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A Basílica de São Pedro tem um "gémeo digital".
Representantes da Fabbrica di San Pietro, da Microsoft e de outras organizações mostram ao Papa Francisco o "gémeo digital" da Basílica de São Pedro, feito com Inteligência Artificial.
Representantes da Fabbrica di San Pietro, da Microsoft e de outras organizações mostram ao Papa Francisco o "gémeo digital" da Basílica de São Pedro, feito com Inteligência Artificial.
O texto reflecte sobre a virtude da diligência, salientando o seu valor no trabalho bem feito e o seu impacto na sociedade. Contrasta exemplos de trabalho empenhado com casos de negligência. O trabalho árduo implica um esforço constante e uma atenção aos pormenores, o que enriquece a nossa vida e contribui para o bem comum. Finalmente, o trabalho bem feito, oferecido com boas intenções, contribui para a obra criadora de Deus e reforça a nossa autoestima.
Com a mente em Valência e o coração nos valencianos, especialmente nas vítimas, e rezando pelo descanso eterno dos falecidos e pelas suas famílias, tiramos força da fraqueza para avançar com o nosso plano. Hoje vamos tratar da virtude da diligência, que vemos tão bem reflectida em tantos voluntários, juntamente com muitas outras virtudes. Este artigo já foi escrito antes da terrível tragédia na nossa querida terra de Valência.
Na igreja de Ntra. Sra. de la Esperanza, em Alcobendas, no final da missa de quarta-feira, uma equipa de mulheres, equipadas com os diferentes utensílios de limpeza, espalham-se pela igreja e, com grande habilidade e esforço, deixam tudo em perfeito "estado de conservação".
Em Tenerife, em março de 1999, quando a equipa do CD Tenerife estava na primeira divisão, foi lançada a "primeira pedra" do campo de futebol da sua Ciudad Deportiva (na zona de Geneto-Los Baldíos), com a presença das autoridades, a animação da charanga e uma grande campanha publicitária. Infelizmente, três meses depois, a equipa foi despromovida para a segunda divisão e, mais de um ano depois, os trabalhos não avançaram.
Em setembro de 2000, a atividade foi retomada para preparar os primeiros trabalhos de terraplenagem e descobriu-se que a "primeira pedra" tinha desaparecido: uma arca de madeira enterrada num lugar proeminente, junto à placa comemorativa de que a "primeira pedra" tinha sido colocada ali um ano e meio antes. Aparentemente, algumas pessoas sem escrúpulos desenterraram a arca e levaram os "tesouros" que continha: algumas moedas com curso legal, as medalhas do 75º aniversário do clube, um galhardete, uma camisola oficial do Tenerife... Só deixaram os exemplares dos três jornais que foram publicados em Tenerife no dia do famoso acontecimento - "El Día", "Diario de Avisos" e "La Gaceta de Canarias" -. Narração de D. Luis Padilla em 11 - IX - 2018 em Atlántico Hoy.
No caso da equipa de mulheres que limpam voluntariamente a igreja de Ntra. Sra. de la Esperanza, não há trompetes nem tambores para fazer barulho ou animar o seu trabalho, mas com a sua perseverança e o seu trabalho silencioso e eficiente, uma quarta-feira, outra quarta-feira, e todas as quartas-feiras, mantêm sempre a igreja limpa, arrumada e acolhedora para todos os paroquianos. É um belo exemplo de trabalho árduo.
No caso da "pedra basilar", houve muito espetáculo e muito barulho, mas depois ninguém mexeu um dedo para realizar o trabalho como planeado. Este não é um exemplo de diligência, mas sim o oposto: um contra-exemplo de negligência e desleixo.
A palavra "laboriosidade" deriva do verbo latino "labor", que significa esforço para fazer alguma coisa; identifica-se, portanto, com a diligência e opõe-se à ociosidade ou à preguiça. Por esta virtude, estamos inclinados a trabalhar, a cumprir os nossos deveres e a prestar os serviços - pequenos ou grandes - em que o amor se manifesta.
Numa época em que o imediatismo e a procura de gratificações instantâneas parecem dominar grande parte das nossas rotinas, desenvolver a virtude da diligência ajuda-nos a organizarmo-nos bem para realizar as tarefas que nos são atribuídas, ou que nos impomos, dedicando-lhes o tempo e o esforço necessários para as realizar com eficácia. Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a pessoa que não é diligente não é aquela que se dedica ansiosamente à busca de resultados no trabalho, transformando-o numa atividade que já não é um serviço, mas uma forma de escravidão.
É de referir aqui uma nova atitude em relação ao trabalho que é conhecida pelo termo anglo-saxónico "...".viciado em trabalho"Caracteriza-se por uma necessidade excessiva e incontrolável de trabalhar constantemente e pode interferir negativamente com a nossa saúde física e emocional, bem como com as nossas relações sociais. É evidente que esta atitude perante o trabalho não é compatível com um trabalho bem feito. O trabalho árduo também nos ensina a gerir bem o nosso tempo e as nossas prioridades, permitindo-nos alcançar um equilíbrio entre o trabalho e o descanso, evitando cair nos extremos do perfeccionismo ou da preguiça.
Todos nós conhecemos muitas pessoas do nosso meio que são um bom exemplo de trabalho árduo. Vamos mencionar aqui algumas pessoas famosas que se destacam por terem sido capazes de se organizar para conciliar a sua atividade profissional com os seus estudos universitários. Estas são boas referências para compreender, a partir de pessoas concretas, o que é o trabalho árduo.
José Antonio Sainz Alfaro é o maestro do Orfeón Donostiarra, no qual ingressou como barítono em 1974. Conheci-o um pouco mais tarde, quando coincidimos na mesma turma de Ciências Físicas da Universidade de Navarra, no campus de San Sebastián (Guipúzcoa). Conciliava os seus estudos universitários - ambos obtivemos os nossos diplomas - com a sua vocação e hobby musical, ao qual também dedicava muito tempo a estudar, ensaiar, etc., no Conservatório de San Sebastián. Posteriormente, completou a sua formação com diferentes cursos de direção coral no estrangeiro. O resultado de tudo isto é a imagem moderna do Orfeón Donostiarra, cada vez mais conhecida em Espanha e no estrangeiro.
Paula Belén Pareto, médica e judoca argentina, foi a primeira mulher argentina a tornar-se campeã olímpica e a primeira atleta argentina a ganhar duas medalhas olímpicas em modalidades individuais. Conciliou a sua atividade desportiva com os estudos de medicina.
José Martínez Sánchez, Pirrijogou no Real Madrid durante 16 épocas. Conquistou, entre outros títulos, a Taça dos Campeões Europeus de 1965-66 e dez títulos de La Liga. Doutorou-se em Medicina e, após a sua reforma no México, regressou ao Real Madrid para fazer parte do corpo médico do clube entre 1980 e 1990. Atualmente é presidente honorário do Real Madrid.
Existe uma relação íntima entre a laboriosidade e o trabalho bem feito. Deus criou o homem "ut operaretur", para trabalhar:
"Então Javé Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para o cultivar e guardar." [Génesis 2:15]
O trabalho é, portanto, uma atividade digna e nobre, através da qual o próprio Deus, tendo em conta as qualidades e os dons que cada um de nós recebeu, nos oferece a apaixonante tarefa de colaborar com Ele e completo Criação.
E temos, acima de tudo, o exemplo de Jesus, que passou a maior parte da sua vida a trabalhar, primeiro aprendendo o ofício de artesão na oficina de José e, depois, quando José provavelmente já tinha morrido, dirigindo ele próprio a oficina, como nos diz São Marcos:
"Não é este o artífice, o filho de Maria...?" [Mc 6,3].
Jesus, sendo Deus, fez-se homem para nos libertar da escravidão do pecado, e esta Redenção Ele operou ao longo da sua vida, também através do seu trabalho. Durante os seus anos de trabalho em Nazaré, Nosso Senhor Jesus Cristo pôs em evidência duas realidades fundamentais: que o homem, através do seu trabalho, participa na obra criadora de Deus, e que Deus conta com o nosso trabalho bem feito para completar a redenção do género humano.
O trabalho bem feito - o trabalho que melhora o mundo e aperfeiçoa as pessoas - exige mais do que boa vontade de todos: exige, por um lado, competência profissional - possuir os conhecimentos e as aptidões - e dedicação do tempo e do esforço necessários para o fazer eficazmente; e, por outro lado, exige uma intenção amorosa: fazê-lo por amor a Deus e pelo desejo de servir os outros.
Não se trata apenas de trabalhar muito, ou mesmo demasiado, mas sobretudo de trabalhar com atenção aos pormenores, com a vontade de dar o melhor de si em cada tarefa, grande ou pequena. O poeta castelhano Antonio Machado disse-o de forma sucinta e bela: "Despacito y buena letra: el hacer las cosas bien importa más que el hacerlas".
Um trabalho bem feito, com a maior perfeição possível, manifesta-se em muitos pormenores concretos, tais como:
- Concluir as tarefas dentro dos prazos estabelecidos, mantendo até ao fim o mesmo interesse e espírito com que foram iniciadas. Só as coisas bem acabadas servem o seu objetivo: são as que valem a pena e nos levam a continuar a trabalhar com entusiasmo.
- Ter um horário ou plano de trabalho exigente e realista para cada dia e segui-lo, sabendo que o sucesso final depende em grande medida do esforço diário.
- Tentar sempre evitar o desleixo, no sentido de "trabalho mau ou sujo".
- Estar atento e ajudar os outros, para que também eles façam bem o seu trabalho.
"Quando tiveres terminado o teu trabalho, faz o trabalho do teu irmão, ajudando-o, por amor de Cristo, com tal doçura e naturalidade que mesmo o favorecido não se aperceba de que estás a fazer mais do que deverias, por justiça, fazer.
"Esta é a bela virtude de um filho de Deus!"
São Josemaría Escrivá (Caminho, 440)
- Esforçar-se por o fazer com uma intenção justa, ou seja, para agradar a Deus, prestar um serviço à sociedade e respeitar o ambiente.
Para os estudantes, o estudo é o seu trabalho profissional, e fazê-lo bem exige também certas qualidades, como a ordem, a intensidade e a profundidade, que se aprendem e desenvolvem com dedicação de tempo, perseverança e esforço. Aqui ficam algumas sugestões de atitudes que promovem o bom desempenho no estudo:
- Estar interessado em adquirir técnicas de estudo eficazes, bem como as competências e os hábitos necessários: melhorar a velocidade e a compreensão da leitura, a capacidade de escrita, a utilização correta das técnicas de sublinhado, o resumo, etc.
- Realizá-la com interesse, sabendo que é a nossa profissão, vivendo em ordem, cumprindo o horário sem atrasos e evitando distracções que impeçam a concentração necessária.
- Ter um local adequado para estudar e dormir as horas necessárias.
O importante no estudo não são as notas, que são quase sempre o resultado do nosso esforço pessoal diário para fazer bem as nossas actividades escolares (assistir às aulas, fazer os trabalhos de casa, estudar as matérias, preparar-se para os exames...): isso é o mais importante. O trabalho árduo é uma ajuda importante para atingir estes objectivos.
Tive o privilégio de ter pais que encarnavam muitas virtudes, incluindo o trabalho árduo. Agricultores na fértil terra irrigada de Varea (Logroño), lembro-me que nunca se viu uma erva daninha na horta, que o meu pai se levantava cedo para regar antes que a água acabasse, ou para levar os legumes e a fruta ao mercado - morangos deliciosos e tomates saborosos, por exemplo; Lembro-me também que a minha mãe, para além de ajudar nas tarefas da horta e do mercado, mantinha a casa sempre limpa e acolhedora, fazia um delicioso maçapão para o Natal e dedicava tempo a fazer todo o tipo de peças de malha para os filhos, netos, etc. E lembro-me de muitos outros pormenores semelhantes, tanto do Júlio como da Marina, que foram para mim um exemplo de trabalho árduo. Que estas linhas sirvam para lhes prestar uma homenagem filial e agradecida, que eles retribuirão com um sorriso do Céu.
O laboriosidade Leva-nos a trabalhar com cuidado, dedicação e perseverança nas nossas actividades, sejam elas grandes ou pequenas. Através desta virtude, aprendemos a apreciar o esforço necessário para atingir objectivos a longo prazo, evitando o desânimo perante as dificuldades. E também teremos tempo para descansar e cuidar dos outros. Desta forma, estaremos alegres e com a consciência tranquila.
O trabalho árduo e o trabalho bem feito são duas faces da mesma moeda. Trabalhar bem é o resultado natural de um compromisso de dedicar o tempo, o esforço e a atenção necessários a cada tarefa. Cultivar esta relação melhora o nosso desempenho profissional, ao mesmo tempo que enriquece a nossa vida pessoal ao encontrarmos um significado mais profundo naquilo que fazemos, promovendo uma cultura de esforço que beneficia a sociedade como um todo.
Por outro lado, trabalhar com cuidado e dedicação gera uma profunda satisfação, fruto de um reconhecimento interior de que demos o nosso melhor, de que demos o melhor de nós próprios e contribuímos para o bem comum, sabendo que só as obras bem feitas permanecem, enquanto as que são feitas com pouco esforço, sem interesse e sem cuidar das pequenas coisas, depressa deixam de servir. Este sentimento de realização é duradouro e reforça a nossa autoestima.
Além disso, as obras bem feitas e bem acabadas, embora finitas, adquirem um valor infinito se as oferecermos a Deus, que se compraz com elas e nos recompensa. E com elas cooperamos com Deus na realização da Criação, participamos na Redenção operada por Jesus Cristo.
Físico. Professor de Matemática, Física e Religião ao nível do Bacharelato.
