis nesta oração a partir do interior da sua residência.

Na sua breve meditação, Francisco sublinhou um conceito que Cristo repete três vezes no Evangelho de hoje: a vigilância. Antes de o desenvolver, o Santo Padre advertiu que não se trata de "uma atitude motivada pelo medo de um castigo iminente, como se um meteorito estivesse prestes a cair do céu e ameaçasse esmagar-nos, se não nos afastássemos a tempo".

Pelo contrário, a vigilância pregada por Jesus diz respeito ao servo, à "pessoa de confiança do patrão", explica o Papa. O servo da Bíblia é aquele com quem "existe uma relação de cooperação e afeto". Por isso, a vigilância é uma virtude baseada "na saudade, na espera do encontro com o patrão que está a chegar".

É esta expetativa que os cristãos devem ter, sublinha Francisco. "Quer seja no Natal, que celebraremos dentro de algumas semanas; quer seja no fim dos tempos, quando Ele regressar em glória; quer seja todos os dias, quando Ele vem ao nosso encontro na Eucaristia, na sua Palavra, nos nossos irmãos e irmãs, especialmente nos mais necessitados".

A casa do coração

O Santo Padre convida todos a "preparar cuidadosamente a casa do coração, para que seja ordenada e acolhedora". É isto que significa realmente a vigilância evangélica, "estar preparado no coração". É a atitude da sentinela que, durante a noite, não se deixa tentar pelo cansaço, não adormece, mas permanece acordada à espera da luz que há-de vir".

As duas melhores preparações, diz Francisco, são a oração e a caridade. "A este propósito, conta-se que São Martinho de Tours, homem de oração, depois de ter dado metade do seu manto a um pobre, sonhou com Jesus vestido precisamente com aquela parte do manto que tinha dado". O Papa considera que neste acontecimento o cristão encontra um modelo exemplar para viver o Advento. De tal modo que encoraja os católicos a "encontrar Jesus que vem em cada irmão e irmã que precisa de nós, e a partilhar com eles o que pudermos".

O Papa reza pelo mundo

Por fim, o Santo Padre encoraja-nos a evitar as distracções inúteis e as queixas constantes, e a dirigirmo-nos à Virgem Maria, "mulher da espera". No final do Angelus, Francisco apelou a um novo cessar-fogo na guerra entre Israel e a Palestina, cuja trégua já terminou. Recordou também as vítimas do atentado durante uma missa nas Filipinas.

O Papa fez também um "apelo para que se responda às alterações climáticas com mudanças políticas concretas", uma vez que este fim de semana se realiza no Dubai a COP 28, à qual não pôde assistir por motivos de saúde. Por fim, o Papa convidou todos a acolherem as pessoas com deficiência neste Dia Internacional, que tem tido um eco especial neste mês de dezembro.

Família

Esperanza e José Ángel: "Não podeis viver sem os vossos filhos de Down".

Quatro famílias espanholas adoptaram, cada uma, duas crianças com síndrome de Down e concordam que "são uma dádiva". Já não podem viver sem eles, porque fazem as suas famílias felizes e vêem a sua felicidade. Na véspera do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que a Igreja em Espanha celebra com o lema "Tu e eu somos Igreja", Esperanza e José Ángel conversam com Omnes.

Francisco Otamendi-3 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 6 acta

Os oito pais são Beatriz e Carlos, que passaram onze anos a tentar ser pais biológicos sem o conseguir; António e Yolanda, que têm seis filhos, todos eles adoptados, os últimos quatro através de ofertas de adoção de especial dificuldade, e dos quais dois têm Síndroma de DownFalámos com Ana e Carlos (não são os seus nomes verdadeiros), cujos primeiros cinco filhos adoptados, em fases, são russos; e Esperanza e José Ángel, com quem falámos. 

É sabido que, no Ocidente, a maioria das crianças com Síndrome de Downcuja trissomia (três cromossomas no 21.º par) é detectada na gravidez, "não chegam a nascer... e todos sabemos porquê", explicam Esperanza e José Ángel. Entre 2011 e 2015, na Europa, 54% dos bebés detectados com esta anomalia genética foram abortados. E em Espanha, a percentagem atingiu nada menos do que 83%, de acordo com dados fornecidos pela Fundación Iberoamericana Down 21, acrescentam os pais. 

Em março deste ano de 2023, um relatório da BBC Mundo noticiou que um grupo de peritos tinha concluído que, na Europa, na última década, 54% das gravidezes em que o feto tinha Down foram interrompidas. O trabalho de De Graaf, Buckley e Skotko, publicado na revista Jornal Europeu de Genética Humana (European Journal of Human Genetics) em 2020, e atualizado no final de 2022, observou que a proporção de abortos selectivos era mais elevada nos países do Sul da Europa (72%) do que nos países nórdicos (51%) e nos países da Europa Oriental (38%).

Falámos com Esperanza e José Ángel sobre algumas das reflexões e testemunhos destes pais adoptivos.

Estudou a obra de Brian Skotko, Diretor do Programa de Síndrome de Down do Massachusetts General Hospital e Professor Associado da Harvard Medical School. Pode acrescentar mais alguma informação? 

-O Dr. Brian G. Skotko coordenou uma equipa que entrevistou 2044 pais sobre a sua relação com o seu filho com síndrome de Down em 2011. Bem: 99% deles disseram que amam seu filho ou filha; 97% desses pais estavam orgulhosos deles; 79% sentiam que sua perspetiva de vida era mais positiva por causa deles; 5% sentiam-se envergonhados por eles; e apenas 4% lamentavam tê-los. Os pais referiram que 95% dos seus filhos ou filhas sem síndrome de Down têm boas relações com os seus irmãos ou irmãs com síndrome de Down. A grande maioria dos pais inquiridos indicou estar feliz com a decisão de os ter e indicou que os seus filhos e filhas (Down) são uma grande fonte de amor e orgulho.

Porquê o contraste entre a felicidade expressa pelas pessoas com síndrome de Down e suas famílias e a atual escolha do aborto para a maioria?

-Estas quatro famílias espanholas, incluindo nós, adoptaram cada uma duas crianças com síndrome de Down. Cada uma delas tem a sua própria história. Mas todos concordam, todos concordamos, pelo menos numa coisa: já não podem viver sem os seus filhos. Porque eles fazem felizes os que os rodeiam, antes de mais os seus pais e irmãos. Porque vêem que os seus filhos são felizes. E porque é muito difícil encontrar uma destas pessoas e não a amar. E o amor - amar e ser amado - é o que faz os seres humanos felizes, antes de mais os seus filhos.

E, no entanto, nas histórias destas famílias há também sacrifício e tempos difíceis. Há exigências e dor. Criar e educar uma criança com síndrome de Down exige muito esforço e pode haver situações - embora não necessariamente, nem sempre, nem todas ao mesmo tempo - de problemas de saúde, dificuldades de aprendizagem, distúrbios de comportamento, comportamentos perturbadores.

Mas somos pessoas absolutamente normais, "não heróis", que encorajam outras pessoas normais a terem os seus filhos com síndrome de Down. E para os pais que não querem ou não podem cuidar deles - por quaisquer razões, que nunca julgaremos - encorajamo-los a dá-los para adoção.

Fale-nos um pouco do seu caso, como foi a decisão?

-Não podíamos ter filhos biológicos, e havia sofrimento. No entanto, uma série de circunstâncias alinharam-se até tomarmos a decisão final - após um processo de discernimento - de embarcar na adoção de uma criança com síndrome de Down. A fé cristã também desempenhou um papel importante nessa decisão: "Quem receber um destes pequeninos em meu nome, recebe-me a mim", "Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fazeis".

