América Latina

Mons. Jaime Spengler: CELAM, Sinodalidade e os desafios para a América Latina

Durante o Congresso Eucarístico Internacional 2024, em Quito, Equador, D. Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), partilhou a sua visão sobre o papel do CELAM e a sua missão de comunhão no continente.

Juan Carlos Vasconez-14 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Monsenhor Spengler descreveu o trabalho do CELAM como fundamental para coordenar e promover a comunhão entre as várias conferências episcopais da América Latina e das Caraíbas, com o objetivo de ajudar as igrejas locais através de conselhos sobre formação, investigação e comunicação.

O CELAMcom sede em Bogotá, actua como uma ponte entre as igrejas locais e a Igreja universal, oferecendo apoio em áreas-chave: Comunicação, Gestão do Conhecimento, Formação e Trabalho em Rede.

O Centro de Programas e Redes de Ação Pastoral é responsável pelos serviços relacionados com o ministério, o discipulado missionário e outras acções pastorais específicas, que se integram na área da Igreja Sinodal em saída.

Enquanto o Centro de Formação Cebitepal forma clérigos, religiosos e leigos, e os centros dedicados à investigação e à comunicação procuram articular os desafios sociais, económicos e pastorais do continente.

O papel do CELAM na sinodalidade

Num momento chave para a Igreja mundial, marcado pelo processo sinodal promovido pelo Papa Francisco, D. Spengler aprofundou os três níveis deste processo, que considera essencial para a Igreja latino-americana:

1. O povo de Deus

"A sinodalidade parte de uma premissa essencial: a escuta de todos", explicou D. Spengler. O processo sinodal começa com a escuta ativa das comunidades, de todos os baptizados, daqueles que, na sua vida quotidiana, procuram viver a fé e construir comunidades mais fortes.

Para o CELAM, este primeiro passo é fundamental, porque as vozes dos fiéis representam uma riqueza de experiências que reflectem os desafios, as alegrias e as esperanças da Igreja na América Latina. O CELAM facilita esta escuta através dos seus centros de estudo, que permitem recolher as realidades pastorais e sociais do continente.

2. Os Bispos

O nível seguinte do processo sinodal é o trabalho de discernimento dos bispos. "Depois de ouvir toda a gente, cabe a alguns discernir e articular o que o Espírito Santo está a dizer à Igreja", disse o Bispo Spengler.

O CELAM desempenha um papel essencial na coordenação das conferências episcopais, ajudando-as a interpretar e a responder aos desafios que as suas regiões enfrentam. O Bispo Spengler sublinhou a importância da comunhão episcopal, onde os bispos, em colegialidade, não só ouvem as suas comunidades, mas também se apoiam mutuamente na procura de soluções pastorais.

3. O Papa

Finalmente, "este processo chega a Pedro", sublinhou Mons. Spengler. O Santo Padre, como chefe da Igreja universal, é aquele que tem a missão única de guiar toda a Igreja em direção à verdade e à unidade. Spengler explicou que o CELAM, ao facilitar este processo sinodal na América Latina, ajuda as vozes do continente a chegar a Roma de forma articulada e coerente.

"O Papa mostra-nos o caminho segundo o Evangelho, e nós, como pastores, devemos acompanhar as nossas comunidades neste processo de discernimento", acrescentou.

Os desafios actuais do CELAM

O Bispo Spengler abordou também os desafios que o CELAM terá de enfrentar nos próximos anos. Um dos maiores desafios é consolidar a recente reestruturação interna da organização, realizada a pedido do Papa Francisco, com o objetivo de a tornar mais eficiente e mais próxima das realidades locais. "O CELAM passou por uma grande reestruturação e nossa missão é garantir que essa mudança fortaleça a comunhão e o serviço entre as igrejas do continente", explicou.

Crise política e social no continente

O Bispo Spengler referiu-se também aos desafios externos que a Igreja enfrenta na América Latina, especialmente as crises políticas, económicas e sociais. "Hoje, na América Latina, como em muitas partes do mundo, estamos a viver uma crise das democracias. A polarização política e a desigualdade económica afectam profundamente a vida das nossas comunidades", afirmou.

Para D. Spengler, a sinodalidade e a comunhão na Igreja são um modelo que pode inspirar soluções num continente que precisa urgentemente de reconciliação e fraternidade.

Formação e evangelização

Outro desafio importante é o reforço da formação e da evangelização num contexto cultural em mudança. O Cebitepal, como centro de formação, procura não só educar o clero e os leigos na doutrina, mas também capacitá-los para serem testemunhas efectivas nas suas comunidades.

"Queremos formar pastores que possam enfrentar os desafios de um mundo globalizado e fragmentado", sublinhou Mons. Spengler. Referiu-se também à necessidade de uma evangelização mais profunda e criativa, que responda aos problemas contemporâneos a partir da fé, mas também de uma compreensão profunda da realidade social.

Arcebispo Spengler (à direita), presidente do CELAM, com Juan C. Vasconez, correspondente da Omnes

Reforçar o testemunho de comunhão

Por último, o Bispo Spengler manifestou a sua esperança de que a comunhão na Igreja seja um testemunho que transcenda os muros eclesiais e chegue a toda a sociedade.

"O testemunho de comunhão entre nós pode ser um farol de esperança para um mundo que sofre com as divisões", disse. Para ele, a sinodalidade não é apenas um exercício interno da Igreja, mas também um instrumento para promover a paz e a fraternidade num continente que enfrenta crises profundas.

Recursos

Rezar com o Salmo 23

O livro do salmos é um livro de orações; Bento XVI O Salmo de São João foi chamado de "o livro de oração por excelência", porque envolve um encontro entre Deus e o homem. É constituído por uma coleção de 150 poemas, muitos dos quais foram atribuídos ao rei David, como é o caso do Salmo 23, que será o tema da nossa reflexão.

Santiago Populín Tais-14 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O Catecismo da Igreja Católica, número 2588, afirma que cada salmo "é de uma sobriedade tal que os homens de todas as condições e de todas as épocas podem verdadeiramente rezar com ele".

Neles podemos ver muitas situações comuns a todas as pessoas, como o sofrimento, a alegria, a família, a amizade, o trabalho, etc., e ensinam-nos que podemos fazer de todas elas um motivo de oração.

Em particular, o Salmo 23Segundo a datação greco-latina, é um dos salmos mais comentados e rezados, tanto na tradição judaica como na cristã. É um salmo de ação de graças; um poema que reflecte muito bem a atitude religiosa do homem que reconhece Deus, a sua ação na sua própria vida, sublinhando a confiança nele.

Comentários ao Salmo 23 (22) que podem ajudar à meditação

1)  O Senhor é o meu pastor -primeira imagem

O salmista chama a Deus o seu pastor. "A imagem remete para um clima de confiança, intimidade e ternura: o pastor conhece as suas ovelhas uma a uma, chama-as pelo nome e elas seguem-no porque o reconhecem e confiam nele (cfr. Jn 10, 2-4). Ele cuida deles, guarda-os como bens preciosos, pronto a defendê-los, a garantir o seu bem-estar, a permitir-lhes viver em paz. Nada pode faltar se o pastor está com eles" (Bento XVI, Público em geral, 5 de outubro de 2011).

2)  Não me falta nada

Em Israel, como na maior parte do Médio Oriente, a água e o pasto são escassos. Mas na presença do Senhor - o Bom Pastor - nada falta. Ele sabe onde encontrar comida e bebida, porque a sua prioridade é o seu rebanho.

3)  Nos verdes prados faz-me descansar

No Cântico dos Cânticos 1,7 lemos: "Diz-me onde apascentas o rebanho, onde o levas a descansar ao meio-dia". Pois o bom Pastor leva o seu rebanho a encontrar um pasto abundante e um lugar muito confortável para descansar.

4)  Em águas tranquilas ele conduz-me

São ainda fontes de água, mas não apenas para beber e refrescar, mas também para purificar. Ao longo da Bíblia, encontramos frequentemente o símbolo da sede para falar do desejo de Deus. Por exemplo, no Salmo 42, 2-3: "Como a corça procura as correntes de água, assim a minha alma te procura, meu Deus. A minha alma tem sede de Deus".

5)  Conforta a minha alma

Depois do cansaço do dia, os seus cuidados confortam-nos. Neste sentido, o Salmo 27 apresenta uma ideia semelhante: "O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a minha força e o meu poder, quem me fará tremer? Ainda que o malvado se levante contra mim... Ele recolher-me-á na sua tenda... Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, Ele acolher-me-á".

6)  Ele guia-me por caminhos rectos em honra do seu nome

    Apesar de andar por vales escuros, não temo o mal.

"Também nós, como o salmista, se caminhamos atrás do bom Pastor, mesmo que os caminhos da nossa vida sejam difíceis, tortuosos ou longos, muitas vezes até através de zonas espiritualmente desertas, sem água e com um sol de racionalismo ardente, sob a guia do bom Pastor, Cristo, devemos ter a certeza de que estamos nos caminhos rectos, e que o Senhor nos guia, está sempre perto de nós e nada nos faltará" (Bento XVI). (Bento XVI, Público em geral, 5 de outubro de 2011).

7)  Porque estás comigo

Aqui chegamos a uma parte central do salmo. A razão pela qual nos sentimos seguros, sem medo, mesmo quando atravessamos as trevas da vida, é a seguinte afirmação: "Tu estás comigo", isto é o mais importante. Também o Salmo 118 afirma a mesma ideia: "Se o Senhor está comigo, não tenho medo; que me pode fazer o homem? Bento XVI diz: "a proximidade de Deus transforma a realidade, o vale escuro perde todo o perigo, esvazia-se de toda a ameaça". (Cfr. Bento XVI, Público em geral, 5 de outubro de 2011).

8)  A tua vara e o teu cajado confortam-me

David era rei e pastor. Certamente que o cajado e a vara se referem a Deus, o Salvador, o libertador, o guia do povo, a propósito da saída do Egito.

9)  Prepara uma mesa para mim em frente aos meus adversários -segunda imagem

Entramos agora na tenda do pastor. "A visão é coerente e engendra alguns símbolos arquetípicos: a hospitalidade, o banquete com comida e bebida, a casa". O Senhor é apresentado como um hóspede divino. "É um gesto de partilha não só do alimento mas também da vida, numa oferta de comunhão e amizade que cria laços e exprime solidariedade" (Cfr. Alonso Schokel, L. e Carniti, Salmos I, traduções, interpretações e comentáriosBento XVI, Público em geral, 5 de outubro de 2011).

 10) Ungir a minha cabeça com óleo

Naqueles tempos, ungir um visitante - que chegava cansado de um longo e cansativo dia - era uma grande manifestação de afeto e apreço. O óleo com essências perfumadas dá frescura e acalma a pele. O Novo Testamento (cf. Mateus 26) mostra-nos que, em Betânia, em casa de Simão, o leproso, uma mulher teve um gesto muito querido pelo Senhor: deitou-lhe um frasco de alabastro com perfume. Como o Senhor apreciou este gesto!

11) E o meu copo transborda

O que é que esta figura implica? Bento XVI diz: "O cálice transbordante acrescenta uma nota festiva, com o seu vinho requintado, partilhado com uma generosidade superabundante. Comida, azeite, vinho: são dons que dão vida e alegria, porque vão para além do estritamente necessário e exprimem a gratuidade e a abundância do amor" (Bento XVI, Público em geral, 5 de outubro de 2011).

12) A tua bondade e a tua misericórdia acompanham-me

Todos os dias da minha vida

E habitarei na Casa do Senhor por muito tempo.

"A bondade e a fidelidade de Deus são a escolta que acompanha o salmista que deixa a tenda e se põe de novo a caminho. Mas trata-se de um caminho que adquire um novo significado, tornando-se uma peregrinação em direção ao templo do Senhor, o lugar santo onde o orante quer "habitar" para sempre e ao qual deseja voltar" (Bento XVI, Público em geral, 5 de outubro de 2011).

Para concluir estas observações, é importante sublinhar que o Salmo 23 adquire todo o seu significado depois de Jesus ter dito: "Eu sou o bom pastor" (Jo 10,11.14). Com Ele, que já nos preparou a mesa da Eucaristia, e sob a Sua orientação, esperamos chegar aos pastos verdejantes do Seu Reino, à felicidade plena (Cfr. Comentário à Bíblia Sagrada, EUNSA, Faculdade de Teologia, Universidade de Navarra).

Alguns conselhos para rezar com o 23º Salmo

Primeiro, ler com calma. Em segundo lugar, leia os comentários que as bíblias costumam ter sobre o texto em questão, para ter uma interpretação correta e um bom complemento para a oração. Em terceiro lugar, medita-o; pode ajudar-te a responder às seguintes perguntas em diálogo com Deus:

  • O que é que lhe chama a atenção no texto, como é que o desafia, o que é que lhe diz?
  • Leva-o a aperceber-se da presença de Deus ao seu lado, a abandonar-se a ele, a ser mais grato?
  • Como é que lida com as suas dificuldades, tristezas, dores e preocupações? Como é que gostaria de reagir a elas?

Oração de Santa Teresa de Ávila

"Que nada vos perturbe, que nada vos assuste, tudo passa, Deus não se deixa abalar, a paciência basta, nada falta ao que tem Deus, só Deus basta".

Tanto o Salmo 23 (22) como a oração de Santa Teresa convidam-nos a descansar na provisão e na proteção de Deus. Ele é o nosso guia seguro, está sempre connosco. Deus é puro amor, ama-nos incondicionalmente e está sempre pronto a perdoar-nos e a restaurar-nos.

Ambos são um poderoso lembrete da fidelidade e do amor infalível de Deus por nós, e convidam-nos a confiar plenamente nos Seus cuidados e na Sua provisão em todas as circunstâncias da vida.

Um objetivo                        

Depois de meditar o Salmo 23 (22), pode perguntar-se que objectivos gostaria de alcançar com Deus, com a minha família, com os meus amigos, com a minha comunidade, etc.? Um deles poderia ser pedir e manter a paz, que será o fruto do abandono a Deus, sobretudo nos momentos de dificuldade que surgem durante o dia. E também transmitir essa paz aos outros, como dizia Madre Teresa de Calcutá: "Que ninguém se aproxime de ti sem se sentir um pouco melhor e mais feliz quando sair".                                         

O autorSantiago Populín Tais

Bacharel em Teologia pela Universidade de Navarra. Licenciatura em Teologia Espiritual pela Universidade da Santa Cruz, Roma.

A grande escola do sofrimento

Custa-nos aceitar que o sofrimento faz parte do tecido da vida e que nenhum ser humano está isento, nem mesmo os mais nobres e bons.

14 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Porque é que os bons e os inocentes sofrem? Porque é que as tragédias, os terramotos, as inundações, os incêndios, as tempestades, as pandemias ou qualquer sofrimento global são tão mal direcionados? Porque é que não selecionam melhor as suas vítimas para atingir aqueles que realmente "merecem" ou que foram os seus causadores?

Que estranha convivência entre justiça e injustiça, entre presas e predadores, entre forças poderosas e vítimas frágeis! Mas também, que estranha presença de pessoas inertes, inapetentes, indiferentes, apáticas e silenciosas que vêem os desfiles de dor à sua frente e se escondem ou se desculpam em vez de ajudar a transformar essas tristes realidades. 

Não gostamos de falar da dor humana, mas não a podemos evitar. Tememo-la, fugimos dela, lutamos supostamente para a evitar ou atenuar. Só em Estados Unidos da América Gastamos quase 18 biliões de dólares por ano em analgésicos e medicamentos para a dor, e outros 18 biliões em antidepressivos em todo o mundo. Isso causa-nos desolação, crise existencial, sentimento de injustiça, amargura, revolta, ressentimento, e até lutamos com Deus e com a vida por nos fazer alvo do "imerecido". É por isso que travamos uma guerra fria contra ele. 

Temos dificuldade em aceitar que o sofrimento faz parte do tecido da vida e que nenhum ser humano está isento, nem mesmo os mais nobres e bons. Toda a natureza o experimenta, e faz parte das lutas diárias pela sobrevivência. A primeira linguagem de um recém-nascido é o choro, e é também a mais reconhecida expressão de despedida. Como diz o Eclesiastes 3, "há um dia para chorar e um dia para rir". Por outras palavras, por cada dia de alegria, espera-se um dia de tristeza. 

Como seria diferente aprender a viver sóbria e sabiamente com o sofrimento, sem necessariamente abandonar os esforços legítimos para eventualmente o erradicar! Como diz Tiago 1,2-4: "Considerai-vos afortunados, irmãos, quando passais por toda a espécie de provações. Essas provações desenvolvem a capacidade de suportar, e a capacidade de suportar deve tornar-se perfeita, se quisermos ser perfeitos, completos, sem faltar em nada.".

O sofrimento tem o seu programa, o seu objetivo e o seu fim. Na realidade, temos de compreender que, embora todos tenhamos sofrido por razões diferentes, só há dois tipos de sofrimento: o que destrói e o que constrói. Em 2 Coríntios 7, 10 São Paulo, o grande teólogo do sofrimento, diz-nos: "A dor que vem de Deus leva ao arrependimento e realiza uma obra de salvação que não se perderá. Pelo contrário, a tristeza que inspira o mundo causa a morte".

Nos ensinamentos de S. Paulo, ele exorta constantemente a viver um sofrimento que edifica, encontrando benefícios misteriosos. Entre eles, o seu dom de espiritualizar a vida e de experimentar o conforto de Deus. As provações obrigam-nos a sair das superficialidades e a aprofundar a nossa introspeção. O sofrimento humano é o grande purificador das consciências e das intenções, e é o domínio onde o amor é posto à prova. Embora o sofrimento pareça parar e paralisar-nos, na realidade o seu maior objetivo é fazer-nos passar de uma realidade inacabada ou imperfeita para uma realidade mais significativa. Cabe-nos a nós aceitar o desafio com coragem e fé até encontrarmos os seus objectivos sobrenaturais.

Pior do que sofrer seria sofrer em vão

O sofrimento vivido através de provações ou feridas deixa marcas ou recompensas, pois essa prova pode servir de trampolim para uma vida cheia de infortúnios, más decisões ou desequilíbrios emocionais, ou para uma nova vida reorganizada, melhor hierarquizada e transformada. 

Cada provação é uma paragem na vida. Já não podemos continuar a viver em piloto automático, porque agora a estrada segura foi interceptada e, de repente, divide-se em dois caminhos incertos. Não há sinais de trânsito específicos nem placas de sinalização claras: resta-nos discernir ou adivinhar. Se escolhermos mal, haverá mais dor, perda, desgaste, doença, escravatura ou, em casos extremos, um desejo de morte.

Mas se escolhermos bem, fazemos um balanço das reservas de bens, de saúde, de recursos emocionais e espirituais. Conscientes desses recursos ao nosso alcance, reposicionamo-nos, optamos por mudanças positivas que nos aproximam das conclusões vitoriosas e das bênçãos escondidas. É este caminho que conduz às mudanças necessárias, à revitalização e à reintrodução na normalidade, numa tentativa ativa de minimizar as perdas e maximizar os ganhos. 

Os tempos difíceis são tempos para enfrentar o imprevisível.

Não podemos continuar desatentos, apáticos ou indiferentes. Devemos agora dedicar-nos a polir as velhas virtudes e a manifestar os novos dons adquiridos, pois o esforço é duplo quando a tenacidade, a coragem, o discernimento, a resiliência, a paciência e a perseverança devem ser acrescentados a cada atividade. A tarefa é salvarmo-nos de danos físicos e psicológicos, e ainda ter a força e a vontade de salvar os outros na nossa órbita pessoal.

Pode aceitar muita coisa sem ter de compreender tudo

Os seres humanos podem demonstrar uma extraordinária capacidade de resiliência perante as mais cruéis adversidades. Muitas das experiências da vida não fazem sentido lógico ou não têm uma explicação razoável na altura. É por isso que não podemos estar sempre com tanta pressa: com calma, podemos decompor, analisar, medir e pesar com mais exatidão.

Temos que nos aliar ao tempo para permitir que ele tire as suas conclusões sem as nossas interrupções bruscas ou precipitadas. No final deste processo, aperceber-nos-emos de que tudo foi orientado para um objetivo maior que reclamou o seu tempo nos nossos calendários e esquemas, e que pode não ter em conta as preferências individuais ou as vontades superiores. 

No rescaldo de cada tragédia, imagens icónicas serão imortalizadas e permanecerão nas nossas memórias durante anos. Serão difíceis de esquecer. A questão é saber se nos lembraremos com a mesma facilidade das grandes e valiosas lições que devemos gravar em cada imagem ou acontecimento que vivemos. Vamos enumerar algumas das que devem ficar tatuadas na nossa alma. 

Podemos aprender

- Que ainda há muitas pessoas boas no mundo. Os bons não são apenas os santos, os sãos e virtuosos, mas também aqueles que tencionam tomar a dianteira na calamidade que se aproxima e investir os seus melhores esforços para se ajudarem a si próprios e aos outros, mesmo sem esperar uma recompensa justa. 

- Que o ser humano não se transforma facilmente com discursos, exortações, resoluções, mas com novas virtudes que transformam os seus paradigmas internos e a sua essência. É do manancial das virtudes que brotam as grandes ideias, os nobres projectos, os melhores comportamentos suportados pelas mais sublimes intenções. 

- Essas provações despertam a nostalgia para começarmos a amar mais o que abandonámos, desperdiçámos ou esbanjámos por sermos ingratos ou maus guardiões do que tínhamos como garantido. 

- Esse confinamento físico silencia o burburinho do mundo para que as vozes do interior possam falar, vozes que tantas vezes tentaram avisar-nos a tempo, mas estávamos tão distraídos e ofuscados que não as ouvimos. 

- Que o coração é oxigenado com amor e não há substituto. 

- Que pudéssemos viver com menos dinheiro, menos diversão, menos ódio, menos divisão, menos guerra, crime, egoísmo, violência; com menos sentimento de acumulação ou de merecimento. 

- Mas não podemos viver sem mais ligações emocionais, sem mais fé, sem mais esperança, sem mais resiliência, objetivo comum, colaboração e esforço comunitário.

- Podemos descobrir que os melhores antídotos para o sofrimento são o perdão, a reconciliação, a reorientação e a redefinição, a fim de passarmos da angústia e da amargura para a paz. E a paz é a ponte para a saúde emocional e a felicidade.

- E, acima de tudo, podemos chegar à conclusão unânime de que não podemos viver sem Deus, sem a oração, sem as nossas buscas e encontros espirituais. 

Compreendemos que a nossa vida antes da provação era metade saudável e metade insensata. Perdemos muito tempo a tentar alimentar um coração insaciável que, ao perseguir o supérfluo e o temporário, se esqueceu de procurar a soberania da verdade. Podemos agora apreciar que a coisa mais urgente na vida é viverAcima de tudo, com qualidade de vida, nem que seja só por mais uns dias.

Esta é a grande luta antropológica e psicológica que travamos todos os dias, consciente ou inconscientemente. E tal como lutamos pelo direito ao último suspiro, porque não lutar mais pelo direito de cada criatura ao primeiro batimento cardíaco? 

As provações não são castigos de Deus, mas confianças de Deus. 

Com o sofrimento, Deus confia-nos momentos agudos, porque conhece as nossas reservas, forças e dons que podemos ativar na correria da vida. É um convite a conhecer uma nova definição de milagre: é tão milagroso amar a vida mesmo no meio da dor como ser libertado do sofrimento. 

Conservemos, pois, a quietude, que é o distintivo e o bilhete de identidade dos sãos e dos santos. A quietude pode ser um movimento anónimo ou invisível, pois enquanto estamos fisicamente parados, tudo o que sempre se quis manifestar é mobilizado. Quantas vezes tentamos evitar a dor, mas que dom único ela tem para transformar velhas identidades e esculpir novas essências! Esquecemo-nos que a natureza é mãe, que concebe e corrige, por vezes com paciência e doçura, e por vezes com dureza quando respondemos com rebeldia desafiadora? 

Temos de adquirir o dom de atribuir um objetivo a todas as experiências da vida, para as transformar em lições valiosas ou em bênçãos escondidas. 

Não desperdicemos mais lágrimas e sacrifícios. Comecemos a consagrar tudo aos desígnios sobrenaturais de Deus, pois o desígnio é o mais eficaz calmante e mitigador de toda a dor e sofrimento. Deixemos, pois, que o silêncio nos fale e que os corações humanos comecem a respirar sem máscaras. O convite é para que todos nós aprendamos finalmente a sofrer para aprender a viver! E lembremo-nos de que, afinal, há uma esperança maior.

O autorMartha Reyes

Doutoramento em Psicologia Clínica.

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Vaticano

Papa despede-se de Singapura num encontro com jovens

O Papa Francisco terminou a sua viagem apostólica num encontro inter-religioso com jovens em Singapura. Durante o seu discurso, o Santo Padre reiterou a responsabilidade das novas gerações na construção de um mundo fraterno.

Hernan Sergio Mora-13 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Com um horário perfeito e céu parcialmente nublado, o voo A350 da Singapore Airlines descolou às 18h25 locais, transportando o Papa Francisco e a delegação de jornalistas e assistentes que o acompanharam a Roma. Ásia e Oceânia.

Termina assim a histórica viagem de 12 dias, iniciada a 2 de setembro, em que o Pontífice peregrinou pelo Sudeste Asiático, onde fez sentir a proximidade da Igreja, confirmou a fé dos fiéis católicos e encorajou-os a prosseguir o seu caminho.

Amor ao próximo e harmonia entre as religiões

Durante a sua estadia na Indonésia, Francisco elogiou a coexistência inter-religiosa no país, onde os católicos representam apenas 3 % da população. Durante a sua estada na Indonésia, Francisco elogiou a coexistência inter-religiosa no país, onde os católicos constituem apenas 3 % da população, e assinou uma declaração juntamente com o principal representante islâmico do país, na qual reiterou a rejeição da manipulação política e da violência em nome da religião.

Na Papua Nova Guiné, o Santo Padre apelou à equidade, à paz e ao cuidado da terra. Em Timor-Leste, um país de maioria católica e com 65 % de jovens, apelou ao cuidado com os mais pequenos. Por fim, em Singapura, sublinhou que os edifícios gigantescos e o dinheiro de nada servem se não houver amor a Deus e ao próximo por detrás deles.

Durante as suas últimas horas em Singapura, o Papa teve um encontro privado com o Cardeal William Seng Chye Goh, sacerdotes e pessoas consagradas no centro de retiros "São Francisco Xavier".

Neste último dia, o Santo Padre esteve próximo e acariciou um grupo de idosos e doentes no Lar de Santa Teresa, onde estavam também presentes o Arcebispo Emérito de Singapura, Nicholas Chia Yeck Joo, três sacerdotes e uma religiosa.

O Papa despede-se dos jovens

Em seguida, Francisco participou num encontro inter-religioso com jovens no "Dia de Oração do Papa".Colégio Católico Júnior". Nesta instituição, os alunos de escolas católicas afiliadas frequentam um curso pré-universitário de dois anos que os prepara para o exame Cambridge GCE Advanced Level.

A alegria destes estudantes que agitavam a bandeira, envergando os seus uniformes universitários, fez-se sentir desde o primeiro momento com aplausos. Um grupo de rapazes depositou uma coroa de flores para o Papa e outros jovens portadores de deficiência executaram uma dança coreografada. Para além do Bispo de Roma, o evento contou com a presença de vários líderes de diferentes confissões religiosas.

O Cardeal William Goh, presente na reunião, descreveu o trabalho da Igreja com outras religiões como "Natal inter-religioso". "Singapura esforça-se por ser um ícone da harmonia inter-religiosa no mundo", afirmou. Em seguida, um jovem hindu, um jovem sikh e um jovem católico deram o seu testemunho aos presentes.

No seu discurso, o Papa Francisco disse estar feliz "por passar a última manhã da minha visita a Singapura convosco, entre tantos jovens, reunidos na unidade e na amizade. Este é um momento precioso para o diálogo inter-religioso!

Construir um mundo fraterno

O sucessor de Pedro quis ainda sublinhar "três palavras que podem acompanhar-nos a todos neste caminho de unidade: coragem, partilha e discernimento".

"Coragem" para "manter uma atitude corajosa e promover um espaço onde os jovens possam entrar e falar". Depois, "partilha", porque "há muitos debates sobre o diálogo inter-religioso... nem sempre bem sucedidos". No entanto, o que "derruba muros e encurta distâncias não são tanto as palavras, os ideais e as teorias, mas sobretudo a prática humana da amizade, do encontro, do olhar nos olhos".

"E acrescento uma coisa", disse o Pontífice, "pensando sobretudo em vós, jovens, que frequentais muito o mundo digital: por vezes, as diferenças culturais e religiosas são utilizadas de forma polarizada e ideológica e sentimo-nos divididos e distantes daqueles que são diferentes, simplesmente porque somos influenciados por clichés e certos preconceitos que também encontram espaço nas redes sociais".

Por fim, o "discernimento", uma "arte espiritual" que é mais necessária do que nunca "face aos desafios da inteligência artificial", e que permite também "a capacidade de captar a verdade escondida, por vezes mascarada por muitas ilusões ou notícias falsas".

"Continuem neste caminho", exortou o Santo Padre aos jovens, "continuem a sonhar e a construir um mundo fraterno, cultivem a unidade recorrendo à riqueza das vossas religiões". E aos jovens cristãos recordou-lhes: "o Evangelho centra-se no amor de Deus por cada um de nós, um amor que nos convida a ver no rosto de todos os outros um irmão a amar".

O intenso encontro terminou com a leitura de um apelo ao empenhamento na unidade e na esperança e com um momento de oração silenciosa. O Papa Francisco saudou os 10 líderes de outras religiões presentes no encontro e partiu para o aeroporto para apanhar o avião para Roma, onde se espera que o Pontífice chegue por volta das 18h30 (hora local).

O autorHernan Sergio Mora

Ecologia integral

Tudo o que não querem que saibas sobre a Igreja Católica

É mais fácil concentrarmo-nos no que é mau do que no que é bom, e é por isso que muitas vezes ignoramos todo o bem que a Igreja traz à sociedade através dos esforços dos católicos em todo o mundo, desde o Papa Francisco até aos leigos em aldeias remotas.

Paloma López Campos-13 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

De vez em quando, uma notícia polémica sobre a Igreja Católica chega às manchetes dos jornais. Em muitos casos, as informações veiculadas nas notícias estão carregadas de factos que prejudicam a imagem desta instituição. Abusos, textos enganosos, fraudes... Há histórias reais que mancham o nome do Corpo de Cristo.

No entanto, há um estranho silêncio em torno de todas as coisas positivas que a Igreja e os seus membros fazem todos os dias. Não existe uma balança que permita equilibrar o bom e o mau, mas é seguro dizer que há certas coisas sobre a Igreja que algumas pessoas não estão interessadas em publicar.

A Caritas e o seu trabalho internacional

Por exemplo, o trabalho da "Cáritas"a nível internacional. De acordo com o relatório publicado por esta organização católica, em 2022 ajudaram mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo em situações de emergência. Investindo cerca de 81 milhões de euros, a "Caritas" levou ajuda à Ucrânia, à República Centro-Africana, ao Paquistão, à Síria e à Venezuela, entre outros locais.

Através do seu trabalho, a Caritas presta cuidados de saúde, ajuda a reconstruir zonas destruídas por catástrofes naturais ou conflitos armados ou satisfaz as necessidades básicas de milhões de pessoas em todo o mundo.

O seu trabalho é bem conhecido e há testemunhos em praticamente todos os países de pessoas cuja vida melhorou graças à intervenção desta organização eclesiástica.

O Papa Francisco e o cuidado com os pobres

O Papa fala frequentemente dos pobres. No entanto, a sua preocupação não se fica pelas palavras. O Pontífice tem uma multiplicidade de iniciativas para ajudar os pobres.

Desde os chuveiros instalados no Vaticano, passando por um padre e uma legião de voluntários que distribuem alimentos por Roma, até às refeições que o Santo Padre organiza para os pobres na sua própria cantina.

É comum os meios de comunicação social criticarem o Papa Francisco, acusando-o de falar mas não de agir. A verdade é que a Igreja, liderada por Francisco, está constantemente a disponibilizar recursos para ajudar os pobres, os migrantes, os idosos e outras pessoas vulneráveis em todo o mundo.

Cristãos que apoiam outros cristãos

"Ajuda à Igreja em situação de necessidade"é uma fundação pontifícia que ajuda a Igreja Católica no seu trabalho. De acordo com os dados publicados pela organização, cerca de 6000 projectos em 150 países beneficiam do seu apoio.

A "Ajuda à Igreja que Sofre" calcula que 62 % da população vive em zonas onde não existe liberdade religiosa. Através da sua ação, a fundação apoia o trabalho pastoral da Igreja em muitos países. As contribuições financeiras dos seus benfeitores são utilizadas para a construção ou reparação de igrejas, a formação dos leigos na sua fé, o fornecimento de meios de transporte para os agentes pastorais, etc.

No entanto, esta não é a única organização na Igreja que tem como objetivo cuidar de outros católicos, mas há milhares de pessoas que se esforçam por apoiar e sustentar outros membros do Corpo de Cristo.

A educação, um bem para todos

Historicamente, a Igreja Católica sempre procurou promover a educação. Embora tenha havido ocasiões em que se verificaram mal-entendidos e choques entre os domínios da ciência e da fé, não é menos verdade que a Igreja sempre quis proteger e promover a cultura.

O número de instituições educativas dependentes da Igreja Católica é da ordem dos milhares, e o mundo universitário assume particular relevância. Numa nota de 1994, o Dicastério para a Cultura e a Educação recorda que "a universidade e, mais amplamente, a cultura universitária constituem uma realidade de importância decisiva. No seu âmbito, estão em jogo questões vitais e profundas transformações culturais, com consequências desconcertantes, dão origem a novos desafios. A Igreja não pode deixar de os considerar na sua missão de anunciar o Evangelho".

Não é de estranhar, portanto, que milhões de pessoas tenham acesso à cultura e à educação graças à Igreja Católica, que está presente em todo o mundo e desenvolve actividades educativas em quase todos os países.

A Igreja diz "sim" à vida

A defesa da vida é uma constante na Igreja. O ponto 2258 do Catecismo afirma que "a vida humana deve ser considerada sagrada, porque desde o seu início é fruto da ação criadora de Deus e permanece sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é Senhor da vida desde o seu início até ao seu fim (...)".

É claro que isto não fica na carta. A Igreja utiliza instituições e recursos para proteger e promover a vida em todo o mundo. Desde hospitais a lares para crianças sem pais, passando por instituições que ajudam mães em situações desfavorecidas, onde quer que haja uma presença católica, há também um sistema que quer cuidar da vida.

Os dados

Para verificar tudo isso, basta olhar para os dados que, desde que o Papa Francisco chegou à Sé de São Pedro, eles tentaram publicar com total transparência. Em Omnes pode encontrar vários artigos em que os números publicados pelo Vaticano são discriminados e explicados.

Embora não sejam o mais importante, os números ajudam sempre a ter uma ideia clara. Eis um número significativo: de acordo com os últimos dados publicados, a instituição de caridade do Papa financiou 236 projectos no valor de 45 milhões. Projectos em todo o mundo que ajudam milhões de pessoas e que não são noticiados pelos meios de comunicação social.

É aí que reside uma grande parte do que eles não querem que saibam sobre a Igreja Católica, que, sendo constituída por pessoas, tem defeitos, mas também tem membros cujo objetivo é cuidar dos outros e amar o próximo.

Estados Unidos da América

Scott Elmer: "Durante o processo sinodal, as pessoas em Denver aprenderam a rezar".

Nesta entrevista à Omnes, Scott Elmer, responsável pelas missões da Arquidiocese de Denver, afirma que a comunidade católica viveu um processo sinodal rico para os pastores e os fiéis do povo.

Gonzalo Meza-13 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Denver é conhecida não só pela sua beleza natural (que atrai milhares de turistas), mas também pela sua vida cultural, economia próspera e, do ponto de vista da fé, pela marca que deixou na Igreja a nível nacional.

A Arquidiocese de Denver tem sido o viveiro de muitos apostolados leigos e movimentos que têm tido um impacto na vida eclesial do país. Alguns deles nasceram na sequência da Jornada Mundial da Juventude e da visita do Papa João Paulo II em agosto de 1993.

Para saber mais sobre a Arquidiocese de Denver e o seu trabalho, Omnes entrevistou o Dr. Scott Elmer, Chefe das Missões da Arquidiocese. É casado e tem cinco filhos. Tem um mestrado em Teologia Sistemática pelo Augustine Institute e um doutoramento em Ministério pela Catholic University of America. O seu trabalho consiste em supervisionar os esforços de evangelização, a formação da fé e os departamentos curiais, de modo a que estejam alinhados com a missão da Arquidiocese.

Em termos de comunidades culturais e étnicas, qual é a composição da Arquidiocese?

- Existem diferentes grupos étnicos na arquidiocese, mas os três principais são os caucasianos, os latinos e os vietnamitas. De um modo geral, metade da população é latina, de várias gerações. Muitos são bilingues. Temos também uma comunidade vietnamita bastante grande e continuamos a ter imigrantes de diferentes partes do mundo.

Como é que esta presença étnica em Denver evoluiu?

- Em geral, Denver é uma cidade muito caucasiana em comparação com outras cidades. No entanto, a partir da década de 1990, começaram a chegar grandes grupos de imigrantes latinos, pelo que nos tornámos cada vez mais latinos. Também a presença vietnamita tem sido estável, embora tenhamos cada vez mais grupos étnicos vindos de diferentes partes de África.

Quais são os principais apostolados ou movimentos laicais em Denver?

- Em termos de movimentos eclesiais laicais, o Movimento Familiar Cristão é o mais importante. Contamos também com a presença de "Renovación Carismática", "Centro San Juan Diego", "Prevención y Rescate" (apostolado de ajuda a pessoas e famílias em situação de toxicodependência e gangues), "Adoración Nocturna", "Cursillos de Cristiandad", "FOCUS" e "Families of Character" (dedicado ao apoio a pais com filhos).

Temos também muitos apostolados que nasceram em Denver, estão sediados aqui e tiveram um grande impacto em todo o país. Por exemplo, o "Augustine Institute", "Paróquia fantástica"(um apostolado que visa fornecer ferramentas para ajudar as paróquias) ou "Vida real católica"(ministério dedicado à evangelização na era moderna), entre outros.

Como foi a experiência diocesana com o Sínodo dos Bispos?

- Foi uma experiência muito bonita. Não me recordo do número, mas participaram milhares de pessoas de paróquias e movimentos eclesiais laicais. Houve muitas sessões paroquiais dedicadas à escuta. Os nossos párocos fizeram um trabalho admirável, disponibilizando as paróquias para o efeito. O que fizemos foi basicamente escutar o Senhor, considerando em discernimento o que Ele nos dizia.

Em termos práticos, foi pedido às pessoas que meditassem sobre algumas questões relacionadas com a nossa missão, por exemplo: qual é o papel e a missão de um discípulo, qual é a missão da família, da paróquia e da arquidiocese? De facto, estas eram questões que já estávamos a trabalhar. As respostas deram-nos muita informação, mas também confirmação, afirmação e encorajamento em todo o processo.

Depois tivemos um grande Sínodo de três dias com dois representantes de cada paróquia. Tivemos cerca de 400 ou 500 pessoas com os seus párocos. Nessas sessões, recolhemos as respostas, resumimo-las e voltámos a meditá-las. Esta foi a base do relatório que foi enviado à Conferência Episcopal.

Como é que as pessoas se sentiram ao participar neste processo sinodal?

- Estavam felizes e entusiasmados. Disseram que era muito significativo participar e fazer parte de "algo maior" do que a sua paróquia. Penso que um dos principais benefícios foi o facto de as pessoas sentirem que aprenderam a rezar e a meditar em conjunto sobre determinados assuntos. Por isso, a receção foi muito positiva.

Como foi a experiência em Denver com o Reavivamento Eucarístico?

- A nível diocesano, organizámos grupos da cúria para visitar os nossos decanatos, paróquias, algumas periferias e definir os nossos objectivos para o Renascimento Eucarístico. O processo foi semelhante ao do Sínodo diocesano: tínhamos representantes de todas as comunidades, paróquias e movimentos. Houve também palestras e, naturalmente, tempo de oração.

O Arcebispo celebrou uma missa na qual encarregou as pessoas de irem às paróquias e de as ajudarem no processo. Isto ajudou-as a prepararem-se para a fase paroquial do Reavivamento Eucarístico. Durante o ano e a fase paroquial, criámos locais de peregrinação centrados em algum aspeto da Eucaristia. Assim, nestas paróquias foram montados painéis com material sobre os milagres eucarísticos. Nalgumas ocasiões, os oradores fizeram uma palestra, seguida de um momento de adoração ou de missa. Por exemplo, numa ocasião, o Dr. Ben Aekers, professor do Instituto Agostinho, falou na paróquia do Preciosíssimo Sangue sobre a Eucaristia como sacrifício.

Além disso, a peregrinação eucarística nacional atravessou Denver de 7 a 9 de junho. Houve várias procissões eucarísticas no centro da cidade, bem como adoração e oportunidades de serviço na cidade. E durante o Congresso Eucarístico Nacional houve um contingente da arquidiocese.

Na sua perspetiva de marido cristão, casado há onze anos e com cinco filhos, o que diria a uma pessoa que está a considerar o casamento como a sua vocação?

- Procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o resto vos será dado. Só há uma coisa que será importante no final: a sua relação com Deus. Se o nosso coração estiver certo e O procurarmos, o Seu plano desenrolar-se-á. Ele ocupar-se-á de todas as coisas que lhe dizem respeito. Não sacrifique nenhum aspeto da sua relação com Deus, porque Ele quer o melhor para nós e nós temos de confiar n'Ele.

Vaticano

O Papa Francisco reúne mais de 50.000 pessoas em Singapura

No penúltimo dia da sua mais longa viagem apostólica, o Papa Francisco teve uma agenda intensa em Singapura, com dois grandes eventos: um encontro com as autoridades e o corpo diplomático no Parlamento e uma missa no estádio Sports Hub.

Hernan Sergio Mora-12 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

O Santo Padre foi acolhido pelo Presidente da República, Tharman Shanmugaratnam, participando na "Cerimónia de Nomeação das Orquídeas", uma homenagem floral simbólica que simboliza o caloroso acolhimento de Singapura. Apesar das condições atmosféricas adversas, foi uma cerimónia bonita, com a Guarda de Honra em posição e os hinos nacionais.

No Livro de Honra, o Papa escreveu: "Como a estrela guiou os Reis Magos, assim a luz da sabedoria guie sempre Singapura na construção de uma sociedade unida, capaz de transmitir esperança".

Depois deste encontro no Parlamento, o Santo Padre dirigiu-se ao Centro Cultural Universitário da prestigiada Universidade Nacional de Singapura (NUS), onde o esperavam mais de mil pessoas, entre líderes religiosos, diplomatas, homens de negócios e representantes da sociedade civil.

Singapura, entre a harmonia e a exclusão social

Francisco dirigiu-se à assembleia, começando por reconhecer que "Singapura é um mosaico de etnias, culturas e religiões que vivem juntas em harmonia". Em seguida, elogiou o facto de o país "não só ter prosperado economicamente, mas ter-se esforçado por construir uma sociedade em que a justiça social e o bem comum são altamente valorizados".

"A este respeito", advertiu o Pontífice, "gostaria de chamar a atenção para o risco" que a meritocracia comporta como "consequência não intencional" de "legitimar a exclusão daqueles que estão à margem dos benefícios do progresso".

O Pontífice abordou também o problema das "sofisticadas tecnologias da era digital e da rápida evolução do uso da inteligência artificial" e o perigo de "nos fazer esquecer que é essencial cultivar relações humanas reais e concretas" e que estas tecnologias "podem ser aproveitadas precisamente para nos aproximar uns dos outros, promovendo a compreensão e a solidariedade, e não para nos isolarmos perigosamente numa realidade fictícia e impalpável".

A Igreja em Singapura

O Santo Padre não esqueceu o trabalho que "a Igreja Católica em Singapura, desde o início da sua presença, tem oferecido", especialmente "nos sectores da educação e da saúde, graças aos missionários e aos fiéis católicos". Porque "animada pelo Evangelho de Jesus Cristo, a comunidade católica está também na vanguarda das obras de caridade".

Além disso, a Igreja - continuou o Pontífice, recordando a declaração "Nostra Aetate" do Concílio Vaticano II sobre as relações com as religiões não cristãs - tem promovido constantemente o diálogo inter-religioso e a colaboração entre as diferentes comunidades religiosas.

O Papa aproveitou a ocasião para sublinhar que a instituição da família, hoje em dia questionada, "deve estar em condições de transmitir os valores que dão sentido e forma à vida e de ensinar os jovens a formar relações sólidas e sãs".

Francisco concluiu elogiando o "compromisso de Singapura com o desenvolvimento sustentável e a proteção da criação é um exemplo a seguir, e a procura de soluções inovadoras para os desafios ambientais pode encorajar outros países a fazer o mesmo".

Depois do encontro no Estado, o Santo Padre regressou à Casa de Retiros "São Francisco Xavier", onde se encontra hospedado. Aí teve um encontro com o antigo Primeiro-Ministro de Singapura, Lee Hsien Loong e a sua esposa.

À tarde, às 16 horas, as portas do estádio nacional "Sports Hub" reabriram-se para acolher o Pontífice. Mais de 55.000 fiéis aguardavam ansiosamente a Santa Missa em memória do Santíssimo Nome de Maria.

O Papa Francisco entrou no estádio coberto num carro e abençoou várias crianças visivelmente emocionadas, no meio de aplausos e cânticos alegres.

Durante a missa, as orações dos fiéis foram recitadas em inglês, chinês, tâmil e malaio, reflectindo o coração pulsante de uma nação que é uma encruzilhada de culturas.

Na sua homilia, o Santo Padre inspirou-se em S. Paulo para recomendar o cultivo da comunhão na caridade: "A ciência enche de orgulho, mas o amor edifica". É uma comunhão pela qual Francisco quis agradecer ao Senhor, porque é o que vive a Igreja de Singapura, "rica de dons, viva, crescente e em diálogo construtivo com outras confissões e religiões".

Comentando as "construções impressionantes" no país asiático, Francisco sublinhou que estas "não são, como muitos pensam, antes de mais, dinheiro, tecnologia ou engenharia - todos meios úteis - mas amor: 'o amor que constrói'".

Mas, mais importante do que isso, o Bispo de Roma destacou as "muitas histórias de amor a descobrir: de homens e mulheres unidos em comunidade, de cidadãos dedicados ao seu país, de mães e pais preocupados com as suas famílias, de profissionais e trabalhadores de todos os tipos e níveis, honestamente empenhados nas suas diferentes funções e tarefas".

"Caros irmãos e irmãs", acrescentou o Pontífice, "se há algo de bom que permanece neste mundo, é apenas porque, em infinitas e diversas circunstâncias, o amor prevaleceu sobre o ódio, a solidariedade sobre a indiferença, a generosidade sobre o egoísmo".

Recordando a visita de São João Paulo II a Singapura em 1986, o Papa citou uma das suas frases: "O amor caracteriza-se por um profundo respeito por todas as pessoas, independentemente da sua raça, do seu credo ou do que as torna diferentes de nós".

Na sua homilia, o Papa Francisco quis também recordar as figuras dos santos, "conquistados pelo Deus da misericórdia, a ponto de se tornarem o seu reflexo". Destacou especialmente "Maria, cuja memória do Santíssimo Nome celebramos hoje" e São Francisco Xavier, acolhido em Singapura poucos meses antes da sua morte, que numa bela carta diz que gostaria de "gritar aqui e ali como um louco e abanar aqueles que têm mais conhecimento do que caridade".

Após a homilia, o Papa abençoou todos os presentes e a cerimónia terminou diante da estátua de Maria, com o canto da Salve Regina.

O longo dia do Santo Padre terminou às 19:35, hora local, com um jantar privado no seu alojamento na Casa de Retiros São Francisco Xavier, para descansar do cansaço físico, mas também com a alegria de levar esperança, deixando uma marca profunda no coração de milhões de pessoas.

O autorHernan Sergio Mora

Recursos

Carlos Manuel Cecilio Rodríguez: um amante da liturgia

A vida do primeiro beato porto-riquenho é marcada pelo seu amor à divina liturgia e pelo seu constante apostolado neste caminho de amor a Deus.

P. José Gabriel Corazón López-12 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Carlos Manuel, o primeiro beato porto-riquenho, nasceu a 22 de novembro de 1918 em Caguas, R.P. É o segundo de cinco filhos do casamento de Manuel Baudilio Rodríguez Rodríguez e Hermina Santiago Esterás.

Alguns meses após o seu nascimento, a casa e o negócio do pai arderam. Na sequência deste incidente, a família muda-se para casa dos avós maternos.

A sua avó materna, Alejandrina, foi uma grande influência na sua vida de fé e piedade, herdando o altar da sua casa onde passava o seu tempo em oração.

A sua vida quotidiana, desde criança, porque assim aprendeu, estava centrada na vida litúrgica e na Eucaristia, que se tornou o centro da sua vida. Indo para a sua paróquia, na cidade de Caguas, começou a envolver-se na vida pastoral.

Como acólito, entrou em contacto mais direto com a liturgia e apaixonou-se por ela, especialmente pela Vigília Pascal. Passa a ter uma grande estima pela celebração da Páscoa e do Domingo, descobrindo a centralidade de Cristo ressuscitado na vida cristã. Poderíamos dizer que ele desenvolve e vive uma espiritualidade litúrgico-pascal.

Espiritualidade litúrgica

A espiritualidade litúrgica é, ou deveria ser, uma espiritualidade pascal, porque a liturgia celebra o mistério pascal. Para o Beato Carlos, a Páscoa tornou-se uma experiência vital para o cristão, mas para isso era preciso "entrar na coisa". É uma experiência vital para o cristão, segundo a conceção que se tem da vida cristã ou católica.

Carlos Emmanuel definiu a vida católica com as seguintes palavras: "A vida católica é algo de único, é uma participação tremenda na nova ordem inaugurada pela morte e ressurreição de Cristo; é uma vida no sentido mais profundo, mais verdadeiro e mais pleno da palavra; Cristo vivendo em nós". O modo como esta vida é alimentada e aprofundada é através da liturgia.

Consciente de que "a liturgia é para o povo e não para um grupo seleto de eruditos", dedicou-se a promover a vivência litúrgica em Porto Rico. Para promover a vivência correta da liturgia, tornou-se um autodidata. Devido aos seus problemas de saúde, não pôde completar os seus estudos universitários, mas isso não o impediu de aprender sobre a Igreja, especialmente sobre este tema que o apaixonava tanto. Leu e estudou os escritos do seu tempo sobre o assunto, promoveu a aplicação das reformas litúrgicas de Pio XII e assinou revistas e estudos da época. O que aprendia dava-o a conhecer através do seu apostolado.

O Círculo de Cultura Cristã

O P. Carlos Manuel exerceu o seu apostolado através da amizade e do acompanhamento, sobretudo dos visitantes do Centro Universitário Católico, e da correspondência. Inscreveu-se em diversas pessoas para receber artigos sobre liturgia e formação religiosa em geral. Além disso, no Centro Universitário, fundou um boletim chamado Liturgia, o Círculo de Cultura Cristã e as "Jornadas de Vida Cristã".

O Círculo de Cultura Cristã é descrito pelo próprio Carlos Manuel numa carta sobre o assunto: "O Círculo de Cultura Cristã é um grupo de estudantes profissionais que funciona no Centro Universitário Católico Puertorriqueño. Os objectivos gerais do Círculo são:
Capacitar os seus membros para se tornarem intelectuais católicos e apostólicos.
Trabalhar para a restauração e renovação de uma cultura verdadeiramente cristã.
Trabalhar para a realização dos ideais do Movimento Litúrgico".

As "Jornadas de Vida Cristã" são ocasiões de encontro, de partilha e de formação. O tempo era repartido entre a oração, o divertimento, a formação e a conversa. Cada encontro girava em torno de um tema, quer se tratasse do tempo litúrgico vivido ou de questões actuais como o secularismo. A ideia era ajudar as pessoas a compreender como viver cada mistério da Igreja.

A Vigília Pascal

Por fim, propagou a importância de celebrar a Vigília Pascal respeitando o seu tempo e a sua estrutura. Numa carta intitulada "Não estraguemos a Vigília Pascal", Carlos Manuel afirma a centralidade desta noite, a importância de a celebrar de acordo com as regras para não criar uma mentalidade errada nos fiéis, entre outros.

A sua defesa da vigília pascal deriva do seu pensamento de que a liturgia era para o Povo Santo de Deus, que todos a podiam compreender e que, como centro da vida cristã, devia ser promovida como meio de apostolado.


Charles Emmanuel morreu a 13 de julho de 1963, vivendo a sua Páscoa pessoal. Procura o Deus vivo enquanto vive a noite escura da alma e recupera a sua serenidade quando redescobre a palavra que tem um grande significado para ele: Deus. Encontra o Deus vivo, o Ressuscitado, depois de ter sofrido durante muitos anos de uma doença gastrointestinal: a colite ulcerosa, que ele não manifestava. Viveu a sua vida tentando fazer com que os outros se apaixonassem pela alegria do Ressuscitado e pela centralidade da liturgia para a vida cristã.

O autorP. José Gabriel Corazón López

Evangelho

O verdadeiro ganho. 24º Domingo do Tempo Comum (B)

Joseph Evans comenta as leituras do 24º Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera apresenta uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-12 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Algumas seitas protestantes oferecem o chamado "evangelho da prosperidade". Trata-se de uma mensagem falsa que proclama que, se seguir essa seita e fizer um donativo financeiro (!), Deus o abençoará mesmo em termos terrenos. Em termos simples, a sua forma de cristianismo torná-lo-á rico. Esta mensagem enganosa vem de uma leitura muito selectiva da Bíblia, ignorando os ensinamentos do Novo Testamento que alertam para os perigos da riqueza material e concentrando-se, em vez disso, numa série de textos do Antigo Testamento cuidadosamente escolhidos que parecem mostrar a prosperidade mundana como uma recompensa pela justiça e por seguir a Deus.

O Evangelho de hoje é o oposto de um "Evangelho da Prosperidade" e é precisamente Pedro, o primeiro Papa, que teve de aprender essa lição da pior maneira. Pedro tinha acabado de ser elogiado por Jesus por ter acertado no seu estatuto divino e messiânico. O apóstolo tinha declarado corretamente que Jesus era "o Cristo" (e o relato paralelo em Mateus acrescenta: "o Filho do Deus vivo"). Mas, talvez entusiasmado com o seu êxito, Pedro põe-se logo de seguida a caminho, impetuosamente, para tentar impedir Jesus de ir à sua Paixão.

O Senhor, ao ver os discípulos à sua volta (note-se este pormenor), tem de agir com firmeza para que essa visão errada não ganhe terreno. "Jesus voltou-se e disse a Pedro: "Afasta-te de mim, Satanás! Tu és uma pedra de tropeço para mim, porque pensas como os homens e não como Deus'". O desejo de evitar o sofrimento - uma religião cómoda e próspera - é uma contradição do cristianismo, que é precisamente uma religião da Cruz. Como o sofrimento é uma consequência do pecado, Cristo - e o cristão - deve entrar no sofrimento para vencer o pecado. 

Pedro, que acertou tanto como primeiro Papa, erra completamente como homem individual. O seu pensamento é humano, não divino. Nosso Senhor insiste então: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, achá-la-á". O cristianismo não tem a ver com ganhos terrenos; tem a ver com perdas terrenas. Se alguém tentasse fazer com que colocássemos o conforto e os ganhos terrenos em primeiro lugar, diluindo assim as exigências do cristianismo, quer fosse outra pessoa ou simplesmente a nossa própria fraqueza, talvez tivéssemos de responder também com a energia de Cristo: "Põe-te atrás de mim, Satanás!

Homilia sobre as leituras de domingo 24º Domingo do Tempo Comum (B)

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Vaticano

Papa Francisco em Singapura: uma viagem de esperança e diálogo às fronteiras da Ásia

Singapura é a última paragem de uma viagem que se prolonga até amanhã, durante a qual o Papa se deslocou a quatro países e se encontrou com milhares de fiéis.

Hernan Sergio Mora-11 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Com um vento de esperança nas costas e o coração aberto ao diálogo, o Papa Francisco chegou a Singapura, última etapa de uma viagem apostólica que ficará na história como a mais longa do seu pontificado. Partindo de Roma a 2 de setembro, o Santo Padre atravessou oceanos e nações, levando a sua mensagem de paz, de rejeição da violência em nome da religião e de fraternidade à Indonésia, à Papua Nova Guiné e a Timor-Leste.

Agora, na cidade-estado de Singapura, o Papa enfrenta o último desafio da sua viagem: falar ao coração de uma comunidade multiétnica e multicultural.

O dia começou em Timor-Leste, onde o Papa celebrou a Santa Missa em privado na Nunciatura Apostólica.

Às 9h30 (hora local), o Papa encontrou-se com centenas de jovens, num evento que começou com a deposição de flores em frente à estátua de Maria, no Centro de Convenções de Díli, entre sorrisos, cânticos e um colorido lenço tradicional "tais", que lhe foi estendido sobre os ombros, à entrada do centro de congressos.

O pontífice, muito animado, falou em espanhol praticamente "de improviso" e num animado "diálogo" com a audiência. O Papa começou com a saudação "Daader di'ak" (Bom dia), em tétum, uma das duas línguas oficiais de Timor-Leste, juntamente com o português.

As suas palavras foram seguidas pelos testemunhos de quatro jovens e pelo convite do Pontífice a "fazer confusão", uma frase que repetiu várias vezes durante o encontro.

O Papa convidou os jovens a não perderem o entusiasmo da fé e a não cederem aos vícios "que destroem os jovens": o álcool, a droga e "tantas coisas que dão felicidade durante meia hora".

Francisco apelou ao "fim do bullying", sob os aplausos dos presentes, e referiu-se ao amor dos avós, porque as crianças e os idosos são o maior tesouro da sociedade, e sublinhou três coisas para os jovens: "liberdade, compromisso e fraternidade".

Ou seja, "um jovem que não é capaz de se autogovernar é dependente, não é livre e é escravo do seu próprio desejo; e deve saber que "ser livre não significa fazer o que quer".

"O compromisso - continuou o Santo Padre - deve ser para o bem comum" e sublinhou a terceira recomendação, a fraternidade: devemos ser irmãos, não inimigos, porque as diferenças servem para nos respeitarmos uns aos outros. "O amor é serviço", repetiu aos jovens, sublinhando duas ideias: "Amor e reconciliação", bem como o conhecido "fazer confusão", juntamente com a necessidade de veneração e respeito pelos idosos.

No exterior do centro, cerca de 1500 jovens esperavam para o receber, muitos deles com lágrimas nos olhos.

O Papa despediu-se de Timor-Leste por volta das 11 horas, numa cerimónia emotiva no Aeroporto Internacional de Díli, onde milhares de pessoas acompanharam os últimos momentos da visita papal por detrás das grades.

Singapura: uma cidade-Estado que abraça o Papa

Às 14h15, o voo papal aterrou no aeroporto de Changi, em Singapura. Aqui, numa cidade onde quase 6 milhões de pessoas vivem juntas num caleidoscópio de culturas e religiões, o Papa foi recebido pelo Núncio Apostólico D. Marek Zalewski, pelo Embaixador de Singapura junto da Santa Sé e pelo Ministro da Cultura e da Juventude.

O encontro privado com os membros da Companhia de Jesus terá lugar na Casa de Retiros São Francisco Xavier, onde o Pontífice residirá.  

O autorHernan Sergio Mora

Evangelho

Olhar para a Cruz. Exaltação da Santa Cruz

Joseph Evans comenta as leituras da Exaltação da Santa Cruz.

Joseph Evans-11 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Na sua viagem pelo deserto em direção à Terra Prometida, o povo perdeu a paciência e deu uma interpretação negativa a todos os acontecimentos recentes que tinha vivido. Falaram contra Deus e Moisés: "Porque nos fizeste sair do Egito para morrermos no deserto? Não temos pão nem água, e estamos nauseados com este pão sem substância". É o diabo que azeda e negativiza tudo, como fez desde o início da criação, levando Adão e Eva a concentrarem-se apenas na árvore proibida e não em todas as outras de que podiam comer.

Deus tinha dado tudo aos israelitas. Tinha-os salvado, tinha-os feito atravessar o mar que milagrosamente se abriu para eles, tinha afogado os egípcios, tinha dado aos israelitas água, pão e carne no deserto. E agora queixam-se. Como resultado, Deus castigou-os. "O Senhor enviou entre o povo serpentes ardentes, que o morderam, e muitos de Israel morreram. (Nm 21,6). Estas serpentes ardentes fazem lembrar a primeira serpente do Jardim do Éden, Satanás, que vive no fogo do inferno, embora esteja ativo na terra. 

Quando nos queixamos e nos deixamos levar pela cólera e pela amargura, é como se serpentes ardentes estivessem a rastejar dentro de nós. É o demónio que nos faz concentrar naquilo que não temos e assim esquecer todas as bênçãos que Deus nos deu, em tudo o que está mal e faz-nos esquecer tudo o que está bem. 

Como estas serpentes estão activas dentro de nós! Temos de as pisar e de as expulsar. É preciso, sobretudo, invocar Cristo, que é o grande destruidor das serpentes: ele fere a cabeça da serpente (Gn 3,15). Mas primeiro Jesus tem de deixar que a serpente o morda. Tem de tomar sobre si todo esse veneno e, de certa forma, dentro de si, para o vencer. Quando Satanás nos morde, envenena-nos. Quando Satanás "mordeu" Cristo, ele, Satanás, foi envenenado: com o "veneno" do amor e da humildade de Jesus, que são mortais para ele. Jesus tomou todo esse veneno, o veneno do pecado, sobre si e dentro de si (permanecendo sem pecado) e tornou-se ele próprio o grande antídoto, a grande vacina contra ele. Sim, matou-o, de certa forma, temporariamente. 

Uma parte do veneno é a morte e, para tirar todo o veneno, Jesus teve de sofrer também a morte. Mas ele venceu o pecado e a morte, venceu o veneno. A festa de hoje convida-nos a olhar sempre de novo para a Cruz, para aquele que foi "levantado" para a nossa salvação, a vê-la, olhá-la e contemplá-la com os olhos da alma.

Evangelização

Álvaro Garrido: "A Fundação CARF não existiria sem os benfeitores".

Quase 40.000 estudantes de 131 países de todo o mundo puderam estudar Filosofia, Direito Canónico e Teologia na Universidade de Navarra e na Pontifícia Universidade da Santa Cruz em Roma graças à Fundação CARF.

Maria José Atienza-11 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

2.171 seminaristas e sacerdotes puderam prosseguir os seus estudos de filosofia e teologia graças à ajuda do Fundação CARF em 2023. Estes dados, extraídos do relatório que a fundação apresentou há algumas semanas, juntam-se às dezenas de milhares de estudantes que, nos 35 anos de existência desta fundação, passaram pelas salas de aula destas prestigiadas faculdades eclesiásticas.

Álvaro Garrido Bermúdez, é o Diretor de Comunicação, Marketing e Angariação de Fundos do Fundação CARF. Este especialista em comunicação pilotou a atualização da marca da Fundação CARf e os novos projectos de expansão e informação lançados pela Fundação.

Em 14 de fevereiro de 2024, a Fundação CARF celebrou o seu 35º aniversário. Que balanço faz de mais de três décadas de trabalho?

-Em primeiro lugar, existe já um reconhecimento internacional tanto da Universidade Pontifícia da Santa Cruz como das faculdades eclesiásticas da Universidade de Navarra como lugares de referência para a formação em Filosofia, Direito Canónico e Teologia. Este reconhecimento é confirmado pelo número de estudantes, 2.171 em 2023, que foram formados em ambas as universidades graças ao Fundação CARF.

Isso é este ano, mas olhando para trás, desde o pedido de São João Paulo II ao Papa, podemos olhar para o Beato Álvaro del Portillo para criar uma universidade pontifícia em Roma, foram cerca de 40.000 estudantes de 131 países de todo o mundo. Dezenas de milhares de estudantes que regressam aos seus países com uma grande formação e aí podem formar mais pessoas. Destes antigos alunos, 134 são atualmente bispos, 3 dos quais foram nomeados cardeais.....

São João Paulo II sabia muito bem o que estava a fazer. Se as pessoas forem muito bem formadas, não só intelectualmente, mas também do ponto de vista humano e espiritual, quando regressam aos seus países de origem, são uma verdadeira bomba de graça em todas as pequenas ou grandes dioceses.

Em 2023, como sublinha o Relatório que acabámos de publicar, tivemos estudantes de 80 nacionalidades: 23 da Europa, 21 da América, 22 estudantes de África, 12 da Ásia e apenas dois da Oceânia. É uma verdadeira maravilha.

Como é que as bolsas de estudo são geridas e são apenas para seminaristas de países mais pobres?

-Uma bolsa de estudo completa custa 18.000 euros. Cada bispo que envia os estudantes contribui para os seus estudos com o montante que lhes custaria na sua diocese de origem. Por outras palavras, se um seminarista custa 5 ou 10 euros por mês no Benim, na Nigéria ou no Haiti, esse é o montante contribuído pelo seu bispo e a Fundação CARF encontra o resto do dinheiro.

O seminarista que vem de uma diocese brasileira, que tende a rondar os 120, 130 dólares, bem, obviamente, o bispo tem de pagar esse custo. Se vierem do Canadá ou dos Estados Unidos, contribuem com o que custariam nas suas dioceses. Não acreditamos na política da gratuidade total, porque o que custa é apreciado, mesmo que não seja muito.

Mais de 1.100 dioceses já estão muito gratas pelo que a Fundação CARF está a fazer através das universidades de Navarra e da Universidade Pontifícia de Santa Cruz, porque são elas que dão as bolsas de estudo e somos nós que financiamos as bolsas de estudo para que estes estudantes possam passar por estas duas grandes universidades.

Todos os anos temos de "começar", porque depende de quanto vamos precisar nesse ano. As ajudas não são apenas bolsas de estudo, há aqueles que recebem ajudas diretas e outros recebem ajudas indirectas. Por exemplo, mantemos 17 edifícios em Roma e Pamplona, incluindo seminários, colégios, residências de padres, as próprias salas de aula e as estruturas físicas das universidades..... É verdade que nem todos recebem ajudas diretas, mas sem os salários dos professores, a segurança social ou as rendas dos espaços onde as coisas se passam, etc., não haveria universidade.

Recebem outro tipo de pedidos?

É curioso porque o facto de o sítio Web estar em 27 línguas significa que todas as semanas recebemos cinco ou seis e-mails de pessoas que nos perguntam: "O que tenho de fazer para me tornar padre? Explicamos o que somos e o que fazemos, porque sim, respondemos sempre.

Também recebemos muitos pedidos de ajuda de todo o mundo, de todos os tipos, desde um padre que pede ajuda para comprar um carro ou um autocarro para que os seminaristas não tenham de viajar de canoa para o seu seminário, ou outro que precisa de vasos sagrados e roupas para celebrar a Santa Missa com dignidade.....

Estamos vinculados aos nossos objectivos fundamentais e não podemos ajudá-los nessas coisas. O que fazemos sempre é rezar por eles, que é um dos nossos objectivos, juntamente com a promoção do seu bom nome e a ajuda para financiar bolsas de estudo, tanto da Universidade de Navarra como da Universidade Pontifícia de Santa Cruz.

Qual é o papel dos benfeitores da Fundação CARF?

-Os benfeitores desempenham O papel principal; sem eles, isto não aconteceria, quer dêem 10 ou 200 euros por ano. Por vezes, fico triste por não poder agradecer a todos os 5400 doadores que, com a sua ajuda, tornam possível que isto aconteça.

Por vezes, quase não temos dados e é uma pessoa que contribui com 20, 10 euros por mês. Muitos deles nem sequer querem o certificado de isenção de imposto sobre o rendimento, e agora, com a nova lei do Mecenato, a isenção de imposto é muito elevada.

Não temos uma idade típica para os benfeitores. Queremos que os jovens conheçam o que fazemos, porque é também daí que saem as vocações sacerdotais e que vão surgir os futuros benfeitores. Obviamente que os mais velhos, que têm mais capacidade económica do que os jovens, tendem a colaborar mais financeiramente. Agradecemos aos benfeitores pelas suas orações pelos sacerdotes e pela ajuda que permite a tantos sacerdotes formarem-se a si próprios e a outros.

Em termos de recursos, a Fundação CARF é apoiada por quatro pilares: testamentos e legados, doações regulares, doações pontuais e rendimentos e rendimentos de activos. Estes quatro pilares tentam apoiar-se mutuamente e podemos influenciar alguns deles e não outros. Por exemplo, o nosso objetivo não é o crescimento da nossa dotação. O nosso objetivo é fornecer o apoio, o dotação pode crescer de forma orgânica e natural, mas também tem de dar a sua contribuição para as ajudas, que é normalmente 10% do que gera, sem perder valor.

Como mostra o nosso Relatório Anual, o ano de 2023 foi consideravelmente melhor do que o exercício de 2022. No ano passado, pudemos dar mais de 5 milhões de euros, 77% dos nossos recursos, para a formação de seminaristas e sacerdotes. Isto deveu-se ao facto de termos recebido 2.915.460 euros em testamentos e legados, mais de 3 milhões de euros em doações pontuais e mais de 1 milhão de euros em doações regulares, e o património gerou 1.458.444 euros.

Os testamentos e os legados, por exemplo, são uma fonte de rendimento essencial. Há pessoas que não têm herdeiros, ou que têm herdeiros, mas decidem deixar a sua herança para esta obra dos padres e evitar que o dinheiro seja levado pelo Estado.

Os donativos pontuais também aumentaram. Penso que as pessoas tendem cada vez mais a fazer isso: partilhar um pouco desse salário extra, um pouco desse salário extra, um pouco desse dinheiro extra, um pouco desse dinheiro extra, um pouco desse dinheiro extra, um pouco desse dinheiro extra. bónus que recebeu ou da lotaria que ganhou. Há, por exemplo, muitos casais que, quando celebram o seu 25º ou 50º aniversário, dizem aos seus amigos e familiares para não lhes darem presentes e para doarem o valor de tudo o que gastam à Fundação CARF.

Como vê os próximos 35 anos da Fundação CARF?

-Como um futuro que ainda está por escrever. Em 35 anos, São João Paulo II, juntamente com o Beato Álvaro e São Josemaria, realizaram muito e continuam a levar por diante esta tarefa.

Porque é que o sítio Web está em 27 línguas? Porque, obviamente, temos de tentar sensibilizar toda a gente para a importância de ter um padre. Se acabarmos com os padres, o mundo acabará, não acabará por causa de qualquer tipo de agenda, nem acabará por causa de qualquer tipo de estratégia ideológica. Porque o Senhor deixará de descer do céu à terra para estar connosco.

A ONU só reconhece 195 países, mas é verdade que depois há pequenos Estados insulares que dependem dos restos do império francês ou da Commonwealth e do império britânico, e assim temos 210 países.

O último da lista, penso que me lembro, era a Somália. E dentro de todos eles, há países muçulmanos, de onde entram pessoas que têm algum tipo de preocupação ou inquietação. Compreendo que, normalmente, são pessoas católicas que entram nesses países, mas é claro que, no fim de contas, o projeto tem de ser um projeto global.

Penso que um projeto que a Fundação CARF deveria empreender é o de tornar possível que uma pessoa, sem ter de criar uma fundação na América do Norte, ou na Alemanha, França, Itália, possa ajudar seminaristas nesses e noutros países e contribuir para esta grande obra.

Vaticano

Papa Francisco incentiva a evangelização em Timor-Leste

O Papa Francisco está no oitavo dia da sua viagem à Ásia e à Oceânia. Este dia é marcado pela sua visita às crianças e por uma missa em Timor-Leste.

Hernan Sergio Mora-10 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

O Papa Francisco está em Díli, a capital de Timor-Leste, o país que, juntamente com as Filipinas, tem o maior número de católicos da região. O Pontífice, que fará 88 anos dentro de três meses, quis vir a esta periferia do mundo para mostrar a sua proximidade.

É o oitavo dia da viagem apostólica ao Sudeste Asiático (2-13 de setembro), e a penúltima paragem até quarta-feira, 11 de setembro, depois da visita a Indonésia e Papuásia-Nova Guiné, e antes de chegar a Singapura.

De acordo com a ONU e outras fontes, cerca de 45 % da população de Timor-Leste tem menos de 15 anos de idade. Se incluirmos a população até aos 24 anos, a percentagem é ainda mais elevada, rondando os 60-65 %.

O Papa Francisco e as crianças

De manhã, o Santo Padre foi conduzido da Nunciatura, onde se encontra hospedado, para a Casa Irmãs Alma, enquanto nas bermas da estrada milhares de pessoas que aguardavam a sua passagem o saudavam entusiasticamente das barreiras com bandeiras, cânticos e coros.

O lar a que se dirigiu o Pontífice é gerido pela Congregação das Irmãs ALMA. Aqui, há seis décadas que se ocupam das crianças mais desfavorecidas com deficiências físicas e mentais.

Um momento particularmente comovente foi quando três raparigas vestidas com trajes tradicionais ofereceram ao Santo Padre um lenço tradicional, o "tais", símbolo da hospitalidade e da cultura local.

Durante o evento, a Superiora da Congregação apresentou ao Pontífice as obras de caridade realizadas pela comunidade, seguidas de cantos e danças tradicionais. O Papa, nas suas breves palavras, disse: "Amor, o que encontrais aqui é amor". E acrescentou, referindo-se às crianças: "São elas que nos ensinam a deixarmo-nos cuidar por Deus, e não por muitas ideias ou planos caprichosos". Ou seja, "deixarmo-nos cuidar por Deus que nos ama tanto, pela Virgem que é nossa mãe".

No final, o Papa Francisco assinou uma placa comemorativa do 60º aniversário da fundação da Congregação ALMA, um gesto simbólico que sublinhou o seu apoio e apreço pelo empenho das religiosas.

Papa Francisco na Catedral da Imaculada Conceição

Uma hora depois, já estava no catedral A Imaculada Conceição foi acolhida com uma homenagem floral, seguida de uma dança local e de cânticos que reflectiam o fervor dos bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e catequistas.

Depois de ter sido recebida pelo arcebispo de Díli e cardeal salesiano Virgílio do Carmo da Silva, pelo presidente da Conferência Episcopal e pelo pároco, uma freira deu o seu testemunho.

A Irmã Rosa disse aos presentes, que encheram a catedral: "Há muitas vocações sacerdotais e uma Igreja em movimento, seguindo as pegadas de São Francisco Xavier, "missionário por excelência do Oriente".

Seguiram-se os testemunhos de um padre, D. Sancho, e de um catequista de certa idade, com a sua bata multicolorida. Depois destas intervenções, Francisco agradeceu a D. Norberto de Amaral "as palavras que me dirigiu, recordando que Timor-Leste é um país à beira do mundo. E eu gosto de o dizer, por isso está no coração do Evangelho.