A juventude abençoada e sem pudor, com o seu toque de loucura, que nos faz pensar que podemos fazer algo de bom e de grandioso. Algo como casar jovem, porque sabes que Deus quer o teu casamento ainda mais do que tu. Algo como viver o celibato apostólico e estar pronto, como São João, a ir até ao Calvário.
A causa de beatificação da Irmã Clare Crockett será aberta a 12 de janeiro de 2025. A religiosa nascida na Irlanda do Norte, falecida aos 33 anos de idade, junta-se a uma lista de jovens que, nos últimos anos, têm estado a indicar o caminho para o Céu às novas gerações.
Nomes como Clare, Chiara Corbella, Pedro Ballester, Carlo Acutis, Chiara Badano ou Marcelo Câmara inspiram milhares de jovens em todo o mundo. Não é a sua juventude que os torna santos, mas é um fator importante e marcante.
Há muitos de nós, jovens católicos, que por vezes nos encontramos a remar sozinhos. É difícil manter a fé numa sociedade que despreza os valores que queremos amar, num ambiente onde a hipocrisia reina mesmo dentro das igrejas. É difícil viver a pureza, o desprendimento e a confiança na Providência.
No entanto, temos a oportunidade de parar por um momento e deixar a corrente continuar enquanto olhamos para cima, nem que seja por um segundo. E aí vislumbramos a juventude abençoada e sem pudor daqueles que nos precederam e alcançaram a vitória.
Bendita a sua juventude, porque para pessoas como Carlo Acutis ou Pedro Ballester isso não era um impedimento, mas uma razão a mais para ganhar força e ir em frente no seu esforço de viver as virtudes cristãs de forma heróica.
Seria absurdo pensar que eles tiveram mais facilidades do que nós e, apesar de tudo, tiveram a coragem de abrir o caminho, mostrando que ser católico hoje é possível, também para nós, jovens, que no sábado estamos com os nossos amigos não crentes numa festa e no domingo com os nossos amigos da paróquia na missa. E isso é saudável, esse é o nosso ambiente.
Uma juventude abençoada e sem vergonha, com o seu toque de loucura, que nos faz pensar que também nós podemos fazer algo de bom e de grande. Algo como casar jovem, porque sabes que Deus quer o teu casamento ainda mais do que tu. Algo como viver o celibato apostólico e estar pronto, como São João, para ir ao Calvário.
Bem-aventurados os jovens de coração descarado que gritam alegremente que se estão a entregar a Deus. Porque eles podem dizer o que quiserem, mas na Vigília da última Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, mais de um milhão de jovens passaram a noite diante de Cristo.
Como ele disse São João Paulo II Em 1985, o futuro pertence-nos a nós, jovens. A nossa é "a responsabilidade do que um dia se tornará realidade". Bendita e sem vergonha a juventude que quer fazer desse futuro próximo uma atualidade cheia de esperança em Cristo.
"Mais fortes do que as ondas que varrem canas e ervas daninhas, que varrem carros e pertences, são as ondas da solidariedade. As escolas de Valência já estão de pé", disse a secretária regional valenciana, Vicenta Rodríguez, no Congresso das Escolas Católicas, que recordou "o drama humano, as vidas destruídas e perdidas, e a necessidade de cuidar e acompanhar".
O XVII Congresso A sessão de abertura da Conferência das Escolas Católicas, realizada em Madrid, foi uma oportunidade para expressar um profundo sentimento de solidariedade para com as vítimas e os afectados pelo devastador Dana da semana passada. A Secretária Regional das Escolas Católicas de Valência, Vicenta Rodríguez, levou a audiência ao rubro com as suas palavras no dia de abertura, recordando "para além dos números, o drama humano, as vidas destruídas e perdidas, e a necessidade de cuidar e acompanhar".
Vicenta Rodríguez expressou a importância da solidariedade em tempos de adversidade e agradeceu todo o apoio e as demonstrações de afeto recebidas. "Agora é o momento de coordenar o patrocínio entre as escolas", disse ela, "e de dar as mãos e ajudar-se mutuamente. Daí a campanha que as Escolas Católicas lançaram, com o lema "Precisamos de ajudar". "Escolas de pépara a reconstrução das escolas afectadas".
A secretária valenciana sublinhou que o espírito que os guia agora é o que está expresso no hino regional da Comunidade Valenciana: "Valencianos, levantemo-nos e deixemos que a luz volte a saudar o sol", e é isso que as escolas estão a fazer com a ajuda de todos, porque "a partir de Valência, as escolas já se estão a levantar", acrescentou.
Durante a cerimónia de abertura, o público foi brindado com uma mensagem vídeo do Papa, recentemente gravada pela equipa de gestão da CE durante uma visita a Roma. Nas suas palavras, o Papa sublinhou a importância do trabalho educativo e afirmou: "A educação é um investimento para o futuro". Com esta mensagem, o Papa Francisco sublinhou o valor da educação como um pilar fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e esperançosa, inspirando os presentes a continuarem o seu empenhamento na formação das gerações futuras".
Em alusão ao lema da Congresso A presidente das Escolas Católicas, Ana Mª Sánchez, afirmou que dizer o nosso nome é reconhecer a nossa identidade pessoal e que dizê-lo em conjunto nos recorda o que somos: "escolas católicas que evangelizam e fazem da educação a sua paixão".
Para concluir, recordou-nos o objetivo do Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco: "colocar cada pessoa no centro, todos os dias, com a nossa maneira de ser e de educar".
Por seu lado, o secretário-geral, Pedro Huerta, que encerrou o congresso juntamente com a diretora, Victoria Moya, sublinhou que o lema do congresso eram "três verbos aos quais foram incorporados outros atributos ao longo dos meses de preparação deste evento, como os complementos diretos, os complementos indirectos e os sujeitos, que são "aqueles que dão vida, dão força e saem do infinitivo dos verbos para os tornar realidade".
"Sujeitos, que são, segundo as suas palavras, os congressistas, os membros da CE organizadores do Congresso, as famílias, os alunos, as comunidades educativas, paroquiais e religiosas... e preposições que "com nome próprio", mas não em nome próprio, mas em nome de Jesus que hoje diz de novo 'Ide e ensinai'".
A Subdiretora Geral de Centros e Programas, Librada María Carrera, que veio em nome do Ministério da Educação, teve algumas palavras iniciais de conforto e afeto para as escolas católicas de Valência e para as famílias afectadas. Sublinhou que o lema deste Congresso reflecte o que são e devem ser as escolas católicas, "escolas que não se limitam a transmitir conhecimentos, mas que descobrem o potencial de cada aluno com o seu próprio nome, que reconhecem a diversidade na sala de aula, que orientam, acompanham e personalizam a aprendizagem".
O alto funcionário do Ministério exprimiu o compromisso real do Ministério para com a escola subsidiada pelo Estado e reconheceu o seu trabalho em prol da inclusão, da solidariedade, da educação de qualidade e de fazer sobressair o melhor de cada aluno, segundo as Escolas Católicas.
Librada María Carrera sublinhou também "a importância e o carácter complementar das duas redes", pública e subvencionada, cada uma com a sua singularidade, e consciente de que, para continuar a cumprir a sua missão, a escola subvencionada deve ser dotada dos recursos necessários e suficientes e de uma remuneração justa para o seu pessoal docente. "O Ministério está consciente da importância e do carácter complementar do ensino subsidiado", afirmou.
A cerimónia de abertura contou com a presença de Monsenhor Luis Argüello, presidente da Conferência Episcopal Espanhola, que apelou a um caminho partilhado, a caminhar juntos, apelou à sinodalidade e propôs aos presentes que ajudassem cada estudante a descobrir o seu nome secreto que está escrito no livro da vida que descobrirá "quem é" e "para quem é".A cerimónia de encerramento foi precedida pela Eucaristia celebrada ao início da manhã por D. Alfonso Carrasco Rouco, presidente da Comissão Episcopal da Educação e Cultura, e animada por um coro composto por representantes de 10 instituições educativas. Participaram no congresso cerca de dois mil educadores de escolas católicas.
Três personalidades importantes no domínio dos movimentos e da cultura católica discutem a forma de aproximar Cristo da cultura atual.
Jonathan Roumie, o ator que dá vida a Jesus na série Os Escolhidoso padre católico James Mallone o anglicano Nicky Gumbel, o criador de Alfa são os três oradores do próximo evento em linha Alpha and Divine Renewal, que pode ser seguido em linha na quarta-feira, dia 12.
Sob o título "Reapresentar Jesus: partilhar Cristo na cultura contemporânea", estes três oradores irão explorar o que significa representar Jesus no nosso contexto cultural atual e como a Igreja pode abraçar este momento para cumprir a sua missão de partilhar Cristo com todas as nações. Um encontro que responderá à questão atual de como utilizar os novos meios de comunicação e as linguagens sociais para aproximar Cristo da sociedade.
O seminário está aberto a todos os que desejem participar, em formato digital e em formato eletrónico. registo está disponível nos sítios Web da Alpha e da Divine Renewal.
Roumie junta-se à lista de participantes nestes encontros organizados por Alpha e Renovacion Divina, nos quais participaram figuras como o Bispo Robert Barron e o Padre John Adams.
O Papa Francisco visitou a Universidade Gregoriana. Esta instituição gerida por jesuítas tem milhares de estudantes e formou vários Papas ao longo da história.
O Papa Francisco visitou a mais antiga universidade pontifícia de Roma, a Universidade Gregoriana. Esta instituição gerida por jesuítas tem quase 3.000 estudantes e formou vários Papas ao longo da história da Igreja.
Durante a sua visita, o Santo Padre apelou a professores e estudantes para que façam da instituição académica um lugar onde, através do conhecimento, possam "converter os corações e responder às perguntas da vida".
José Antonio e Amalia partilham nesta entrevista com Omnes as graças e os frutos que a sua dedicação como casal missionário produziu.
José António e Amália são um casamento do Caminho Neocatecumenal que partiram em missão em 2011 para Taiwan, depois de terem descoberto que Deus lhes pedia para deixarem tudo para trás e darem um salto de fé.
Com dúvidas, sem conhecer a língua e com um grande receio pelo futuro dos seus filhos, José António e Amália decidiram confiar em Deus e agora, nesta entrevista à Omnes, partilham as graças e os frutos que a sua dedicação produziu.
- Pertencemos ao Caminho Neocatecumenal, onde nos é continuamente recordada a importância do anúncio do Evangelho: levar Cristo a todos os povos do mundo para que todos os que o acolhem tenham a possibilidade de se salvar, como ele fez connosco. Assim, todos os anos, nos encontros e reuniões, pedimos sacerdotes, celibatários e famílias que estejam livremente dispostos a partir para qualquer parte do mundo, e assim descobrimos a nossa vocação missionária.
- Em 2006, no encontro do Papa com as famílias em Valência, tendo cinco filhos, sentimos pela primeira vez que o Senhor nos chamava a fazer esta missão. Naquela altura não nos conseguíamos levantar, pensando que era uma loucura ou um sentimento passageiro. Mas o chamamento persistiu e vimo-nos acorrentados à vida que tínhamos: trabalho, casa, família.... mas com um vazio e uma tristeza interior que nada conseguia preencher. Foi em 2010, com o Evangelho Partimos para o sul de Taiwan, na zona aborígene, quando quisemos tocar Cristo na fé e abandonámo-nos para fazer a sua vontade. Assim, partimos em 2011 com oito filhos e oito malas.
- Tudo o que fizemos foi viver entre os chineses, mas de acordo com o que a Igreja nos ensinou: comer juntos à volta de uma mesa com os nossos filhos, o que eles não fazem porque estão sempre a trabalhar; celebrar o Natal, num ambiente pagão que eles não sabem o que é, e ter de pedir autorização na escola porque nasceu um Jesus que é o nosso Salvador, e por isso damos-lhe a conhecer, colocando o presépio à porta de casa para as pessoas o visitarem, ..... vivendo apenas o dia a dia.
É verdade que fizemos aquilo a que no Caminho se chama "missão popular", ou seja, anunciar Jesus Cristo e o amor de Deus nas ruas e praças, com guitarras, canções, experiências, o Evangelho... Fizemos também catequese de iniciação ao Caminho Neocatecumenal e cursos pré-matrimoniais. Mas talvez onde notámos que o trabalho missionário foi mais frutuoso foi na nossa vida quotidiana e na dos nossos filhos, sobretudo na relação com os seus colegas e professores, que convidámos para nossa casa e que viram como vivíamos.
- Para nós, a principal dificuldade tem sido a língua. Descobrimos que não há maior pobreza do que não ser capaz de compreender nada e não conseguir falar uma palavra. Levar os nossos filhos ao médico e não poder exprimir o que se passa com eles, nem compreender o que dizem, nem saber que medicamento lhes dar; fazer compras e sentirmo-nos enganados tantas vezes; explicar as dificuldades dos nossos filhos aos professores .....
Começámos sem saber nada de chinês e, pouco a pouco, o Senhor abriu-nos os ouvidos, começámos a compreender, a balbuciar palavras, até conseguirmos sobreviver.
Outra dificuldade é tentar compreender a sua cultura, tão diferente da nossa, e para isso nada melhor do que viver como eles: comer a sua comida, pôr os nossos filhos nas suas escolas públicas, trabalhar nos seus empregos (descansando aos domingos), dar à luz nos seus hospitais, ficar lá quando havia chuvas torrenciais, tufões, terramotos....
Como é que o ultrapassámos? Evidentemente pela graça de Deus e pelas orações nossas e da nossa comunidade, bem como de algumas religiosas que também rezaram pela nossa família e missão.
- A nossa relação como casal saiu muito, muito forte, porque estávamos tão sós, tínhamos tantas dificuldades à nossa volta, que a escolha que fizemos foi unirmo-nos a Deus e unirmo-nos um ao outro. Não adiantava brigar, discutir por coisas bobas que surgem no dia a dia e que são apenas uma imposição da razão. O melhor era ceder, humilharmo-nos, fazermo-nos felizes uns aos outros e aproveitar os pequenos momentos. Foi isso que transmitimos aos nossos filhos. O nosso casamento deu uma volta de 180º.
- Compreendemos perfeitamente os medos, as apreensões e as dúvidas, mas a experiência é que Deus dá graça e nunca tenta acima das nossas forças. É claro que é uma vida com muitos sofrimentos, não a estamos a pintar de cor-de-rosa, mas acima de tudo está o poder de Deus que nunca nos abandonou. Missão e graça é uma simbiose, que se realiza quando dizemos "sim".
- É uma dádiva tão grande que o Senhor nos permitiu viver! Uma das nossas filhas estava na classe infantil e ficámos amigas da professora, pagã, claro. Precisávamos de uma ama para ficar com os nossos filhos enquanto íamos à Eucaristia e pedimos-lhe. Assim, ela começou a entrar em nossa casa, a ver como vivíamos e a fazer perguntas. Ela foi baptizada e até se casou há alguns meses e agora é o seu marido que quer ser batizado.
Os nossos filhos também trouxeram amigos que, ao verem como vivemos, se afeiçoaram cada vez mais à nossa família e desejaram ter algo assim nas suas vidas. Algumas pessoas não conseguiram romper com as tradições da sua casa, mas pelo menos conhecem outra forma de vida.
Mas os maiores beneficiários da missão foram a nossa família, nós como casal, como já explicámos, e os nossos filhos, sobre os quais sempre nos interrogámos: teremos estragado a vida dos nossos filhos ou será um dom que dará frutos com o tempo? Mas "o Senhor foi grande connosco e estamos contentes": os nossos filhos aprenderam a viver de Deus, literalmente, e isso não se aprende na escola. É a coisa mais importante que lhes ensinámos.
O nosso bispo, D. Demétrio, disse-nos antes de partir e foi isso que nos ficou na memória: "não há melhor escola para os vossos filhos do que a missão". Mas o Senhor permite-nos também ver alguns frutos incríveis: a nossa filha mais velha, Maria, é missionária em Harbin (Norte da China); o nosso quarto filho, José António, acaba de entrar no Seminário Missionário Diocesano Redemptoris Mater de Viena; a nossa segunda filha, Amália, quer casar-se dentro de alguns meses e formar uma família cristã aberta à vida e no seu coração tem ainda a inquietação da missão (Deus falar-lhes-á disso...). Assim, perante todos os receios que possamos ter em relação à vida dos nossos filhos, Deus transborda.
Um curso na Universidade Pontifícia da Santa Cruz explorou a ligação entre o judaísmo e o cristianismo através de uma análise conjunta do Decálogo e dos Manuscritos do Mar Morto. O evento de encerramento contou com uma conversa entre Adolfo Roitman e Joseph Sievers.
Com uma sessão aberta ao público, concluiu-se no Pontifícia Universidade da Santa Cruz o curso de inglês de duas semanas "Uma revelação e duas tradições"que explorou as interpretações judaicas e cristãs do Decálogo. O evento de encerramento contou com a presença de dois especialistas de renome internacional, o Professor Adolfo Roitman e o Professor Joseph Sievers, que ofereceram uma visão única do Decálogo e dos Manuscritos do Mar Morto, propondo-os como instrumentos de diálogo e reconciliação entre o judaísmo e o cristianismo.
Durante o encontro, Roitman - diretor do Santuário dos Livros do Museu de Israel e conservador da coleção dos Manuscritos do Mar Morto desde 1994 e até junho passado - sublinhou que o Decálogo representa mais do que um conjunto de regras: é um verdadeiro "pacto com Deus" e um símbolo de unidade entre as duas religiões. As Dez Palavras, acrescentou, "não só convidam os judeus e os cristãos a viverem segundo valores que transcendem as diferenças religiosas, mas servem também de fundamento ético universal". De facto, este código ético, partilhado entre a Torá e o Antigo Testamento cristão, baseia ambas as tradições em princípios de justiça, respeito e integridade.
Por seu lado, Sievers - professor emérito do Pontifício Instituto Bíblico - observou como o texto sagrado convida ambas as confissões a viverem orientadas para o bem comum: "um guia moral que resiste ao tempo e que, apesar dos milénios passados, continua a falar a judeus e cristãos como um modelo de vida comunitária, fundado no respeito mútuo".
O deputado afirmou ainda que é crucial para os cristãos compreenderem o contexto judaico que deu origem à sua fé, explicando que "se levamos a sério a Encarnação de Cristo, temos também de levar a sério o contexto judaico em que ele viveu e pregou".
O ponto central da reflexão na Universidade da Santa Cruz foi então a contribuição que os Manuscritos do Mar Morto oferecem para a compreensão das raízes cristãs. Roitman explicou que "Qumran é um exemplo excecional de uma comunidade judaica, onde os Manuscritos revelam uma preocupação única pela pureza e uma visão rigorosa das Escrituras. Aproximam-nos da fé judaica, mas também nos dão uma visão da vida e da espiritualidade do tempo de Jesus.
Para além da ênfase na pureza, emerge também um sentido de pertença que se reflecte, por exemplo, na comunhão de bens. "O ideal de uma comunidade que vive como uma família e partilha tudo", explica o professor emérito de estudos bíblicos, "é um conceito que encontramos tanto em Qumran como na comunidade cristã primitiva". Por isso, os Manuscritos Mortos são "um recurso precioso para compreender as raízes do cristianismo".
O evento realizado na Universidade da Santa Cruz, por iniciativa da Faculdade de Teologia e do Instituto Universitário Isaac Abarbanel de Buenos Aires, a primeira universidade judaica da América Latina, mostrou precisamente como estas fontes documentais dos primeiros séculos, embora recentemente descobertas, podem abrir uma "quinta dimensão" para a interpretação das Escrituras e para uma melhor compreensão tanto do judaísmo como do cristianismo primitivo. O próprio Roitman estava convencido de que o estudo conjunto destes textos é uma forma valiosa de refletir sobre valores espirituais e culturais comuns.
Além disso, o diálogo não é apenas um enriquecimento cultural, "mas também um instrumento de reconciliação e de respeito mútuo", acrescentou Sievers. A experiência de descobrir e estudar os pergaminhos "ensina-nos que há sempre novas perspectivas a explorar". Afinal de contas, "conhecer o judaísmo pelo seu valor intrínseco é uma tarefa que até os cristãos podem considerar enriquecedora".
Os oradores que se revezaram ao longo das duas semanas de curso provinham de diferentes tradições e contextos culturais, de Itália à Terra Santa. As actividades centraram-se em análises comparativas dos textos sagrados, salientando semelhanças e diferenças nas interpretações teológicas e na aplicação prática dos mandamentos na vida quotidiana e comunitária.
Os participantes puderam refletir sobre a raiz comum da Revelação e o significado partilhado das normas éticas fundamentais, abrindo também o debate sobre os contextos culturais que influenciaram as respectivas interpretações. Num clima de intercâmbio e partilha, foi também organizada uma visita à Sinagoga de Roma e ao Museu Judaico e, do lado cristão, à Biblioteca do Vaticano.
A pobreza e a austeridade são virtudes cristãs que somos chamados a viver. Nestes dias de preocupação com o declínio da biodiversidade, podemos afirmar que ambas as virtudes são sinais de responsabilidade social.
Nós, leigos mais ou menos abastados, esquecemo-nos por vezes que a pobreza e a austeridade são virtudes cristãs que somos chamados a viver. Nestes dias de preocupação com o grave declínio da biodiversidade e com as alterações climáticas, podemos afirmar que ambas as virtudes são sinais de responsabilidade social e de cuidado com as pessoas e com o ambiente.
Neste artigo, lançamos luz e mostramos o impacto social e ambiental de um simples ato de austeridade na nossa vida quotidiana, com base nos Evangelhos e na Doutrina Social da Igreja.
A pobreza pode ser entendida a partir de diferentes perspectivas. Inicialmente, pensamos nela como uma situação em que as necessidades físicas e psicológicas básicas de uma pessoa não podem ser satisfeitas, mas a Real Academia Espanhola (RAE) oferece uma outra definição quando descreve a pobreza voluntária dos religiosos como a renúncia a tudo o que se possui e ao que o amor-próprio considera necessário. No Evangelho (Lucas 12, 34), o Senhor diz aos primeiros cristãos: "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração" ou em Mateus 19, 24 "É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". Isto mostra-nos que a pobreza tem também profundas conotações morais e espirituais. "Bem-aventurados os pobres de coração, porque deles é o Reino dos Céus" (Mateus 5,3).
Para um cristão, viver a pobreza não significa estar mal vestido ou mal arranjado, significa ser austero. A austeridade não é algo rígido e invariável, mas uma questão de vida interior, algo que cada um deve julgar em cada momento. É essencial sermos honestos com a nossa consciência e compreendermos que o facto de sermos leigos não nos dispensa de viver a austeridade.
Muitos santos trataram destas questões, mas eles destacam-se pela sua visão pragmática: Santa Teresa de Jesus dizia que "o dinheiro é o esterco do diabo, mas dá muito bom estrume" e Santa Teresa de Jesus dizia que "o dinheiro é o esterco do diabo, mas dá muito bom estrume" e Santa Teresa de Jesus dizia que "o dinheiro é o esterco do diabo. Josemaría Escrivá De Balaguer fala de "materialismo cristão" como a maneira mais eficaz de utilizar este bom "estrume" para a glória de Deus. Esta dualidade exige uma retidão de consciência para discernir quando usamos os bens materiais por apego (estrume) ou como utilidade (adubo) para a vida humana.
O Evangelho dá-nos uma perspetiva clara dos bens materiais e do seu impacto na nossa vida espiritual, em função da forma como os utilizamos. Jesus alerta-nos para o perigo do apego às riquezas, como se vê no episódio do jovem rico (Mt 19,21-22). Este jovem, apesar de cumprir os mandamentos, não conseguiu desprender-se dos seus bens para seguir Jesus, mostrando como os bens materiais podem prender-nos e afastar-nos de uma vida plena em Deus.
O apego desordenado aos bens materiais pode levar à cegueira espiritual e ao endurecimento do coração, como refere 1 João 3:17. Neste versículo, o apóstolo recorda-nos que o verdadeiro amor de Deus se manifesta na nossa capacidade de partilhar com os necessitados.
Basta fazer uma pequena reflexão para perceber que, sem nos apercebermos, criamos necessidades para nós próprios: ver um episódio da nossa série preferida, ir às compras, comprar roupa nova em cada estação, mudar de telemóvel, a decoração da nossa casa, mudar de carro, de casaco, ... cada um pode acrescentar aquilo que o prende de acordo com a sua consciência e que, se não tivermos, nos preocupa porque associámos a nossa felicidade a essas necessidades. Esta escravidão, para além de nos afastar de Deus, tem um impacto na sociedade que nos deve levar a uma reflexão profunda e pertinente sobre a pobreza cristã e o seu impacto social. A seguir, aprofundamos esta questão.
As mensagens de Bento XVI e do Papa Francisco convidam-nos a refletir sobre a forma como as nossas acções e estilos de vida afectam os outros. Bento XVI, no Dia Mundial da Paz de 2009, sublinhou a crescente desigualdade entre ricos e pobres, mesmo nas nações mais desenvolvidas, e o facto de isso constituir uma ameaça para a paz mundial. Por outro lado, o Papa Francisco, nas suas encíclicas "Laudato si'" e "Fratelli Tutti", chama-nos a uma responsabilidade social mais consciente. No parágrafo 57 da "Laudato si'", sublinha que o consumismo excessivo pode levar à violência e à destruição e que as nossas decisões de compra têm um impacto moral e, citando Bento XVI, afirma que "fazer compras é sempre um ato moral, e não apenas económico". Em "Fratelli Tutti", alerta também para a possibilidade de futuras guerras causadas pelo esgotamento dos recursos devido ao consumismo.
Estas mensagens convidam-nos a refletir sobre como podemos viver de forma mais simples e solidária, tendo em conta que os recursos são limitados e devem ser para nosso uso, para uso dos outros e para as gerações futuras. Por isso, devemos valorizar a nossa capacidade de reutilizar e reduzir o consumo desnecessário como formas de amar o próximo e o planeta que nos foi confiado. Ver como amamos o nosso próximo, realizando tudo o que o Papa Francisco nos ensina nestas duas encíclicas, é a conversão ecológica que ele nos convida a fazer.
Alguns exemplos do impacto do nosso consumo no planeta:
Como se estes exemplos não bastassem para perceber a relação entre a austeridade e a nossa responsabilidade social, na "Laudato si'" (parágrafo 211) o Papa Francisco alerta-nos para o impacto social do nosso consumo e diz-nos: "o facto de reutilizar algo em vez de o deitar fora rapidamente, com base em motivações profundas, pode ser um ato de amor que exprime a nossa própria dignidade"..
Por isso, não hesitemos em fazer um esforço para reciclar, para reutilizar, para adiar uma compra... Tudo isto são actos de amor ao próximo no século XXI, e eu acrescentaria que não se trata de uma questão de "outros", nem de esquerda nem de direita, nem de hippies nem de ecologistas, estamos a falar de amor ao próximo e, neste aspeto, nós, cristãos, devemos sempre tomar a iniciativa como bons seguidores de Jesus Cristo. A pergunta que São Francisco fez a si próprio pode ajudar-nos a examinarmo-nos a nós próprios, Será que preciso de poucas coisas, e as poucas coisas de que preciso, preciso de muito pouco?
Biólogo, pós-graduado em Gestão Sustentável e Agenda 2030 pela ESADE, com vasta experiência na gestão de serviços ambientais no sector privado.
Talvez a forma como encaramos a terrível realidade do aborto seja uma espécie de encruzilhada da civilização e da fronteira que a separa da barbárie.
O aborto continua a ser uma questão polémica - apesar de alguns insistirem que é uma questão resolvida que apenas interessa a alguns radicais fanáticos - desde que a União Soviética se tornou o primeiro país do mundo a legalizar a prática, que até então era quase unanimemente considerada um crime, em 1920. Um século depois, o seu estatuto legal varia de país para país e tem vindo a mudar ao longo do tempo. Estas leis vão desde o aborto livre a pedido da mulher, passando por regulamentos e restrições de vários tipos, até à proibição total em quaisquer circunstâncias.
Em países como a Argentina, o Canadá, a Colômbia, o México, Cuba, o Uruguai, os países da antiga União Soviética, a Ásia Oriental e quase toda a Europa (exceto Malta, Polónia, Andorra, Mónaco, São Marino e Liechtenstein), o aborto é legal a pedido da mulher grávida. Na maioria dos países da América Latina, África, Médio Oriente e Sudeste Asiático, o aborto é ilegal e, em alguns casos, criminalizado. Há também países onde o aborto não é legal, mas é de facto despenalizado em quase todas as circunstâncias e os médicos que o praticam não são processados: Barbados, Finlândia, Índia, Israel, Japão, Reino Unido, Taiwan e Zâmbia.
Apenas seis nações no mundo proíbem o aborto em qualquer circunstância e prevêem penas de prisão para qualquer mulher ou pessoa que pratique, tente praticar ou facilite a prática do aborto: Cidade do Vaticano, El Salvador, Honduras, Nicarágua e a República Dominicana.
Todos os anos são efectuados cerca de 56 milhões de abortos em todo o mundo e, em muitos locais, continuam a existir debates sobre as questões morais, éticas e legais relacionadas com o aborto. Alguns países legalizaram o aborto, proibiram-no e depois voltaram a legalizá-lo (como alguns dos países que constituíam a antiga União Soviética). A China liberalizou-o completamente em 1970 mas, devido a uma profunda crise demográfica, introduziu em 2021 uma proibição do aborto não médico.
O Estado francês aprovou este ano, por maioria de 80 votos, a consagração do direito ao aborto na sua Constituição. Com esta sanção legislativa, para além da conveniência política de um Presidente Macron em baixa, o objetivo é proteger o presumível direito das mulheres a pôr termo à vida dos seus filhos de eventuais limitações que possam ser estabelecidas por futuros governos mais sensíveis ao respeito pela vida humana e que queiram seguir a linha adoptada em 22 de junho de 2022 pelo Supremo Tribunal dos Estados Unidos ao declarar que o aborto não é um direito constitucional. Desde então, o país do outro lado do Atlântico está dividido entre Estados com leis de aborto restritivas que favorecem o direito à vida do nascituro e aqueles que procuram proteger o acesso ao aborto. Em 16 de fevereiro de 2024, o Supremo Tribunal do Alabama declarou, num acórdão controverso, que os embriões congelados são seres humanos e merecem proteção, pondo em causa a atividade das clínicas de reprodução assistida nesse Estado.
Como é sabido, nesta delicada questão, a opinião pública ocidental está atualmente dividida entre aqueles que defendem o direito da mulher a decidir se quer dar à luz o seu filho ou pôr termo à sua vida, e aqueles que argumentam que nem mesmo uma mulher pode decidir sobre a vida ou a morte da vida dentro de si. Depois de décadas de argumentos sobre o perigo que os abortos clandestinos representam para as mulheres, muitas pessoas passaram a acreditar que o aborto é um direito da mulher e que é preferível garanti-lo nos serviços públicos de saúde do que realizá-lo na clandestinidade.
A objeção de consciência da maioria dos médicos do sistema público de saúde apresenta-se como um obstáculo a esta prática. Muitos convenceram-se de que a vida grávida no ventre de uma mulher não é um ser humano, mas um conjunto de células, e que pôr termo à sua vida pode até ser um ato de misericórdia para poupar à mãe e à criança uma vida insuportável. É o processo psicológico que permite a uma pessoa acabar com a vida de outra sem sofrer um indelével sentimento de culpa para o resto da sua vida.
Parece que, a este respeito, estamos a chegar ao fim do caminho iniciado no Iluminismo em direção à autonomia total do eu. Somos agora totalmente livres de fazer o que quisermos com o nosso corpo e a nossa vida, incluindo o direito de pôr termo à nossa própria vida e à dos nascituros, presumivelmente para que não "estraguem" a vida futura das suas mães. Ao mesmo tempo, as taxas de saúde mental estão a piorar e cada vez mais pessoas vivem e morrem sozinhas. A grande maioria dos jovens vê um futuro sombrio para si próprios e exprime o seu receio de ficar sozinho na velhice.
Jérôme Lejeune, de quem celebramos o trigésimo aniversário da morte, grande cientista e geneticista francês, defensor da vida humana desde a conceção (convicção que lhe valeu o Prémio Nobel pelo seu trabalho no domínio da genética). Nobel), afirmou um dia que "a qualidade de uma civilização mede-se pelo respeito que tem pelo mais fraco dos seus membros". Tornou-se um cliché dizer que estamos numa mudança de era e no fim de uma civilização. Talvez a forma como encaramos a terrível realidade do aborto seja uma espécie de encruzilhada da civilização e da fronteira que a separa da barbárie.
Não percamos a esperança de que, depois de termos reconhecido no Ocidente o direito à autodeterminação total do indivíduo, cheguemos à conclusão de que a realidade é antes a de que os seres humanos são totalmente dependentes e que precisamos de nos sacrificar uns pelos outros - e não uns aos outros - para progredirmos e sermos verdadeiramente felizes.
Como escreveu Hölderlin no seu famoso poema Patmos, "onde há perigo, cresce também aquilo que salva".
Giovanni Ziberna é o realizador do documentário "Libera Nos: the battle of the exorcists", um filme apoiado pela Associação Internacional de Exorcistas, que pretende mostrar a ação do demónio no mundo de uma forma realista.
Giovani Ziberna é o diretor de "Liberta-nos: A batalha dos exorcistas"o único documentário aprovado pela Associação Internacional de Exorcistas. Depois da sua conversão, há alguns anos, Ziberna apercebeu-se de que os católicos precisam de tomar consciência de que o diabo existe. Não se deve ficar obcecado com isso, mas sim adquirir um bom conhecimento para estar preparado.
Esta é a origem deste filme O filme, que conta com a colaboração de vários exorcistas e que, ao contrário do que se vê em Hollywood, oferece uma visão realista da ação do demónio no mundo, é sem sensacionalismo e com um inesperado raio de esperança para os católicos. Sem sensacionalismo e com um inesperado raio de esperança para os católicos, "Libera Nos" quer "partilhar a vitória cristã sobre o mal".
- A ideia do projeto nasceu da nossa experiência pessoal e da nossa conversão. Depois de ter sido batizado, um exorcista chamou-me para ajudar como assistente em vários casos de possessão. Isto introduziu-nos no assunto e fez-nos ver como os exorcismos são muito diferentes daquilo que o cinema nos fez acreditar e, acima de tudo, vimos o amor do Senhor por todos nós e o seu grande poder.
Sentimos a importância de partilhar a vitória cristã sobre o mal e o ministério do exorcismo através de um documentário-catequese, inaugurando o projeto com uma entrevista ao Padre Gabriele Amorth, o famoso exorcista, e nos anos seguintes com vários exorcistas da Associação Internacional de Exorcistas.
- Os exorcistas foram escolhidos com base na sua experiência e reputação no seu campo de ministério. Colaborámos com a Associação Internacional de Exorcistas, que deu apoio oficial ao projeto e ajudou a selecionar os exorcistas mais qualificados.
Esta fase foi muito delicada, porque queríamos encontrar as pessoas mais bem preparadas, que fossem também fiáveis e confiantes em matéria de preparação teológica da fé e de experiência "no terreno".
- Este processo envolveu a seleção dos exorcistas, a revisão do conteúdo e a aprovação oficial do projeto. A Associação reconheceu o valor formativo do documentário para a Igreja e para o mundo, ajudando na sua distribuição.
- As representações de exorcismos são baseadas em casos reais de libertação de possessões diabólicas vividos por membros da Associação Internacional de Exorcistas. Incluímos testemunhos de exorcistas experientes, como o Padre Gabriele Amorth, o Padre Francesco Bamonte e muitos outros, para apresentar uma visão autêntica e profissional do fenómeno.
- Durante a realização do documentário, aprendemos a importância da oração, dos sacramentais, da consagração ao Imaculado Coração de Maria e da comunhão dos santos na luta espiritual. Estes elementos são fundamentais para compreender o poder de Deus sobre o mal.
- O maior desafio foi evitar cair em cenas sensacionalistas e "hollywoodianas". Quisemos manter uma abordagem autêntica e documental, respeitando a realidade dos exorcismos e a fé cristã.
- Adoptámos um formato de docudrama, combinando entrevistas com exorcistas e intervenções de psiquiatras e psicólogos especialistas na matéria. Isto permitiu-nos apresentar uma visão objetiva e profissional do fenómeno, evitando o sensacionalismo e respondendo também a possíveis críticas de médicos cépticos.
Quanto às cenas reconstituídas no filme, não nos debruçámos sobre os aspectos preternaturais mais chocantes que, embora raros, podem ocorrer (por exemplo, a levitação ou a expulsão de objectos, como pregos ou vidros, pela boca), porque pensamos que todos estes fenómenos, mesmo que ocorressem, não acrescentariam mais nada ao tema principal, ou seja, a luta contra aquele que nos quer afastar de Deus e nos faz cair no pecado. A nossa intenção não é assustar, mas fazer com que as pessoas compreendam o amor de Deus por nós e possam aumentar o nosso amor por Ele.
- Pareceu-nos importante dedicar tempo à Virgem Maria porque a sua intercessão é fundamental na luta contra o demónio, e a sua ação e consagração ao seu Imaculado Coração são elementos-chave na vitória cristã sobre o mal. O mais importante que compreendemos é que a luta mais perigosa contra o demónio é a luta ordinária, na qual o "inimigo" permanece escondido e age para nos fazer cair em pecado, e Maria é a nossa aliada mais importante nesta luta.
- Convido toda a gente a ver o filme para compreender melhor a realidade dos exorcismos e o poder de Deus sobre o mal. O documentário oferece uma mensagem de esperança e fé, mostrando a importância da oração e da comunhão dos santos na luta espiritual.
Acreditamos que este filme pode trazer muita verdade a estas questões, actuando como um verdadeiro meio de educação tanto para religiosos como para leigos, num momento da história em que as forças do mal são cada vez mais jogadas e as armadilhas para as almas das pessoas estão a aumentar.
A campanha para o Dia da Igreja Diocesana em Espanha procurou sublinhar as diferentes vocações que, a partir da sua singularidade e através da sua dedicação em diferentes ambientes e estados de vida, constroem a mesma Igreja.
Quem torna possível o trabalho da Igreja e existe uma relação entre corresponsabilidade, apoio e vocação? Há alguns dias, um amigo - sem fé, mas intelectualmente inquieto - perguntou-me como se torna possível o contributo da Igreja. Igreja espanhola em benefício da sociedade. Numa publicação, tinha visto pormenores sobre as suas actividades celebrativas, pastorais, evangelizadoras e de assistência caritativa, o que o tinha surpreendido agradavelmente, pois tende a receber apenas notícias negativas sobre a instituição.
A minha resposta, centrada nas pessoas e afastada - à partida - das questões económicas, também o desafiou. Os números falam por si: mais de 15.000 padres, 83.000 catequistas, 500 diáconos permanentes, 8.000 monges e freiras de clausura, 33.000 religiosos, 75.000 voluntários para CáritasO que seria da Igreja em Espanha (e no mundo) sem a dedicação de cada batizado em função da vocação específica que Deus lhe deu?
Descobrir e responder a este "chamamento" é transformador, tanto para nós próprios como para os outros. A campanha recorda-nos este facto Xtantos O Dia Diocesano da Igreja deste ano coloca-nos uma questão sugestiva: "E se o que procuras estiver dentro de ti? É certo que vivemos rodeados de estímulos externos e as doses de dopamina que recebemos incessantemente através dos nossos telemóveis não satisfazem o desejo de plenitude que habita no nosso coração.
A Espanha é o país com o maior consumo de tranquilizantes do mundo, segundo dados do Conselho Internacional de Controlo de Estupefacientes. O consumo diário de ansiolíticos aumentou dez pontos na última década e os casos de ansiedade e depressão são frequentes. De tal forma que a saúde mental deixou de ser um tema tabu e começa a ocupar um lugar central no debate público e nas conversas quotidianas.
Para além da necessária resposta médica e da reflexão colectiva que esta realidade exige, a Igreja põe em cima da mesa, neste Dia Diocesano da Igreja, um aspeto que, mais tarde ou mais cedo, é inevitável na vida de qualquer pessoa: a questão do "sentido" ou, como dizem as novas gerações, do "propósito", já tão presente no mundo empresarial e naqueles que procuram sair de uma crise existencial ou daqueles sentimentos vitais de vazio que vão consumindo o espírito.
Porque é que eu faço o que faço? Qual é o sentido de tudo isto? A Igreja oferece-nos um cântico de esperança com uma mensagem que, como mostram os testemunhos da Jornada Diocesana da Igreja disponíveis na Internet 'www.buscaentuinterior.es'pode transformar toda uma vida. Cada um a partir da sua própria vocação, sabendo que todos fomos criados por Deus com uma missão e que somos únicos e irrepetíveis. Descobrir e responder a este chamamento é "revolucionário" e convida-nos a viver com autenticidade, empenhamento e realização.
Esta "revolução" saudável, não isenta de dúvidas e incertezas, é ilustrada por Pilar, Montse, Litus, Pedro, Diego, Carmen e Alberto na campanha Xtantos. Eles responderam com um sim ao projeto de Deus para cada um deles, abraçando uma vida cheia de sentido a partir das suas respectivas vocações. Antes, de uma forma ou de outra, experimentaram que aquilo que dá felicidade aos olhos do mundo (um emprego de destaque, dinheiro, festas, uma boa posição social, etc.) não os preenchia, tal como aquela centena de ex-alunos da Universidade de Harvard - jovens de sucesso em diferentes aspectos - que confessaram num inquérito que não eram felizes porque a sua vida não tinha sentido.
Pilar, Montse, Litus... mudaram realmente quando se abriram para ouvir a voz de Deus e se deixaram guiar por Ele. Desta forma, alcançaram o que o filósofo Alfonso López Quintás define como "uma vida bem orientada", orientada para o seu "verdadeiro ideal"..
Neste processo, é particularmente importante ter consciência de que fomos criados pelo Amor com talentos - um dom divino - que somos chamados a cultivar e a pôr à disposição dos outros.
Este aspeto é transcendente porque a corresponsabilidade nasce da gratidão: a consciência do muito que se recebeu e o desejo de partilhar com os outros alguns desses dons. É participação no ser e na missão da Igreja, com um impacto direto na sociedade: é estilo de vida (testemunho) e é tempo, qualidades, oração e apoio financeiro.
A Igreja em Espanha sustenta-se graças a tantas pessoas, mulheres e homens do nosso tempo, que dão o que são e o que têm ao serviço da Igreja e da sociedade. Desde os que ajudam a limpar a igreja do seu bairro ou o eremitério da sua aldeia, os que anunciam a Boa Nova como catequistas ou como voluntários na sopa dos pobres da sua paróquia, os que rezam pelas necessidades da Igreja a partir da sua cela de mosteiro ou da clandestinidade - no meio do mundo -, os que contribuem para a coleta da missa ou com uma doação recorrente, e os que entendem a vida - em suma - como um dom e uma tarefa, tentando fazer render os talentos que receberam.
Em outubro passado, o Papa Francisco convidou-nos a rezar por uma nova "estilo de vida sinodal, sob o signo da corresponsabilidade".que promove "participação, comunhão e missão partilhada". entre todo o povo de Deus. Isto porque, como o Sínodo deixou claro, "Caminhar juntos como baptizados, a partir da diversidade de carismas, vocações e ministérios, é importante não só para as nossas comunidades, mas também para o mundo.
Já em 1988, os bispos espanhóis tinham deixado isso claro numa instrução pastoral em que afirmavam "Sabemos pela fé que, em última análise, é o próprio Deus que sustenta a Igreja, através de Jesus Cristo, que a convoca, preside e vivifica pela força interior do Espírito Santo que move os corações dos homens". Ao mesmo tempo, porém, sublinharam que "o próprio Deus quis que esta ação sobrenatural passasse ordinariamente pela mediação da nossa livre resposta".
A corresponsabilidade nunca é fruto do medo ou da obrigação, mas da generosidade. E esta, não há dúvida, brota de corações agradecidos. É por isso que, longe de imposições, é essencial ajudar a descobrir os dons que recebemos gratuitamente de Deus.
Ao tornarmo-nos co-responsáveis, aceitamos esses talentos e gostamos de os partilhar. É esta a "receita" das comunidades cristãs.
Perante as fórmulas pré-fabricadas de gurus e Influenciadores Enquanto a Igreja oferece a luz de Cristo como a fonte de uma vida bem sucedida, a Igreja oferece a luz de Cristo como a fonte de uma vida bem sucedida.
É assim - disse eu ao meu amigo - que a Igreja se sustenta. Com muitas histórias anónimas de dedicação alegre e generosa, como as de Pilar, Montse e Litus, felizes por realizarem o sonho de Deus nas suas vidas, cada um à sua maneira.
Diretor do Secretariado de Apoio à Igreja da CEE.
A sociedade não deve deixar-se levar pela ideia de que o abuso de menores é um problema da Igreja Católica, porque "esta realidade está no nosso tecido social". O maior número de agressões ocorre no ambiente familiar, "embora isso não justifique um único dos abusos na Igreja", garante à Omnes Jesús Rodríguez Torrente, juiz auditor do Tribunal da Rota e responsável pelos Gabinetes de Proteção de Menores da Igreja.
No final de outubro, a Secção de Direito Canónico da Ordem dos Advogados de Madrid, presidida pelas advogadas Monica Montero e Irene Briones, comemorou o seu 6º aniversário numa cerimónia realizada em Madrid. dia que reuniu profissionais de renome, como os canonistas Carmen Peña e Rafael Navarro-Valls.
Estavam também presentes personalidades eclesiásticas como o núncio Mons. Bernardito Auza, que abençoou a escultura A estátua recentemente restaurada da Virgem Imaculada, padroeira da profissão de advogado; o bispo auxiliar de Madrid, D. Jesús Vidal e o vice-secretário para os assuntos gerais da Conferência Episcopal, Carlos López Segovia.
A conferência foi proferida por Jesús Rodríguez Torrente, de Albacete, juiz auditor do Tribunal da Rota da Nunciatura Apostólica em Madrid e responsável pelo Serviço de Coordenação e Assessoria dos Gabinetes de Proteção de Menores da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), que falou sobre "A Igreja e os menores".
Omnes falou com ele sobre o abuso e estes gabinetes, que implementaram processos de formação que atingiram mais de 350 000 menores e mais de 125 000 adultos em dois anos.
- Desde 2019, quando o Santo Padre pediu à Igreja que respondesse ao flagelo dos abusos com clareza e força, foram criados mais de 200 gabinetes para receber queixas e denúncias de vítimas de abusos na Igreja Católica em Espanha. Todas as dioceses e a maioria das congregações religiosas criaram-nos, dotaram-nos de pessoal e de recursos. Estes gabinetes estão a receber as vítimas. Promoveram o estabelecimento de protocolos, que estão todos nos sítios Web das suas instituições e publicados na página Web www.paradarluz.com da Conferência Episcopal Espanhola. Estão também envolvidos no desenvolvimento de planos de prevenção. Participaram igualmente na criação de ambientes seguros e de códigos de boas práticas.
O mais importante é que se trata de um trabalho conjunto da CONFER e da Conferência Episcopal Espanhola, e estamos unidos em tudo o que estamos a fazer. É uma resposta da Igreja em Espanha como um todo.
- É, sem dúvida, um encontro que deu impulso e abriu novos campos de ação no domínio do tratamento, da cura e do acompanhamento de menores vítimas de abuso. Os encontros têm vindo a fornecer instrumentos de trabalho para lidar com a prevenção e a ação no campo do abuso de crianças de todas as áreas da Igreja. Desta vez, o tema foi o abuso na família: deteção e formas de tratamento e reparação. Mas igualmente importantes foram os temas tratados em encontros anteriores: abuso de menores, pornografia na saúde dos menores, ação nas escolas e centros públicos, reparação, formação de agentes pastorais e envolvimento e ação legal.
No que se refere ao trabalho dos gabinetes, nos últimos dois anos, foram atendidas cerca de 900 pessoas - não apenas vítimas - que se dirigiram a eles para solicitar informações ou formação, para fazer perguntas ou para serem atendidas. Nem todos os gabinetes pedem as mesmas coisas ou precisam das mesmas coisas.
É também de salientar que a maioria deles lida exclusivamente com casos de abuso infantil, enquanto outros gabinetes lidam com todos os tipos de abuso, como é o caso da Repara Madrid. Além disso, os gabinetes implementaram processos de formação, que atingiram mais de 350.000 menores e mais de 125.000 adultos só entre 2022 e 2023. Portanto, parece claro que este é um serviço muito útil e a maioria das vítimas agradece a escuta e a disposição para a cura integral.
- Os delinquentes não se dirigem normalmente a estes centros. A experiência e o reconhecimento dos factos obrigam-nos a seguir um caminho muito diferente do da vítima, que, quando denuncia o crime, já amadureceu e é capaz de o verbalizar. A maioria dos autores de crimes situa-se entre a negação e a aceitação. Alguns deles passaram por processos de justiça restaurativa. Mas são os menos numerosos.
- Sim, está correto. Infelizmente, o maior número de agressões a menores ocorre no ambiente familiar. Isso não justifica de modo algum um único abuso na Igreja. Nenhum padre, religioso ou religiosa deveria ter cometido qualquer abuso. Os homens e mulheres de Deus não podem passar de falar em nome de Deus para serem maus em nome de Deus. Mas a sociedade não deve virar a cabeça e sentar-se e pensar que este é um problema da Igreja Católica, quando é apenas uma pequena parte dela, e não ver a dura realidade que está no nosso tecido social.
- A rejeição de todos os tipos de abuso está a aumentar cada vez mais no nosso mundo e na sociedade. A consciencialização e a visibilidade do problema obrigaram-nos a olharmo-nos todos ao espelho. Penso que é necessário continuar a insistir nesta realidade, dando mais clareza e, ao mesmo tempo, propondo um plano de formação que atinja todo o tecido social.
- É fácil responder a esta questão. Embora os abusos nas escolas sejam conhecidos, muitos deles pertencem a uma época passada, e a sociedade e os pais viram a reação das escolas e o forte empenho em prevenir e pôr termo aos abusos. Do mesmo modo, estão informados sobre os programas de ambiente seguro. Tudo isto são elementos que lhes dão confiança, pois vêem que, quando confrontados com um problema, são dadas respostas claras e enérgicas.
- De facto, a Comissão está agora a funcionar. Foram dados muitos passos e agora a Comissão Consultiva O regulamento interno está a ser elaborado de forma a que os primeiros pedidos possam ser tratados já em dezembro. Trata-se de um projeto único, na medida em que se trata de casos que prescreveram ou cujos autores já faleceram. O dever moral para com as vítimas implica um tratamento rigoroso e objetivo.
Não podemos tornar-nos santos, mas Deus pode e quer. A partir do amor incondicional de Deus, todos nós podemos aspirar verdadeiramente à santidade, que não é outra coisa senão deixarmo-nos amar por Ele, deixando que Ele transforme a nossa vida.
A minha geração (a millennials) foi educado com a ideia de que pode fazer tudo o que quiser na vida, desde que ponha todo o seu coração e todos os seus esforços nisso. Queres ser uma estrela de futebol, o presidente do teu país, ou erradicar a pobreza? Vai em frente, tu consegues! Segue a tua paixão, tu vais conseguir! Escusado será dizer quantas desilusões esta ideia provocou.
Na Igreja, corremos o risco de transmitir uma mensagem semelhante. "Se quiseres, podes tornar-te santo. Depende de ti, dos teus esforços e decisões, das virtudes que forjares. Basta pôr a tua vontade e verás".
Não nego que para ser santo é preciso esforço, vontade e virtudes. De facto, são indispensáveis. Mas quando o caminho da santidade é transmitido desta forma, é fácil cair em erros como o individualismo, a meritocracia e o voluntarismo. "Se não conseguir o que me propus fazer, a culpa é minha, porque, afinal, o meu destino está nas minhas mãos. A minha felicidade e o meu sucesso dependem de mim, das minhas decisões e dos meus esforços.
Estas convicções podem fazer muito mal, porque, mais cedo ou mais tarde, somos confrontados com fracassos, limitações e pecados. E se não se tiver uma atitude correta, isso prejudica a intimidade e a autoestima, o que facilmente conduz à mediocridade baseada na desesperança.
Não se pode tornar um santo. Mas aqui vem a verdade mais incrível da tua vida: Deus pode. E Ele quer fazê-lo. Ele deseja de todo o coração que sejas santo. E conhece-o melhor do que você mesmo. Ele sabe exatamente quais são as suas limitações e a bagagem que carrega dos seus pecados e dos pecados dos seus antepassados. E tudo isto não constitui problema para Deus. Porque a santidade não é tanto o que eu faço, mas o que eu deixo Deus fazer na minha vida. A santidade é deixar que Deus nos ame incondicionalmente.
Esta verdade tem uma implicação radical: Deus pode tornar todas as pessoas santas. Mesmo aqueles que se sentem fracos, feridos e sujos. Precisamente eles. Quando alguém descobre a sua própria inadequação, pode dizer com Santa Teresa do Menino Jesus: "Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis; por isso, apesar da minha pequenez, posso aspirar à santidade".
Penso que a maior doença da sociedade é o individualismo. A santidade é exatamente o contrário, porque é essencialmente relacional, como é a natureza do homem. Não posso dar um passo na santidade e, portanto, não posso dar uma gota de amor ao meu próximo, se não for do amor incondicional de Deus. Como ele disse Josef Pieper: "Quem não é amado não pode amar nem a si mesmo". O santo é apaixonado pela sua vida, porque Deus é apaixonado pela sua vida. Abraça o abraço de Deus, porque aprendeu gradualmente a não resistir a esse abraço divino e a deixar-se transformar por ele.
Esta transformação não passa despercebida, precisamente porque tudo o que o homem não é capaz de fazer por si próprio pode ser sentido. O mais belo exemplo disso é a Magnificat da Virgem. Quando Maria entra na casa de Zacarias e Isabel, sente a presença de Cristo e não pode fazer outra coisa senão louvar a Deus, "Porque o Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas".
As vidas dos santos modernos, como Carlo Acutis e Guadalupe Ortiz, e de outros jovens que morreram em odor de santidade, como Clare Crockett, Pedro Ballester ou Chiara Corbella, são versões modernas da Magnificat. São histórias de como Cristo transformou gradualmente as vidas de pessoas comuns, vulneráveis e pecadoras em cânticos de louvor a Deus, cada uma de uma forma única e especial.
Creio que, no mundo atual, há três virtudes que são de importância vital para ajudar as pessoas a deixarem-se transformar por Deus: a humildade, a esperança e a paciência.
Através da humildade, podemos descobrir a nossa identidade mais profunda: que somos filhos de um Pai que nos ama incondicionalmente.
A esperança é a firme convicção de que Deus nunca abandona o seu projeto de santidade para com uma pessoa, por maiores que sejam os erros e os pecados cometidos.
Pela paciência, não perdemos a alegria e a paz interior quando somos confrontados com contrariedades, limitações e erros, sabendo que o Espírito Santo está na nossa alma em estado de graça.
Uma das mensagens mais importantes do Concílio Vaticano II é que todos os homens são chamados à santidade. Meio século depois, há ainda muito a fazer para fazer passar esta mensagem e para que as pessoas acreditem nela. Imaginem se todos os fiéis estivessem convencidos de que podem ser santos. Seria uma verdadeira revolução; uma magnificat que iluminaria o mundo inteiro.
Autor de "Holiness for Losers
Numa entrevista recente, Íñigo Quintero fala corajosamente das suas convicções religiosas.
Esta semana Eva Baroja publicado num jornal espanhol uma entrevista com Iñigo Quintero na qual, entre outros temas, falou também da sua fé. O seu testemunho é corajoso, entre outras coisas, porque reconhece que foi um pouco cobarde quando se tratou de mostrar o fundo cristão da canção que o levou a ser número um mundial, com 800 milhões de ouvintes no Spotify, e que lhe valeu uma nomeação para os Grammys Latinos.
Numa altura em que parece que o reggaeton é a música mais cativante que se pode criar, um artista desconhecido conseguiu colocar uma canção sobre Deus no topo das tabelas musicais. Quintero admite na entrevista ao El País que teve dificuldade em admitir que a letra da canção era sobre Deus porque "tinha medo de ser rotulado como algo que não sou, porque não faço música cristã. Simplesmente escrevi sobre o que tinha dentro de mim, mas não quer dizer que todas as minhas canções sejam sobre isso, longe disso".
O entrevistador pergunta-lhe então se admitir que se é crente suscita preconceitos hoje em dia. Quintero dá uma resposta que todos poderíamos assinar: "é difícil falar de Deus porque há pessoas que sentem repulsa por isso", algo perfeitamente compreensível para um jovem de 22 anos. No entanto, o que acrescenta de seguida é muito interessante: "é um disparate, devia ser mais falado porque é supranormal. Infelizmente, hoje em dia algumas pessoas recusam-se a ouvir a tua música se disseres algo de que não gostam. Devemos ser livres de falar do que quisermos".
Isto já não é assim tão normal. É uma verdadeira saída do armário para um artista que tem a pretensão de fazer carreira no mundo da música. Em outras declarações, Quintero já havia falado sobre o real significado da música, mas vê-lo fazer isso num meio tão contrário e com tanta naturalidade é um testemunho ousado, mostrando uma maturidade na fé que pode ser um exemplo para muitos.
Editor da Omnes. Anteriormente, foi colaborador de vários meios de comunicação social e leccionou filosofia ao nível do Bachillerato durante 18 anos.
Após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, os bispos do país enviaram-lhe uma mensagem de felicitações e, ao mesmo tempo, convidaram os cidadãos a viver um espírito de "caridade, respeito e civismo".
Os bispos dos Estados Unidos estenderam a sua felicitações O Presidente eleito Donald Trump e os responsáveis eleitos nas recentes eleições nos EUA. "Chegou o momento de passar da campanha à governação", afirmou o Arcebispo Timothy P. Broglio, Arcebispo dos Serviços Militares dos Estados Unidos e presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB).
"Vivemos numa democracia e ontem os americanos foram às urnas para escolher o próximo presidente dos Estados Unidos. É tempo de passar da campanha para o governo numa transição pacífica", disse o prelado.
Broglio afirmou ainda que nem a Igreja Católica nem a USCCB estão alinhadas com qualquer partido político porque, independentemente de quem ocupa a Casa Branca, "os ensinamentos da Igreja permanecem inalterados e nós, bispos, estamos ansiosos por trabalhar com os representantes eleitos do povo para promover o bem comum de todos".
Devido à narrativa anti-imigrante e beligerante caraterística de Donald Trump, o presidente da USCCB exortou a nova administração a tratar todos com caridade, incluindo os imigrantes: "Como cristãos e como americanos, temos o dever de nos tratarmos uns aos outros com caridade, respeito e civilidade, mesmo que discordemos sobre como conduzir as questões de política pública. Temos também de nos preocupar com os que estão fora das nossas fronteiras".
Broglio pediu a intercessão da Imaculada Conceição, padroeira dos EUA, para que a nova administração ajude a "defender o bem comum, a promover a dignidade da pessoa humana, especialmente dos mais vulneráveis, incluindo os não nascidos, os pobres, os estrangeiros, os idosos e os doentes, e os migrantes".
Eugenio Corti, autor de "O Cavalo Vermelho", viveu uma vida intensa, cheia de aventuras, que captou nas suas obras. Como todos os grandes escritores, as suas reflexões sobre a vida quotidiana fizeram da sua obra um dos livros clássicos por excelência.
Há alguns meses, em fevereiro de 2024, Wanda Corti, esposa de Eugenio, autor de romances como o famoso "O Cavalo Vermelho", faleceu com quase 97 anos de idade.
Por várias vezes tive a honra de falar com a senhora Corti, que me atendeu depois de eu ter simplesmente procurado o seu nome na lista telefónica. Apresentei-me, confidenciei-lhe, como romancista e historiador, a minha admiração pela vida e pela obra do seu marido, dei-lhe os meus livros e ela não só me encorajou a continuar, como até me telefonou de volta depois de uma conferência que dei há alguns anos sobre Eugenio Corti.
E agora estou aqui a escrever sobre alguém que teve uma grande influência na minha vida e na minha vocação de homem e de contador de histórias. Eugenio Corti, de facto, é para mim um pai, um professor, um modelo para enfrentar as suas próprias batalhas, as das desilusões que teve de sofrer e os desafios que teve de enfrentar.
Algumas citações das palavras de Eugenio Corti foram retiradas de: Paola Scaglione, Palavras esculpidas. Os dias e a obra de Eugenio Corti, Edições Ares, 2002.
Gostaria de começar por falar da sua vida, que é uma verdadeira epopeia (uma epopeia, do grego ἐποποιΐα, composta por ἔπος, "epos", e ποιέω, "poieo", que significa fazer, é uma composição poética que narra feitos heróicos), através do que é considerado o seu testamento espiritual, uma carta escrita à sua mulher Vanda em 1993 e que sublinha quão forte foi a sua aliança humana e espiritual:
"Vanda mia:
Falas de ti como alguém "que não deu fruto": mas não é verdade, não é a realidade. A alusão à falta de filhos carnais é óbvia; também eu os desejei em tempos, mas nem tu nem eu fomos chamados a isso: a nossa união, nos planos de Deus, não estava destinada a esse fim; de facto, se tivéssemos tido filhos, o plano de Deus para nós não poderia ter sido realizado.
Os nossos verdadeiros filhos são os nossos livros, que vêm não só de mim, mas também de vós. Eles assentam interiormente - como sabeis - em dois pilares: a verdade e a beleza, e sem vós ao meu lado e perante os meus olhos todos os dias, a sua beleza não teria existido, ou teria sido muito atrofiada, ou seja, em suma, não teria existido.
Portanto, a sua vida não foi uma coisa aborrecida, mas, pelo contrário, uma coisa brilhante: foi uma aventura extraordinária como mulher. Porque esses livros - tu também o sabes - tiveram um êxito total, e têm um valor extraordinário. Hoje em dia, nem toda a gente é capaz de compreender isto, porque é confrontada com a falsa cultura dominante. Mas também não há que lamentar: pelo contrário, peço sempre a Deus que - enquanto eu viver - não me conceda a satisfação de um grande sucesso, porque nesse aspeto sou fraca e sucumbiria facilmente à tentação do orgulho.
Se continuarmos a procurar o Reino de Deus, tudo o que precisamos ser-nos-á dado em abundância, como tem acontecido até agora.
Eugenio Corti nasceu em Besana, Brianza, a 21 de janeiro de 1921, sendo o primeiro de dez filhos. É filho de um industrial têxtil autónomo. Começou a trabalhar em criança e depois conseguiu comprar a fábrica onde trabalhava, a empresa Nava di Besana, expandindo-a e abrindo novas fábricas.
Estudou em Milão, no colégio interno de San Carlo, onde fez os estudos de gramática e o bacharelato clássico. Os seus pais tinham-lhe pedido que se tornasse contabilista, para que pudesse ser um assistente valioso na empresa, mas o reitor do colégio, Monsenhor Cattaneo, opôs-se veementemente, pois sabia que para o jovem Eugénio o bacharelato clássico era o caminho mais adequado.
Em 1940, os seus estudos foram subitamente interrompidos e Eugenio não pôde fazer os exames de bacharelato, que foram aprovados ex officio: a Itália entrou na guerra. No entanto, o jovem Corti pôde inscrever-se na Universidade Católica, embora só tenha podido frequentar o primeiro ano de Direito, após o qual foi convocado para o serviço militar.
A formação de suboficial começou em 1941 e durou um ano, no fim do qual Eugène Corti passou a segundo-tenente. Entretanto, transmitiu o seu pedido de envio para a frente russa: "Tinha pedido para ser enviado para essa frente para ver em primeira mão os resultados da gigantesca tentativa de construir um mundo novo, completamente desligado de Deus, ou melhor, contra Deus, levada a cabo pelos comunistas. Queria absolutamente conhecer a realidade do comunismo; por isso pedi a Deus que não me fizesse perder esta experiência, que considerava fundamental para mim: nisto não me enganei".
Corti acabou por vencer e partiu para a Rússia. "Cheguei à frente no início de junho de 1942. Durante um mês a frente não se moveu, depois veio o nosso grande avanço do Donetz para o Don, seguido de meses de estagnação. A 16 de dezembro, começou a ofensiva russa no Don e, a 19, a nossa retirada: nessa mesma noite, o meu corpo de exército viu-se fechado num saco. Tinham-nos ordenado que deixássemos o Don sem combustível para os veículos, pelo que tivemos de abandonar todo o nosso equipamento, sem podermos salvar uma única arma, tendas ou provisões.
Foram os dias mais dramáticos da vida de Corti: os vinte e oito dias de retiro, magistralmente narrados em "I più non ritornano". Na noite de Natal de 1942, fez um voto a Maria: se fosse salvo, dedicaria a sua vida a trabalhar pelo Reino de Deus, a tornar-se instrumento desse Reino com os dons que lhe tinham sido dados: "Se eu fosse salvo, passaria toda a minha vida ao serviço daquele versículo do Pai-Nosso que diz: Venha a nós o vosso Reino".
Só na noite de 16 de janeiro é que alguns sobreviventes conseguiram sair do cerco russo. Dos 229.000 homens do Exército Italiano na Rússia (ARMIR), o número total de mortos em combate e em cativeiro foi de 74.800; dos cerca de 55.000 soldados capturados, apenas 10.000 regressaram. Quanto ao sector de Corti, dos cerca de 30.000 italianos do Trigésimo Quinto Corpo de Exército cercado no Don, apenas 4.000 sairiam do saque, dos quais 3.000 estavam congelados ou gravemente feridos.
Depois do regresso a casa e de uma recuperação difícil, em julho de 1943 regressa ao quartel de Bolzano, sendo depois transferido para Nettunia, de onde, a partir de 8 de setembro, se dirige a pé para sul, acompanhado pelo seu amigo Antonio Moroni, para se juntar ao exército regular. Estes factos, e todos os que se referem à guerra de libertação, são narrados em "Gli ultimi soldati del re". Depois de um período nos campos de rearmamento, Corti oferece-se como voluntário para se juntar às unidades criadas para flanquear os Aliados na libertação de Itália, a fim de salvar a pátria:
"A pátria não se confunde com os monumentos das cidades ou com o livro de história: é o legado que nos deixaram os nossos pais, o nosso pai. São as pessoas que se parecem connosco: a nossa família, os nossos amigos, os nossos vizinhos, aqueles que pensam como nós; é a casa onde vivemos (que nos vem sempre à memória quando estamos longe), são as coisas bonitas que temos à nossa volta. A pátria é o nosso modo de vida, diferente do de todos os outros povos.
De regresso à vida de classe média, o jovem Corti começou a estudar com relutância para agradar aos pais e licenciou-se em Direito em 1947. Nessa altura, o horror que tinha vivido e a incerteza do amanhã tinham mudado para sempre a sua abordagem da realidade que o rodeava. É um veterano e, como tal, esforça-se por se reintegrar na vida comum, nos problemas comuns dos jovens da sua idade. Nesse mesmo ano, publica "I più non ritornano", o seu primeiro livro com Garzanti, sobre o retiro russo, que viveu de forma tão dolorosa. Também em 1947, por ocasião do seu último exame na universidade, conhece Vanda di Marsciano, a mulher que viria a ser sua esposa em 1951.
Nesse ano, Corti começou a trabalhar na indústria do seu pai: não gostava do trabalho, mas continuou a fazê-lo durante cerca de dez anos.
Ao longo das suas crónicas de guerra, é muito importante a análise que Corti faz da forma de combater dos italianos, que são altamente individualistas, instintivamente desequilibrados e propensos à rebelião contra a autoridade: o comportamento dos italianos na guerra representa perfeitamente a sua forma de estar em casa.
O bom coração dos nossos soldados é evidente. Mas é igualmente evidente a dificuldade de trabalhar e de se unir para o bem comum. A cobardia da maioria alternou com o heroísmo e o ardor patriótico de alguns indivíduos e corpos individuais, em particular dos Alpini e dos Corazzieri, excelentes soldados que foram ainda melhores do que os alemães. Outras considerações importantes sobre a guerra e a cultura dizem respeito aos alemães, polacos e russos.
Durante esses anos, Corti dedicou-se a um profundo estudo teórico e histórico do comunismo. Estes estudos, combinados com a sua experiência pessoal em solo soviético, fizeram-no compreender exatamente o que se passava na Rússia; não só isso, mas com uma lucidez intelectual verdadeiramente única, foi capaz de explicar as razões do - inevitável - fracasso da ideologia comunista.
No dia 6 de novembro, foi anunciada a nomeação de Román Pardo como novo decano de Teologia da Universidade Pontifícia de Salamanca. Entrevistámo-lo sobre o papel dos leigos no nosso tempo, na sequência de um congresso que está a decorrer na sua faculdade sobre "Os leigos e o testemunho público da fé".
atrás dois anos num congresso O seminário de leigos do Vaticano quase não teve oradores e participantes leigos. Além disso, a conferência sobre a espiritualidade dos leigos foi dada por um religioso. Este tipo de eventos dá a impressão de que ainda há um longo caminho a percorrer até que os leigos tenham o papel de liderança que o Concílio Vaticano II tentou promover. Esta semana, na Universidade Pontifícia de Salamanca, realiza-se uma conferência sobre "A espiritualidade laical dos leigos".Os leigos e o testemunho público da fé". Conversámos com Román Pardo, professor de Teologia Moral e vice-diretor da Faculdade de Teologia.
- No século XIX, leigos como o Beato Frédéric Ozanam e alguns outros pensadores iniciaram um movimento em França que promoveu a teologia do laicado e foi um precursor da Rerum novarum de Leão XIII. É interessante saber que, neste contexto, havia pessoas de mentalidade progressista e outras muito mais conservadoras, herdeiras da visão do ancien régime. No entanto, ambos tinham a intuição de que os leigos deviam cumprir a missão que tinham recebido no batismo.
- Para além do rito da água, no batismo somos ungidos com óleo, cujo significado é mostrar que o novo cristão partilha com Cristo uma tríplice missão de profeta, rei e sacerdote. Isto significa que os leigos, em virtude do sacerdócio comum, tornam o sagrado presente onde quer que se encontrem; são profetas porque falam de Deus às pessoas que os rodeiam e anunciam o seu Reino e a sua vinda no fim dos tempos.
- A melhor definição que encontrei de leigos é a do dicionário VOX, que diz: "todos os fiéis que pertencem à Igreja Católica, empenhados em difundir a mensagem de Jesus em condições normais de vida".
- O Cardeal Yves CongarDominicano e teólogo francês, promoveu a teologia do laicado na segunda metade do século XX. Insistia que "o laicado corre o risco de ser clericalizado", o que, sem dúvida, está a acontecer hoje. No Vaticano II, a "Lumen Gentium" e a "Gaudium et Spes" abriram novas perspectivas, mas a sensação de muitos teólogos é que, pouco depois, houve uma estagnação. Mesmo na "Christifideles laici" de João Paulo II, publicada em 1988, a compreensão do laicado parece depender da sua inclusão nos movimentos eclesiais que proliferaram na última parte do século passado.
- Por exemplo, no caminho sinodal alemão, vemos a insistência de que os leigos devem participar mais no governo da Igreja, ou que as mulheres devem ter um papel mais importante na liturgia. São aspetos que clericalizam o laicado.
O leigo foi durante muito tempo um sujeito passivo na Igreja. Recebiam os sacramentos, ouviam as pregações, mas há já algum tempo que se procura torná-los sujeitos muito mais activos na vida da Igreja e para além dela.
- Na Igreja existem muitas realidades eminentemente laicais, mesmo que não sejam juridicamente movimentos, desde associações de fiéis a realidades carismáticas, uma prelatura pessoal ou realidades sem uma configuração jurídica específica, como a Emaús ou Effetá. A inserção de todos estes carismas na vida paroquial é muito diferente, pois depende das suas caraterísticas específicas. No entanto, é importante manter um equilíbrio entre a participação no próprio grupo e na vida da paróquia. O Cardeal Martini sonhava que os novos movimentos estivessem inseridos na paróquia, que fossem uma força motriz.
A paróquia é o lugar do cristão, o lugar comum onde todos fazemos Igreja, mas sem esquecer que os leigos também devem estar no lugar onde Deus os encontra. E se for noutra realidade que não a paróquia, que seja. É necessário conjugar estes dois aspectos da melhor maneira possível.
- Bem, talvez possamos insistir no "onde" e no "como" tem de ser. Tem de ser no interior da igreja, mas também no exterior. E dentro da igreja não tem de ser na sacristia, embora também não haja qualquer problema em que seja na sacristia.
Os leigos devem estar conscientes da consagração do batismo, que os torna "sacerdote, profeta e rei", devem tornar Cristo presente no meio do mundo. Temos de sublinhar a identidade secular dos leigos, o seu papel no meio do mundo, enquanto por vezes nos concentramos na eclesiologia ministerial, que debate incansavelmente sobre as funções possíveis na Igreja.
Joseph Evans comenta as leituras do 32º Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.
Há duas mentalidades possíveis. A dos predadores, como os escribas que, como diz Nosso Senhor no Evangelho de hoje, engolem os bens das viúvas a coberto da hipocrisia. Ou a dos protectores: e o primeiro protetor é Deus, que vê a pobre viúva e toma conta dela.
Nas leituras de hoje, há duas viúvas e ambas são heroínas. Isto mostra claramente a diferença entre a visão de Deus e a dos homens. Nós idealizamos o jovem, o belo .... Aos olhos do mundo, a viúva é um desperdício... quem é que se interessa por uma viúva velha?
Mas, aos olhos de Deus, as viúvas são preciosas. Aqueles que são menos valorizados na terra são os mais valorizados por Ele. É como se Ele dissesse: "O mundo não vos valoriza? Bem, eu vou valorizar-te ainda mais. Vou adotar-te e tornar-te especialmente meu..
A viúva da primeira leitura está relacionada com o profeta Elias. Havia fome em toda a região - como castigo pela idolatria do povo - pelo que esta mulher não tinha comida. Só tinha forças e comida para preparar uma pequena refeição para si e para o filho, que se preparava para morrer. Mas Elias desafia a sua generosidade. É como se estivesse a dizer: "Achas que não tens quase nada; então dá-me um pouco disso. Dá da tua pobreza, da tua miséria. Confia em Deus e nunca te faltará nada". A viúva assim o faz e, como recompensa pela sua generosidade, a comida nunca se esgota. Ela tem sempre o suficiente.
O mesmo se passa com a viúva do Novo Testamento. Ela não tinha filhos, não tinha família com quem contar. Não tinha nada. Mas deu o nada que tinha a Deus e Deus viu-o - Jesus é Deus - e abençoou-a.
As viúvas que parecem não ter nada para oferecer ao mundo têm muito para dar. Através da sua generosidade, da sua fé e da sua confiança em Deus. E Deus vê-o e valoriza-o muito. O que os homens não vêem e não valorizam, Deus vê.
Os ricos e poderosos olhavam com desprezo para aquela viúva quando davam as suas grandes quantias. Cristo olhava com alegria e apreço para o que ela dava: eles davam o que sobrava, e provavelmente com orgulho, para se exibirem. Ela deu tudo com humildade. É surpreendente que Jesus tenha reunido os seus discípulos para fazer esta observação. Ele quer mostrar-nos que viu. "Em verdade vos digo". (note-se a insistência), "Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros para o tesouro. Porque os outros puseram o que lhes sobrava, mas esta, que está em necessidade, pôs tudo o que tinha para viver"..
O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.
Após as inundações que devastaram várias vilas e cidades de Valência no início de novembro, os voluntários estão a ajudar as pessoas afectadas no interior de uma igreja.
O Papa Francisco enviou o seu abraço às vítimas do furacão em Valência e pediu orações para todos os espanhóis afectados.
O Papa Francisco enviou o seu afeto às vítimas do furacão em Valência e às outras comunidades afectadas em Espanha.
O Santo Padre pediu publicamente orações por todos os que sofrem com a catástrofe e pediu ao Senhor que interceda e ofereça conforto ao povo espanhol.
Durante a Audiência Geral, o Papa Francisco rezou mais uma vez por Valência. Nesta ocasião, rezou uma Avé Maria com os fiéis diante da imagem da Padroeira, Nossa Senhora dos Desamparados, presente na Praça de São Pedro. Para além disso, o Santo Padre encorajou-nos a rezar com o coração e como filhos de Deus ao Espírito Santo, "o advogado que nos defende".
Antes de iniciar o Público e, no final, o Papa Francisco rezou novamente para as vítimas, as suas famílias e os afetado pelas recentes inundações em Valência e pela sua população, explicando que a imagem da Virgen de los Desamparados que se encontra no pódio lhe tinha sido oferecida como um presente.
"Saudação à Virgem dos Desamparados, padroeira dos Valênciaque sofre muito com a água, e também outras partes de Espanha. Valência, que está debaixo de água e a sofrer. Queria que o santo padroeiro de Valência estivesse aqui, esta imagem que os valencianos me deram", disse.
"Não esqueçamos Valência, Espanha", reiterou. "Hoje a Virgem dos Desamparados, padroeira de Valência, está connosco, convido-vos a rezar uma Avé Maria".
No ciclo de catequeses sobre o Espírito Santo, que já terminou, a sessão Em décimo segundo lugar, o Romano Pontífice dedicou a catequese ao Espírito Santo e à oração cristã, na qual seguiu o texto, mas com vários momentos improvisados em que ensinou a dirigir-se ao Paráclito com o coração, "não como papagaios", e sabendo que "Deus é maior do que o nosso pecado, porque todos somos pecadores".
"O Espírito de Deus é simultaneamente o objeto e o sujeito da oração. Ele é o objeto quando rezamos para o receber, quando lhe pedimos, quando o invocamos", sublinhou o Papa. "Por exemplo, a Igreja implora-o na Santa Missa, para que desça e santifique o pão e o vinho, e é sujeito quando ele próprio reza em nós, ajudando-nos na nossa fraqueza, porque, como diz São Paulo, não sabemos rezar como convém.
O Espírito Santo revela-se na oração como o Paráclito, isto é," como advogado e defensor, que intercede junto do Pai para que possamos saborear a alegria da sua misericórdia. Mas, para além de interceder por nós, o Espírito Santo ensina-nos a interceder pelos nossos irmãos. E esta oração de intercessão agrada a Deus, porque é gratuita e desinteressada. Quando rezamos pelos outros e os outros rezam por nós, a oração multiplica-se.
Na sua saudação aos peregrinos de diferentes línguas, o Papa acrescentou alguns comentários. Por exemplo, aos peregrinos de língua espanhola disse que "neste tempo de preparação para o Jubileu, peçamos ao Espírito Santo que interceda por nós para que sejamos peregrinos de esperança, prontos a seguir Jesus, que é o Caminho, a Verdade e a Vida".
Na sua saudação aos peregrinos polacos, recordou a oração pelos mortos, e aos peregrinos italianos, pediu mais uma vez que rezássemos pela paz na martirizada Ucrânia, em Gaza - recordou os 153 civis metralhados no outro dia -, em Israel, em Myanmar.
Na sua reflexão catequética, o Papa recordou "um outro aspeto, que é o mais importante e encorajador para nós: é o Espírito Santo que nos dá a verdadeira oração. O Espírito", diz São Paulo, "ajuda-nos na nossa fraqueza. Porque nós não sabemos rezar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis; e aquele que sonda os nossos corações sabe qual é o desejo do Espírito, e que a sua intercessão em favor dos santos é segundo Deus" (Rm 8,26-27). (Rm 8,26-27).
"É verdade, não sabemos rezar. A razão desta fraqueza da nossa oração foi expressa no passado por uma única palavra, usada de três maneiras diferentes: como adjetivo, como substantivo e como advérbio. É fácil de recordar, mesmo para aqueles que não sabem latim, e vale a pena tê-la presente, porque só ela contém um tratado inteiro".
"Nós, seres humanos, costumávamos dizer: "mali, mala, male petimus", que significa: sendo maus (mali), pedimos as coisas erradas (mala) e da maneira errada (male). Jesus diz: 'Procurai primeiro o Reino e a justiça de Deus, e todas estas coisas vos serão dadas' (Mt 6,33); por outro lado, procuramos em primeiro lugar 'o extra', isto é, os nossos próprios interesses, e esquecemo-nos completamente de pedir o Reino de Deus".
"O Espírito Santo vem, sim, para nos ajudar na nossa fraqueza, mas faz algo ainda mais importante: testemunha-nos que somos filhos de Deus e põe nos nossos lábios o grito: "Abbá, Pai!" (Rm 8,15; Gl 4,6)", sublinhou.
Damos início a uma série de artigos sobre o cristianismo neerlandês. Neste primeiro artigo, uma síntese das origens do cristianismo nos Países Baixos, a Reforma Protestante e o renascimento católico até 1940.
Os Países Baixos, popularmente conhecidos como Holanda, são uma terra de contrastes: apesar de quase não possuir recursos naturais, é uma grande potência económica graças ao desenvolvimento técnico e à capacidade de trabalho da sua população, 18 milhões de habitantes que vivem num território doze vezes mais pequeno do que a Espanha. A densidade populacional é uma das mais elevadas do mundo.
Um quinto da superfície do país encontra-se abaixo do nível do mar e foi "conquistado" ao mar ao longo dos séculos. Grande parte do país é um delta para onde correm rios como o Reno e o Mosa. Apesar dos seus solos arenosos pobres, os Países Baixos têm uma produção agrícola considerável graças a métodos agrícolas avançados.
A luta contra o mar e, de um modo mais geral, o controlo da água nos inúmeros canais, rios e lagos, forjaram o carácter neerlandês. A sua história é feita pelo mar. Antes de os habitantes destas terras construírem os primeiros diques, escreveu o historiador romano Plínio, o Velho (47 d.C.):
"Duas vezes por dia, uma imensa maré oceânica varre uma vasta extensão de terra e resolve a eterna disputa sobre se essa região pertence à terra ou ao mar. Ali, este povo vive em montes ou plataformas construídas no nível mais alto atingido pelo mar. Nelas construíram as suas cabanas, e quando a maré está alta são como marinheiros nos seus navios, mas quando está baixa parecem mais náufragos, pois à volta das suas cabanas caçam peixes que se retiram com o mar (...) Recolhem lama à mão, secam-na ao vento e depois ao sol, e usando esta terra como combustível [turfa], aquecem os seus alimentos e as suas próprias entranhas, congeladas pelo frio do norte. E tais povos dizem ser escravos quando são conquistados pelo povo romano".
Plínio não conseguia compreender por que razão os habitantes da zona costeira da atual Holanda e Alemanha (os frísios) não queriam deixar a sua vida precária e tornar-se súbditos do Império Romano. E, de facto, nunca o foram. Quando os romanos abandonaram estas regiões no século V, dando lugar a vários povos bárbaros, os frísios mantiveram-se independentes. Só séculos mais tarde é que começaram gradualmente a misturar-se com os francos e outros povos, mantendo uma grande autonomia nas zonas costeiras.
Embora o sul do atual país tenha sido cristianizado no século IV, só três séculos mais tarde é que o monge inglês São Willibrordo chegou ao norte do país para evangelizar os frísios. Mesmo assim, os habitantes das zonas costeiras conservavam muitos costumes pagãos; foram necessários séculos para que a cultura fosse verdadeiramente cristianizada. Vários missionários, entre os quais São Bonifácio (+754), foram mortos na Frísia.
Provavelmente já no século X, cada região cuidava das suas barragens, com um sistema eficazmente organizado de representantes populares que, com grande autonomia em relação às autoridades centrais e regionais, exerciam as suas funções de controlo da qualidade e de manutenção. O primeiro "Conselho da Água" (Waterschap) do delta do Reno foi criado em 1255, reunindo várias pequenas associações locais. Atualmente, existem 21 "Conselhos" deste tipo em todo o país.
Ao serviço das comunidades locais, garantindo a sua segurança, contribuíram grandemente para o desenvolvimento de uma mentalidade prática, solidária e autossuficiente, com aversão ao centralismo e à acumulação de poder. Estas caraterísticas moldaram a forma como os neerlandeses, ao longo da história, lutaram por aquilo que consideravam ser os seus direitos, quer na esfera política, económica, ideológica, moral ou religiosa.
Poder-se-ia dizer que o modo de ser holandês se caracteriza por um grande amor à liberdade (por vezes, próximo do individualismo), pelo anti-centralismo e pelo pragmatismo. São mais pragmáticos do que intelectuais. Têm também uma tendência moralizadora, na linha do ditado popular: "um país de pastores [pregadores protestantes] e comerciantes".
A importância que os holandeses atribuíam ao seu direito à autodeterminação (também económica) foi, sem dúvida, uma das razões do êxito da revolta nos Países Baixos, quando Filipe II exigiu uma lealdade total, expressa no pagamento de impostos elevados para financiar as múltiplas guerras. O apoio à revolução não parece ter sido determinado principalmente por factores religiosos, uma vez que muitas das províncias que se separaram do monarca permaneceram maioritariamente católicas até muito mais tarde.
A Reforma Protestante nos Países Baixos foi essencialmente calvinista. Mais do que os luteranos, foram os calvinistas que mais fervorosamente apoiaram os interesses de Guilherme, Príncipe de Orange e líder da revolta contra Filipe II. Em 1573, Guilherme, sob pressão dos líderes calvinistas mais radicais e contra as suas tendências tolerantes, proibiu o culto católico nas duas primeiras províncias que conseguiu arrancar à autoridade espanhola.
Em 1581, as sete províncias mais setentrionais tornaram-se independentes e formaram os Estados Gerais, que iriam governar o conglomerado de províncias reunidas na República Federal. Embora não fosse um governo confessional, a Igreja Reformada Holandesa e os seus membros gozavam de uma posição privilegiada, enquanto outros grupos - católicos, judeus, anabaptistas e outros - sofriam discriminação.
Mesmo assim, os católicos holandeses continuaram a ser maioritários durante o século XVII, constituindo a população total das sete províncias do Norte. Os que permaneceram católicos tornaram-se cidadãos de segunda classe. Embora não fossem geralmente obrigados a converter-se ao calvinismo, eram alvo de uma discriminação considerável: não podiam estudar, não podiam exercer qualquer cargo público, não podiam prestar culto publicamente e estavam proibidos de ter uma hierarquia eclesiástica e de contactar com padres.
A Holanda de hoje tornou-se, para todos os efeitos, uma "terra de missão", servida por clérigos ou religiosos mais ou menos clandestinos que dependiam da Núncio Apostólico em Colónia ou Bruxelas. Após décadas sem qualquer contacto com os padres e com poucas oportunidades de culto católico, a maioria dos católicos do norte dos Países Baixos voltou-se gradualmente para o calvinismo.
E o que aconteceu no Sul? As discriminações contra os católicos também se verificaram nas províncias do Sul, que foram posteriormente anexadas pela República e que formavam uma zona fronteiriça com as regiões que permaneceram sob o domínio espanhol na atual Bélgica. Estas províncias meridionais dos Países Baixos, Limburgo e Brabante, cujas capitais são Maastricht e 's-Hertogenbosch, permaneceram maioritariamente católicas até ao final do século XX. No entanto, o calvinismo, enquanto forja cultural, teve uma grande influência em toda a mentalidade e cultura neerlandesas, também nestas zonas predominantemente católicas.
A ocupação francesa (1795-1813) pôs fim à república holandesa. Napoleão restituiu - pelo menos legalmente - alguns direitos civis e religiosos aos católicos. Nos termos da lei, os católicos e outros grupos minoritários deixaram de ser cidadãos de segunda classe e houve mesmo uma tentativa de restaurar a hierarquia. Mas este processo de emancipação iria prolongar-se por várias décadas. Após mais de dois séculos de opressão, a parte católica da população era constituída principalmente por camponeses e comerciantes com pouca cultura, influência ou poder económico. Em 1815, por vontade dos governadores das várias províncias e com grande apoio popular, os Países Baixos tornaram-se uma monarquia constitucional, com Guilherme I como rei (descendente do insurreto Príncipe Guilherme de Orange).
Com a restauração da hierarquia, em 1853, a emancipação dos católicos (que constituíam 38% da população) ganhou um novo impulso. Para ultrapassarem o seu atraso económico e cultural em relação aos seus concidadãos protestantes, tinham de se ajudar mutuamente, e fizeram-no com mestria. Guiados pelos seus bispos recém-nomeados e apoiados por numerosas ordens e congregações religiosas, puseram literalmente mãos à obra: entre 1850 e 1920, construíram cerca de 800 igrejas, fundaram escolas e hospitais, publicaram jornais e criaram uma estação de rádio católica.
Em 1923, construíram o Universidade Católica de NijmegenO primeiro católico a tornar-se primeiro-ministro assumiu o cargo em 1918, e o partido católico que representava participou em todos os governos do país entre 1918 e 1945.
Nalguns casos, este ressurgimento dos católicos e a sua crescente influência na sociedade resultaram em mal-estar e até em protestos por parte do establishment protestante, que se sentiu ameaçado por este bloco, que até então não tinha visibilidade, nem voz, nem voto, mas que se estava a tornar uma força inegável a todos os níveis.
Os católicos, por seu lado, sentiam-se ameaçados não só pelos grupos protestantes, mas também por outros de tendência iluminista, liberal ou socialista. Por isso, os católicos começaram a criar instituições confessionais para se protegerem e ajudarem mutuamente. Pretendiam, assim, criar um contexto adequado para viver a sua fé e facilitar o seu desenvolvimento e emancipação. A frequência da missa, a receção dos sacramentos e uma elevada taxa de natalidade atingiram níveis inimagináveis e impensáveis na maioria dos países católicos.
Assim, os católicos construíram um muro social à volta do "seu mundo" e isolaram-se gradualmente, vendo os não católicos como estranhos e concorrentes, se não mesmo inimigos. As instituições ditas "católicas" abrangiam não só os aspectos religiosos, mas também a educação e a cultura e, pouco a pouco, todos os domínios da sociedade: a imprensa, a rádio e a televisão, o campo sindical ou laboral, as corporações, a política e até as actividades recreativas e desportivas.
Esta situação, que - embora em menor grau - também se verificou entre os liberais, os socialistas e os protestantes, deu origem às chamadas "colunas": secções ou parcelas auto-suficientes da população que viviam praticamente sem contacto com os outros grupos populacionais (as outras "colunas"). Os protestantes, os liberais, os socialistas e, sobretudo, os católicos foram assim agrupados desde o berço até ao túmulo, distanciando-se dos outros grupos populacionais. Estas colunas eram aquilo a que hoje chamaríamos bolhas sociais.
Colunização: o processo através do qual a quase totalidade da sociedade neerlandesa se segregou de forma mais ou menos espontânea e livre em diferentes grupos - ou colunas-Católico, protestante e, em menor grau, liberal e socialista.
Segundo o famoso historiador católico Louis Rogier, uma parte importante da identidade de um católico holandês na primeira metade do século XX consistia nisto: "Não sou protestante". Isto traduzia-se num controlo social eficaz que, inconscientemente, favorecia a mentalidade de grupo. E quem eram os líderes do grupo? Sobretudo padres e religiosos, uma vez que a maioria dos leigos não estava bem formada e preparada. De facto, um grande número de clérigos não só dirigia paróquias ou outras instituições religiosas, como também fazia parte dos órgãos de gestão e aconselhamento de jornais, estações de rádio e televisão, partidos políticos, sindicatos, etc.
O resultado não é surpreendente: um grupo ou projeto bastante uniforme de pressão política, social e mediática. Era aquilo a que se chamava "a causa católica" ("de Roomsche Zaak"), em que a vida espiritual era gradualmente colocada em segundo plano e o movimento social de ajuda aos católicos em primeiro plano. Como consequência, a Igreja em geral e o clero em particular adquiriram muito poder, que utilizaram geralmente para ajudar a população católica, mas não exclusivamente no domínio espiritual. Nalguns casos, houve excessos e partidarismos, criando-se um espírito de grupo que facilmente abafava o legítimo desejo de liberdade em matéria temporal. É frequente a ingerência do clero nos assuntos temporais, que, embora relacionados com a "causa católica", podem prejudicar a sua missão espiritual.
Num próximo artigo, veremos como a "colunização" nos Países Baixos, com a consequente interferência do clero na vida social, política, familiar e pessoal dos católicos, - na melhor das hipóteses - não favoreceu o desenvolvimento da liberdade interior entre os católicos, especialmente no que diz respeito à sua prática religiosa.
Se recebermos o Espírito Santo, os Seus dons e frutos, seremos capazes de sentir os sentimentos mais puros e genuínos para atingir a altura e a dignidade dos filhos de Deus. Isso é viver uma vida saudável.
Que grande promessa! Foi-nos oferecido um espírito de coragem, de bom senso, de domínio dos instintos irracionais, para alcançarmos uma mente sã, a fortaleza moral, a sabedoria e a paz.
Celebramos o Espírito Santo no dia de Pentecostes, pedimo-lo no crisma, mas não nos damos conta de que Ele é a força constante ou o "modus operandi" de cada dia do nosso caminho de fé. Porque Jesus foi a semente de Deus na terra, e o Espírito Santo, a semente de Jesus no coração de cada convertido e batizado.
O Espírito Santo é o dom supremo de Jesus quando nos disse em John 14, 16... "Eu rogarei ao Pai e ele dar-vos-á outro protetor que ficará sempre convosco, o Espírito da Verdade, que reconhecereis e que ficará sempre convosco". Versículo 26 e seguintes: "O Espírito Santo, o intérprete que o Pai vos enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á tudo o que vos tenho dito".
O grande consolador, o tradutor e transcritor do Pai, recordar-nos-á, explicará e ensinar-nos-á todas as palavras e obras que Jesus disse e fez. Se hoje temos a memória de Deus e dos Evangelhos sobre os ensinamentos e as obras de Jesus, é porque o Espírito Santo cumpriu a sua missão. Por outras palavras, em João 14, Jesus também nos confirma que o Espírito Santo é o mestre, o consolador dos corações perturbados e aquele que nos ajudará a compreender e a recordar o que lemos na Bíblia e o que aprenderemos sobre Deus e a sua palavra.
A mente humana tem o hábito de recordar mais o negativo do que o positivo; de recordar primeiro o que nos fez chorar do que o que nos fez rir. O Espírito Santo foi incumbido de nos ajudar a recordar os belos ensinamentos e os feitos vitoriosos de Jesus, e é também o Espírito Santo que é o grande consolador, o conselheiro divino e o ajudante da graça de Deus nos momentos intensos de cura interior das memórias dolorosas que nos atormentam.
O Espírito declara a nossa fome e necessidade de Deus e ajuda-nos a descobrir e a identificar a nossa verdadeira essência para podermos rezar com mais exatidão. