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O Congresso Eucarístico de Quito e Olivia Maurel na revista Omnes fevereiro

A Eucaristia e o próximo Congresso Eucarístico Internacional de Quito são o tema do dossier de fevereiro de 2024 da revista Omnes. Para além disso, encontramos uma entrevista com Olivia Maurel, porta-voz da Declaração de Casablanca contra a maternidade de substituição.

Maria José Atienza-2 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Quito acolherá o próximo Congresso Eucarístico Internacional. A capital equatoriana espera cerca de 5.000 pessoas para um evento que pretende ser um impulso para a vida eucarística do Equador e de todo o mundo.

De facto, a Eucaristia, mistério central da fé católica, é o tema central do número de fevereiro de 2024 da revista Omnes.

O dossier começa com uma entrevista a D. Alfredo José Espinoza Mateus, Arcebispo de Quito e Primaz do Equador, sobre este acontecimento que o país aguarda com expetativa, apesar dos difíceis momentos sociais que a nação equatoriana atravessa.

A par desta entrevista, a Omnes investiga a história e os objectivos dos Congressos Eucarísticos Internacionais, que se realizam na Igreja desde meados do século XIX.

O aprofundamento da Eucaristia continua no dossier com uma série de pequenos artigos, de carácter vivencial e catequético, sobre a Santa Missa, a Comunhão Eucarística, a Exposição do Santíssimo Sacramento, a celebração dominical e um contributo especial - a oração sobre a Adoração de Jesus no Santíssimo Sacramento.

Olivia Maurel, a voz contra a barriga de aluguer

Omnes inclui também uma entrevista com Olivia Maurel, uma jovem francesa nascida de uma barriga de aluguer, que se tornou a porta-voz da referência internacional na luta contra esta forma de exploração.

Maurel experimentou em primeira mão as consequências de ser fruto de uma "encomenda" dos seus pais e quer sensibilizar a sociedade para a violação flagrante dos direitos humanos que esta prática implica, bem como para as consequências que esta desnaturalização da maternidade tem para as mães de aluguer e para os filhos de aluguer.

Apesar de ateia, escreveu uma carta ao Papa a contar o seu testemunho e o pontífice denunciou, no início de janeiro de 2024, a prática da maternidade de substituição numa alocução aos membros do corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé.

O conflito na Igreja Siro-Malabar

A secção "Mundo" centra-se no conflito entre a Santa Sé e um grupo de quatrocentos padres orientais, católicos de rito siro-malabar da Índia, sobre a direção em que o padre deve celebrar a Santa Qurbana (celebração eucarística).

Este debate, que tem a sua origem num
A disposição do Concílio Vaticano II para que as regiões orientais abandonassem os costumes e ritos latinos e regressassem aos seus ritos orientais tradicionais foi parcialmente resolvida no Sínodo da Igreja Siro-Malabar, onde foi acordada uma solução uniforme, que não foi igualmente bem acolhida pelos católicos siro-malabares.

Os principais temas do Papa

As secções Roma e Mundo, por sua vez, apresentam os principais temas abordados pelo Papa Francisco nas suas várias intervenções públicas em janeiro. Neste sentido, destacam-se os encontros com os membros do Dicastério para a Doutrina da Fé e com os juízes do Tribunal da Rota Romana, por ocasião da inauguração do Ano Judicial. Em ambos, Francisco reiterou a urgência de anunciar o Evangelho em resposta às necessidades dos tempos actuais.

A comunicação foi outro dos temas abordados por Francisco. O Papa pediu aos comunicadores três palavras: testemunho, coragem e visão de conjunto.

Poetas e teólogos

A poetisa Circe Maia e a influência dos teólogos alemães Johann Adam Möhler e Mathias Scheeben são outros temas da edição de fevereiro.

O conteúdo do presente revista está disponível para os assinantes da Omnes. O número de fevereiro de 2024 da Omnes já está disponível em formato digital para os assinantes da Omnes. Nos próximos dias, será também entregue na morada habitual de quem tem este tipo de assinatura. subscrição.

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O que o Papa espera das universidades católicas

Nas últimas semanas, o Papa Francisco recebeu em audiência, em diferentes momentos, representantes de instituições universitárias católicas que operam em diferentes partes do mundo e em diferentes contextos culturais.

Giovanni Tridente-2 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Recentemente, Francisco teve encontros com representantes de diversas universidades católicas. Encontrou-se, por exemplo, com uma delegação da Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA), e antes disso com os Reitores e professores das Universidades Católicas pertencentes à Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC). Finalmente, em meados de janeiro, dirigiu algumas reflexões às autoridades académicas e aos estudantes do Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém.

Nos vários encontros, o Pontífice sublinhou como as universidades de inspiração católica sempre desempenharam um papel importante na sociedade, promovendo a formação integral das pessoas segundo os valores evangélicos. Por este motivo, encorajou-as a desempenhar um papel ainda mais significativo no mundo contemporâneo, conciliando as várias almas do empenho educativo, cultural e social.

União e colaboração

Um dos principais desafios que o Papa atribui às Universidades Católicas é o de trabalhar em conjunto como uma rede global, para superar a fragmentação e promover uma colaboração mais efectiva entre instituições que, no entanto, nasceram em tempos e contextos diferentes.

Na sua visão, estas universidades devem unir-se para partilhar recursos, conhecimentos e experiências, ultrapassando as fronteiras das suas próprias instituições. Sem esquecer a necessidade de manter o contacto com as comunidades locais, contribuindo também, indiretamente, para a construção de uma cultura de paz e justiça.

O humanismo cristão como fundamento

É evidente que na base destas instituições está e deve continuar a estar uma visão cristã do humanismo. Não se trata apenas de oferecer uma formação académica de qualidade, como o Papa tem sublinhado em várias ocasiões, mas de cultivar cada pessoa na sua integridade. Daí a importância de uma educação que integre o desenvolvimento intelectual, afetivo e espiritual dos alunos.

No fundo, o Santo Padre chamou a atenção para o facto de que a educação cristã não se limita à aquisição de conhecimentos, mas visa formar pessoas capazes de viver segundo os valores do Evangelho, integrando assim a fé e a razão e desenvolvendo uma compreensão profunda da verdade para a aplicar na sua vida quotidiana.

A verdade e a promoção da paz

Esta procura da verdade é também efectuada através do diálogo interdisciplinar e do respeito pela diversidade de perspectivas, procurando encontrar soluções para os problemas globais que estejam de acordo com todos os ensinamentos da Igreja.

Isto inclui certamente todos os esforços para promover a paz: num mundo marcado por conflitos e divisões, estas instituições devem ser actores-chave na construção de uma cultura de reconciliação. Isto implica um empenhamento na justiça social, no respeito pelos direitos humanos e na promoção da dignidade de cada pessoa.

Compromisso com os mais vulneráveis

Outro aspeto central da visão do Papa Francisco para as universidades católicas é o compromisso com os mais vulneráveis. Estas instituições podem ser um farol de esperança para os excluídos e marginalizados, e é necessário encontrar formas e meios para refletir sobre como combater, por exemplo, a pobreza, a discriminação e a injustiça. De igual modo, há o compromisso com o ambiente e a proteção da criação, outro elemento central no pontificado de Francisco.

Enquanto guardiãs da criação, estas instituições têm a responsabilidade de promover o desenvolvimento sustentável e de sensibilizar para os desafios ambientais que o mundo enfrenta.

Em última análise, só através de um empenhamento concreto e de uma visão centrada no ser humano - é este o pensamento do Papa Francisco em poucas palavras - é que estes centros de formação podem realmente desempenhar um papel significativo na transformação da sociedade e na promoção de um mundo melhor, que todos esperam.

Vaticano

A Quaresma é "um tempo de conversão" e de "liberdade", diz o Papa

O Papa Francisco publicou a sua mensagem para a Quaresma de 2024, com o tema "Através do deserto, Deus conduz-nos à liberdade".

Loreto Rios-1 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O Papa Francisco publicou hoje o seu mensagem para a Quaresma de 2024Este ano, terá início a 14 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas. O Domingo de Ramos será celebrado no dia 24 de março, e a Quinta-feira Santa e a Sexta-feira Santa nos dias 28 e 29 de março, respetivamente.

Da escravatura à liberdade

O Papa abre a sua mensagem quaresmal deste ano explicando que, desde o momento em que Deus se revela ao povo de Israel, anuncia a liberdade: "'Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egipto, de um lugar de escravidão' (Ex 20,2). Abre-se assim o decálogo dado a Moisés no monte Sinai. O povo sabe bem de que êxodo Deus está a falar; a experiência da escravidão está ainda impressa na sua carne".

Neste contexto, Francisco observa que o povo de Israel recebeu os mandamentos como um caminho para a liberdade, e não simplesmente como um conjunto de regras a seguir: "(O povo de Israel) recebeu as dez palavras da aliança no deserto como um caminho para a liberdade. Chamamos-lhes 'mandamentos', sublinhando a força do amor com que Deus educa o seu povo".

O Santo Padre sublinha ainda que este caminho para a liberdade é um processo que amadurece gradualmente, não se alcança de um dia para o outro, e que todos nós estamos neste caminho: "Tal como Israel no deserto traz ainda dentro de si o Egipto - tem muitas vezes saudades do passado e murmura contra o céu e contra Moisés - assim também hoje o povo de Deus traz dentro de si laços opressivos que deve decidir abandonar".

O Papa indica alguns sinais para detetar estes "laços": "Apercebemo-nos disso quando nos falta a esperança e vagueamos pela vida como num deserto desolado, sem uma terra prometida para a qual possamos partir juntos".

O deserto, a promessa de algo novo

No entanto, este deserto, este estado aparentemente negativo, pode ser transformado em algo mais belo do que era antes, como uma terra que está a ser preparada para que nela floresça um pomar: "A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto se torna de novo - como anuncia o profeta Oséias - o lugar do primeiro amor (Os 2,16-17)". Nesta perspetiva, o Papa sublinha que o deserto é uma fase da pedagogia divina com o homem: "Deus educa o seu povo a abandonar a escravidão e a experimentar a passagem da morte para a vida".

Mas este conceito pode permanecer "um caminho abstrato", adverte Francisco. "Para que a nossa Quaresma seja também concreta, o primeiro passo é querer ver a realidade. Quando, na sarça ardente, o Senhor atraiu Moisés e lhe falou, revelou-se imediatamente como um Deus que vê e sobretudo escuta: "Vi a opressão do meu povo no Egipto e ouvi as suas queixas contra os seus opressores; conheço os seus sofrimentos. Desci para os libertar dos egípcios, para os tirar desta terra, para os levar para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel" (Ex 3,7-8)" (Ex 3,7-8).

"Onde está o teu irmão?

O Papa convida-nos a interrogarmo-nos se este grito nos atinge também a nós: "Também hoje, o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu. Perguntemo-nos: chega também a nós, abala-nos, comove-nos? Muitos factores afastam-nos uns dos outros, negando a fraternidade que nos une desde o início".

Outras perguntas úteis para o exame de consciência apontadas por Francisco são: "Onde estás?" (Gn 3,9) e "Onde está o teu irmão?" (Gn 4,9).

O Santo Padre convida-nos a refletir sobre elas e alerta para uma possível saudade do "domínio do Faraó", ou seja, da escravidão, mesmo que seja "um domínio que nos deixa exaustos e nos torna insensíveis". Porque, "embora a nossa libertação já tenha começado com o batismo, permanece em nós um desejo inexplicável de escravidão. É como uma atração pela segurança do que já vimos, em detrimento da liberdade".

Perante este facto, o Papa propõe estas questões para reflexão: "Desejo um mundo novo e estou disposto a romper os meus compromissos com o antigo? Porque, segundo o Santo Padre, um dos males mais importantes do nosso tempo é a falta de esperança: "O testemunho de muitos irmãos bispos e de um grande número de pessoas que trabalham pela paz e pela justiça convence-me cada vez mais de que o que deve ser denunciado é a falta de esperança. É um impedimento para sonhar, um grito mudo que chega ao céu e toca o coração de Deus. É como a saudade da escravatura que paralisa Israel no deserto, impedindo-o de avançar.

A batalha espiritual

A Quaresma, porém, pode ser o momento ideal para decidir "não voltar a cair na escravidão": "Deus não se cansa de nós. Acolhamos a Quaresma como um tempo forte em que a sua Palavra se dirige de novo a nós. [É um tempo de conversão, um tempo de liberdade. O próprio Jesus, como recordamos todos os anos no primeiro domingo da Quaresma, foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser provado na sua liberdade. Durante quarenta dias, ele estará diante de nós e connosco: é o Filho incarnado. Ao contrário do Faraó, Deus não quer súbditos, mas filhos. O deserto é o espaço em que a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravatura. Na Quaresma, encontramos novos critérios de julgamento e uma comunidade com a qual empreender um caminho nunca antes percorrido".

Este regresso à liberdade implica também uma atitude de combate, pois a vida cristã é, antes de mais, uma batalha espiritual: "Trata-se de uma luta, que o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto nos dizem claramente. À voz de Deus, que diz: "Tu és o meu Filho muito amado" (Mc 1,11) e "Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20,3), opõem-se, de facto, as mentiras do inimigo".

Nesta linha, o Papa alerta também para o perigo dos "ídolos": "Sentir-se omnipotente, reconhecido por todos, aproveitar-se dos outros: cada ser humano sente dentro de si a sedução desta mentira". Também nós podemos ser escravos da riquezaPodemos ficar apegados ao dinheiro, a certos projectos, ideias, objectivos, à nossa posição, a uma tradição e até a algumas pessoas. "Estas coisas, em vez de nos conduzirem, paralisam-nos", adverte Francisco.

Agir é também parar

Nesta sociedade acelerada e desenfreada, o Santo Padre convida-nos também a mudar o ritmo durante estes quarenta dias: "É tempo de agir, e na Quaresma agir é também fazer uma pausa. Parar na oração, acolher a Palavra de Deus e parar, como o samaritano, diante do irmão ferido. O amor a Deus e ao próximo é um só amor. Não ter outros deuses é deter-se diante da presença de Deus, na carne do próximo.

Por isso, o Papa recorda que tanto a oração, como a esmola e o jejum, propostos para estes dias, "não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: livrarmo-nos dos ídolos que nos pesam, livrarmo-nos dos apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará.

Além disso, a Quaresma faz-nos redescobrir "a dimensão contemplativa da vida", que "mobilizará novas energias", levando-nos ao encontro dos outros: "Na presença de Deus, tornamo-nos irmãs e irmãos [...]; em vez de ameaças e inimigos, encontramos companheiros de viagem. Este é o sonho de Deus, a terra prometida para a qual marchamos para sair da escravatura.

Citando um discurso que proferiu na JMJ de Lisboa, o Papa salientou que é verdade que vivemos num tempo com muitos desafios, mas encorajou-nos a pensar "que não estamos em agonia, mas em trabalho; não estamos no fim, mas no início de um grande espetáculo".

"A fé e a caridade tomam esta pequena esperança pela mão", conclui o Papa, "ensinam-na a caminhar e, ao mesmo tempo, é ela que a arrasta para a frente".

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O que são as religiões da nova era e as pseudo-religiões?

Não é uma religião e não tem uma doutrina fixa, a nova era -ou nova era - é uma forma de ver, pensar e agir que muitas pessoas e organizações adoptaram nas suas vidas.

Alejandro Vázquez-Dodero-1 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O desenvolvimento da personalidade do ser humano tem uma componente espiritual para corresponder plenamente à sua natureza. Isto ultrapassa a simples não-matéria e leva-o a procurar uma religião - em sentido lato - entendendo-a como aquela realidade desejada onde pode esperar e colocar os seus desejos.

O nosso instinto de sobrevivência está ligado à consciência da passagem do tempo e do facto de que o futuro pode chegar; algo que não acontece com o resto dos animais, os não racionais. É precisamente isso que faz do homem um buscador do sentido da sua vida, que transcende o imediato, o terreno, o efémero e o passageiro. É precisamente aqui que a religião - como dizemos, em sentido lato - vem ao de cima, preenchendo esses anseios.

Ora, a verdadeira religião só pode ser uma, pois as religiões contradizem-se umas às outras e a verdade só pode estar num lugar. Se um diz que Goya nasceu em Espanha e outro diz que nasceu na Suécia, é evidente que não podem estar ambos certos ao mesmo tempo. Uma das duas está, sem dúvida, errada.

Seria absurdo pensar que Deus revelou várias religiões contraditórias. A única religião verdadeira é a que Deus revelou, e podemos conhecê-la por certos sinais, como os milagres de Jesus Cristo. 

Acontece que a religião católica foi fundada por Cristo-Deus; todas as outras foram fundadas por homens. Nem Buda, nem Confúcio, nem Maomé, nem Lutero afirmaram ser Deus.

O próprio Jesus Cristo afirmou repetidamente na sua vida que era Deus e, a partir dessa condição, fundou uma única Igreja, que é santa, católica e apostólica. Todas as outras igrejas e religiões estão erradas: umas, como o budismo, porque não reconhecem o verdadeiro Deus; outras, como o protestantismo, porque se separaram da Igreja original e verdadeira.

Mas, para além das religiões, temos outras realidades que não são religiões e que, no entanto, vêm ocupar o seu lugar.

Para centrar o discurso, vamos referir-nos ao fenómeno da nova era -ou nova era - que, sem ser uma religião, uma igreja ou uma seita, e sem ter uma doutrina fixa, é uma forma de ver, pensar e agir que muitas pessoas e organizações adoptaram para mudar o mundo de acordo com crenças que têm em comum. Para essas pessoas, esta é a sua religião. 

Como é que se identifica uma realidade pseudo-religiosa do nova era? 

O objetivo do nova era é introduzir o homem naquilo a que os seus ideólogos chamam um novo paradigma, ou seja, uma forma totalmente diferente de se ver a si próprio e de percecionar a realidade. A caraterística mais marcante da nova eraO resultado de todas as suas crenças é o relativismo religioso, espiritual e moral.

O que promove manifesta-se na música, no cinema, na literatura, na autoajuda, em algumas terapias.

Trata-se de empurrar a Humanidade para uma nova corrente espiritual, e fazer surgir uma nova era ou época - uma nova era ou época.nova era- para o primeiro.

A Santa Sé, em 2003, referiu-se expressamente a esta realidade e sublinhou a dificuldade em conciliar a perspetiva que está na base da nova era com a doutrina e a espiritualidade cristãs. 

Esta corrente sublinha a importância da dimensão espiritual do homem e a sua integração com o resto da sua vida, a procura de um sentido para a existência, a relação entre o ser humano e o resto da criação, o desejo de mudança pessoal e social.

No entanto, o que está a ser criticado é o facto de o nova era não oferece uma verdadeira resposta, mas um substituto: procura a felicidade onde ela não existe.

A Nova Era e a Igreja Católica

De facto, o documento da Santa Sé de 2003 sublinha que, como reação à modernidade, a nova era actua sobretudo ao nível dos sentimentos, dos instintos e das emoções. A ansiedade face a um futuro apocalítico de instabilidade económica, incerteza política e alterações climáticas desempenha um papel importante na procura de uma alternativa, de uma relação resolutamente otimista com o cosmos. 

Não é por acaso", continua o documento, "que o nova era tem tido um enorme sucesso numa época caracterizada por uma exaltação quase universal da diversidade. Para muitos, normas e credos absolutos não são mais do que uma incapacidade de tolerar as opiniões e convicções dos outros. Num tal clima, os estilos de vida e as teorias alternativas têm tido um êxito extraordinário, e é aí que reside o nova era.

Daí resultou uma espiritualidade que se baseia mais na experiência sensível do que na razão e que coloca o sentimento à frente da verdade. A espiritualidade é assim reduzida à esfera do sensível e do irracional: ao sentir-se bem, à procura exclusiva do bem-estar individual. Assim, a oração deixa de ser um diálogo interpessoal com o Deus transcendente e torna-se um mero monólogo interior, uma busca introspectiva de si mesmo.

O traço caraterístico da nova era É também o espírito do individualismo que permite a cada um formular a sua própria verdade religiosa, filosófica e ética. Propõe uma nova consciência no homem, através da qual ele se aperceberá dos seus poderes sobrenaturais e saberá que não existe um Deus fora de si. 

Cada homem, portanto, cria a sua própria verdade. Não há certo e errado, cada experiência é um passo em direção à plena consciência da sua divindade. Tudo é "deus" e "deus" está em tudo; todas as religiões são iguais e dizem basicamente a mesma coisa. Defende também que todos os homens vivem muitas vidas, reencarnando uma e outra vez até atingirem uma nova consciência e se dissolverem na força divina do cosmos, o que é obviamente incompatível com a fé católica. 

Em que é que o Deus da fé católica difere do Deus da nova era?

O Deus da fé católica é uma pessoa, o "deus" da nova era é uma força impessoal e anónima.

O Deus da fé católica é o Criador de tudo, mas não se identifica com nada criado. O Deus da nova era é a criação que gradualmente toma consciência de si mesma.

O Deus da fé católica é infinitamente superior ao homem, mas inclina-se para ele para entrar em amizade com ele: é o seu Pai.

O Deus da fé católica julgará cada homem de acordo com a sua resposta a esse amor. O "deus" da nova era é o mesmo homem que está para além do bem e do mal. No nova era o amor mais elevado é o amor a si próprio. 

O nova era defende que Jesus Cristo foi mais um mestre iluminado entre muitos. Defende que a única diferença entre Jesus Cristo e os outros homens é o facto de ele ter percebido a sua divindade, enquanto a maioria dos homens ainda não a descobriu. Assim, nega que Deus se tenha feito homem para nos salvar do pecado. 

O conceito de divindade da nova era

O nova era não hesita em misturar formas religiosas de tradições muito diferentes, mesmo quando existem contradições fundamentais. Convém recordar que a oração cristã se baseia na Palavra de Deus, está centrada na pessoa de Cristo, conduz ao diálogo amoroso com Jesus Cristo e leva sempre à caridade para com o próximo. As técnicas de concentração profunda e os métodos orientais de meditação encerram o sujeito em si mesmo, empurram-no para um absoluto impessoal ou indefinido e ignoram o evangelho de Cristo. 

Quererá também redefinir a morte como uma transição agradável, sem ter de responder a um Deus pessoal, partindo do princípio de que cada um decide por si o que é bom e o que é mau, o que quebra os valores e conduz a uma armadilha emocional.

O nova era sustenta que "as coisas como as vemos agora" - cultura, conhecimento, relações familiares, vida, morte, amizades, sofrimento, pecado, bondade, etc. - são mera ilusão, o produto da consciência não iluminada.Dê o passo da afirmação de que tudo é deus para a afirmação de que não há deus fora de si. 

A revelação de Deus em Jesus Cristo perde o seu carácter único e irrepetível.Muitos seriam os "messias" que apareceram, ou seja, mestres especialmente iluminados que aparecem para guiar a humanidade: Krishna, Buda, Jesus, Quetzacoatl, Maomé, Sun Myung Moon, Osho, Sai Baba e inúmeros outros seriam profetas da mesma estatura com a mesma mensagem.O cristianismo revela-se assim pouco mais do que um período passageiro da história.  

Meu Deus, abandonaste-me?

Há situações na nossa história pessoal em que clamamos ao céu e não encontramos resposta. Por vezes, os problemas e as dificuldades da vida atropelam-se e parece que nos encontramos sozinhos, sem ajuda.

1 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

A uma doença segue-se a morte de um familiar e, quando ainda não recuperámos, chega o problema económico ou profissional. Por vezes, só nos resta exclamar: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Mas será que Deus nos pode abandonar, e seria essa a atitude de um bom pai, de um pai que ama os seus filhos?

Certamente, há situações na nossa história pessoal em que clamamos ao céu e não encontramos resposta. Por vezes, os problemas e as dificuldades da vida atropelam-nos e parece que nos encontramos sozinhos, desamparados, no centro do turbilhão que nos suga para as águas escuras do oceano mais profundo.

Compreende-se que Deus não é uma fada madrinha que vem tirar-nos de todas as dificuldades. A natureza, neste mundo imperfeito em que aguardamos os novos céus e a nova terra, tem as suas regras e actua sem pedir autorização ao seu criador em cada momento. É por isso que surgem as doenças, a morte ou as desgraças naturais. A isto juntam-se os males criados pelo homem: injustiças, disputas, desilusões...

Um a um, os golpes são ultrapassados, mas quando se sucedem, nem mesmo o melhor parceiro de treino consegue resistir-lhes, e surge naturalmente a questão: "Será que Deus nos rejeitou para sempre e não voltará a favorecer-nos? Será que a sua misericórdia se esgotou, será que a sua promessa terminou para sempre? Será que Deus se esqueceu da sua bondade, ou será que a ira fechou o seu coração?

Nada como os salmos - a citação acima é um excerto do Salmo 77 - para traduzir em palavras o sentimento de abandono, de solidão, de incompreensão do homem perante o mal e o aparente silêncio de Deus. Se és todo-poderoso, porque não ages, porque te calas, porque permites que isto me aconteça?

O próprio Jesus rezou com um deles, o número 22, quando experimentou a face mais amarga da sua humanidade, pregado na cruz. Aquele que disse "quem me viu, viu o Pai", aquele que não podia afastar-se de Deus porque era o próprio Deus, teve também sentimentos de afastamento, de abandono; até certo ponto, de dúvida, de incerteza. É esta a fragilidade humana que ele levou ao extremo.

O silêncio de Deus perante o sofrimento das suas criaturas fez correr rios de tinta e queimou milhares de milhões de neurónios dos mais sublimes pensadores, mas uma antiga lenda circula na Internet. Noruega -Não consegui confirmar se é realmente norueguês e se é realmente antigo - o que explica muito simplesmente porque é que Deus está tantas vezes em silêncio.

A personagem principal é um eremita chamado Haakon, que cuidava de uma capela onde a população local vinha rezar diante de uma imagem de um Cristo muito milagroso. Um dia, o anacoreta, cheio de zelo e amor a Deus, ajoelha-se diante da imagem e pede ao Senhor que o substitua na cruz:

Quero sofrer por ti, deixa-me tomar o teu lugar", disse ele.

A sua oração chegou ao Altíssimo, que aceitou a troca com a condição de que o eremita se mantivesse sempre em silêncio, como Ele fez.

Nos primeiros tempos, tudo correu bem, porque Haakon estava sempre em silêncio na cruz e o Senhor fazia-se passar por ele sem que as pessoas se apercebessem. Mas um dia, um homem rico veio rezar e, ao ajoelhar-se, deixou cair a carteira. O nosso protagonista viu-a e ficou em silêncio. Passado algum tempo, apareceu um homem pobre que, depois de rezar, encontrou a carteira, pegou nela e foi-se embora, dando saltos de alegria. Haakon continuou calado quando, pouco depois, entrou um jovem e começou a pedir proteção para uma viagem perigosa que ia empreender. Nisto, o homem rico voltou a entrar à procura da sua carteira. Ao ver o jovem a rezar, pensou que talvez a tivesse encontrado e exigiu-a. Apesar de o jovem lhe ter dito que não a tinha visto, o rico não acreditou e bateu-lhe.

-Pára! -Haakon gritou do alto da cruz.

Atacado e agressor ficaram atónitos e, assustados com a visão do Cristo que falava, fugiram cada um por sua vez, deixando o eremita novamente sozinho com Jesus, que lhe ordenou que descesse da cruz por não ter cumprido a sua palavra.

-Vês como não eras capaz de ocupar o meu lugar? repreendeu-o o crucificado ao regressar ao seu posto.

-Não posso permitir esta injustiça, meu Senhor! -replicou o eremita, já aos pés da cruz. Vós vistes que o rapaz era inocente.

Olhando para ele com misericórdia, Jesus explicou:

-Não sabias que o rico tinha dinheiro na carteira para comprar a virgindade de uma jovem, enquanto o pobre precisava desse dinheiro para não deixar a sua família morrer à fome. Foi por isso que o deixei levá-la. Com o espancamento do jovem viajante pelo rico, eu queria tê-lo impedido de chegar a tempo, como acabou por fazer por tua causa, de embarcar num navio em que acaba de encontrar a morte, porque se afundou. Não sabias de nada. Sabia, e é por isso que me mantenho calado.

E assim termina esta espécie de midrash que nos ensina a acreditar que a vontade de Deus é a melhor para nós, e a confiar naquele que sabemos que, no seu aparente silêncio, também nos ama muito.

Se conhece alguém que está a ser espancado pela vida, talvez queira ouvir esta história de Haakon para compreender os mistérios daquele que nunca nos abandona, especialmente quando estamos na cruz.

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

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Evangelho

Liberdade interior. Quinto Domingo do Tempo Comum (B)

Joseph Evans comenta as leituras do Quinto Domingo do Tempo Comum (B) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-1 de fevereiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

No Evangelho de hoje, vemos Jesus fazer todo o tipo de milagres: curar a sogra de Simão da febre, expulsar demónios e curar doenças. Mas isto é apenas um sinal de que o Espírito Santo está sobre ele. Jesus realiza estas acções porque está cheio do Espírito e a libertação é um sinal da ação do Espírito: "...".O Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade."(2 Cor 3,17). O Espírito é como o vento, que não pode ser coagido. Foi assim que Nosso Senhor descreveu a atividade do Espírito a Nicodemos, quando este o foi visitar (cf. Jo 3,1-8). 

Pode haver alturas na vida em que nos sentimos muito limitados, sem liberdade, como Job na primeira leitura: "...".A vida do homem na terra não é uma milícia, e os seus dias não são como os de um trabalhador; como um escravo, ele suspira pela sombra; como um trabalhador, ele espera pelo seu salário. A minha herança foram meses desperdiçados, foram-me atribuídas noites de labuta. Quando me deito, penso: quando é que me vou levantar? A noite dura eternamente, e estou cansado de me remexer até ao amanhecer. 

Este sentimento pode ser objetivo ou exagerado. Em qualquer dos casos, é preciso lembrar que a liberdade é, antes de mais, interior. O que realmente tira a liberdade são as limitações interiores: os vícios, as fraquezas de carácter. Alguém - os mártires cristãos, por exemplo - pode estar fechado numa prisão e ser interiormente totalmente livre. 

Precisamos do Espírito Santo para nos dar a graça de encontrar a liberdade. A Quaresma vai começar em breve e é uma boa ocasião para nos interrogarmos sobre o que precisamos de mudar para crescer em liberdade: o que precisa de ser cortado em nós (um vício a eliminar) ou melhorado (uma virtude a desenvolver)? Que defeito, mau hábito ou vício está a tirar-me a liberdade? Pode ser a preguiça, o apego ao telemóvel ou à Internet, à comida ou à bebida, aos gastos, ou qualquer outra coisa. A Quaresma é um tempo de graça para lutar mais contra estes vícios e encontrar uma maior liberdade em Deus. O sacramento da Confissão é o sacramento da liberdade, pois liberta-nos dos nossos pecados.

Se estivermos cheios do Espírito Santo, estaremos cheios de liberdade. De facto, como explica São Paulo na segunda leitura, esta liberdade leva-nos a fazermo-nos de bom grado escravos dos outros: "...somos livres para sermos escravos dos outros".Porque, sendo livre como sou, fiz-me escravo de todos para ganhar o máximo possível". Como fez Jesus. A liberdade encontra a sua expressão mais plena na entrega amorosa.

Homilia sobre as leituras do 5º Domingo do Tempo Comum (B)

O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Vaticano

Francisco incentiva o perdão para superar a raiva

O Papa meditou esta manhã na Audiência Geral sobre a cólera e encorajou a procurar a reconciliação com os outros antes do anoitecer, a "empenhar-se no perdão, na arte do perdão" e a transformar a cólera, no caso de injustiça, num zelo santo pelo bem. Rezou também pelas vítimas da guerra.

Francisco Otamendi-31 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Na sexta sessão do catequese sobre "os vícios e as virtudes", o Papa Francisco meditou na Sala Paulo VI, no Público deste 31 de janeiro, a festa de São João BoscoO relatório, sobre a raiva, um vício "visível", "difícil de esconder", "capaz de tirar o sono" e que "não desaparece com o tempo".

A cólera transforma o nosso semblante e agita o nosso corpo, desenvolvendo em nós "a perceção negativa do outro", disse o Pontífice no seu discurso. meditaçãoem que propõe duas receitas contra a raiva.

Em primeiro lugar, "que não passemos a noite sem ter procurado a reconciliação, a fim de cortar pela raiz esta espiral demoníaca". E, em segundo lugar, "levar à oração o compromisso de perdoar aos outros, como Deus faz connosco".

A santa indignação de Jesus, o zelo pelo bem

Há também "uma cólera santa", recordou o Papa, "de que nos fala também o Evangelho, que nasce do nosso ser. Não nos permite ficar indiferentes perante as injustiças". Ela não nos permite ficar indiferentes perante a injustiça". Os antigos sabiam bem que "há em nós uma parte irascível que não pode nem deve ser negada (...). Não somos responsáveis pela cólera quando ela surge, mas sempre no seu desenvolvimento, e por vezes é bom que a cólera seja descarregada de uma forma adequada".

Se uma pessoa nunca se zanga, se não se indigna perante a injustiça, se não sente algo que lhe abala o coração perante a opressão dos mais fracos, então não é humana e muito menos cristã, sublinhou Francisco. Há uma indignação santa, que não é raiva. Jesus conheceu a santa indignação várias vezes na sua vida, nunca respondeu ao mal com o mal, mas na sua alma experimentou este sentimento e, no caso dos mercadores do templo, realizou uma ação forte e profética, ditada não pela ira mas pelo zelo pela casa do Senhor.