Recordando o momento em que Maria Madalena ungiu os pés de Jesus, indicou que "o perfume de Cristo e do seu Evangelho é um dom que devemos salvaguardar e difundir", sem esquecer a origem "do dom recebido, de ser cristão, sacerdote, religioso ou catequista". E embora Timor tenha uma longa história cristã, "hoje precisa de um renovado impulso de evangelização, para que o perfume do Evangelho chegue a todos: um perfume de reconciliação e de paz depois dos anos de guerra; um perfume de compaixão, que ajude os pobres a erguerem-se e desperte o empenho em melhorar a situação económica e social do país; um perfume de justiça contra a corrupção. E, de modo especial, o perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, degrada e até destrói a vida humana".

Uma missa com 750.000 fiéis que ficará para a história

À tarde, o Papa Francisco chegou a Taci Tolu, uma zona de grande interesse natural, conhecida pelas suas paisagens e pela sua rica biodiversidade.

A 12 de outubro de 1989, São João Paulo II celebrou uma missa nesta esplanada, por ocasião da sua visita ao país ainda sob ocupação indonésia. Em memória desta visita, o governo timorense ergueu uma capela e uma estátua de 6 m de altura do santo Papa polaco.

Nesta ocasião, a esplanada de Taci Tolu estava repleta, com cerca de 750.000 fiéis, uma imagem que testemunha a profunda devoção do povo timorense. Muitas pessoas já se tinham deslocado no dia anterior para ocupar os seus lugares, com guarda-chuvas brancos e amarelos para se protegerem do sol.

Aqui, o Papa Francisco celebrou uma missa votiva da Virgem Maria Rainha, oficiando a Eucaristia em português, a língua histórica e litúrgica do país, com as orações dos fiéis (mambae, makasae, bunak, galole, baiqueno, fataluku).

Na homilia, o Pontífice recordou que "em Timor-Leste é bonito, porque há muitas crianças: sois um país jovem em que em cada canto se sente a vida a pulsar, a explodir", mas mais ainda "é um sinal, porque dar lugar aos pequenos, acolhê-los, cuidar deles e tornar-nos todos pequenos diante de Deus e diante dos outros, são precisamente as atitudes que nos abrem à ação do Senhor".

"Peçamos juntos nesta Eucaristia", concluiu o Papa, "para podermos refletir no mundo a luz forte e terna do Deus do amor, daquele Deus que, como rezamos no Salmo responsorial, é o Deus do amor.

A missa terminou com um passeio de Francisco no papamóvel, no meio da alegria da multidão presente, que se manifestou com coros de estádio, cânticos e várias expressões de afeto pelo Sucessor de Pedro.

O autorHernan Sergio Mora

Zoom

Lourdes debaixo de água

O rio inundou a gruta do santuário de Nossa Senhora de Lourdes em 7 de setembro de 2024. A área, que já foi limpa, está de novo aberta ao público e não houve interrupções nas peregrinações.

Maria José Atienza-10 de setembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vaticano

Uma grande Primeira Comunhão em Quito

Relatórios de Roma-10 de setembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

1.600 crianças receberam Jesus no Santíssimo Sacramento pela primeira vez na missa de abertura do Congresso Eucarístico Internacional em Quito.

Mais de 20.000 pessoas de todo o mundo participaram na cerimónia de abertura do Congresso, que terá a duração de uma semana e que irá refletir sobre o valor da Eucaristia nos dias de hoje, bem como debater os desafios do mundo atual, desde a migração à guerra.


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Vocações

Irmã Idília Maria Carneiro: "Apercebi-me que era com os doentes que eu era feliz".

A Superiora Geral das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, Idília Maria Carneiro, descobriu a sua vocação ainda muito jovem. Ela conta essa história nesta entrevista ao Omnes, na qual também explica o carisma da sua Congregação e a contribuição das Irmãs para a sociedade.

Leticia Sánchez de León-10 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

As Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus são uma congregação religiosa de mulheres apaixonadas pela vida, unidas pelo amor, pela oração e pelo serviço, numa palavra: pela hospitalidade. A sua missão é levar a mensagem evangelizadora de Jesus, o Bom Samaritano, e de Maria, a primeira Hospitaleira, através do testemunho da sua presença e assistência aos mais vulneráveis.

O Congregação das Irmãs Hospitaleiras foi fundada em Madrid (Espanha), em 1881, por São Benito Menni, sacerdote da Ordem de São João de Deus, juntamente com María Josefa Recio e María Angustias Giménez, escolhidos por Deus para responder à situação de abandono sanitário e exclusão social das mulheres com doenças mentais da época, combinando dois critérios fundamentais: a caridade e a ciência.

A Irmã Idília Maria Carneiro foi eleita Superiora Geral das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus no passado mês de maio. A eleição teve lugar no XXI Capítulo Geral, onde 34 membros da Congregação se reuniram em Roma para iniciar um período de discernimento e reflexão sobre o carisma da instituição.

"O Capítulo Geral é o acontecimento mais importante na vida de uma Congregação, pois é uma avaliação do que foi feito e vivido durante o sexénio, projectando o futuro, procurando responder às necessidades de hoje, e elegendo as irmãs do Governo Geral que irão orientar a vida e a missão da Congregação nos próximos seis anos", antecipou a então Superiora Geral, Irmã Anabela Carneiro, (irmã da atual Superiora), na véspera do encontro que decorreu sob o lema: "Revesti-vos de entranhas de misericórdia". Sinais proféticos de esperança e da proximidade de Deus à humanidade sofredora".

Idília Maria Carneiro nasceu em Moçambique em 1966. É a quarta de cinco irmãos, três dos quais são Irmãs da mesma congregação. A Irmã Idília Maria cresceu no seio de uma família com profundas raízes católicas, que a formaram como pessoa e mulher de fé, o que está também na origem da sua vocação consagrada: "Aprendi com os meus pais a viver a fé cristã através da oração e da caridade ativa. Aprendi a rezar o terço todos os dias e a dar uma atenção especial aos pobres. Também foi decisivo na sua vida tudo o que viveu na paróquia, onde fazia parte de um grupo de jovens que recebia catequese.

A Irmã Carneiro entrou para as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus em 1984. É licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas de Lisboa, mestre em Espiritualidade e Ética da Saúde e pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos. Nesta entrevista à Omnes fala-nos da sua vocação e do carisma da Congregação a que pertence.

Casa das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus em Ciempozuelos, Espanha (Hermanas Hospitalarias)

O que é que a palavra "vocação" significa para si?

- É um dom de amor gratuito que Deus nos oferece. Por isso, a primeira atitude que peço a Deus é uma atitude de gratidão, e depois uma atitude de serviço, porque o amor responde-se amando. A vocação é um chamamento único e pessoal que o Senhor faz a cada um de nós para vivermos e darmos a nossa vida de uma forma particular, de acordo com o espírito a que Deus nos chama.

Na nossa Congregação, é uma vocação hospitaleira, um apelo a viver com Jesus, o Bom Samaritano, a aventura de estar perto da dor dos doentes, respondendo com proximidade, escuta e compreensão.

Como é que descobriu o chamamento de Deus para O seguir como Irmã Hospitaleira?

- A descoberta da minha vocação foi uma surpresa, porque não estava no horizonte da minha vida. Aos 16 anos, tive o meu primeiro contacto com a vida das Irmãs Hospitaleiras em Braga (Portugal), quando participei num fim de semana de actividades para jovens. Lembro-me de como foi difícil ter esse primeiro contacto com os doentes, sobretudo os mais graves, mas pouco a pouco algo se abriu dentro de mim e comecei a sentir que a minha vida tinha um horizonte diferente e que se alargava à medida que me entregava a ela. 

A experiência de servir os doentes deu uma volta de 180 graus à minha vida: despertou em mim uma perspetiva de vida baseada no amor e na gratuidade. Apercebi-me de que era junto dos doentes que me sentia feliz. Ao mesmo tempo, o contacto com as irmãs, a alegria que demonstravam ao dedicar a sua vida ao serviço dos doentes, o conhecimento da Congregação e dos fundadores - Benito Menni, Maria Josefa e Maria Angustias - bem como a sua experiência de descoberta vocacional, os momentos de oração e de encontro fraterno... marcaram-me.

O meu caminho interior de escuta de Deus e de procura do que Ele sonhou para mim fez-me ver a minha vida, não na minha perspetiva, mas na perspetiva de Deus: reconhecer que sou amado por Ele e que este amor me desperta todos os dias para amar e servir os meus irmãos e irmãs.

Como é que este apelo se materializa na vida quotidiana?

- O carisma da hospitalidade identifica-nos cada vez mais com Jesus compassivo e curador, que passou pelo mundo curando todos e fazendo o bem. A hospitalidade consiste em colocar a pessoa no centro, oferecendo espaço e tempo, atenção e cuidado, humanidade e recursos aos mais vulneráveis. É também um modo de vida que, no dia a dia, fala de acolhimento, de aceitação dos outros tal como são, de respeito mútuo e de corações abertos, e também de se deixar acolher. Todos nós precisamos de dar e receber.

Como o Bom Samaritano, somos particularmente interpelados pelo sofrimento e pela necessidade daqueles que estão à beira da estrada e não podemos passar ao lado, porque nos sentimos chamados a servir a humanidade sofredora, a acolher os necessitados, à universalidade, ao amor, ao serviço, à entreajuda e ao cuidado. 

Como Irmãs Hospitaleiras, vivemo-la a partir da nossa vida consagrada, em comunidade, isto é, partilhando a nossa vocação com outras irmãs, e sentindo-nos também enviadas a evangelizar e a levar a Boa Nova da Hospitalidade de Deus aos nossos irmãos e irmãs que sofrem e são frágeis. A nossa comunidade inclui também colaboradores e leigos, pois ser Hospitaleiras é ser construtoras de paz e fraternidade, semeadoras de esperança e dignidade, porque reconhecemos Jesus nas pessoas que sofrem de doença mental e deficiência intelectual. A nossa missão é cuidar de toda a pessoa, unindo ciência e humanização, especialmente para os mais desfavorecidos e os mais necessitados, respeitando e defendendo a vida.

O que é que as pessoas que seguem este carisma particular podem contribuir para o mundo? 

- A primeira coisa que trazemos é precisamente coração e compaixão, proximidade e humanidade, cuidados qualificados de acordo com os avanços da ciência e da tecnologia na área da saúde, de acordo com os princípios da Doutrina Social da Igreja. Queremos continuar a ser uma Instituição que contribui para uma sociedade mais justa e fraterna, em que as pessoas mais vulneráveis, pela sua situação de doença mental e exclusão, e as suas famílias, tenham efetivamente um lugar, uma voz, um espaço vital que as ajude a sentirem-se e a reconhecerem-se como pessoas, amadas e respeitadas, acompanhadas e integradas. Àqueles que hoje são tão frequentemente descartados na nossa sociedade, queremos dizer que, para nós, para Deus, eles são os primeiros.

A sociedade está a ver como os problemas de saúde mental se multiplicam e nós queremos estar presentes, dando respostas humanizadoras e actualizadas às necessidades de hoje, como fez o nosso fundador, São Bento Menni.

É evidente que este modo de vida não está na moda; é muitas vezes mal compreendido ou mesmo rejeitado com pouco ou nenhum conhecimento. A essas pessoas que rejeitam este modo de vida, como explicaria a sua escolha?

- Escolhemos esta vida porque, a partir da experiência de nos sentirmos misericordiosamente amadas por Deus, queremos ser testemunhas de que o Cristo compassivo e misericordioso do Evangelho permanece vivo entre os homens e as mulheres, e isso impele-nos a ser mulheres de Deus, ao serviço da pessoa que sofre e a evangelizar através da hospitalidade.

É a misericórdia de Deus que cura e gera comunhão, que abre horizontes de amor ilimitado e universal, que dá sentido à nossa vida. É a escolha de viver precisamente na base de um serviço dignificante às pessoas com sofrimento mental. Esta é a opção escolhida pela nossa instituição e o legado que recebemos do nosso fundador São Bento Menni: a pessoa no centro, a pessoa em quem reconhecemos a imagem viva de Jesus, o lugar teológico onde Deus se revela a nós e onde servimos e cuidamos da vida, sagrada e inviolável; a pessoa como sujeito do processo terapêutico e do projeto de vida. 

O autorLeticia Sánchez de León

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Vaticano

Papa Francisco em Timor-Leste, entre a espiritualidade e o diálogo

Timor-Leste é a terceira paragem da 45ª viagem apostólica do Papa Francisco. O país acolheu o pontífice com alegria e calor nesta sua primeira visita papal.

Hernan Sergio Mora-9 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Na segunda-feira, 9 de setembro, o Papa Francisco partiu da Papua Nova Guiné e iniciou uma visita histórica a Timor-Leste, um país pequeno mas profundamente católico do Sudeste Asiático, rico em história e tradições culturais. O Papa permanecerá em Timor-Leste até quarta-feira, dia 11, na terceira etapa da sua viagem apostólica.

Fase final na Papua Nova Guiné

O sétimo dia da viagem papal começou de manhã cedo na Papua Nova Guiné, com um encontro com jovens no Estádio da Papua Nova Guiné. Sir John Guise em Port Moresby. O evento foi uma explosão de alegria e de festa, com cerca de 20.000 fiéis a acolherem o Pontífice com cânticos, danças tradicionais e testemunhos.

O responsável da Comissão da Juventude, o Bispo de Kimbe, abriu o encontro com uma calorosa saudação de boas-vindas. Em seguida, os jovens presentes apresentaram vários espectáculos teatrais e musicais, partilhando histórias de fé e de esperança.

Durante o seu discurso, o Papa Francisco encorajou os jovens a viverem com fé e coragem, e a tornarem-se testemunhas do Evangelho nas suas comunidades. "Digo-vos uma coisa: estou feliz por estes dias passados neste país, onde convivem mar, montanhas e florestas tropicais; mas sobretudo um país jovem, habitado por muitos jovens!

Mas eu pergunto-vos: qual é a linguagem que favorece a amizade, que derruba os muros da divisão e abre o caminho para que todos entremos num abraço fraterno?" e perante a resposta de um jovem: "o amor", o Papa acrescentou: "E o que é que há contra o amor? O ódio. Mas há também algo talvez pior do que o ódio: a indiferença para com os outros". E concluiu agradecendo a "todos aqueles que prepararam este belo encontro".

Pouco depois, o Papa dirigiu-se ao Aeroporto Internacional de Jacksons, em Port Moresby, onde se realizou uma cerimónia de despedida da Papua Nova Guiné. Depois de cumprimentar os líderes locais, o Santo Padre partiu para Dili, a capital de Timor Leste.

Bem-vindo a Timor-Leste

O voo do Papa Francisco passou pela Papua Nova Guiné, Austrália e Indonésia antes de aterrar no Aeroporto Internacional Presidente Nicolau Lobato, em Díli, às 14h10 locais.

Díli, uma cidade com cerca de 277.000 habitantes, é a capital e a maior cidade de Timor-Leste, um país com uma história complexa, que se tornou independente de Portugal em 1975, tendo sido invadido em 1976 pela Indonésia até 20 de maio de 2002, data em que finalmente declarou a sua independência.

À sua chegada, o Papa Francisco foi recebido pelo Presidente da República, José Manuel Ramos-Horta, e pelo Primeiro-Ministro, bem como por duas crianças vestidas com trajes tradicionais que lhe ofereceram flores e um colar tradicional (tais).

Reunião no palácio presidencial

Após uma breve deslocação à Nunciatura Apostólica, situada junto à histórica igreja de Sant'António de Motael, o Papa teve um encontro oficial com o Presidente de Timor-Leste no Palácio Presidencial Nicolau Lobato, por volta das 18h30 (hora local).

O país recebeu o Papa com uma cerimónia solene de boas-vindas, com hinos nacionais, bandeiras e tiros de canhão. Vinte e nove crianças vestidas com trajes tradicionais saudaram o Pontífice com flores e um outro lenço tradicional (tais), símbolo de respeito e amizade.

Reunião com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático

No livro de ouro, o Papa escreveu a sua dedicatória em espanhol: "Agradeço ao Senhor que me trouxe a Timor-Leste e encorajo o seu povo a viver a alegria da fé em harmonia e diálogo com a cultura. A melhor e mais bela coisa que Timor Leste tem é o seu povo. Abençoo-vos do fundo do meu coração. Francisco, 9 de setembro de 2024".

No seu primeiro discurso lido em espanhol, o Papa Francisco recordou que os primeiros missionários dominicanos chegaram ao país vindos de Portugal no século XVI, "trazendo consigo o catolicismo e a língua portuguesa".

Acrescentou que "o cristianismo é inculturado". Uma doutrina "que promove o desenvolvimento das pessoas, especialmente dos mais pobres".

Num país com tantos jovens, o Santo Padre sugeriu "que a primeira área em que devemos investir é a educação, a família e a escola, uma educação que coloque as crianças e os jovens no centro e promova a sua dignidade".

Concluiu as suas palavras confiando-os à "proteção da Imaculada Conceição, sua padroeira celeste, invocada sob o título de Virgem de Aitara".

Que ela esteja sempre convosco e vos ajude na vossa missão de construir um país livre, democrático e unido", concluiu, "onde ninguém se sinta excluído e onde todos possam viver em paz e com dignidade".

No final do encontro, o Papa deu a sua bênção a cerca de um milhar de pessoas, funcionários do Palácio Presidencial e suas famílias, que se reuniram no pátio em frente à entrada principal. Depois de uma fotografia de grupo, o Presidente da República despediu-se do Papa, concluindo assim um dia cheio de encontros e de significado.

O autorHernan Sergio Mora

Vaticano

Papa Francisco: "Que cada um de nós promova o anúncio missionário onde quer que viva".

O sexto dia da viagem apostólica do Papa Francisco, o segundo na Papua-Nova Guiné, foi marcado por dois acontecimentos especiais: a Missa dominical no Estádio Sir John Guise e uma visita vespertina à cidade periférica de Vanimo, a 1000 quilómetros de distância.

Hernan Sergio Mora-9 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O dia do Pontífice na capital da Papua Nova Guiné, Port Moresby, começou com uma visita ao Primeiro Ministro James Marape na Nunciatura. Pouco depois, partiu para Sir John Guise, um estádio repleto de fiéis que o aguardavam com cânticos, especialmente animados quando o Papa Francisco fez a sua vez num carro de golfe aberto, partindo do estádio de futebol adjacente.

O Papa, bem disposto numa cadeira de rodas, celebrou a Santa Missa com orações em inglês, motu e tok pisin, e vários cânticos.

Na homilia, falando do milagre de Jesus com o surdo-mudo, recordou que "há uma surdez interior e um mutismo do coração que depende de tudo o que nos fecha em nós próprios, nos fecha em Deus e nos outros: o egoísmo, a indiferença, o medo de arriscar e de nos expormos, o ressentimento, o ódio, e a lista poderia continuar".

O Pontífice, explicando a parábola, assegurou que "esta é a proximidade de Jesus, que vem para tocar as nossas vidas e eliminar toda a distância". Porque "como afirma São Paulo, com a sua vinda, anunciou a paz aos que estavam longe".

"Jesus aproxima-se e, como os surdos-mudos, diz-nos também a nós: 'Effeta', isto é, 'Abre-te'". E concluiu com uma exortação: "Também hoje o Senhor vos diz: "Coragem, não tenhais medo, povo da Papua! Abri-vos! Abri-vos à alegria do Evangelho, abri-vos ao encontro com Deus, abri-vos ao amor dos vossos irmãos".

Depois de ter rezado o Angelus, partiu para a Nunciatura, onde almoçou e se dirigiu para o aeroporto internacional de Jacksons. De lá, um avião militar C-130 levou-o em pouco mais de duas horas para a cidade de Vanimo, com 40.000 habitantes, 30 por cento dos quais são católicos.

Na esplanada em frente à Catedral de Santa Cruz, sede episcopal da diocese de Vanimo, alguns milhares de fiéis acolheram-no com danças e cânticos, aos quais se juntaram as palavras do bispo, o testemunho de uma catequista, de uma menina do Lar de Luján, de uma freira e de uma família.

O Papa recordou que "desde meados do século XIX, a missão aqui nunca cessou: religiosos e religiosas, catequistas e missionários leigos nunca deixaram de pregar a Palavra de Deus e de oferecer ajuda aos seus irmãos e irmãs".

"Assim - acrescentou o Papa - igrejas, escolas, hospitais e centros missionários testemunham à nossa volta que Cristo veio trazer a salvação a todos, para que cada um possa florescer em toda a sua beleza para o bem comum".

E embora "tenhamos ouvido como alguns de vós, para o fazer, enfrentam longas viagens, para chegar até às comunidades mais distantes", recordou que "também vos podemos ajudar de outra forma, ou seja, que cada um de nós promova o anúncio missionário onde vive, isto é, em casa, na escola, no local de trabalho; para que, em todo o lado, na floresta, nas aldeias ou nas cidades, a beleza da paisagem seja acompanhada pela beleza de uma comunidade em que as pessoas se amam".

Por isso, convidou-os a formarem-se "como uma grande orquestra" para "expulsar o medo, a superstição e a magia do coração das pessoas; para pôr fim a comportamentos destrutivos como a violência, a infidelidade, a exploração, o abuso do álcool e da droga".

Recordemos", concluiu o Sucessor de Pedro, "que o amor é mais forte do que tudo isso e que a sua beleza pode curar o mundo, porque está enraizado em Deus.

Foi também colocada uma rosa de ouro diante da imagem da Virgem Maria e o bispo rezou a oração de consagração a Maria.

Pouco depois, o Pontífice visitou a Escola Humanística Santíssima Trindade, uma escola católica gerida pela paróquia e pelo Instituto do Verbo Encarnado. Acolhido pelos missionários e acompanhado até à sala School & Queen of Paradise, Francisco assistiu a um concerto da orquestra dos alunos e teve depois um encontro privado com os missionários.

O dia terminou com o regresso a Port Moresby, à Nunciatura, onde o Pontífice passou a noite à espera do seu último dia na Papua Nova Guiné.

O autorHernan Sergio Mora

Vaticano

Pontifícia Universidade Urbaniana, entre reformas e uma pegada missionária

As reformas que a Pontifícia Universidade Urbaniana está a sofrer têm como objetivo cumprir o desejo do Papa Francisco de que a instituição responda às necessidades actuais da Igreja e do mundo.

Giovanni Tridente-9 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No âmbito da renovação exigida pelo Papa Francisco para as universidades pontifícias que dependem diretamente da Santa Sé, surgiram nas últimas semanas algumas actualizações significativas relativamente ao Pontifícia Universidade Urbaniana.

Esta instituição, que depende do Dicastério para a Evangelização, da Secção para a Primeira Evangelização e das Novas Igrejas Particulares, sempre foi orientada para a missão e está agora no centro de um grande processo de transformação.

Reformas em curso

Um ano após a nomeação do Professor Vincenzo Buonomo como Delegado Pontifício e Reitor, foram divulgados alguns dados úteis que dão uma ideia das reformas em curso. Segundo a Agência Fides, também dependente do Dicastério Missionário, em dez meses houve uma redução de custos de mais de 1,5 milhões de euros e uma racionalização do corpo docente. De facto, o número de professores permanentes foi reduzido de 62 para 47, enquanto o número de docentes foi reduzido de 113 para 40. A estratégia seguida consistiu principalmente na eliminação de duplicações e de percursos académicos redundantes.

No entanto, esta reforma não é apenas uma questão de eficiência económica, mas visa melhorar a qualidade da oferta educativa, pelo menos nas intenções do Santo Padre. De facto, dirigindo-se aos participantes na recente Assembleia Plenária do Dicastério, Francisco sublinhou que é fundamental permitir que o Ateneu fundado pelo seu antecessor Urbano VIII em 1627 responda às necessidades actuais da Igreja e do mundo.

"Não vivemos numa sociedade cristã, mas somos chamados a viver como cristãos na sociedade pluralista de hoje", disse o Papa, reconhecendo a importância de a formação dada na Urbaniana não se limitar à transmissão de conhecimentos, mas ser capaz de propor "instrumentos intelectuais capazes de serem propostos como paradigmas de ação e de pensamento" para anunciar o Evangelho num mundo cada vez mais marcado pelo pluralismo cultural e religioso.

Desafios futuros

A Assembleia Plenária, não por acaso, foi convocada especificamente para debater a identidade, a missão e o futuro da Urbaniana, e contou com a presença de cardeais, bispos e missionários de todo o mundo. As sessões de trabalho recolheram os contributos de 26 Conferências Episcopais, em particular de África e da Ásia, que sublinharam a necessidade de reforçar o carácter missionário da Universidade, reforçando a ligação com as Igrejas locais e melhorando a formação dos líderes eclesiásticos chamados a enfrentar realidades culturais diferentes.

O Pontífice reiterou então - tranquilizando as preocupações que surgiram nos últimos meses - que não está no horizonte qualquer iniciativa para "dissolver" esta universidade com outras já presentes em Roma e dependentes do Vaticano. "Não! Isso não pode ser", disse com ênfase, insistindo na autonomia e na identidade missionária da universidade situada na colina do Janiculum, a dois passos da Praça de São Pedro, deixando claro que o futuro da instituição deve basear-se na sua especificidade e na sua capacidade de encarnar o impulso missionário da Igreja.

Alargando o seu olhar às instituições académicas em geral, Francis explicou que, para que uma instituição académica seja atractiva, é necessário um corpo docente dedicado, um forte empenho na investigação académica e a capacidade de dar um contributo significativo para a doutrina.

Acrescentou que, para fazer bom uso dos recursos, é necessário unificar percursos semelhantes entre as várias instituições pontifícias, partilhar os professores e planear as actividades com prudência, evitando desperdícios. "Não tenham medo da criatividade: precisamos desta criatividade saudável".

Missão e internacionalização

Quanto aos objectivos da renovação em curso, a necessidade de alargar e reforçar os centros de investigação da universidade missionária, cruciais para a sua vocação global, emergiu dos últimos encontros.

O Papa Francisco citou como exemplo o Centro de Estudos Chineses e Asiáticos, desejando que sejam criados novos centros dedicados a outras áreas geográficas e culturais. Este reforço não só permitirá à universidade responder melhor às especificidades dos contextos locais, como também favorecerá o encontro entre a fé e as culturas em mudança.

Ao mesmo tempo, a rede de seminários e institutos afiliados à Urbaniana, que representam uma ponte para as igrejas locais, foi encorajada a expandir-se. Com mais de 100 institutos ligados em 40 países, o Ateneu pode contar com uma vasta rede de colaboração que reforça o seu papel de promotor da evangelização a nível mundial.

Vladimir Sergeyevich Solovyovich

Nas suas obras, Vladimir Sergeyevich Solovyov quis compreender o homem na sua situação trágica de escolher livremente entre a fealdade do mal e a beleza do bem.

9 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Vladimir Sergeyevich Solovyov nasceu em Moscovo em 1853. O seu pai era o célebre historiador Sergey Solovyov (nascido e falecido em Moscovo em 1820-1879), professor de História na Universidade de Moscovo, que publicou várias obras, incluindo a sua obra-prima "História da Antiguidade" (1851-1880).

Retrato de Solovyov (Wikimedia Commons)

Com a sua obra "Crise da filosofia ocidental" (Moscovo, 1874), lançou uma luta contra o positivismo, que florescia na Europa e começava a penetrar na Rússia. Em 1875, completou brilhantemente os seus estudos de filosofia e dedicou-se ao ensino em Moscovo, desde os 22 anos até 1880, altura em que se mudou para São Petersburgo para se dedicar ao ensino na Universidade da cidade e trabalhar no Instituto Superior de Educação das Mulheres.

Devido às suas opiniões ponderadas sobre o pan-eslavismo e à sua apreciação dos valores russos e ocidentais, foi efetivamente ostracizado no mundo académico. Entre 1875 e 1876, viajou para Inglaterra, onde se familiarizou com os esforços do Cardeal Newman para unir as Igrejas Anglicana e Católica, e para França, Itália e Egito, onde estudou filosofia indiana.

Em 1881, faleceu Dostoevsky Solovyov é um dos amigos que carrega o caixão do romancista aos ombros. Nesse ano, o czar foi assassinado e, 14 dias depois, Solovyov pediu que os assassinos fossem perdoados da pena de morte a que tinham sido condenados. Os eslavófilos conseguiram que ele fosse proibido de falar em público e privado do seu cargo de professor por ter defendido publicamente a necessidade de abolir a pena capital. Sobre a pena de morte, afirmou que, ao aplicá-la, a sociedade declara o criminoso culpado no passado, perverso no presente e incorrigível no futuro. Mas a sociedade não pode pronunciar-se de forma absoluta sobre a incorrigibilidade do infrator no futuro.

Solovyov e harmonia

Admirador do povo judeu, começou a estudar a língua hebraica aos trinta anos de idade e, anos mais tarde, lançou várias campanhas contra o antissemitismo. Para Solovyov, nenhum povo deve viver em si mesmo, por si mesmo ou para si mesmo, pois a vida de cada povo é uma participação na vida geral da humanidade. Solovyov encontrou na divisão e no isolamento dos núcleos humanos a fonte de todos os males. O verdadeiro bem social é a solidariedade, a justiça e a paz universal.

Há uma tripla violação desta harmonia: quando uma nação infringe a existência ou a liberdade de outra; quando uma classe social oprime outra; e quando o indivíduo vai contra o Estado ou o Estado oprime o indivíduo. A verdadeira fórmula da justiça é esta: cada ser particular, indivíduo ou nação, deve ter sempre um lugar para si no organismo universal da humanidade.

A partir daí, viveu na reforma, estudando, escrevendo e fazendo obras de caridade até 1900, ano da sua morte. Estudou História da Igreja e Teologia, escreveu "Os Fundamentos Espirituais da Vida" (1882-1884) e "A Evolução Dogmática da Igreja em Relação à Questão da União das Igrejas" (1886).

Para além de filósofo, Solovyov foi um grande poeta com um forte lirismo e, embora a sua poesia seja profunda, algumas das suas composições são populares na Rússia ("Morning Mist", "Resurrection", "O Beloved"). Numa delas, "Ex Oriente lux", dirige-se à Rússia e pergunta: "Diz-me, queres ser o Oriente de Xerxes ou o Oriente de Cristo?

A filosofia de Vladimir Sergeyevich Solovyovich

Para além da sua elevada obra poética, as suas obras filosóficas mais importantes são as seguintes: "Princípios Filosóficos do Conhecimento Unificado" (1877), "Lições sobre a Humanidade de Deus" (1878-81), "Crítica dos Princípios Abstratos" (tese de doutoramento em Filosofia, Moscovo 1880), "História e Futuro da Teologia" (Agram 1887), "Justificação do Bem" (S. Petersburgo 1897), "La Russie et l'Eglise Universelle" (Paris 1889 e em russo S. Petersburgo 1912).

Solovyov critica as filosofias abstractas, que se baseiam em pensamentos ou ideias a priori, e também o empirismo, que se limita a reconhecer o valor de conhecimento dos fenómenos externos. Afirma que a experiência que conduz ao conhecimento não é apenas a externa, mas também a experiência interior, através da qual é possível chegar ao absoluto e, naturalmente, à consciência pessoal.

O objeto do conhecimento pode ser apresentado: como aquilo que existe absolutamente (Entidade) e é conhecido através da crença na sua existência absoluta; como essência ou ideia (Essência) e é conhecido através da contemplação especulativa ou da imaginação dessa essência ou ideia; como fenómeno (Ato) e é conhecido através da sua corporização, sensações reais ou dados empíricos da nossa consciência sensível natural.

Para além de Cristo, Deus não nos aparece como uma realidade viva. A religião universal comum é fundada nele, diz Solovyov. Atrevo-me a perguntar por mim próprio: não terão as outras religiões, as religiões não cristãs, naquilo que têm de atualidade e de verdade, adotado de Cristo - sem o saberem conscientemente - aquilo que as sustenta para os seus seguidores como crenças que continuam a trazer conforto, esperança e sentido às suas vidas? Como exemplos desta questão, não foi Cristo que alimentou Gandhi e Tolstoi, e não é Cristo que, em Madre Teresa de Calcutá, continua a revelar-se hoje a pessoas de todas as fés, incluindo as fés agnósticas que se limitam a dizer que não conhecem?

O pudor e a lei moral

Na moral, Solovyov quer compreender o homem na sua situação trágica de escolher livremente entre a fealdade do mal e a beleza do bem. Ele vê no sentimento de modéstia, no seu significado mais verdadeiro, como a moralidade se manifesta experimentalmente no homem. Este sentimento de pudor distingue o homem de toda a natureza física, não só da que lhe é exterior, mas também da sua própria, quando se envergonha das suas concupiscências. Ele resume assim o seu pensamento: "Ouvi a voz divina e tive medo de aparecer nu na minha natureza animal. Tenho vergonha da minha natureza concupiscente, por isso subsisto e existo como homem". No sentimento de modéstia, a lei moral reflecte-se numa das suas manifestações, ordenando-nos que subordinemos as paixões ao domínio da razão através da ascese.

Cristianismo universal

Solovyov vê a única solução para os problemas da Rússia e do mundo no cristianismo universal e, por isso, vê a urgência da unidade cristã como a forma de preparar a unidade da raça humana. A Igreja universal, a religião comum de toda a humanidade, é fundada em Cristo. Mas Cristo-Deus-Homem deve ser procurado não só no passado mas também no presente, não só na nossa limitação pessoal mas também na sua revelação social. Daí o seu conselho: confessa-te interiormente ao Deus-Homem-Cristo vivo; reconhece a sua presença real na Igreja universal.

Solovyov pensava que a união com a Igreja Católica devia ser feita gradualmente, preparando o ambiente e permanecendo ortodoxo. Mas, prevendo o seu fim próximo ou tentando pôr em prática as suas convicções, em 18 de fevereiro de 1896 foi recebido na Igreja Universal pelo padre católico russo Nicolai Alekseevic Tolstoi, na capela Tolstoi, em Moscovo, dedicada a Nossa Senhora de Lourdes. Morreu na propriedade do príncipe Trubetzkoi, em Moscovo, em 1900.

América Latina

Congresso Eucarístico Quito 2024, "fraternidade para salvar o mundo".

O 53º Congresso Eucarístico Internacional, com o lema "Fraternidade para salvar o mundo", está pronto para começar no domingo, 8 de setembro, com uma missa em que 1600 crianças do Equador receberão a Primeira Comunhão. Antes disso, no dia 4, teve início o Simpósio Teológico.  

Francisco Otamendi-8 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O arcebispo Alfredo Espinoza, presidente do Comité Organizador do CongressoA voz do 53º Congresso foi descrita como "esperançosa" e "profética", que proclamará "a todos que a fraternidade é o único caminho possível para fazer e construir um mundo novo". 

"Há muitas feridas no mundo", e esta é a missão do Congresso Eucarístico, que pretende mostrar que "a Eucaristia leva-nos a ser construtores de fraternidade". O Congresso Eucarístico nos fará tomar plena consciência de que somos 'missionários eucarísticos da fraternidade'", disse na apresentação em Roma, em maio. 

Agora, já do Equador, o arcebispo acolheu há alguns dias os milhares de pessoas que virão a Quito durante estas semanas de setembro: leigos, religiosos, consagrados, sacerdotes e bispos, ou seja, todo o Povo de Deus, para um congresso que celebra o 150º aniversário da Consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus.

Simpósio Teológico 

As suas palavras foram também um "sinal de partida", uma vez que, de 4 a 7 de setembro, terá lugar o "Ano Europeu do Diálogo Intercultural". Simpósio Seminário Teológico Eucarístico, na Pontifícia Universidade Católica do Equador.

O correspondente da Omnes no Equador, Juan Carlos Vásconez, perguntou numa entrevista a entrevista O Padre Alfredo Espinoza, que experiências podem esperar os participantes neste congresso. Eis a sua resposta: "Dir-lhes-ia que podem esperar um grande acolhimento, um ambiente de alegria, a riqueza da experiência de um povo que ama Deus, que vive a Eucaristia e manifesta a sua fé, que pede a bênção, sinal caraterístico do nosso povo. Podem esperar diversidade cultural e um folclore único, e algo que mais ninguém tem, Quito é "O Meio do Mundo", o congresso realiza-se na latitude zero do mundo, e daqui, para o mundo inteiro, queremos abrir as nossas mãos e os nossos corações. Esperamos por vós!

Os oradores do Simpósio incluem a Dra. Rosalía Arteaga, o Dr. Gonzalo Ortiz Crespo ou a Dra. Vitória Andreatta De Carli, a Ir. Rosmery Castañeda, Pablo Blanco (Universidade de Navarra) e Paolo P. Morocutti (Universidade Católica do Sagrado Coração. Pontifícia Universidade Gregoriana), os jesuítas Damian Howard (Universidade de Oxford) e Fernando Roca (Universidade Católica do Peru), ou o empresário Juan Carlos Holguín.

Cardeal Porras: Eucaristia e Sagrado Coração de Jesus

"O Equador, país eucarístico consagrado ao Sagrado Coração de Jesus desde 1874, veste-se a rigor para acolher o 53º Congresso Eucarístico Internacional de 8 a 15 de setembro", disse o Cardeal Baltazar Porras, nomeado Legado Pontifício para o congresso, numa carta datada de 31 de agosto. "Do centro do mundo, no nosso continente latino-americano, juntar-nos-emos à viagem apostólica do Papa Francisco aos antípodas, ao Extremo Oriente, onde o catolicismo está presente em minoria e em condições nada fáceis, para pregar que a fraternidade em Cristo é uma oferta de salvação para o mundo inteiro".

"O Equador tem uma longa história em torno da Eucaristia e da devoção ao Coração de Jesus", sublinhou o Cardeal. "Cinco anos depois do primeiro congresso internacional em Lille (1881), realizou-se em Quito o primeiro congresso eucarístico nacional, por ocasião do segundo centenário do culto do Coração de Jesus, sob o patrocínio do Imaculado Coração de Maria, do patriarca São José e de Santa Rosa de Lima, sob o pontificado do sexto arcebispo de Quito, D. José Ignacio Ordóñez".

Papa Francisco: Congresso "austero, mas fecundo

Na entrevista citada acima, o Primaz Alfredo Espinoza disse a Juan Carlos Vázconez: "O Papa Francisco, numa audiência privada com o Conselho Presidencial da Conferência Episcopal Equatoriana, da qual sou vice-presidente, disse-me que queria um Congresso Eucarístico "austero mas fecundo". Baseio-me nestas palavras para dizer que o argumento principal seria que queremos viver um Congresso "fecundo", que nos ajude a refletir, celebrar e aprofundar na nossa vida de cristãos, a centralidade da Eucaristia e a assumir o compromisso de uma "fraternidade para curar o mundo".

Neste contexto, é de notar que o Pontífice, na sua Mensagem por ocasião do 97º Dia Mundial das Missões, em 2023, assinalou que "é necessário recordar que a simples fração do pão material com os famintos em nome de Cristo é já um ato missionário cristão. A fortiori, a fração do Pão Eucarístico, que é o próprio Cristo, é a ação missionária por excelência, porque a Eucaristia é a fonte e o cume da vida e da missão da Igreja".

Documento de base

Juan Carlos Garzón, secretário-geral do Congresso Eucarístico, relacionou o tema do encontro com a encíclica "Fratelli Tutti", porque "coincide com o sentido eclesial da Eucaristia, fonte de comunhão para aqueles que a celebram, com a sua missão de tornar visível nas feridas do mundo a obra curativa de Cristo".

O Padre Garzón analisou o Documento de base do Congresso Eucarístico, que dará fundamento doutrinal e teológico ao Congresso, e que na sua introdução menciona "um sonho de fraternidade". Uma fraternidade, disse o Secretário Geral, que deve brotar "da experiência eucarística" e tender "para ela como seu fim".

As três partes do Documento Base exploram três perspectivas sobre o tema principal, conforme relatado pela Omnes: a fraternidade ferida, a fraternidade realizada em Cristo e a fraternidade como cura do mundo. 

De Roma, o presidente do Comité Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais, Corrado Maggioni, expressou em várias apresentações e artigosque o Congresso Eucarístico de Quito é "um apelo decisivo à 'fraternidade' vista como um dom do Céu e, ao mesmo tempo, como um compromisso humano para converter relações inimitáveis em laços fraternos, dentro das preocupações do presente".

Programação, alguns oradores  

Alguns eventos que podem ser destacados do programação Os principais objectivos do Congresso Quito 2024 são os seguintes

Dia 8, domingo. Eucaristia de abertura

Missa na esplanada do Parque Bicentenário, às 10h00. 1.600 rapazes e raparigas da Arquidiocese de Quito receberão a Primeira Comunhão. A missa será presidida por D. Alfredo Espinoza, Arcebispo de Quito e Primaz do Equador.

Dia 9. Mundo ferido

O Congresso abre com uma série de conferências sobre as feridas que afectam a humanidade. Entre os oradores contam-se D. Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (Brasil) e Presidente do CELAM, o cineasta católico espanhol Juan Manuel Cotelo e Rodrigo Guerra, Secretário do Conselho Pontifício para a América Latina.

Dia 10 - Irmandade dos Redimidos em Cristo

Daniela Cannavina, secretária-geral da Confederação Latino-Americana dos Religiosos (CLAR), partilhará testemunhos inspiradores, como o do arcebispo de Brazzaville, D. Bienvenu Manamika, e do Cardeal Gregorio Rosa. A cerimónia será presidida por D. Francisco Ozoria, arcebispo de Santo Domingo.

Dia 11. Eucaristia e transfiguração do mundo

Andrew Cozzens, bispo de Crookston (Minnesota, Estados Unidos), e D. José Ignacio Munilla, bispo de Orihuela-Alicante, que dará uma conferência sobre o Sagrado Coração de Jesus e a Eucaristia.

Dia 12. Uma Igreja sinodal

Presidiu o Cardeal Mauro Gambetti, Vigário Geral de Sua Santidade para o Estado da Cidade do Vaticano. Entre os oradores contam-se Mary We, conselheira do Conselho para o Apostolado dos Leigos da Arquidiocese de Taipé, e Mons. Graziano Borgonovo, subsecretário do Dicastério para a Evangelização, que falará sobre a família e a Eucaristia.

Dia 13. Eucaristia: Salmo de fraternidade

O Congresso centra-se na Eucaristia como um salmo que louva e promove a fraternidade entre os filhos de Deus. O Arcebispo de Sydney, D. Anthony Fisher, preside ao Congresso. O tema será desenvolvido pelo cantor e compositor católico argentino Pablo Martinez.

Dia 14. Procissão Eucarística

Missa solene às 16 horas na igreja de São Francisco. Seguir-se-á uma procissão eucarística pelas ruas do centro histórico de Quito, decoradas com tapetes florais, que terminará na Basílica do Voto Nacional, onde terá lugar a bênção com o Santíssimo Sacramento.

Dia 15. Domingo, Missa de encerramento, Statio Orbis

A missa marcará o encerramento do Congresso, durante o qual será anunciada a sede do próximo evento, a realizar dentro de quatro anos. O Cardeal Baltazar Porras, Legado Pontifício, presidirá à cerimónia.

ORAÇÃO DO 53º CONGRESSO EUCARISTIA INTERNACIONAL QUITO 2024

Senhor Jesus Cristo,

Pão vivo do céu:

Olha para as pessoas do teu coração

que hoje vos louva, adora e abençoa.

Vós que nos reunis à vossa mesa

para nos alimentar com o vosso Corpo,

superar todas as divisões, ódios e egoísmos,

unamo-nos como verdadeiros irmãos,

filhos do Pai Celestial.

Enviai-nos o vosso Espírito de amor,

para procurar caminhos de fraternidade, 

a paz, o diálogo e o perdão,

trabalhar em conjunto para a cura 

as feridas do mundo.

O autorFrancisco Otamendi

Recursos

O que são os Congressos Eucarísticos Internacionais?

O Congresso Eucarístico começa a 8 de setembro no Equador, mas a história destes eventos remonta ao final do século XIX. Ao longo dos anos, foram-se determinando as suas caraterísticas e criaram-se organismos para facilitar a sua preparação e desenvolvimento.

Loreto Rios-8 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Os Congressos Eucarísticos Internacionais tiveram início em Lille, uma cidade do norte de França, em 1881, no tempo do Papa Leão XIII. Nasceram em parte da espiritualidade de São Pedro Julião Eymard, conhecido como "o apóstolo da Eucaristia" e fundador da Congregação do Santíssimo Sacramento, que promoveu o espírito eucarístico no seu tempo devido à secularização que via à sua volta. Foi uma das suas filhas espirituais, Emilie Tamisier, que esteve na origem da organização do primeiro congresso eucarístico. Anteriormente, esta leiga francesa já tinha organizado peregrinações a santuários que tinham sido palco de milagres eucarísticos. Tamisier também ajudou a organizar o segundo congresso em Avignon (França), onde tinha ocorrido um milagre eucarístico em 1433.

Cronologia dos congressos

Segundo o sítio Web da Santa Sé, "os primeiros 24 Congressos Eucarísticos Internacionais não tinham um tema geral. Foram sobretudo os Congressos das "Obras Eucarísticas". Trataram do culto de adoração, da procissão, da Sagrada Comunhão (particularmente para as crianças), do Sacrifício da Missa, das associações e movimentos eucarísticos". Estes primeiros congressos procuraram promover a comunhão frequente para os adultos, sob certas diretrizes, e a primeira comunhão para as crianças, uma vez que o costume da época era adiá-la até à adolescência: "À luz dos decretos de S. Pio X sobre a comunhão frequente, "...".Sacra Tridentina Synodus"(1905), e sobre a comunhão das crianças, "Quam singularis" (1910), na preparação e celebração dos Congressos, promoveu-se a comunhão frequente dos adultos e a primeira comunhão das crianças", afirma o Vaticano nos seus documentos sobre os Congressos Eucarísticos.

Durante o pontificado de Leão XIII, realizaram-se catorze Congressos Eucarísticos entre 1881 e 1902 em França, Bélgica, Suíça e Jerusalém. Além disso, este Papa nomeou São Pascoal Baylon como patrono dos Congressos Eucarísticos Internacionais.

Depois, durante o pontificado de Pio X, realizaram-se onze congressos entre 1904 e 1914, com uma perspetiva mais internacional, uma vez que o continente americano foi incluído pela primeira vez. Os países anfitriões foram a França, a Itália, a Bélgica, a Inglaterra, a Alemanha, o Canadá, a Espanha, a Áustria e Malta. O último da sua época, em Lourdes, foi o primeiro congresso eucarístico com um tema específico: "Eucaristia e Reino Social de Jesus Cristo".

Nove congressos eucarísticos foram realizados sob a égide de Pio XI, entre 1922 e 1938, em Itália, nos Países Baixos, nos Estados Unidos, na Austrália, na Tunísia, na Irlanda, na Argentina, nas Filipinas e na Hungria. Pela primeira vez, os congressos tiveram lugar nos cinco continentes e, desde então, estabeleceu-se o costume de alternar os locais de realização em todo o mundo.

Os congressos eucarísticos foram interrompidos pela Segunda Guerra Mundial e só foram retomados catorze anos mais tarde, em 1952, em Barcelona, sob a presidência de Pio XII. O segundo e último Congresso Eucarístico do seu pontificado realizou-se em 1955, no Rio de Janeiro.

Apenas uma se realizou durante o pontificado de João XXIII, em Munique, em 1960, enquanto Paulo VI organizou quatro entre 1964 e 1976, na Índia (quando o Papa ofereceu o seu carro à Madre Teresa de Calcutá), na Colômbia, na Austrália e nos Estados Unidos.

Mais recentemente, João Paulo II realizou sete entre 1981 e 2004 em França, Quénia, Coreia do Sul, Espanha, Polónia, Itália e México.

Os últimos congressos realizaram-se sob a égide de Bento XVI, em Quebec (Canadá), em 2008, e em Dublin, em 2012, e sob a égide do Papa Francisco, em Cebu (Filipinas), em 2016, e em Budapeste, em 2021. O que se realizará em setembro deste ano na capital do Equador é, portanto, o 53º Congresso Eucarístico Internacional.

Organização dos congressos

O objetivo de um Congresso Eucarístico Internacional é "tornar sempre Nosso Senhor Jesus Cristo mais conhecido, amado e servido no seu Mistério Eucarístico, centro da vida e da missão da Igreja".

Os Congressos Eucarísticos Internacionais são convocados pelo Papa, na cidade proposta por um bispo ou por uma conferência episcopal.

Em 1879, o Papa Leão XIII criou um Comité Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais, responsável pela organização e preparação dos congressos. São João Paulo II aprovou os seus estatutos em 1986.

Em 1898, por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional de Bruxelas, foi encorajada a criação de comités nacionais para facilitar a organização no país anfitrião, tal como expresso nos documentos do congresso: "Seria útil que todos os países imitassem o exemplo dos bispos de Espanha, Itália e Estados Unidos, constituindo um comité nacional para promover, juntamente com os comités diocesanos, as obras do Santíssimo Sacramento mais facilmente e para assegurar os frutos dos congressos eucarísticos".

Neste quadro, foi também instituída a figura do delegado nacional, que "deve preparar para a Assembleia Plenária um relatório sobre a situação do culto e da vida eucarística no seu país". A constituição dos delegados nacionais é posterior à do comité nacional: foi oficialmente aprovada por São João Paulo II a 2 de abril de 1986.

O desenvolvimento de um congresso eucarístico

Mesmo que o congresso se realize num determinado país, é um "acontecimento da Igreja universal" e "deve envolver a participação das Igrejas particulares espalhadas pelo mundo, como expressão da comunhão em Cristo Eucaristia".

Habitualmente, o Congresso Eucarístico tem a duração de uma semana, embora não exista uma duração fixa, pois consoante as particularidades e recursos de cada diocese, pode ser de um dia ou de vários dias. O ponto culminante de um Congresso Eucarístico Internacional é a Statio Orbis, que é "a celebração eucarística presidida pelo Papa ou pelo seu legado, como expressão visível da comunhão da Igreja universal". A Statio Orbis é celebrada nos Congressos Eucarísticos Internacionais desde 1960, reavivando "um costume da antiga Igreja de Roma [...], em que o Papa e o povo se uniam em oração em certas ocasiões".

Além disso, a Santa Sé sublinha a importância de o congresso não ser um momento único na vida espiritual da diocese, mas de continuar a trabalhar e a incentivar o culto eucarístico nas paróquias, mantendo "viva a chama, para que os Congressos Eucarísticos Internacionais não fiquem apenas numa bela recordação pessoal, mas tenham continuidade pastoral".

Embora os congressos sejam um acontecimento da Igreja, podem incluir "uma dimensão ecuménica e inter-religiosa". Há vários elementos indispensáveis para o desenvolvimento de um congresso eucarístico. O seu centro é "a celebração eucarística, fonte e cume de toda a vida cristã". Por isso, há orações comuns, adoração ao Santíssimo Sacramento e procissões eucarísticas. Além disso, são organizadas conferências e ensinamentos para aprofundar o mistério eucarístico.

Vaticano

Papa apela à paz e ao cuidado da terra na Papua Nova Guiné

A 45ª viagem apostólica do Papa Francisco prossegue com mais uma paragem no Sudeste Asiático e continuará até ao dia 13 deste mês em mais dois países: Timor-Leste e Singapura.

Hernan Sergio Mora-7 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

O Papa chegou ontem ao fim da tarde a Port Moresby, capital da Papua Nova Guiné. No aeroporto, foi recebido com honras, incluindo tiros de canhão, uma guarda de honra e uma homenagem floral transportada por duas crianças vestidas com trajes tribais.

A caminho da nunciatura, onde está hospedado nestes dias, o Papa pôde sentir os milhares de pessoas que o saudaram com tochas e luzes de telemóveis nas ruas da capital.

Reunião com as autoridades

A manhã de sábado começou com a Santa Missa, após a qual o Pontífice se dirigiu à Casa do Governo em Port Moresby, onde foi recebido pelo Governador Geral da Papua Nova Guiné, Sir Bob Bofeng Dadae, com quem teve um encontro privado.

No livro de honra que lhe foi oferecido, Francisco escreveu: "Estou feliz por poder encontrar-me com o povo da Papua-Nova Guiné, espero que encontrem sempre luz e força na oração para caminharem juntos na via da justiça e da paz.

A segunda paragem foi no Casa APEC para o encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático, onde teve lugar o primeiro discurso do dia. Na vossa pátria, um arquipélago de centenas de ilhas, são faladas mais de oitocentas línguas, correspondentes a outros tantos grupos étnicos", disse o Sucessor de Pedro, "o que evidencia uma extraordinária riqueza cultural.

O vosso país - prosseguiu o Santo Padre - para além das ilhas e das línguas, é também rico em recursos terrestres e hídricos". E, embora quisesse esclarecer que "estes bens são destinados por Deus a toda a comunidade e que, para a sua exploração, é necessário recorrer a competências mais vastas e a grandes empresas internacionais, é justo que, na distribuição dos rendimentos e na utilização do trabalho, sejam tidas em conta as necessidades das populações locais, a fim de melhorar efetivamente as suas condições de vida".

Para além desta defesa da casa comum, o Papa desejou "o fim da violência tribal, que infelizmente causa muitas vítimas, não permite que as pessoas vivam em paz e impede o desenvolvimento". Apelou a todos "para que parem a espiral de violência e tomem decididamente o caminho que conduz a uma colaboração frutuosa, em benefício de todos os habitantes do país".

Dirigindo-se também a "todos aqueles que se professam cristãos - a grande maioria do vosso povo - desejo sinceramente que a fé nunca se reduza à observância de ritos e preceitos, mas que consista em amar Jesus Cristo e segui-lo, e que se torne uma cultura vivida, inspirando mentes e acções e tornando-se um farol que ilumina o caminho".

"Felicito - concluiu o Santo Padre - as comunidades cristãs pelas obras de caridade que realizam no país, e exorto-as a procurar sempre a colaboração com as instituições públicas e com todas as pessoas de boa vontade, a começar pelos seus irmãos e irmãs de outras comunidades cristãs, confissões e outras religiões, para o bem comum de todos os cidadãos da Papua Nova Guiné".

Com crianças de rua e com deficiência

À tarde, depois de deixar a Nunciatura Apostólica, o Santo Padre Francisco dirigiu-se de carro para a Escola Secundária Técnica Caritass onde, às 17 horas locais, visitou as crianças de Pastoral de rua y Serviços Callan.

Depois de uma saudação de boas-vindas do Cardeal Arcebispo de Port Moresby e dos aplausos e saudações, da música coral e de uma dança tradicional, uma criança deficiente e uma criança de rua dirigiram-se ao Papa, agradecendo-lhe a sua ajuda. Serviços Callan e o trabalho da Arquidiocese.

"Obrigado, Santo Padre, pela tua presença entre nós", disse o primeiro, enquanto o segundo acrescentou: "Tu amas as crianças, pois tomaste a iniciativa de te encontrares connosco, apesar de não sermos produtivos, de por vezes criarmos problemas, de vaguearmos pelas ruas e de nos tornarmos um fardo para os outros.

O Santo Padre dirigiu algumas palavras de saudação às crianças, deu-lhes uma bênção, seguindo-se a troca de presentes e uma fotografia de grupo entre aplausos e cânticos.

Encontro com o clero e os religiosos

Pouco depois, o Santo Padre chegou ao Santuário de Maria Auxiliadora, onde foi recebido com grande fervor. "Saúdo-vos a todos com afeto: bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e catequistas. Agradeço ao Presidente da Conferência Episcopal pelas suas palavras", bem como às testemunhas, disse aos presentes.

O Pontífice centrou-se em "três aspectos do nosso caminho cristão e missionário, sublinhados pelos testemunhos escutados: a coragem de começar, a beleza de estar presente e a esperança de crescer".

"Gostaria de vos recomendar um caminho importante para onde podem dirigir os vossos "passeios": para as periferias do país. Estou a pensar nas pessoas que pertencem aos sectores mais desfavorecidos da população urbana, bem como naquelas que vivem nas zonas mais remotas e abandonadas, onde por vezes falta o necessário. E também naqueles que são marginalizados e feridos, moral e fisicamente, por preconceitos e superstições, chegando por vezes a arriscar a vida, como nos recordaram Santiago e a Irmã Lorena", dois dos testemunhos que o Papa tinha ouvido anteriormente.

Afirmou ainda que "a beleza de estar lá não está tanto nos grandes eventos e momentos de sucesso, mas na lealdade e no amor com que nos esforçamos por crescer juntos todos os dias.

Continuai a vossa missão - concluiu o Pontífice - como testemunhas de coragem, de beleza e de esperança! Agradeço-vos por aquilo que fazeis, abençoo-vos do fundo do coração e peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim". Depois da bênção, da troca de presentes, da fotografia com os bispos, saudou os presentes no pátio com aplausos e cânticos.

O autorHernan Sergio Mora

Mundo

Segunda sessão do Sínodo: rumo a uma assembleia eclesial europeia?

Na sequência de uma reunião de 43 representantes das Igrejas locais europeias, em preparação da segunda Assembleia Sinodal, foi feito um apelo para "ultrapassar o clericalismo" e criar novos "ministérios" na Igreja. No final da reunião, uma delegação do comité central dos católicos alemães deslocou-se a Roma.

José M. García Pelegrín-7 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

A primeira sessão da assembleia geral do Sínodo da Sinodalidade teve lugar em Roma, em outubro de 2023; a segunda sessão terá lugar em outubro, também na Cidade Eterna. Para preparar esta segunda sessão, 43 representantes das igrejas locais europeias reuniram-se de 29 a 31 de agosto em Linz, na Áustria.

Entre os presentes encontravam-se o Arcebispo Gintaras Grusas, presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), o seu adjunto Ladislav Nemet e os presidentes das Conferências Episcopais Italiana, Austríaca e Suíça, bem como Beate Gilles, secretária-geral da Conferência Episcopal Alemã.

Estavam também presentes oito dos dez participantes europeus no Sínodo que, sem serem bispos, têm direito de voto, nomeadamente Helena Jeppesen-Spuhler, Thomas Söding, Myriam Wijlens e Thomas Schwartz. O documento foi apresentado por Riccardo Batocchio, secretário especial da secretaria do Vaticano para o Sínodo.

Nostalgia, clericalismo e transparência

As sessões decorreram em sete grupos linguísticos (alemão, inglês, francês e italiano) de seis pessoas cada. Klara Csiszar, reitora da Universidade Católica privada de Linz e figura-chave na preparação do encontro, sublinhou que se conseguiu "uma boa mistura de bispos e leigos, homens e mulheres, bem como de participantes da Europa Ocidental e Oriental". Os trabalhos seguiram o método do sínodo mundial, com debates privados e momentos de reflexão espiritual.

Embora não tenha sido emitida uma declaração conjunta, os relatórios dos grupos sublinharam a importância de evitar a nostalgia, de promover a colaboração entre as Igrejas da Europa Oriental e Ocidental e de aproveitar a "oportunidade ecuménica" na Europa. Foi também sublinhado que o catolicismo deve ser vivido "em amplitude", com humildade e abertura ao mundo, reconhecendo que a Europa já não é o centro da Igreja, mesmo que o seu "coração" permaneça em Roma.

Os participantes sugeriram a superação do "clericalismo" - entendido como significando que apenas os clérigos devem liderar a Igreja - sem retirar a autoridade aos padres e bispos, promovendo a subsidiariedade e a consulta, e desenvolvendo "novos ministérios", como o aconselhamento espiritual.

A importância da formação, da responsabilidade e da transparência foi também sublinhada, embora se tenha notado que esta última pode ser problemática em países onde a Igreja é perseguida. A questão das mulheres foi considerada "essencial para manter a credibilidade da Igreja".

Assembleia Eclesial Europeia

Na sequência do encontro, Thomas Söding, vice-presidente do Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK), publicou um artigo na revista teológica "Communio", no qual propõe uma "assembleia eclesial europeia" para promover a sinodalidade na Europa, inspirada nas iniciativas da América do Sul.

No artigo, escreve: "Ainda não existe uma plataforma sólida onde se possam discutir experiências e respostas diferentes e onde se possa olhar para a nossa própria situação através dos olhos dos outros. Não haverá respostas com valor eterno, mas precisamos de formas de diálogo que evitem a suspeita e o mal, de modo a criar compreensão e solidariedade".

Numa entrevista ao "Vatican News", Söding sublinhou a necessidade de uma maior sinodalidade na Igreja Católica na Europa, com reuniões regulares com uma ampla participação, incluindo leigos e bispos. Estas reuniões, afirmou, são cruciais para ultrapassar as diferenças culturais, sociais e políticas na Europa e apoiar o caminho para a reforma da Igreja.

Esta última entrevista teve lugar no contexto da visita da ZdK a Roma, na qual participaram a sua presidente Irme Stetter-Karp, o secretário-geral Marc Frings, bem como os vice-presidentes Claudia Nothelle e o próprio Thomas Söding. Para a ZdK, tratava-se de "compreender Roma e fazer-se compreender por Roma".

Diálogo sobre os abusos

John Joseph Kennedy, secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé, responsável pelas punições canónicas para os autores de abusos, com especialistas em proteção de menores. Hans Zollner e Peter Beer, bem como o P. Markus Graulich, subsecretário do Dicastério para os Textos Legislativos até ao final de agosto.

No final do encontro, numa entrevista à agência noticiosa católica alemã KNA, Stetter-Karp fez um resumo positivo: "As tensões entre o Caminho Sinodal e o Vaticano provavelmente não foram completamente resolvidas, porque não desaparecem simplesmente com uma conversa. Mas onde pudemos falar abertamente com os nossos parceiros, a compreensão mútua aumentou. Segundo o presidente da ZdK, a "abordagem sistémica", ou seja, "o que deve ser mudado na organização da Igreja para enfrentar e prevenir os abusos e os seus encobrimentos", não é geralmente reconhecida no Vaticano, "mas há semelhanças de pensamento com os dois interlocutores mencionados", Zollner e Beer.

Caminho sinodal alemão

Irme Stetter-Karp acredita que, depois desta visita, "Roma compreende melhor do que antes qual é a nossa motivação no caminho sinodal. Antes, eram informados por terceiros; agora falaram diretamente connosco. E penso que o clima mudou e que nos reconheceram como cristãos empenhados na sua Igreja.

Embora a ZdK fale de uma "viagem oficial" da ZdK ao Vaticano, é verdade que os representantes da ZdK não tiveram quaisquer reuniões de "alto nível" nos dicastérios do Vaticano. Zollner deixou a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores em março de 2023 e foi nomeado consultor do Gabinete para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis da Diocese de Roma. O Padre Graulich foi substituído como subsecretário no Dicastério para os Textos Legislativos a 1 de setembro.

Nenhum órgão do Vaticano fez qualquer declaração sobre estes encontros. 

Mundo

Juan Carlos Holguín: "Os fundamentos da fé podem oferecer um caminho para a resolução dos conflitos actuais".

O antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador foi um dos oradores do Simpósio Teológico que se realiza em Quito por ocasião do 53º Congresso Eucarístico Internacional e que tem como objetivo refletir sobre a relação intrínseca entre Eucaristia e Fraternidade no contexto de um mundo ferido.

Juan Carlos Vasconez-7 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Juan Carlos Holguín Maldonado (Quito, 1983) foi nomeado pelo Presidente Guillermo Lasso Mendoza Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Mobilidade Humana em janeiro de 2022 e até 2024.

Este empresário é também diretor e fundador de várias organizações da sociedade civil e foi bolseiro da Fundação Konrad Adenauer, tendo centrado a sua formação nos domínios dos mecanismos de integração regional, da democracia e da governação.

Holguín foi o tema da sua apresentação, no âmbito do Congresso Eucarístico Internacional A conferência, que se realiza em Quito, centra-se na forma como a procura da fraternidade pode renovar a atividade política no Equador e na importância que a consagração da nação ao Coração de Jesus em 1874 continua a ter nesta renovação.

Comecemos por falar da consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus, um momento histórico importante. O que o inspirou a debruçar-se sobre este tema?

-Para mim, falar da consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria é fundamental, não só como facto histórico, mas como realidade espiritual que continua a influenciar o nosso presente. 

A ideia de consagrar publicamente o Equador ao Sagrado Coração de Jesus tinha sido sugerida ao Presidente Gabriel García Moreno pelo Padre Manuel Proaño, Diretor Nacional do Apostolado da Oração. Na sua resposta, numa das cartas trocadas entre estas duas figuras históricas, o antigo presidente, com alguma hesitação, fruto da sua sinceridade, dizia: "E será o Equador uma oferenda digna do Coração do Homem-Deus? Reina a justiça no foro, a paz nas famílias, a unidade nos cidadãos, o fervor nos templos?" e a pergunta que nos devemos fazer hoje é se ainda somos dignos desta consagração.

E a minha resposta é: definitivamente sim. Mas com algumas nuances. 

No seu discurso, referiu que o Equador, apesar da sua rica história religiosa, continua a enfrentar desafios significativos. Como vê esta tensão entre o passado de fé e os problemas actuais?

-Exatamente. Atualmente, enfrentamos novos desafios. A história mostra que passámos por momentos de divisão e de conflito desde a altura da independência. Estes problemas não são exclusivos do passado. Ainda hoje, existe uma falta de fraternidade e de unidade no país, tanto a nível político como social.

Problemas como a corrupção, a desigualdade e a violência crescente sugerem que os valores que nos deveriam guiar enquanto nação se perdem frequentemente no meio das lutas pelo poder e pelos interesses próprios. Esta desconexão entre o ideal religioso e a realidade política e social atual cria um sentimento de fratura e uma necessidade urgente de reconciliação.

São os fundamentos da fé que poderiam oferecer um caminho para a resolução dos conflitos actuais. Os princípios cristãos de fraternidade, justiça e paz, se autenticamente aplicados na vida pública e política, poderiam ser o motor para superar as divisões e restaurar a confiança nas instituições. 

É um apelo a reavivar esse espírito de consagração e a alinhá-lo com os esforços actuais de maior coesão social e de política para o bem comum. Só quando o país voltar a olhar para o céu, como o fez no passado, poderá encontrar o caminho para ultrapassar os desafios actuais com esperança e unidade.

Referiu que o pêndulo político já não é tão ideológico como nas décadas anteriores. Pode explicar melhor este fenómeno?

O pêndulo político, especialmente na América Latina, costumava ser claramente marcado por ideologias de esquerda ou de direita. Atualmente, esse pêndulo é menos ideológico e mais pragmático. Os eleitores procuram soluções imediatas para os seus problemas, o que permitiu a ascensão de propostas populistas, tanto de esquerda como de direita. 

Este fenómeno reflecte uma mudança para uma política mais reactiva, em que o pêndulo oscila entre o oficialismo e a oposição, e não entre correntes ideológicas. Redes sociais e pós-verdade intensificaram este processo, permitindo a rápida difusão de narrativas simplificadas que alimentam o descontentamento e a polarização. 

A irrupção da tecnologia transformou o cenário político, facilitando a disseminação de notícias falsas e do populismo, o que enfraquece o debate ideológico sério. Neste contexto, o pêndulo já não oscila para uma luta de ideias, mas para a procura de soluções imediatas, muitas vezes sem ter em conta o custo a longo prazo em termos de governação e estabilidade democrática.

Por fim, falou de esperança e referiu a importância da fraternidade como base para a construção de uma democracia sólida. Que mensagem daria aos equatorianos face aos desafios actuais?

-Apesar dos desafios, continuo otimista. O Equador tem grandes oportunidades e vantagens comparativas únicas. A nossa juventude, as nossas riquezas naturais e a nossa história projectam-nos para um futuro cheio de esperança. 

Sou positivo e esperançoso: o nosso país sempre olhou para o céu para encontrar o seu norte. Temos vantagens comparativas e competitivas únicas, que nos projectam para o futuro com grande esperança. A nossa posição equatorial e a nossa distância do sol permitem-nos ter as melhores flores, o melhor cacau e o melhor camarão do mundo. Ter o dólar como moeda, para além de ser um escudo contra a tentação dos governos de imprimir mais moeda, permite-nos ter estabilidade e baixa inflação. 

A responsabilidade recairá sobre os seus políticos e cidadãos, que devem, necessariamente, estar convencidos de que a democracia só pode ser construída com base na harmonia, no consenso e na fraternidade. De facto, este será um desafio do mundo de hoje, cheio de guerras e de muitos desafios. 

Vaticano

Papua Nova Guiné, segunda paragem da viagem do Papa Francisco

O quarto dia da viagem apostólica do Papa Francisco no Sudeste Asiático centra-se sobretudo na viagem que o levará da Indonésia à Papua Nova Guiné. Situada a 5.700 quilómetros de Roma e com uma diferença de fuso horário de oito horas.

Hernan Sergio Mora-6 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Pontífice começou a sexta-feira com uma missa privada na nunciatura, onde tem estado alojado em Jacarta.

À sua chegada ao aeroporto internacional, Soekarno-Hatta foi recebido por um piquete de honra, pelo Ministro dos Assuntos Religiosos Yaqut Cholil Qoumas, pelo Cardeal Gnatius Suharyo Hardjoatmodjo e por outras autoridades civis e religiosas.

O Papa entrou a bordo de um Airbus A330, acompanhado por jornalistas e responsáveis pela viagem.

Infografia da viagem do Papa Francisco ©CNS graphic/Justin McLellan

Receção em Port Moresby

O avião da Garuda-Indonésia descolou quase às 6 horas da manhã de hoje. A viagem tem uma duração prevista de cerca de seis horas, devendo o Airbus aterrar no Aeroporto Internacional Jacksons em Port Moresby, capital da Papua Nova Guiné, às 12h00 (hora local).

Haverá uma cerimónia de boas-vindas presidida pelo Vice-Primeiro-Ministro, com os tradicionais tiros de canhão, guarda de honra, cânticos, oferta de flores em trajes tradicionais e apresentação das delegações.

Do aeroporto, o Pontífice dirigir-se-á à Nunciatura, onde passará quatro noites, até segunda-feira, 9 de setembro, durante a sua estadia no arquipélago.

Papua-Nova Guiné hoje

Port Moresby, coloquialmente conhecida como Pom Town, com os seus 350.000 habitantes, é a capital e a principal cidade e porto da Papua-Nova Guiné, um país com mais de 10 milhões de habitantes, conhecido pelas suas praias, recifes de coral e florestas tropicais.

Foi uma base dos EUA na Segunda Guerra Mundial e tornou-se independente da Austrália e da Grã-Bretanha em 1975.

A situação política na Papua-Nova Guiné (PNG) é complexa e caracteriza-se por uma combinação de instabilidade política, corrupção e desafios socioeconómicos.

É uma democracia parlamentar dentro da Commonwealth, com uma estrutura governamental que inclui um primeiro-ministro como chefe de governo e um governador-geral que representa o monarca britânico, Carlos III.

O autorHernan Sergio Mora

Zoom

Um toucado original para esperar o Papa

Uma mulher com uma fita original na cabeça espera pela missa com o Papa Francisco no estádio Gelora Bung Karno em Jacarta, Indonésia, a 5 de setembro de 2023.

Maria José Atienza-6 de setembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vaticano

Da Guarda Suíça ao Seminário

Relatórios de Roma-6 de setembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

Didier Grandjean exerceu durante 8 anos as funções de guarda suíço. Durante esse tempo, para além de servir dois Papas: Bento XVI e Francisco, descobriu a sua vocação para o sacerdócio.

Os dois pontífices apoiaram e encorajaram o jovem que está no seminário há cinco anos.


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Cultura

Quando a música semeia esperança perante a morte

A música não é apenas uma fonte de consolação nos momentos trágicos e amargos da morte. No caso dos grandes mestres, traz também uma nova luz para os compreender. Quando, além disso, o mestre é um homem de fé, ela conforta o ouvinte com a doce harmonia da esperança que traz a vitória de Cristo.

Antonio de la Torre-6 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Uma das primeiras composições de Johann Sebastian Bach (1685-1750) é a cantata número 106 do catálogo BWV, cujo título (retirado da primeira frase do seu texto, como em todas as cantatas de Bach) é "Gottes Zeit ist die allerbeste Zeit" ("O tempo de Deus é o melhor de todos os tempos"). Como caraterística única, esta cantata tem também o subtítulo, ou alcunha, "Actus Tragicus", que não é devido ao compositor, mas aparece pela primeira vez numa cópia tardia da partitura, feita em 1768.

Retrato de J.S. Bach por Hausmann (Wikimedia Commons / Johnhuxley)

A cantata é geralmente datada de 1707 ou 1708, que é o período em que Bach ocupou brevemente o cargo de organista na igreja de São Brás na aldeia turíngia de Mühlhausen. Foi escrita para uma pequena equipa de músicos: quatro vozes, duas flautas de bisel, duas violas da gamba e um baixo contínuo.

É, portanto, a obra de um compositor estreante que, aos 22 anos e prestes a casar com a sua prima Maria Bárbara, foi incumbido de compor esta obra para um funeral. No entanto, por mais precoce que seja esta cantata, é já uma obra-prima, revelando pela primeira vez o seu compositor como o génio musical que é. Apenas seis cantatas antigas de Bach sobreviveram, o que torna esta obra ainda mais valiosa. Mais tarde, trabalhando em Weimar (de 1708 a 1717) e em Leipzig (de 1723 até à sua morte), muitas mais cantatas se seguiriam, numa forma e estilo diferentes das compostas na sua juventude.

Uma sequência musical bíblica

A forma desta cantata é ainda muito simples, consistindo numa série simples de textos bíblicos muito curtos sobre a morte. A um bloco de textos do Antigo Testamentoque contêm reflexões e advertências sobre a morte, segue-se uma quadra do Novo Testamento, que exprime a esperança perante a morte e o espírito com que o crente a deve enfrentar. A escolha dos textos deve-se, possivelmente, ao jovem compositor que, desde a sua juventude, demonstrou uma sábia reverência pela Palavra de Deus e pela teologia, como se pode ver pelo conteúdo da sua biblioteca pessoal. Em particular, esta cantata parece ser um eco musical da teologia luterana sobre a "Ars Moriendi", ou seja, a maneira de explicar ao crente como abordar o seu dever de se preparar corretamente para o momento da morte.

Para tal, organiza a sequência de textos como um breve (e trágico) Ato de uma peça sacramental, em cujos protagonistas o ouvinte tem de se reconhecer para ouvir a obra com o sentido pretendido pelo compositor. Numa ação contínua, em que os números estão ligados uns aos outros, o ouvinte ouvirá primeiro as vozes proféticas, que o admoestam e advertem, para depois encontrar a mesma "vox Christi" e terminar, com um coral, ouvindo a voz da assembleia crente.

A meio do ato, tal como o seu coração, está a intervenção da alma da soprano, que, numa súplica de cortar a respiração, clama pela vinda de Cristo e por ouvir a sua própria voz. Precedendo todo este conjunto, há uma maravilhosa introdução instrumental curta que Bach compõe como prelúdio (como fará também em muitas cantatas de Weimar e algumas de Leipzig).

Ecos do Antigo Testamento

A cantata é assim constituída por esta sonatina, quatro números vocais sobre o Antigo Testamento, uma intervenção da alma, dois números sobre o Novo Testamento e um refrão final. Na sonatina, admiramos a sua simplicidade homofónica e a terna nostalgia que evoca, longe dos efeitos trágicos das composições fúnebres não tão próximas da fé como esta.

De facto, sobre um fluxo simples das violas e do baixo contínuo, as duas flautas de bisel, instrumento tradicionalmente associado aos ritos funerários, ecoam com um motivo simples de três notas, que conduz a um acorde maior que dá lugar ao primeiro número vocal.

Trata-se de um coro que, depois de uma frase sapiencial (a que dá título à cantata), e de um pequeno gesto rítmico dos instrumentos (uma alegre gavotte, sem dúvida para iluminar um tema tão sério), dá lugar a um coro muito vivo, em ritmo ternário, sobre o texto "Nele vivemos, nos movemos e existimos" (Factos 17, 28).

Um contraste dramático introduz uma segunda ideia sapiencial: vivemos no tempo certo que Deus determinou. O coro cala-se depois das palavras "quando Ele quiser". Em poucos compassos, o ouvinte passa então da reflexão alegre à realização trágica, passando pela lembrança de que todo o fluxo da vida se faz "n'Ele".

O segundo número, um arioso para tenor, ilustra Sal 90, 12: "Ensina-nos a contar os nossos anos, para que possamos adquirir um coração são". A voz do salmista David entrelaça-se com as duas flautas, sobre o acompanhamento das duas violas de gamba e do continuo, para nos exortar a não negligenciar o dever de cada crente de adquirir uma preparação sensata para o momento da morte.

De repente, a guitarra baixo irrompe no terceiro número, levando a voz do profeta Isaías a cantar "prepara a tua casa, porque morrerás, e não viverás" (Isaías 38, 1). É o aviso do profeta ao rei moribundo Ezequias, com o qual o ouvinte deve identificar-se, para que, tal como Ezequias se recuperou acreditando no profeta, o cristão vença a morte pela sua fé em Jesus Cristo.

A inquietação que estas palavras despertariam no rei é representada pela figura rítmica inquieta repetida pelas flautas, desta vez sem a ternura das violas da gamba, e que ecoa quando a voz se cala.

Sem interrupção, o coro toma a voz do sábio para cantar "é uma lei eterna que o homem deve morrer" (Eclesiástico 14, 17). O complexo contraponto tecido pelo coro torna-se cada vez mais denso, ainda mais privado do timbre das violas e das flautas. Como que tentando sair desta teia opressiva, a alma, cuja voz é tomada pelo soprano, apresenta a sua súplica angustiada com as palavras "Sim, sim, vem, Senhor Jesus" (Apocalipse 22, 20). Com eles regressa a ternura das violas, mas por pouco, pois o refrão opressivo repete-se uma e outra vez, como se enredasse a alma no medo da morte ("o homem deve morrer"). Com o coro e os instrumentos abafados, num brilhante gesto dramático, o soprano canta uma melodia em queda livre sobre o baixo contínuo, terminando com as palavras "vem, Senhor Jesus" num sussurro e sem acompanhamento.

A voz de Cristo

Perante este grito da alma, abre-se o bloco luminoso do Novo Testamento. Em primeiro lugar, o lugar alto recorda as palavras de Cristo na morte, para que a alma as faça suas: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lucas 23, 46). É uma melodia serena, acompanhada apenas pelo baixo contínuo, tal como o soprano no final do número anterior, que também canta com esperança "Tu, Deus fiel, me livrarás" (Salmo 31, 6).

As cativantes violas da gamba regressam quando o baixo aparece trazendo a mesma "vox Christi", que consola a alma cantando "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23,43). Como fará mais tarde na Paixão segundo Mateus, a musicalização de Cristo como baixo acompanhado pelas cordas oferece uma representação que sintetiza brilhantemente o poder divino de Cristo com a ternura da sua humanidade.

Como é típico das primeiras cantatas, quando o baixo repete a sua intervenção fá-lo sobre uma melodia de coral, cantada pelo alto e acompanhada pelas violas da gamba. O coral põe em música um pequeno verso escrito por Lutero sobre o cântico de Zacarias "Agora podes deixar o teu servo ir em paz". 

O número termina com este coral flutuando sobre um rico contraponto elaborado pelas duas violas no continuo, como que para saborear esta certeza de paz e alegria que permanece na alma depois de tudo o que foi vivido neste Ato.

Finalmente, devemos oferecer a Deus, que nos redimiu do pecado e transformou a nossa angústia perante a morte em esperança, o agradecimento e o louvor que Ele merece. Para isso, as flautas de bisel voltam a acompanhar o coro e todo o conjunto instrumental numa glorificação do Pai, do Filho e do Espírito Santo, novamente com o ritmo dançante da gavota, sublinhando a alegria e a força que o crente recebe da sua fé. E como essa força vem de Jesus Cristo, este coro final conduz a uma fuga cheia de vida e movimento, terminando com as palavras litúrgicas "Por Jesus Cristo, Amen".

O final surpreendente deste coro não é aqui revelado, para que cada ouvinte o descubra por si próprio. Uma boa gravação do conjunto russo "Bach-Consort" pode ser utilizada para esse efeito, onde, para além de ouvir esta maravilhosa cantata, é possível acompanhar visualmente as intervenções das várias vozes e instrumentos.

O autorAntonio de la Torre

Doutor em Teologia

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Vaticano

O Papa despede-se da Indonésia e apela aos católicos para que "nunca se cansem de semear".

O último dia do Papa na Indonésia foi marcado por um encontro inter-religioso na mesquita "Istiqlal", a maior do Sudeste Asiático, e pelo testemunho de pessoas com deficiência na sede da Conferência Espírita.

Hernan Sergio Mora-5 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Três acontecimentos marcaram a quinta-feira, 5 de setembro, o último dia da viagem apostólica do Papa Francisco ao Vaticano. Indonésia - que prossegue na Papua Nova Guiné, em Timor Leste e em Singapura (até 13 de setembro).

Em primeiro lugar, o encontro inter-religioso na mesquita "Istiqlal", a maior mesquita do Sudeste Asiático, com capacidade para 120.000 pessoas. Neste lugar emblemático, o Papa visitou o "túnel da amizade" que liga a mesquita à catedral católica construída do outro lado da praça, e o encontro inter-religioso teve lugar na grande tenda, com a leitura e a assinatura de um documento que fará história: a "Declaração Conjunta de Istiqlal 2024".

Na mesquita

No início do dia, numa tenda na mesquita IstiqlalEm Jacarta, o Papa Francisco foi recebido com música e cânticos tradicionais indonésios, um cântico do Corão e a leitura de uma passagem do Evangelho de Lucas.

O túnel da amizade

Em frente ao "Túnel da Amizade", o Santo Padre elogiou a estrutura que "quer ser um lugar de diálogo e de encontro". Se pensarmos num túnel, facilmente imaginamos uma estrada escura", mas "aqui é diferente, porque tudo está iluminado", sublinhou.

O Papa concluiu afirmando que "nós, crentes, que pertencemos a diferentes tradições religiosas, temos um papel a desempenhar: ajudar todos a atravessar o túnel com os olhos virados para a luz".

A "Declaração Conjunta de Istiqlal 2024".

A visita ao túnel foi seguida da assinatura da "Declaração Conjunta de Istiqlal 2024" pelo Papa e pelo Grande Imã Prof. Dr. KH Nasaruddin Umar. O documento refere que o "fenómeno global da desumanização é caracterizado sobretudo pela violência e pelos conflitos generalizados", com "particular preocupação pelo facto de a religião ser frequentemente explorada", que "o abuso da criação pelo homem... contribuiu para as alterações climáticas" e que "os valores religiosos devem ser orientados para a promoção de uma cultura de respeito, dignidade, compaixão, reconciliação e solidariedade fraterna, a fim de superar tanto a desumanização como a destruição ambiental".

A declaração convida os líderes religiosos a "abordar as crises acima mencionadas", indicando que "o diálogo inter-religioso deve ser reconhecido como um instrumento eficaz para a resolução de conflitos locais, regionais e internacionais, especialmente os causados pelo abuso da religião".

As palavras do Pontífice na mesquita

Uma vez assinado o documento, o Papa FranciscoEsta mesquita, projectada pelo arquiteto Friedrich Silaban, que era cristão, é um testemunho de que "outros locais de culto são também espaços de diálogo, de respeito mútuo e de convivência harmoniosa entre religiões e sensibilidades espirituais diferentes".

E se "os aspectos visíveis das religiões - os ritos, as práticas, etc. - são um património tradicional que deve ser protegido e respeitado, o mesmo acontece com o que está "por baixo", no subsolo, como o "túnel da amizade".

Em vez disso, disse o Sucessor de Pedro, "pode acontecer que uma tal abordagem acabe por nos dividir, porque as doutrinas e os dogmas de cada experiência religiosa são diferentes". Em vez disso, "o que realmente nos une é criar uma ligação entre as nossas diferenças, tendo o cuidado de cultivar laços de amizade, de cuidado e de reciprocidade".

Na Declaração conjunta preparada para esta ocasião, o Papa concluiu que "assumimos a responsabilidade pelas crises graves e por vezes dramáticas que ameaçam o futuro da humanidade, em particular as guerras e os conflitos, infelizmente também alimentados pela exploração religiosa, mas também a crise ambiental, que se tornou um obstáculo à vida, ao crescimento e à convivência dos povos".

E advertiu: "Que ninguém ceda ao fascínio do fundamentalismo e da violência, que todos se deixem fascinar pelo sonho de uma sociedade e de uma humanidade livres, fraternas e pacíficas! "Deus concede-vos este dom. Com a sua ajuda e a sua bênção, vamos em frente, Bhinneka Tunggal Ika, unidos na diversidade - obrigado!

Visita à sede da Conferência Episcopal

No final do encontro inter-religioso, o Santo Padre dirigiu-se à sede da Conferência Episcopal Indonésia, onde se reuniu na sala da Conferência Episcopal Indonésia. Henry Soetio com as pessoas assistidas por organizações caritativas, incluindo um grupo privado de pessoas doentes, pobres e deficientes.

O presidente da Conferência Episcopal, D. Antonius Franciskus Subianto, foi o encarregado de receber o Pontífice, que ouviu os testemunhos de duas pessoas com deficiência, Mimi Lusli, que perdeu a visão em criança e encontrou força na Via Sacra, e Mikail Nathaniel, de 18 anos, com uma perturbação ligeira do espetro do autismo, que lhe pediu que abençoasse os seus "pais maravilhosos e todos os pais com filhos especiais, em todo o mundo".

"Vós que sois pequenas estrelas brilhantes no céu deste arquipélago", sois "os seus tesouros", disse o Papa que elogiou as palavras sobre Jesus proferidas pelos dois interlocutores.

"Descobrir, dia após dia, o quanto vale a pena estarmos juntos", porque "todos precisamos uns dos outros". E "o quanto o Senhor ama cada um de nós", porque o Senhor nunca nos esquece. "Faz da tua vida um dom para os outros".

Pouco depois, o chefe da comissão litúrgica dirigiu uma breve oração.

Aqui o Pontífice abençoou os presentes e assinou a placa de mármore da sede da Conferência Episcopal. À saída, era evidente o afeto dos presentes que o saudavam.

Missa no Gelora Bung Karno

À tarde, da Nunciatura, o Santo Padre dirigiu-se ao estádio Gelora Bung KarnoO Palácio Papal, com 110.000 lugares, onde foi recebido por coros da praça, aplausos e cânticos enquanto se deslocava no papamóvel.

A missa, em memória de Santa Teresa de Calcutá, incluiu orações nas línguas regionais de Jawa, Toraja, Manggarai, Batak Toba, Dayak Kanayatn e Papua, e contou com a presença do Presidente e de várias autoridades do país.

Depois da proclamação do Evangelho, o Papa, vestido de branco, recordou que "o Senhor pede para se encarnar concretamente em nós: somos por isso chamados a viver a Palavra". Não se revistam de uma religiosidade exteriormente perfeita, pensando fazer coisas extraordinárias, mas como quando "Jesus se dirige a Pedro e o exorta a correr riscos apostando naquela Palavra: "Lançar as redes do Evangelho com coragem no meio do mar do mundo".

O Pontífice recordou que Santa Teresa de Calcutá dizia: "Quando não temos nada para dar, damos esse nada. E "mesmo que não colhas nada, nunca te canses de semear".

No final da Missa, antes de cantar a Salve Regina, o Papa exortou os presentes, em sintonia com a leitura do Evangelho: "Fazei confusão, fazei confusão!

O autorHernan Sergio Mora

Mundo

D. Emilio Aranguren: "A Igreja em Cuba está viva, unida e pobre".

O bispo de Holguin e presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba participou na apresentação da campanha que a Ajuda à Igreja que Sofre lançou a favor da Igreja em Cuba, sob o lema "Onde nada é impossível para ti".

Maria José Atienza-5 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

"A Igreja em Cuba é uma Igreja viva, unida e pobre", começou por dizer o prelado, que se juntou à apresentação do campanha pela Igreja em Cuba. Uma comunidade que, como quis sublinhar o bispo de Holguin, desenvolveu a sua própria espiritualidade em torno de quatro valores: "o valor do pouco, o valor do pequeno, o valor do anónimo e o valor da gradualidade, do passo a passo".

Necessidades de todos os tipos

Apesar de uma ligeira melhoria nalguns aspectos, a vida da Igreja em Cuba continua a ser marcada pela pobreza e por limitações de todo o tipo.

Por um lado, a escassez de sacerdotes e de estruturas eclesiais em muitos lugares levou a uma ampla e frutuosa participação dos leigos na vida da Igreja, mas também tem consequências mais dolorosas, como a impossibilidade de celebrar regularmente a missa em alguns lugares.

A isto junta-se uma frota automóvel deteriorada que dificulta a deslocação dos padres e das freiras na ilha, a manutenção quase impossível dos edifícios e construções e a falta de publicações ou de outros meios necessários à catequese.

Apesar das dificuldades, o presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba salientou que a comunidade eclesial cubana é "ativa, criativa e esperançosa".

Não basta ser crente, é preciso ser discípulo.

D. Emilio Aranguren quis também assinalar alguns dos principais desafios que se colocam à Igreja em Cuba. O primeiro deles, sublinhou, é reavivar e manter a "presença testemunhal, coerente na vivência do Evangelho". Neste ponto, quis recordar e valorizar a perseverança na fé de tantos idosos que "são o testemunho expresso da Fé que motiva este estilo de vida com retidão".

Monsenhor Aranguren sublinhou a importância de cuidar das famílias e especialmente dos jovens, que constituem a maioria dos exilados do país. Por isso, para esta presença testemunhal, é necessário "um lugar central para a iniciação cristã" na vida da Igreja cubana.

Juntamente com esta presença, o bispo de Holguin sublinhou a importância do plano pastoral da Igreja em Cuba, em que o objetivo é o outro, o próximo e, finalmente, a necessidade de um anúncio de Cristo que gere uma vida nova.

Estes três desafios são especialmente apoiados pela comunidade leiga, muito ativa em Cuba, e que desenvolve um enorme trabalho de evangelização na linha da frente, nas chamadas casas de missão. Um panorama que exige um forte compromisso de vida por parte dos católicos: "Não basta ser crente, é preciso ser discípulo", disse D. Aranguren. Um exemplo deste empenho dos leigos foi dado por Miguel Ángel Fernández, cubano, diácono permanente, exilado em Espanha há 24 anos, mas muito ligado à sua terra natal, que contou, na primeira pessoa, a sua experiência do trabalho dedicado de muitos leigos nas diferentes comunidades cubanas.

José María Gallardo, diretor da AIS Espanha, e Miguel Ángel Fernández, diácono permanente cubano (AIS)

A campanha da AIS

A campanha lançada por Ajuda à Igreja que Sofre para apoiar a comunidade eclesial em Cuba é, nas palavras do diretor da AIS Espanha, José María Gallardo100% pastoral". Em primeiro lugar, com a oração, porque, como quiseram sublinhar desde o início da apresentação da campanha, "sem oração os projectos não têm êxito", e também com uma ajuda material concreta no terreno.

Com esta nova iniciativa, a fundação pontifícia pretende apoiar os leigos através de projectos como o financiamento de 2.000 publicações para catequese ou a organização de workshops de formação para líderes paroquiais, liturgistas e ministros da Eucaristia na diocese de Pinar del Río. 

Além disso, para os sacerdotes, a AIS encomendará mais de 2.000 missas para os sacerdotes da diocese de Holguín, cujos subsídios ajudarão a sustentar os sacerdotes. Em todo o país, há apenas 374 padres e 27 seminaristas, o que significa um padre para cada 20.872 pessoas.

Evangelho

A abertura do coração. 23º Domingo do Tempo Comum

Joseph Evans comenta as leituras do 23º Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-5 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O que chama a atenção no Evangelho de hoje é o esforço que Jesus faz para curar o homem que lhe é apresentado, que era surdo e tinha dificuldade em falar. "Levou-o para longe do povo e, quando ficou sozinho, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe na língua com a saliva. E, olhando para o céu, suspirou e disse-lhe: "Effeta (isto é, "abre-te").". O homem ficou curado e passou a ouvir e a falar livremente. Porque é que Jesus fez tudo isto? Não era a sua prática habitual. Normalmente, curava no local, com uma simples palavra.

Uma possibilidade é que o estado físico do homem exprimisse um estado espiritual: uma falta de sinceridade, uma falta de vontade de se dar a conhecer. Há pessoas que passam a vida a esquivar-se à verdade. Não querem ouvi-la nem dizê-la. A sinceridade é a abertura à verdade. 

Muitas vezes, as pessoas evitam a verdade procurando o anonimato, perdendo-se de várias maneiras: na multidão, numa festa, no trabalho, nas redes sociais... Tudo em vez de se confrontarem consigo mesmas, com a sua consciência, com Deus. E aqui Jesus leva o homem à parte, para longe da multidão. Precisamos de falar com Jesus a sós, de ser honestos com ele, de o deixar dizer-nos o que precisamos de ouvir, sem nos esquivarmos nem o negarmos. Jesus põe os dedos no ouvido do homem, como se tivesse de se esforçar mais para curar a sua surdez. Como se Deus tivesse de se "esforçar mais" para falar àqueles que não o querem ouvir.

Segue-se a fase seguinte do milagre: Jesus com saliva tocou na sua língua. Este homem não era completamente mudo. No Novo Testamento, encontramos outras pessoas possuídas por um "demónio mudo". Não conseguem dizer uma palavra. É a pior condição: pessoas que não falam, que não pedem ajuda. Mas este homem não era assim tão mau. Tinha apenas um problema de fala. Espiritualmente falando, há pessoas que dizem algo sobre o problema, mas não tudo, uma parte dele, mas não tudo. 

Depois ficamos a saber: "Olhando para o céu, suspirou e disse: Effetá (ou seja, "abrir")". Este suspiro pode exprimir a dor de Deus perante a insinceridade humana. Ele entristece-se com a nossa resistência à sua graça. É o suspiro de Deus por aqueles que ele quis ajudar mas que o rejeitaram. 

Tudo isto nos ensina a importância de sermos honestos nas áreas em que Deus nos quer ajudar: confissão, orientação espiritual, com os nossos pais, professores e guias, e também, quando necessário, com especialistas médicos que têm os conhecimentos necessários para nos ajudar.

Homilia sobre as leituras de domingo 23º Domingo do Tempo Comum (B)

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Estados Unidos da América

Arquidiocese de Denver: viveiro de apostolados leigos

Denver é conhecida não só pela sua beleza natural, mas também pela sua vida cultural, economia próspera e, do ponto de vista da fé, pela marca que tem tido na igreja a nível nacional.

Gonzalo Meza-5 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

Denver é a capital do estado do Colorado. Situa-se na base das Montanhas Rochosas do Colorado, a leste dos contrafortes da Front Range. Devido à sua elevação a 1.609 metros acima do nível do mar, é conhecida como a "Mile-High City". Embora Denver não esteja no topo das montanhas, estas dominam a vista da cidade.

Denver é conhecida não só pela sua beleza natural (que atrai milhares de turistas), mas também pela sua vida cultural, economia próspera e, do ponto de vista da fé, pelo impacto que tem tido na Igreja a nível nacional. Denver tem sido o viveiro de muitos apostolados e movimentos leigos que tiveram um impacto na vida da igreja no país. Alguns deles nasceram na sequência da Jornada Mundial da Juventude e da visita do Papa João Paulo II em agosto de 1993.

O estado do Colorado e a cidade de Denver

O Colorado é o oitavo maior estado dos Estados Unidos. Situa-se na parte montanhosa do oeste do país, fazendo fronteira com o Wyoming a norte, o Novo México a sul, o Kansas a leste, o Utah a oeste e o Nebraska a nordeste. Três dos principais rios do país nascem no estado: o Rio Colorado, o Rio Arkansas e o Rio Grande. O nome do estado deve-se ao Rio Colorado, um nome dado pelos colonos espanhóis. As Montanhas Rochosas atravessam o estado e estendem-se desde o norte da Colúmbia Britânica (Canadá) até ao sul do Novo México.

O Colorado fazia parte de três nações: a parte oriental pertencia à França. Foi adquirido pelos americanos com a compra da Louisiana francesa em 1803. A parte ocidental fazia parte do Vice-Reino da Nova Espanha até o México se tornar independente de Espanha em 1821. A parte ocidental do Colorado foi território mexicano até à Guerra EUA-México de 1846-1848, após a qual o México perdeu ("cedeu", como lhe chama a historiografia norte-americana) mais de metade do seu território.

O Colorado aderiu aos EUA em 1861 e foi admitido como Estado em 1876, razão pela qual é designado por "Estado do Centenário", uma vez que ocorreu no 100º aniversário da independência americana. A cidade de Denver foi constituída em novembro de 1861. Quatro anos mais tarde, tornou-se a capital territorial e, em 1876, a capital do novo estado do Colorado.

Vista da cidade de Denver

Os aldeões

A parte oriental das Rochosas era uma rota migratória para povos nativos e exploradores. Historicamente, a região do Colorado foi habitada por vários grupos de nativos americanos, incluindo os Pueblo, Apache e Comanche. Os primeiros colonos europeus chegaram no século XVII, mas só em 1787 é que Juan Bautista de Anza estabeleceu a povoação de San Carlos, perto da cidade de Pueblo.

Outros assentamentos permanentes seguiram-se no norte do Colorado após a descoberta de ouro na área em 1858. Para servir a emergente região mineira, foram construídos caminhos-de-ferro e foram criados serviços para servir as necessidades da comunidade. A cidade de Denver foi fundada em 1858 como uma cidade mineira. Foi baptizada "Denver" em honra do Governador do Território do Kansas, James Denver.

A Igreja no Colorado e em Denver

A presença da Igreja na região remonta ao século XVIII, com frades franciscanos que estabeleceram missões no sul e no oeste do Colorado. Durante o tempo em que era um território mexicano, o clero mexicano cuidou da área. Só em 1851 é que as missões passaram a ser servidas por padres do Novo México. Nessa década, foram estabelecidas povoações com comunidades permanentes em San Pedro (1852), San Acacio (1853) e Conejos (1854).

Eclesiasticamente, a área pertencia desde 1850 ao Vicariato Apostólico do Novo México, que três anos mais tarde se tornou a Diocese de Santa Fé, liderada pelo Bispo John Lamy, que em 1857 estabeleceu a paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe em Conejos, Colorado. John Lamy foi sucedido por John B. Salpointe, que foi fundamental para que o Colorado se separasse da Diocese de Santa Fé e formasse uma nova jurisdição eclesiástica, formando primeiro o Vicariato Apostólico do Colorado e Utah em 1868 e finalmente em 1871 o Vicariato Apostólico do Colorado, que abrangia todo o estado.

O seu primeiro bispo foi Joseph Machebeuf (1868-1889), que já tinha servido como missionário na região durante 20 anos. Ao assumir o cargo, Machebeuf viajou pela Europa em busca de padres e de um empréstimo financeiro. Regressou da sua viagem com cinco padres, apenas um de língua inglesa, que foi destinado a uma paróquia em Denver. Os outros foram enviados para paróquias hispânicas nos vales de St. Louis e Arkansas, no sul do Colorado. Em 1870, as igrejas do estado podiam acomodar 8.500 paroquianos em 14 paróquias. Os católicos superavam em número a população protestante.

Em 1860, a região cresceu demograficamente devido à migração de milhares de católicos do vizinho Novo México. Em 1890, metade dos cristãos do Colorado (47.000) eram católicos. Para ajudar na missão, em 1871, chegaram os primeiros jesuítas, que se encarregaram das paróquias do sul do Colorado. A construção das três primeiras escolas católicas também começou durante esse período. A primeira foi a St. Mary's Female Academy, em 1863.

O Vicariato Apostólico tornou-se a Diocese de Denver em 1887, com Machebeuf como primeiro bispo e Nicholas Chrysostom Matz como coadjutor. Ao assumir o cargo, Matz foi encarregado de conduzir o primeiro sínodo da diocese em 1890, bem como a construção da Catedral de Nossa Senhora da Imaculada Conceição e a criação do Seminário de São Tomás. O Bispo John Henry Tihen sucedeu a Matz em 1917. Tihen concentrou-se na educação, especialmente na expansão do Seminário.

Durante este período, foram construídos três hospitais, um orfanato e um lar de idosos. Em 1921, foi consagrada a catedral. Em 1931, o Bispo Urban J. Vehr sucedeu a Tihen. Dom Vehr dirigiu a diocese durante 36 anos, os primeiros 10 anos como bispo e depois como arcebispo, quando Denver se tornou arquidiocese em 1941 e, ao mesmo tempo, foi formada a nova diocese de "Pueblo", Colorado, separando parte do território. A população católica do Colorado, nesse ano, era de 147.000 habitantes. O Arcebispo Vehr foi sucedido em 1967 por James V. Casey (1967-1986), que dirigiu a jurisdição durante os anos do Concílio Vaticano II. Casey criou novos departamentos para coordenar os programas e ministérios paroquiais, especialmente os dedicados à família, aos serviços sociais e à população hispânica. 

JMJ em Denver

Em 1986, James Francis Stafford tornou-se o sexto bispo de Denver. Durante o seu mandato, realizou-se em 1993 a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com a presença do Papa João Paulo II e de milhares de jovens. Este acontecimento foi um divisor de águas na Igreja dos Estados Unidos, não só porque foi um viveiro de vocações sacerdotais e religiosas, mas também porque foi a semente de muitos apostolados leigos que nasceram em Denver.

Durante o homilia Na Missa de encerramento das JMJ, a 15 de agosto de 1993, João Paulo II disse aos jovens: "Não tenhais medo de sair pelas ruas e lugares públicos, como os primeiros Apóstolos que pregaram Cristo e a boa nova da salvação nas praças das cidades, vilas e aldeias. Não é altura de ter vergonha do Evangelho. É tempo de o pregar dos telhados. Não tenhais medo de romper com os estilos de vida cómodos e rotineiros, de aceitar o desafio de dar a conhecer Cristo na metrópole moderna. Ide para as encruzilhadas e convidai todos os que encontrardes para o banquete que Deus preparou para o seu povo. O Evangelho não deve ser escondido por medo ou por indiferença".

No 30º aniversário dessa visita, o Arcebispo Aquila disse: "É possível reconhecer o tremendo fruto que a JMJ 93 deu na Arquidiocese de Denver. Teve um impacto nas vocações que temos e na criação dos seminários Redemptoris Mater (Caminho Neocatecumenal) e St. John Vianney, bem como nos vários apostolados que deles nasceram. Antes da JMJ 93 não existiam os dois seminários, não existia o "Instituto Agostinho", não existia "FOCUS" (pastoral universitária)".

Em 1996, Stafford foi nomeado Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos e, em 1998, foi criado cardeal. Sucedeu-lhe como Arcebispo de Denver Charles J. Chaput (1997-2011). Como membro da tribo nativa americana "Potawatomi", Chaput tornou-se o segundo bispo nativo americano a liderar uma diocese. Durante o seu governo, João Paulo II nomeou José H. Gómez como bispo auxiliar de Denver. Juntamente com Chaput, fundou o Centro San Juan Diego em Denver, em 2002, para responder às necessidades pastorais e educativas da comunidade hispânica. Mais tarde, Chaput e Gómez fundaram a Catholic Association of Hispanic Leaders, CALL (Página inicial | CALL USA (call-usa.org)). O Bispo Chaput foi também providencial na criação do "ENDOW". Educar sobre a natureza e a dignidade da mulher (endowgroups.org)uma iniciativa de liderança de mulheres católicas para "educar sobre a natureza e a dignidade das mulheres".

A Arquidiocese de Denver

A Arquidiocese de Denver está situada na parte norte do estado do Colorado. O seu território abrange atualmente 25 condados. Foi erigida como diocese em 1887 e, em novembro de 1941, foi elevada a arquidiocese. Em maio de 2012, o Papa Francisco nomeou Samuel José Áquila como o oitavo bispo de Denver. Em 2016, o pontífice nomeou o bispo Jorge Rodriguez como auxiliar da jurisdição.

A arquidiocese conta com cerca de 600.000 católicos e 148 paróquias e missões. Há 313 padres, 195 diáconos e 173 religiosos. A declaração de missão da arquidiocese diz: "A Arquidiocese de Denver existe para que, em Jesus Cristo, todos possam ser salvos e ter vida abundante, para glória do Pai. A este respeito, o Arcebispo Aquila referiu em julho de 2024: "Na Arquidiocese de Denver temos um valor de missão que prego e de que falo com muita frequência. Chamamos-lhe 'Permanecer em relação'. É simplesmente o valor pelo qual permanecemos e crescemos na caridade, na intimidade com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Quando permanecemos nessa relação primordial, somos levados a abraçar a missão do Redentor. O Papa João Paulo II escreveu: "A vocação universal à santidade está intimamente ligada à vocação universal à missão. Cada fiel é chamado à santidade e à missão' (Redemptoris Missio, 90)".

A arquidiocese tem dois jornais católicos: "The Catholic Village" e "Denver Catholic". Em Denver existem 4 hospitais católicos, 35 escolas primárias e secundárias e 9 escolas secundárias. Estas instituições empregam 1100 professores dedicados à educação de 12 000 crianças por ano. Para os estudantes com baixos rendimentos, a Igreja atribui anualmente bolsas de estudo a 1000 estudantes no valor de 2 milhões de dólares.

Serviços sociais e caritativos

Na arquidiocese existem vários ministérios leigos que prestam serviços sociais, entre os quais a "Sociedade de S. Vicente de Paulo", que ajuda 21.000 pessoas por ano com apoio financeiro para rendas, alimentação, vestuário e medicamentos. Além disso, o apostolado chamado "Cristo na cidade"Cristo na Cidade presta um serviço importante aos sem-abrigo e aos indigentes. Do mesmo modo, a pastoral prisional católica apoia 800 pessoas por semana em 40 locais.

A Catholic Charities em Denver ajuda mais de 113.000 pessoas. Os seus abrigos fornecem 500.000 refeições por ano e prestam assistência de emergência no valor de cerca de $6,3 milhões. As paróquias, missões e várias instituições de caridade católicas operam bancos alimentares, cozinhas de sopa e doam alimentos e vestuário. Também oferecem serviços de saúde mental e organizam grupos de apoio para pessoas com dependências.

Cultura

Mulheres protagonistas da história medieval: Santa Mechthild de Ringelheim

Nesta série de artigos, José García Pelegrín debruça-se sobre a vida de algumas das mulheres que desempenharam um papel preponderante na história medieval alemã. A protagonista é Mechthild, esposa de Henrique I, conhecida como a "sogra da Europa".

José M. García Pelegrín-5 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Ao longo da Idade Média, foram particularmente importantes mulheres que se afirmaram num mundo dominado pelos homens e exerceram uma influência duradoura na sociedade e na Igreja. Significativamente, no dealbar do (Santo) Império Romano-Germânico, durante quase todo o século X, surgiram quatro figuras femininas que desempenharam um papel crucial na consolidação do reino.

Em 919, Henrique I foi eleito rei do "reino franco oriental", tornando-se o primeiro rei que não pertencia à dinastia franca, mas à dinastia dos Liudolfinger. É o início da dinastia "otonídea" ou "saxónica", pois antes da sua eleição era duque da Saxónia. Esta transição marcou o início da história alemã, consolidando a divisão do Império Carolíngio em três partes sob o comando dos netos de Carlos Magno. A parte oriental, governada a partir de 843 por Ludwig, conhecido como "o germânico", seria o berço de Alemanha.

A primeira rainha consorte "alemã"

Mathilde, ou Matilda, é a esposa de Henrique I, e pode ser considerada a primeira rainha consorte "alemã". Matilda era descendente dos Widukin que, durante anos, se opuseram aos planos de expansão de Carlos Magno para leste; o seu título de duque da Saxónia (ou melhor, da atual Vestefália) está historicamente provado. O seu batismo, depois de ter sido derrotado pelos exércitos francos em 785, foi especialmente celebrado pelo Papa Adriano I.

Mechthild nasceu por volta de 896 e foi educada pela avó, também chamada Mechthild, no mosteiro de Herford. Em 909, casou-se com Henrique que, três anos mais tarde, se tornou duque da Saxónia e, em 919, como já foi referido, rei dos francos orientais ou "alemães".

Mechthild tornou-se mãe do imperador quando o seu filho primogénito, Otto I (912-973), foi coroado imperador em 962; o império romano-germânico que então se iniciou existiria até 1806. Mas Mechthild também ficou na história como a "sogra da Europa", pois casou as suas filhas com príncipes importantes, antecipando em cerca de 500 anos o lema da Casa da Áustria "Tu, felix Austria, cloud".

Casou a sua filha Gerberga (913-969) primeiro com o duque Giselbert de Lotaringia (Lorena) e depois com o rei carolíngio Luís IV de França; a segunda filha Hadwig (ca. 914-965) casou com Hugo Capet; dos outros dois filhos, Heinrich (922-955) foi nomeado duque da Baviera em 948 e Bruno (925-965) foi eleito arquiduque da Baviera em 948.) casou com Hugo Capet; dos outros dois filhos, Heinrich (922-955) foi nomeado duque da Baviera em 948 e Bruno (925-965) foi eleito arcebispo de Colónia e duque de Lotaríngia (Lorena), dando assim início ao "sistema da Igreja Imperial", em que os bispos assumiam importantes funções seculares. A dinastia ottoniana e, mais tarde, a dinastia sálica geriram assim uma das grandes questões da Idade Média: a relação entre "trono" e "altar".

Promotor da vida religiosa

No entanto, Mechthild foi também conhecida pela sua promoção de mosteiros femininos durante a vida do seu marido. Mas foi depois da sua morte que ela criou a mais importante fundação para a preservação da sua memória: a Abadia de S. Dinis e S. Servo de Quedlinburg, situada na colina do Castelo de Quedlinburg, tornou-se o mais importante centro de oração e de comemoração dos mortos no Império Franco Oriental. Aqui, como noutras abadias, as filhas da nobreza eram educadas e, mais tarde, casavam com a nobreza, reforçando assim o poder do reino.

Mechthild fundou também outras abadias, como Enger e Nordhausen. Obteve também privilégios papais para todos os mosteiros femininos da Saxónia Oriental. Pela sua dedicação às obras de misericórdia, nas quais gastou toda a sua fortuna, foi canonizada como "Mechthild de Ringelheim".

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Vaticano

Segundo dia do Papa na Indonésia: apelo contra o extremismo e a intolerância

O Papa Francisco começou o segundo dia da sua longa viagem ao Sudeste Asiático com uma agenda muito preenchida em Jacarta, a capital da Indonésia, uma nação composta por milhares de ilhas vulcânicas com centenas de grupos étnicos que falam uma variedade de línguas diferentes.

Hernan Sergio Mora-4 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Depois da cerimónia de boas-vindas, das danças folclóricas infantis e da assinatura do livro de honra no Palácio Presidencial, o Santo Padre encontrou-se em privado com o Presidente indonésio Joko Widodonen e com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do país. Estavam presentes também o Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin e os intérpretes.

O Papa qualificou como essenciais o diálogo inter-religioso e a luta contra o extremismo e a intolerância, que distorcem a religião, bem como a formação "de um tecido social mais equilibrado" com "assistência social equitativa", disse o Pontífice ao reunir-se no Palácio Presidencial - o Istana Negara-O evento contou com a presença das autoridades, do corpo diplomático, da sociedade civil e de empresários, num total de cerca de 300 pessoas.

O Papa começou a sua intervenção recordando que "tal como o oceano é o elemento natural que une todas as ilhas da Indonésia, também o respeito mútuo pelas caraterísticas culturais, étnicas, linguísticas e religiosas de todos os grupos humanos que compõem a Indonésia é o tecido conjuntivo essencial que torna o povo indonésio unido e orgulhoso".

O Santo Padre sublinhou também a importância de promover a harmonia entre as diferentes religiões num país onde, a par da maioria muçulmana, existem 10 % de cristãos, dos quais apenas 3 % são católicos.

O Papa saúda as pessoas à saída do Palácio Merdeka em Jacarta, Indonésia, ©CNS photo/Lola Gomez

O Papa assegurou que "a Igreja Católica coloca-se ao serviço do bem comum e deseja reforçar a colaboração com as instituições públicas e outros sujeitos da sociedade civil, a fim de promover a formação de um tecido social mais equilibrado e garantir uma distribuição mais eficaz e equitativa da assistência social".

Afirmou ainda que "a harmonia no respeito pela diversidade é alcançada quando cada visão particular tem em conta as necessidades comuns e quando cada grupo étnico e denominação religiosa age num espírito de fraternidade, perseguindo o nobre objetivo de servir o bem de todos".

Francisco apelou à "promoção de uma harmonia pacífica e construtiva, que garanta a paz e una forças para superar os desequilíbrios e as bolsas de pobreza que ainda persistem em algumas zonas do país", A Igreja Católica deseja intensificar o diálogo inter-religioso" para "eliminar os preconceitos e promover um clima de respeito e confiança mútuos, essencial para enfrentar os desafios comuns, incluindo a luta contra o extremismo e a intolerância, que - distorcendo a religião - procuram impor-se através do engano e da violência".

 Em várias regiões", acrescentou o Pontífice, "vemos surgir conflitos violentos, que muitas vezes são o resultado da falta de respeito mútuo, de um desejo intolerante de fazer prevalecer a todo o custo os próprios interesses, a própria posição ou a própria visão parcial da história, mesmo que isso signifique um sofrimento sem fim para comunidades inteiras e dê origem a verdadeiras guerras sangrentas".

O pontífice acrescentou que "a harmonia no respeito pelas diferenças é alcançada quando cada opinião particular tem em conta as necessidades que são comuns e quando cada grupo étnico e confissão religiosa age num espírito de fraternidade, perseguindo o nobre objetivo de servir o bem de todos".

Este sábio e delicado equilíbrio", acrescentou o pontífice, dirigindo-se ao corpo diplomático e às autoridades, "entre a multiplicidade das culturas, as diferentes visões ideológicas e as razões que estão na base da unidade, deve ser continuamente defendido contra qualquer desajuste".

Depois do evento no Palácio do Governo e no seu regresso à Nunciatura, o Papa teve um encontro privado com membros da Companhia de Jesus, como é habitual nas suas viagens.

Catedral de Nossa Senhora da Assunção em Jacarta

Na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, em Jacarta, o principal local de culto católico da capital indonésia e sede do arcebispado no centro da cidade, o Papa Francisco foi recebido num ambiente de grande alegria pelas crianças que o esperavam no exterior e por todos os presentes.

Após a saudação de boas-vindas do presidente da Conferência Episcopal e depois de ter escutado os testemunhos de um sacerdote, de uma religiosa e de dois catequistas, bem como os cânticos harmoniosos do coro que emocionaram os presentes, o Papa convidou-os a reconhecerem-se como "irmãos, iguais também na diversidade".

Recordou que, em África, um dos presidentes lhe disse que "tinha sido batizado pelo seu pai que era catequista" e recordou que os catequistas, juntamente com as mães e as avós, são portadores da fé. E com afeto disse: "Estou muito grato aos catequistas, eles são bons", exclamou.

Encorajo-vos a prosseguir na vossa missão", acrescentou o Santo Padre, "fortes na fé, abertos a todos na fraternidade e próximos uns dos outros na compaixão". E convidou: "Ide para a encruzilhada, mas essa? ... todos vós! "Avancem em fraternidade". E concluiu: "Fé, fraternidade e compaixão. Abençoo-vos e agradeço-vos por todo o bem que fazeis nestas ilhas".

Depois da bênção, houve uma sessão fotográfica com os bispos e o movimento de muitos presentes que tentaram cumprimentá-lo.

Da catedral, o Pontífice dirigiu-se à Casa da Juventude Grha Pemuda para um encontro com mais de uma centena de crianças, jovens e adolescentes, muitos deles com véu, que o receberam com cânticos e música. Ali também se encontrou com os responsáveis das Scholas Occurentes, uma iniciativa de promoção dos jovens que nasceu como escolas de bairro em Buenos Aires e que se alargou com o pontificado de Francisco.

Na entrada do salão, havia uma tenda em forma de coração, inspirada num poliedro, feita pelos jovens, com a qual queriam deixar a sua marca.

Uma professora, comovida, contou ao Papa a sua experiência, seguida de um rapaz com uma T-shirt do Scholas e de uma rapariga sem véu, também com uma T-shirt do Scholas.

Dirigindo-se aos jovens, o Papa, em diálogo com eles, salientou a necessidade de a realidade ser concreta, de não viver num mundo irreal, caso contrário, disse, "serás um esquizofrénico".

Na vida", afirmou, "há quatro princípios para a convivência e a paz: a realidade é superior à ideia; a unidade é superior ao conflito; o todo é superior à parte". Apelou a "fazer as pazes com todos".

Depois de oferecer alguns presentes ao Papa, foi plantada uma árvore de mangue.

Para concluir, o Santo Padre explicou que a bênção significa "recomendar bem". "Há aqui pessoas de diferentes religiões e eu dou-a a todos", enquanto rezavam em silêncio. O encontro terminou com uma fotografia de grupo.

O autorHernan Sergio Mora

Vaticano

A Igreja que acolheu e se despediu de João Paulo I

Passaram dois anos desde que o Papa Francisco beatificou João Paulo I, o "Papa do sorriso", cujo pontificado teve um contexto histórico muito particular, caracterizado pelo Concílio Vaticano II e pelo espírito de São João Paulo II.

Onésimo Díaz-4 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

No dia 4 de setembro de 2022, o Papa Francisco presidiu à cerimónia de beatificação de João Paulo I. Meses antes, tinha aprovado o decreto da Congregação para as Causas dos Santos sobre uma cura milagrosa atribuída à sua intercessão.

Para compreender quem foi este Papa no seu contexto histórico, penso que é útil dar uma breve panorâmica da situação da Igreja na década de 1970.

Um homem segura uma imagem de João Paulo I momentos antes do início da cerimónia de beatificação (CNS photo / Paul Haring)

A Igreja pós-conciliar

No livro "Diálogos com Paulo VI", do escritor francês Jean Guitton, o Papa Montini previa um estado de espera, de abertura, de renovação, do qual dependeriam os frutos do Concílio Vaticano II. Entre outras coisas, Paulo VI disse: "O período pós-conciliar será, como bem se disse, uma criação constante. O Concílio abriu o caminho, lançou as sementes, deu orientações. Mas a história ensina-nos que os tempos que se seguem aos Concílios são tempos de inércia e de problemas (...) Repito uma vez mais que os católicos não devem sucumbir à tentação de pôr em causa tudo o que resulta do Concílio; esta é a grande tentação dos nossos contemporâneos; é uma tentação omnipresente neste período histórico; a tentação de começar tudo de novo, partindo do zero".

Tal como Paulo VI tinha previsto, surgiram problemas após o Concílio. O chamado período pós-conciliar manifestou-se na crise dos sacerdotes, dos religiosos e dos leigos. Não chegou a tão desejada primavera, mas um outono sombrio de confrontos doutrinais e de declínio das vocações sacerdotais e religiosas. Se as sessões do Concílio tinham sido vividas com um certo otimismo dentro e fora da Igreja, o período pós-conciliar caracterizou-se pela crise e pelas dificuldades na sua aplicação. Surgiram sintomas de desintegração na vida da Igreja provocados por interpretações e ideias estranhas aos textos do Concílio.

Paulo VI deplorou as interpretações incorrectas dos textos conciliares, as experiências com a celebração da Missa e as tentativas de reformar completamente a Igreja, tanto no direito como no dogma. Havia sintomas de desintegração na vida da Igreja causados por ideias estranhas à letra do Concílio.

Tempo de crise

Em "Memoria en torno a mis escritos", De Lubac denunciou a atitude autodestrutiva e ingrata de certos eclesiásticos que não apreciaram os esforços feitos durante o Concílio: "O período pós-conciliar foi (e continua a ser) uma época de oposição sistemática e multiforme ao papado. Paulo VI foi a sua primeira vítima. Admirei muito este Papa. Foram-lhe dirigidos os juízos mais contraditórios; foi muitas vezes injustamente criticado e outras vezes indignamente caluniado".

Nas suas Memórias, Danièlou lamenta a infiltração de ideias mundanas e dissolventes na Igreja e reconhece a abertura, após o Concílio, de um tempo paradoxal de crise, como consequência de uma falsa interpretação do Vaticano II.

O historiador Jedin criticou os abusos da reforma litúrgica, como a eliminação quase total do uso do latim face à introdução da língua vulgar no culto. A esta crítica opôs-se fortemente o secretário da comissão litúrgica pós-conciliar, Annibale Bugnini.

O sociólogo das religiões Arnaldo Nesti escreveu que as reformas e as tentativas de mudança do Conselho eram mais aparentes do que reais. Por isso, "para que tudo fique como está, é preciso que tudo mude", como no romance O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa.

Foi nesta situação delicada da Igreja que Paulo VI morreu no verão de 1978. 

Um pontificado de 33 dias

João Paulo I ficou na história pela brevidade do seu pontificado, pelo seu sorriso e por ter sido o último papa italiano desde há mais de quatro séculos.

Após a morte de Paulo VI, o Patriarca de Veneza, Albino Luciani (1912-1978), assumiu a Sé petrina. Era um homem simples, criado numa família cristã humilde, o mais velho de quatro irmãos. Seguindo as pegadas de São João XXIII e de São Paulo VI, juntou os seus nomes como sinal de continuidade com os seus dois predecessores. 

O pontificado de João Paulo I durou trinta e três dias. Não teve tempo de escrever uma encíclica, nem sequer de transferir os seus livros e objectos para o Vaticano. O "papa do sorriso" morreu subitamente a 29 de setembro de 1978.

Cartas de João Paulo I

Enquanto patriarca de Veneza, movido pelo seu zelo catequético, lançou-se na iniciativa de publicar uma carta mensal, cujos destinatários eram figuras célebres do passado, como os escritores Chesterton, Dickens, Gogol e Péguy. Esta peculiar coleção de cartas foi publicada sob o título Ilustres Senhores. Cartas do Patriarca de Veneza (Madrid, BAC, 1978).

Sem dúvida, a carta mais ousada e profunda foi dirigida a Jesus Cristo. A missiva terminava assim: "Nunca me senti tão insatisfeito ao escrever como nesta ocasião. Parece-me que omiti a maior parte das coisas que poderiam ter sido ditas sobre Ti e que disse mal o que deveria ter dito muito melhor. Consola-me apenas o seguinte: o importante não é que se escreva sobre Cristo, mas que muitos amem e imitem Cristo. E, felizmente, apesar de tudo, ainda hoje é assim.

Beato João Paulo I (CNS photo / L'Osservatore Romano)

João Paulo I e o Opus Dei

Algumas semanas antes da sua eleição como Papa, publicou um artigo numa revista veneziana sobre Opus Deiintitulado "A procura de Deus no trabalho quotidiano" ("Gazzetino di Venezia", 25 de julho de 1978). Entre outras coisas, atreveu-se a fazer uma comparação entre S. Josemaría Escrivá e S. Francisco de Sales: "Escrivá de Balaguer supera Francisco de Sales em muitos aspectos. Também este último defende a santidade para todos, mas parece ensinar apenas uma 'espiritualidade dos leigos', enquanto Escrivá quer uma 'espiritualidade laical'. Por outras palavras, Francisco sugere quase sempre aos leigos os mesmos meios praticados pelos religiosos, com as devidas adaptações. Escrivá é mais radical: fala diretamente de materializar, no bom sentido, a santificação. Para ele, é o próprio trabalho material que deve ser transformado em oração e santidade".

Os seus escritos simples e o seu sorriso cativante transmitem a imagem de um homem de Deus, que em breve veremos nos altares, tal como o seu antecessor São Paulo VI e o seu sucessor São João Paulo II.

A Igreja depois de João Paulo I

O sucessor de João Paulo I decidiu manter o seu nome como sinal de continuidade. João Paulo II tentou dar vida ao espírito dos documentos conciliares, o que o seu antecessor não tinha tido tempo de fazer. Um dos textos em que se pode ver a sintonia do Papa polaco com João Paulo I e também com Paulo VI é a Exortação Apostólica "....Christifideles laici" (1988). Neste documento, João Paulo II afirmava que a Igreja tinha uma dimensão secular. No número 9, pergunta quem são os fiéis leigos e responde com a definição de "Lumen Gentium"Todos os fiéis cristãos, com exceção dos membros das ordens sagradas e dos membros do estado religioso".

O número 15 do documento aprofundou a natureza secular dos leigos que têm a missão de ser fermento no mundo: "Deus, que confiou o mundo aos homens e às mulheres, para participarem na obra da criação, para o libertarem da influência do pecado e para se santificarem no matrimónio ou no celibato, na família, na profissão e nas diversas actividades sociais".

O apelo universal à santidade

Seguindo o ensinamento do Concílio Vaticano II, João Paulo II recordou o chamamento universal à santidade de todos os baptizados, no número 16: "Os fiéis leigos são chamados, a pleno título, a esta vocação comum, sem qualquer diferença em relação aos outros membros da Igreja". Além disso, o pontífice encorajou todos os católicos a participarem na política, na cultura e em todas as actividades em que possam transformar e melhorar o mundo. Finalmente, no número 60, recomendou a necessidade de receber formação espiritual e, em particular, de conhecer a doutrina social da Igreja.

Na minha opinião, São João Paulo II retomou o breve mas profundo legado do seu antecessor nesse e noutros documentos. Esperemos que em breve possamos escrever São João Paulo I.

O autorOnésimo Díaz

Investigador da Universidade de Navarra e autor do livro História dos Papas no século XX

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Vaticano

O Papa Francisco inicia a sua viagem à Indonésia com um encontro com migrantes

À sua chegada à Indonésia, o Papa Francisco aproveitou para descansar da longa viagem e habituar-se à diferença horária, antes de abordar a intensa agenda preparada para esta primeira etapa da sua viagem apostólica.

Hernan Sergio Mora-3 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Terça-feira, 3 de setembro, é o primeiro dia da viagem apostólica do Papa Francisco ao Vaticano. Indonésia. A 2 de setembro, o Pontífice descolou do aeroporto Leonardo Da Vinci, em Roma, num voo da ITA Airways. Na terça-feira de manhã, o Santo Padre aterrou em Jacarta, capital da Indonésia, a quase 11.000 quilómetros de Roma e cinco horas à frente no fuso horário.

O Pontífice foi recebido no aeroporto pelo Ministro dos Assuntos Religiosos, Yaqut Cholil Qoumas, e por algumas delegações. De lá, dirigiu-se diretamente para a nunciatura, onde o aguardava um grupo de doentes, migrantes e refugiados.

Almoçou na sede diplomática, celebrou uma missa em privado ao fim da tarde, jantou e terminou o dia passando a noite na nunciatura, adaptando-se ao novo horário e preparando-se para uma agenda preenchida na quarta-feira.

O Santo Padre, que realiza a sua 45ª viagem apostólica, permanecerá na Indonésia até sexta-feira, dia 6, altura em que viajará para a Papua Nova Guiné, partindo no dia 9 para Timor Leste, e de 11 a 13 estará em Singapura, de onde regressará a Itália. Esta é, portanto, a viagem mais longa do seu pontificado - 32.000 quilómetros - apesar dos seus 87 anos de idade e das dificuldades de saúde.

Indonésia, o primeiro destino do Papa Francisco

A Indonésia, o maior arquipélago do mundo, com quase 300 milhões de habitantes, é um país de maioria islâmica com uma coexistência pacífica de religiões oficiais, incluindo o cristianismo (10%), o budismo, o hinduísmo e o confucionismo, para além do islamismo.

No final do século passado, o cristianismo na Indonésia foi objeto de graves perseguições, que os obrigaram a renunciar à sua fé para salvar a vida ou a emigrar. A liberdade religiosa tem vindo a melhorar ao longo dos anos, embora os cidadãos tenham de indicar a sua religião nos seus bilhetes de identidade e não possam declarar-se agnósticos, o que facilita alguma discriminação. 

Os primeiros a chegar à Indonésia foram os comerciantes portugueses em 1513, até serem desalojados pelo Sultanato de Banten. Em 1595, os holandeses derrotaram os rivais britânicos e assumiram o controlo da região com a Companhia Holandesa das Índias Orientais, construindo edifícios de estilo holandês em Batávia, atual Jacarta, que transformaram a capital na chamada "Rainha do Oriente". 

Os nacionalistas indonésios lutaram durante a Segunda Guerra Mundial e declararam a independência em 1945.

A capital da ilha de Java está a afundar-se devido à extração de águas subterrâneas, pelo que, em 2019, o governo decidiu construir uma futura capital na selva da ilha de Bornéu.

Outros papas na Indonésia

A visita do Papa Francisco à Indonésia é a terceira viagem de um pontífice: em 1970 Paulo VI, em 1989 João Paulo II. Nesta ocasião, o Papa Francisco não vai sozinho, mas acompanhado pelo Cardeal italiano Pietro Parolin e pelo Cardeal filipino Antonio Tagle.

Espera-se que esta viagem apostólica dê um impulso ao diálogo inter-religioso, em particular com o Islão, na linha da encíclica "...".Fratelli tutti'. O Papa espera que as pessoas e as instituições se unam na sua rejeição da guerra, da violência em nome da religião e da globalização da indiferença.

Além disso, o Santo Padre quer encorajar a luta contra as alterações climáticas, defender a criação e promover a importância da componente espiritual no desenvolvimento económico.

O autorHernan Sergio Mora

Vocações

Almudena, jovem supranumerária: "Tento estar perto de toda a gente e dar sempre uma 'boa onda' extra".

Uma jovem supranumerária do Opus Dei, de 26 anos, conta como vive diariamente a sua vocação no meio do trabalho, da família e dos amigos.

Maria José Atienza-3 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Almudena Alonso tem 26 anos, a mesma idade com que São Josemaría Escrivá fundou o Opus Dei, ao qual pertence como membro. supranumerário.

Almudena é casada, mãe de uma filha e, nos próximos meses, nascerá o seu segundo filho. Esta jovem profissional e trabalhadora deste século vive a sua vocação em casa, com os seus amigos e colegas, com a naturalidade dos jovens, tentando ser uma "semeadora de paz e de alegria", como ela diz.

Como é que uma jovem mãe vive hoje o carisma do Opus Dei?

-No meio do mundo, agora mais do que nunca! Todos os dias, na rua, no trabalho, tento estar perto de toda a gente e transmitir sempre uma boa vibração extra. Para transmitir aquele bocadinho de luz e alegria que pode mudar o rumo do dia. E em casa, agradecer muito as dádivas que ele nos deu, sempre com as portas abertas, para que ninguém se sinta excluído!

Que podem contar connosco para se divertirem, com uma cerveja na mão, mas também para encontrarem conforto se precisarem. E recomeçar todos os dias, sem perder a esperança, porque, graças a Deus, não somos perfeitos... No fundo, é disso que se trata, de fazer de cada dia algo novo, é isso que estamos a fazer!

O que é que o carisma do Opus Dei tem que mais o impressiona ou com que mais se identifica? 

-Identifico-me muito com isso espírito de "sermos semeadores de paz e de alegria", o que não é tarefa fácil, sobretudo se tivermos de o tentar fazer todos os dias, a todas as horas, e o trabalho, o cansaço, por vezes, pesam .... Mas sim, parece-me uma mensagem que tem muito conteúdo.

Como em qualquer colheita, é preciso esperar para ver os frutos, e o mesmo se passa com a sementeira da paz e da alegria... Talvez no nosso dia a dia não vejamos uma grande mudança, mas talvez daqui a algum tempo possamos ver o efeito da mão de Deus.

Vós, como instrumento, sois a Sua semente e Ele, como semeador, coloca-vos aqui e ali, como Lhe apraz, por vezes sem que compreendais porquê, para que possais dar paz e alegria onde quer que estejais. Com o tempo, virão os frutos! Talvez não consigais vê-los, mas que alegria saber que Ele confia em vós para isso. 

Em que é que aplica a formação que recebe e como é que ela o ajuda na sua vida quotidiana?

-Todos eles! São tantos os conhecimentos que se obtêm através da formação que não consegui escolher apenas um..... Da gestão do trabalho ao descanso, porque é tão importante fazer bem as coisas como saber quando parar e fazer uma pausa para voltar ao trabalho "com um novo começo" para todos.

A formação ajuda-me muito a gerir as questões familiares, que são as mais vertiginosas. Acima de tudo, agora que temos o "L" porque, após um ano e meio de casamento, já temos três membros em casa e temos outro a caminho, e é muito importante lançar bem as bases!

Na amizade, ajuda-me a não perder de vista o facto de que é preciso estar sempre presente, um WhatsApp, um telefonema... Não saberia escolher apenas uma coisa. Aplico a formação a tudo! 

Como explica a sua vida cristã às pessoas que o rodeiam e que não a partilham? O que o faz mais feliz?

-Digo-lhes que tenho 26 anos, que sou casada e que estou grávida do meu segundo filho e olham para mim como se eu fosse maluca! (risos) Mas eu adoro isso, porque é o que eu sou: maluca! Quando o ouvem e me conhecem, quando percebem que é isto que realmente me realiza e me faz feliz, compreendem e respeitam muito.

Não é que eu ande por aí a dizer aos quatro ventos como vivo a minha vida porque, para ser sincero, não sou exemplo de nada. Mas se nos conhecem, acabam por perguntar... e não temos outra hipótese senão mostrar a cara (risos).

A verdade é que muitas vezes temos medo de mostrar o nosso passado, mas acho que o devíamos fazer mais, porque a reação dos outros é muito melhor do que esperamos. Temos de nos atirar para a piscina. 

Cultura

Cientistas católicos: María Josefa Molera, pioneira apesar das dificuldades

María Josefa Molera Mayo especializou-se em cinética química e em técnicas analíticas de cromatografia gasosa. Omnes oferece esta série de pequenas biografias de cientistas católicos graças à colaboração da Sociedade de Cientistas Católicos de Espanha.

Ignacio del Villar-3 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

María Josefa Molera Mayo (23 de janeiro de 1921 - 3 de setembro de 2011) foi uma eminente cientista espanhola especializada em cinética química e técnicas analíticas de cromatografia gasosa, cujo trabalho teve um impacto significativo na estrutura atual da investigação científica em Espanha.

Nascida na aldeia navarra de Isaba, a infância de Molera Mayo foi marcada pelos acontecimentos da Guerra Civil Espanhola (o seu pai morreu no campo de batalha).

Estudou na Universidade Central de Madrid (atual Universidade Complutense), onde se distinguiu em Ciências Químicas, licenciando-se com distinção em apenas três anos.

Mais tarde, não sem dificuldades devido à sua condição de mulher, conseguiu obter o doutoramento no Instituto de Química Física "Rocasolano" do CSIC, sob a direção do Professor Ríus Miró.

A tese centrou-se nas aplicações do elétrodo de veia de mercúrio como substituto das gotas de mercúrio, o que lhe valeu um prémio extraordinário pela sua investigação.

A sua carreira científica não se limitou a Espanha. Recebeu a bolsa Ramsay Memorial Fellowship Trust, que lhe permitiu trabalhar no Physichal Chemistry Laboratory da Universidade de Oxford e no Departamento de Físico-Química da Universidade de Sheffield.

Destacou-se pela sua contribuição para o desenvolvimento do cromatógrafo de gás em Espanha e pelo seu trabalho pioneiro na caraterização do vinho, juntamente com as cientistas Mª Dolores Cabezudo e Marta Herráiz.

Em colaboração com o químico J. A. Domínguez e o matemático J. Fernández Biarge, desenvolveu métodos de análise de reacções químicas por cromatografia gás-líquido, utilizando uma combinação de até quatro colunas cromatográficas.

O seu equipamento foi reconhecido pelos fabricantes de cromatógrafos de gás, o que lhe valeu o prestigioso prémio Peking-Elmer Hispania em 1967.

Recebeu também o Prémio Alfonso X el Sabio do CSIC e a Medalha de Química da Real Sociedade Espanhola de Física.

O autorIgnacio del Villar

Universidade Pública de Navarra.

Sociedade de Cientistas Católicos de Espanha

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Gostamos que nos dêem razão, que a realidade se adapte à nossa maneira de pensar, que a vida seja fácil de compreender, que se encaixe nos nossos esquemas. E os algoritmos, que sabem disso e querem fazer-nos desfrutar do nosso tempo na Web para que voltemos sempre à mina, oferecem-nos o que queremos.

2 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Cada vez mais lemos, não o que nos interessa, mas o que interessa aos algoritmos. Eles conhecem os nossos gostos, os gostos dos nossos amigos, o que está a acontecer no ambiente e querem governar a nossa navegação na Internet durante o máximo de tempo possível. Se este artigo chegou aos seus olhos através de uma rede social ou do Google news (sempre tão útil à esquerda do nosso ecrã de bloqueio), talvez seja melhor parar e não continuar a ler.

Se, mesmo assim, estiver decidido a continuar a ler, aviso-o de que a sua liberdade pode ficar comprometida. Para o bem, digo eu, pois o que pretendo hoje é encorajá-lo a fazer um exercício de autonomia que o leve a não se deixar enganar pelo que lê na internet, pois nada chega às suas mãos por acaso. De pouco serve aquela frase sábia, embora apócrifa, de Santa Teresa de Jesus que dizia "lê e serás conduzido, não leias e serás conduzido". Hoje podemos dizer que é precisamente o contrário, uma vez que as leituras que, de forma aparentemente inocente e simpática, aparecem nos nossos telemóveis, têm precisamente o objetivo de nos conduzir, de nos levar para onde os algoritmos querem que vamos. Saber como funcionam e qual é o seu objetivo é a única forma de tomar o comprimido vermelho que nos liberta do devaneio em que vive a maioria das pessoas digitalmente activas. 

Antes de mais, é importante saber que o principal objetivo do robô que recomenda a leitura é manter-nos ligados durante o máximo de tempo possível. Os donos da Internet vivem dos nossos minutos de navegação. Precisam que nos movimentemos, que façamos o maior número possível de actividades em linha. É assim que rentabilizam os seus investimentos de milhões de dólares para nos poderem oferecer os seus serviços gratuitamente. Enquanto perdemos tempo a ver pequenos vídeos, a carregar as nossas fotografias na nuvem, a consultar as nossas redes sociais, a enviar mensagens aos amigos ou a deixar-nos guiar a pé ou de carro, estamos a dar-lhes a sua matéria-prima, a fornecer-lhes dados sobre os nossos hábitos, a nossa maneira de pensar e de viver, que eles traduzem em informações altamente valorizadas no mercado da publicidade ou dos investimentos. Quanto mais tempo estivermos ligados à máquina, quanto mais dados gerarmos, mais dinheiro eles ganham. 

E como é que eles conseguem que os seus mineiros (você e eu) continuem a cortar a rocha, a extrair ouro para eles sem nos pagarem um cêntimo? Dando-nos recompensas, pequenos prazeres: receber um "Like" numa fotografia que carregámos, surpreender-nos com um título apelativo, divertir-nos com um vídeo humorístico ou - é aqui que eu queria chegar - fazer valer as nossas próprias ideias. 

Gostamos que nos dêem razão, que a realidade se adapte à nossa maneira de pensar, que a vida seja fácil de compreender, que se encaixe nos nossos esquemas. E os algoritmos, que sabem disso e querem fazer-nos desfrutar do nosso tempo na Web para que voltemos sempre à mina, oferecem-nos o que queremos. É por isso que sugerem sempre artigos, informações, mensagens que confirmam qualquer aspeto das nossas ideias ou crenças. Se gosta de cerveja, verá que lhe são recomendadas notícias em que a ciência revela a bondade da bebida; se é abstémio, verá continuamente informações contrárias à sua ingestão. Em vez de cerveja, coloque termos como imigração ilegal, pena de morte, LGTBfobia, vacinas, aborto ou violência de género. São temas difíceis de abordar porque têm muitas arestas e exigem uma reflexão profunda e uma análise de diferentes pontos de vista. O resultado é o extremismo, a polarização que estamos a viver porque, em vez de abrir as nossas mentes, a leitura conduzida por algoritmos fecha-nos em bolhas de pensamento das quais é difícil escapar. Se tudo o que lê lhe diz que tem razão e que os errados são os outros, olhe para isso.  

Em casa, sempre aprendi que é preciso fazer um esforço para ler, ouvir ou ver os meios de comunicação social que nem sempre vão ao encontro das nossas ideias, porque a verdade não tem apenas um significado, por vezes está algures no meio, nem tudo é preto ou branco, mas há uma enorme variedade de tons de cinzento. 

Neste sentido, o Papa Francisco, um dos que mais sofre deste fenómeno na sua própria carne (muitos odeiam-no sem o conhecer bem e muitos adoram-no sem o conhecer bem), propõe a figura do poliedro por oposição à esfera. Muitos de nós irritamo-nos com tudo o que se afasta da nossa esfera perfeita, redonda e lisa. Não gostamos que os outros, talvez nos antípodas das nossas ideias ou das nossas crenças, tenham razão em alguma coisa, porque não nos serve, humilha-nos perante ela; mas isso é falso, afasta-nos da verdade. O Concílio Vaticano II chamou-lhe "escutar, discernir e interpretar, com a ajuda do Espírito Santo, as múltiplas vozes do nosso tempo". No poliedro, todos nos encaixamos, mas todos mantemos a nossa singularidade, porque a verdade absoluta não é possuída por algoritmos, nem por ti, nem por mim, nem pelo teu pároco, nem pelo teu jornalista principal, nem pelo próprio Papa na maioria dos seus discursos. A verdade transcende-nos, é uma Pessoa que gosta de nos abanar, de nos sacudir dos nossos esquemas, e é a única que nos torna autenticamente livres. Vamos a ela!

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

Os ensinamentos do Papa

Literatura, educação e evangelização

O "Carta". do Papa Francisco "sobre o papel da literatura na educação". destaca a importância da arte literária na maturação dos indivíduos e na sua capacidade de "tato" o coração do ser humano contemporâneo. 

Ramiro Pellitero-2 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

Que interesse pastoral pode ter a literatura (romances, poemas) na formação pessoal e na evangelização, precisamente na nossa cultura das imagens e dos ecrãs? 

O Papa Francisco escreveu uma Carta sobre o papel da literatura na educação e na formação (17-VII-2024): no amadurecimento de cada pessoa, na formação dos cristãos e também especificamente na formação sacerdotal.

Literatura e maturidade pessoal

Na sua carta, o Papa junta-se a tantas figuras de todos os tempos que chamaram a atenção para este meio de enriquecimento da formação, que temos à nossa disposição e que, por várias razões, corre hoje o risco de ser negligenciado, com o consequente empobrecimento, face a uma certa obsessão pelos ecrãs.. Em comparação com os meios audiovisuais e as suas caraterísticas, quem lê um livro, salienta Francisco, é muito mais ativo.. O leitor intervém na obra que lê e, de certa forma, reescreve-a. 

"De certa forma, ele reescreve a peça, expande-a com a sua imaginação, cria o seu mundo, utiliza as suas capacidades, a sua memória, os seus sonhos, a sua própria história cheia de drama e simbolismo, e o resultado é uma peça muito diferente da que o autor pretendia escrever.". 

Assim, o texto literário, como acontece em geral com qualquer texto, seja ele escrito ou audiovisual, tem uma vida própria que engendra outros "textos vivos" originais em quem o lê: "...".Uma obra literária é, portanto, um texto vivo e sempre fértil, capaz de falar de muitas maneiras e de produzir uma síntese original em cada leitor que a encontra.". E isso enriquece o leitor não apenas num sentido passivo, mas na medida em que ele abre a sua pessoa ao mundo e entra em diálogo com ele, alargando o seu mundo pessoal. 

"Por leituraescreve o Papa, o leitor enriquece-se com o que recebe do autor, mas isso permite-lhe também fazer emergir a riqueza da sua própria pessoa, de modo que cada nova obra que lê renova e alarga o seu universo pessoal.".

Francisco propõe, a este respeito, "uma mudança radical".especificamente "sobre a atenção a dar à literatura no contexto da formação dos candidatos ao sacerdócio".

Porque é que o Papa está agora tão interessado? Uma primeira resposta, de carácter antropológico, é que ".a literatura tem a ver, de uma forma ou de outra, com o que cada um de nós procura na vida, uma vez que está intimamente relacionada com a nossa existência concreta, com as suas tensões, desejos e significados essenciais.". 

Francisco recorda as suas experiências, em meados da década de 1960, como jovem professor de literatura que encorajava os seus alunos a encontrar as leituras em que os seus próprios dramas e experiências ressoavam. Há muitos conselhos e pormenores interessantes nesta carta, por exemplo, sobre a escolha do que ler. 

"Devemos selecionar as nossas leituras com disponibilidade, surpresa, flexibilidade, deixando-nos aconselhar, mas também com sinceridade, tentando encontrar o que precisamos em cada momento das nossas vidas.". 

Do ponto de vista da utilidade, do discernimento espiritual e moral pessoal e da contemplação, vale a pena ler com atenção os números 16-20, 26-40 da carta. Nestas passagens, o Papa usa várias metáforas, o telescópio, o ginásio, o ato de digestão, para mostrar como a literatura é um excelente instrumento para a compreensão pessoal do mundo, para entender e experimentar o sentido que os outros dão à sua vida, para ver a realidade com o sentido que ela tem para eles. seu e não apenas com os seus próprios olhos.

Assim, a literatura é uma escola do olhar e do "êxtase" (sair de si mesmo), da solidariedade, da tolerância e da compreensão. É assim, pensa o sucessor de Pedro, porque "sendo cristãos, nada do que é humano nos é indiferente". 

Escola de paciência, humildade e compreensão".o olhar literário forma o leitor no descentramento, no sentido do limite, na renúncia ao domínio, cognitivo e crítico, na experiência, ensinando-lhe uma pobreza que é fonte de extraordinária riqueza.". 

O leitor acolhe o dever de julgar, não como um instrumento de domínio, "mas como impulso para uma escuta incessante e como disponibilidade para se colocar em jogo nessa extraordinária riqueza da história devida à presença do Espírito, que é dada também como graça; isto é, como acontecimento imprevisível e incompreensível que não depende da ação humana, mas que redefine o ser humano como esperança de salvação.".

Para o discernimento evangélico das culturas

Após a introdução, Francisco sublinha o interesse da leitura para os crentes, como forma de conhecer as culturas (a própria e as alheias) e, assim, poder falar ao coração das pessoas (a este respeito, bastaria recordar os volumes de Charles Moeller, "A leitura da Bíblia").A literatura do século XX e o cristianismo). Com efeito, nenhuma cultura, isoladamente, pode esgotar a mensagem do Evangelho (cf. exortação apostólica Evangelii gaudium 117).

Neste ponto, o Papa analisa um aspeto da situação atual: "Muitas das profecias do juízo final que hoje tentam semear o desespero têm a sua origem precisamente neste aspeto.". Por conseguinte, "o contacto com diferentes estilos literários e gramaticais permitir-nos-á sempre aprofundar a nossa compreensão da polifonia do Apocalipse.O "social e político", sem o reduzir ou empobrecer à medida das suas próprias necessidades históricas ou estruturas mentais.

De facto, os Padres da Igreja, como S. Basílio de Cesareia (cf. Discurso aos jovens), exaltava a beleza da literatura clássica, incluindo a literatura pagã, e aconselhava as pessoas a conhecê-la, tanto em termos de argumentos (filosofia e teologia) como de comportamento (ascese e moral). "Exatamente".observa o Bispo de Roma, "deste encontro entre o acontecimento cristão e a cultura da época, surgiu uma reelaboração original do anúncio evangélico.".

Por isso, e como testemunha o caso de São Paulo e a sua presença no Areópago de Atenas (cf. Act 17, 16-34), a literatura é um bom instrumento para a "...".discernimento evangélico da cultura". Ou seja, para "reconhecer a presença do Espírito na realidade humana multifacetada"e para "captar a semente já plantada da presença do Espírito nos acontecimentos, sensibilidades, desejos e tensões profundas dos corações e dos contextos sociais, culturais e espirituais".

Desta forma, a literatura é apresentada como "uma 'porta de entrada' que ajuda o pastor a entrar num diálogo profundo com a cultura do seu tempo"..

O Papa retoma uma outra observação sobre o contexto religioso atual: "O regresso ao sagrado e as buscas espirituais que caracterizam o nosso tempo são fenómenos ambíguos. Mais do que o ateísmo, somos hoje desafiados a responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não a procurem saciar em propostas alienantes ou num Jesus Cristo sem carne." (cfr. Evangelii gaudium, 89).

Tocar o coração do ser humano contemporâneo

Esta é uma consequência da Encarnação do Filho de Deus: "...o Filho de Deus é o Filho de Deus.Essa carne feita de paixões, emoções, sentimentos, histórias concretas, mãos que tocam e curam, olhares que libertam e encorajam; de hospitalidade, perdão, indignação, coragem, ousadia. Numa palavra, de amor".

Por isso, através da literatura, os sacerdotes e, em geral, todos os evangelizadores podem tornar-se mais sensíveis à plena humanidade de Jesus, para melhor o poderem anunciar. Pois quando o Concílio Vaticano II diz que "na realidade, o mistério do homem só se esclarece no mistério do Verbo encarnado". (Gaudium et Spes22), Francisco salienta que "não se trata de uma realidade abstrata, mas do mistério deste ser humano concreto, com todas as feridas, desejos, memórias e esperanças da sua vida.".

É disso que se trata: "Eis a questão: a tarefa dos crentes, e em particular dos sacerdotes, é precisamente a de "tocar" o coração do homem contemporâneo para que se comova e se abra ao anúncio do Senhor Jesus e, neste esforço, o contributo que a literatura e a poesia podem oferecer é de um valor inigualável.". 

Entre parêntesis, poder-se-ia pensar, ao ler a carta do Papa, que o que falta aos nossos contemporâneos é sobretudo a fé e a "doutrina", ou seja, o conhecimento da verdade cristã sobre Deus, Jesus Cristo, os sacramentos e a moral. É certo que as necessidades de cada cultura terão de ser discernidas. Mas, em geral, este juízo é, pelo menos, insuficiente.

Como diz T. S. Elliot, e como o Papa faz eco, a crise religiosa moderna traz consigo uma "incapacidade emocional" generalizada. Francisco salienta: "À luz desta leitura da realidade, o problema da fé hoje não é, em primeiro lugar, o de crer mais ou crer menos nas proposições doutrinais. Está antes relacionado com a incapacidade de muitos de se comoverem com Deus, com a sua criação, com os outros seres humanos. É aqui, portanto, que reside a tarefa de curar e enriquecer a nossa sensibilidade.".

Na parte final da sua carta, Francisco insiste em sublinhar a importância de considerar e promover a leitura de grandes obras literárias como um elemento importante da educação. paideia sacerdotal, que poderia equivaler, para os evangelizadores em geral, à educação na fé. E, atenção, como já vimos, ele dirá que não se trata apenas de tocar o coração dos outros, mas de mudar o próprio coração, o coração do pastor do evangelizador, à imagem do coração de Cristo.

Autoeducação do evangelizador

Esta autoeducação do evangelizador pode ser dividida em quatro direcções, que a carta indica na conclusão. E vale a pena retomá-las longamente.

1) "Eu confio, escreve Francisco, "por ter mostrado, nestas breves reflexões, o papel que a literatura pode desempenhar na educação do coração e da mente do pastor ou do futuro pastor na direção de um exercício livre e humilde da própria racionalidade, de um reconhecimento fecundo do pluralismo das linguagens humanas, de uma extensão da própria sensibilidade humana e, em conclusão, de uma grande abertura espiritual para escutar a Voz através de tantas vozes.".

2) "Neste sentido". -Ele prossegue, salientando que "a literatura ajuda o leitor a destruir os ídolos das linguagens auto-referenciais, falsamente auto-suficientes, estaticamente convencionais, que por vezes correm o risco de contaminar também o discurso eclesial, aprisionando a liberdade da Palavra.".

3) "O poder espiritual da literatura evoca [...] a primeira tarefa confiada ao homem por Deus, a tarefa de "dar nomes" aos seres e às coisas (cf. Gn 2,19-20). A missão de guarda da criação, atribuída por Deus a Adão, é, antes de mais, o reconhecimento da sua própria realidade e do sentido da existência dos outros seres.".

4) "Deste modo, a afinidade entre o sacerdote - e, por extensão, todos aqueles que participam na missão evangelizadora da Igreja, isto é, todos os cristãos, chamados a ser discípulos missionários - e o poeta manifesta-se nesta misteriosa e indissolúvel união sacramental entre a Palavra divina e a palavra humana, dando vida a um ministério que se torna um serviço pleno de escuta e de compaixão, a um carisma que se torna uma responsabilidade, a uma visão da verdade e do bem que se abrem como beleza.". 

De facto, a literatura pode ser hoje um caminho mestre para a autoeducação da própria personalidade, uma purificação da linguagem da evangelização, uma ajuda para reconhecer e cuidar da realidade e, portanto, também um canal para encarnar melhor a missão evangelizadora.

Ecologia integral

Uma abordagem cristã da atividade empresarial

O autor cita propostas através das quais as empresas podem desenvolver-se com valores cristãos que permitam a participação e a inclusão dos trabalhadores.

Juan Manuel Sinde-2 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Entre os 400.000 padres do mundo em meados do século, o génio de Arizmendiarrieta não estava nos seus contributos teóricos, mas nas aplicações práticas derivadas da sua fé, no quadro legislativo e no cenário competitivo da época.

Nesta linha, as ideias de Arizmendiarrieta têm hoje uma possível aplicação nas empresas convencionais no modelo empresarial participativo e inclusivo que a Fundação Arizmendiarrieta está a promover: trata-se de um modelo que, inspirado nos princípios e valores do humanismo cristão, procura humanizar as empresas ao mesmo tempo que melhora a sua competitividade para garantir que geram lucros e valor social de forma sustentável.

Nasceu da proposta de diferentes grupos de pessoas relacionadas com as empresas e a economia em geral, de diferentes origens sindicais, políticas e empresariais, que reflectiram em diferentes seminários organizados pela Fundação Arizmendiarrieta e outras instituições sobre as caraterísticas que devem ter as empresas que baseiam a sua competitividade no desenvolvimento das pessoas que nelas trabalham.

Assim, em 2018, os parlamentos de Navarra e do País Basco aprovaram moções (sem força de lei) em que instam os respectivos governos regionais a promover duas variantes de um modelo participativo inclusivo com caraterísticas muito semelhantes. Em ambos os casos, insistiram que não se trata de um modelo rígido, mas que deve ser adaptado às circunstâncias específicas de cada empresa, tanto em termos da sua situação interna como das suas necessidades para competir com sucesso no mercado global.

Isto também gerou novas variantes, que mantêm a espinha dorsal do que foi inicialmente proposto, mas que se adaptam melhor a diferentes contextos regulamentares e culturais.

A variante que se segue é a que a UNIAPAC, uma associação que reúne 43 organizações de empresários e gestores cristãos, com mais de 40.000 membros em todo o mundo, decidiu difundir entre os seus parceiros. Os eixos e as caraterísticas do modelo participativo inclusivo proposto são os seguintes 

Eixo 1

Formular um projeto partilhado pelos proprietários, gestores e profissionais/trabalhadores da empresa, que melhore a competitividade da empresa, que seja benéfico a longo prazo para todos e em que a sustentabilidade do projeto coletivo tenha prioridade sobre os interesses de qualquer um dos grupos acima mencionados. Isto implica:

1. estabelecer objectivos anuais que demonstrem os benefícios do novo modelo, melhorando simultaneamente o retorno para os acionistas e a remuneração global dos trabalhadores.

2. Afetar uma percentagem significativa dos lucros da empresa à melhoria da sua solvabilidade, ao investimento em novos equipamentos, a actividades de I&D&I e à formação de todos os membros da empresa.

3. Aumentar a percentagem das receitas das vendas destinada a financiar actividades de I&D&I, quando os resultados o permitirem.

Eixo 2

Modificar as práticas de gestão e a cultura da empresa, em que a transparência da informação, a colaboração e a confiança entre todos os membros são os principais pilares do projeto, em prol de uma maior competitividade e sustentabilidade, o que incluiria

4. Criar um clima de confiança por parte da direção através de uma política de transparência da informação, com informação regular aos trabalhadores, através dos seus representantes, sobre as variáveis e políticas mais importantes da empresa, com exceção das que possam ser estritamente confidenciais.

5. Implementar um modelo de gestão organizacional e participativo, que incentive a participação dos trabalhadores, contribuindo com o seu conhecimento e experiência para a melhoria do processo de produção e que promova a inovação e a sustentabilidade empresarial a longo prazo.

6. Programar e desenvolver planos de formação sistemáticos, com objectivos específicos para os trabalhadores, incluindo formação técnica e de gestão, com o objetivo de intensificar os processos de formação e de acreditação de competências dos trabalhadores da empresa, alargando-os ao maior número possível de trabalhadores, na sequência dos acordos pertinentes com os seus representantes.

7. Promover políticas de remuneração que não gerem desigualdades excessivas e que favoreçam a coesão social, recomendando-se que, sempre que as circunstâncias o permitam, a remuneração inclua uma participação nos resultados que possa atingir o conjunto dos trabalhadores. 

8. Estabelecer sistemas periódicos de avaliação e de melhoria contínua da satisfação e das necessidades das pessoas que aí trabalham. Uma referência poderia ser a realização de um inquérito sistemático de dois em dois anos.

9. Privilegiar (sem exclusividade) a promoção interna para atribuição de funções de maior responsabilidade e utilizar critérios objectivos de avaliação do mérito e das possibilidades de contribuição na seleção entre os vários candidatos, dando resposta adequada aos planos de formação levados a cabo pelos trabalhadores/colaboradores.

10. Realizar progressos decisivos no sentido da igualdade de remuneração entre homens e mulheres.

11. Procurar fórmulas que favoreçam a conciliação da vida profissional e familiar de todos, sem prejuízo do desenvolvimento das empresas.

Eixo 3

Avançar no sentido da superação das dinâmicas de confronto entre capital e trabalho, criando um clima de confiança e de acordo sobre o projeto empresarial que permita a participação progressiva dos trabalhadores nos processos de gestão relacionados com as suas competências e, se as circunstâncias o permitirem, uma participação nos resultados da empresa.

12. Implementar sistemas de gestão participativa, com procedimentos e instrumentos adequados, que incentivem a inovação e a mudança organizacional. Tal inclui a informação regular dos representantes dos trabalhadores sobre a evolução da empresa, os resultados, as ameaças e as oportunidades, bem como sobre os projectos mais importantes a desenvolver, consultando e avaliando as suas opiniões e sugestões a este respeito.

13. Quando o novo modelo de empresa tiver avançado suficientemente e houver um projeto comum a todas as partes para o seu desenvolvimento, estudar a criação de comissões de acompanhamento e controlo onde estejam representados todos os membros da empresa.

14. Estabelecer progressivamente fórmulas de participação variável dos trabalhadores nos resultados, tendo em conta os problemas da empresa a curto e a longo prazo.

Eixo 4

Preocupação com o impacto social das acções empresariais e envolvimento em alguns dos problemas sociais do ambiente. Tal implicaria:

15. Manter uma política de honestidade fiscal, sem recorrer à fraude e à evasão fiscais e sem recorrer a paraísos fiscais, de modo a não comprometer os recursos públicos necessários para fazer face aos desafios económicos e sociais da Comunidade.

16. Participar na reflexão, avaliação e, se possível, implementação de políticas sociais que visem a integração laboral de trabalhadores menos qualificados que possam ser excluídos dos processos produtivos em resultado da incorporação de novas tecnologias ou da sua situação pessoal, especialmente em tempos como o atual, de profundas mudanças tecnológicas.

17. Colaborar com as administrações públicas correspondentes para a adaptação permanente da formação profissional, da formação contínua e da formação universitária às necessidades das empresas, assumindo um papel preponderante no estabelecimento de planos de formação dual, de estágios, de programas de serviços e de aprendizagens adequadas. Para o efeito, estabelecer uma comunicação permanente e regulada entre o mundo empresarial e o mundo da formação, a fim de melhorar a empregabilidade dos diplomados, bem como de responder às necessidades do mundo empresarial.

18. Dedicar uma percentagem dos lucros a actividades de responsabilidade social, valorizando o envolvimento dos trabalhadores nos diferentes projectos e envolvendo os representantes dos trabalhadores na empresa.

19. fomentar o intra-empreendedorismo e uma cultura interna que estimule vocações empreendedoras entre os profissionais e gestores da empresa, de forma a dar continuidade e gerar novos projectos que contribuam com riqueza e emprego para a comunidade.

A aplicação prática desta proposta pode ser vista no trabalho realizado em conjunto com a Euskalit, a Fundação Basca para a Qualidade da Gestão, que pode ser consultado no seguinte sítio Web aqui.

Como exemplo de empresas que puseram em prática as recomendações do referido modelo, temos as empresas da Comunidade Autónoma Basca e da Comunidade Autónoma de Navarra que ganharam os Prémios Arizmendiarrieta Sariak, atribuídos pela nossa Fundação com base numa avaliação técnica realizada por avaliadores profissionais e um Júri independente em cada caso. Gostaríamos de destacar os seguintes. No País Basco: Alcorta Forging, Salto Systems, AB Laboratorios de Biotecnología, Egamaster, Grupo Zigor, Ingeteam e Cadinox e em Navarra: Hidrorubber, Seinsa, Conor Sports e IED.

O autorJuan Manuel Sinde

Presidente da Fundação Arizmendiarrieta

Mundo

David Rolo: "No Vietname, os não-cristãos não sabem nada sobre o cristianismo".

Atualmente, existem cerca de sete milhões de católicos no Vietname, ou seja, 7 % da população. A história da Igreja Católica neste país asiático tem sido marcada pelo martírio e pela perseguição até ao século XX. Nesta entrevista, o missionário David Rolo partilha algumas ideias importantes sobre a fé cristã no Vietname.

Loreto Rios-2 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 8 acta

David Rolo é um missionário espanhol que pertence aos Fraternidade Missionária Verbum Dei. Natural de Toledo, é missionário há 29 anos, desde 1995, e sacerdote há vinte anos. Atualmente está no Vietname, onde se encontra desde 2019. Nos últimos dois anos, o seu trabalho consistiu no acompanhamento pastoral da comunidade internacional da arquidiocese de Saigão, no sul do país, tarefa que tem vindo a realizar juntamente com um sacerdote da arquidiocese de Saigão. vietnamita.

Como é que o seu processo vocacional o levou a tornar-se missionário no Vietname?

-Como membro de uma comunidade religiosa eminentemente missionária, estive em vários lugares: México, Espanha, Itália, durante algum tempo nas Filipinas e, em missões mais curtas de três ou quatro meses, na Venezuela, Chile, Polónia... Nós, como instituição religiosa, temos uma presença na Ásia: estamos nas Filipinas, também em Singapura e Taiwan. Vimos a necessidade de alargar um pouco as nossas comunidades e, depois de fazer um estudo, descobrimos que o Vietname era um lugar adequado porque, para além das Filipinas, que é uma exceção na Ásia, o Vietname é um dos países com maior percentagem de católicos, embora seja muito pequeno, apenas 7 % da população. Mas pareceu-nos uma boa plataforma e, além disso, a presença missionária da Igreja na Ásia é uma necessidade, porque é o continente onde há mais gente e onde Jesus e o Evangelho são menos conhecidos. Estar aqui não é um capricho, mas uma obrigação, se realmente nos consideramos missionários. Após um processo de discernimento e depois de terminar a minha missão anterior em Roma, fui incumbido de fundar no Vietname e cheguei em janeiro de 2019.

Em termos gerais, qual é a situação atual da Igreja no Vietname?

-A Igreja no Vietname é relativamente pequena, e gostaria de sublinhar a palavra "relativamente", porque, em comparação com os países vizinhos, é uma minoria significativa, porque num país com cerca de 100 milhões de pessoas, os 7 % são sete milhões.

É uma Igreja marcada na sua história pela perseguição e pelo martírio. A Igreja no Vietname não pode ser compreendida sem esta história de luta e de sobrevivência desde a chegada dos primeiros missionários europeus, sobretudo franceses, portugueses e espanhóis. A perseguição foi um dos principais motivos que levaram a que o processo de evangelização não se enquadrasse em algumas linhas culturais muito marcadas do povo vietnamita, e também por alguma falta de compreensão da cultura no início. Essa história de perseguição durou até muito recentemente, penso que todos temos presente a experiência do Cardeal Van Thuan, e ainda se encontram aqui pessoas da Igreja, pessoas mais velhas, que passaram algum tempo na prisão.

Isso faz com que os católicos do Vietname sejam realmente muito orgulhosos e defensores acérrimos do legado que lhes foi transmitido pelas gerações anteriores. Assim, o conceito de ser católico mas não praticar diretamente não existe aqui. Apesar de estarmos a falar de uma pequena percentagem da população, as igrejas estão sempre cheias, porque esses 7 milhões de católicos participam regularmente na Eucaristia, não só aos domingos, mas também todos os dias, e têm um forte sentimento de pertença. Por outro lado, nos últimos tempos, tem havido uma aproximação muito positiva do governo vietnamita (que tem um sistema de partido único: o Partido Comunista do Vietname) à Igreja Católica, após um longo período de diálogo entre a Conferência Episcopal Vietnamita e o governo. A pandemia foi um ponto de viragem muito importante, devido ao testemunho de muitos fiéis da Igreja que fizeram trabalho voluntário e se ofereceram para estar nos hospitais, cuidar dos doentes, distribuir alimentos aos que estavam confinados... Este testemunho foi recebido com gratidão pelo governo vietnamita e foram feitos agradecimentos públicos, reconhecendo a presença da Igreja como benéfica para o país e para a sociedade vietnamita. Houve também aberturas em relação à Santa Sé, que acabaram por levar à presença do representante do Vaticano em território vietnamita. Anteriormente, o Bispo Marek vivia em Singapura e só vinha ao Vietname para algumas visitas. Agora, porém, pode ter uma presença estável no Vietname, embora as relações diplomáticas ainda tenham um longo caminho a percorrer. É um momento de grande compreensão, diríamos, e os passos estão a ser dados lentamente nessa direção.

Quais são os desafios pastorais que encontra no Vietname?

-Eu dividiria os desafios pastorais em dois grandes blocos: um é a pastoral dos cristãos na Igreja e o outro é a pastoral dos cristãos na Igreja. ad gentescom pessoas que não são baptizadas. Internamente, eu diria que o maior desafio é que os fiéis católicos são pessoas muito piedosas, que têm, como já disse, um forte sentido de pertença à Igreja, que participam nas celebrações, que colaboram com a Igreja, mas em muitos casos não há uma experiência espiritual profunda e uma experiência de encontro com Deus que os leve a uma vida de relação com Deus na sua vida quotidiana. Assim, a fé é vivida de uma forma baseada na crença e na tradição, mas há pouca experiência pessoal de fé profunda. Penso que este é um dos grandes desafios: como proporcionar às pessoas uma experiência pessoal de Deus, não só o Deus Todo-Poderoso que está no Céu, mas o Deus com quem eu me posso relacionar no dia a dia, que me acompanha, que me leva a momentos de oração pessoal, a aprofundar a minha compreensão da palavra de Deus, etc. Há aí um processo a fazer, sobretudo porque as novas gerações, como acontece em todos os países, devido à globalização, começam a sentir um pouco mais de desinteresse pela Igreja e procuram algo mais do que ir à missa.

Obviamente, viver num país onde a grande maioria dos cidadãos não é membro da Igreja e nem sequer tem uma cultura cristã é outro grande desafio. E uma coisa que é bastante surpreendente é que, apesar de dizermos, por exemplo, que na Europa estamos num período de nova evangelização, porque os jovens sabem cada vez menos de Deus, a verdade é que a nossa bagagem cultural está muito marcada pelo cristianismo e, portanto, muitas celebrações culturais, como o Natal, a Páscoa, as festas populares nas aldeias, todos as celebramos, e mais ou menos os jovens, mesmo que não sejam crentes ou não sejam baptizados, sabem o que é uma igreja, um padre, uma freira.... Aqui, aqueles que não são cristãos não sabem de facto absolutamente nada do que é o cristianismo. É um desafio muito grande, que implica muito testemunho silencioso de vida, de estar presente, ao serviço da sociedade com a caridade, o voluntariado, e continuar a ser firme nas suas crenças no meio de uma cultura budista, que é a religião maioritária, fazendo parte dessa cultura sem renunciar à sua própria identidade.

Por isso, há muitos desafios aqui, também porque nem sempre é fácil, devido a situações políticas, fazer uma evangelização aberta sem suspeitas de que se está a fazer proselitismo ou a trazer ideias ocidentais para esta cultura.

Quais são as principais diferenças entre a Igreja no Vietname e a Igreja Ocidental?

-A igreja vietnamita é uma igreja cem por cento católica, apostólica e romana, portanto é uma igreja em que a própria celebração litúrgica ou a própria compreensão da Igreja é muito semelhante à que nós temos, porque a primeira evangelização veio da Europa, como em muitos outros lugares. Portanto, embora tenha as suas particularidades, elas não são tão significativas. Parece-me que uma diferença é que a atmosfera religiosa dentro da Igreja no Vietname é a que se podia ter na Europa há 50 ou 70 anos. Aqui estamos numa fase diferente. Na Europa, há coisas que foram ultrapassadas, como o primado absoluto do padre, que decide tudo, organiza tudo na paróquia. Esta experiência de sinodalidade aqui ainda está a dar os primeiros passos, porque a figura do padre é muito preponderante, e as pessoas estão lá para ajudar o que o padre diz, em modelos que talvez já não sejam os nossos. Depois, há também a realidade óbvia das vocações: aqui ainda há muitas vocações, e muitos jovens entram nos seminários diocesanos. Esta é uma diferença clara em relação à realidade vocacional na Europa. Também é verdade que quando o ambiente externo, como na Europa, é mais complicado, as vocações são muito mais personalizadas e as pessoas que realmente dão o passo para a consagração ou para o sacerdócio é porque têm uma convicção muito séria, muito profunda, e sabem o que querem fazer. Aqui, as vocações são muitas vezes ainda fruto da inércia familiar, porque as famílias católicas gostariam de ter um padre ou uma freira entre os seus membros. Por vezes, os jovens optam pela vida consagrada não por convicção pessoal, mas porque sempre ouviram dizer na família que os seus pais e avós ficariam muito orgulhosos, e querem manter a família feliz. A diferença numérica é positiva, e a negativa é a forma como a vocação é vivida ou personalizada.

Outra grande diferença é o que referi anteriormente: aqui as igrejas estão sempre cheias, o que é surpreendente devido à baixa percentagem em relação à população em geral, mas é realmente impressionante ver as igrejas sempre cheias, há mesmo pessoas na rua com altifalantes e ecrãs para seguir as missas, porque não cabem lá dentro, e há bastantes igrejas. Depois, há algumas diferenças na experiência da liturgia: aqui a missa é toda cantada. Além disso, no início da Eucaristia, as pessoas juntam-se e cantam o Credo, os Dez Mandamentos, os Mandamentos da Igreja... Isto vem da primeira evangelização, era uma forma de os missionários fazerem com que as pessoas memorizassem tudo, e são coisas particulares que acontecem aqui e talvez não aconteçam noutros lugares.

Qual é a relação entre os cristãos e as outras denominações?

-Viver num país onde somos uma minoria significa que temos necessariamente de estar em contacto com pessoas de outras religiões. Estamos a falar principalmente de budistas, porque a percentagem de muçulmanos aqui é muito, muito pequena e a maior parte deles são estrangeiros. E quando falamos de cristãos, estamos a falar principalmente de católicos, porque há algumas igrejas protestantes, mas em proporção são poucas. Portanto, na realidade estamos a falar da relação entre católicos e budistas e católicos e não crentes, porque, num país que já tem décadas de formação orientada pelo regime político, também há muitos ateus.

Normalmente, a relação com os budistas é muito positiva, muito boa, também por causa da idiossincrasia budista de um grande respeito pela diferença, pela natureza, pela vida interior e pela espiritualidade rica, pela gratidão a Deus... Há respeito, mas a religião não é propriamente algo de que se fale muito. É verdade que os católicos não se escondem, usam sinais exteriores de que são católicos, a cruz, e os jovens carregam fotos suas na missa nas redes sociais... Não é que haja vergonha de se manifestar como cristão, mas uma coisa que falta é que não há um programa claro de evangelização na Igreja no Vietname para abordar ou levar o Evangelho a pessoas de outras confissões religiosas.

Grande parte do trabalho pastoral da Igreja está virado para dentro: como manter, apoiar, nutrir e cuidar dos seus próprios católicos, e há uma ligeira falta de uma abordagem mais ousada, mais virada para a periferia na esfera religiosa, a fim de anunciar o Evangelho àqueles que não têm fé ou àqueles que não partilham o mesmo credo. Há algo a fazer aqui, para semear um pouco mais de espírito missionário no seio da própria Igreja Católica vietnamita, a fim de chegar àqueles que professam outras religiões.

As pessoas estão abertas à evangelização?

É com os jovens que tenho mais contacto, e os jovens não cristãos são muito abertos a tudo o que tem a ver com a Igreja. Não há, de facto, rejeição e têm muita curiosidade. Também estive a nível universitário, a dar aulas na universidade. A dada altura, fora da sala de aula, surge a conversa sobre religião e eu convido-os a irem a uma igreja, ou a irem à missa, ou a qualquer outra coisa. E nunca senti qualquer rejeição. Depois dizem: "Não percebi isto, ou aquilo", "Ah, acho que o que ouvi é bom, ajuda-me na minha vida pessoal"... É um ambiente de abertura que me parece muito interessante para o trabalho evangelizador da Igreja. De facto, os párocos aqui sabem que há várias alturas do ano em que a Igreja vai estar cheia de não cristãos: por exemplo, no Domingo de Páscoa, ou no Natal, as pessoas gostam muito de ir à Missa do Galo, porque gostam dos enfeites de Natal, dos cânticos, e muitos vão à Missa sem saberem muito bem o que estão a fazer, mas vão.

Vaticano

O Papa apela a uma vivência coerente da fé e da oração para uma longa viagem

Na véspera da sua viagem apostólica a alguns países da Ásia e da Oceânia, que começa amanhã, o Papa Francisco pediu aos fiéis romanos e aos peregrinos que rezassem por si e pelos frutos da viagem, e rezou pela paz na Terra Santa e em Jerusalém. O Papa também encorajou as pessoas a viverem a sua fé "com coerência".  

Francisco Otamendi-1 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Na manhã deste domingo, 1 de setembro, o Santo Padre visitou a Basílica de Santa Maria Maior e deteve-se em oração diante do ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, confiando-lhe a sua próxima visita. viagem apostólica  à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura, que se prolongará de segunda-feira 2 a 13 de setembro, a mais longa do pontificado.

Depois de regressar ao Vaticano, rezou a Angelus O Papa rezou por ele e pelos frutos da sua viagem, que começa na Indonésia. Neste país de maioria muçulmana, os católicos prepararam-se ansiosamente para esta visita, como disse o padre indonésio à Omnes Kenny Angque vive atualmente no Colégio Sacerdotal de Altomonte (Roma) e que completou os seus estudos graças a uma bolsa de estudos do Fundação CARF.

Beatificação na Eslováquia

Além disso, o Santo Padre informou sobre a beatificação, ontem na Eslováquia, de Ján HavlikManifestou também a sua proximidade às vítimas e aos familiares das dezenas de vítimas de um atentado terrorista no Burkina Faso e pediu orações por eles. Recordou ainda o Dia Mundial de Oração pelos Beatos, o Dia Mundial de Oração pelos Beatos, o Dia Mundial de Oração pelos Beatos, o Dia Mundial de Oração pelos Beatos, o Dia Mundial de Oração pelos Beatos, o Dia Mundial de Oração pelos Beatos e o Dia Mundial de Oração pelos Beatos. Cuidados com a oraçãoO Presidente do PE apelou a um "empenhamento" na "nossa casa comum". "É necessária uma ação decisiva e urgente", afirmou.

Como de costume, mas com particular insistência, o Pontífice manifestou a sua proximidade ao povo ucraniano, que se encontra em dificuldades, em particular devido aos ataques a instalações energéticas, que deixaram muitas pessoas sem eletricidade. 

O Papa mostrou a sua intensa preocupação com o conflito na Palestina e em Israel e apelou a que as negociações não parassem, a um cessar-fogo imediato para acabar com a violência e a um alívio para a população de Gaza, onde tantas doenças, incluindo a poliomielite, também se estão a propagar. "Que haja paz na Terra Santa, que haja paz em Jerusalém. Que a Cidade Santa seja um ponto de encontro onde cristãos, judeus e muçulmanos se sintam respeitados e bem-vindos, e que ninguém questione o status quo nos seus respectivos Lugares Santos."

Pureza, atitude interior

Antes de rezar o Angelus, o Papa comentou a Evangelho de S. Marcos, em que Jesus "fala do puro e do impuro: um tema muito caro aos seus contemporâneos, que se relacionava sobretudo com a observância de ritos e regras de comportamento, para evitar qualquer contacto com coisas ou pessoas consideradas impuras e, se isso acontecesse, apagar a 'mancha'".

O Papa recordou que a pureza "não está ligada a ritos exteriores, mas sobretudo a atitudes interiores. Por isso, para ser puro, é inútil lavar as mãos várias vezes, se depois se nutrem maus sentimentos como a cobiça, a inveja e o orgulho, ou más intenções como o engano, o roubo, a traição e a calúnia (cf. Mc 7, 21-22). Isto é ritualismo, que não leva a crescer no bem; pelo contrário, pode por vezes levar a negligenciar, ou mesmo a justificar, em si mesmo e nos outros, opções e atitudes contrárias à caridade, que ferem a alma e fecham o coração ".

"E isto é importante também para nós: não se pode, por exemplo, sair da Santa Missa e, já no átrio da igreja, parar com mexericos maldosos e maldosos sobre tudo e todos. Ou mostrar-se piedoso na oração, mas depois, em casa, tratar os próprios familiares com frieza e desinteresse, ou negligenciar os pais idosos que precisam de ajuda e companhia (cf. Mc 7, 10-13). Ou ser aparentemente muito justo para com todos, talvez até fazer um pouco de voluntariado e alguns gestos filantrópicos, mas depois cultivar interiormente o ódio aos outros, desprezando os pobres e os últimos, ou comportar-se desonestamente no seu próprio trabalho".

O Papa perguntou se vivemos a nossa "fé com coerência" e pediu que "Maria, Mãe puríssima, nos ajude a fazer da nossa vida, no amor sincero e praticado, um culto agradável a Deus".

O autorFrancisco Otamendi

Tempo para curar

Há alguns anos, abordámos a terrível realidade dos abusos sexuais no seio da Igreja com o título "A ferida profunda".

1 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Há alguns anos, nesta mesma revista, a terrível realidade dos abusos sexuais nos ambientes da Igreja Católica foi abordada sob o título "A ferida profunda. É inegável que, sobretudo a partir do início do século XXI, a descoberta destes comportamentos criminosos por parte de algumas pessoas da Igreja significou mais do que uma crise: foi um verdadeiro cataclismo que abalou violentamente a consciência da Igreja mas, ao mesmo tempo, internamente, suscitou um profundo exame de consciência nos seus membros, tanto a nível pessoal como comunitário.

O caminho é árduo, verdadeiramente complicado, muito mais do que as teorias e as reflexões poderiam sugerir, como se depreende dos artigos deste número da Omnes, escritos por vários especialistas que trabalham diariamente neste domínio. Rever e corrigir padrões erróneos e, ao mesmo tempo, aceites; reconquistar a confiança de quem foi ferido - quer como vítima desses abusos, quer como fiel escandalizado ou mesmo magoado por ataques gratuitos; curar corações e relações dentro e fora das comunidades - requer força e uma sólida base espiritual, pastoral e humana por parte dos membros da Igreja e, especialmente, daqueles que têm responsabilidades de qualquer tipo dentro dela. 

A Igreja está imersa numa fase de cura, de purificação e de formação para evitar, sempre e em todas as circunstâncias, qualquer abuso, seja de consciência, de poder, físico ou sexual, nos ambientes eclesiais, mas também na sociedade no seu conjunto.

De facto, o esforço que está a fazer inspira atitudes e acções que podem servir de guia para outras instituições.

"Chegou o momento de reparar os danos causados às gerações que nos precederam e àqueles que continuam a sofrer". O Papa Francisco disse aos membros da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores em maio de 2023. "Este tempo pascal é um sinal de que um novo tempo está a ser preparado para nós, uma nova primavera fecundada pelo trabalho e pelas lágrimas partilhadas com aqueles que sofreram. É por isso que é importante que nunca deixemos de avançar"..

Confiando sempre que a Igreja pertence a Cristo e que é Ele quem a guia, as decisões e as disposições necessárias só podem ser tomadas onde se toleraram durante demasiado tempo comportamentos corruptos, falta de transparência, formação deficiente na esfera afectiva ou conceitos errados de liberdade. 

Em suma, trata-se de desenvolver nas nossas comunidades aquilo a que o Papa chamou o cura espiritualidade e ter consciência de que qualquer reforma institucional, qualquer regeneração social exige, antes de mais, uma reforma do coração de cada indivíduo..

O autorOmnes

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Ecologia integral

O grito do planeta no grande ecrã

Por ocasião do Tempo da Criação, que começa a 1 de setembro, o autor do artigo oferece alguns recursos audiovisuais para aprofundar os ensinamentos da encíclica "Laudato si'".

Assumpta Montserrat Rull-1 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

A mensagem audiovisual é um poderoso instrumento de reflexão e de mudança social. Através das curtas-metragens e filmes que se seguem, crianças, jovens e adultos podem questionar e debater a proposta do "...".Laudato si'"O cuidado amoroso da casa comum que partilhamos está nas nossas mãos. Apresentamos aqui 25 recursos audiovisuais para cuidar do ambiente e tomar consciência da nossa responsabilidade comum pela realidade em que vivemos. 

As pequenas mudanças são poderosas. É hoje um grito universal que o nosso planeta está a sofrer o desgaste do consumo excessivo. É verdade, palavra por palavra, o que é afirmado no ".Laudato si'". O futuro depende de todos nós e temos de fazer um esforço acrescido no domínio da educação para que os homens e as mulheres de amanhã cuidem cada vez mais da terra que partilhamos. É uma mudança de paradigma que nos é pedida, deslocar o nosso olhar dos nossos próprios interesses para a procura do bem comum, que é urgente. O cinema ajudar-nos-á a fazê-lo.

Proposta de aplicação didática

Cada um dos audiovisuais aqui propostos está ligado a um pequeno excerto da "Laudato si'". Sugerimos a sua leitura antes de ver o filme ou a curta-metragem e, em seguida, a ressonância das mensagens que nos desafiam e nos impelem à ação!

10 curtas-metragens para dar fôlego ao planeta 

As curtas-metragens dão-nos, em poucos minutos, um ponto de luz, uma mensagem que nos convida a pensar e a procurar aplicações na minha vida pessoal, na da minha família, comunidade, instituição, para que se gerem mudanças poderosas. 

  • Frango à la carteDesejo reconhecer, encorajar e agradecer a todos aqueles que, nos mais variados sectores da atividade humana, trabalham para assegurar a proteção da casa que partilhamos. Uma gratidão especial é devida àqueles que estão a lutar vigorosamente para enfrentar as consequências dramáticas da degradação ambiental nas vidas dos mais pobres do mundo. Os jovens pedem-nos uma mudança. Perguntam-nos como é possível pretender construir um futuro melhor sem pensar na crise ambiental e no sofrimento dos excluídos".
  • Perdedores2011 "As componentes sociais da mudança global incluem os efeitos laborais de algumas inovações tecnológicas, a exclusão social, a desigualdade na disponibilidade e no consumo de energia e de outros serviços, a fragmentação social, o crescimento da violência e a emergência de novas formas de agressividade social, o tráfico e o consumo crescente de drogas entre os mais jovens e a perda de identidade. Estes são sinais, entre outros, que mostram que o crescimento dos últimos dois séculos não significou, em todos os seus aspectos, um verdadeiro progresso integral e uma melhoria da qualidade de vida".
  • O altruísmo das crianças2013 "Propõe-se passar do consumo ao sacrifício, da avareza à generosidade, do desperdício à partilha, numa ascese que significa aprender a dar, e não apenas a renunciar".
  • Para os pássarosNa medida em que todos nós geramos pequenos danos ecológicos, somos chamados a reconhecer a nossa contribuição - pequena ou grande - para a desfiguração e destruição da criação".
  • Cadeia de favoresPrecisamos de uma conversa que nos una a todos, porque o desafio ambiental que enfrentamos, e as suas raízes humanas, dizem respeito e têm impacto em todos nós. O movimento ambientalista global já percorreu um longo e rico caminho e gerou numerosos grupos de cidadãos que ajudaram a aumentar a consciencialização".
  • A ponteO desafio urgente de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na procura de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar.
  • BasuriaQuando a natureza é vista apenas como um objeto de lucro e de interesse, isso também tem consequências graves para a sociedade".
  • É mais inteligente viajar em grupoEstas acções não resolvem os problemas globais, mas confirmam que os seres humanos continuam a ser capazes de uma ação positiva. Criados para amar, os gestos de generosidade, de solidariedade e de cuidado emergem inevitavelmente no meio dos seus limites".
  • Deus é uma mulher. Deus é uma criançaÉ nossa humilde convicção que o divino e o humano se encontram no mais ínfimo pormenor contido nas vestes sem costuras da criação de Deus, até ao último grão de pó do nosso planeta".
  • LimãoAlguns países avançaram na preservação efectiva de determinados sítios e áreas - em terra e nos oceanos - onde é proibida qualquer intervenção humana que possa modificar a sua fisionomia ou alterar a sua constituição original. No cuidado com a biodiversidade, os especialistas insistem na necessidade de prestar especial atenção às áreas mais ricas em variedade de espécies, às espécies endémicas, às espécies raras ou às que têm um menor grau de proteção efectiva. Há locais que requerem um cuidado especial devido à sua enorme importância para o ecossistema global, ou que constituem importantes reservas de água e asseguram assim outras formas de vida".
  • Equilíbrio: como viver em harmonia com o nosso ambienteDevido à exploração inconsiderada da natureza, [o homem] arrisca-se a destruí-la e, por sua vez, a tornar-se vítima dessa degradação".

15 filmes vivificantes e restauradores

O cinema tem o poder de gerar mudanças existenciais, move e leva à ação. Propomos ver os seguintes filmes para entrar em sintonia com as personagens e traçar um novo itinerário de cuidado com a nossa casa comum.

  • Baraka, o último paraísoTorna-se indispensável criar um sistema normativo que inclua limites inultrapassáveis e garanta a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecno-económico acabem por varrer não só a política, mas também a liberdade e a justiça".
  • Willy LivreOs recursos da terra também estão a ser esgotados por formas imediatistas de entender a economia e a atividade comercial e produtiva".
  • A lua viveTudo o que é frágil, como o ambiente, está indefeso face aos interesses do mercado divinizado, que se tornaram a regra absoluta".
  • Erin BrockovichOs mais extraordinários progressos científicos, as mais espantosas proezas técnicas, o mais prodigioso crescimento económico, se não forem acompanhados por um verdadeiro progresso social e moral, acabam por se voltar contra o homem".
  • Nómadas do ventoCada comunidade pode retirar da terra o que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e de assegurar a sua fertilidade contínua para as gerações futuras".
  • Uma verdade incómoda2006 "A desigualdade afecta não só os indivíduos, mas também países inteiros, e obriga-nos a refletir sobre a ética das relações internacionais. Com efeito, existe uma verdadeira "dívida ecológica", nomeadamente entre o Norte e o Sul, relacionada com os desequilíbrios comerciais com consequências ecológicas, bem como com a utilização desproporcionada dos recursos naturais historicamente efectuada por alguns países".
  • Wall-e, batalhão de limpezaEnquanto "lavrar" significa cultivar, arar ou trabalhar, "cuidar" significa proteger, guardar, preservar, preservar, guardar, guardar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre os seres humanos e a natureza".
  • Um lugar para sonhar2011 "Que maravilhosa certeza é a de que a vida de cada um não se perde num caos sem esperança, num mundo regido pelo puro acaso ou por ciclos que se repetem sem sentido! "
  • Filme sobre abelhasA terra precede-nos e foi-nos dada. Isto permite-nos responder ao chamamento".
  • Mia e o leão branco2018 "Cria-se frequentemente um círculo vicioso em que a intervenção humana para resolver uma dificuldade agrava ainda mais a situação".
  • O rapaz que domou o ventoO ambiente humano e o ambiente natural degradam-se conjuntamente, e não podemos tratar adequadamente a degradação ambiental se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. Com efeito, a deterioração do ambiente e da sociedade afecta de forma especial as pessoas mais fracas do planeta: tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica mostram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais são sofridos pelas pessoas mais pobres".
  • O Rei Leão2019 "Cuidar dos ecossistemas implica olhar para além do imediato".
  • Voar em conjunto2019 "Há regiões que já estão particularmente em risco".
  • Águas escurasMas hoje não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica se torna sempre uma abordagem social, que deve integrar a justiça nas discussões sobre o ambiente, para ouvir tanto o grito da terra como o grito dos pobres".
  • As coisas simplesHá demasiados interesses particulares e é muito fácil que o interesse económico prevaleça sobre o bem comum e que se manipule a informação para não ver os seus projectos afectados".
O autorAssumpta Montserrat Rull

Doutorada em Comunicação, autora de várias publicações, incluindo dois livros sobre cinema e educação. Uma vida de cinema (2013) y Uma viagem cinematográfica (2023) Editorial Brief

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Vaticano

Ásia e Oceânia, os próximos destinos do Papa Francisco

A viagem que o Papa Francisco inicia dentro de poucas horas é marcada pela diversidade cultural e religiosa. As suas visitas à Ásia e à Oceânia vão aproximá-lo de católicos, budistas e muçulmanos, numa viagem que durará 12 dias.

Paloma López Campos-1 de setembro de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

O Papa Francisco vai realizar a sua viagem apostólica A mais longa visita até à data, em setembro. Entre 2 e 13 de setembro, o Pontífice visitará a Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Singapura.

O Santo Padre partirá de Itália no dia 2 de setembro e estará de 3 a 6 de setembro em Jacarta, capital da Indonésia. Passará depois três dias em Port Moresby, capital da Papua Nova Guiné, e em Vanimo, a principal cidade da província de Sandaun, no país oceânico. De 9 a 11 de setembro, Francisco visitará Díli, a capital de Timor Leste. Por fim, passará dois dias em Singapura.

Como o agenda Durante a viagem, o Papa encontrar-se-á com dignitários, autoridades e figuras religiosas de todos estes países. Estes encontros terão um carácter diferente, tal como as populações dos territórios que o Bispo de Roma visitará. Dos quatro países que visitará, os católicos só são maioritários em dois: Papua Nova Guiné e Timor-Leste. A Indonésia é maioritariamente muçulmana, enquanto em Singapura o budismo é a religião mais praticada.

A diversidade nas viagens não se limita à geografia e às confissões religiosas, mas também à economia. A Indonésia é a economia mais forte da Ásia. Singapura, por outro lado, tem um grande mercado internacional que faz com que o seu PIB per capita seja o mais elevado do mundo.

Em contrapartida, quase 40 % da população de Timor Leste vive abaixo do limiar de pobreza e metade dos habitantes são analfabetos. Uma situação semelhante verifica-se na Papua-Nova Guiné, onde o facto de a maioria da população viver em zonas rurais torna muito difícil o estabelecimento de um ensino uniforme e formal no país.

Indonésia

A República da Indonésia é o maior arquipélago do mundo, com uma população de quase 300 milhões de pessoas. Este número de habitantes justifica a diversidade cultural e linguística das várias ilhas, a que se junta a multiplicidade de religiões que coexistem no país.

Embora a Constituição do país formalize a liberdade religiosa, o Estado reconhece apenas o Islão, o Cristianismo, o Budismo, o Hinduísmo e o Confucionismo como religiões oficiais. O Islão é a religião maioritária. De facto, a grande maioria dos muçulmanos vive na Indonésia, enquanto os cristãos representam pouco mais de 10 % da população.

Cartaz da visita do Papa à Indonésia (Foto CNS / Sala de Imprensa da Santa Sé)

No final do século XX, a fé cristã foi objeto de graves perseguições no país. Muitos crentes foram forçados a converter-se para salvar as suas vidas e escapar à violência. Embora as afrontas perigosas tenham diminuído, os cristãos continuam a ser objeto de alguma discriminação, tanto na esfera pública como na privada. No entanto, as estatísticas indicam que a religião cristã está a ganhar popularidade entre os indonésios e muitas pessoas provenientes da China estão a converter-se ao cristianismo.

É importante notar que, apesar do reconhecimento da liberdade religiosa, o Estado também regula a prática e a expressão da fé dos indivíduos. De acordo com o Pew Research Center, todos os cidadãos do país devem indicar no seu bilhete de identidade a religião que professam, sem a possibilidade de se declararem não confessionais. Se não fornecerem esta informação ou se se identificarem como membros de uma religião não reconhecida pelo governo, os indonésios podem ter problemas de acesso aos serviços públicos.

Papua Nova Guiné

Logótipo da visita apostólica à Papua Nova Guiné (foto CNS / Sala de Imprensa da Santa Sé)

Após a sua visita à Indonésia, o Papa Francisco passará alguns dias na Papua Nova Guiné, um país de maioria cristã caracterizado pela sua diversidade cultural e biológica. Com uma população maioritariamente rural, o território da Papua Nova Guiné é rico em recursos naturais e a sua economia assenta sobretudo na agricultura.

O número de pessoas no país tem vindo a aumentar ao longo do tempo. No entanto, com este crescimento demográfico, surgiu uma grave epidemia: o VIH/SIDA. A falta de sensibilização para os riscos da doença e a falta de meios para a detetar e prevenir fazem da Papua Nova Guiné o país com maior incidência do vírus no Pacífico.

O facto de a maior parte da população viver longe dos centros urbanos também dificulta o acesso à educação. De facto, a maioria da população é analfabeta. Várias organizações religiosas estão a tentar resolver este problema, abrindo e desenvolvendo escolas em todo o país. Tanto a Igreja Católica como a Igreja Adventista do Sétimo Dia têm universidades em funcionamento.

A presença do cristianismo não é apenas importante a nível educativo, mas é também a religião mais praticada na Papua-Nova Guiné. As tradições católicas e outras tradições cristãs estão misturadas com rituais animistas, o que, combinado com as longas distâncias que os sacerdotes têm de percorrer, dificulta a evangelização.

Timor-Leste

Cartaz da visita do Pontífice a Timor Leste (Foto CNS / Sala de Imprensa da Santa Sé)

De 9 a 11 de setembro, o Papa Francisco estará em Timor-Leste, um país onde mais de 95 % da população se considera católica. Outras denominações cristãs, como o protestantismo, também têm uma forte influência no país, devido às várias actividades de evangelização realizadas no território.

Tal como na Papua Nova Guiné, existe uma elevada percentagem de adultos analfabetos em Timor Leste. No entanto, há cada vez mais crianças a frequentar a escola e existe atualmente uma universidade nacional para os jovens que pretendam prosseguir estudos superiores.

A falta de educação formal não é impedimento para o desenvolvimento de uma cultura rica neste país do Sudeste Asiático. Desde as famosas danças tradicionais executadas em trajes caraterísticos até à relação especial com animais como gatos e búfalos, o povo de Timor-Leste cultiva tradições ancestrais distintas.

Singapura

O Papa Francisco encerrará a sua viagem apostólica na República de Singapura, o segundo país mais populoso do mundo. O grande desenvolvimento desta nação contrasta com o seu sistema legislativo, que é muito rigoroso em certos aspectos.

Singapura é um país muito rico, culturalmente diversificado e internacionalmente influente. Tem um sistema económico muito forte, que permite aos seus cidadãos ter um elevado nível de vida. No entanto, a realidade para os estrangeiros é completamente diferente. A lei não prevê quaisquer facilidades para aqueles que não nasceram no país. Sem direito a um salário mínimo, com grandes dificuldades de acesso à habitação e com a proibição de casar com um nativo, os trabalhadores estrangeiros tendem a encontrar-se numa situação muito precária.

O controlo governamental estende-se também à esfera religiosa. De 10 em 10 anos, as autoridades civis efectuam um recenseamento para contar as diferentes confissões religiosas existentes no país. Enquanto cerca de 20 % da população indica não ter qualquer filiação religiosa, há uma religião que é maioritária: o budismo. No entanto, o número de singapurenses classificados como budistas pelo recenseamento é de apenas 30 %, o que é muito próximo do número dos que não praticam qualquer religião.

Logotipo preparado para anunciar a visita de Francisco a Singapura (foto CNS / Sala de Imprensa da Santa Sé)

Os cristãos representam um pouco menos de 20 % da população, sendo os católicos uma minoria dentro deste grupo. Isto porque foram os anglicanos que primeiro chegaram para evangelizar a população, conseguindo uma presença maioritária. Apesar disso, a Igreja Católica tem uma multiplicidade de iniciativas no país, especialmente no domínio da educação, de que são exemplo as escolas e universidades geridas pela Igreja.

Singapura é um país que se orgulha da sua tolerância religiosa, e a grande diversidade de credos que coexistem no território é prova disso. A par da mistura de religiões, existe também uma amálgama de culturas. As culturas ocidental, chinesa, islâmica e muitas outras juntam-se num território não muito grande, mas rico em diversidade.

Um Papa em dois continentes

Embora a agenda da viagem apostólica do Papa à Ásia e à Oceânia seja ainda desconhecida, pode dizer-se que o Pontífice se encontrará com grupos muito diferentes em visitas que visam, por um lado, aproximar-se dos católicos que vivem tão longe do Vaticano e, por outro, de pessoas influentes em cada um destes territórios que desempenham um papel importante nas políticas sociais e ambientais.

A importância desta viagem é evidente, mas Francisco não é o primeiro pontífice a deslocar-se aos continentes asiático e oceânico. São João Paulo II visitou a Indonésia em 1989 e descreveu-se a si próprio como "um amigo de todos os povos da Indonésia", mostrando "grande respeito por todos os povos desta nação dinâmica". Foi também o Papa polaco que, em 1986, colocou a Igreja de Singapura nas mãos da Virgem Maria durante a homilia de 20 de novembro desse ano.

As visitas dos Pontífices são sempre acontecimentos importantes para os católicos e para os diferentes países. Não só devido ao seu papel de Chefe de Estado, o Papa é, em todos os momentos da história, um líder religioso com uma voz autorizada em todas as questões sociais, pelo que os habitantes dos países que acolhem o Bispo de Roma ouvem sempre com atenção as palavras do Sucessor de Pedro.

Missão e salvação

Os países da Ásia e da Oceânia, que o Papa Francisco visitará em setembro, têm estado no centro das atenções da Santa Sé desde há anos. Como explicou São João Paulo II na sua exortação apostólica pós-sinodal "Ecclesia in Asia", "foi na Ásia que Deus, desde o início, revelou e realizou o seu plano de salvação".

Num documento semelhante, "Ecclesia in Oceania", afirmava que "o Senhor chamou a Igreja à sua presença na Oceânia: é um chamamento que, como sempre, implica também um envio em missão".

É claro, portanto, que a Santa Sé vê os dois continentes como lugares onde o cristianismo tem um longo passado e, ao mesmo tempo, um projeto de futuro em que os católicos são chamados a ser missionários, "portadores de esperança", como gosta de dizer o Papa Francisco, para todos os habitantes das suas aldeias e dos vários países.

Evangelização

Chandavila, uma mensagem de perdão e de amor pela Cruz

O não tem nada a ver O apoio da Santa Sé à difusão da devoção à Virgem das Dores no santuário de Chandavila, na Extremadura, sublinha a "ação do Espírito Santo em tantos peregrinos que chegam, tanto de Espanha como de Portugal, nas conversões, curas e outros sinais preciosos neste lugar".

Maria José Atienza-31 de agosto de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

Em 22 de agosto de 2024, a Santa Sé, através da carta de "Uma luz em Espanha assinado pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Mons. Víctor Manuel Fernández, deu luz verde para "apreciar o valor pastoral e também para promover a difusão desta proposta espiritual, inclusive através de possíveis peregrinações a um lugar sagrado" da Santuário de Chandavilalocalizado em La Codosera, uma cidade fronteiriça entre a província espanhola de Badajoz e Portugal.

Este é um dos primeiros reconhecimentos concedidos pelo Vaticano a um santuário, na sequência do documento que estabelece as Normas para o discernimento de alegados fenómenos sobrenaturais.

De facto, com este não tem nada a verEmbora não se tenha certeza da autenticidade sobrenatural do fenómeno, reconhecem-se muitos sinais de uma ação do Espírito Santo".

O bispo diocesano de Mérida Badajoz "procederá à declaração do nihil obstat proposto, para que o Santuário de ChandavilaHerdeira de uma rica história de simplicidade, de poucas palavras e de muita devoção, continua a oferecer aos fiéis que dela se aproximam, um lugar de paz interior, de consolação e de conversão", como assinala a carta do Cardeal Fernández.

A devoção à Virgen de los Dolores de Chandavila na Extremadura e em grande parte das localidades fronteiriças portuguesas é muito profunda e generalizada.

Omnes teve a oportunidade de falar com o sacerdote Mateo Blanco, que foi vigário geral da arquidiocese da Extremadura e colaborador na redação de "Chandavila aquello... sucedió", o livro do sacerdote Francisco Barroso, testemunha direta de algumas aparições da Virgem e falecido há pouco tempo.

Aparições de Chandavila

Em 1945, duas raparigas, Marcelina Barroso Expósito, de dez anos, e Afra Brígido Blanco, de dezassete, afirmaram ser testemunhas de aparições na zona de Chandavilapertencente à aldeia de La Codosera.

A primeira, Marcelina, viu a Virgem, na sua invocação Dolorosa, sobre os ramos de um castanheiro, enquanto Afra viu a Cruz do Senhor. Ambos os acontecimentos tiveram lugar no local onde hoje existe uma pequena capela, de maio de 1945.

O história das aparições é narrado em vários lugares, embora ambos os videntes tenham sido sempre muito discretos quando se referiram a estes factos e tenham mantido sempre as mesmas afirmações e narrações.

"O perdão é a primeira mensagem de Chandavila".

"É preciso conhecer o contexto das aparições da Virgem em Chandavila", diz Mateo Blanco. "Estávamos em 1945. Em Espanha, as aldeias e as famílias, sobretudo nas pequenas aldeias, como neste caso, estavam divididas. Tinham sofrido o doloroso desastre da Guerra Civil e as famílias estavam divididas, as aldeias estavam divididas: umas de um lado e outras do outro. Por isso, reinava um clima de absoluta desconfiança. Era preciso um bálsamo e Nossa Senhora veio trazer esse bálsamo. Penso que este é o primeiro ponto da mensagem de Chandavila: o perdão.

Marcelina, a própria criança vidente, viveu esta divisão na sua família: "O pai de Marcelina foi morto no fim da guerra, porque o seu pai (o avô da rapariga) tinha sido presidente da câmara da aldeia no tempo da República. Era um homem muito bom que, quando começaram os combates, avisou o padre da aldeia que, graças a ele, conseguiu salvar-lhe a vida. No entanto, no final da guerra, mataram o filho desse presidente da câmara, ou seja, o pai de Marcelina, quando ela tinha 3 ou 4 anos e a mãe estava grávida do irmão dele".

Estes acontecimentos terríveis fizeram com que, em casa, Marcelina vivesse em oposição frontal à Igreja, que se identificava com "o lado vencedor". No entanto, gostava de ir à paróquia rezar. Fazia-o quase em segredo, porque, como explica Mateo Blanco, "a mãe ralhava com ela. Era uma mulher com o coração destroçado, que tinha de trabalhar nas casas para ganhar algum dinheiro para sustentar os filhos. E também, como é típico das cidades fronteiriças, fazia um pouco de contrabando".

Para este sacerdote, é fundamental que "o que Nossa Mãe dá a Marcelina em seus encontros é o afeto. Ela tem pormenores de afeto com a menina, que os conta à sua maneira, com a simplicidade dos seus 10 anos de idade. Marcelina conta-nos que se aproximou da Virgem e a abraçou, que sentiu o calor da Virgem, e como roçou o seu véu".

No dia 4 de junho de 1945, Nossa Senhora disse a Marcelina, de manhã, para regressar às três da tarde. Juntamente com a rapariga, calcula-se que havia 6.000 ou 7.000 pessoas. Eram muitas mais do que as que estavam na aldeia. Porque a notícia espalhou-se e vieram não só da aldeia, mas também das aldeias vizinhas e também das aldeias portuguesas, que também estão intimamente ligadas a Chandavila. Nesse dia, teve lugar a cena mais evocativa e mais bela das aparições de Chandavila: "Quando a Virgem chamou Marcelina e ela caminhava de joelhos por um caminho desastroso, cheio de "ouriços", cascas de castanhas, e o terreno estava também cheio de pedras sulcadas que a cortavam. O mais lógico é que tivesse saído de lá com as pernas partidas. A menina foi ter com a Virgem e esta perguntou-lhe: "Queres vir comigo? E Marcelina responde: "Sim, Senhora". A Virgem disse-lhe que podia voltar e, quando chegou ao pé da mãe, esta viu que a filha não tinha um único arranhão e começou a gritar: "Perdoo! Toda a gente que estava ali ouviu. O Francisco Barroso sempre deu muita ênfase a este "eu perdoo".

O antigo vigário geral da arquidiocese da Extremadura sublinha que este "eu perdoo" resume a primeira mensagem da Virgem. Depois desta conversa com a Virgem e do acontecimento dos joelhos intactos, Marcelina teve várias outras visões. "A Virgem pediu a Marcelina que celebrasse uma missa mensal de reparação ali, junto ao castanheiro onde apareceu, e que construísse uma ermida para as pessoas irem rezar. E assim tem sido", diz Mateo Blanco.

As aparições e os estigmas de Afra Brigido

As pessoas começaram imediatamente a rezar ali, junto do castanheiro onde a Virgem Maria tinha aparecido. Foi construída uma pequena capela que ainda existe e na qual se conserva um pedaço do castanheiro. Marcelina foi viver para uma casa de campo e depois foi para uma escola em Villafranca de los Barros e, passados alguns anos, entrou na Congregação das Irmãs da Cruz. Quase nunca falou destas aparições, mas sempre manteve, com firmeza, a veracidade delas e dos seus colóquios com a Virgem.

Mateo Blanco recorda uma visita que teve oportunidade de fazer à vidente, ainda viva, no convento onde ela vive. A visita foi acompanhada por Mons. Celso Morga, então Arcebispo de Mérida Badajoz, Mons. Celso Morga, o próprio Blanco e mais algumas pessoas. Foi "um dos maiores presentes que recebi nos últimos anos", sublinha Blanco, "estávamos a falar com ela. A sua humildade era surpreendente: a certa altura da conversa, o bispo perguntou-lhe sobre as aparições e ela respondeu apenas "nunca menti". Para ela, "a graça mais importante é ter recebido do Senhor a vocação para a devoção nas Irmãs da Cruz e que o Senhor lhe tenha dado a graça de ser fiel".

Afra Brígido, a outra vidente, tinha 17 anos quando a Virgem lhe apareceu. Ela estava bastante cética em relação a tudo o que estava a acontecer na aldeia depois da aparição a Marcelina. Um irmão dela estava na aparição de Marcelina e disse-lhe que havia algo a acontecer e encorajou-a a ir, mas Afra riu-se dele dizendo que o que estava a acontecer ali era que eles estavam a ter visões por causa da fome que estavam a passar.

Santuário de Nossa Senhora das Dores em Chandavila

Acabou por ir com alguns amigos e, num determinado momento, teve um êxtase e viu o Senhor na Cruz. "Afra via sempre a cruz, que é a outra mensagem de Chandavila. O perdão e a cruz do Senhor. A partir desse momento, Afra mudou radicalmente a sua vida. Começou a ir à missa todos os dias, a frequentar os sacramentos com assiduidade... e assim foi durante toda a sua vida. Pouco tempo depois, foi com alguns amigos numa peregrinação a Villa del Rey, uma pequena aldeia perto de La Codosera. Lá foram ver o padre, que já tinha estado em La Codosera, e visitar a Virgen de las Riberas, uma ermida perto do rio Zapatón. Enquanto rezavam a Via Sacra, numa das estações, Afra caiu e ficou em êxtase durante alguns minutos. Nessa mesma noite, começou a sentir dores nas mãos, nos pés e no lado.

A partir dessa altura, teve os estigmas até ao fim da sua vida. Em Chandavila, ainda se conserva uma parte da gaze que ela usou para cobrir os estigmas nas mãos, porque estavam a sangrar. Afra dedicou toda a sua vida a cuidar dos outros: primeiro da sua mãe e depois, após a morte da mãe, em Madrid, cuidou de muitas pessoas. Ao contrário de Marcelina, que nunca mais voltou a Chandavila depois da sua profissão de freira, Afra pôde regressar ao lugar onde a Virgem Maria lhe apareceu em algumas ocasiões antes da sua morte.

Um lugar de simples devoção

Mateo Blanco sublinha que as caraterísticas de Chandavila têm sido a piedade, a devoção e, sobretudo, a simplicidade: "Sou testemunha destas coisas. Creio que isso também chamou a atenção em Roma: o facto de Chandavila se ter mantido tão simples como há 50 ou 60 anos. É um lugar para rezar, um lugar onde nos sentimos à vontade, independentemente do calor ou do frio. Há quem diga que têm um microclima, porque em Chandavila é sempre agradável.

Todas as Sextas-Feiras das Dores são uma data importante neste santuário estremenho. Nesse dia, reza-se a Via-Sacra à volta do santuário e muitas pessoas vêm receber o sacramento da Reconciliação. Em 2020, o então Arcebispo de Mérida Badajoz, Mons. Celso Morga pediu à Santa Sé que concedesse um Ano Jubilar a Chandavila, por ocasião do 75º aniversário das aparições, e depois escreveu uma carta pastoral sobre a devoção à Virgem. Um ano santo, que foi concedido e que "ajudou muitas pessoas a aproximarem-se do Senhor", como assinala Mateo Blanco.

Jenaro Lázaro, o escultor apaixonado pela Virgem Maria

A escultura da Virgen de los Dolores que se pode ver em Chandavila é obra do escultor Jenaro Lázaro. A vida deste escultor, nascido em Saragoça e que na sua juventude conheceu o fundador da Opus Dei está intimamente ligado a Chandavila. Jenaro ouviu a história de Chandavila de alguns conhecidos e, em 1945, pouco depois das aparições, foi visitar a ermida. Ficou tão impressionado com Chandavila que se mudou para lá. 

Realizou a imagem da Virgem das Dores que preside ao santuário de Chandavila, promoveu a construção do santuário e criou uma Escola-Oficina para os jovens da aldeia. Comprou um velho castelo onde instalou o seu atelier. A partir daí, vai diariamente ao santuário rezar o terço. Ele "amava muito a Virgem e a Virgem levou-o no dia 15 de setembro, dia da Virgem das Dores".

O futuro de Chandavila

Com o não tem nada a ver O Arcebispo de Mérida Badajoz tem não só a permissão mas também a bênção de promover a devoção a Nossa Senhora das Dores de Chandavila e de difundir a sua mensagem.

Uma decisão que colocou no mapa a localidade extremenha de La Codosera e a história da Virgen de los Dolores. Mateo Blanco espera que Chandavila continue a ser o que é: "um lugar de oração onde as pessoas se encontram com Deus e com a sua Mãe Santíssima".

Iniciativas

Lia Beltrami: "A paz é um jardim que deve ser cultivado todos os dias".

Omnes entrevista Lia Beltrami, fundadora do movimento "Mulheres de Fé pela Paz", um evento que procura reunir mulheres de diferentes religiões em diálogo para ajudar a promover a paz no mundo.

Hernan Sergio Mora-31 de agosto de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

Lia Beltrami é a vencedora do prémio Leão de Ouro de Veneza para a Paz 2017, realizadora, escritora, ativista dos direitos humanos e fundadora de "Women of Faith for Peace", um evento de três dias em Trento para desafiar as situações de guerra em que vivem. Europa e o mundo.

Beltrami organiza esta conferência juntamente com a Associação Shemà, Emotions for Change, Lead Integrity, Centro Internacional para a Paz entre os Povos de Assis, com o apoio da Fondazione Caritro.

Nesta entrevista à Omnes, o fundador afirma: "A via do diálogo pode ser muito mais eficaz entre as pessoas de fé. No entanto, quando a religião é instrumentalizada para fins políticos, torna-se uma arma terrível.

Como é que surgiu a iniciativa "Mulheres de Fé pela Paz"?

- Em 1997, fundámos com o meu marido o festival de cinema "Religião Hoje", que foi uma espécie de primeiro festival que falava do diálogo inter-religioso. Começou em Trento, depois em Bolonha, depois em Roma, e tínhamos salas um pouco por todo o lado, era um festival de peregrinação. Em particular, tivemos uma paragem fixa em Jerusalém, onde projectámos filmes sobre o diálogo e tivemos encontros aprofundados.

Passados cerca de dez anos, apercebi-me de que, através do cinema, não estávamos a conseguir promover suficientemente estes valores da paz. Embora tivéssemos construído pontes, contactos, relações muito boas, precisávamos de algo mais incisivo e, por isso, juntamente com uma distribuidora de filmes de Jerusalém, "Hedva Goldschmidt", tive a ideia de começar este grupo de mulheress líderes de cinco comunidades religiosas diferentes da Terra Santa.

Quando é que nasceu o primeiro grupo?

- O primeiro grupo de oito mulheres - ortodoxas, ultra-ortodoxas, católicas, cristãs, drusas e judias beduínas - chegou a Trento em 2010 para o primeiro workshop sobre coabitação. Durante esses dias intensos, estas mulheres líderes deixaram de ser inimigas para se tornarem irmãs.

Porque é que diz "inimigos"?

- Inimigos porque, por exemplo, a mulher palestiniana Faten Zenati, que se colocou pela primeira vez ao lado de um judeu ortodoxo, disse publicamente: "No primeiro dia, ela era minha inimiga, porque era uma judia ortodoxa e uma colona. Depois, dia após dia, tornou-se uma amiga e depois uma irmã. Na última noite, pediu-me para partilhar o mesmo quarto, para que também ela pudesse desfrutar dos preciosos minutos antes de se deitar".

E como é que isto se traduz na prática?

- Fala-se de projectos muito concretos. Por exemplo, na cidade de Lod, uma cidade de grande tensão, Faten Zenati fundou com outros judeus o primeiro centro social misto, para todos. Faten morreu há dois anos, ainda muito jovem, e no dia da sua morte, o presidente de Israel, Herzog, foi à casa, que estava cheia de palestinianos. Um passo importante na altura. Hoje, tudo mudou.

Quantos fazem parte deste movimento atualmente?

- Depois o movimento espalha-se um pouco por todo o mundo, um movimento livre de inspiração, não há um número de pessoas que façam parte dele, mas tentamos estar presentes em zonas de conflito, tentando inspirar mulheres de facções opostas a percorrerem um caminho juntas. Iniciámos caminhos no Kosovo, na África subsariana, na Colômbia, em Myanmar.

Mas, no caso da Colômbia, estava relacionado com o conflito de guerrilha?

- Na Colômbia, apoiámos Natalia Herrera na organização de um festival de cinema de mulheres das montanhas. Havia mulheres de diferentes regiões, mas também de conflitos internos, não só políticos mas também entre diferentes facções, para unir as pessoas que querem viver em paz.

Vejo no nome da vossa associação que não são apenas mulheres, mas mulheres de fé....

- Mulheres de fé porque ser mulher significa participar na criação; são mulheres que geram a vida de todos os pontos de vista, que ensinam aos seus filhos palavras de vida. E de fé porque a vivemos através da nossa pertença a diferentes comunidades religiosas. E isto é importante porque o caminho do diálogo encontra um terreno fértil nas pessoas de fé. Sentimo-nos unidos precisamente por causa da nossa fé em Deus, porque o diálogo e a paz são promovidos em todas as religiões. O caminho do diálogo pode ser muito eficaz entre as pessoas de fé.

Por outro lado, o marxismo e outros dizem que as religiões são os motores da guerra...

- Quando a religião é instrumentalizada para fins políticos, torna-se uma arma terrível. Pelo contrário, se a fé for vivida profundamente dentro da própria religião, na sua verdade, ela só pode conduzir à fraternidade.

Agora faço-vos uma pergunta atrevida: hoje temos a guerra na Ucrânia e na Rússia, e depois não há palavras para falar da situação entre a Palestina e Israel. É desanimador, poder-se-ia dizer, ver que o que se semeia não dá frutos. ....

- Depois da covid, encontrámo-nos todos há dois anos, no funeral de Faten Zenati, num verão cheio de tentativas de diálogo no Médio Oriente. De repente, sentimo-nos destruídos por estas duas guerras, juntamente com todas as outras. Pensámos em parar perante o horror, mas depois decidimos recomeçar com um novo encontro. Apercebemo-nos de que, no momento de maior desânimo, tínhamos de ter a coragem revolucionária de falar de paz, não apenas de falar dela, mas de viver a paz. O Papa Francisco tem sido uma das poucas vozes a condenar a guerra em todas as suas formas.

Assim, pensamos que este é precisamente o momento de relançar o caminho da paz, de revigorar o coração das mulheres na linha da frente, mesmo sabendo que é muito difícil.

Ela esclarece que se trata de um momento muito difícil.

- Dou um exemplo concreto: uma das mulheres sufis palestinianas de Gaza perdeu 21 familiares próximos quando o hospital foi bombardeado. Por outro lado, a nossa distribuidora de filmes judeus ortodoxos perdeu um dos seus diretores e dois netos no primeiro dia. Por onde começar com estas mulheres que sempre foram muito corajosas? Como tecer redes de paz?

Nestes meses de trabalho árduo, a palavra que mais ressoou foi medo. Elas vivem no terror, no medo. Por isso, a única coisa que podemos fazer é fazer com que estas mulheres sintam que não estão sozinhas, que estamos unidas e que estamos juntas.

Como é que saímos desta situação?

- Por um lado, a diplomacia deve recomeçar com verdadeiras intenções, como pede o Papa Francisco, na via do diálogo sério e do desarmamento. Mas esta parte não é suficiente. Se olharmos um pouco para o mundo da comunicação ou do ouvir falar, .... Até há quatro ou cinco anos, era difícil falar de conflitos e a palavra paz era mais forte, falava-se de diálogo... Hoje, ouvindo os meios de comunicação social, ou ouvindo os discursos, é quase um dado adquirido que tem de ser a guerra, ou seja, voltámos à primeira metade do século passado, quando a guerra ainda era proposta como única solução.

No caso da Palestina e de outros países, é muito claro. Mas no caso da Ucrânia, haverá alguma nuance?

- Não há lugar para nuances quando se trata de paz. Temos de exigir a paz, um pacto que seja respeitado pelas partes. E não devemos fechar a porta àqueles que vêm do outro lado. Penso que é necessário estar ao lado de todas as "pessoas de paz", onde quer que se encontrem, para fazerem tudo o que puderem, a partir de dentro e de fora. Cada um de nós pode fazer alguma coisa, por mais pequena que seja.

Por onde começar?

- Temos de ter a coragem de o desmantelar, caso contrário a diplomacia não poderá voltar a funcionar. E, por outro lado, estou firmemente convencido de que temos de derrubar estes muros na sociedade civil. Quero dizer, a sociedade civil tem de estar unida. Não se pode dizer: "não participem num concurso porque são de um povo que atacou outro país". Não, as pessoas da sociedade civil têm de ser fortes, para que a voz do diálogo seja ouvida, para que a voz da paz seja ouvida. Por isso, quanto mais conseguirmos trabalhar em conjunto com pessoas de todas as facções, mais hipóteses teremos de criar movimentos que se oponham à guerra.

E temos também de trabalhar dentro de nós, com grande empenho, para vencer a violência que se esconde nos preconceitos, nos pensamentos, nas mentalidades fechadas. A paz começa nos nossos corações, mas depois deve ser promovida em todo o lado e sempre.

A paz é um jardim que deve ser cultivado e cuidado todos os dias.

Sei que também trabalha com jovens.

- Este ano, 25 jovens com idades compreendidas entre os 16 e os 26 anos participam no evento e na formação sobre o tema do diálogo e da paz, e estes jovens trabalharão em conjunto com "Mulheres de Fé pela Paz" para estimular e dar origem a novas vagas de vozes jovens. É natural que assim seja, porque há muitos jovens motivados que vão para além das vagas populistas e que procuram de facto caminhos diferentes. Temos de caminhar com estes jovens, dar-lhes espaço e ouvir as suas opiniões e ideias. É por isso que as jornadas PINE serão muito importantes.

No planalto de Piné, no Trentino, esta nova experiência nasceu na Casa Iride, promovida pela Associação Shemà. A inauguração, em julho, contou com a presença de Andrea Tornielli, que deu uma conferência, seguida de encontros com o coreógrafo da favela de Marcos Moura, Rodrigo Baima, de uma conferência de Monsenhor Luigi Bressan e de um concerto do guitarrista Carlos Biondini. Durante todo o verão, houve campos de férias para os mais novos e para os mais velhos, onde se discutiram emoções e diálogo: 2.000 pessoas participaram. O grupo de jovens são todos voluntários e formadores desta experiência, que depois transmitirão a outras pessoas noutros locais.

Membros de "Mulheres de Fé pela Paz" com o Papa Francisco

Mais informações sobre o evento em Trento

Participarão 40 pessoas de diferentes gerações, com especial incidência nos e com os jovens. Entre os convidados internacionais contar-se-ão: Azza Karam, fundadora de Lead Integrity, membro do conselho do Temple of Understanding e do Parlamento das Religiões do Mundo, do Royal Institute for Interfaith Studies em Amã (Jordânia), do Comité Consultivo do Secretário-Geral das Nações Unidas para o Multilateralismo. Caterina Costa Presidente do Centro Internacional para a Paz entre os Povos de Assis. Cristiane Murray Jornalista brasileira, Diretora Adjunta da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Para além disso, o evento contará com a presença de: Daria Schlifstein, artista e cineasta judia. Deana Walker Herrera, gestora cubano-americana de projectos de impacto social. Kamal Layachi, Imã das Comunidades Islâmicas do Veneto. Lara Mattivi, psicóloga, co-fundadora da Associação Shema'. Lia Beltrami, realizadora, conferencista, fundadora de Women of Faith for Peace e do Religion Today Film Festival. Monsenhor Luigi Bressan, no serviço diplomático da Santa Sé em várias nações e instituições internacionais (ONU e Europa) até 1999. Depois, durante 17 anos, foi Arcebispo de Trento e, desde 2016, é responsável pela CEI para as peregrinações e o voluntariado internacional. Autor de livros sobre diálogo inter-religioso, história e relações internacionais.

Maria Lia Zervino, mulher consagrada argentina, consultora do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso Marianna Beltrami, escritora, cineasta e musicista de Emotions to Generate Change, licenciada em Warwick e Oxford em Relações Internacionais e Filosofia Ambiental Marina Khabarova, produtora internacional de cinema, dedicada ao diálogo e à promoção dos valores da paz Natalia Soboleva, executiva de empresas na Suíça, empenhada na sustentabilidade, Presidente da Monaco Charity. Nancy Falcon está empenhada no diálogo inter-religioso, na construção da paz e na educação dos jovens. É licenciada em ciências políticas com uma especialização em filosofia e estudos islâmicos. Nuha Farran, advogada internacional e defensora dos direitos humanos de Jerusalém, co-fundadora de "Women of Faith for Peace".

O evento é organizado por Women of Faith for Peace, Associazione Shema, Emotions to Generate Change, Lead Integrity e Assisi International Centre for Peace among Peoples, com o apoio da Fondazione Caritro.

O autorHernan Sergio Mora

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Vaticano

O Papa quer que os católicos escutem "o grito da terra".

Na sua intenção de oração para o mês de setembro, o Papa Francisco pede aos católicos que escutem "o grito da terra" e acompanhem aqueles que sofrem as consequências das catástrofes ambientais.

Paloma López Campos-30 de agosto de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

Coincidindo com o "Hora da Criação"O Papa Francisco pede que, durante o mês de setembro, os católicos se esforcem por escutar "com o coração o grito da Terra".

O Santo Padre deseja também acompanhar com a oração "as vítimas das catástrofes ambientais e da crise climática". Pede também aos crentes que se comprometam pessoalmente a "cuidar do mundo em que vivemos".

Um mundo, diz o Papa na mensagem, que "tem febre. E está doente, como qualquer pessoa doente". Mas a importância da consciencialização não se limita ao ambiente. Francisco explica que os que mais sofrem com as catástrofes ambientais "são os pobres, aqueles que são obrigados a abandonar as suas casas por causa das inundações, das ondas de calor ou das secas".

Na mesma linha, o Pontífice sublinha que "enfrentar as crises ambientais provocadas pelo homem, como as alterações climáticas, a poluição ou a perda de biodiversidade, exige não só respostas ecológicas, mas também sociais, económicas e políticas".

Por isso, o Santo Padre encoraja o empenho "na luta contra a pobreza e na proteção da natureza, mudando os nossos hábitos pessoais e os da nossa comunidade".

O Papa convida à esperança

A intenção do Papa para setembro está intimamente ligada ao "Tempo da Criação", que começa no primeiro dia do mês e termina a 4 de outubro. Para este período, o Bispo de Roma escolheu como tema "Esperança e ação com a criação".

Com este lema, o Pontífice quer sensibilizar as pessoas para o facto de ser possível preparar um futuro melhor para as próximas gerações. Por outro lado, é um bom precedente para o Ano Jubilar da Esperança, que terá início a 24 de dezembro de 2024.