Quando partilharam a decisão com a família e os amigos, a maior parte deles recebeu a notícia com alegria e entusiasmo, tal como já se sentiam. No entanto, sabemos de um casal que se ofereceu para adotar uma criança com síndrome de Down e que, quando contou à família, esta ficou chocada e tentou dissuadi-los de todas as formas possíveis: que não seriam felizes, que seria um fardo para os irmãos...

A verdade é que se passa exatamente o contrário. Para todos os irmãos de crianças com síndrome de Down, a chegada do seu irmão foi um enorme enriquecimento. Além disso, os irmãos adquirem uma sensibilidade especial em relação a este tipo de pessoa: vê-se na sua doçura, na sua paciência, no seu afeto quando vêem um deles...

Qual foi a sua perceção quando conheceu os seus dois filhos?

-Felicidade e emoção imensas. A segunda adoção foi-nos atribuída porque os serviços sociais da Comunidade não dispunham de nenhuma outra família candidata ou com a idoneidade exigida pela Administração. 

Desde então, iniciou-se um percurso que não é isento de sacrifícios e de esforços, com noites mal dormidas ou pouco dormidas, com doenças, com lentidão no desenvolvimento, com as dificuldades do dia a dia - as batalhas para os vestir, lavar, alimentar... -, com a incerteza de não saber se estamos a fazer bem como pais...

Mas, acima de tudo, "existe amor e o amor pode fazer tudo". A sua adoção é "a melhor coisa que fizemos nas nossas vidas".

Sabe de alguma história sobre estes casamentos?

-Carlos, inicialmente, no contexto de algumas circunstâncias difíceis que estavam a atravessar, disse não à proposta de Beatriz. Mas acabou por ceder. Numa ocasião, foram chamados para lhes oferecer uma menina de três meses com síndrome de Down, com um problema cardíaco ao qual teve de ser operada. Para além disso, a administração exigiu que mudassem toda a família para a sua cidade e esperassem que ela atingisse o peso certo para poder ser operada. A menina já tinha passado por três momentos críticos. Tudo isto os fez hesitar e acabaram por rejeitar a adoção: "Para nós, dizer não era como um aborto", explica Carlos. "O meu coração ficou destroçado, rejeitámos o nosso bebé", diz Beatriz.

No entanto, ela rezou ao Senhor para que essa criança tivesse os braços de uma mãe no céu ou na terra. E nove meses depois de ter dito não, telefonaram-lhes de novo: que tinha sido operada, que tinha sobrevivido à operação e que queriam ir buscá-la. "Tivemos de voar", diz Beatriz emocionada.

Sobre o António e a Yolanda?

António recordou que "o Senhor questionou-nos porque nos documentos do processo de adoção havia uma caixa que, se a assinalássemos, nos oferecíamos para adotar uma criança com uma doença ou deficiência. Não o assinalámos nos dois primeiros processos de adoção, mas essa decisão marcou-nos.

Foi no contexto de uma peregrinação que o viram chamá-los a "serem pais de uma criança com dificuldades". Não foi fácil, mas Ele, que é um cavalheiro, sussurrou-nos isso. E assim nasceu o nosso terceiro filho", o primeiro com necessidades especiais. António explica que "quando já tínhamos este último, Ele convidou-nos novamente a abrirmo-nos à vida, e chegou o quarto filho, que nasceu com hipoxia e lesões cerebrais. Foi um grande presente para nós.

Uma última reflexão... 

-Como assinalaram Jesús Flórez e María Victoria Troncoso em O nosso tempoMaria Victoria insiste: "As pessoas com síndrome de Down dão à sociedade muito mais do que recebem." "O mundo seria um lugar muito pior sem as pessoas com síndrome de Down. 

A todos estes seres humanos com esta alteração genética, que a sociedade atual tantas vezes discrimina - haverá maior discriminação do que não os deixar nascer? - podem aplicar-se as palavras que Jesús Mauleón dedicou ao seu amigo Genaro, com síndrome de Down, num poema: "E quando sais à rua, tornas o mundo melhor/ e tornas mais profundo o ar que respiras". 

Espero que a sociedade atual se aperceba disso, porque, como já disse Jerôme LejeuneA qualidade de uma civilização mede-se pelo respeito que demonstra pelos mais fracos dos seus membros. Não há outro critério para a julgar".

O autorFrancisco Otamendi

Ecologia integral

María Jesús Pérez: "O comércio justo baseia-se numa espiritualidade da vida que, juntamente com o Criador, cuida e gera vida com dignidade".

Esta Irmã Franciscana Estigmatina, missionária de León, é uma das fundadoras da "Maquita", uma das mais antigas e importantes organizações de Comércio Justo do mundo.

Marta Isabel González Álvarez-2 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 9 acta

Black Friday, ofertas e saldos sazonais, Dia da Mãe, Dia do Pai, Dia dos Namorados e, claro, o Natal... Mesmo que queiramos viver sobriamente, é difícil escapar ao consumismo selvagem do nosso tempo. No entanto, existe uma alternativa que respeita as pessoas e o ambiente, ajuda o desenvolvimento dos países e promove relações comerciais justas: o comércio justo.

Entrevistámos em Quito (Equador) a missionária Irmã Franciscana Estigmatina, María Jesús Pérez, directora executiva e co-fundadora, juntamente com o padre italiano Graziano Masón, de "Maquita", uma das mais antigas e importantes organizações de Comércio Justo do mundo. A directora explica os seus passos e a inspiração que a levou da diocese de Astorga (León) para o Equador, onde no próximo ano fará quarenta anos que chegou.

comércio justo
Foto: O Padre Graziano Masón, o entrevistador e María Jesús Pérez na sede da Maquita ©Yvette Pullas

María Jesús Pérez nasceu em Regueras de Arriba, La Bañeza (León), a 20 de julho de 1955. Em 1975 começou a sua formação com as Irmãs Franciscanas Estigmatinas em Astorga (León) e fez o noviciado em Itália, de onde regressou e passou oito anos nas comunidades estigmatinas de Sueca (Valência), Ponferrada e Astorga (León).

Estava bem, mas algo diferente estava a nascer nela: o desejo de conhecer a caminhada da Igreja na América Latina e de experimentar a vida caminhando com grupos que procuram a justiça e a dignidade da vida a partir de uma fé libertadora e comprometida com a vida. Pediu para se juntar ao trabalho pastoral da sua congregação no Equador, e chegou em agosto de 1984, vivendo no subúrbio de Santa Rita (Quito). Aí coordenou acções pastorais com várias comunidades religiosas de outros bairros, sacerdotes e leigos, formando uma equipa pastoral muito empenhada nas causas dos pobres.

Nesses anos, o Equador sofreu as consequências de fortes medidas neoliberais impostas por organismos internacionais, que causaram miséria, fome, exclusão e forte perseguição às organizações civis e religiosas, resultando na morte e desaparecimento de líderes. Neste contexto, a Igreja equatoriana, à luz do do Documento de Puebla do Episcopado Latino-AmericanoO compromisso cristão com o documento foi orientado pela Opções pastorais que refere, nomeadamente: "Que a dor e as aspirações dos povos e particularmente dos pobres nos façam sentir profundamente as suas necessidades e problemas, para os partilharmos e procurarmos juntos a luz do caminho e os modelos possíveis para uma sociedade mais justa" (PO I, 3).  

Como ela mesma diz, foi o início de "uma nova forma de conhecer, escutar e viver a partir de uma espiritualidade de vida enraizada na cultura do povo empobrecido, onde a comunidade, a organização, o cuidado com a "Pachamama" (mãe terra) e outros valores fazem sentido na vida quotidiana. Onde a Palavra de Deus fortalece a vida e ilumina a ação numa forte solidariedade e compromisso". E com tudo isso a base de Maquita.

Mas o que é que uma freira está a fazer ao fundar e dirigir uma cooperativa de comércio justo como a Maquita? O que é que tudo isto tem a ver com a Igreja?

-Tudo nasce de um profundo desejo de viver, na realidade concreta das pessoas, seguindo os ideais do Reino que Jesus de Nazaré viveu e nos deixou como opção de vida. As formas de constituir e viver em comunidade são diversas e todas são necessárias para seguir o caminho que ele nos deixou: um modelo de sociedade transformada em Reino de Deus aqui neste mundo, no mundo que Deus Pai e Mãe nos deu e sonhou: "um paraíso de fraternidade humana e cósmica".

O Papa Francisco, o profeta de hoje, exorta-nos a ir para as periferias, onde as pessoas vivem e sofrem, a viver com elas e como elas, ao estilo dos primeiros missionários das comunidades cristãs.

As estratégias, as acções que se desenvolvem são diferentes e todas elas estão impregnadas da espiritualidade da vida que Jesus levou pelos caminhos de Israel. O Comércio Justo é uma filosofia de vida que se concretiza a partir do cuidado com a terra e com os produtos que ela nos oferece, através da dignidade do trabalho e do respeito e serviço com que trocamos produtos; produtos cheios de histórias de vida, de amor por toda a criação, seguindo os passos de Francisco de Assis.

De acordo com a Coordinadora Estatal de Comercio JustoO comércio justo é um movimento internacional que luta por uma maior justiça económica, social, humana e ambiental a nível mundial. Desenvolveu um modelo comercial que protege os direitos humanos e o ambiente. As suas organizações cumprem dez princípios Como define o Comércio Equitativo e porque é que o devemos apoiar e promover?

-O Comércio Justo é um modo de vida que busca influenciar a sociedade e as economias, propondo uma forma de cuidado e proteção na maneira de produzir, transformar, comercializar e consumir de forma sustentável, sustentável, inclusiva, solidária e justa com as pessoas, o planeta e tudo o que foi criado. É uma proposta de vida que considera a humanidade, o planeta e a economia a partir de um comércio justo e sustentável com um consumo responsável e consciente.

Para mim, o importante do Comércio Justo é que se baseia numa espiritualidade de vida que, juntamente com o Criador, cuida e gera uma vida digna e justa para todos em cada uma das suas acções.

Participo neste movimento porque, com base nos princípios que propõe, harmoniza fé e vida, à luz de Jesus de Nazaré que, no seu caminho, viu as necessidades dos mais pobres, sentiu compaixão e agiu para os libertar do sofrimento e lhes dar uma vida digna.

Outra área importante do Comércio Justo é que, a partir das suas relações comerciais em benefício de todas as pessoas envolvidas na cadeia (da produção ao consumo consciente), assume também o compromisso profético de denunciar as "explorações" do mercado e tem impacto com acções concretas para o respeito e o reconhecimento justo dos direitos laborais, o valor dos produtos e produções que respeitam e cuidam do planeta.

Mas o que é Maquita? Conte-nos mais sobre a sua criação, as suas realizações e os seus desafios actuais.

-No desejo das famílias de "à procura de modelos de uma sociedade mais justa".Em 1985, nasceu um movimento de consumidores, liderado por grupos de mulheres, jovens, Comunidades Eclesiais de Base (CEBS) e organizações camponesas, que comercializam diretamente do campo para a cidade, a fim de responder ao direito a uma alimentação saudável.

Numa assembleia de leitura do Evangelho Mc 6,35 "alimentai-os vós mesmos" irá Isto levou a uma ação concreta: a constituição de uma organização com famílias participantes dos bairros periféricos da cidade (maioritariamente composta por migrantes do campo) e organizações rurais: "Maquita Chushunchic Comercializando como Hermanos" (Maquita Chushunchic Comercializando como Irmãos). Duas palavras que na língua Kichwa significam: Vamos apertar as mãos e negociar como irmãos.

Nascemos do impulso da Palavra de Deus e, ao longo destes 38 anos, foi a Luz que iluminou o caminho e nos deu a força e a simplicidade para sermos "fermento que leveda a massa". As nossas conquistas medem-se pelo nível de organização e solidariedade para avançarmos juntos, cada um contribuindo com o que pode e sabe. Neste percurso temos sido acompanhados em forte aliança e generosidade por instituições europeias que acreditam e trabalham por uma sociedade mais justa, por uma sociedade fraterna, tais como: Manos Unidas, Proclade, Ecosol, Entrepueblos, ADSIS, entre outras.

É importante destacar a liderança das mulheres e sua grande capacidade de buscar e desenvolver iniciativas de trabalho para gerar renda e melhorar as condições de suas famílias e de si mesmas.

Articulamo-nos em Redes de Economia Social e Solidária, para que as organizações possam trocar conhecimentos e recolher produtos, a fim de os fazer chegar aos mercados locais, nacionais e internacionais através da Organização Mundial do Comércio Justo .

Atualmente, a organização coordena e facilita o trabalho em 20 das 24 províncias do Equador.

Dispomos de duas linhas de Marketing Social - Economia Solidária e Comércio Justo: Produtos de Maquita, Maquita Agro e o Operador de Turismo Comunitário Turismo na Maquita Todas elas atuam em dois eixos: Social Produtivo e Comercial Solidário. O quadro seguinte define as funções de ambas e o seu objetivo único de liderar redes de empreendimentos das organizações, com centros de recolha de produtos primários (quinoa, cacau, feijão, milho, etc.), centros de turismo comunitário, empresas agro-industriais (compotas, mel, etc.), oficinas de artesanato e centros de produção de bioinsumos.

As equipas de trabalho que acompanham as organizações são constituídas por 114 pessoas, profissionais e técnicos que, gratos pela formação recebida, decidiram trabalhar e caminhar neste processo organizativo, dando sentido às suas vidas e como uma opção que promove processos de dignificação da vida e contra o sistema estabelecido que gera tanta exclusão, "mortes ambientais" e pobreza.

Os nossos 12 princípios, inspirados na espiritualidade e no empenhamento de Jesus, guiam o nosso caminho e encorajam-nos a avançar no meio de tantas dificuldades:

  1. Vivemos uma fé ecuménica libertadora, que provoca a prática da solidariedade, do compromisso e da mística com o povo empobrecido, ao estilo de Jesus de Nazaré.
  2. Praticamos a transparência e a honestidade, com austeridade e simplicidade.
  3. Consideramos a família como um pilar do percurso organizacional da comunidade.
  4. Facilitamos o empoderamento das mulheres e o seu posicionamento na família e na sociedade.
  5. Apoiamos a participação ativa dos jovens com base na sua identidade e nas suas propostas de trabalho.
  6. Promovemos a equidade de género, étnico-cultural, geracional, territorial, ambiental e socioeconómica.
  7. Praticamos a não-violência ativa e incentivamos o diálogo entre os diferentes intervenientes.
  8. Fazemos advocacia política, social e económica não partidária.
  9. Trabalhamos em rede com a participação ativa de pessoas e organizações.
  10. Valorizamos as identidades culturais e os conhecimentos ancestrais das pessoas.
  11. Respeitamos os direitos da Mãe Natureza e cuidamos do ambiente.
  12. Praticamos a equidade e a solidariedade na produção, transformação, comercialização e consumo responsável de produtos saudáveis.

Que ligações tem a Maquita a nível internacional, que ajudas e de que organizações têm recebido apoio?

-É um dom do Espírito que provocou e deu origem a tantas organizações cuja missão e objetivo é trabalhar pela justiça, pela redistribuição dos bens e contra a vergonhosa acumulação de riqueza e o consumismo depravado.

Ao longo dos anos temos trabalhado com muitas organizações em forte aliança com a Itália, Holanda, França, Alemanha, entre outras, e atualmente os nossos principais aliados são: Pão para o Mundo, Manos Unidas, Ecosol, Entrepueblos, Proclade, SETEM, ADSIS, Caritas de Bilbao juntamente com os seus aliados: governos autónomos, Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, UE, etc.

A sua participação é de proximidade, de orientação no trabalho e de apoio aos investimentos que promovem a melhoria da produção e a gestão das iniciativas de trabalho com as diferentes estratégias de economia social e solidária que, centradas na dignidade da vida das pessoas e no cuidado do planeta, diferentes eixos e estratégias de trabalho são implementadas de acordo com as necessidades do território.

Pode falar-nos de um caso ou anedota de que se lembre em que tenha sentido claramente que o que estava a fazer ajudava realmente as pessoas?

Quando quero partilhar uma história forte da minha vida, a minha mente e o meu coração enchem-se de tantos rostos... mulheres e homens de mãos calejadas e rostos marcados pelo descontentamento e pela dureza da vida... por isso vou partilhar convosco a experiência da população feminina. Quando entram para o movimento, são marcadas por experiências de violência, exploração e saturação no peso do trabalho doméstico, no cuidado dos animais, da terra, na exploração do mercado no pagamento do produto, e muitas vezes sozinhas na educação dos filhos.

Quando se fala com elas hoje, dizem-nos que educam as filhas e os filhos de forma igual, que colaboram nas tarefas domésticas, que já não vendem os seus produtos nas feiras dos intermediários e que a sua organização lhes paga um preço justo, mas também lhes entrega um produto saudável e de melhor qualidade, que participam em espaços sociais e autárquicos, exigindo trabalhos para o seu sector. E o que é mais importante: sentem-se mulheres de valor, com vontade de continuar a crescer e sabendo que também têm o direito de cuidar de si próprias e de descansar.

É emocionante ver que, na cadeia produtiva comercial, eles não se submetem mais ao que é estabelecido pelo mercado, sabem respeitar e valorizar seu trabalho e, diante das dificuldades que o mercado impõe (manipulação de preços, peso e desvalorização da qualidade), estão definindo alternativas organizacionais para reduzir a cadeia de intermediação e chegar às famílias com produtos agroecológicos e bem cuidados em todo o processo.

Eles têm muito presente o Deus que denuncia a exploração no mercado, como narra o profeta Amós 8, 4ss, quando diz: "Só pensais em roubar o quilo ou em cobrar a mais, usando balanças mal calibradas. Jogais com a vida do pobre e do miserável por um pouco de dinheiro ou por um par de sandálias...". E em todas estas situações, também hoje, eles vivem e lutam sabendo que são acompanhados pela força e proteção divinas.

Como vê a situação no Equador neste momento e como é que ela pode afetar a capacidade da sua cooperativa para continuar a ajudar?

O Equador tem vindo a deteriorar-se nos últimos anos, devido a governos que não souberam administrar e governar a favor do povo, mas sim a favor dos grandes sectores económicos nacionais e internacionais. Maquita é tão afetada como os territórios onde colaboramos e, por isso, tentamos promover a esperança e a organização para defender a terra contra as empresas mineiras e petrolíferas.

Estamos a prestar especial atenção às oportunidades que os jovens podem ter de permanecer nas suas terras, gerando um impulso para propostas agro-ecológicas de produção sustentável e oferecendo produtos saudáveis para apoiar a segurança alimentar.

A migração está também a afetar a população rural, na medida em que os líderes formados como promotores sociais, que costumavam prestar transferências e assistência agrícola às famílias das suas comunidades e outros serviços, são forçados a migrar devido aos grandes problemas que enfrentam, incluindo a insegurança causada pelos bandos de droga e a falta de atenção do governo à população rural.

Trabalhando principalmente com o sector rural, a proximidade do fenómeno climático "El Niño" com fortes inundações afectará a produção agrícola, mas também o acesso aos produtos do cabaz familiar e, por conseguinte, o abastecimento alimentar da população.

A crise da sociedade europeia também nos afecta, pois reduz a cooperação que promove a produção e o trabalho e condições de vida dignas para a população empobrecida.

Ao longo destes 38 anos, vivemos tempos muito difíceis e economicamente à beira da falência, mas sempre no momento mais crítico houve acções, pessoas, instituições que inesperadamente estiveram presentes e nos impulsionaram a seguir em frente, por isso confiamos sempre em Deus que caminha com o seu povo e quando é necessário libertá-lo fá-lo com "o Moisés" de hoje. Por isso, todos os dias acordamos confiando nele e sentindo a sua presença na construção do Reino.

O autorMarta Isabel González Álvarez

PhD em jornalismo, especialista em comunicação institucional e Comunicação para a Solidariedade. Em Bruxelas coordenou a comunicação da rede internacional CIDSE e em Roma a comunicação do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, com quem continua a colaborar. Hoje ela traz a sua experiência ao departamento de campanhas de advocacia sócio-políticas e de redes de Manos Unidas e coordena a comunicação da rede Enlázate por la Justicia. Twitter: @migasocial

Espanha

Prémios Bravo! 2023 distinguem Manuel Garrido, "Libres" e o ACdP

A Conferência Episcopal Espanhola publicou os nomes dos vencedores dos Prémios Bravo! 2023. Entre eles encontram-se nomes bem conhecidos como Pedro Piqueras e Ana Iris Simón.

Paloma López Campos-1 de dezembro de 2023-Tempo de leitura: 2 acta

Os Prémios Bravo! 2023 já têm vencedores. Foi o que anunciou a Conferência Episcopal Espanhola na tarde de 1 de dezembro, publicando no seu sítio Web os nomes dos vencedores, entre os quais figuram nomes tão conhecidos como Pedro Piqueras, Manuel Garrido e Ana Iris Simón.

A cerimónia de entrega dos prémios terá lugar no dia 29 de janeiro de 2024, na sede da conferência, mas a Comissão Episcopal das Comunicações Sociais já deu a conhecer os nomes dos laureados.

Estes prémios, tal como expresso no seu regulamento, visam reconhecer "por parte da Igreja, o trabalho meritório de todos os profissionais da Igreja no domínio da Igreja e da missão da Igreja". comunicação nos vários meios de comunicação social, que se distinguiram pelo seu serviço à dignidade humana, aos direitos humanos e aos valores do Evangelho".

Vencedores do Prémio Bravo! 2023

Os vencedores desta edição, de acordo com as categorias, são

  • Na Rádio, "Apse Media" pela sua cobertura da JMJ;
  • In Press, Ana Iris Simón;
  • Televisão: Pedro Piqueras;
  • Filme: Santos Blancodiretor de "Libres";
  • Na Música: a orquestra de música de reciclagem promovida pela empresa "Ecoembes";
  • Na publicidade: a campanha da Associação Católica de Propagandistas "#QuenotelaCuelen";
  • De Comunicación Digital; Israel Remuiñán, pelo seu podcast "Benedicto XVI, el Papa de la tormenta";
  • In Comunicação Institucional: Manuel Garrido;
  • Na Comunicação Diocesana: Juan José Montes, da diocese de Mérida Badajoz.

Júri dos prémios

O júri dos Prémios Bravo é presidido por Monsenhor Salvador Giménez Valls, por delegação do Presidente da Comissão. Os membros do júri são:

  • Francisco Otero, diretor da revista "Ecclesia";
  • Irene Pozo, directora de conteúdos sócio-religiosos da "Ábside Media";
  • Ulises Bellón, diretor do departamento de imprensa da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais (CECS);
  • Juan Orellana, diretor do departamento de cinema do CECS;
  • José Gabriel Vera, diretor do gabinete de informação e do secretariado do CECS.