Cabe-nos a nós, com a ajuda do Espírito Santo, encontrar a justa medida das paixões, educá-las bem, para que se orientem para o bem e não para o mal, sublinhou o Santo Padre.

"Peçamos ao Senhor que tenha consciência da nossa fraqueza perante a cólera, para que, quando ela surgir, a possamos canalizar positivamente, para que não nos domine, mas que a transformemos num santo zelo pelo bem", disse aos peregrinos de língua espanhola.

Na origem das guerras e da violência

Francisco encorajou no Público praticar a arte do perdão. O que contraria a cólera é a benevolência, a doçura, a paciência. A cólera é um vício terrível que está na origem das guerras e da violência.

Neste sentido, o Papa recordou que amanhã a Itália celebra o Dia Nacional das Vítimas Civis de Guerra. À memória dos que tombaram nas duas guerras mundiais, acrescentou "as muitas, demasiadas, vítimas indefesas das guerras que infelizmente ainda ensanguentam o nosso planeta, como no Médio Oriente e na Ucrânia. Que o seu grito de dor chegue ao coração dos dirigentes das nações e inspire projectos de paz.

As histórias das guerras actuais denotam "tanta crueldade", lamentou Francisco. "A paz é suave, não é cruel.

Sacerdotes da Universidade da Santa Cruz, festa de São João Bosco

Antes de dar a bênção, o Papa saudou em italiano os mais de seis mil fiéis presentes na Aula, e fez uma menção especial aos sacerdotes que estão a participar num curso de formação promovido pelo Pontifícia Universidade da Santa CruzOs peregrinos da paróquia do Divino Cristo Operário de Ancona, os alunos de várias escolas e bandas de música.

Como sempre, as suas reflexões foram dirigidas aos jovens, em memória de São João BoscoCitou-o quando se dirigiu aos peregrinos de diferentes línguas, aos doentes, aos idosos e aos recém-casados.

O autorFrancisco Otamendi

Cultura

A Loja das Flores, os bastidores das celebrações no Vaticano

Cerca de quarenta pessoas compõem a Floricultura do Vaticano, um antigo serviço da Santa Sé que prepara as celebrações do Vaticano.

Hernan Sergio Mora-31 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Por detrás das belas cerimónias, audiências e eventos que têm lugar no Vaticano, nos bastidores existe uma instituição pouco conhecida do grande público que - silenciosamente e com dificuldade - trata da logística que permite a realização destas grandes cerimónias.

Estamos a falar da Floricultura, composta por cerca de quarenta pessoas, que coordenam e preparam tudo o que é necessário na Basílica do Vaticano, na Praça de São Pedro, nas Basílicas Papais Romanas, na Sala Paulo VI, no apartamento do Papa, bem como nas audiências no Palácio Apostólico e em vários edifícios do Vaticano.

Também se ocupa da decoração e da manutenção corrente do mobiliário e dispõe de três laboratórios de restauro: um de mobiliário e estofos, outro de marcenaria e restauro de mobiliário e um terceiro especializado em douramento. Há ainda o departamento de montagem que se encarrega, entre outras tarefas, de colocar até 30.000 cadeiras quando há celebrações fora da Praça.

Origem

O nome Floreria tem uma origem antiga. Provém provavelmente do espanhol e designava as pessoas que cuidavam das flores para as cerimónias. Os inventários do século XVI dizem-nos que, desde o início, existia uma Florería (loja de flores) com tapeçarias, gobelins e tecidos destinados a decorar as salas e a cobrir grandes paredes. Hoje em dia, a Floreria alberga todos os objectos não consagrados necessários às funções papais.

Antigamente, chamava-se Florista apostólica e dependia do Palácio Apostólico, ou seja, diretamente do Papa, da Secretaria de Estado e da Prefeitura da Casa Pontifícia. Nas décadas de 1960 e 1970 foi transferido para o Governatorato da Cidade do Vaticano com o nome de "...".Serviço de flores"Faz agora parte da Direção de Infra-estruturas e Serviços, juntamente com o Serviço de Jardins e Ambiente e o sector das Infra-estruturas.

Também a espiritualidade

Uma tradição dos funcionários de toda a infraestrutura e gestão de serviços, da qual a florista também depende, é assistir à missa todas as primeiras sextas-feiras no barracão da oficina mecânica.

A assistência espiritual está também à disposição de todos os empregados do Governatorato que a desejem receber, e estes podem encontrar-se com o Papa em várias alturas do ano. Além disso, este ano foi introduzida a festa familiar ao ar livre.

Outros trabalhos

Outra tarefa é tratar das mudanças e restaurações presentes não só no Vaticano, mas também em áreas extraterritoriais e noutras partes de Roma, incluindo as sedes das Congregações localizadas na via della Conciliazione ou no palácio de São Calisto.

Sem esquecer os preparativos como, por exemplo, a celebração da Corpus DominiA tradicional procissão da Basílica de São João de Latrão Lateranense até Santa Maria Maggiore.

Conclave

Mesmo sabendo que a data de um conclave não pode ser prevista, a Floricultura tem um plano atualizado para a sua organização. Desde a Capela Sistina, com os tronos e os seus dosséis móveis, até ao fogão e à chaminé de ferro que anunciarão com o seu fumo negro e depois com o seu fumo branco a eleição ou não de um novo pontífice.

No passado, ocupavam-se também dos 500 quartos que tinham de preparar para o alojamento dos cardeais e da sua comitiva, uma tarefa agora simplificada graças ao alojamento na Domus Santa Marta, ou de outras questões como a tarefa de cortar todas as linhas telefónicas.

Venda de objectos florais para a caridade do Papa

Hoje, no Armazém das Roupas, perto da estação de comboios, há uma secção onde estão expostos alguns dos presentes que Francisco recebe dos chefes de Estado e de governo durante as audiências ou encontros. Mesmo muitos objectos que estavam guardados e empoeirados na Loja das Flores podem agora ser comprados em troca de uma oferta a ser doada à instituição de caridade do Papa.

O agradecimento do Papa

O Papa Francisco, na audiência de 17 de janeiro de 2014 com os funcionários da Floricultura, agradeceu pessoalmente o "cuidado, profissionalismo e disponibilidade" com que desempenham a sua missão.

E recordou que "organizar os ambientes para os vários encontros do Papa com os peregrinos e para as várias actividades da Santa Sé" é uma tarefa "indispensável", de modo a obter espaços acolhedores e instrumentos funcionais.

O autorHernan Sergio Mora

Vaticano

O Papa destaca o trabalho dos cuidados paliativos

O Papa Francisco pede aos católicos que rezem especialmente pelos doentes terminais durante o mês de fevereiro.

Paloma López Campos-30 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Papa Francisco mostra-se sempre muito próximo das pessoas que sofrem de doença. Por isso, não é de estranhar que peça aos católicos de todo o mundo que se juntem a ele durante o mês de fevereiro para rezar pelos "doentes terminais e suas famílias".

O Santo Padre preocupa-se com os "cuidados necessários e o acompanhamento, tanto do ponto de vista médico como humano" que é preciso dar a quem está doente.

Francis salienta no vídeo para o Rede Global de Oração que existe uma grande diferença entre os conceitos de "incurável e 'incurável'". Com base numa citação do Papa João Paulo II, defende que, embora a cura nem sempre seja possível, "os cuidados são sempre possíveis".

O Papa afirma que "mesmo quando há poucas hipóteses de cura, todos os doentes têm direito a acompanhamento médico, acompanhamento psicológico, acompanhamento espiritual e acompanhamento humano".

Cuidados paliativos

O Pontífice aproveita a ocasião para falar dos cuidados paliativos. Estes "garantem ao doente não só cuidados médicos, mas também um acompanhamento humano e próximo".

Na sua mensagem, o Papa lembra ainda que as famílias dos doentes "não podem ser deixadas sozinhas nestes momentos difíceis". Por isso, apela à promoção de um apoio aos que estão próximos dos doentes que se faça sentir a nível físico, espiritual e social.

Dia Mundial do Doente

A intenção do Papa surge precisamente no mês em que se celebra o Dia Mundial do Doente. No dia 11 de fevereiro, por ocasião da memória do Nossa Senhora de LourdesToda a Igreja se une para rezar por aqueles que sofrem da doença.

No seu mensagem para este dia, publicado no início de 2024, o Papa recordou que "o primeiro cuidado de que temos necessidade na doença é o de uma proximidade cheia de compaixão e ternura". Aproveitou mesmo a ocasião para encorajar os doentes a "não se envergonharem do seu desejo de proximidade e ternura".

O Santo Padre sublinhou que "os cristãos são particularmente chamados a fazer nosso o olhar compassivo de Jesus". Deste modo, poderemos "contrariar a cultura do individualismo, da indiferença, do descarte", e trocá-la por uma "cultura da ternura e da compaixão".

Intenção de oração do Papa Francisco para fevereiro de 2024
Vaticano

Verdade, caridade, coragem: as recomendações do Papa aos meios de comunicação católicos

Num encontro com os meios de comunicação social pertencentes à Conferência Episcopal Italiana, o Papa Francisco delineou as características que, na sua opinião, os comunicadores devem ter.

Antonino Piccione-30 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O jornalismo é a busca da verdade, uma matéria complexa que implica a virtude da escuta, a capacidade de discernimento e o cuidado no uso das palavras. Poucos dias depois do seu mensagem para o 58º Dia Mundial das ComunicaçõesO Papa Francisco oferece uma nova reflexão sobre o campo da informação e da comunicação, com a ajuda de uma audiência com jornalistas e técnicos da Tv2000 e da RadioinBlu2000, recebidos a 29 de janeiro na Sala Paulo VI, por ocasião do 25º aniversário do nascimento das estações de rádio da Conferência Episcopal Italiana.

O Pontífice sublinhou a importância de uma comunicação construtiva, protegida dos pecados que a minam, nomeadamente a desinformação, "contando com proximidade o bom e o belo das nossas comunidades", para "tornar protagonistas aqueles que normalmente acabam por ser figurantes ou nem sequer são tidos em conta".

Referindo-se à audiência concedida em 2014, o Pontífice observou que, desde então, "a paisagem mediática mudou muito", mas que hoje, como então, ambos os meios de comunicação, juntamente com o diário "Avvenire" e a Agenzia Sir, têm "uma filiação muito precisa: a Conferência Episcopal Italiana". 

Isto, na opinião de Francisco, não é de modo algum uma limitação, "pelo contrário, é uma expressão de grande liberdade, porque nos recorda que a comunicação e a informação estão sempre enraizadas no humano". Crucial, neste sentido, é o papel e a função do testemunho, em que o jornalista é chamado a contar "histórias em que a escuridão que nos rodeia não apaga a luz da esperança".

Jornalistas, uma "ponte" e não um "muro"

No envolvimento daqueles que narram a Igreja através dos seus meios de comunicação, não se pode deixar de "partir do coração" para tornar possível a "proximidade" e afirmar a verdade sem a separar da caridade. "Nunca separar os factos do coração! E depois, ter coragem. Não é por acaso que a "coragem" vem do coração. Quem tem coração tem também a coragem de ser alternativo, sem se tornar polémico ou agressivo; de ser credível, sem tentar impor o seu próprio ponto de vista; de ser um "construtor de pontes".

Para evitar os outros pecados que os jornalistas cometem frequentemente: a calúnia, a difamação, o amor pelo escândalo. Porque "o escândalo vende", como disse o Santo Padre no final de agosto, quando foi galardoado com a "É o jornalismo.

À luz destas considerações, a audiência dirigida aos católicos pode muito bem ser vista como uma contribuição adicional e mais específica que o Papa Bento XVI dá ao seu magistério sobre o tema do jornalismo, que não pode evitar a "responsabilidade" - outra palavra-chave - na perspetiva da objetividade, do respeito pela dignidade humana e da atenção ao bem comum. Desta forma - sublinha - poderemos reparar as fracturas, transformar a indiferença em falta de acolhimento e de relação".

A pessoa, em suma, é o fundamento e o objetivo "de cada serviço, de cada artigo, de cada programa". A pessoa deve ser servida e a verdade deve ser dita "com respeito e competência". Evitar, ou melhor, governar todos os instrumentos de manipulação, de contaminação cognitiva e de "alteração da realidade", porque o homem continua a fazer a diferença.

A informação", observa o Papa na Mensagem publicada na festa litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, "não pode ser separada das relações existenciais: envolve o corpo, o ser na realidade; exige que se relatem não só dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão, mas também a partilha".

Porque o jornalismo só pode continuar a fazer o seu valioso trabalho se não abdicar dos seus fundamentos. Há questões primordiais relacionadas com a regulamentação, a propriedade intelectual e a concorrência comercial.

A IA suscita também profundas preocupações sociais, nomeadamente no que respeita à desinformação, à discriminação e ao preconceito, bem como aos riscos de manipulação dos meios de comunicação social por grandes empresas ou entidades governamentais. É imperativo manter uma visão holística que se baseie nas recomendações do Papa Francisco.

O autorAntonino Piccione

Cultura

Manuel GarridoCada colega é uma pessoa, não uma ameaça".

Entrevista com Manuel Garrido, vencedor do prémio Bravo! de Comunicação Institucional 2024 e responsável, durante anos, pelo Gabinete de Informação do Opus Dei e pelo Santuário de Torreciudad.

Maria José Atienza-30 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Chama-se Manuel Garrido González mas para os profissionais da comunicação em Espanha é o Manolo.

Este jornalista de Oviedo, de quase 68 anos, dedicou a sua vida profissional à comunicação institucional em áreas da Igreja Católica, especialmente no santuário de Torreciudad e no Gabinete de Comunicação da Prelatura do Opus Dei. Agora combina o trabalho de assessoria com uma luta decidida contra uma doença, que enfrenta com "a confiança de estar nas melhores mãos: nas de Deus, nas dos médicos e nas de tantos amigos e colegas, que me ajudam com o seu afeto e proximidade".

Em 29 de janeiro de 2024, Manuel Garrido recolheu o Prémio Bravo! de Comunicação Institucional. Ao seu lado, nomes como Ana Iris Simón, a realizadora de cinema Santos Blancoou os criadores do ACdP #QueNãoTemVocêEsperta em prol da família e da maternidade recebeu este reconhecimento, atribuído pela Conferência Episcopal Espanhola.

Nesse dia, muitos colegas quiseram acompanhar Manuel Garrido na entrega de um prémio que ele atribuiu a todos os profissionais da comunicação.

Como é que recebeu o prémio Bravo! O que significa este reconhecimento após anos de trabalho e de serviço?

-Surpreendentemente, não estava à espera. Em todo o caso, congratulo-me com este incentivo dos meus colegas jornalistas, a quem o ofereço. E é um luxo recebê-lo ao lado de alguns galardoados extraordinários e de alto nível, como Ana Iris Simón, que sigo semanalmente. Ela referiu-se recentemente à importância de olhar para a frente sem perder de vista o passado, para poder apreciar tantas coisas boas, belas e verdadeiras. E ter um olhar limpo para saber apreciá-las e contá-las. Anotei-o, acho que é um bom conselho.

Viveu a mudança dos paradigmas da comunicação e da Igreja: como é que lida com os problemas profissionais quando estes afectam também a sua própria fé?

A fé leva-nos à oração para vermos com Deus as coisas que temos em mãos, para tentarmos trabalhar com alegria e esperança. Não é passividade ou preguiça, ou tudo igualO objetivo não é ser perfeccionista, mas lutar pela qualidade sem perfeccionismo, tentar fazer as coisas bem, apesar dos erros.

A fé dá-nos uma perspetiva que nos ajuda no imediato, retira-nos os holofotes e a importância e ajuda-nos a ver as coisas na sua justa medida. É mais do que um aliado na vida quotidiana. E, ao mesmo tempo, é reconfortante ver tantos comportamentos positivos que constroem e são maioritários. São estes que temos de contar e partilhar, que tornarão o rosto da Igreja mais amigável.

Que momentos de comunicação retira da sua carreira?

-Posso dizer que gostei muito de todas as peças que preparei, e que estou ansioso por as ver publicadas ou difundidas em qualquer meio de comunicação. Dito isto, escolheria a beatificação e canonização de São Josemaría, que vivi em Roma com os meus concidadãos de Barbastro e que foi seguida por numerosos meios de comunicação social. E destacaria também, como grande momento, a comunicação entre Torreciudad e Alto Aragón durante 21 anos felizes em que pude ver o grande dom que o santuário é para a Igreja, a diocese e o território. E temos de continuar a cuidar dele em conjunto.

Na sua opinião, quais devem ser as chaves da comunicação numa instituição eclesiástica?

-Vejo duas chaves. A proximidade e o afeto pessoal para com os profissionais e a oferta de informações úteis aos meios de comunicação social. Nós, que estamos no domínio da comunicação nas instituições, devemos ser intermediários entre a nossa instituição e os meios de comunicação social. Por conseguinte, é preciso conhecer a fundo a instituição e os meios de comunicação social. E, depois, contactar frequentemente os meios de comunicação social para lhes fornecer informações úteis.

Num mundo cada vez mais "digital", será que o contacto pessoal se perdeu na esfera profissional?

-Acho que o jornalismo é algo que se carrega dentro de nós e que se vive 24 horas por dia, embora compreenda que já não é assim e ainda bem, porque agora está a ser mais conciliado com outras obrigações. Mas devo dizer que, se seguirmos de perto o trabalho de um colega e falarmos com ele, é fácil partilhar outras coisas. É cuidar, não é marketing ou coaching. Cada colega é uma pessoa, não uma ameaça ou um instrumento, dizia São João Paulo II, que considerava os jornalistas como pessoas e tentava estabelecer um contacto pessoal com eles. É uma proximidade sincera, sobrenatural e alegre, como acabámos de ver no Papa Francisco e na sua audiência de 22 de janeiro com jornalistas acreditados no Vaticano.

Na sua vida, tem alguma referência de comunicação?

-Joaquín Navarro-Valls. Tive a sorte de o conhecer e de o seguir. Li recentemente as suas notas pessoais em "Os meus anos com João Paulo II", em Espasa. Achei-o muito útil e recomendo-o a qualquer comunicador, porque ele foi um grande porta-voz de um grande Papa.

Lembro-me bem da conferência de Navarro, a 18 de novembro de 2013, na Fundação Rafael del Pino, sobre João Paulo II e o sofrimento humano, que foi muito estimulante. E tenho à mão algumas palavras de 2011 que me ajudaram muito: "tudo pode ser comunicado e muito deve ser comunicado; também a dor, a doença e até as dúvidas. A única coisa que não pode ser comunicada é a mentira, nem mesmo para fazer boa figura e melhorar a imagem". Um desafio e tanto.

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Recursos

O Ano de Oração 2024 terá como tema "Senhor, ensina-nos a rezar".

Com as palavras "Senhor, ensina-nos a rezar", os Apóstolos dirigiram-se a Jesus, e estas mesmas palavras foram escolhidas pelo Papa como lema de 2024, o Ano da Oração, durante o qual também nós, discípulos de Cristo, somos chamados a redescobrir o valor da oração quotidiana na nossa vida.

Arturo Cattaneo-30 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 14 acta

Quando se quer tomar uma iniciativa, começa-se geralmente pelos aspectos organizacionais: quais as pessoas ou os recursos disponíveis para atingir o objetivo da melhor forma possível. Quem, por outro lado, pensa primeiro em rezar? Obviamente, é muito difícil para quem nunca experimentou o poder da oração compreender que a oração não é apenas aconselhável, mas indispensável na preparação de um acontecimento importante ou de uma escolha na vida.

Nesta perspetiva, é significativo e uma grande lição o que o Papa Francisco nos oferece com esta iniciativa. Na Angelus de 21 de janeirolançou oficialmente o Ano de Oração, em preparação para o Jubileu de 2025, encorajando a oração para que este Ano Santo tenha um impacto em toda a Igreja, na santidade dos cristãos. É certo que será necessária a organização e o trabalho de muitas pessoas, mas só com uma preparação remota na oração é que este Jubileu dará frutos de graça e de reconciliação.

Na apresentação da iniciativa na sala de imprensa do Vaticano, Monsenhor Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, desejou que este seja um ano para redescobrir "como rezar e, sobretudo, como ensinar a rezar hoje, na era da cultura digital, para que a oração seja eficaz e fecunda". O Pontífice, no Angelus, falou explicitamente de uma necessidade absoluta de oração, de uma "sinfonia" de oração, tanto a nível pessoal como comunitário. Na conferência de imprensa de 23 de janeiro de 2024, especificou quais deveriam ser as características desta oração: estar diante do Senhor numa relação de confiança e de amizade, prontos a escutá-lo. E dar-lhe graças. E dar-Lhe graças.

Através da oração, cresceremos também na nossa capacidade de prestar atenção aos outros, de os acolher e de lhes estender a mão com um coração misericordioso como o de Jesus.

No prefácio de "Rezar hoje. Um desafio a vencer", o primeiro de oito livros que o Dicastério para a Evangelização está prestes a publicar, o Papa escreve: "A oração é o sopro da fé, é a sua expressão mais adequada. É como um grito que sai do coração de quem acredita e se confia a Deus". Neste ano em que se aproxima o Jubileu, diz o Santo Padre, "somos convidados a ser mais humildes e a dar espaço à oração que brota do Espírito Santo".

De facto, desde o início do seu pontificado, a oração tem sido um dos temas mais recorrentes, um tema ao qual dedicou nada menos do que 38 audiências gerais ao longo de 2020 e 2021 com reflexões profundas e sugestões que são ao mesmo tempo simples, concretas, cheias de senso comum e também daquele bom humor que o caracteriza.

Nos próximos meses, o Papa vai criar uma "Escola de Oração", mas serão sobretudo as Igrejas locais que serão chamadas a desenvolver iniciativas para ajudar os fiéis a redescobrir a oração como "alimento da vida cristã de fé, esperança e caridade". Por estas razões, reuni numa pequena antologia frases e considerações do Papa Francisco que ajudam a compreender melhor porquê e como rezar.

Papa Francisco sobre a oração, explicando porquê e como rezar

Textos do Papa Francisco recolhidos por Arturo Cattaneo

O Santo Padre fala da oração em praticamente todos os seus textos, exortações, homilias, cartas, audiências, etc. Um tema ao qual também dedicou nada menos que 38 audiências gerais durante 2020 e 2021. Podem ser descarregadas, por exemplo, com este ligação.

A seguir, encontrará as suas frases ou reflexões que considero particularmente significativas, organizadas em seis capítulos.

O que é a oração

A oração é o sopro da alma, o sopro da fé. Numa relação de confiança, numa relação de amor, o diálogo não pode faltar, e a oração é o diálogo da alma com Deus. É importante encontrar momentos no dia para abrir o coração a Deus, mesmo com simples palavras (Discurso, 14 de dezembro de 2014).

A oração cristã, pelo contrário, nasce de uma revelação: o "Tu" não permaneceu envolto em mistério, mas entrou em relação connosco... A oração cristã entra em relação com o Deus de rosto mais terno, que não quer incutir qualquer medo no homem. Esta é a primeira caraterística da oração cristã. Se os homens sempre estiveram habituados a aproximar-se de Deus um pouco intimidados, um pouco assustados por esse mistério fascinante e terrível, se estavam habituados a venerá-lo com uma atitude servil, como a de um súbdito que não quer desrespeitar o seu senhor, os cristãos dirigem-se a ele, ousando chamá-lo com confiança pelo nome de "Pai". Mais ainda, Jesus usa outra palavra: "pai" (Audiência Geral de 13 de maio de 2020).

A oração é um encontro com Deus, com Deus que nunca desilude; com Deus que é fiel à sua palavra; com Deus que não abandona os seus filhos (Homilia, 29-VI-2015).

Rezar é devolver o tempo a Deus, fugir da obsessão de uma vida sempre sem tempo, reencontrar a paz das coisas necessárias e descobrir a alegria dos dons inesperados (Audiência Geral, 26-VIII-2015).

Porquê rezar

Porque é que eu rezo? Rezo porque preciso de o fazer. É o que sinto, o que me move, como se Deus me estivesse a chamar para falar (Entrevista do Papa Francisco a jovens na Bélgica, 31-III-2014).

O encontro com Deus na oração ajudar-vos-á a conhecer melhor o Senhor e a vós mesmos. A voz de Jesus incendiará os vossos corações e os vossos olhos abrir-se-ão para reconhecer a Sua presença na vossa história, descobrindo assim o plano de amor que Ele tem para a vossa vida (Mensagem para a 30ª JMJ, 17-II-2015).

A oração dá-nos a graça de vivermos fiéis ao projeto de Deus (Audiência Geral, 17 de abril de 2013).

Cada história é única, mas todas partem de um encontro que ilumina as profundezas, que toca o coração e envolve toda a pessoa: afectos, intelecto, sentidos, tudo. É um amor tão grande, tão belo, tão verdadeiro, que merece tudo e merece toda a nossa confiança (Encontro com os jovens da Úmbria, 4 de outubro de 2013).

Outro elemento importante é a consciência de fazer parte de um projeto maior, para o qual se quer contribuir (Audiência Geral, 7-XII-2022).

Deus chama-nos a lutar com Ele, todos os dias, todos os momentos, para vencer o mal com o bem (Discurso, 20 de outubro de 2013).

A fé não nos afasta do mundo, mas insere-nos mais profundamente nele. Isto é muito importante! Temos de entrar no mundo, mas com a força da oração. Cada um de nós tem um papel especial a desempenhar na preparação da vinda do Reino de Deus ao mundo (Discurso em Manila, 16 de janeiro de 2015).

A oração, o jejum e a esmola ajudam-nos a não nos deixarmos dominar pelas coisas que aparecem: não é a aparência que conta; o valor da vida não depende da aprovação dos outros ou do sucesso, mas do que temos dentro de nós (Homilia, 05-III-2014).

A oração preserva o homem do protagonismo para o qual tudo gira à sua volta, da indiferença e da vitimização (Discurso, 15-VI-2014).

Com a oração, permitimos que o Espírito Santo nos ilumine e nos aconselhe sobre o que devemos fazer naquele momento (Audiência Geral, 7 de maio de 2014).

Sem a oração, a nossa ação torna-se vazia e o nosso anúncio não tem alma, porque não é animado pelo Espírito (Audiência Geral, 22 de maio de 2013).

A oração não é um sedativo para aliviar as ansiedades da vida; ou, em todo o caso, tal oração não é certamente cristã. Pelo contrário, a oração dá poder a cada um de nós (Audiência Geral, 21 de outubro de 2020).

A primeira motivação para evangelizar é o amor de Jesus que recebemos, essa experiência de sermos salvos por ele que nos leva a amá-lo cada vez mais. Mas que amor é esse que não sente a necessidade de falar do ser amado, de o mostrar, de o dar a conhecer? Se não sentimos o desejo intenso de o comunicar, precisamos de parar na oração para Lhe pedir que nos cative de novo. Precisamos de clamar todos os dias, de pedir a Sua graça para abrir os nossos corações frios e abanar as nossas vidas mornas e superficiais. Estando diante d'Ele com o coração aberto, deixando que Ele nos contemple, reconhecemos aquele olhar de amor que Natanael descobriu no dia em que Jesus apareceu e lhe disse: "Quando estavas debaixo da figueira, eu vi-te" (Jo 1,48). Como é doce estar diante de um crucifixo, ou ajoelhar-se diante do Santíssimo Sacramento, e simplesmente estar no Seu olhar! Como é bom deixar que Ele toque de novo a nossa existência e nos lance para comunicar a Sua vida nova! (Exortação Apostólica Evangelii gaudium 264).

Como rezar

Simplicidade, humildade, atenção, compreensão e silêncio: são estas as cinco qualidades que correspondem aos cinco dedos.

O polegar é o dedo maior, por isso é também o dedo do louvor a Deus. Mas é também o dedo que está mais próximo de nós e que nos diz para rezar pelos que nos são mais próximos, pelos nossos entes queridos, pelos nossos amigos. O dedo indicador é o dedo que ensina, que nos mostra o caminho e o percurso a seguir. Rezamos por todos aqueles que nos ensinam ou nos vão ensinar alguma coisa na vida.

O dedo médio recorda-nos aqueles que nos governam. A eles Deus confiou o destino das nações, e por eles rezamos para que sigam sempre os ensinamentos de Jesus no seu dever. O dedo anelar é o dedo da promessa: pedimos a Deus que proteja aqueles que mais amamos, bem como os mais fracos e necessitados.

O dedo mindinho é o dedo mais pequeno. Ensina-nos e recorda-nos que devemos rezar pelas crianças. Lembra-nos também que devemos tornar-nos pequenos como elas e não nos tornarmos orgulhosos.

Rezar de uma forma simples, mas ao mesmo tempo concreta. E, como temos duas mãos, a oração também pode ser repetida uma segunda vez. Porque sabemos que "rezar é o oxigénio da nossa alma" e da nossa vida espiritual (Escrito por Jorge Mario Bergoglio, quando era Arcebispo de Buenos Aires).

A verdadeira oração é familiaridade e confiança com Deus, não é recitar orações como um papagaio... Estar em oração não significa dizer palavras, palavras, palavras: não, significa abrir o meu coração a Jesus, aproximar-me de Jesus, deixá-lo entrar no meu coração e fazer-me sentir a sua presença aí. E aí podemos discernir quando é Jesus ou quando somos nós com os nossos pensamentos, tantas vezes longe de Jesus. Peçamos esta graça: viver uma relação de amizade com o Senhor, como um amigo fala com o seu amigo (Audiência Geral, 28-IX-2022).

Quando rezamos, temos de ser humildes: esta é a primeira atitude para ir à oração. Então, as nossas palavras serão realmente orações e não balbúrdia que Deus rejeita (Audiência Geral, 26 de maio de 2021).

Na origem de cada vocação há sempre uma forte experiência de Deus, uma experiência que não se esquece, que se recorda durante toda a vida! Deus surpreende-nos sempre! É Deus que chama; mas é importante ter uma relação quotidiana com Ele, escutá-lo no silêncio diante do Tabernáculo e no mais profundo de nós mesmos, falar com Ele, aproximar-se dos Sacramentos. Ter esta relação familiar com o Senhor é como ter a janela da nossa vida aberta, para que Ele nos faça ouvir a sua voz, o que Ele quer de nós (Aos jovens de Assis, 5 de outubro de 2013).

É este o caminho para aceitar Deus, não a habilidade, mas a humildade: reconhecer-se pecador. Confessar, primeiro a si mesmo e depois ao sacerdote no sacramento da reconciliação, os seus pecados, os seus defeitos, as suas hipocrisias; descer do pedestal e mergulhar na água do arrependimento (Angelus, 4-XII-2022).

Temos de tirar a máscara - todos a têm - e colocarmo-nos ao nível dos humildes; libertarmo-nos da presunção de nos julgarmos auto-suficientes, ir confessar os nossos pecados, os escondidos, e aceitar o perdão de Deus, pedir perdão a quem ofendemos. Assim começa uma vida nova (Angelus, 4-XII-2022).

A oração purifica incessantemente o coração. O louvor e a súplica a Deus impedem que o coração se endureça no ressentimento e no egoísmo (Audiência Geral, 11.III.2015).

É o Espírito Santo que dá vida à alma! Deixai-o entrar. Falai ao Espírito como falais ao Pai, como falais ao Filho: falai ao Espírito Santo, que não é paralisante! Nele está a força da Igreja, é ele que vos leva para a frente (Audiência geral, 21 de dezembro de 2022).

Com um amigo falamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus também conversamos. A oração é um desafio e uma aventura, e que aventura! Permite-nos conhecê-lo cada vez melhor, entrar nas suas profundezas e crescer numa união cada vez mais forte. A oração permite-nos contar-lhe tudo o que nos acontece e permanecer confiantes nos seus braços, ao mesmo tempo que nos proporciona momentos de preciosa intimidade e afeto, onde Jesus derrama a sua própria vida em nós. Ao rezar, "abrimos-lhe o caminho", damos-lhe espaço "para que Ele possa atuar, entrar e vencer" (Exort. ap. Christus vivit 155).

Desta forma, é possível experimentar uma unidade constante com Ele, que ultrapassa tudo o que podemos experimentar com outras pessoas: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gal 2,20). Não privem os vossos jovens desta amizade. Poderão senti-lo ao vosso lado não só quando rezam. Reconhecerás que ele caminha contigo em todos os momentos. Procurai descobri-lo e vivereis a bela experiência de vos saberdes sempre acompanhados. Foi o que experimentaram os discípulos de Emaús quando, enquanto caminhavam e conversavam desorientados, Jesus se fez presente e "caminhou com eles" (Lc 24,15) (Exortação Apostólica Christus vivit 156).

Um jovem dirige-se ao Papa: "Pode explicar-me como reza e porque reza? O mais concretamente possível...".

Como rezo... Muitas vezes pego na Bíblia, leio um pouco, depois pouso-a e deixo que o Senhor olhe para mim: é esta a ideia mais comum da minha oração. Deixo-o olhar para mim. E sinto - mas não é sentimentalismo - sinto profundamente as coisas que o Senhor me diz. Às vezes Ele não fala... nada, vazio, vazio, vazio, vazio... mas pacientemente fico ali, e assim rezo... sento-me, rezo sentado, porque me custa ajoelhar-me, e às vezes adormeço a rezar... É também uma maneira de rezar, como um filho com o Pai, e isto é importante: sinto-me como um filho com o Pai (Entrevista do Papa Francisco a jovens na Bélgica, 31-III-2014).

Jesus, mestre de oração

Jesus recorre constantemente ao poder da oração. Os Evangelhos mostram-no a retirar-se para lugares isolados para rezar. São observações sóbrias e discretas, que nos deixam apenas imaginar esses diálogos orantes. Testemunham claramente que, mesmo nos seus momentos de maior dedicação aos pobres e aos doentes, Jesus nunca descura o seu diálogo íntimo com o Pai. Quanto mais mergulhado estava nas necessidades do povo, mais sentia a necessidade de descansar na Comunhão Trinitária, de regressar ao Pai e ao Espírito.

Na vida de Jesus há, portanto, um segredo, oculto aos olhos humanos, que está no centro de tudo. A oração de Jesus é uma realidade misteriosa, da qual apenas podemos intuir algo, mas que nos permite ler toda a sua missão na perspetiva correcta. Nessas horas solitárias - antes do amanhecer ou à noite - Jesus mergulha na sua intimidade com o Pai, isto é, no Amor de que toda a alma tem sede. É o que se depreende dos primeiros dias do seu ministério público.

Num sábado, por exemplo, a pequena cidade de Cafarnaum é transformada num "hospital de campanha": depois do pôr do sol, todos os doentes são trazidos a Jesus e ele cura-os. Mas antes do amanhecer, Jesus desaparece: retira-se para um lugar solitário e reza. Simão e os outros procuram-no e, quando o encontram, dizem-lhe: "Andam todos à tua procura! O que é que Jesus responde: "Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, para que eu possa pregar também aí, pois foi por isso que saí" (cf. Mc 1,35-38). Jesus está sempre mais além, mais além na oração com o Pai e mais além, noutras aldeias, noutros horizontes para ir pregar, noutras aldeias.

A oração é o leme que orienta a rota de Jesus. As etapas da sua missão não são ditadas pelo sucesso, nem pelo consenso, nem por aquela frase sedutora "todos andam à tua procura". O caminho menos cómodo é aquele que traça o percurso de Jesus, mas que obedece à inspiração do Pai, que Jesus escuta e acolhe na sua oração solitária.

O Catecismo afirma: "Com a sua oração, Jesus ensina-nos a rezar" (n. 2607). Portanto, do exemplo de Jesus podemos tirar algumas características da oração cristã.

Antes de mais, tem uma primazia: é o primeiro desejo do dia, algo que se pratica ao amanhecer, antes de o mundo acordar. Ela restaura uma alma que, de outro modo, ficaria sem fôlego. Um dia vivido sem oração corre o risco de se tornar uma experiência aborrecida ou enfadonha: tudo o que nos acontece pode tornar-se para nós um destino insuportável e cego. Jesus, porém, educa para a obediência à realidade e, portanto, para a escuta. A oração é, antes de mais, escuta e encontro com Deus. Assim, os problemas quotidianos não se tornam obstáculos, mas apelos do próprio Deus à escuta e ao encontro com aquele que está diante de nós. As provações da vida tornam-se assim ocasiões de crescimento na fé e na caridade. O caminho quotidiano, incluindo as fadigas, assume a perspetiva de uma "vocação". A oração tem o poder de transformar em bem aquilo que, na vida, seria uma condenação; a oração tem o poder de abrir um grande horizonte à mente e de alargar o coração.

Em segundo lugar, a oração é uma arte que deve ser praticada com insistência. O próprio Jesus nos diz: chamai, chamai, chamai. Todos nós somos capazes de orações episódicas, nascidas da emoção de um momento; mas Jesus educa-nos num outro tipo de oração: aquela que conhece uma disciplina, um exercício e é assumida dentro de uma regra de vida. Uma oração perseverante produz uma transformação progressiva, torna-nos fortes nos momentos de tribulação, dá-nos a graça de sermos sustentados por Aquele que nos ama e nos protege sempre.

Outra caraterística da oração de Jesus é a solidão. Aquele que reza não foge do mundo, mas prefere os lugares desertos. Aí, no silêncio, podem emergir muitas vozes que escondemos na intimidade: os desejos mais reprimidos, as verdades que teimamos em abafar, etc. E, sobretudo, no silêncio Deus fala. Cada um precisa de um espaço para si próprio, onde possa cultivar a sua vida interior, onde as acções encontrem sentido. Sem vida interior, tornamo-nos superficiais, inquietos, ansiosos - como a ansiedade nos faz mal - é por isso que temos de ir à oração; sem vida interior, fugimos da realidade, e fugimos também de nós próprios, somos homens e mulheres sempre em fuga.

Por fim, a oração de Jesus é o lugar onde nos apercebemos que tudo vem de Deus e que Ele volta. Por vezes, nós, seres humanos, pensamos que somos donos de tudo ou, pelo contrário, perdemos toda a autoestima, andamos de um lado para o outro. A oração ajuda-nos a encontrar a dimensão certa na nossa relação com Deus, nosso Pai, e com toda a criação. E a oração de Jesus é, finalmente, abandonar-se nas mãos do Pai, como Jesus no Jardim das Oliveiras, naquela angústia: "Pai, se é possível..., mas seja feita a tua vontade". Abandono nas mãos do Pai. É bonito quando estamos ansiosos, um pouco preocupados e o Espírito Santo nos transforma a partir de dentro e nos leva a este abandono nas mãos do Pai: "Pai, seja feita a tua vontade" (Audiência Geral, 4-XI-2020).

Mas e se Deus não responder às nossas súplicas?

Há uma resposta radical à oração, que deriva de uma constatação que todos fazemos: rezamos, pedimos, mas por vezes parece que as nossas preces não são ouvidas: o que pedimos - para nós ou para os outros - não acontece. Fazemos esta experiência muitas vezes. Se, além disso, o motivo pelo qual rezámos era nobre (como a intercessão pela saúde de um doente, ou pelo fim de uma guerra), a não realização parece-nos escandalosa. Por exemplo, pelas guerras: rezamos pelo fim das guerras, estas guerras em tantas partes do mundo, pensemos no Iémen, pensemos na Síria, países que estão em guerra há anos, anos! Mas como é possível? Algumas pessoas deixam de rezar porque pensam que a sua oração não é ouvida" (Catecismo da Igreja Católica, n. 2734). Mas se Deus é Pai, porque é que não nos ouve? Aquele que nos garantiu que dá coisas boas aos filhos que lhas pedem (cf. Mt 7,10), porque é que não responde às nossas petições? Todos nós temos experiência disto: rezámos, rezámos pela doença deste amigo, deste pai, desta mãe, e depois eles foram-se embora, Deus não nos ouviu. É uma experiência de todos nós.

O Catecismo oferece-nos uma boa síntese da questão. Alerta-nos para o risco de não vivermos uma autêntica experiência de fé, mas de transformarmos a relação com Deus em algo mágico. A oração não é uma varinha mágica: é um diálogo com o Senhor. De facto, quando rezamos, podemos correr o risco de não sermos nós a servir Deus, mas de fingir que é Deus que nos serve (cf. n. 2735). Trata-se, portanto, de uma oração sempre exigente, que quer orientar os acontecimentos segundo os nossos desígnios, que não admite outros projectos para além dos nossos desejos. Jesus, porém, teve grande sabedoria ao colocar nos nossos lábios o "Pai Nosso". É uma oração de petições, como sabemos, mas as primeiras que proferimos são todas do lado de Deus. Pedem a realização, não do nosso projeto, mas da Sua vontade em relação ao mundo. É melhor deixar que Ele o faça: "Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade" (Mt 6, 9-10) (Audiência Geral, 26 de maio de 2021).

O exemplo e a ajuda de Nossa Senhora

Maria não dirige a sua vida de forma autónoma: espera que Deus tome as rédeas do seu caminho e a conduza para onde Ele quer que ela vá. É dócil e, com a sua disponibilidade, predispõe os grandes acontecimentos que envolvem Deus no mundo... Não há melhor maneira de rezar do que colocar-se, como Maria, numa atitude de abertura, de um coração aberto a Deus: "Senhor, o que quiseres, quando quiseres e como quiseres". Por outras palavras, um coração aberto à vontade de Deus...

Maria acompanha com a oração toda a vida de Jesus, até à morte e ressurreição; e no fim continua e acompanha os primeiros passos da Igreja nascente (cf. Act 1,14). Maria reza com os discípulos que passaram pelo escândalo da cruz. Reza com Pedro, que cedeu ao medo e chorou de arrependimento. Maria está ali, com os discípulos, no meio dos homens e mulheres que o seu Filho chamou para formar a sua Comunidade....

Rezando com a Igreja nascente, ela torna-se a Mãe da Igreja, acompanhando os discípulos nos primeiros passos da Igreja em oração, à espera do Espírito Santo. Em silêncio, sempre em silêncio. A oração de Maria é silenciosa. O Evangelho fala-nos de uma única oração de Maria: em Caná, quando pede ao Filho por aqueles pobres que vão fazer má figura na festa.

Maria está presente porque é mãe, mas também está presente porque é a primeira discípula, aquela que aprendeu as melhores coisas com Jesus. Maria nunca diz: "Vem, eu resolvo as coisas". Alguns compararam o coração de Maria a uma pérola de esplendor incomparável, formada e suavizada pelo acolhimento paciente da vontade de Deus através dos mistérios de Jesus meditados na oração. Como seria belo se também nós pudéssemos ser um pouco como a nossa Mãe! Com um coração aberto à Palavra de Deus, com um coração silencioso, com um coração obediente, com um coração que sabe acolher a Palavra de Deus e a deixa crescer com uma semente do bem da Igreja (Audiência Geral, 18-XI-2020).

A Bravo! por Manolo

São poucas as referências que unem, quase unanimemente, os que fazem parte de uma profissão como a comunicação nos tempos que correm. Menos ainda, no seio da Igreja. Manuel Garrido é uma dessas excepções.

30 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Receber um prémio é sempre uma faca de dois gumes. Para além do orgulho próprio de quem recebe, é frequente haver críticas mordazes e até desconfiança em relação à pessoa que ficou de fora da lista. Mas há excepções.

Uma delas foi na recente cerimónia de entrega dos prémios Bravo!, os prémios com que a Comissão Episcopal das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Espanhola reconhece, desde há 54 anos, o trabalho de profissionais e empresas em diferentes áreas da comunicação. Este ano, os prémios Prémio Bravo! para a Comunicação Institucional foi atribuído a Manuel Garrido, "pela sua intensa carreira dedicada à comunicação institucional no Gabinete de Informação do Parlamento Europeu e do Conselho de Ministros". Opus Dei e, anteriormente, em Torreciudad."

Durante décadas, Manolo foi o "Opus" dos jornalistas, a imagem que se formava na cabeça de dezenas de profissionais da comunicação quando se falava desta prelatura pessoal. Para além dos estereótipos, filias e fobias, preconceitos e lugares comuns, havia Manolo.

Manolo soube mover-se nas águas turbulentas de uma Igreja que não é nada confortável para os comunicadores, mas, sobretudo, soube tornar-se companheiro dos profissionais da comunicação com quem lidou, a quem serviu, mesmo quando o seu trabalho "não lhes serviu para nada".

Manolo recebeu um Prémio Bravo! alguns meses depois de a chifrada do touro com ELA o ter atingido em cheio na cara. Tinha acabado de abandonar a tauromaquia profissional para gozar uma merecida reforma e, em poucos dias, trocou a mota pelas muletas. De Torreciudad, escreveu aos seus colegas e amigos, dando-lhes a notícia e pedindo-lhes orações. Sorrindo. Com o mesmo sorriso com que recebeu o prémio, numa sala cheia onde jornalistas de todas as instituições da Igreja aplaudiam um colega, uma referência, um amigo.

São poucas as referências que unem, quase unanimemente, os que fazem parte de uma profissão como a comunicação nos tempos que correm, e menos ainda no seio da Igreja. Menos ainda são as amizades sinceras que este trabalho proporciona. Mas ver Manolo com as suas muletas a pegar no Bravo! havia muitos na sala que apontavam para o homem e diziam a quem estava ao lado dele "Aquele ali é o meu amigo". E, certamente, para Manolo, é um prémio melhor.

O autorMaria José Atienza

Diretora da Omnes. Licenciada em Comunicação, com mais de 15 anos de experiência em comunicação eclesial. Colaborou em meios como o COPE e a RNE.

Experiências

Gustavo Ron, "apaixonado pelo trabalho dos voluntários do Nadiesolo".

Depois de uma vida de empreendedorismo profissional na hotelaria, Gustavo Ron embarcou em 2010 na Nadiesolo, cujos dois mil voluntários acompanham quarenta mil pessoas, com nome e apelido, que sofrem de solidão indesejada por doença, dependência, deficiência ou em risco de exclusão. "Há uma procura social crescente de acompanhamento", diz ele.

Francisco Otamendi-30 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

"Sim, sou o pai de Gustavo Ron", diz este empresário hoteleiro, que se dedicou a gerir voluntários para acompanhar pessoas vulneráveis e muitas vezes solitárias, com um bom sentido de humor. Porque o seu filho Gustavo é um conhecido argumentista e realizador de cinema espanhol. Gustavo Ron sénior (Saragoça, 1945) também não é uma figura desconhecida. Preside ao conselho de administração da Nadiesolo Voluntariado, a quarta maior empresa do sector em Madrid, depois da Cáritas, da Cruz Vermelha e da Manos Unidas, e antes disso foi, por exemplo, diretor-geral dos Hoteles Husa e fundou o Café y Té.

Este é Gustavo Ron, o pai, que conhecemos recentemente: "Estou a fazer uma 'tournée' voluntária, é por isso que sou de Nadiesoloque é uma ONG de voluntários, com dois objectivos. Dar a conhecer às pessoas as iniciativas existentes e recrutar voluntários, não imediatamente, mas a médio prazo, porque precisamos deles. "Temos 2.000", acrescenta Ron, "mas antes da pandemia tínhamos 2.300, e passámos para 1.500. Agora estamos a aumentar. A procura social de acompanhamento é cada vez maior, é essa a realidade.

Gustavo Ron descreve os inícios da fundação da seguinte forma: "Trata-se de uma fundação laica, que não pertence a nenhum credo, mas há que dizer que foi iniciada em 1995 por um grupo de supranumerários do Opus Dei, e que continuam a promovê-la. O nosso conselho de administração é composto por uma maioria de supranumerários, sem que esse facto seja perseguido, porque há administradores que não pertencem à Obra, e são pessoas preocupadas com o que significa acompanhar pessoas que estão sós".

"Graças a Deus, nasci numa família católica", explica este aragonês. "O meu pai tinha pertencido aos Luíses, era de Málaga, e a minha mãe, nascida em Saragoça, era fundamentalmente pilarista, como convém a uma boa maña. Frequentámos o Colégio Cardeal Xavierre dos Dominicanos em Saragoça, por quem ainda hoje tenho um enorme respeito e apreço. O meu pai morreu quando eu tinha 15 anos. Isso serviu para orientar o meu futuro profissional e acabei por ir para a Escola de Hotelaria, que me colocou no mundo dos serviços, o que tem muito a ver com a minha dedicação atual na Nadiesolo. Ou seja, estamos aqui para servir, e se servimos e nos apaixonamos por isso, divertimo-nos muito a trabalhar". 

Gustavo Ron explica que conheceu a Nadiesolo (Desenvolvimento e Assistência) através do seu presidente na altura, Rafael Izquierdo, um engenheiro civil. "Era uma pessoa absolutamente cativante. Conhecemo-nos em Fátima e um dia ele disse-me: 'vem comigo'. Mais tarde, quando o Rafael já tinha falecido, as mulheres, que eram a maioria no conselho de administração, disseram-me que eu tinha de ser presidente. Ron revela que "acompanhei os voluntários nas visitas aos utentes, nas excursões, nos locais de lazer, etc., e fiquei absolutamente apaixonado pela tarefa. Defendo o trabalho dos voluntários da Nadiesolo, porque são pessoas extremamente disponíveis e, ao mesmo tempo, extremamente agradecidas. E o que acontece com o tempo, e não muito, é que o voluntário se torna um amigo do utente, e vice-versa, um amigo disponível". 

No ano passado, os voluntários da organização dedicaram 83.000 horas de acompanhamento através dos seus programas (ver nadiesolo.org). "Há um programa que é talvez o mais bonito e o mais fácil de compreender, que é o de levar as crianças com deficiência a passear. Estas crianças, com menos de 13 anos, porque as mais velhas têm um programa diferente, são levadas a passear um sábado por mês por um casal com os seus filhos. É o 'voluntariado familiar', que é benéfico para todos e também educativo".

Falámos do chamado "Apoio aos sem-abrigo": "As pessoas que vivem na rua têm dependências, quase todas, e são pessoas com quem é difícil conviver. A Câmara Municipal de Madrid tem três residências, abrigos. Conheço os dois abrigos que servimos e vamos lá para passar tempo com estas pessoas: jogar às cartas, conversar com quem quiser, e com alguns deles tornamo-nos amigos. Lembro-me de uma excursão a Ávila com um grupo de 50 pessoas, vivi o que significava a viagem, o hotel, a visita à catedral, as muralhas...., também fomos a Segóvia, Toledo, etc.".

"Isto é importante para estas pessoas porque se sentem amadas, porque lhes damos carinho, porque apertei a mão a 50 pessoas a quem não costumo apertar a mão e, naquele momento, arrependi-me de não o fazer muitas vezes. Eles divertem-se imenso e, pelo menos provisoriamente, sentem-se incluídos na sociedade", diz Gustavo Ron.

O autorFrancisco Otamendi

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Zoom

O drama da fronteira

Menores desacompanhados das Honduras sentam-se na margem do rio em Roma, Texas, depois de atravessarem o Rio Grande. Todos os anos, milhares destes menores entram nos EUA em vários pontos de fronteira.

Maria José Atienza-29 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vaticano

O kit do Jubileu 2025

   

Relatórios de Roma-29 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

O Dicastério para a Evangelização e uma empresa italiana criaram um projeto de kit para ajudar as pessoas a prepararem-se para a sua peregrinação à Cidade Eterna.

A mochila inclui crachás para trocar com outros peregrinos, uma garrafa de água, uma pulseira, um terço, um lenço e um chapéu.


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Educação

Vicente del Bosque: "O futebol é uma óptima ferramenta para educar".

O treinador da seleção espanhola de futebol, campeã do mundo na África do Sul em 2010 e no Euro 2012, Vicente del Bosque, destacou à Omnes o poder educativo do desporto e do futebol. Um milhão de famílias em Espanha vivem o futebol todas as semanas, e outros milhões em muitos países.

Francisco Otamendi-29 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Vicente del Bosque (Salamanca, 1950), antigo futebolista e vencedor de cinco títulos da Liga espanhola e quatro Taças de Espanha com o Real Madrid, e antigo treinador e preparador físico da seleção espanhola de futebol, que conduziu ao Campeonato do Mundo de 2010 na África do Sul e ao Campeonato da Europa de 2012, é uma lenda no mundo do futebol. desporto Espanhol.

Na semana passada, nos Prémios CEU Angel Herrera, Del Bosque entregou o prémio na categoria "Ética e Valores" a Pau Gasol, outra lenda do desporto espanhol, um extraordinário jogador de basquetebol que jogou 18 épocas na NBA, onde foi duas vezes campeão, e outras três no FC Barcelona. A outra pessoa a receber este prémio foi o produtor e ator mexicano Eduardo Verástegui.

Del Bosque foi galardoado pela FIFA como o melhor treinador do mundo em 2012e de desportista para desportista, entregou o prémio a Agustí Gasol, pai de Pau Gasol, que entrou no evento CEU via streaming. 

As únicas oito equipas campeãs do mundo em futebol são o Brasil (5), a Alemanha (4) e a Itália (4), a Argentina (3), a França (2) e o Uruguai (2), a Inglaterra (1) e a Espanha (1).

Alguns dias mais tarde, longe da azáfama, Omnes falou brevemente com este ilustre e reservado salamanquino. Falámos dos antecedentes do desporto, da sua família (têm um filho, Álvaro, com síndrome de Down) e, finalmente, da sua cidade natal, Salamanca.

Desporto e sociedade: Como avalia a referência de Pau Gasol?

-O desporto que pratiquei, o futebol, presta um grande serviço à sociedade, não podemos esquecer que um milhão de rapazes e raparigas jogam futebol todos os fins-de-semana, mais de um milhão de federados. Isto significa que o desporto é de grande importância, especialmente o futebol, no qual um milhão de famílias, incluindo pais, avós, etc., acompanham os seus filhos. O que é preciso é que eles aproveitem o futebol para se tornarem melhores, melhores crianças.

Penso que o prémio que estamos a atribuir ao pai de Pau Gasol é muito merecido, porque é um exemplo do que deve ser um desportista. Além disso, é uma família discreta, com dois filhos magníficos (refere-se também a Marc, jogador da NBA há 13 anos consecutivos), é um prémio absolutamente merecido.

Conduziu a seleção espanhola à vitória no Campeonato do Mundo de 2010, na África do Sul. Não sei se o espírito de equipa que incutiu foi suficientemente sublinhado. Mesmo com grandes individualidades, como Iniesta, Casillas, Xavi e outros, a vitória foi de todos... 

-Não há dúvida. Os indivíduos fazem parte de uma equipa, e o que temos de fazer é convencer esses muito bons jogadores de que serão muito melhores e mais reconhecidos se formos uma equipa. Isso é fundamental. Ainda mais numa seleção espanhola em que cada um vem do seu pai e da sua mãe, uma família diferente, mas a verdade é que tiveram um comportamento excelente.

Algum comentário sobre este Campeonato do Mundo histórico?

-Tínhamos herdado um grupo de jogadores muito bom de Luis Aragonés, de 2008, e conseguimos fazer um bom conjunto, e depois o Campeonato da Europa. Foi um momento muito bom para o futebol espanhol. Sem entrar em pormenores, vimos bons exemplos desportivos para todos.

Fala-se do poder educativo do desporto. Educar as pessoas para admitirem a derrota, para saberem ganhar e perder, para o fair play, para o desportivismo... Estamos a perder isso ou estamos a progredir? 

-Penso que estamos conscientes de que, como futebolistas, temos não só a obrigação de dar o nosso melhor, mas também de ser uma boa referência para todos, para todos os jovens. É normal ver coisas boas, mas também há situações incómodas, ou pelo menos situações que não beneficiam ninguém. 

Por exemplo, aquele jogador que é substituído e que, em vez de apertar a mão ao jogador que vai entrar e desejar-lhe felicidades, sai de mau humor e dá um exemplo de mau companheiro de equipa. Isto são pormenores... Ou esta mania de tentar enganar o árbitro para obter um melhor desempenho. Colocamos os árbitros numa situação como a que estamos a viver agora: com o desconforto do árbitro e tornando o seu trabalho cada vez mais difícil.

Vamos optar por um tema familiar. São pais de três filhos. Alguns dos valores que o senhor e a sua mulher tentaram incutir nos seus filhos

-Tratámos os três de forma igual. Tanto o Álvaro, que é o filho do meio, como o mais velho, e depois o mais novo, tentámos dar-lhes o melhor exemplo. Estamos muito satisfeitos com a escola que frequentam. Não digo que tenham sido sempre bons alunos, mas acho que são bons miúdos, o que é o mais importante.

Álvaro, o filho do meio, nasceu com síndrome de Down. Que idade tem ele agora? Há pais e irmãos de raparigas e rapazes com esta síndrome que dizem aprender muito com eles.

-Álvaro tem agora 33 anos, fará 34 no próximo ano, e a verdade é que é um amor em todos os sentidos (repete duas vezes). Não saberíamos viver sem ele. Ele foi provavelmente a melhor coisa que nos aconteceu na vida. É um rapaz limpo, asseado e prudente. Tem todas as virtudes que um rapaz pode ter.

Parabéns. 

-Obrigado.

Qualquer mensagem que queiram transmitir. O milhão de membros é relevante, são muitas pessoas, muitas famílias.

-A importância do futebol na sociedade espanhola. Não nos emocionamos apenas com os profissionais que vemos, mas também com as crianças, a maioria das quais nunca se tornará futebolista. O desporto, o futebol, é uma grande ferramenta para a sua educação. Não há dúvida sobre isso.

Um comentário fora do programa: Feliz com os Unionistas de Salamanca?

-Sim, a verdade é que tenho um pouco de contradição, porque toda a vida fomos..., o meu pai era um dos sócios mais antigos do clube Unión Deportiva Salamanca, do clube original (Salamanca CF UDS). Mas bem, há pessoas que fizeram um bom trabalho, e eu gostaria de juntar as duas equipas numa só. As coisas acontecem como acontecem, e talvez tenha sido bom para o futebol em Salamanca.

O autorFrancisco Otamendi

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Vaticano

"Não dialogar com o diabo", recorda o Papa no Angelus

O Papa encorajou os fiéis a nunca entrarem em diálogo com o demónio "porque assim ele ganha sempre" e reiterou o seu apelo à paz face aos numerosos conflitos actuais.

Maria José Atienza-28 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O bom tempo marcou a oração do Angelus presidida pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro. Este domingo, 24 de janeiro, a Igreja celebra também a festa de São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja e padroeiro das escolas católicas.

A oração do Angelus de hoje no Vaticano foi marcada pela presença de um grande grupo de jovens e crianças que participaram na Caravana pela Paz organizada pela Ação Católica em Roma.

Nas palavras que precederam a oração mariana, o Papa, referindo-se ao Evangelho deste domingo, sublinhou que "o que o demónio quer é acorrentar as nossas almas. O demónio tira-nos sempre a liberdade". Francisco encorajou-nos a "nomear" algumas das muitas correntes com que o demónio nos prende nas nossas vidas: vícios, modas dominantes, consumismo e hedonismo, bem como outras tentações como "condicionamentos que minam a autoestima, a serenidade e a capacidade de escolher e amar a vida; o medo ou a intolerância".

O Papa tem repetidamente sublinhado que nunca devemos dialogar ou negociar com o demónio. O pontífice sublinhou o exemplo do próprio Cristo, que nunca dialoga com o demónio. Quando tentado no deserto, Cristo responde com palavras da Bíblia; nunca com um diálogo".

"Não se pode dialogar com o demónio, porque se entrarmos em diálogo com ele, ele ganha sempre. Estejam atentos", repetiu o Papa com firmeza, encorajando os fiéis a invocar Jesus perante a tentação e a ter uma atitude sincera para se perguntarem se querem realmente "ser libertados dessas cadeias que aprisionam o meu coração".

Petição pela paz e pelo respeito

Depois de rezar o Angelus, Francisco dirigiu a sua atenção para o longo conflito em Myanmar. Mais uma vez, Francisco reiterou o seu convite "a todas as partes envolvidas, para que dêem passos de diálogo e se revistam de compreensão, para que a terra de Myanmar possa alcançar o objetivo da reconciliação fraterna".

O Papa apelou também a que "a ajuda humanitária seja autorizada a passar para assegurar as necessidades de cada pessoa". Não só em Myanmar, mas também no "Médio Oriente, na Palestina e em Israel, e onde quer que haja combates". Francisco apelou novamente ao respeito pelas pessoas, recordando as muitas vítimas de conflitos como os da Ucrânia.

Para além de apelar veementemente à paz em todas estas regiões, acrescentou um apelo à "libertação de todos os que continuam sequestrados e ao fim de todas as formas de violência; para que todos dêem o seu contributo para o desenvolvimento pacífico do país, para o qual é necessário um apoio renovado da comunidade internacional".

O pontífice recordou também o ataque deste fim de semana à igreja de Santa Maria Draperis em Istambul, que matou uma pessoa e feriu várias outras.

Para além deste apelo recorrente à paz, o Papa, por ocasião do Dia Mundial da Lepra, encorajou um maior empenho na ajuda e reinserção social daqueles que sofrem, ainda hoje, desta doença "que afecta os mais pobres e marginalizados".

Mundo

Número de abusos sexuais na igreja evangélica alemã superior ao previsto

Um estudo encomendado pela Igreja Evangélica na Alemanha, levado a cabo por um grupo de investigadores durante os últimos quatro anos, revelou que havia muito mais casos de abuso sexual nas igrejas protestantes do que se pensava.

José M. García Pelegrín-27 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Seis anos após a publicação do estudo sobre os abusos encomendado pela Conferência Episcopal Católica, foi apresentado na quinta-feira um importante estudo sobre os abusos sexuais na Igreja Protestante. A análise foi efectuada por um grupo de investigação interdisciplinar denominado "ForuM - Investigação sobre o tratamento da violência sexualizada e outras formas de abuso na Igreja Evangélica e Diaconia na Alemanha" e financiado pelo EKD ("...").Igreja Evangélica Alemã"3,6 milhões, que a encomendou em 2020. A EKD é composta por 20 "Landeskirchen" ("Igrejas Distritais") e representa 19,2 milhões de cristãos evangélicos em toda a Alemanha.

O resultado mais surpreendente deste estudo de 871 páginas é o facto de o número de vítimas de abuso sexual ser muito superior ao esperado. Mas antes de entrar na análise deste estudo, é importante salientar duas particularidades.

Em primeiro lugar, enquanto o estudo sobre os abusos sexuais na Igreja Católica ("estudo MGH", 2018) se limitava às pessoas consagradas, o Estudo "ForuM afecta não só os pastores protestantes, mas também os empregados da chamada "Diakonia", a instituição protestante comparável à "Caritas" na esfera católica.

Em segundo lugar, o "estudo MGH" foi realizado com base nos ficheiros pessoais das cúrias diocesanas, num total de 38.156 ficheiros. No caso do "estudo ForuM", só estavam disponíveis dados completos para uma das 20 Igrejas Distritais da EKD. No total, foram examinados 4.300 processos disciplinares, 780 processos pessoais e cerca de 1.320 outros documentos. De acordo com a presidente do Conselho da EKD, Kirsten Fehrs, as igrejas protestantes não se recusaram a cooperar, mas fizeram "pior" do que as dioceses católicas: não houve uma "falta de vontade deliberada", mas simplesmente uma "incapacidade infeliz".

Trata-se, portanto, de "projecções". O estudo indica: "um número total estimado de 3.497 pessoas acusadas (incluindo 1.402 pastores) e 9.355 pessoas afectadas" desde 1946.

É por isso que, embora estes números sejam muito mais elevados do que se pensava, com cerca de 900 vítimas de abusos, são apenas a "ponta do icebergue" e uma "amostra muito selectiva", segundo o coordenador do estudo, Martin Wazlawik, professor de serviço social na Universidade de Ciências Aplicadas de Hanôver.

O estudo "ForuM" refere-se ao facto de a igreja evangélica ter considerado o abuso sexual ("violência sexualizada") como um problema específico da Igreja Católica ou, pelo contrário, como um problema de toda a sociedade, mas que não a afectava particularmente.

O prefácio do Estudo fala também de uma tendência "historicista": considerá-lo como um problema confinado aos orfanatos dos anos 50 e 60, ou como um fenómeno passageiro da "libertação sexual" depois de 68.

Entre as causas "sistémicas" ou específicas das igrejas evangélicas, a falta de controlo suficiente é apontada como uma das causas: nenhum líder religioso concede uma ampla autonomia a pastores individuais, o que leva a "uma difusão da responsabilidade nas estruturas complexas de uma igreja que, em muitos lugares, atribui grande importância à construção de si própria a partir de baixo e não prevê uma supervisão forte com possibilidades de intervenção". Além disso, um certo "laissez-faire" na educação sexual pode ter sido uma caraterística do abuso especificamente protestante. Concretamente, o estudo "ForuM" fala de uma maior ascensão da "libertação sexual" do que no catolicismo, bem como da influência de pedagogos como Helmut Kentler, Gerold Becker e Hartmut von Hentig que, com a sua "superação dos limites" nos contactos adulto-criança, favoreceram uma influência "paidosexual" na pedagogia reformista protestante e na ética sexual. No entanto, o estudo admite que "está ainda por fazer uma análise e uma reflexão mais pormenorizadas sobre a influência das diferentes correntes pedagógicas reformistas e das possíveis correntes paidosexuais".

Em todo o caso, o que os estudos MHG e ForuM concordam é que as vítimas de abuso sexual são aproximadamente dois terços do sexo masculino: 64,7% das vítimas na Igreja Protestante eram do sexo masculino. 99,6% dos agressores também eram do sexo masculino; o que é específico das igrejas evangélicas é que três quartos dos agressores sexuais eram casados quando cometeram o seu primeiro crime.

O celibato não é o problema

A partir deste resultado, conclui-se que celibato não é, como tem sido repetido nos últimos anos na sequência do estudo do MHG, o fator mais importante e muito menos o mais decisivo. Até um jornal que não é propriamente conhecido pela sua simpatia para com a Igreja Católica, como o berlinense "Der Tagesspiegel", sublinhou no seu editorial que a Igreja Protestante não pode invocar o celibato, o argumento mais recorrente, como a principal razão para os abusos sexuais, porque este não existe na Igreja Protestante.

A iniciativa leiga católica "New Beginnings", que se tornou conhecida sobretudo pela sua oposição ao Caminho Sinodal da Igreja Católica na Alemanha, afirmou num comunicado que este novo estudo veio finalmente pôr fim à "narrativa persistente do Caminho Sinodal, segundo a qual os abusos têm causas sistémicas de carácter especificamente católico". Embora estruturas sistémicas como "desequilíbrios de poder, modelos pouco claros, a capacidade de manipular potenciais perpetradores em relações assimétricas" possam encorajar o abuso, não são "nem especificamente católicas nem confessionais". Quando se trabalha com crianças e jovens, estes factores podem "sistematicamente" promover o abuso, mas, segundo a iniciativa, não há provas de "factores especificamente católicos adicionais de eficácia significativa e importante", quer no estudo protestante ForuM, quer no estudo católico MHG. A iniciativa conclui: "Ambos os estudos mostram que as igrejas não têm estado a abordar e a responder bem ao problema dos abusos desde há muito tempo.

No semanário católico "Die Tagespost", Regina Einig comentou que, embora este estudo "não deva ser motivo de satisfação para os católicos", o facto de também existirem casos de abuso na esfera protestante levanta questões objectivas para os bispos alemães e permite tirar conclusões para o caminho sinodal, "porque as premissas com que começou se revelam insustentáveis". O estudo do MHG apontava três características da Igreja Católica como factores facilitadores dos abusos sexuais: o celibato, a estrutura hierárquica da Igreja e a ausência de mulheres na liderança. Nenhum destes factores está presente nas igrejas protestantes, mas isso não impediu os abusos; "mesmo o presbitério protestante com um pastor casado e uma família tradicional não garante um espaço seguro".

Para o diretor do "Die Tagespost", a Igreja Católica e as igrejas protestantes estão de acordo numa coisa: "Têm dificuldade em reconhecer as consequências negativas da revolução sexual e da ideologia de 1968. As "aberrações da educação sexual, que a partir dos anos 60 foram responsáveis pelas experiências de sexólogos com menores" que negaram o sofrimento das pessoas afectadas, são "inconcebíveis sem o rumo ideológico traçado pelo movimento de 1968". Neste contexto, defende uma reabilitação póstuma de Bento XVI: "A sua crítica a 1968 em relação à crise dos abusos não foi exagerada".

Família

Silvana Ramos, construir o mundo a partir do casamento e da família

A peruana Silvana Ramos, engenheira de formação, dedica-se à formação e ao acompanhamento da família. A sua experiência de vida e a sua própria família são, para ela, a fonte desta necessidade de ser coerente com a fé e de ter respostas para os desafios que, sobretudo, os jovens colocam no domínio do matrimónio e da família.

Juan Carlos Vasconez-27 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Silvana tem 46 anos e é casada com Francisco há 13 anos. Este casal peruano tem três filhos, que são a sua maior aventura. Silvana é engenheira, mas o casamento e a família são o local onde desenvolve a maior parte do seu trabalho. Há alguns anos, fez um mestrado em Matrimónio e Família no Universidade de Navarra (Espanha), o que, diz-nos ela, lhe deu uma nova perspetiva. É responsável pelo matrimónio e pela família em dois colégios de Lima, Villa Caritas e San Pedro.

Silvana recorda a sua infância como um tempo cheio de Deus, embora, como ela própria admite, não tenha durado muito tempo. Embora a mãe "se esforçasse por estar presente todos os domingos na missa, quer ela quisesse quer não", a adolescência e a juventude de Silvana foram marcadas pela sua frieza religiosa. Foi por volta dos trinta anos que "redescobriu a sua fé e Deus, que na realidade estava sempre presente".

O gatilho foi a decisão de um irmão seu que, "no auge da adolescência, decidiu sair de casa para consagrar a sua vida a Cristo". Silvana tentou compreender o que tinha levado o seu irmão a fazer aquela escolha e "nesse percurso de compreender o meu irmão e de o fazer 'ver a razão', fui eu que vi a razão!

Um casamento de "risco total"

Uma das paixões de Silvana é o seu casamento. Recorda que, devido à separação dos seus pais, "não conhecia nenhum casal que me dissesse que o casamento era uma coisa bonita. Quando decidimos casar, pouca gente ficou contente. Sugeriam que vivêssemos juntos primeiro, que nos casássemos com bens separados..., em suma. Era como preparar-se para um desastre em vez de uma vida de amor em conjunto. Foi então que Silvana decidiu, com o marido, homem de fé, preparar-se "conscientemente para conhecer melhor o sacramento". Começaram uma vida de oração, naturalmente: "Tentamos que o tema da fé faça parte natural das nossas conversas, histórias e estórias. Agora que tenho dois filhos na adolescência, essas conversas tornaram-se muito mais interessantes e desafiantes. Já não se trata apenas de contar e explicar, mas sobretudo de responder às suas perguntas, de ouvir com o dobro da atenção o que têm dentro de si, de lhes dar espaço e de ser o mais coerente possível na nossa vida de fé.

Esta vida de oração em família evoluiu com o tempo, mas mantém práticas que são hoje tradicionais: "A oração da manhã, que fazemos juntos no carro, é apenas uma jaculatória e uma breve reflexão sobre o Evangelho que não dura mais de 10 minutos, a caminho da escola. Abençoamos a comida (e por vezes das formas mais invulgares) e rezamos juntos todas as noites, sem falta. Agradeço a Deus o facto de serem os meus filhos que, sempre que os mandamos para a cama, encontram como desculpa para uns minutos extra de vigília a frase: "Ainda não rezámos! A par disso, a caridade e a solidariedade também fazem parte da vida de fé da sua família.

Novos desafios

Acompanhados pelo ritmo da família, os desafios desta mãe O número de conselheiros familiares tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Atualmente, está a terminar uma especialização em acompanhamento do amor e da afetividade.

Além disso, através de projectos de formação, "que incluem questões relacionadas com a parentalidade, a família, o casal, o desporto, a cultura, a solidariedade e até o ambiente, procuro ter um impacto positivo na ligação entre pais e filhos".

"Repito aos meus filhos que o maior legado que lhes posso deixar é a minha vida de fé. E embora pareça simples, é uma tarefa bastante desafiadora", diz Silvana sobre o futuro.

"Não se trata de levar uma vida perfeita, ou de ser imaculado, isso seria impossível. Penso que uma vida de fé implica sabermo-nos frágeis, vulneráveis, necessitados dos outros, mas sobretudo de Deus", afirma.

Silvana é muito clara sobre o que quer mostrar aos seus filhos e ao mundo: "Que os meus filhos saibam, porque o viram, que as trevas são vencidas pela luz e que as batalhas nunca são ganhas sozinhas. Se alguém quer ir longe, é melhor fazê-lo acompanhado, e que melhor companhia do que a de Deus, que se mostra através daqueles que mais nos amam".

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Estados Unidos da América

Diocese de Santo Agostinho: a origem da fé na América

Neste artigo da série "Dioceses na Fronteira", olhamos para Santo Agostinho, o berço da fé nos Estados Unidos.

Gonzalo Meza-27 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

A cidade de Santo Agostinho foi fundada em 1565. É o mais antigo assentamento europeu e afro-americano nos Estados Unidos. Foi a partir desta cidade que a fé se espalhou dois séculos antes de São Junípero Serra construir as missões da Costa Oeste (1769), quatro décadas antes de os ingleses colonizarem Jamestown (1607) e 55 anos antes de os primeiros "Peregrinos" desembarcarem em Plymouth Rock (1620). As Diocese de St. Augustine (St. Augustine) situa-se na parte nordeste do estado da Florida. Abrange 17 condados que se estendem desde a secção nordeste da Florida, no Golfo do México, até ao Oceano Atlântico, cobrindo mais de 11.000 milhas quadradas e englobando várias cidades importantes, sendo as maiores Jacksonville, Gainesville e St.

História da cidade de Santo Agostinho

A descoberta europeia da Flórida é atribuída a Juan Ponce de León, o primeiro governador, que ali chegou em 1513 durante a Páscoa, batizando assim a península de "Pascua Florida". Ponce de León reclamou o território para a coroa espanhola. Regressará em 1521, mas desta vez trazendo padres e missionários, muitos dos quais morrerão durante a expedição às mãos das tribos locais. Desde a sua descoberta e ao longo de cinquenta anos, a Espanha enviou pelo menos seis expedições para colonizar a Flórida, mas sem sucesso. Só em 1564 é que um grupo de franceses conseguiu estabelecer-se no que é atualmente a cidade de Jacksonville. Esta nova povoação constituía uma ameaça para as frotas espanholas que navegavam na costa leste da Florida.

Em resposta, o rei Filipe II encarregou Pedro Menéndez de Avilés de eliminar a ameaça francesa na região e de assumir o controlo da cidade de Santo Agostinho. A cidade tinha dois objectivos principais: servir de posto militar avançado ou "presidio" para defender a Florida e ser uma colónia missionária no sudeste. A manutenção de uma colónia militar permanente implicava riscos, incluindo ataques de corsários ingleses e confrontos entre espanhóis e britânicos, numa altura em que as colónias inglesas a norte da Florida (nos estados da Geórgia e das Carolinas) eram estados esclavagistas que viam com desconfiança a liberdade que a coroa espanhola concedia aos que chegavam aos seus territórios.

A primeira missa nos Estados Unidos

O almirante Pedro Menéndez partiu de Espanha em junho de 1565, trazendo consigo centenas de viajantes e vários sacerdotes diocesanos. Chegam à península, onde desembarcam a 8 de setembro de 1565. O sacerdote Francisco López de Mendoza Grajales presidiu à Santa Missa no local e deram ao lugar o nome de "San Agustín", em honra do santo que era celebrado no dia do primeiro avistamento.

A primeira missa em território norte-americano teve lugar no dia 8 de setembro (hoje em dia, foi erguida uma cruz monumental para comemorar o acontecimento). Alguns anos mais tarde, foi criada a "Mission Nombre de Dios" e, em 1620, foi construída no local a capela chamada "Nuestra Señora de la Leche y el Buen Parto", o primeiro santuário mariano dos Estados Unidos. 

Nos seus primórdios, como jurisdição eclesiástica, Santo Agostinho dependia, juntamente com todo o território da Flórida, da diocese de Santiago de Cuba (erigida em 1518). Em 1573, os franciscanos chegaram a Santo Agostinho para estabelecer missões não só na Flórida, mas também a norte, no que é atualmente o estado da Geórgia. A cidade de Santo Agostinho foi desde o início o ponto de partida para o trabalho missionário no norte e no sul da península. Em quase cem anos, foram construídas 38 missões no território.

Os missionários trabalharam com os povos nativos, evangelizando e transmitindo os sacramentos, mas nem sempre foram bem recebidos. Muitos morreram às mãos da população local, como é o caso dos franciscanos Pedro de Corpa, Blas Rodríguez, Miguel de Añón, Antonio de Badajoz e Francisco de Beráscola, assassinados por membros da tribo Guale entre 14 e 17 de setembro de 1597. O processo de beatificação de Pedro de Corpa e dos seus companheiros, conhecidos como os mártires da Geórgia, está atualmente em curso em Roma.

A cidade de Santo Agostinho no século XVIII

As primeiras igrejas que foram construídas na cidade de Santo Agostinho não duraram por muitas razões entre elas: os materiais utilizados, a falta de manutenção, as condições climatéricas e principalmente os constantes ataques de diferentes grupos ao longo de dois séculos entre eles os corsários (Francis Drake, queimou a cidade em 1585), os colonos ingleses, por exemplo o governador da Carolina James Moore que destruiu as missões matando três franciscanos em 1704, ou o general James Oglethorpe que atacou a cidade em 1740. Estes ataques à Florida por parte das colónias inglesas da Geórgia e das Carolinas deveram-se ao facto de os escravos fugitivos terem obtido a sua liberdade à chegada ao território espanhol. De facto, a primeira comunidade de antigos escravos foi estabelecida em 1738, a duas milhas de Santo Agostinho, num enclave chamado "Gracia Real de Santa Teresa de Mose".

Após a assinatura do Tratado de Paris, em 1763, que pôs fim à "Guerra dos Sete Anos" ou "Guerra Franco-Indígena" (como é conhecida na América do Norte) entre a França e o Reino Unido, os ingleses tomaram o controlo das colónias espanholas, provocando a partida de milhares de católicos. Os franciscanos e os padres seculares abandonaram a península. Em 1764, restavam apenas oito católicos na nova colónia britânica.

Quatro anos mais tarde, chegaram trabalhadores de Menorca, Itália e Grécia para trabalhar numa plantação de índigo na cidade de Nova Esmirna. Eram acompanhados pelo Padre Pedro Camps, natural de Mercadal, Menorca. A sua presença durou apenas 9 anos, pois não suportaram as condições opressivas da plantação, pelo que se mudaram para Santo Agostinho, onde o governador lhes ofereceu asilo. O Padre Camps foi também autorizado a instalar uma capela improvisada na cidade e assim retomar o culto após 13 anos de ausência. No final da Revolução Americana, em 1783, o Reino Unido devolveu a Florida a Espanha, dando início ao segundo período de domínio espanhol (1784-1821).

Em 1784, chegaram a Santo Agostinho dois padres irlandeses, Michael O'Reilly e Thomas Hassett, tendo este último aberto a primeira escola para escravos negros. Em 1793, o Papa Pio VI autorizou a criação da "Diocese de Louisiana e das Floridas", com jurisdição sobre toda a península. Este facto deu um novo impulso à Igreja e, no mesmo ano, iniciou-se a construção de um novo templo no local onde tinha sido erguida a primeira igreja de Santo Agostinho, que viria a ser a catedral em 1870.

Embora a Espanha tenha lutado para manter as suas colónias nas Américas, várias razões, incluindo as guerras napoleónicas, impediram-na de o fazer. Em 1819, através do Tratado Adams-Onís, a Espanha entregou as colónias espanholas à recém-criada nação: os Estados Unidos da América. Em 1825, foi criado o Vicariato Apostólico do Alabama e das Floridas (atualmente a Diocese de Mobile, Alabama) e o Bispo Michael Portier tornou-se o primeiro ordinário.

A Flórida tornou-se o 27º estado da União Americana em 1845. O Papa Pio IX, em 1857, nomeou Agostinho Verot, Bispo de Savannah, Geórgia (a norte da Florida), como Vigário Apostólico da Florida. Pouco depois, as Irmãs da Misericórdia chegaram para abrir o primeiro convento católico na Florida para raparigas brancas. Também lhes foi permitido dar instrução religiosa aos escravos. As freiras tiveram de ser evacuadas durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). No final da guerra, as "Irmãs de S. José" chegaram de França para educar os escravos libertados. 

Início da Diocese de Santo Agostinho

Em 1870, foi criada a diocese de Santo Agostinho e Agostinho Verot tornou-se o primeiro bispo. Foi sucedido por John Moore em 1877. No ano da sua fundação, a diocese contava apenas com três sacerdotes, três paróquias, sete missões, algumas religiosas e 1.328 católicos. Foi um período de renascimento económico e social da cidade. O magnata Henry Flagler, antigo sócio de John D. Rockefeller na Standard Oil Company, quis transformar a cidade de Santo Agostinho numa estância de inverno, sobretudo para os habitantes do nordeste dos Estados Unidos. Assim, alargou a linha férrea local, ligando-a a outras cidades mais populosas do leste. Em 1887, começou a construir hotéis e infra-estruturas para a indústria turística. No mesmo ano, um grande incêndio destruiu a catedral, que foi reaberta um ano depois com o apoio de Henry Flagler. 

No século XX, durante a Primeira Guerra Mundial, Michael J. Curley foi nomeado o quarto bispo de Santo Agostinho. O prelado enfrentou um período de sentimento anti-católico, marcado por vários incidentes, incluindo a prisão de três freiras de St. Joseph's acusadas de violar uma lei que proibia o ensino de crianças negras.

Em 1922, o bispo Patrick J. Barry foi nomeado bispo. O seu mandato foi marcado pelos anos de depressão económica nos EUA. Apesar disso, foram construídas 28 igrejas e 10 escolas e o número de sacerdotes aumentou de 29 para 72. Em 1940, Pio XII nomeou Joseph P. Hurley como novo bispo. Durante a sua administração, foram adquiridos terrenos, especialmente na década de 1950, para a construção de igrejas e escolas. Joseph P. Hurley participou em algumas sessões do Concílio Vaticano II. 

Durante a era da luta pelos direitos civis, a cidade de St. Augustine desempenhou um papel importante com a chegada do Dr. Martin Luther King, Jr. em 1964. O líder pretendia que a cidade se tornasse um local de mudança nacional para os direitos civis da comunidade afro-americana, que, tal como noutros locais do sul dos Estados Unidos, sofria de discriminação racial e de segregação ainda inscritas na lei. A presença do Dr. Martin Luther King aumentou as tensões raciais na cidade, especialmente porque em 1964 estavam a ser preparadas as celebrações do 400º aniversário da fundação de Santo Agostinho. 

Em 1979, John J. Snyder foi nomeado bispo da diocese que, nesse ano, contava com 63.000 católicos. Durante o seu mandato, assistiu-se a um período de expansão com a criação de 8 paróquias, sete escolas, casas de retiro e o Centro de Espiritualidade e Retiro Católico Marywood. Sucederam-lhe os bispos Víctor Galeone (2001-20119) e Felipe J. Estévez (2011-2022), nascido em Havana, Cuba. Em maio de 2022, o Papa Francisco nomeou o Bispo Erik T. Pohlmeier como décimo primeiro bispo de Santo Agostinho. A sua ordenação episcopal e instalação tiveram lugar a 22 de julho de 2022. 

A Diocese de Santo Agostinho hoje

A península da Florida tem sete jurisdições eclesiásticas: Pensacola-Tallahassee, Orlando, São Petersburgo, Veneza, Palm Beach, Miami e Santo Agostinho. A diocese de St. Augustine conta com mais de 176.000 católicos numa população total de 2,4 milhões de habitantes. Há 140 sacerdotes, 94 diáconos permanentes e 98 religiosas, alguns dos quais trabalham em 54 paróquias e 14 missões e capelas. A jurisdição tem 24 escolas paroquiais para o ensino básico e 5 escolas para o ensino secundário, onde estudam mais de 10.000 alunos.

Vaticano

O Papa pede às Igrejas Orientais que "rezem pela comunhão".

O Papa teve esta manhã uma audiência no Palácio Apostólico do Vaticano com os membros da Comissão Mista Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais.

Loreto Rios-26 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No âmbito deste encontro ecuménico, o Papa pronunciou um discurso sobre discurso Começou com as palavras do Apóstolo Pedro: "A vós, graça e paz em abundância" (1 Pd 1,2), como depois sublinhou: "Com estas palavras do Apóstolo Pedro, saúdo-vos cordialmente, agradecendo a Sua Graça Kyrillos as suas amáveis palavras e a todos vós a vossa presença e o vosso empenho em caminhar juntos pelos caminhos da unidade, que são também caminhos de paz".

Como sinal desta unidade, o Papa mencionou os santos e mártires, muitos dos quais são partilhados pelas Igrejas Católica e Ortodoxa: "Apoiados pelos santos e mártires que nos acompanham unidos desde o céu, rezemos e esforcemo-nos incansavelmente pela comunhão e para contrariar a falta de paz que aflige tantas partes da terra, incluindo várias regiões de onde sois provenientes.

A Comissão Mista Internacional

Este encontro realiza-se no vigésimo aniversário da Comissão Mista Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais, e o Papa exprimiu a sua alegria pela presença de uma delegação de jovens sacerdotes e monges: "A presença dos jovens alimenta a esperança e a oração orienta o caminho! Francisco recordou também os patriarcas das Igrejas Orientais, com uma menção especial aos que o visitaram no ano passado: Tawadros IIArcebispo de Alexandria, Baselios Marthoma Mathews III, Catholicos da Igreja Ortodoxa Siro-Malankar, e Ignatius Aphrem II, Patriarca Sírio Ortodoxo de Antioquia.

O Papa recordou que a Comissão Mista Internacional teve a sua primeira reunião no Cairo em janeiro de 2004 e que, desde então, "reuniu-se quase todos os anos e adoptou três importantes documentos de carácter eclesiológico, reflectindo a riqueza das tradições cristãs que representais: copta, siríaca, arménia, malankar, etíope, eritreia e latina".

Além disso, o Santo Padre assinalou que "quatro delegações de jovens sacerdotes e monges ortodoxos orientais já vieram a Roma para conhecer melhor a Igreja Católica, a convite do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, ao qual estou grato, e uma delegação de jovens sacerdotes católicos foi a Etchmiadzin no ano passado a convite da Igreja Apostólica Arménia". Francisco sublinhou que "envolver os jovens na aproximação das nossas Igrejas é um sinal do Espírito, que rejuvenesce a Igreja na harmonia, inspirando caminhos de comunhão". Neste sentido, o Papa apelou a que "este 'diálogo de vida' continue".

A plena comunhão é "urgente e necessária".

Francisco sublinhou que os "gestos, enraizados no reconhecimento do único Batismo, não são meros actos de cortesia ou diplomacia, mas têm um significado eclesial".

Francisco fez votos de que "este aniversário seja uma ocasião para louvar a Deus pelo caminho percorrido, recordando com gratidão aqueles que para ele contribuíram com a sua competência teológica e a sua oração, e que renove também a convicção de que a plena comunhão entre as nossas Igrejas não só é possível, mas urgente e necessária 'para que o mundo creia' (Jo 17,21)".

Maria, ponte para as Igrejas Ortodoxas

Para concluir, o Papa convidou a Comissão a confiar o seu trabalho a Nossa Senhora: "Uma vez que a fase atual do vosso diálogo diz respeito à Virgem Maria no ensinamento e na vida da Igreja, proponho-vos que confiem o vosso trabalho a Ela, a Santa Mãe de Deus e nossa Mãe.

Também desta vez podemos invocá-la juntamente com as palavras de uma antiga oração, uma oração maravilhosa que nos une, chamada em latim 'Sub tuum praesidium'", acrescentou o Papa, concluindo o seu discurso com a oração "Sob a tua proteção nos refugiamos, Santa Mãe de Deus".

Vaticano

Rezar pela unidade, a principal tarefa do nosso caminho

As segundas vésperas da solenidade da conversão de São Paulo marcaram a conclusão da 57ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Antonino Piccione-26 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Não é "quem é o meu próximo", mas "faço-me próximo? Reflectindo sobre a parábola do Bom Samaritano, o Papa Francisco pronunciou a sua homilia durante as segundas vésperas da Solenidade da Conversão de São Paulo, que encerra a 57ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, subordinada ao tema "Ama o Senhor teu Deus... e ama o teu próximo como a ti mesmo".

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

Trata-se de uma iniciativa ecuménica de oração em que todas as confissões cristãs rezam em conjunto para que se alcance a plena unidade que é a vontade de Cristo. Tradicionalmente, realiza-se de 18 a 25 de janeiro, por se situar entre a festa da Cátedra de São Pedro e a festa da Conversão de São Paulo.

Foi oficialmente iniciada pelo Reverendo Episcopal Paul Wattson em Graymoor, Nova Iorque, em 1908, com o nome de Oitava para a Unidade da Igreja, na esperança de que se tornasse uma prática comum.

Desde 1968, o tema e os textos da oração foram desenvolvidos conjuntamente pela Comissão Fé e Ordem do Conselho Ecuménico das Igrejas, para os protestantes e ortodoxos, e pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, para os católicos.

Para 2024, o tema escolhido é retirado do Evangelho de Lucas: "Ama o Senhor teu Deus... e ama o teu próximo como a ti mesmo".  

"Ama o Senhor teu Deus... e ama o teu próximo como a ti mesmo".

Os textos de comentário, as orações e as indicações sobre como viver este momento foram preparados por um Grupo Ecuménico do Burkina Faso, coordenado pela Comunidade local de Chemin Neuf. Viver esta experiência em conjunto, relatam os seus membros, foi um verdadeiro caminho de conversão ecuménica que os levou a reconhecer que o amor de Cristo une todos os cristãos e é mais forte do que as suas divisões.

Cerca de 1 500 pessoas estiveram presentes na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, com representantes de várias denominações cristãs, incluindo o Arcebispo de Cantuária Justin Welby, o Metropolita Ortodoxo Policarpo e representantes da Comissão Conjunta para o Diálogo entre a Igreja Católica e outras Igrejas.

No túmulo do Apóstolo dos Gentios, o Papa reiterou que "só este amor que se torna serviço gratuito, só este amor que Jesus anunciou e viveu aproximará os cristãos separados. Sim, só este amor, que não volta ao passado para se distanciar ou apontar o dedo, só este amor que, em nome de Deus, coloca o irmão à frente da defesa feroz do seu próprio sistema religioso, nos unirá. Primeiro o irmão, depois o sistema.

Entre nós", continuou o Pontífice, "nunca devemos fazer a pergunta "quem é o meu próximo? Porque cada batizado pertence ao mesmo Corpo de Cristo; além disso, porque cada pessoa no mundo é meu irmão ou irmã, e todos nós compomos a "sinfonia da humanidade", da qual Cristo é o primogénito e o redentor. Portanto, não se trata de "quem é o meu próximo", mas de "será que me faço próximo". Ou permanecem entrincheirados na defesa dos seus próprios interesses, ciosos da sua autonomia, fechados no cálculo das suas próprias vantagens, entrando em relação com os outros apenas para obter algo deles? Se assim for, não se trata apenas de erros estratégicos, mas de infidelidade ao Evangelho".

Como Paulo, precisamos de "pôr de lado a centralidade das nossas ideias para procurar a voz do Senhor e deixar que Ele tenha a iniciativa e o espaço". Precisamos desta conversão de perspetiva e, sobretudo, de coração. Ao rezarmos juntos, reconheçamos, a começar por nós próprios, que precisamos de nos converter, de deixar que o Senhor mude os nossos corações. Este é o caminho: caminhar juntos e servir juntos, colocando a oração em primeiro lugar. De facto, quando os cristãos amadurecem no serviço de Deus e do próximo, crescem também na compreensão mútua. Juntos", concluiu Francisco, "como irmãos e irmãs em Cristo, rezamos com Paulo, dizendo: "Que faremos, Senhor?

E ao fazer a pergunta já há uma resposta, porque a primeira resposta é a oração. Rezar pela unidade é a primeira tarefa do nosso caminho". Como Paulo, "levanta-te", diz Jesus a cada um de nós e à nossa busca de unidade. Levantemo-nos, pois, em nome de Cristo, do nosso cansaço e dos nossos hábitos, e avancemos, avancemos, porque Ele o quer, e Ele o quer para que o mundo creia".

Depois do Papa, o Arcebispo Welby falou brevemente, convidando todos a rezar pela unidade dos cristãos numa altura em que não há liberdade no mundo. Antes da bênção final, Francisco e o Arcebispo de Cantuária deram a alguns pares de bispos católicos e anglicanos, como o Pontífice tinha antecipado na sua homilia, "um mandato para continuarem a dar testemunho da unidade desejada por Deus para a sua Igreja nas respectivas regiões", avançando juntos para difundir a misericórdia e a paz de Deus num mundo necessitado", para que "onde exercem o vosso ministério, possam juntos dar testemunho da esperança que não engana e da unidade pela qual o nosso Salvador rezou".

Por fim, o Prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o Cardeal suíço Kurt Koch, agradeceu ao Pontífice.

Desejo de paz

Entre os pontos altos da Semana, vale a pena recordar o desejo expresso a 24 de janeiro pelo Custódio da Terra Santa, Padre Francis Patton, durante a Vigília pela unidade dos cristãos, realizada na igreja paroquial latina de São Salvador, em Jerusalém: "É importante e significativo sintonizar o dom da unidade que já nos foi dado por Cristo através do batismo e da efusão do Espírito neste tempo difícil em que nos encontramos, caracterizado pelo conflito, pelo ódio e pelo desejo de vingança, em vez da tensão para a unidade e a reconciliação".

O Custódio recordou que "o amor a Deus e ao próximo tem a ver com a vida quotidiana e tem a ver com a nossa forma de entrar em relação com a pessoa humana, qualquer pessoa humana: sofredora, espancada, despojada da sua dignidade".

Para Patton, "o ponto de encontro entre nós não deve ser procurado principalmente no plano teórico das ideias (que podem unir ou dividir), mas no plano prático do amor pelas pessoas que Deus coloca no nosso caminho, aqui e hoje, sem distinção de sexo, idade, etnia ou mesmo religião". O Custódio convidou-nos também a colocarmo-nos "na pele do homem que foi roubado, espancado e abandonado na estrada". 

Esta personagem da parábola ensina-nos que, como cristãos da Terra Santa, já temos um elemento ecuménico que nos une a todos e que é o elemento do sofrimento comum, aquilo a que, em casos extremos, se chama o ecumenismo do sangue. Quando somos atacados, não o somos por sermos católicos ou ortodoxos ou arménios ou siríacos ou coptas ou anglicanos ou luteranos. Atacam-nos simplesmente porque somos cristãos.

Isto, acrescentou, "recorda-nos que, mesmo que ainda não nos sintamos unidos, aqueles que nos querem vencer já nos sentem unidos. Creio que nisto há um pedido do Espírito para que também nós aprendamos a reconhecer-nos cada vez mais como parte de um único corpo que é batido e humilhado e que, por isso, tem a possibilidade de manifestar alguma forma de unidade que já existe na participação na paixão do Senhor, uma vez que ainda não podemos participar juntos na sua glória".

O autorAntonino Piccione

Experiências

Peter WaltersLer mais : "Fui de férias e regressei com uma vocação" : "Fui de férias e regressei com uma vocação".

Peter Walters é um padre britânico que, há mais de 20 anos, dedica a sua vida a cuidar de crianças de rua em Medellín (Colômbia). A sua fundação Vivan los niños / Deixem as crianças viver! retirou milhares de crianças do drama das ruas, das máfias ou da prostituição.

Maria José Atienza-26 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

"Toda esta história começa em 1982. Sempre fui fascinado pela América Latina. Nessa altura, havia uma promoção especial da Avianca para a Colômbia e decidi passar lá as minhas férias". É assim que o padre católico Peter Walters começa a sua história de Viva as crianças!, uma fundação que ajuda crianças de rua na Colômbia, e que nasceu de uma experiência quase cinematográfica. 

Nas férias de 1982, "fui a Bogotá e Cartagena", recorda Walters, "estava tudo a correr muito bem até descobrir que havia um problema com o meu bilhete de regresso: não tinha data. Quando tentei organizar o meu regresso ao Reino Unido, descobri que tinha a prioridade mais baixa possível, em época alta, pelo que tive de ficar lá mais tempo do que tinha orçamentado. Este contratempo levou-o a uma extrema parcimónia e só comia uma vez de dois em dois dias. 

Foi num desses dias de "jejum forçado" que mudou a sua vida. "Conheci umas crianças pedintes. Viram-me como um estranho e aproximaram-se de mim para me pedir esmola. Quando consegui fazer-lhes compreender que não tinha nada, acharam muito estranho. Nunca tinham visto um turista pobre. Depois, aconteceu algo completamente estranho: estas crianças decidiram "adotar-me". Partilharam comigo a sua comida e a sua humanidade tocou-me verdadeiramente. Nos dias que se seguiram, o Padre Peter continuou a ver estas crianças, "tornámo-nos amigos e eu preocupava-me em ver como viviam. Eu, como anglicano, pensei então 'onde está a Igreja Católica na rua?

O Padre Walters com crianças de rua em Medellín na década de 1990

Uma pergunta que não era uma mera formulação: "Fui procurar o arcebispo local para lhe dar uma boa 'bofetada'. Felizmente, encontrei Monsenhor Rubén Isaza Restrepo, então arcebispo de Cartagena, com quem tive vários encontros. Ele disse-me: "filho, a Igreja Católica está muito empenhada na população de rua. Mas também acredito que o Senhor te chama a fazer alguma coisa. 

A resposta apanhou-o de surpresa e, quando regressou ao Reino Unido, Peter Walters não conseguiu esquecer aquelas palavras, nem aquelas crianças. "Na altura, alguém me disse que eu tinha ido à Colômbia passar férias e que tinha regressado com uma vocação, e foi o que aconteceu", recorda emocionado.

Uma nova fase 

A partir daí, Walters regressou várias vezes à Colômbia para passar férias. Embora continuasse a ser anglicano, trabalhou com instituições da Igreja Católica nesta zona.

Nesses anos, Monsenhor Isaza reformou-se e retirou-se para Manizales e foi para lá: "De manhã, trabalhava numa fábrica de pilhas para ganhar alguma 'platica' e tomava conta destas crianças à tarde e à noite", continua Walters. Enquanto estava em Manizales, disseram-lhe que havia muitas crianças em Medellín nesta situação e ele decidiu ir. Esses foram os anos difíceis de Pablo Escobar.

A violência era uma constante na Colômbia, e especialmente em Medellín. Como recorda, "naqueles anos, muitas das crianças que eu conhecia foram mortas. Chamavam-lhes 'los desechables' e eram de facto descartados.

O coração de Walters ainda estava dividido entre a Inglaterra e a Colômbia. Era-lhe cada vez mais difícil regressar à segurança da sua casa sem saber o que aconteceria às crianças.

Nesses anos, Peter Walters foi ordenado padre anglicano e "acabei por trabalhar no santuário mariano de Nossa Senhora de Walsingham". Walsingham é um lugar de intensa devoção mariana. Nossa Senhora apareceu lá em 1061 e pediu que fosse construída uma casa, como a casa de Nazaré. Atualmente, convergem três santuários marianos: um anglicano, um católico e um terceiro ortodoxo: "É um lugar muito mariano e quase todos os meus antecessores anglicanos no santuário acabaram por se converter ao catolicismo", recorda Walters. "Segui esse caminho e apercebi-me de que o Senhor me pedia para assumir um compromisso. Esse compromisso implicava ir à Colômbia, pedir a admissão na Igreja Católica e, eventualmente, a ordenação como sacerdote católico".

O Arcebispo de Medellín aceitou e, em 1994, Walters mudou-se definitivamente para a Colômbia, foi recebido na Igreja Católica e ordenado sacerdote católico em 1995. 

Começou então um novo percurso na sua vida profissional e na sua dedicação às crianças de rua. Durante a sua estadia em Walsingham, Walters criou uma fundação para as através do qual recolheu fundos para o trabalho da Igreja Católica com crianças de rua na Colômbia. Uma vez na Colômbia, obteve o estatuto legal para abrir uma fundação colombiana e também fundada nos Estados Unidos com o objetivo de aí angariar fundos. Estas três fundações continuam a existir atualmente. As de Inglaterra e dos Estados Unidos dedicam-se à angariação de fundos e a da Colômbia também serve as crianças. 

Viva as crianças! 

Até à data, Viva as crianças! está sediado numa casa em Medellín que acolhe este local graças a São José. "Estávamos à procura de um local e não conseguíamos encontrar um adequado a um preço acessível", diz Walters. Um padre amigo aconselhou-o a rezar uma novena a São José. Rezou e, "no nono dia, apareceu a casa que temos agora, que era adequada para aluguer". Foi assim que começaram. 

"Passados alguns anos, os proprietários queriam vender a casa, mas nós não tínhamos 'dinheiro'. Fizemos outra novena a São José e, de novo, no nono dia, uma fundação telefonou de Inglaterra oferecendo-se para nos emprestar o dinheiro, sem juros, durante dez anos. No ano seguinte, quando lhes paguei a primeira prestação, devolveram o recibo dizendo que era um presente. Temos a casa graças a São José", conclui o Padre Walters com convicção. 

A Walsingham House não é uma residência propriamente dita porque as crianças não pernoitam lá "exceto uma vez por ano, quando fazemos as 40 horas no Santíssimo Sacramento. Os rapazes passam a noite e as raparigas passam a noite na noite seguinte.

A Casa Walsingham acolhe vários grupos: "crianças de rua, crianças que trabalham na rua e também raparigas que engravidam. Cuidamos delas e dos seus bebés, antes e depois do parto, oferecendo a estas raparigas a possibilidade de estudar para que possam continuar a sua formação e ter um futuro mais digno. "Também trabalhamos com crianças com necessidades educativas especiais". Nas escolas, os professores geralmente não conseguem dar a atenção individualizada de que estas crianças necessitam e elas caem nas mãos dos mais de "400 grupos armados ilegais que estão sempre à procura de recrutar estes menores para os introduzir no tráfico de droga, na delinquência ou na prostituição. E depois temos as crianças refugiadas, sobretudo da Venezuela". Tudo isto, graças a uma equipa de psicólogos, educadores sociais, catequistas que realizam este trabalho. 

Um grupo de raparigas ao cuidado da Fundação na sua formatura em 2022.

Para além de tudo isto, a fundação criou um coro "para dar voz às nossas crianças. Cantam em inglês, latim e espanhol. Canções populares, canções litúrgicas e até gregorianas. 

Os frutos também estão a chegar: "Alguns dos nossos filhos já são profissionais. Temos um rapaz que trabalhava na rua, a sua família recicla o lixo, e agora é médico; outro rapaz é advogado; uma rapariga é psicóloga; outra rapariga é engenheira industrial e várias enfermeiras... A maioria das nossas crianças não vai para a universidade, mas se conseguirmos que uma criança que foi maltratada ou abandonada não seja um adulto que abandona e maltrata os seus filhos, conseguimos algo importante.

Necessidade de donativos

Nestes 30 anos, milhares de crianças foram ajudadas pelo Padre Walters, embora, como ele reconhece, "a fundação tenha diminuído devido à falta de recursos. Em 2007, atendíamos 900 crianças e hoje temos menos de 200. Depois da COVID, os doadores não têm a mesma capacidade de doação que tinham antes". Uma situação que influenciou diretamente a capacidade de prestação de cuidados da fundação, que não quer ajudas públicas que possam influenciar os seus princípios católicos. 

A fundação é financiada por donativos. "Vivo para pedir esmolas para os meus filhos", conclui o Padre Walters. Crianças que se contam aos milhares e cujas histórias desconhecidas fazem parte do legado deste padre com sotaque britânico e alma colombiana.

Vaticano

"Sem oração não se pode ser juiz, diz o Papa

O Papa Francisco presidiu esta manhã à inauguração do 95º Ano Judicial do Tribunal da Rota Romana, no Palácio Apostólico do Vaticano.

Loreto Rios-25 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Na cerimónia de inauguração, o Papa proferiu um discurso em que discurso perante os juízes do Tribunal da Rota, no qual reflectiu em particular sobre o tema do discernimento.

Discernir para julgar

"Proponho-me centrar-me no discernimento específico que lhe compete fazer no âmbito de um processo matrimonial, relativo à existência ou inexistência de motivos para declarar nulo um casal. Estou a pensar no vosso processo colegial na Rota, no processo conduzido pelos tribunais colegiais locais ou, onde isso não for possível, pelo juiz único assistido talvez por dois assessores, bem como no pronunciamento emitido pelo próprio bispo diocesano, especialmente nos processos mais curtos, em consulta com o instrutor e o assessor", especificou Francisco.

O Santo Padre salientou ainda que algumas medidas, como "a abolição da exigência de uma dupla sentença de conformidade nos casos de nulidade, a introdução de um julgamento mais curto perante o bispo diocesano, bem como o esforço para tornar o trabalho dos tribunais mais rápido e acessível", deve ser entendida no quadro da "misericórdia para com os fiéis em situações problemáticas", e não "ser mal interpretada", de modo que "a necessidade de servir os fiéis com uma pastoral que os ajude a compreender a verdade sobre o seu matrimónio nunca deve ser negligenciada".

Neste sentido, o Papa citou o proémio do seu motu proprio "Mitis iudex Dominus Iesus", no qual dizia que "se trata de favorecer 'não a nulidade dos matrimónios, mas a celeridade dos processos, não menos do que uma justa simplicidade, para que, por causa da demora na definição da sentença, os corações dos fiéis que esperam o esclarecimento do seu estado não sejam oprimidos durante muito tempo pelas trevas da dúvida'".

Misericórdia e justiça

A este respeito, o Papa salientou que é importante conjugar misericórdia e justiça. Precisamente à luz da misericórdia, para com as pessoas e as suas consciências, é importante o discernimento judicial sobre a nulidade", sublinhou o Papa, citando São Tomás de Aquino: "A misericórdia não tira a justiça, mas é a plenitude da justiça".

No entanto, Francisco recordou que fazer um julgamento é uma tarefa muito complicada. "Chegar à certeza moral sobre a nulidade, superando a presunção de validade no caso concreto, implica realizar um discernimento ao qual está ordenado todo o processo, especialmente a investigação preliminar. Tal discernimento constitui uma grande responsabilidade que a Igreja vos confia, porque influencia fortemente a vida das pessoas e das famílias".

"Se alguém não reza, que se demita".

Por outro lado, o Papa salientou que o julgamento de um caso não pode ser feito sem "contar com a luz e a força do Espírito Santo". Francisco acrescentou ainda que, se algum dos juízes não rezar, é preferível que se demita: "Caros juízes, sem oração não se pode ser juiz. Se alguém não reza, por favor, que se demita, é melhor assim".

O Santo Padre assinalou ainda a importância de ser objetivo no julgamento, e de "estar livre de qualquer preconceito, seja a favor ou contra a declaração de nulidade". "Isto significa libertar-se tanto do rigorismo daqueles que pretendem ter certezas absolutas como de uma atitude inspirada pela falsa convicção de que a melhor resposta é sempre a nulidade, aquilo a que São João Paulo II chamava o 'risco de uma compaixão incompreendida [...], só aparentemente pastoral'", acrescentou o Papa.

Prudência e justiça

Francisco indicou então duas virtudes necessárias para o discernimento das quintas-feiras: "a prudência e a justiça, que devem ser informadas pela caridade. Há uma íntima ligação entre prudência e justiça, pois o exercício da prudentia iuris tem como objetivo saber o que é justo no caso concreto. Uma prudência, portanto, que não se refere a uma decisão discricionária, mas a um ato declarativo sobre a existência ou não do bem do matrimónio; portanto, uma prudência jurídica que, para ser verdadeiramente pastoral, deve ser justa. O discernimento justo implica um ato de caridade pastoral, mesmo quando o juízo é negativo".

Em conclusão, o Papa sublinhou a importância da indissolubilidade do matrimónio e que, por isso, "discernir a validade do vínculo é uma operação complexa, em relação à qual não devemos esquecer que a interpretação do direito eclesiástico deve ser feita à luz da verdade sobre o matrimónio indissolúvel, que a Igreja salvaguarda e difunde na sua pregação e missão". Como ensinou Bento XVI, "a interpretação do direito canónico deve ser feita na Igreja. Não se trata apenas de uma circunstância externa, ambiental: é um apelo ao próprio húmus do direito canónico e das realidades que ele regula. Sentire cum Ecclesia" tem sentido também na disciplina, por causa dos fundamentos doutrinais sempre presentes e actuantes nas normas jurídicas da Igreja". É isto que vos peço, juízes: escutar com a Igreja".

Francisco concluiu pedindo aos juízes da Rota que rezassem por ele, pois o seu ministério também é complexo. "Às vezes é divertido, mas não é fácil", disse o Papa, depois de recomendar o trabalho do tribunal à Virgem Maria.

Permanecer para evangelizar

Vivemos num mundo em constante aceleração, em permanente movimento. Todos nós sofremos desta cultura da pressa que nos leva a ir de um sítio para outro, sem perder tempo.

25 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

"Existe uma ligação secreta entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento". Esta frase do célebre dramaturgo checo Milan Kundera, recentemente falecido em Paris, tem-me marcado nas últimas semanas. Li-a no ensaio "Remaining" do político francês François-Xavier Bellamy, no qual ele analisa o mundo acelerado em que vivemos e as consequências que esse ritmo acelerado tem para as nossas vidas.

E senti-me desafiado.

Vivemos num mundo em constante aceleração, em permanente movimento. Todos nós sofremos desta cultura da pressa que nos leva a ir de um sítio para outro, sem perder tempo. Como narrou Michael Ende em "Momo", "Momo"., Parece que somos apanhados pelos homens cinzentos que nos roubam o tempo que julgamos estar a tentar poupar. A mudança é uma constante no nosso mundo. Nada permanece. Só o que muda parece válido, mesmo que a sua única virtude seja simplesmente o facto de ser novo. O progresso, o avanço, tornou-se um objetivo em si mesmo, mesmo que não saibamos bem onde esse caminho nos leva. O importante é avançar, seja para onde for.

Consequentemente, desenvolvemos uma espécie de vergonha do nosso passado. Revimo-lo e isso levou-nos a descartar tudo o que não se conforma com a nossa forma atual de ver a realidade. É este o revisionismo imposto pela cultura woke., que nos está a afastar das nossas próprias raízes e da nossa própria história.

Caímos assim na armadilha da velocidade vertiginosa que nos leva ao esquecimento. Uma armadilha que se tornou uma cultura e uma proposta política. E assim temos o fast food, o "fast food"., mais eficaz do que um guisado em lume brando, uma política de marketing e de slogans em vez de uma gestão a longo prazo, uma vida mais divertida e superficial, menos densa e profunda.

Nós, cristãos, vivemos neste mundo e sentimo-nos interpelados por este tsunami cultural. As ondas estão a agitar-nos e tudo parece dizer-nos que vivemos precisamente no passado e que, consequentemente, não há lugar para nós na sociedade do futuro. Assim, a única forma de sobreviver parece ser juntarmo-nos a esta onda, surfar por cima dela, e não tentarmos ser ondas no meio da ondulação.

E, no entanto, a realidade é que, como dizia Chesterton, "todas as épocas e todas as culturas são salvas por um pequeno punhado de homens que têm a coragem de ser irrealistas". Não é seguindo a moda que daremos luz ao mundo, mas ancorando-nos naquilo que permanece, permanecendo nós próprios.

O mundo de hoje precisa de homens e mulheres que tragam sabedoria, conhecimento profundo do coração humano, que possam orientar as suas vidas. No meio das areias sempre movediças do deserto, o viajante encontra o seu destino olhando para as rochas que permanecem como referência. Aconteceu-me muitas vezes que, em conversas com jovens que conheceram a fé numa idade precoce e depois se afastaram dela, me agradeceram por ter ficado, mesmo quando estavam a tropeçar na vida. Isso deu-lhes segurança, serviu-lhes de ponto de referência.

A nossa igreja precisa de homens e mulheres que vivam em casa e passem a vida à espera do filho que saiu de casa. Como o pai da parábola do filho pródigo, como a mãe da canção de Cesáreo Gabarain "Una madre no se cansa de esperar".. Homens e mulheres que permanecem e que são, portanto, um legado de memória.

A nossa religião é feita de memória agradecida. Vivemos o nosso ser a partir da memória transmitida de pai para filho do que Deus fez por nós. "Shema, Israel! Há uma ligação total entre "memória e identidade", como São João Paulo II intitulou um dos seus livros. Cultivar a memória, acalmar a alma, é essencial para evangelizar o nosso mundo.

Hoje, mais do que nunca, precisamos de homens sábios, capazes de ver a realidade com os olhos de Deus e que nos dêem as chaves do nosso caminho nestes tempos confusos. Homens que rasguem as aparências dos acontecimentos e nos revelem o verdadeiro significado do que nos está a acontecer. Homens moldados pela fé e que contemplam o mundo com o coração de Deus.

Precisamos de recuperar a sabedoria de Deus que permanece e que, precisamente porque permanece, nos permite avançar, porque serve de guia e de referência, de ponto de referência que indica o caminho. É preciso avançar sem medo, conduzir o barco da nossa vida para as profundezas - "Duc in altum!, com o olhar fixo num ponto de referência que não se move e que nos ajuda a discernir a direção que temos de tomar.

A estrela polar permanece sempre, fixa no céu, guiando os marinheiros.

Que nós, cristãos, sejamos a estrela na noite, a rocha no deserto, a casa permanente para os homens e mulheres do nosso tempo!

O autorJavier Segura

Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.

Vaticano

O que é que o futuro reserva ao sistema judicial do Vaticano?

Em 15 de dezembro de 2023, foi lida apenas a parte dispositiva do acórdão do conhecido "caso Becciu". O acórdão completo, com todos os fundamentos, só será publicado mais tarde, presumivelmente em 2024, algures entre junho e dezembro.

Andrea Gagliarducci-25 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Ainda não é conhecido o final do processo sobre a gestão dos fundos do Secretariado de Estado, o chamado "processo". Becciu". O veredito lido a 15 de dezembro tem várias absolvições, muitas redefinições de crimes, algumas condenações, e não pode deixar ninguém satisfeito.

De facto, os únicos que não recorreram foram a Secretaria de Estado e a Administração do Património da Sé Apostólica, ambas partes civis (e duas faces da mesma moeda, tendo em conta que a gestão dos fundos da Secretaria de Estado foi transferida para a APSA). Não houve recurso para Monsenhor Mauro Carlino, o secretário que substituiu primeiro Angelo Becciu e depois Edgar Peña Parra, o único a ser absolvido de todas as acusações. Todos os outros actores, tanto os acusados como as partes civis, e até mesmo o promotor de justiça do Vaticano (o procurador público), anunciaram que irão recorrer.

Haverá, portanto, um novo julgamento, já não com uma audiência alargada, mas com uma revisão de documentos, que poderá reescrever os crimes e as sentenças. E, entretanto, há dois outros processos no Vaticano, também sobre questões financeiras: o processo de Libero Milone, antigo auditor geral do Vaticano, que denunciou, juntamente com o seu adjunto Panicco, mais tarde falecido de cancro, ter sido injustamente afastado do seu cargo e pediu uma elevada indemnização, e que terminou a favor da Secretaria de Estado; e o processo relativo à gestão dos fundos do Coro da Capela Sistina.

Mas o que é que estes julgamentos dizem sobre a saúde do sistema jurídico do Vaticano?

O sistema jurídico do Vaticano

Recorde-se que se trata de processos penais, instituídos no Estado da Cidade do Vaticano. Embora o direito canónico seja também uma fonte de direito no caso de litígios civis e penais, estes são julgamentos instituídos no Estado, com as suas próprias regras.

O Papa Francisco alterou várias vezes o sistema jurídico do Vaticano. Nos últimos dois anos, houve duas reformas do sistema jurídico, que redefiniram efetivamente a estrutura judicial. O Papa unificou o cargo de promotor de justiça, que continua a ser o mesmo em primeira instância e em recurso. Primeiro, definiu, também com base em pedidos de organismos internacionais, que pelo menos um dos juízes ou promotores de justiça deveria trabalhar a tempo inteiro, e depois voltou a aceitar que todos os cargos fossem a tempo parcial.

Assim, durante a fase de investigação do processo sobre a gestão dos fundos do Vaticano, o Papa reescreveu algumas das regras com quatro rescritos. Uma forma de ultrapassar um vazio normativo, segundo o promotor de justiça Alessandro Diddi. Uma forma de manipular a investigação, alterando as regras, segundo a acusação.

Na verdade, porém, estamos perante um sistema jurídico que sofreu muitas reformas, composto inteiramente por advogados e procuradores que exerceram ou exercem a sua atividade em Itália e que, por conseguinte, não conhecem as peculiaridades da Santa Sé e não vêem o quadro mais amplo do direito internacional.

O processo de gestão de fundos da Secretaria de Estado

É neste contexto que o julgamento sobre a gestão dos fundos pelo Secretário de Estado deve ser colocado. O julgamento diz respeito a factos ocorridos entre 2012 e 2019, e pode ser resumido em três vertentes diferentes.

O primeiro diz respeito ao investimento do Secretariado de Estado nas acções de um palácio de luxo em Londres. Depois de ter decidido não avançar com a possibilidade de participar numa plataforma petrolífera em Angola, o Secretariado de Estado entregou ao corretor Raffaele Mincione a gestão de um fundo destinado à compra de acções de um palácio a desenvolver. Em seguida, transferiu as mesmas acções sob gestão para o corretor Gianluigi Torzi, que - inicialmente desconhecendo o Secretariado de Estado - guardou para si as únicas acções com direito de voto e, consequentemente, o controlo total do palácio. Por fim, acabou por adquirir a totalidade do edifício, que foi recentemente revendido.

Assim, parte do processo incide sobre a contribuição dada pela Secretaria de Estado à Caritas de Ozieri para o desenvolvimento de um projeto da cooperativa SPES, presidida pelo irmão do Cardeal Becciu. A acusação contra Becciu é de desvio de fundos.

A terceira linha de investigação diz respeito à auto-intitulada perita em geopolítica Cecilia Marogna, contratada pela Secretaria de Estado, que alegadamente utilizou o dinheiro que lhe foi pago para alegadas operações de resgate de reféns (como a da freira colombiana Cecilia Narvaez, raptada no Mali) em seu próprio benefício.

Como é que o ensaio terminou?

Como já foi referido, a única absolvição foi a de Monsenhor Mauro Carlino.

O Cardeal Becciu foi condenado por três crimes, dois de peculato e um de fraude. Um dos crimes de peculato considera-o em conluio com o corretor Raffaele Mincione por ter investido 200 milhões de euros (um terço da capacidade de investimento da Secretaria de Estado) num fundo altamente especulativo pertencente ao corretor.

René Bruelhart e Tommaso Di Ruzza, respetivamente presidente e diretor da Autoridade de Informação Financeira na altura dos factos em questão, recebem apenas uma multa de 1.750 euros. Enrico Craso, o corretor que, primeiro em nome do Credit Suisse e depois noutras funções, geriu os fundos da Secretaria de Estado do Vaticano, foi condenado a sete anos de prisão e a uma multa de 10.000 euros, com interdição vitalícia de exercer funções públicas.

Raffaele Mincione, a quem foi confiado o fundo que depois foi utilizado para comprar acções da propriedade londrina, a cinco anos e seis meses de prisão, uma multa de oito mil euros e inibição vitalícia do exercício de funções públicas.

Fabrizio Tirabassi, funcionário da Secretaria de Estado da Administração implicado pelos seus superiores nas negociações, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão, a uma multa de 10.000 euros e à inibição vitalícia do exercício de funções públicas.

Nicola Squillace, um advogado que esteve envolvido com Gianluigi Torzi na compra e venda, foi condenado a um ano e seis meses de prisão com pena suspensa.

Gianluigi Torzi, o agente que assumiu a gestão das acções da propriedade Mincione por conta do Secretário de Estado, foi condenado a seis anos de prisão, a uma multa de 6.000 euros, à inibição vitalícia do exercício de funções públicas e a uma vigilância especial durante um ano.

Cecilia Marogna, a auto-intitulada "agente secreta" que recebeu uma comissão de 500.000 euros por uma operação de libertação de uma freira raptada no Mali, comissão essa que, segundo a acusação, terá sido utilizada para benefício próprio, foi condenada a 3 anos e 9 meses de prisão e a uma inibição temporária do exercício de funções públicas pelo mesmo período. A empresa de Marogna, Logsic Humanitarne Dejavnosti D.O.O., terá de pagar uma coima de 40.000 euros e será proibida de contratar com autoridades públicas durante dois anos.

Além disso, o Tribunal ordenou o confisco dos montantes que constituem o corpus das alegadas infracções, num montante total superior a 166.000.000 euros. Por fim, os réus foram condenados, solidariamente, a pagar uma indemnização a favor da parte civil, uma indemnização liquidada que ascende a mais de 200.000.000,00 euros.

Entre os danos a serem contabilizados, há também 80 milhões em danos não pecuniários para a Secretaria de Estado, enquanto a sentença também visa recuperar todo o dinheiro destinado por Becciu à Caritas de Ozieri e o destinado à autodenominada especialista em inteligência Cecilia Marogna. As confiscações serão executáveis a partir da sentença de segundo grau, mas existe uma norma que prevê a possibilidade de confiscar o produto do crime já com a sentença de primeiro grau.

Rumo à condenação

No entanto, o que foi lido em 15 de dezembro de 2023 é apenas a parte dispositiva do acórdão. O acórdão completo, com todos os fundamentos, só será publicado mais tarde, presumivelmente em 2024, algures entre junho e dezembro.

O prazo para o recurso é, portanto, muito longo, as confiscações estão bloqueadas por enquanto e, entretanto, as despesas do Tribunal continuam a aumentar, também porque o Papa decidiu recentemente colocar os juízes do Vaticano no escalão de gestão da Cúria, com um salário correspondente.

Mas como é que esta época de provações afectou a Santa Sé?

O primeiro risco é o de uma diminuição da credibilidade do sistema judicial do Vaticano, quer pela forma como as acusações foram tratadas, quer pela forma como o próprio presidente do Tribunal, Giuseppe Pignatone, decidiu redefinir vários crimes, com uma nova abordagem que parecia negar as investigações. A questão que se pode colocar, talvez com demasiada malícia e especificidade, é se este foi um julgamento político e quem foi prejudicado por ele.

O segundo risco diz respeito a um eventual recurso. Se, em sede de recurso, houver uma inversão substancial das acusações, quem e como poderá compensar os danos sofridos pelos arguidos? Trata-se de danos de reputação que têm enormes repercussões na vida das pessoas, pelo que a indemnização seria elevada. Haveria o paradoxo de, num processo judicial, procurarem recuperar o dinheiro perdido e acabarem por pagar mais do que perderam.

O terceiro risco diz respeito à posição dos juízes e da gendarmerie do Vaticano. Se o recurso anulasse a primeira sentença, tanto a capacidade dos juízes e dos promotores do Vaticano para conduzir um julgamento justo como a capacidade de investigação da gendarmeria do Vaticano poderiam ser postas em causa. Isto seria um terramoto para todo o sistema do Vaticano.

O autorAndrea Gagliarducci

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O Padre Joseph Evans comenta as leituras do Quarto Domingo do Tempo Comum (B) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-25 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Há vários temas que atravessam as leituras da Missa de hoje. Um é o tema da autoridade, outro é o tema da escuta ou da atenção a Deus.

Na primeira leitura, Moisés recorda aos israelitas o tempo em que Deus lhes tinha falado na montanha. Essa ocasião, com o seu fogo e os seus trovões, servia para mostrar a autoridade de Moisés como profeta e a autoridade da Lei que Deus revelava através dele. Mas Moisés anuncia um futuro e maior profeta em cujos lábios Deus poria as suas próprias palavras. Um profeta com uma autoridade e um poder ainda maiores. E é este o Jesus que vemos no Evangelho: não apenas um mensageiro de Deus, mas o próprio Deus.

Nos Evangelhos, Deus já não procura assustar-nos. Os antigos israelitas eram rudes e primitivos e precisavam de um tratamento duro para lhes incutir a fé. A nova aliança exige novos métodos. Deus já não quer assustar-nos, embora queira aterrorizar os demónios. Pelo contrário, ao aterrorizar os demónios, que tentam aterrorizar-nos, tenta convencer-nos da sua misericórdia. O Evangelho mostra-nos o poder de Jesus. Ele é um Deus que não só controla as forças da natureza, mas também domina as forças do mal. Numa breve frase, expulsa os demónios, que tentam aterrorizar-nos. Numa breve frase, expulsa o demónio e, por duas vezes, no texto de hoje, é referida a autoridade de Jesus: a autoridade do seu ensino e a autoridade sobre os espíritos impuros.

É esta autoridade divina que as leituras de hoje nos convidam a levar a sério. Não se trata de um político com promessas vãs ou de um orador motivacional com frases vazias, trata-se do próprio Deus com autoridade divina. Não admira que Moisés nos diga na primeira leitura: "... o próprio Deus tem autoridade divina".Vais ouvi-lo".

Isto leva-nos à questão da escuta. Escutamos alguém com base na sua autoridade. Não ouviremos ninguém que não tenha o direito de falar connosco. Jesus Cristo tem uma autoridade infinita. Pode ser aterrador se quiser, como Deus o foi no Sinai; pode calar os demónios com uma palavra. Mas, em vez de impor o seu poder, prefere oferecer-nos o seu amor na mansidão. No entanto, a mansidão da sua abordagem não nos deve fazer pensar que a sua lei é algo que podemos pegar ou largar. "A ele escutareis. E o salmo insiste: "Que ouçam hoje a sua voz: "Não endureçais os vossos corações [...]".". A segunda leitura convida-nos a dar toda a nossa atenção a "...".os assuntos do Senhor"E a ordem de Cristo ao demónio de "calar-se" é também uma chamada de atenção para nós. Se queremos escutar Deus e obedecer-lhe, devemos esforçar-nos por ouvi-lo, dar-lhe toda a nossa atenção e encontrar momentos de silêncio e de oração na nossa vida, para "estarmos calados".

Homilia sobre as leituras de domingo IV Domingo do Tempo Comum (B)

O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Vaticano

Inteligência Artificial, chave para a liberdade na Comunicação

O Papa Francisco centra a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2024 no impacto negativo da Inteligência Artificial no domínio da informação.

Paloma López Campos-24 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No seu mensagem Por ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco analisa o impacto da Inteligência Artificial no mundo da comunicação. Com a velocidade a que progridem os avanços científicos e tecnológicos, a humanidade vê-se confrontada com as "questões fundamentais" a uma nova luz: o que é o homem? O que é o homem e como se configura o seu futuro com a Inteligência Artificial?

O Papa adverte que é preciso evitar "leituras catastróficas" e "os seus efeitos paralisantes" face a estas questões. Citando Romano Guardini, aconselha a que os problemas desta era tecnológica sejam resolvidos "abordando-os do ponto de vista humano". Mas, para que isso aconteça, "é preciso que surja uma nova humanidade de profunda espiritualidade, de uma nova liberdade e de uma nova vida interior".

A sabedoria do coração

Esta nova humanidade "só pode partir do coração humano". Francisco encoraja-nos a cultivar "uma sabedoria do coração". Isso permitir-nos-á "ler e interpretar a novidade do nosso tempo e redescobrir o caminho de uma comunicação plenamente humana".

O Santo Padre define o coração "como a sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida". Baseando-se na Bíblia, o Papa diz que o coração "é um símbolo de integridade, de unidade". E "ao mesmo tempo evoca afectos, desejos, sonhos". Mas "é sobretudo o lugar interior do encontro com Deus".

Desta forma, o Pontífice esclarece que quando fala de "sabedoria do coração" está a referir-se "àquela virtude que nos permite entrelaçar o todo e as partes, as decisões e as suas consequências, as capacidades e as fragilidades, o passado e o futuro, o eu e o nós".

Francisco afirma que, quando falta esta virtude, "a existência torna-se insípida". A sabedoria do coração "é um dom do Espírito Santo, que nos permite ver as coisas com os olhos de Deus". No entanto, sublinha o Papa, não é algo que possamos esperar das máquinas.

A inteligência artificial e os delírios de omnipotência

Apesar da capacidade das máquinas e dos progressos que fazem na corrida científica, só o homem pode "decifrar o significado" dos dados que as máquinas armazenam. "Não se trata de exigir que as máquinas pareçam humanas, mas sim de despertar o homem da hipnose em que caiu devido à sua ilusão de omnipotência.

O homem contamina o progresso com "a tentação original de se tornar semelhante a Deus sem Deus". A ciência, sob esta forma, procura "conquistar pela sua própria força o que deveria ser aceite como um dom de Deus e vivido em relação com os outros".

O Santo Padre adverte que "cada extensão técnica do homem pode ser um instrumento de serviço amoroso ou de domínio hostil". Por isso, pede a todos que "entendam, compreendam e regulem os instrumentos que, nas mãos erradas, podem abrir cenários adversos". O Papa encoraja "a agir preventivamente, propondo modelos de regulação ética para travar as implicações nocivas e discriminatórias, socialmente injustas, dos sistemas de Inteligência Artificial".

A informação na era da Inteligência Artificial

O Pontífice afirma que estamos perante o desafio de "dar um salto qualitativo para estarmos à altura de uma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multi-religiosa e multi-cultural". O Pontífice adverte que "as grandes possibilidades de bem andam de mãos dadas com o risco de tudo se transformar num cálculo abstrato, que reduz as pessoas a meros dados".

A mensagem do Papa sublinha que "é inaceitável que a utilização da Inteligência Artificial conduza a um pensamento anónimo, a uma montagem de dados não certificados, a uma negligência colectiva da responsabilidade editorial". O Papa Francisco sublinha a ideia de que "a informação não pode ser separada da relação existencial". Ele explica que a Inteligência Artificial só terá um papel positivo na comunicação "se não anular o papel do jornalismo no terreno, mas, pelo contrário, o apoiar". Para isso, é essencial responsabilizar o comunicador e que a sua utilização devolva "a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, em relação à própria comunicação".

Por causa da Inteligência Artificial, diz o Papa, o mundo da comunicação "por um lado, paira sobre o mundo da comunicação o espetro de uma nova escravatura. Por outro, uma conquista da liberdade". A resolução desta situação "não está escrita, depende de nós". Por isso, Francisco conclui a sua mensagem afirmando que "cabe ao homem decidir se se torna alimento de algoritmos ou se alimenta o seu coração de liberdade".

Esta reflexão do Santo Padre sobre a Inteligência Artificial surge após vários discursos em que já falou sobre o assunto. O Papa dedicou mais do que uma ocasião a aprofundar esta nova era tecnológica. Sem ir mais longe, o Dia Mundial da Paz 2024 dedicou-lho, há menos de um mês.

Vocações

A arquidiocese de Toledo celebra um ano sacerdotal

No âmbito do ano dedicado à vocação sacerdotal, a Arquidiocese de Toledo celebrou um jubileu sacerdotal na terça-feira, 23 de janeiro, na Catedral Primaz, com a participação de quase 300 sacerdotes.

Loreto Rios-24 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O Ano Sacerdotal, organizado pela Arquidiocese de Toledo, está a ser celebrado no 50º aniversário da publicação da carta pastoral "Um seminário novo e livre", do Cardeal Marcelo González Martín. Com esta carta "o Cardeal renovou o nosso seminário, fiel às indicações do Concílio Vaticano II, num espírito de verdadeiro amor à Igreja. A fidelidade desta resposta às necessidades do nosso tempo em matéria de formação sacerdotal atraiu ao nosso Seminário Metropolitano mais de mil sacerdotes que hoje exercem o seu ministério nos mais diversos lugares da Igreja universal", afirma Dom Carlos Loriente, Vigário Episcopal para o clero da Arquidiocese de Toledo.

Testemunhas da Divina Misericórdia

O Ano Sacerdotal começou a 23 de setembro de 2023 com um encontro de lançamento na escola Nuestra Señora de los Infantes, com a presença de cerca de 700 participantes.

O lema deste ano pastoral é "Testemunhas da Divina Misericórdia". De acordo com o sítio Web da Arquidiocese de Toledo, este lema "será paralelo ao lema dos três anos de preparação para o Sínodo Diocesano de 2024, 'A alegria de caminhar juntos'. O ícone bíblico que representa o diálogo de Jesus com Pedro em Tiberíades será a imagem oficial do curso pastoral". A pintora Carolina Espejo, natural de Toledo, foi encarregada de criar esta imagem oficial do ano pastoral.

Jubileu Sacerdotal

Uma das datas mais importantes deste ano para os sacerdotes foi o jubileu sacerdotal celebrado a 23 de janeiro, festa de Santo Ildefonso, padroeiro da arquidiocese primaz. Este jubileu foi celebrado na catedral de Toledo com uma eucaristia em rito hispano-mourisco na presença de diversas autoridades civis, membros do capítulo da catedral, sete bispos e quase 300 sacerdotes.

A celebração foi presidida por Monsenhor Francisco Cerro Chaves, arcebispo de Toledo e Primaz de Espanha, enquanto os bispos concelebrantes foram D. Francisco César García Magán, Secretário Geral da Conferência Episcopal Espanhola; D. Braulio Rodríguez Plaza, Arcebispo Emérito; Dom Ángel Rubio Castro, bispo emérito de Segóvia; Dom Salvador Cristau, bispo de Terrasa; Dom Ángel Fernández Collado, bispo de Albacete e Dom Domingo Oropesa, bispo da diocese cubana de Cienfuegos.

"Todo o presbitério foi convidado a participar na Santa Missa celebrada na Catedral, durante a qual foi dada a bênção apostólica com indulgência plenária, como o bispo faz duas vezes por ano na sua sede", disse o vigário episcopal para o clero.

Além disso, durante a celebração, os presentes tiveram a oportunidade de venerar uma relíquia de Santo Ildefonso.

"Acompanhada por oito bispos que se formaram nesta casa, a Igreja de Toledo quis dar graças a Deus por tantas bênçãos que estão a ir ao encontro de tantas necessidades das pessoas do nosso tempo, através da personificação sacramental de Jesus Cristo que é a vida de cada sacerdote. Por isso, diante da capela da Descida da Virgem, renovámos as nossas promessas sacerdotais", disse Dom Carlos Loriente.

Depois da Missa, os sacerdotes partilharam o almoço no Seminário. "Durante a conversa depois do jantar, houve a oportunidade de agradecer aos reitores dos nossos seminários, ao longo dos anos, o trabalho de todos aqueles que se esforçaram por dar o melhor de si ao serviço da formação sacerdotal", acrescentou D. Carlos, "Foi um dia para agradecer a Deus por tantas bênçãos, bem como para celebrar esse santo pastor que é a insígnia e o estandarte de Toledo em todo o mundo, o grande Ildefonso, patrono da nossa arquidiocese. Ele que, com imenso amor à Mãe de Deus, deixou uma marca mariana para sempre na alma desta igreja particular e dos seus sacerdotes".

Outras datas importantes

No âmbito do Ano Sacerdotal da Arquidiocese de Toledo, realizar-se-á também a XII Conferência Pastoral, nos dias 26 e 27 de janeiro, no colégio diocesano Nuestra Señora de los Infantes, que contará com a presença de D. Andrés Ferrada, secretário do Dicastério para o Clero.

Mais tarde, de 5 a 8 de junho, realizar-se-á um Congresso Eucarístico Diocesano em Torrijos, onde repousam os restos mortais da Serva de Deus Teresa Enriquez, conhecida como "a louca do Sacramento".

No culminar deste ano sacerdotal, os sacerdotes irão em peregrinação a Fátima para se consagrarem a Nossa Senhora no dia 22 de agosto.

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Vaticano

A ganância não afecta apenas os ricos, diz o Papa

Na audiência geral de hoje, na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Papa Francisco proferiu a quinta catequese do ciclo sobre vícios e virtudes, desta vez centrada na ganância.

Loreto Rios-24 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O texto bíblico de referência para este catequese sobre a ganância A primeira carta a Timóteo 6, 8-10: "Uma vez que temos comida e roupa, contentemo-nos com estas coisas. Os que desejam enriquecer sucumbem à tentação, são enredados num laço e caem em muitos desejos insensatos e nocivos, que lançam os homens na ruína e na perdição. Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, e alguns, levados por ele, afastaram-se da fé e trouxeram sobre si muitos sofrimentos".

A ganância também afecta os pobres

O Papa definiu a avareza como "uma forma de apego ao dinheiro que impede o ser humano de ser generoso".

Francisco sublinhou que este vício não afecta apenas os ricos, mas é uma "doença do coração, não da carteira". De facto, deu como exemplo os ensinamentos dos Padres do deserto, que indicavam que a avareza podia também apoderar-se dos monges, mesmo que estes tivessem renunciado a grandes heranças para iniciar a sua vida monástica. No entanto, por vezes, percebiam entre eles um apego a objectos de pouco valor e uma relutância em emprestá-los ou dá-los.

O Papa referiu que se trata de uma espécie de regresso à fase infantil, em que as crianças estão sempre a dizer: "Ele é meu, ele é meu". É "um apego que tira a liberdade". Isto conduz a uma relação pouco saudável com a realidade, que pode levar a uma acumulação compulsiva.

Ganância e morte

Para se curarem deste vício, os monges propuseram um "método drástico": meditar sobre a morte. Assim, "o sentido deste vício é revelado", e torna-se claro que o nosso laço de posse com as coisas é aparente, uma vez que não somos os "senhores do mundo", mas "estrangeiros e peregrinos nesta terra".

Mas qual é a raiz profunda da avareza? O Papa sublinhou que, na sua raiz, a sua origem está na "tentativa de exorcizar o medo da morte", procura a segurança, mas, no final, este aparente controlo desmorona-se.

O Papa deu como exemplo uma parábola do Evangelho em que o homem insensato tem uma grande colheita e começa a planear o seu futuro e a pensar em aumentar os armazéns: "'E então direi a mim mesmo: minha alma, tens bens guardados para muitos anos; descansa, come, bebe, banqueteia-te alegremente'. Mas Deus disse-lhe: "Insensato, esta noite reclamarão a tua alma, e de quem será o que preparaste?" (Lc 12 19-20).

Destacamento

Francisco recorreu novamente a uma anedota dos Padres do deserto para explicar a atitude de desapego necessária para manter uma relação saudável com os bens. Nela, um ladrão rouba um monge enquanto este dorme e, quando o monge acorda, não se perturba com o que aconteceu, mas segue o ladrão e, em vez de lhe exigir qualquer coisa, dá-lhe o pouco que lhe resta, dizendo: "Esqueceste-te de levar isto".

Se não vivermos esta atitude de desapego, em vez de possuirmos os nossos bens, eles possuem-nos a nós. É por isso que algumas pessoas ricas não são livres, sublinha o Papa, porque, por outro lado, os bens precisam de ser guardados e um património duramente conquistado pode "desaparecer num minuto".

Administração correcta

O Papa sublinhou que as riquezas em si não são um pecado, mas uma responsabilidade a ser corretamente administrada. "É isso que o avarento não compreende", sublinhou Francisco. A sua riqueza poderia ter sido um bem para muitos, mas em vez disso tornou-se uma fonte de infelicidade.

A este respeito, Francisco, deixando de lado o discurso escrito, recordou o caso real de um homem rico cuja mãe estava doente. Os irmãos cuidavam dela à vez, e ele dava-lhe meio iogurte de manhã e meio iogurte à tarde, para poupar dinheiro e não lhe dar um iogurte inteiro. Depois, este homem morreu e as pessoas no funeral riram-se da sua avareza, dizendo que não conseguiriam fechar o caixão por ele ser tão avarento.

O Santo Padre salientou que devemos desapegar-nos e "deixar tudo". "Estejamos atentos e sejamos generosos", concluiu.

Apelo à paz

Os leitores leram depois um resumo da catequese em diferentes línguas. O resumo em inglês foi feito pelo próprio Papa.

Por fim, Francisco recordou o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto, que será celebrado no sábado, 27 de janeiro, lembrando que "o ódio e a violência nunca podem ser justificados". "A guerra é uma negação da humanidade", disse o Papa, recordando as vítimas das guerras e fazendo especial menção à Palestina, Israel e Ucrânia e aos bombardeamentos de zonas frequentadas por civis. "Imploro a todos que protejam a vida humana", pediu o Papa, acrescentando que "a guerra é sempre uma derrota".

Vaticano

Papa agradece aos jornalistas pelo seu trabalho de "companheiros de viagem

Os jornalistas acreditados junto da Santa Sé encontraram-se com o Papa Francisco na segunda-feira, 22 de janeiro. Durante a audiência, o Papa citou um livro do editor do Omnes, Giovanni Tridente, sobre o trabalho do jornalista do Vaticano.

Maria José Atienza-23 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Papa Francisco recebeu em audiência os membros da Associação Internacional de Jornalistas acreditados junto da Santa Sé, na segunda-feira, 22 de janeiro, na Sala Clementina.

Durante o encontro, o Papa agradeceu aos jornalistas, "meus companheiros de viagem" como lhes chamou, pelo seu trabalho informativo sobre a atividade da Santa Sé e pediu-lhes que o perdoassem "pelas vezes em que as notícias que me dizem respeito de várias maneiras vos afastaram das vossas famílias, de brincar com os vossos filhos e de passar tempo com os vossos maridos ou mulheres".

O Papa encorajou os jornalistas a regressarem às raízes de uma vocação, a dos jornalistas que "escolhem tocar pessoalmente as feridas da sociedade e do mundo. É uma vocação que nasce numa idade precoce e que vos leva a compreender, a lançar luz e a contar".

Pope cita um livro de um editor da Omnes

O Papa Francisco citou, neste discurso, palavras retiradas do prefácio escrito pelo vaticanista emérito Luigi Accattoli a um livro de Giovanni Tridente, editor da Omnes em Roma, intitulado Tornar-se vaticanista. A informação religiosa nos tempos da web.

A citação referia-se expressamente ao trabalho de repórter da Santa Sé, que ele define como "um trabalho rápido até à impiedade, duplamente incómodo quando aplicado a um assunto elevado como a Igreja, que os meios de comunicação social comerciais inevitavelmente colocam ao seu nível [...] do mercado". Em tantos anos de vaticanismo", acrescentou, "aprendi a arte de procurar e contar histórias de vida, que é uma forma de amar a humanidade [...]. Aprendi a humildade. Conheci muitos homens de Deus que me ajudaram a acreditar e a permanecer humano. Por isso, só posso encorajar aqueles que querem aventurar-se nesta especialização do jornalismo.

O Papa usou este livro para recordar que o vaticanista "terá de resistir à vocação nativa da comunicação de massas para manipular a imagem da Igreja, tanto e mais do que qualquer outra imagem da humanidade associada. De facto, os meios de comunicação social tendem a distorcer as notícias religiosas. Deformam-na tanto no registo alto ou ideológico como no registo baixo ou espetacular. O efeito global é uma dupla deformação da imagem da Igreja: o primeiro registo tende a forçá-la a uma roupagem política, o segundo tende a relegá-la para notícias ligeiras".

Sem sermos melosos, mas sem criarmos ruído

O Papa não escondeu a sua gratidão pela "delicadeza que tantas vezes tendes em falar de escândalos na Igreja: por vezes e muitas vezes vi em vós uma grande delicadeza, um respeito, um silêncio quase, digo eu, 'envergonhado'" e sublinhou também o trabalho para evitar a superficialidade dos estereótipos que muitos profissionais dos meios de comunicação social relatam sobre a Santa Sé.

"A beleza do vosso trabalho à volta de Pedro é que está assente na sólida rocha da responsabilidade na verdade", resumiu o Papa no seu discurso.

"Não esconder a realidade e as suas misérias, não adoçar as tensões mas, ao mesmo tempo, não fazer barulho desnecessário", concluiu o Papa que os encorajou, em primeiro lugar, a comunicar com o seu testemunho e, como em todas as audiências, pediu as suas orações.

Após o discurso do Santo Padre, os jornalistas presentes puderam cumprimentar o Papa, que fez uma paragem especial com alguns deles, conhecidos do pontífice após anos de acompanhamento das suas viagens e eventos.

Cultura

Santa Mariana Cope, uma vida dada no Havai

Santa Mariana Cope é uma santa que se mudou para o território do Havai, onde dedicou a sua vida a cuidar de doentes de lepra e a espalhar o amor de Cristo.

Paloma López Campos-23 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

No dia 23 de janeiro de 1838, Santa Mariana Cope nasceu no Grão-Ducado de Hesse (atual Alemanha). O seu nome de nascimento era Bárbara, em homenagem à sua mãe. Quando tinha apenas um ano de idade, a sua família mudou-se para os Estados Unidos, para o estado de Nova Iorque. Para se integrarem melhor, mudaram o seu apelido original "Kobb" para "Cope". Além disso, o pai da família tornou-se cidadão americano, pelo que os filhos também se tornaram cidadãos americanos.

Em Nova Iorque, Mariana recebeu uma educação católica numa escola paroquial. Aos dez anos, fez a primeira comunhão e, alguns anos mais tarde, já adolescente, foi trabalhar numa fábrica para ajudar financeiramente os pais.

De Barbara para Mariana Cope

Desde muito jovem, a futura santa manifestou o desejo de entrar para o convento, mas a situação delicada da sua família obrigou-a a adiar a entrada na vida religiosa.

Esperou pacientemente durante algum tempo até que, aos 24 anos, Cope decidiu deixar tudo. Em 1860, foi professa como irmã da Ordem Terceira Franciscana e mudou o seu nome de Bárbara para Mariana.

A comunidade religiosa a que pertenceu abriu hospitais em Nova Iorque. Aí, a santa certificou-se de que cuidava de todos os necessitados. O seu carácter determinado permitiu-lhe ser eleita provincial em 1877 e 1881. Mas depressa deixou este cargo quando recebeu um chamamento diferente.

Transferência para o Havai

O rei do Havai pediu ajuda para tratar dos leprosos das ilhas. Mariana deixou o estado de Nova Iorque e mudou-se para Molokai. Aí trabalhou como enfermeira num lar de idosos. A sua dedicação era tal que viveu isolada com os doentes na ilha de Kalaupapa, quando aí foi criada uma colónia de leprosos.

Para além de cuidar da saúde dos doentes, Santa Mariana Cope promoveu a construção de uma igreja e de uma escola para as crianças da zona. Organizou também uma lavandaria para ajudar as mulheres e um coro, para que as pessoas pudessem ocupar o seu tempo com actividades úteis.

Apesar dos apelos à presença de Mariana nos Estados Unidos em 1889, ela decidiu ficar no Havai para cuidar dos residentes do asilo. Manteve-se firme na sua decisão e morreu a 9 de agosto de 1918, com 80 anos, em Kalaupapa.

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Vaticano

Santa Sé lança plataforma pública para candidaturas a emprego

A Santa Sé, através da Secretaria para a Economia, abriu uma janela no seu sítio Web para receber candidaturas de pessoas que desejem trabalhar no Vaticano.

Giovanni Tridente-23 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Trabalhar na Santa Sé já não é tabu. De facto, há já algum tempo que o Secretariado para a Economia - que, segundo a constituição apostólica "..." - faz parte da Santa Sé.Praedicar Evangelium"O Vaticano, que "exerce o controlo e a supervisão em matéria administrativa, económica e financeira sobre as instituições curiais, os gabinetes e as instituições relacionadas com a Santa Sé" - abriu uma plataforma no seu site dedicada a quem quer "trabalhar no Vaticano".

"Junte-se à comunidade de profissionais que, todos os dias, apoiam com o seu trabalho as actividades e a missão do Santo Padre", lê-se no prefácio, que inclui uma explicação do que significa trabalhar para a Santa Sé.

No fundo, trata-se de todo o grupo de pessoas que assistem o Papa "no seu ministério de Pastor da Igreja universal", e que, mesmo nas suas diferentes tarefas e profissões, "participam verdadeiramente na atividade única e incessante da Santa Sé", ou seja, a "solicitude por todas as Igrejas".

Como candidatar-se

Qualquer pessoa que queira pôr as suas competências ao serviço do Papa e, por extensão, da Igreja universal, pode agora fazê-lo através da plataforma em linha criada pelo SPE, que publica atempadamente a lista dos lugares vagos, especificando as informações curriculares exigidas, bem como as competências, a experiência e as preferências.

Simultaneamente, é também possível enviar uma candidatura espontânea, mas sempre através do procedimento em linha e depois de criar a sua própria conta de utilizador. O Ministério da Economia garante então que os dados introduzidos não serão divulgados a terceiros e permanecerão na sua base de dados durante um período máximo de dois anos, antes de serem automaticamente apagados.

Lugares vagos

As vagas actuais incluem, por exemplo, um gestor de riscos que trabalhe no sector financeiro e imobiliário, para avaliar, por exemplo, riscos de mercado, riscos de liquidez, cenários económicos, etc. É necessário ter pelo menos 5 anos de experiência em empresas financeiras. O contrato é permanente e a tempo inteiro. No mesmo sector, há também vagas para um auditor júnior, um auditor sénior e um responsável pela conformidade.

Outras vagas destinam-se a técnicos especializados nas áreas de térmica, canalização, tratamento de ar, ensaios, etc., com formação em engenharia mecânica, eletrónica ou de construção. Mais uma vez, o contrato é por tempo indeterminado e a tempo inteiro, com disponibilidade para trabalho de emergência e por turnos.

São também necessários um Técnico de Radiodifusão-Televisão (contrato renovável de um ano), um Operador Audiovisual especializado em reforço de som (permanente e a tempo inteiro), um Responsável de Compras e um redator de língua romena num órgão de comunicação social do Vaticano.

Cada candidatura exige, obviamente, da parte do futuro trabalhador, a adesão aos princípios da doutrina da Igreja, dada "a natureza pastoral e eclesial do serviço".

O portal para a apresentação de candidaturas está disponível em este endereço.

O autorGiovanni Tridente

Cultura

Gasol, Verástegui, inovação e valores educativos, premiados pelo CEU

Pau Gasol, o ator e produtor Eduardo Verástegui, as irmãs Marian e Isabel Rojas Estapé (psiquiatria e psicologia), a inovação e a colaboração educativa do grupo Vithas e da Guardia Civil, ou antigos alunos como Juan José Cano (KPMG), foram alguns dos vencedores da 27ª edição dos Prémios CEU Ángel Herrera.

Francisco Otamendi-22 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Estes prémios celebraram a edição deste ano com a entrega de prémios a diferentes personalidades, instituições e empresas. O Presidente da Câmara Municipal de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, presidiu à cerimónia, na qual expressou "o papel fundamental que o CEU tem desempenhado como instituição educativa ao longo de 90 anos". 

O Presidente da Fundação CEU de San Pablo, Alfonso Bullón de MendozaO Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, destacou "o excelente trabalho de todos os galardoados pelos seus esforços para melhorar a sociedade e pela sua contribuição para o bem comum" e o facto de estes prémios constituírem "uma grande conquista". prémios recordar a figura de Ángel Herrera Oria, primeiro presidente da Associação Católica de Propagandistas. 

Ángel Herrera Oria, mais tarde bispo e cardeal, foi ativo durante anos em muitos campos, na educação, nos meios de comunicação social, dirigindo El Debate durante 22 anos, e promoveu importantes iniciativas sociais, disse Alfonso Bullón de Mendoza no final do evento, que teve lugar num hotel de Madrid na presença do núncio, Monsenhor Bernardito Auza. 

Por isso, ao atribuir estes prémios, "quisemos ter em conta estas áreas": a educação, com empresas e instituições envolvidas na inovação educativa; a colaboração universidade-empresa, jornalistas que trabalham na educação; os meios de comunicação social e a difusão da cultura católica; pessoas envolvidas nas redes sociais e na Doutrina Social da Igreja, e "pessoas empenhadas como o ator e produtor Eduardo Verástegui", que atravessou o Atlântico. 

E também "premiamos os nossos antigos alunos, recém-licenciados (Alejandro Escario), ou consolidados, como o presidente da KPMG (Juan José Cano), que recebeu o seu prémio das mãos do presidente da Telefónica, José María Alvarez-Pallete. "Esperamos que estes valores incutidos estejam a ser transmitidos", acrescentou.

Ajuda às famílias e crianças exploradas

Pau Gasol, que entrou na cerimónia via streaming, e cujo prémio foi recebido pelo seu pai, Agustí Gasol, das mãos do antigo selecionador nacional Vicente del Bosque, foi premiado na categoria "Ética e Valores" pela "sua vontade de ajudar crianças e famílias em todo o mundo, que inspiraram as gerações mais novas com a sua educação, humildade e liderança", destacou o júri. 

Além disso, foi reconhecida pelo seu compromisso social para com as crianças, promovendo valores e hábitos que apoiam a saúde e o bem-estar das crianças. Na mesma categoria, o prémio foi atribuído ex æquo ao produtor mexicano Eduardo Verástegui pela "sua defesa inabalável da família, da vida e da dignidade humana, através de produções cinematográficas que sensibilizam e abordam questões sociais", como a exploração de pessoas.

Verástegui sublinhou a importância de proteger os menores e as pessoas que não têm capacidade para se defenderem e referiu-se ao seu filme Som da liberdade, filme de denúncia do tráfico e o abuso sexual de crianças. "A liberdade não é fazer o que se quer, mas sim fazer o que está certo", disse, referindo-se ao enorme movimento contra a exploração infantil que o seu filme gerou.

Importância de uma ação de sensibilização positiva

Houve também espaço para sublinhar a importância de destacar exemplos positivos na divulgação de conteúdos baseados em conhecimentos especializados.

A Guardia Civil foi distinguida na categoria "Inovação educativa no sector tecnológico" pelo seu excelente trabalho no campo da cibersegurança. Este prémio reconhece o empenho da instituição em promover a cultura digital e a proteção dos cidadãos, especialmente através das redes sociais, demonstrando o seu esforço na divulgação da cibersegurança. 

Marian Rojas-Estapé, psiquiatra, e a sua irmã Isabel Rojas-Estapé, psicóloga clínica e jornalista, filhas do psiquiatra Enrique Rojasforam reconhecidos pelo seu empenho na transmissão de valores fundamentais à sociedade, centrando-se em questões cruciais como a família, o casamento e a prevenção das doenças mentais através dos meios de comunicação social. 

Trabalho das empresas e dos empresários

Para além de outros, o grupo Vithas recebeu o seu prémio em reconhecimento da sua excelente colaboração empresarial com o sector da educação. O prémio destaca "a abordagem exemplar do grupo hospitalar em matéria de cuidados de saúde centrados no doente, bem como o empenho dos seus profissionais numa medicina eficaz, eficiente e efectiva, caracterizada pela sua abordagem carinhosa". 

Alejandro Escario foi galardoado com o prémio CEU Ángel Herrera na categoria "Junior Alumni" pelo seu empenho em colocar o seu talento ao serviço da sociedade. O seu contributo notável reside na conceção de uma incubadora de baixo custo, que permitiu preservar a vida de numerosos bebés prematuros em países em desenvolvimento, além de servir de fonte de inspiração para a sociedade.

Cultura católica e jornalismo educativo

A Hakuna foi distinguida pelo seu contributo excecional para a "Difusão da cultura católica". O reconhecimento deve-se ao "seu trabalho em proporcionar aos jovens diversos espaços onde possam glorificar a Deus e expressar a sua fé através do canto e da oração". Além disso, o prémio, recolhido por José Pedro Manglano e pelos jovens do movimento, destaca, na opinião do júri, o trabalho do grupo na "perspetiva dos jovens, promovendo a paz, a unidade e a fraternidade entre os povos e as nações do mundo".

O jornalismo e a comunicação também tiveram os seus vencedores, como já foi referido. O vencedor foi José Ignacio Martínez Rodríguez, colaborador de Vida Nueva, por uma reportagem sobre a educação católica em Moçambique. E o prémio para o melhor trabalho jornalístico sobre a Doutrina Social da Igreja foi atribuído conjuntamente à revista Mundo Negro e ao jornalista Luis Ventoso, de El Debate. 

A Fundação San Patricio também foi premiada nesta edição na categoria "Solidariedade, Cooperação para o Desenvolvimento e Empreendedorismo Social" pelo seu projeto Sementes para o Futuro.

O autorFrancisco Otamendi

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Estados Unidos da América

A solidariedade radical é a chave para a defesa da vida

O Comité para as Actividades Pró-Vida da Conferência Episcopal dos Estados Unidos emitiu uma declaração por ocasião do aniversário de Roe v. Wade. A declaração sublinha que a solidariedade radical e a compaixão são fundamentais para a defesa da vida.

Paloma López Campos-22 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O dia 22 de janeiro é o aniversário do veredito. Roe v. Wadeque constituiu um marco na história do aborto nos Estados Unidos. Em 1973, o aborto foi declarado um direito constitucional. No entanto, passados quase cinquenta anos, o Supremo Tribunal voltou atrás na sua decisão e anulou Roe v. Wade em 24 de junho de 2022, avançando assim na defesa da vida.

Desde janeiro de 1973, o dia 22 é conhecido como o dia de oração pela proteção legal dos nascituros. Por esta razão, o secretário do comité para as actividades pró-vida da Conferência Episcopal dos Estados Unidos publicou um declaração recordando aos fiéis que a penitência e a oração cristãs continuam a ser essenciais para a defesa da vida.

Na declaração, o Bispo Michael F. Burbidge referiu que "a vida humana continua gravemente ameaçada pela legalização do aborto na maioria dos Estados e continua a ser agressivamente promovida a nível federal".

Através da comissão, a conferência episcopal dos EUA afirmou que continua "empenhada em trabalhar para a proteção legal de toda a vida humana, desde a conceção até à morte natural". No entanto, a declaração refere que a responsabilidade cabe a todos os católicos.

A vida é da responsabilidade de todos

A declaração de D. Burbidge apelava aos fiéis para que, "seja qual for o seu papel, tomem medidas para proteger a vida humana". Encorajou-os a permanecerem nesta certeza, apesar de "a verdade não ser muitas vezes fácil, mas é necessária".

Uma forma especial de cuidar da vida é a "solidariedade radical" com as mulheres grávidas. O comité pró-vida quis deixar claro que a vida não pode ser apoiada apenas em teoria, mas que a realidade exige que as comunidades acompanhem as mães e os seus filhos ao longo do caminho.

Ao mesmo tempo, a compaixão por aqueles que já se submeteram ao aborto é vital. A declaração sublinha que "a Igreja oferece o perdão de Cristo, a cura e a esperança" a todos aqueles que tomaram a decisão de abortar.

Por fim, a Conferência Episcopal exprimiu o seu desejo "de que todas as pessoas de fé e de boa vontade proclamem que a vida humana é um dom precioso de Deus e que cada pessoa que recebe este dom tem responsabilidades para com Deus, para consigo própria e para com os outros".

Educação

Com Tolkien, os jovens formaram-se para a missão

O Senhor dos Anéis, de J. R. R. R. Tolkien, contém muitas lições úteis para as nossas vidas e pode ser aplicado à educação dos nossos filhos e alunos.

Julio Iñiguez Estremiana-22 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 8 acta

No final do Conselho de Elrond, a discussão sobre quem ficaria encarregado da Missão criou um ruidoso alvoroço. Frodo tinha assistido e aprendido muitas coisas sobre o Anel de Poder que transportava. Finalmente, fazendo um esforço para se fazer ouvir, disse: "Eu levarei o Anel... embora não saiba como.

Em meio ao silêncio de todos os presentes, Elrond falou: "Se eu entendi tudo o que ouvi, acho que essa tarefa cabe a você, Frodo, e se você não souber como fazê-la, nenhum outro saberá.

Acabei recentemente de ler de novo O Senhor dos Anéisesse livro magistral de J.R.R. Tolkien, é um dos dez livros mais vendidos da história. É ficção, sim, mas contém muitas lições úteis para as nossas vidas e aplicáveis à educação dos nossos filhos e alunos.

É por isso que hoje decidi inspirar-me nesta obra maravilhosa que é a continuação de O Hobbitmas com uma construção geográfica e moral muito maior. O próprio Tolkien disse: "O Senhor dos Anéis está escrito no sangue da minha vida". E é justamente por essa grande dedicação que Tolkien conseguiu criar uma história que quanto mais se lê, mais se aprende com ela. Vamos ver algumas dessas lições.

Todos nós temos uma missão a cumprir

Não contámos com o nosso nascimento, não escolhemos as qualidades, poucas ou muitas, que nos adornam, não escolhemos ser quem somos: tudo isto e muito mais recebemos de Deus e dos nossos pais. Quando Deus pensa em cada um de nós para nos dar a vida, pensa também na missão que devemos cumprir. O que nós escolhemos, por outro lado, é cumprir ou não a missão que nos foi confiada, começando por descobri-la. Bilbo não escolheu que Gandalf batesse à porta do seu coelho-caverna, mas disse sim a cumprir a missão que lhe foi confiada. Tal como o seu sobrinho, como veremos mais adiante. 

Frodo tinha participado no Conselho de Elrond, onde aprendeu muitas coisas sobre o Anel do Poder que transportava. Tornara-se claro para ele que destruí-lo era uma necessidade absoluta para a paz do mundo livre. E embora sentisse "um desejo irresistível de descansar e ficar e viver em Rivendell com Bilbo", falou finalmente com um esforço, e ouviu as suas próprias palavras com surpresa, como se outra pessoa estivesse a usar a sua pequena voz: "Levarei o Anel [para Mordor]", disse ele, "embora não saiba como".

Em meio ao silêncio de todo o Conselho, Elrond falou: "Se eu entendi tudo o que ouvi, acredito que esta tarefa cabe a você, Frodo, e se você não souber como fazê-la, nenhum outro saberá.

Foi assim que Frodo ganhou o título de Portador do Anel, protagonista da guerra contra Sauron, Senhor das Trevas de Mordor, o "Grande Perigo" que ameaçava escravizar todos os Povos da Terra Média: uma luta de vida ou morte para preservar a liberdade de Elfos, Homens, Anões e Hobbits.

Do mesmo modo, cada um de nós pode fazer da sua vida uma aventura, escolhendo cumprir a Missão para a qual foi enviado: um pequeno fragmento do projeto de Deus para a humanidade; muito pequeno, sim, mas também muito importante, porque se não o fizer, ninguém o fará.

Outra lição importante que podemos aprender com Tolkien: os pequeninos - coelhos -, não estão deslocados ao lado dos grandes heróis ou sábios - Gandalf, Elrond, Aragorn... - Mesmo que alguns de nós nos consideremos insignificantes para enfrentar os problemas do nosso tempo, todos temos um papel a desempenhar na sua resolução.

O mesmo Deus que criou as montanhas, os vales, os planetas, as galáxias..., é aquele que nos dá a vida, cria uma alma imortal irrepetível e a infunde no corpo que também recebemos dele, através da mediação dos nossos pais. Ele viu-nos - um a um - antes da constituição do mundo e disse: "Sim, o mundo também precisa de ti".

Portanto, a grandeza do homem consiste em conhecer a vontade de Deus e cumpri-la, sendo colaborador de Deus na obra da Criação e da Redenção. Tolkien nos lembra que cada pessoa tem uma Missão, um chamado para participar de algo grandioso.

O valor da amizade

-Mas não o mandareis sozinho, Senhor," gritou Sam, que não pôde mais se conter, e saltou, mal deixando Elrond terminar.

-Não, de facto! -disse Elrond, virando-se para ele com um sorriso. Você irá com ele, pelo menos. Não parece fácil separar-se de Frodo, embora ele tenha sido convocado para um conselho secreto, e você não.

Sam, agora o fiel escudeiro do Portador do Anel, sentou-se, ruborizado e murmurando.

-Estamos metidos numa bela alhada, Sr. Frodo! -disse ele, abanando a cabeça.

Nos dias que se seguiram, foi decidido que a Missão deveria ter nove membros: Gandalf, Legolas, Gimli, Trancos e Boromir foram adicionados. Elrond fez a contagem e viu que ainda faltavam dois.

-Vou pensar nisso, talvez encontre alguém entre as pessoas da casa que possa enviar. 

-Mas então não haverá lugar para nós! - exclamou então o Pippin, desanimado. Nós não queremos ficar. Queremos ir com Frodo.

-Isso é porque não compreendeis, e não podeis imaginar o que os espera," disse Elrond.

-Nem Frodo," disse Gandalf, inesperadamente apoiando Pippin, "Nenhum de nós pode ver isso claramente. É verdade que se esses hobbits entendessem o perigo, não se atreveriam a ir. Mas eles ainda desejariam ir, ou se atreveriam a ir, e se sentiriam envergonhados e infelizes. Eu penso, Elrond, que neste assunto será melhor confiar na amizade destes hobbits do que na nossa sabedoria.

O Senhor dos Anéis

E foi assim que Elrond finalmente decidiu completar com Merry e Pippin os nove que deixaram Rivendell para formar "A Companhia", também conhecida como "A Irmandade do Anel".

Ninguém se salva sozinho, é algo que o autor quer deixar claro. Podemos ver nesta história como a amizade entre as personagens - a de Sam e Frodo, por exemplo - longe de enfraquecer, se torna cada vez mais forte com as dificuldades.

Ter amigos é uma bênção, uma dádiva, uma riqueza para a qual nenhum homem é tão pobre que não possa aspirar. Recordemos: "Enviou-os de dois em dois" (Lc 10,1). Em tempos de conflito, é a amizade que salva o mundo, motivada por uma força antiga, mística e muitas vezes esquecida: o amor.

Um amigo é um tesouro! -Segundo o ditado popular, só nós humanos temos; por isso devemos "cuidar" dos nossos amigos, e para isso é importante saber que os laços de amizade se baseiam no afeto comum e na partilha dos nossos valores, crescendo cada um de nós na medida em que se entrega aos outros. A amizade deve ser leal e sincera, e exige uma troca de favores, de serviços nobres e lícitos, mesmo que exija renúncias pessoais e dedicação de tempo, que escasseia, mas que parece aumentar na medida em que é dedicado aos outros.

Problemas, dificuldades e tentações. Força e esperança

Não é preciso muito tempo para que surjam problemas na Irmandade do Anel: pouco depois de deixar Rivendell, quando Boromir sucumbe à tentação do Anel e tenta arrebatá-lo a Frodo, este vê-se obrigado a partir e a ir sozinho para Mordor para cumprir a sua missão. Só Sam tomará conta da situação e conseguirá juntar-se ao seu mestre e amigo in extremis. Boromir depressa se arrepende da sua "queda" e morre com honra defendendo a causa.

Nesta história, a tentação é possuir o Um Anel de Sauron, de bela aparência, que confere poderes extraordinários e sussurra aos corações dos que dele se aproximam para o reclamarem e usarem, mas que na realidade procura escravizá-los para os acorrentar ao poder de Sauron, Senhor das Trevas de Mordor. 

Esta foi a experiência de Sam quando, devido a uma grave crise em Mordor, perto da Montanha da Perdição, foi obrigado a assumir a responsabilidade de transportar o Anel.

À medida que se aproximava das grandes fornalhas onde era forjado e moldado, nos abismos do tempo, o poder do Anel aumentava e tornava-se cada vez mais maligno, indomável, exceto, talvez, para quem tivesse uma vontade muito forte. E embora não o usasse no dedo, mas pendurado ao pescoço numa corrente, o próprio Sam sentia-se como se estivesse engrandecido, como se estivesse envolvido numa enorme e distorcida sombra de si próprio.

Ele sabia que, de agora em diante, só tinha uma escolha: resistir a usar o Anel, por mais que isso o atormentasse; ou reclamá-lo, e desafiar o Poder que estava na fortaleza escura do outro lado do vale das sombras. 

O Anel tentou-o, enfraquecendo a sua vontade e obscurecendo a sua razão; fantasias selvagens invadiram a sua mente; e ele viu Samwise, o Forte, o Herói da Era, avançando com uma espada flamejante através da terra escura, e os exércitos que acorreram à sua chamada quando ele se apressou a derrubar o poder de Barad-dûr.

Então todas as nuvens se dissipariam, e o sol branco voltaria a brilhar, e ao comando de Sam o vale de Gorgoroth se transformaria num jardim de muitas flores, onde as árvores dariam frutos. Ele só tinha de pôr o Anel no dedo e reclamá-lo, e tudo isso poderia tornar-se realidade.

Naquela hora de provação, foi sobretudo o seu amor por Frodo que o ajudou a manter-se firme. Além disso, tinha o sentido indomável dos hobbits no seu íntimo: sabia que não tinha sido feito para carregar tal fardo, mesmo que aquelas visões de grandeza não fossem apenas um engodo.

Além disso, todas estas fantasias não passam de uma armadilha", disse para si próprio. Ele descobrir-me-ia e cairia sobre mim antes que eu pudesse gritar. Se eu pusesse o Anel agora, ele encontrar-me-ia, e muito depressa, em Mordor.

Depois de ter ultrapassado esta crise, Sam devolve o Anel a Frodo; mas o caminho que têm de percorrer juntos continua cheio de dificuldades, perigos e surpresas. E é aí que Gollum reaparece, oferecendo-se para os guiar até à Montanha da Perdição, mas o seu desejo mais profundo e intenso é recuperar o Anel...

Aos hobbits pareceu-lhes de repente que a sua longa viagem para norte tinha sido inútil. Na planície, que se estendia para a direita, envolta em névoa e fumaça, não se viam acampamentos ou tropas marchando; mas toda a região estava sob o olhar atento dos fortes de Carach Angren.

-Agora não importa se desistimos ou tentamos voltar atrás. A comida não nos vai chegar, temos de nos despachar! -disse Sam.

Muito bem, Sam," disse Frodo, "guia-me! Enquanto te resta uma esperança. Eu não tenho mais nenhuma. Mas não posso apressar-me, Sam. Mal posso rastejar atrás de ti.

-Antes de se arrastar, precisa de dormir e de comer, Sr. Frodo," disse Sam, "vá, aproveite o que puder.

Deu a Frodo água e uma bolacha de pão da estrada e, tirando a capa, improvisou uma almofada para a cabeça do seu Mestre.

O Senhor dos Anéis

Outro ensinamento para crianças e adolescentes em O Senhor dos Anéis: a firmeza, juntamente com a amizadeO companheirismo e a solidariedade de uns para com os outros é o que torna possível a realização da Missão. Aprende-se que o trabalho em conjunto ajuda a ultrapassar os obstáculos e as dificuldades da vida. E também que o facto de sermos pequenos não nos deve impedir de avançar em direção aos nossos objectivos: com a confiança necessária e a melhor ajuda, podemos alcançar tudo o que nos propomos fazer.

O prémio

Prefiro não antecipar acontecimentos que possam fazer descarrilar surpresas e emoções na leitura do final da história; por isso, para falar do prémio, vou relatar uma breve conversa entre Gandalf e Pippin em Minas Tirith quando parecia que tudo estava a chegar ao fim - terceiro filme: O Regresso do Rei.

-Nunca pensei neste final", diz Pippin.

-O fim? -Não! A viagem não termina aqui. A morte é apenas mais um caminho que todos percorremos. O véu cinzento deste mundo é levantado e tudo se torna cristal prateado. É então que se vê...

-O quê? Gandalf, como é que ele é? -pergunta Pippin.

-A costa branca e, para além dela, a imensa paisagem verde estendia-se perante uma aurora fugaz.

-Bem," diz Pippin, "isso não é mau!

-Não, não, claro que não! - conclui Gandalf.

O Regresso do Rei

Conclusões

A cada um de nós, juntamente com o dom da vida, Deus, na sua Providência amorosa, atribui-nos uma tarefa para que possamos colaborar com Ele no aperfeiçoamento da sua Criação e na realização da Redenção, ou seja, confia-nos uma missão. Não escolhemos esta missão, ela é-nos dada, mas somos livres de decidir se a cumprimos ou não.

As raparigas e os rapazes devem ser educados (formados), desde a infância e a adolescência, para descobrirem a sua vocação, preferência profissional, opção de vida..., para que sejam verdadeiramente livres de dizer sim à missão que são chamados a desempenhar; e para ultrapassarem os obstáculos que os impedem de alcançar o seu objetivo.

Ninguém deve ser arrogante ao ponto de pretender cumprir a sua missão sem a ajuda de outros - nem lhe será pedido, nem o poderá fazer. Para levar a cabo a missão, será essencial contar com amigos, sendo a amizade com Jesus a mais segura. E para não desistir quando surgem as dificuldades, é preciso também desenvolver outras virtudes, como a tenacidade, a capacidade de sacrifício, a lealdade, a solidariedade, o otimismo, a fidelidade, etc. E, sem dúvida, temos a ajuda mais importante, a ajuda de Deus.

Quanto ao Prémio, as palavras de Bento XVI na Catedral de Santa Maria, em Sydney, a 9 de julho de 2008, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude que aí se realizou:

"A fé ensina-nos que somos criaturas de Deus, feitas à sua imagem e semelhança, dotadas de uma dignidade inviolável e chamadas ao destino sublime que nos espera no céu".

Leitura recomendada: "Exigir para educar". Autor: Eusebio Ferrer, Coleção: "Hacer familia".

O autorJulio Iñiguez Estremiana

Físico. Professor de Matemática, Física e Religião ao nível do Bacharelato.

Vaticano

O Papa lança o Ano de Oração antes do Jubileu de 2025

Hoje, no Angelus deste Domingo da Palavra de Deus, o Santo Padre lançou um Ano dedicado à Oração, para descobrir a necessidade da oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo, em preparação para o Ano Santo da Igreja universal, que será celebrado em 2025.

Francisco Otamendi-21 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O desejo é intensificar a nossa oração para nos prepararmos para viver bem este acontecimento de graça, para experimentar a força da esperança de Deus, disse o Papa, referindo-se ao Jubileu 2025que tem como lema "Peregrinos da Esperança.

Por isso, "iniciamos hoje um Ano dedicado à Oração, para descobrir a necessidade da oração na vida pessoal, na vida da Igreja, no mundo". Seremos ajudados pelo Dicastério para a Evangelização, acrescentou o Santo Padre no Angelus da janela do Palácio Apostólico, na Praça de São Pedro, perante cerca de vinte mil fiéis, segundo o Agência do Vaticano.

Precisamente o Prefeito deste Dicastério, Monsenhor Rino Fisiquellafoi o principal concelebrante, juntamente com o Cardeal Konrad KrajewskiO Papa, que é o Esmoler do Papa, na Missa celebrada esta manhã por ocasião do Domingo da Palavra de Deus. Além disso, o Papa conferiu a leigos e leigas de vários países do mundo os ministérios de Leitor e Catequista. Foram nove pessoas da Jamaica e do Brasil como leitores, e da Coreia, Chade, Trinidad e Tobago, Brasil, Bolívia e Alemanha como catequistas.

Unidade cristã e paz para as crianças 

No âmbito deste ano de oração, o Pontífice rezou esta semana pela unidade dos cristãos. Pediu também pela paz na Ucrânia, em Israel e na Palestina, e noutras partes do mundo.

"Os que sofrem são sempre os mais fracos, penso nos mais pequenos, em tantas crianças feridas e mortas, abandonadas, sem afeto, sem sonhos, sem futuro, sintamo-nos responsáveis por rezar para construir a paz para eles", encorajou os fiéis.

O Papa expressou a sua dor perante a notícia do rapto no Haiti de um grupo de pessoas, entre as quais seis freiras. "Rezo com tristeza pela harmonia social no país e pelo fim da violência que causa tanto sofrimento a esta querida população".

Pela paz no Equador

Francisco saudou todos os romanos e peregrinos de Itália e de outros países presentes na Praça de S. Pedro, especialmente os da Polónia, da Albânia, da Colômbia, os estudantes do Instituto Pedro Mercedes de Cuenca, os universitários americanos de Florença, os jovens do Panamá, os sacerdotes, os migrantes do Equador, a quem assegurou as suas orações pela paz no seu país.

"Pecadores, mas o Senhor ainda acredita em nós".

Tal como aconteceu no homilia Na Missa dominical da Palavra de Deus, o Santo Padre reflectiu sobre o apelo de Jesus aos primeiros discípulos antes de rezar o Angelus. Disse que o Senhor gosta de nos envolver na sua obra de salvação, quer que sejamos activos com Ele, responsáveis e protagonistas.

"Um cristão que não é ativo, que não é responsável no trabalho de anunciar o Senhor e que não é protagonista da sua fé, não é cristão", sublinhou o Pontífice. "Isto é importante, o Senhor escolheu-nos para sermos cristãos. Somos pecadores, mas o Senhor continua a acreditar em nós. Isto é maravilhoso", continuou.

"Anunciar o Evangelho não é tempo perdido".

"Anunciar o Evangelho não é tempo perdido", sublinhou o Pontífice. "É ser mais feliz ajudando os outros; é ajudar os outros a serem livres; é tornar-se melhor ajudando os outros a serem melhores".

Por fim, como de costume, o Papa convidou a um exame pessoal, com algumas perguntas. "Paro de vez em quando para recordar a alegria que cresceu em mim e à minha volta quando aceitei o chamamento para conhecer e testemunhar Jesus? E quando rezo, agradeço ao Senhor por me ter chamado a fazer os outros felizes? E finalmente: quero fazer com que alguém como eu, com o meu testemunho e a minha alegria, goste de como é belo amar Jesus?"

O autorFrancisco Otamendi

Vaticano

A Palavra de Deus desperta o apelo de Jesus

No Domingo da Palavra de Deus, o Papa Francisco disse, comentando a passagem do chamamento de Jesus aos primeiros discípulos, que a Palavra de Deus dá origem à missão que nos torna suas testemunhas. Um chamamento que nos convida a fazermo-nos ao mar com Ele pelos outros, deixando para trás barcos e redes. Também nos encorajou a levar o Evangelho e a lê-lo diariamente.

Francisco Otamendi-21 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Esta manhã, o Santo Padre reflectiu sobre a homilia da Santa Missa do Domingo da Palavra de DeusOs primeiros discípulos, Simão e seu irmão André, que eram pescadores, Tiago e seu irmão João, quatro dos doze primeiros apóstolos, foram chamados por Jesus no Evangelho.

A Palavra de Deus revela a força do Espírito Santo, como recordou o Papa neste 3º Domingo do Tempo Comum. "É uma força que nos atrai para Deus, como aconteceu com os jovens pescadores, que ficaram impressionados com as palavras de Jesus. É uma força que nos move em direção aos outros, como aconteceu com Jonas, quando se dirigiu aos que estavam longe do Senhor. A Palavra, portanto, atrai-nos para Deus e envia-nos para os outros"..

Deixaram as redes e seguiram-no

"Jesus disse-lhes: "Sigam-me [...]". Imediatamente eles deixaram as redes e seguiram-no" (Mc 1,17-18). O poder da palavra de Deus é grande, como vimos também na primeira leitura: "A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas uma segunda vez, nestes termos: "Vai imediatamente a Nínive [...] e anuncia-lhe [...]" Jonas partiu [...] segundo a palavra do Senhor" (Jon 3,1-3).

"Como aconteceu com os primeiros discípulos que, acolhendo as palavras de Jesus, deixaram as suas redes e começaram uma aventura maravilhosa, assim também nas margens da nossa vida, ao lado dos barcos das nossas famílias e das redes do nosso trabalho, a Palavra suscita o apelo de Jesus, que nos chama a fazermo-nos ao mar com Ele pelos outros. Sim, a Palavra inspira a missão, torna-nos mensageiros e testemunhas de Deus", encorajou o Pontífice na homilia da Missa deste Domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Santo Padre Francisco em setembro de 2019.

A Palavra de Deus, decisiva para os santos

Se olharmos "para os amigos de Deus, para as testemunhas do Evangelho na história, vemos que para todos eles a Palavra foi decisiva". O Papa citou aqui o primeiro monge, Santo António, que, impressionado por uma passagem do Evangelho durante a Missa, deixou tudo pelo Senhor; pense-se em Santo Agostinho, cuja vida foi virada do avesso quando uma palavra divina lhe curou o coração; pense-se em Santa Teresa do Menino Jesus, que descobriu a sua vocação lendo as cartas de São Paulo".

"E penso no santo que me deu o nome, Francisco de Assis, que, depois de ter rezado, leu no Evangelho que Jesus envia os discípulos a pregar e depois exclamou: "É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que no meu coração anseio por pôr em prática", acrescentou.

"Já li pelo menos um dos quatro Evangelhos?"

Depois de meditar sobre o que os primeiros discípulos deixaram para trás - "o barco e as redes, ou seja, a vida que tinham levado até àquele dia" - o Papa recordou que "muitas vezes temos dificuldade em deixar as nossas seguranças, os nossos hábitos, porque ficamos presos neles como os peixes na rede".

Por fim, colocou algumas questões de reflexão, encorajando as pessoas a lerem o Evangelho todos os dias. "Que lugar reservo eu para a Palavra de Deus no sítio onde vivo? Haverá livros, jornais, televisões, telefones, mas onde está a Bíblia? No meu quarto, tenho o Evangelho ao alcance da mão e leio-o todos os dias para me orientar no caminho da vida? Muitas vezes aconselhei a levar sempre o Evangelho comigo, no bolso, na mala, no telemóvel.

"Se amo Cristo mais do que qualquer outra pessoa", continua, "como posso deixá-lo em casa e não levar a sua Palavra comigo? E uma última pergunta: já li pelo menos um dos quatro Evangelhos na íntegra? O Evangelho é o livro da vida, é simples e breve, e no entanto muitos crentes nunca o leram do princípio ao fim. Deixemo-nos conquistar pela beleza que a Palavra de Deus traz à nossa vida", concluiu o Papa.

Ministérios de leitor e catequista para 9 leigos

Durante a celebração eucarística na Basílica de São Pedro, perante cinco mil romanos e peregrinos de muitos países, o Papa conferiu a leigos e leigas de vários países do mundo os ministérios de Leitor y Catequista. Havia nove pessoas, na sua maioria mulheres, da Jamaica e do Brasil como leitores, e da Coreia (2), Chade (2), Trinidad e Tobago, Brasil, Bolívia e Alemanha (2), neste caso de Regensburg, como leitores. Catequistasque tenham recebido uma Bíblia e um crucifixo das mãos do Papa.

A celebração do Terceiro Domingo da Palavra de Deus de 2022, no Vaticano, contou com várias novidades, entre elas a instituição dos primeiros ministros da Catequese. Entre eles Rosa AbadRosa Abad, da arquidiocese de Madrid, licenciada, bibliotecária de profissão e catequista por vocação, explicou à Omnes: "O que o Senhor vos transmite não pode ser silenciado", disse. "Só posso dar graças a Deus, com letra maiúscula", disse Rosa Abad.

O autorFrancisco Otamendi

Mundo

Irmão Mateus, prior de Taizé: "O caminho para a unidade é lento".

O novo prior da comunidade ecuménica de Taizé falou ao Omnes sobre a unidade, a oração, a fraternidade e o diálogo, no âmbito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Federico Piana-21 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

"Um acontecimento a não perder nestes tempos em que as guerras e as divisões dominam o mundo". O pensamento do novo Prior de Taizé no Semana de Oração pela Unidade dos Cristãosque teve início em 18 de janeiro, pode ser resumida da seguinte forma. 

O irmão Matthew, anglicano, começou recentemente a dirigir a comunidade cristã monástica e ecuménica, fundada em 1940 na aldeia francesa de TaizéO título é: "O tema deste ano é providencial", explica à Omnes. Ama o Senhor teu Deus e ama o teu próximo como a ti mesmo".um versículo do Evangelho de Lucas. É um tema que nos convida a ir à essência da nossa fé cristã: amar a Deus e amar o próximo. No fundo, temos de ir à fonte que é Deus para encontrar a força para amar os outros, mesmo que sejam diferentes de nós".

Um passo de cada vez em direção à unidade

O amor entre cristãos de diferentes tradições torna-se, portanto, ainda mais importante, essencial, e não pode ser relegado para segundo plano. Deve crescer, explica o irmão Mateus, porque se "falamos de um Deus de amor, devemos sempre procurar a comunhão com outros cristãos, mesmo que sejam de denominações diferentes". 

O prior de Taizé não esconde, no entanto, as dificuldades no caminho da unidade. "Amar o nosso próximo", diz ele, "nem sempre é fácil. Todos nós sentimos o peso das feridas da história refletido na forma como olhamos para os outros. Por isso, temos de compreender que o caminho para a unidade é lento, não podemos conseguir tudo de uma vez. Temos de dar um passo de cada vez.

Comunidade de Taizé Foto: Tamino Petelinsek

A oração, um instrumento essencial

O raciocínio do Ir. Mateus vai mais longe. Ele toca nos limites da oração, que se torna um instrumento essencial sem o qual a unidade corre o risco de permanecer um mero sonho humano: "É importante fazer coisas para alcançar a unidade, mas quando rezamos por outra pessoa, algo dentro de nós se transforma porque deixamos entrar Deus, o Espírito Santo. 

E esta oração abre todas as portas. Como exemplo concreto, cita a comunidade de Taizé "onde se reza em comum três vezes por dia. E sem a oração não podemos procurar a unidade porque, caso contrário, contamos apenas com as nossas próprias forças sem acolher a graça que vem de Deus.

Olhares que unem

As diferentes tradições cristãs e as diferentes abordagens da Bíblia das diferentes confissões não devem ser motivo de receio, admite o prior. Pelo contrário", diz ele, "tornam este olhar sobre a Palavra de Deus mais completo. Ninguém pode compreender tudo". Outro elemento de unidade entre os cristãos, acrescenta, é "o serviço ao próximo". Por exemplo, perto de Paris, há um bairro muito pobre onde os cristãos de diferentes confissões trabalham em conjunto para ajudar os que vivem na rua e não têm nada. 

Os desafios para o futuro da unidade, Frére Matthew viu-os antecipados em "Juntos"O vigreja ecuménica mundial realizada na presença do Papa Francisco em setembro do ano passado. "Nessa ocasião", conclui o prior, "vimos a participação de várias igrejas protestantes que não fazem parte das grandes organizações cristãs. Este é o desafio: encontrar uma maneira de caminhar juntos. Todas elas.

O autorFederico Piana

 Jornalista. Trabalha para a Rádio Vaticano e colabora com L'Osservatore Romano.

Recursos

As asas do amor

O enamoramento entre um homem e uma mulher projecta cada um para o outro como tal, é uma saída do eu ou do egoísmo para viver na maravilha do amor pelo outro. O amor dá asas à nossa vida.

Jesús Ortiz López -21 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O Papa Francisco dedicou uma recente catequese sobre o vício da luxúriaO Papa continuou o seu projeto de ensinar o mal dos vícios capitais, como já tinha ensinado anteriormente numa outra catequese sobre a gula. Trata-se de comportamentos que prejudicam a condição humana e mantêm a pessoa num nível baixo por causa da sensualidade ou da vida segundo a carne, como dizia S. Paulo, porque cegam o desenvolvimento do espírito.

O horizonte da castidade

O Papa sublinhou que, no cristianismo, o instinto sexual não é condenado e faz parte da condição humana ao serviço do amor e da vida. Na Bíblia, o Cântico dos Cânticos é um maravilhoso poema de amor entre dois noivos, que serve de guia para a entrega a Deus e ao próximo. No entanto, prosseguiu o Papa, esta bela dimensão da nossa humanidade não está isenta dos perigos dos pecados da carne e, por isso, a conquista da castidade exige um esforço, um exercício de fortaleza e de retidão na procura de amar a Deus sobre todas as coisas, sobre todos os afectos, não para os anular mas para os realizar.

Recordou que "A Bíblia e a Tradição cristã oferecem um lugar de honra e de respeito à dimensão sexual humana. Esta nunca é condenada quando conserva a beleza que Deus nela inscreveu, quando se abre ao cuidado dos outros, à vida e à entreajuda. Por isso, tenhamos sempre cuidado para que os nossos afectos e o nosso amor não sejam contaminados pelo desejo de possuir o outro".

Apetite voraz

Nesta ocasião, o Papa Francisco definiu a luxúria como "Um vício que ataca e distrai todos os nossos sentidos, o nosso corpo e a nossa psique. Este vício apresenta-se como um apetite voraz que nos leva a usar as pessoas, a predá-las e a roubá-las em busca de um prazer desenfreado". 

Quando se compreende a grandeza da dignidade da pessoa, compreende-se também o mal da impureza e do abuso da objectificação do outro, pois equivale a despojá-lo dessa dignidade, da sua intimidade, do seu valor e do seu atrativo como pessoa. É o que acontece na pornografia e na prostituição. São pecados contra a castidade não porque o amor é proibido, mas porque o impedem, ou seja, não é uma proibição da Igreja ou uma imposição de Deus contra a liberdade pessoal, mas o contrário, para que o homem e a mulher possam desenvolver-se no verdadeiro amor.

De acordo com os Evangelhos, a Igreja tem ensinado consistentemente que "o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais normais contradiz o seu objetivo, qualquer que seja o motivo que o motive". Assim, o prazer sexual é procurado aqui fora "da relação sexual exigida pela ordem moral; aquela relação que realiza o pleno significado do dom mútuo de si e da procriação humana no contexto do verdadeiro amor" (CDF, Decl. "Pessoa Humana" 9). (Catecismo, n. 2352). Trata-se, antes de mais, mas não só, dos pecados da masturbação e das relações extraconjugais, como o adultério e a fornicação.

Voltando às palavras do Papa, ele ensina que  "A pessoa luxuriosa só procura atalhos: não compreende que o caminho para o amor deve ser percorrido lentamente, e esta paciência, longe de ser sinónimo de aborrecimento, permite-nos fazer felizes as nossas relações amorosas".Este é o caminho de progresso do namoro para aperfeiçoar a relação amorosa e cultivar pouco a pouco a fidelidade. É precisamente o namoro que procura esta síntese entre razão, impulso e sentimento que os ajuda a levar uma vida sábia como pessoas chamadas à santidade, porque as virtudes em oposição aos vícios fornecem um amplo quadro de referência; não se trata de ser super-homens ou super-mulheres, mas filhos de Deus chamados a realizar a boa obra de Deus Pai e Criador, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, homem perfeito e Deus perfeito. 

Acrescenta ainda que "De todos os prazeres do homem, a sexualidade tem uma voz poderosa. Envolve todos os sentidos; habita o corpo e a psique; se não for pacientemente disciplinada, se não for inscrita numa relação e numa história em que dois indivíduos a transformam numa dança amorosa, torna-se uma cadeia que priva o homem da liberdade. O prazer sexual é minado pela pornografia: uma satisfação sem relação que pode gerar formas de dependência".

A castidade é possível e variada

Há várias maneiras de viver a virtude da castidade, de acordo com o estado de cada pessoa ao longo do seu desenvolvimento na vida. Aprende-se na infância, descobre-se na adolescência, desfruta-se no amor e prolonga-se nos filhos como fruto natural do matrimónio aberto à vida.

Esta é a maneira habitual de crescer nas virtudes da caridade e de formar uma família como ambiente natural para acolher o amor dos esposos, dos irmãos, dos avós e de outros parentes.

Também outros são chamados a viver a castidade plena quando respondem ao apelo do amor de Deus, com um coração indiviso e ao serviço do próximo, como fazem os sacerdotes e os religiosos, e também no celibato apostólico.

No ambiente sensual e sexualizado de hoje, é difícil compreender o celibato como amor elevado a dom de Deus para uma missão de serviço aos outros através do apostolado, embora seja verdade que esse testemunho ajuda a compreender melhor a dignidade humana, o amor generoso e a vida espiritual.

Como é sabido, esta virtude da castidade faz parte da virtude cardeal da temperança, pela qual a pessoa domina os apetites integrando-os na maturidade pessoal, como ensina o Catecismo: "A castidade tem leis de crescimento; passa por graus marcados pela imperfeição e, muitas vezes, pelo pecado. "Mas o homem, chamado a viver responsavelmente o projeto sábio e amoroso de Deus, é um ser histórico que se constrói dia após dia com as suas numerosas e livres opções; por isso, conhece, ama e realiza o bem moral segundo as várias etapas do seu crescimento" (FC, 34). (n. 2343).

Relativamente à homossexualidade, ensina que "A homossexualidade refere-se a relações entre homens ou mulheres que sentem uma atração sexual exclusiva ou predominante por pessoas do mesmo sexo. Tem assumido muitas formas diferentes ao longo dos séculos e através das culturas. A sua origem psíquica permanece em grande parte inexplicada. Com base na Sagrada Escritura, que os apresenta como graves depravações (cf. Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1 Cor 6, 10; 1 Tm 1, 10), a Tradição sempre declarou que "os actos homossexuais são intrinsecamente desordenados" (CDF, Decl. "Pessoa Humana" 8). Eles são contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma verdadeira complementaridade afectiva e sexual. Não podem ser aprovados em nenhum caso" (n. 2357). 

No entanto, reconhece que: "Um número considerável de homens e mulheres tem tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação, objetivamente desordenada, constitui para a maioria deles uma verdadeira provação. Devem ser tratados com respeito, compaixão e sensibilidade. Qualquer sinal de discriminação injusta contra eles deve ser evitado. Estas pessoas são chamadas a cumprir a vontade de Deus na sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que possam encontrar devido à sua condição". (n. 2358).

Sempre bem-vindo

Com bom senso pastoral, o Catecismo recorda que sentir esta tendência é diferente de consentir nos actos especialmente contrários à castidade, e que estas pessoas devem, como todas as outras, tomar os meios para fugir das ocasiões de pecado, recorrer aos sacramentos, especialmente ao sacramento da penitência, e à oração confiada a Deus Pai, a Jesus Cristo e à Santíssima Virgem Maria. Estes são os meios que todos nós devemos utilizar como parte da luta ascética para superar as tendências egoístas ou objectificadoras em relação aos outros e para responder ao apelo de Deus ao amor em todas as fases da vida.

O próprio Jesus Cristo deu um exemplo de rejeição do pecado e de acolhimento do pecador, como fez com a mulher adúltera a quem deu a graça de uma firme conversão: "Não te condeno; vai e não peques mais". E ela tornou-se imediatamente uma apóstola entusiasta quando foi libertada dos seus pecados e descobriu o Messias Salvador na pessoa de Jesus de Nazaré.

Em suma, avançamos como uma Igreja missionária de portas abertas a todos, consciente de ser o sinal ou sacramento universal da salvação e o caminho querido por Deus para encontrar e desenvolver a vocação à santidade, que consiste fundamentalmente na união com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. E assim a vida cristã continua num processo contínuo de procura de Jesus Cristo, de encontro com Jesus Cristo e de amor a Jesus Cristo.

O autorJesús Ortiz López 

Cultura

Os "cantores infantis das estrelas", um costume muito difundido na Europa Central

Por altura da festa da Epifania, as crianças vestidas de Reis Magos levam uma bênção às casas e fazem uma recolha para apoiar o desenvolvimento das crianças necessitadas em todo o mundo. São os Crianças cantoras da Estrela o Sternsinger.

José M. García Pelegrín-20 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Nos últimos anos, temo-las visto em vários meios de comunicação social. Entre as tradições natalícias mais difundidas na Alemanha, bem como na Áustria e nas regiões germanófonas de Itália, conta-se a dos "Dreikönigssingen" (Cantores dos Reis Magos) ou "Sternsinger" (Cantores das Estrelas): por altura da festa da Epifania ou dos Três Reis Magos, crianças vestidas a preceito e com a Estrela de Belém vão de casa em casa levando a bênção, tradicionalmente escrita a giz branco na porta. A inscrição "Christus mansionem benedicat" ("Cristo abençoe esta casa") tem também a conotação de se referir às iniciais dos nomes dos reis em alemão: Caspar, Melchior e Balthasar.

Autocolante com a bênção 20*C+M+B+24 na porta de um apartamento ©José M. García Pelegrín

Segundo a tradição, a bênção é escrita de uma forma pré-estabelecida: "20*C+M+B+24"; o asterisco simboliza a estrela. Faz parte da tradição que, numa cerimónia de bênção, o bispo ou o pároco envie as crianças, uma vez que cada paróquia, para além do nível diocesano, envia os seus próprios "esternáculos". Ultimamente, os "esterninhos" levam a "bênção" preparada em adesivo. De seguida, a inscrição ou o cartão é incensado e os "Populares" cantam canções de Natal.

Origens da tradição

Esta tradição remonta a meados do século XVI: o registo mais antigo deste costume é um registo da Abadia de São Pedro em Salzburgo, de 1541. Deve ter-se difundido rapidamente: em Wasserburg am Inn, o costume é registado em 1550, em Laufen e Eggenburg em 1552, na abadia beneditina de Ettal em 1569 e em Burghausen em 1577. 

Desde meados do século XX, esta tradição tem sido associada a campanhas da Igreja Católica para angariar fundos para projectos de ajuda ao desenvolvimento de crianças necessitadas em todo o mundo. Na Alemanha, desde 1958, as campanhas são coordenadas pela organização missionária infantil "Die Sternsinger", com sede em Aachen, juntamente com a Associação da Juventude Católica Alemã (BDKJ).

Todos os anos, cerca de 300.000 crianças na Alemanha participam e, em 2023, recolheram exatamente 45.454.900,71 euros. Desde a sua criação em 1958, estima-se que tenham sido recolhidos 396 milhões de euros, com os quais foram financiados cerca de 40.000 projectos.

Com o Presidente da República Federal da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier e a sua esposa Elke Büdenbender ©Verena Roth / Kindermissionswerk

Um objetivo por ano

A fim de familiarizar os participantes nestas campanhas com as condições de vida das crianças carenciadas, a campanha da Epifania centra-se todos os anos num tema diferente e num país diferente.

O slogan da campanha de 2024 é: "Juntos pela nossa Terra, na Amazónia e em todo o mundo". No entanto, os donativos não se destinam apenas a esta região, mas a 1.179 projectos para crianças em todo o mundo, abrangendo mais de 90 países, da América Latina à Oceânia, da Europa Oriental ao Médio Oriente e à Ásia.

Tradicionalmente, os "Sternsingers" são recebidos pelo Presidente da República Federal, pelo Chanceler, por outros membros do Governo Federal nos seus ministérios e por alguns Ministros-Presidentes dos Estados Federais. Länder e pelos presidentes de câmara. 

Os Três Reis Magos

O número três dos Reis Magos refere-se ao presente de ouro, incenso e mirra que os Reis Magos ofereceram ao Menino Jesus em Belém.

Por volta do século VI, aparecem, por exemplo, na basílica de Sant' Apollinare Nuovo, em Ravena, com os três nomes clássicos: Balthasar, Melchior, Gaspar; têm traços orientais, acentuados pelo barrete frígio.

Já aqui existe uma certa diferenciação de idades. No entanto, desde Bede Venerável (séc. VIII), considera-se que simbolizam as três idades do homem, bem como os três continentes conhecidos até então: o mais velho, a Ásia; o de meia-idade, a Europa; o mais novo, a África, embora este último, na história da Arte, só seja representado como negro por volta do séc. XVI.

Embora até há pouco tempo, um dos "sábios" pintasse a cara de preto, como consequência da cultura acordouEsta prática praticamente desapareceu. No entanto, este ano, as declarações da teóloga protestante Sarah Vecera causaram grande agitação na Alemanha: "Para os negros, é doloroso que a negritude seja vista como um disfarce e que os brancos pintem a cara de preto", afirmou numa entrevista ao "Evangelischer Pressedienst (epd)".

Sebastian Ostritsch respondeu a isto no "Die Tagespost": "Descrever a representação de um rei negro a prestar homenagem a Cristo e a distribuir bênçãos às famílias como 'blackfacing' não faz sentido por razões históricas e culturais, bem como teológicas. Histórica e culturalmente falando, 'blackfacing' refere-se aos 'minstrel shows' do século XIX nos Estados Unidos. Nesta forma de teatro, popular na época, os negros eram retratados pelos brancos de uma forma que não era propriamente lisonjeira e carregada de estereótipos negativos. No entanto, o negro entre os Magos é colocado num contexto completamente diferente: não se trata de ridicularizar os negros, mas antes pelo contrário (...) A diversidade dos Magos, que se manifesta também na cor da sua pele, torna claro que todos os povos, sem exceção, são convidados a aproximar-se do Salvador. Enquanto a cultura acordou prega a "diversidade", na realidade só promove um igualitarismo destrutivo. Pelo contrário, os Sternsingers revelam a gloriosa unidade na diversidade que podemos encontrar em Cristo".

Em 2015, os Sternsingers foram incluídos na lista do património cultural imaterial da Alemanha.

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Educação

A Universidade de Villanueva organiza um concerto de solidariedade

No dia 25 de janeiro, a Universidade de Villanueva vai realizar um concerto solidário para financiar um projeto de voluntariado no Quénia. Esta iniciativa insere-se no âmbito das actividades da "Villanueva Solidaria".

Loreto Rios-20 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

"Com o objetivo de promover a responsabilidade social e a importância de deixar uma pegada positiva no ambiente, a Universidade de Villanueva promove diferentes actividades e projectos, organizados e canalizados pela 'Villanueva Solidaria'", explica Begoña Fornés, coordenadora desta iniciativa.

"As actividades de voluntariado promovidas destinam-se a toda a comunidade universitária (alunos, antigos alunos, professores e pessoal administrativo e de serviço, familiares e amigos). Quanto mais formos, mais necessidades poderemos satisfazer e, sobretudo, mais pessoas poderemos alcançar", acrescenta.

Concerto MAD4Clarinets

Uma das iniciativas é o concerto de solidariedade MAD4Clarinets, que terá lugar no dia 25 de janeiro, das 19h30 às 21h00, no auditório do edifício B da universidade.

O concerto, que será interpretado pelo quarteto MAD4Clarinetesserá destinado a financiar o projeto de voluntariado internacional no Quénia". Além disso, esta iniciativa inclui a possibilidade de comprar bilhetes para o "Fila 0" para as pessoas que queiram colaborar com o projeto mas não possam assistir ao concerto. Pode encontrar todas as informações aqui.

Voluntariado internacional

Com as contribuições do concerto, Villanueva Solidaria financiará um dos seus projectos mais importantes: o voluntariado internacional, que terá lugar no Quénia durante o mês de julho de 2024. Para participar nesta atividade, é necessário ter uma entrevista pessoal, ter experiência de voluntariado e assistir a pelo menos 80 % das sessões de preparação. "O projeto MaTumaini (que significa 'esperança' em suaíli) nasceu em 2016 com o compromisso de promover a formação de crianças, adolescentes e professores de instituições educativas africanas localizadas em zonas rurais muito pobres, especialmente no Quénia, daí o lema do projeto, 'formar esperança'", afirma Begoña Fornés.

Outras actividades

Existem inúmeras actividades de voluntariado que podem ser realizadas com a Villanueva Solidaria, como a iniciativa "Ganha Ganha", para oferecer formação a idosos na utilização de telemóveis e computadores; acompanhamento pessoal em centros de idosos; acompanhamento em passeios de lazer para crianças e jovens com necessidades especiais, em colaboração com o Fundação Talita e a Fundação Down Madridapoio escolar para crianças do ensino primário ou secundário, em colaboração com Cooperação internacional, Fundação Senara e a Associação ValdeperalesProjeto Naím, que consiste numa catequese personalizada para crianças com necessidades especiais; acompanhamento de crianças e adultos hospitalizados, em colaboração com o Fundação Vianorte-Laguna e a ONG NadiesoloO projeto inclui também: distribuição de "bens de primeira necessidade às famílias sem recursos"; pequenos-almoços de solidariedade; doações de sangue em colaboração com a Cruz Vermelha; pintura das casas das famílias sem recursos, etc.

Pedido de informação

As informações sobre as actividades e as inscrições podem ser consultadas no sítio Web:

[email protected]

[email protected]

Whatsapp: 659 15 46 04

Zoom

Vigília de Oração pela Vida em Washington

Monsenhor Michael F. Burbidge, de Arlington, faz a homilia durante a missa de abertura da Vigília Nacional de Oração pela Vida, a 18 de janeiro de 2024, na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington.

Maria José Atienza-19 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vaticano

A Igreja celebra o Domingo da Palavra de Deus

Relatórios de Roma-19 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

No dia 21 de janeiro, a Igreja celebra o Domingo da Palavra de Deus. O Papa Francisco instituiu este dia em 2019 com o objetivo de promover a leitura da Bíblia e a evangelização.

Francisco pediu às dioceses de todo o mundo que tratassem este dia com uma certa solenidade. No Vaticano, a missa será celebrada na Basílica de São Pedro, às 9h30.


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Mundo

Roma recorda o Cardeal Ercole Consalvi (1757-1824)

Nos próximos dias, terá lugar em Roma uma série de eventos para comemorar o Cardeal Ercole Consalvi, uma figura-chave da Igreja Católica no início do século XIX.

Giovanni Tridente-19 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Por ocasião do bicentenário da morte do Cardeal Ercole Consalvi, uma figura-chave da Igreja Católica no período tumultuoso do início do século XIX, nos próximos dias serão organizados em Roma uma série de eventos envolvendo a Secretaria de Estado, o Comité Pontifício para as Ciências Históricas, os Museus do Vaticano e o Colégio Inglês.

Protagonista de uma carreira política excecional e de rara finura estratégica - como o descreveram alguns especialistas - Ercole Consalvi nasceu em Roma a 8 de junho de 1757, filho do Marquês Giuseppe di Tuscania e de Claudia dei Conti Carandini. Depois de estudar na Academia dos Nobres Eclesiásticos de Roma, a sua carreira política começou com o conclave aberto em Veneza a 30 de novembro de 1799, após a morte de Pio VI. Mais tarde, sob o pontificado de Pio VII Chiaramonti, foi nomeado Prosecretário de Estado e depois Secretário de Estado em 1800, embora fosse apenas um simples prelado.

Um diplomata habilidoso

Marek Andrzej Inglot, presidente do Comité Pontifício para as Ciências Históricas, salientou que o Cardeal Consalvi foi um diplomata hábil que actuou num período de grande turbulência institucional, ideológica e económica. A sua ação estendeu-se dos Estados da Igreja à França, Inglaterra, Áustria e América. Foi um modelo como Secretário de Estado, defendendo as razões da doutrina e adaptando-se às contingências dos tempos.

Um dia de estudo internacional

Entre as actividades previstas para o bicentenário da sua morte, o Comité Pontifício para as Ciências Históricas aceitou a proposta da Secretaria de Estado de organizar uma Jornada Internacional de Estudo, que terá lugar nos dias 22 e 23 de janeiro na sala de conferências dos Museus Vaticanos. Serão abordadas as várias dimensões da obra do Cardeal, desde a sua ação diplomática até às suas políticas culturais.

A visita ao Reino Unido

Outro aspeto da experiência do Cardeal Consalvi diz respeito a uma visita que efectuou ao Reino Unido em 1814, que marcou um ponto de viragem nas relações anglo-papais. A sua apresentação polida à sociedade britânica contribuiu significativamente para reduzir o preconceito anti-católico na Grã-Bretanha, abrindo caminho para a aprovação da Lei da Emancipação Católica em 1829.

Esta afirmação foi feita durante uma conferência de imprensa pelo Professor Maurice Whitehead, diretor das colecções do património e investigador do English College. A este respeito, o English College e a Embaixada Britânica junto da Santa Sé organizam conjuntamente duas outras actividades, um simpósio e um concerto abertos ao público. O simpósio explorará o impacto do Cardeal no Reino Unido, enquanto o concerto, intitulado "Power, Patronage and Diplomacy: Cardinal Ercole Consalvi (1757-1824) and Music", será interpretado pelo grupo inglês Cappella Fede.

Um legado duradouro

Ercole Consalvi morreu em Roma a 24 de janeiro de 1824. As suas últimas palavras, "Estou em paz", ressoam como um testemunho ideal de serenidade em tempos de tempestade. Além disso, é aclamado como um incansável servidor da Igreja Universal e do Sucessor de Pedro, como atestam também os seus Cenni Biografici, publicados em Veneza em 1824.

Estas iniciativas em Roma pretendem, pois, constituir uma oportunidade para explorar a vida e o legado de uma das figuras tardias que marcaram profundamente o curso da história eclesiástica e diplomática.

O autorGiovanni Tridente

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Estados Unidos da América

Começa a novena do Respeito pela Vida nos Estados Unidos

Os católicos de todo o país podem juntar-se a esta iniciativa e rezar a novena "Nove Dias pela Vida", que terminará na quarta-feira, 24 de janeiro.

Jennifer Elizabeth Terranova-19 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Todos sabemos que, quando acreditamos, tudo é possível, e que "...a fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção das coisas que não se vêem".

Estamos a aproximar-nos de outra "Marcha pela Vida" e os pró-vida estão a preparar-se para se reunirem em D.C. No dia 19 de janeiro, os católicos de todo o país podem juntar-se e rezar a novena dos "Nove Dias pela Vida", que começa a 16 de janeiro e termina na quarta-feira, 24 de janeiro, para dar início a mais um ano de trabalho, defesa e celebrações pelo dom da vida.

Os participantes podem "aceder à novena e também inscrever-se para receber as orações diárias por correio eletrónico ou por mensagem de texto em inglês ou espanhol", como refere o sítio Web da USCCB.

Desde a sua criação, a Nona chegou a centenas de milhares de pessoas em mais de cem países e seis continentes, o que é impressionante, mas a guerra ainda não acabou, por isso esforcemo-nos por chegar a mais um milhão de pessoas. A intenção é acabar com o aborto, mas para acabar com ele, temos de o erradicar das mentes subconscientes e conscientes. E a educação e a informação são essenciais para defender os não nascidos.

Felizmente, cada intenção de oração diária é acompanhada por uma reflexão, "informações educativas e sugestões de acções diárias". Está igualmente disponível um kit de recursos, bem como outros materiais.

A novena anual do Respeito pela Vida é uma oportunidade de oração e recompensa em observância do Dia de Oração pela Proteção Jurídica das Crianças por Nascer, a 22 de janeiro. "A Instrução Geral do Missal Romano (GIRM), n.º 373, designa o dia 22 de janeiro como um dia particular de oração e penitência, chamado 'Dia de Oração pela Proteção Jurídica das Crianças por Nascer'".

Deus ouviu o clamor dos que não têm voz e são vulneráveis a 24 de junho de 2022, quando o Supremo Tribunal derrubou o direito constitucional ao aborto. E enquanto celebramos e elogiamos a decisão Dobbs v. Jackson Women's Health Organization que anulou Roe V. Wade, continuamos a lamentar os milhões de crianças que perderam a vida e as inúmeras famílias que sofrem as feridas do aborto. Devemos lembrar que ainda existe uma cruzada para abortar vidas inocentes, corromper as mentes de mulheres e homens jovens e promover essa "mentalidade do aborto sob demanda".

Quase cinquenta anos de orações fervorosas e cinquenta manifestações da Marcha pela Vida provaram que Deus todo-poderoso e as novenas podem derrubar a lei mais horrível.

Por mais encorajadoras e alegres que as coisas possam parecer, seria negligente esquecer a hostilidade flagrante que os fornecedores de aborto têm para com os não nascidos; por isso, devemos permanecer firmes na oração e na defesa contínua. O sítio Web da March for Life afirma que, embora a Marcha seja um evento anual, a educação pró-vida é um esforço que dura todo o ano.

Este ano assinala-se a quinquagésima primeira Marcha pela Vida e a segunda na América pós-Roe. O tema é "Com cada mulher, para cada criança", que se centra na ajuda à mãe e à criança durante a gravidez e após o parto. Numa declaração recente, Jeanne Mancini, presidente do Fundo de Educação e Defesa da Marcha pela Vida, afirmou: "Celebramos o trabalho heroico dos Centros de Cuidados à Gravidez e das Maternidades, ao mesmo tempo que oferecemos um roteiro para alcançarmos verdadeiramente uma cultura de afirmação da vida que respeite a dignidade inerente a toda a vida humana". A Presidente do Parlamento Europeu congratulou-se também por anunciar e dar as boas-vindas aos "inspiradores líderes pró-vida que irão discursar na Marcha pela Vida deste ano".

Na encíclica do Papa São João Paulo II, Evangelium Vitaeescreveu:

"É urgente uma grande oração pela vida em todo o mundo. Através de iniciativas especiais e na oração quotidiana, uma súplica apaixonada a Deus, Criador e amante da vida, deve ser levantada de cada comunidade cristã, de cada grupo e associação, de cada família e do coração de cada crente".

Mundo

O Irão, da antiga Pérsia à República Islâmica

Com este artigo, Gerardo Ferrara inicia uma série em que se debruça sobre as origens, a religião e a língua do Irão atual, "um país com uma cultura milenar, eixo de uma civilização antiga e centro de um império tão vasto que é considerado o primeiro império mundial".

Gerardo Ferrara-18 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

O país atualmente conhecido como Irão está no centro das atenções mundiais devido à sua importância estratégica, mas sobretudo devido ao regime teocrático que está no poder desde 1979, à repressão interna dos direitos humanos, à discriminação das mulheres e às alianças internacionais.
No entanto, poucos se lembram que o Irão é um país com uma cultura milenar, o centro de uma civilização antiga e o centro de um império tão vasto que é considerado o primeiro império mundial.
Além disso, o povo iraniano, cuja etnia predominante é o persa, uma língua indo-europeia, é muitas vezes confundido com os árabes, um povo de língua semítica que representa apenas 1% da população do Irão. O Islão praticado no Irão, o Islão xiita, é também diferente do Islão sunita, muito mais difundido.

A origem "ariana

O nome "Irão" é um "cognato", ou seja, tem a mesma raiz que "ariano", que se refere à "terra dos arianos". Curiosamente, a raiz é a mesma que a de "Irlanda" (ou "Eire" em gaélico). O que é que os iranianos e os irlandeses têm em comum? Bem, precisamente o facto de serem, como todos os "arianos" (um termo que é infame, mas que tecnicamente se refere às antigas tribos arianas ou indo-arianas que se estabeleceram primeiro no que é hoje o Irão e a Índia e que depois migraram para a Europa), de língua indo-europeia (celtas, eslavos, alemães, indianos, persas, arménios, gregos e latinos eram todos povos de língua indo-europeia, tal como os seus descendentes, incluindo italianos e espanhóis).
De facto, os linguistas concordam, através da análise linguística comparativa, que todas as expressões idiomáticas atualmente incluídas no ramo indo-europeu, desde o persa ao hindi, passando pelo espanhol, inglês, alemão, russo, etc., podem ser rastreadas até uma língua "proto-indo-europeia".
Exemplos desta ancestralidade comum são os termos:

-Padre (italiano e espanhol); pater (latim); patér (grego antigo, moderno: patír); father (inglês); vater (alemão); padar (persa); pita (hindi);
-Madre (italiano e espanhol); mater (latim); metér (grego antigo, moderno: mitéra); mother (inglês); mutter (alemão); madar (persa); maata (sânscrito);

Outra assonância incrível (entre muitas) é: daughter com Tochter (alemão), thygatér (grego antigo), dochtar (persa).
O topónimo "Irão" aparece pela primeira vez em textos avestanos (o avestano, outra língua indo-ariana, é conhecido por ser a língua litúrgica do zoroastrismo e do seu livro sagrado, o Avesta) como "Aryana vaeža", "Terra dos Arianos", evoluindo mais tarde para Eranshahr e Eran. No entanto, até 1935, o país era conhecido no Ocidente como Pérsia, um nome derivado do grego Persis, por sua vez derivado do topónimo da região sul do Irão, Fars/Pars.

Alguns dados

O Irão situa-se no Médio Oriente (Sudoeste Asiático), tem uma área de 1.648.195 km² (17º maior país do mundo) e uma população de cerca de 90 milhões de habitantes, dos quais 51% são de etnia persa. O segundo maior grupo étnico, com cerca de 24% da população, são os azeris de língua turca, seguidos pelos curdos, baluchis, arménios, turcomanos, árabes, assírios, georgianos e outros.
As minorias étnicas do Irão, especialmente os azeris, estavam muito bem integradas antes da Revolução Islâmica de 1979. De facto, até à era Pahlavi, a identidade do país não era exclusivamente persa, mas sim "supra-étnica", nomeadamente devido à forte presença política e cultural do elemento turco-azerbaijanês. As eventuais fricções começaram, sobretudo entre os elementos turco e persa, a partir do século XX, quando o nacionalismo (uma ideologia de origem positivista e ocidental), mais do que o fundamentalismo islâmico hoje presente, não chegou ao Irão. No entanto, apesar dos problemas passados e presentes, pode dizer-se que o Irão é um Estado multiétnico e que existe uma harmonia tranquila entre as diferentes comunidades.

No entanto, do ponto de vista religioso, o Islão prevalece (quase em todos os grupos étnicos). 99% dos iranianos são muçulmanos (90% xiitas e 9% sunitas). 99% dos iranianos são muçulmanos (90% xiitas e 9% sunitas). As minorias não muçulmanas representam menos de 1%, principalmente cristãos, zoroastrianos, judeus, mandeístas, baha'is e Ahl-e Haqq (ou yarsanistas, outra religião sincrética como o mandeísmo e os baha'is). As particularidades destas religiões serão analisadas mais adiante.

Um pouco de história

O Irão é um país com raízes muito antigas e uma história complexa e multimilenar. De facto, a presença humana na região é atestada desde o Paleolítico Inferior (entre o 10º e o 7º milénio a.C.) e a fundação das primeiras aldeias data de cerca de 5000 a.C.
Durante a Idade do Bronze, a região foi palco de várias civilizações, a mais importante das quais foi Elam (os elamitas são também mencionados na Bíblia), que se desenvolveu paralelamente à Mesopotâmia, onde se encontram primeiro os sumérios e depois os assiro-babilónios (estes últimos de língua semítica). Elam também desenvolveu uma escrita cuneiforme a partir do terceiro milénio a.C.
No segundo milénio a.C., os antigos povos iranianos (medos, persas e partas) chegaram à região vindos das estepes euro-asiáticas e dispersaram-se por uma área mais vasta, rivalizando com os reinos "pré-iranianos", mas caindo, juntamente com estes últimos, sob o domínio do Império Assírio, sediado no norte da Mesopotâmia, até 605 a.C.

O Império Mediano foi fundado em 728 a.C., com Ecbatana como capital (a cidade mencionada no livro de Tobit do Antigo Testamento), e chegou a controlar quase todo o território do atual Irão e da Anatólia oriental.

Em 550 a.C., Ciro, o Grande, da dinastia dos Téspidas, conquistou o Império Mediano e fundou o Império Aqueménida, estendendo o seu domínio para ocidente até à Lídia, na Babilónia, EgiptoO Império Neo-Babilónico foi conquistado pelos babilónios, em partes dos Balcãs e da Europa Oriental, e a leste até ao rio Indo. A conquista do Império Neo-Babilónico remonta a 539 a.C. (também mencionada na Bíblia).

Em 522 a.C., Dario, o Grande, da dinastia Aqueménida, subiu ao trono após a morte de Ciro, que caiu do cavalo. Foi o fundador do Império Aqueménida, para o qual construiu uma nova capital, Persépolis. Na sua maior extensão, este império abrangia territórios do atual Irão e Azerbaijão, Arménia, Geórgia, Turquia (Anatólia), grande parte das regiões costeiras do Mar Negro, norte da Grécia e Bulgária, grande parte do Próximo e Médio Oriente e da Ásia Central, o norte da Península Arábica e muitas das cidades do antigo Egipto até à Líbia. Foi o maior império que o mundo alguma vez viu. Estima-se que em 480 a.C. viviam 50 milhões de pessoas, ou seja, 44% da população mundial, a maior percentagem da população mundial num único Estado jamais registada na História.

O Império Aqueménida é também conhecido pela libertação dos judeus deportados para a Babilónia, pelas numerosas infra-estruturas construídas, pela invenção do Chapar (serviço postal) e pela utilização do aramaico imperial (língua semítica) como língua oficial.

Tal como os gregos e os etruscos com os romanos, os assírios e os medos, embora derrotados pelos persas, também exerceram uma influência cultural e religiosa considerável sobre estes últimos, especialmente sobre os medos, através da casta sacerdotal dos magos zoroastrianos, os mesmos que são mencionados no Evangelho de Lucas.

Foram os gregos que puseram fim à epopeia aqueménida, primeiro com a revolta grega nas fronteiras ocidentais, culminando nas Guerras Greco-Persas (séc. V a.C.), que terminaram com a retirada dos persas de todos os territórios dos Balcãs e da Europa Oriental, e mais tarde com a conquista de Alexandre Magno em 334 a.C., que derrotou o último imperador aqueménida, Dario III. Após a morte de Alexandre, a Pérsia ficou sob o controlo do Império Selêucida helenístico, depois do Império Parta até 224 d.C. e, finalmente, do Império Sassânida.

As forças árabe-islâmicas, lideradas pelos califas Rashidùn, alargaram o seu domínio sobre a região persa no século VII d.C., à medida que o Império Sassânida se enfraquecia devido a conflitos internos e aos constantes contrastes com o seu vizinho e amargo rival, o Império Bizantino.

De facto, a Pérsia, onde o cristianismo se estava a propagar a partir do Ocidente com forte oposição e perseguição dos últimos governantes sassânidas, viu-se surpreendentemente frágil face ao avanço das tropas islâmicas, com os novos governantes muçulmanos empenhados em encorajar, e muitas vezes impor, a conversão religiosa à nova religião.

A conquista islâmica do Irão teve um impacto duradouro na região, provocando mudanças culturais, sociais e religiosas, de modo que o país se tornou gradualmente um centro fundamental da civilização islâmica, com a fusão das tradições persa e muçulmana a moldar a identidade iraniana ao longo dos séculos, produzindo alguns dos maiores poetas, artistas, filósofos e pensadores de sempre do Islão, entre os quais o famoso al-Khwarizmi (daí o termo "algoritmo"), um matemático, astrónomo e geógrafo persa, conhecido como o pai da álgebra, e o ainda mais famoso Jalal ad-Din Rumi, um poeta universal.
Sucederam-lhes os Samânidas, os Turcos Seljuk, os Mongóis no século XII, até Tamerlão e o Império Timúrida no século XIV.

No século XVI, o Império Safávida estabeleceu o xiismo como religião do Estado, criando uma caraterística distintiva da identidade iraniana.
No século XVIII, a ingerência estrangeira levou à divisão do país e ao declínio do Império.

No entanto, no século XX, o Irão esteve sob ocupação britânica e soviética durante a Segunda Guerra Mundial, um período de grande instabilidade. Em 1951, o Primeiro-Ministro Mohammad Mossadeq nacionalizou a indústria petrolífera, provocando uma reação internacional, a que se seguiu, em 1953, um golpe de Estado organizado pelos EUA e pelo Reino Unido que depôs Mossadeq, devolvendo o poder ao Xá, que o próprio Mossadeq tinha forçado a abandonar o país.
Mas o ponto de viragem crucial ocorreu em 1979 com a Revolução Islâmica, liderada pelo Ayatollah Khomeini. Com extrema ingenuidade, liderou toda a oposição contra o regime do Xá Reza Pahlavi, eliminando-os a todos assim que tomou o poder e transformou o Irão numa república islâmica. Na década de 1980, o Irão envolveu-se numa longa e destrutiva guerra com o Iraque, que matou entre um e dois milhões de pessoas. As tensões internacionais agravaram-se, especialmente no que respeita ao programa nuclear.
Em 2015, o país chegou a um acordo nuclear com as potências mundiais, o que levou a uma redução das sanções. No entanto, continua envolvido em questões geopolíticas complexas no Médio Oriente e em todo o mundo, enquanto a sua população jovem e instruída aspira a mudanças sociais e económicas que tardam em chegar.

O autorGerardo Ferrara

Escritor, historiador e especialista em história, política e cultura do Médio Oriente.

ColaboradoresKlaus Küng

A unidade da Igreja provém de Cristo

De 18 a 25 de janeiro de 2024, a Igreja celebra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O lema deste ano é "Ama o Senhor teu Deus... e o teu próximo como a ti mesmo".

18 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Todos os anos, a Igreja participa na Semana Mundial de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Estamos a aproximar-nos da grande meta, ou as diferenças são demasiado grandes e as fissuras demasiado profundas? E as dificuldades em que a própria Igreja se encontra: com um declínio maciço na prática da fé, especialmente nos países altamente desenvolvidos, apesar de uma tradição cristã milenar, com controvérsias intermináveis, críticas de todos os lados, o que também constitui um problema para a Papa Francisco.

Conseguirá a Igreja superar a perda de confiança sofrida com os casos de abuso e, apesar das disputas entre forças liberais e conservadoras que existem desde o Concílio, ser fiel à mensagem do Evangelho, proclamá-la com coragem, mas também transmitir caminhos de cura e de perdão quando surgem necessidades resultantes de fracassos e dificuldades de todo o tipo, como o Papa sublinha especialmente? Ou conseguirá o adversário silenciar a voz da Igreja em questões essenciais e cegar os caminhos da cura e do perdão?

É bom que sejamos atraídos para a Semana Mundial de Oração pela Unidade dos Cristãos e sintamos a urgência de rezar por todos os cristãos, muito especialmente pelo Papa Francisco e seus colaboradores, de facto, por toda a Igreja e todos os cristãos.

Por vezes, sobretudo nos últimos anos, pergunto-me o que nos diria São Josemaria, cujo aniversário acabámos de celebrar, na situação atual da Igreja. Chego sempre à mesma conclusão. Sem dúvida que nos gritaria: "Não tenhais medo! Ouviríamos o mesmo de todos os Papas das últimas décadas, de São João XXIII ao Papa Francisco. Sim, o próprio Jesus nos dá esta resposta quando nos dirigimos a ele na oração.

Ele venceu o mundo, deu testemunho da verdade, deu a sua vida por ela e, pelo seu sofrimento e morte na cruz, pela sua obediência até à morte e morte de cruz, venceu o pecado e venceu a morte. Ressuscitou e regressou à casa do Pai como "o primogénito de entre os mortos" (Col 1,18). No entanto, Ele continua presente na Igreja, porque o Espírito Santo é enviado ao mundo pelo Pai e por Ele, o seu Filho, até ao fim dos tempos, para fazer surgir na Igreja a obra da redenção realizada por Jesus e por Ele mesmo, tornando-a acessível a todos e, de algum modo, também visível, apesar da fraqueza daqueles que a levam, aliás, precisamente através dela. É assim que o cristianismo pode perdurar, em todas as situações e problemas, em todos os tempos, mesmo hoje.

Desde o início da Igreja, sempre houve oposições. Por vezes, foram muito amargas e conduziram mesmo a cisões. Em questões difíceis, os processos de esclarecimento foram muitas vezes demorados. E as decisões papais foram por vezes, noutros momentos, alvo de incompreensão e resistência. Mas o Espírito Santo não só salvou a Igreja da destruição, como também a renovou, logo que chegou o momento oportuno.

A unidade da Igreja nasce - em certo sentido, sempre de novo - de Cristo: "Permanecei em Mim e Eu em vós" (Jo 15,4), prometeu Ele; e fez a promessa: "Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e ser-vos-á feito" (Jo 15,7). Temos boas razões para ter confiança.

É certo que o homem pode realizar muitas coisas e alcançar grande sucesso sem Deus, mas isso é muitas vezes difícil a longo prazo. Sem Deus, não existe um centro interior, por isso de que serve todo o esforço, toda a luta? Não é raro que se desencadeie uma espécie de guerra na nossa própria vida e no que nos rodeia, porque cada um só olha para si. O Papa Bento XVI, por vezes, colocou a questão da forma mais correcta, dizendo que, sem Deus, a vida torna-se um inferno. A fé em Jesus abre a perspetiva da salvação: Jesus conduz-nos ao Pai, que nos perdoa e nos ensina a perdoar. Jesus dá-nos o pão que vem do céu. Ele dá-se a si próprio e ensina-nos a amar como Ele ama. No entanto, a sociedade do "sentir-se bem" e do "sentir-se bem" também nos ensina que um cristianismo de rotina sem esforço pessoal ou um "cristianismo seletivo", que retira da fé o que convém ao próprio estilo de vida sem qualquer necessidade de mudança, não redime e, muitas vezes, leva à perda da fé, o mais tardar, na geração seguinte, se não houver um encontro novo e pessoal com Cristo. Neste sentido, todo o cristianismo morno está em perigo.

Para a Semana Mundial de Oração 2024, foi escolhido o seguinte lema: "Ama o Senhor teu Deus e o teu próximo como a ti mesmo". Ele ajuda-nos a olhar para o futuro com uma certa serenidade; com o desejo de levar Jesus no coração, bem dispostos a levantar a voz quando for útil; mas também prontos a escutar, como deseja o Papa Francisco, e sempre com a firme intenção de evitar críticas negativas, o que não nos impede de implorar ao Espírito Santo que traga os esclarecimentos necessários assim que o momento for oportuno; aliás, que os faça acontecer o mais depressa possível.

O autorKlaus Küng

Bispo emérito de Sankt Pölten, Áustria.

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Evangelho

O apelo à conversão. Terceiro Domingo do Tempo Comum (B)

Joseph Evans comenta as leituras do terceiro domingo do tempo comum (B) e Luis Herrera apresenta uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-18 de janeiro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Jesus convida Simão Pedro e André a tornarem-se pescadores de homens. E Jonas adverte os habitantes de Nínive a converterem-se para não serem destruídos; eles fazem-no e são salvos. As leituras de hoje, neste Terceiro Domingo do Tempo Comum, que o Papa Francisco transformou em Domingo da Palavra de Deus, podem ajudar-nos a refletir sobre o poder desta palavra para salvar. Todos nós, e não apenas os sacerdotes, somos pregadores desta Palavra, porque há uma pregação quotidiana que é o exemplo da nossa vida e das nossas conversas pessoais com os que nos são próximos. E todos nós temos de pescar almas para as salvar.  

Com os peixes normais, tirá-los da água é a sua morte. Mas, na pesca das almas, é preciso precisamente tirá-las das águas escuras do pecado e de todos os predadores que as podem devorar - o demónio e as suas hordas - para as salvar e depois depositá-las aos pés de Cristo. Jonas, que, depois de três dias e três noites no ventre de uma baleia, sabia o que era ser engolido por um predador, teria compreendido bem isso.

As nossas conversas com os nossos amigos serão geralmente positivas e encorajadoras, como o é a palavra de Deus. Como escreve S. Paulo: "Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que foi anunciado entre vós [...], não era sim e não, mas só nele era sim."(2 Cor 1,19). Mas haverá alturas em que teremos de avisar claramente os outros de que este ou aquele comportamento só os levará à destruição. Estamos a pescá-los nas águas da morte. "Do céu estendeu a sua mão e agarrou-me, tirou-me das águas impetuosas, livrou-me de um inimigo poderoso, de adversários mais fortes do que eu."(Sl 18,17-18). Como mostra o Evangelho de hoje, Jesus começa o seu ministério chamando as pessoas ao arrependimento. O apelo ao arrependimento continua a ser um aspeto essencial da mensagem cristã. Não podemos simplesmente confirmar as pessoas nos seus pecados.

Mas como evitar o negativismo e a amargura no nosso testemunho? Esforçando-nos por sermos os primeiros a arrependermo-nos, vivendo num estado de conversão constante. É bonito ver como, depois de Pedro e André, Jesus chama Tiago e João, enquanto estes estão a remendar as redes. O cristão deve estar sempre atento a remendar as redes da sua própria alma, que tem muitos rasgões e fios rotos. E, como os apóstolos, todos temos de deixar as coisas para trás - os bens, a segurança, talvez até o emprego e a família - para seguir Cristo.

Homilia sobre as leituras do 3º Domingo do Tempo Comum (B)

O sacerdote Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.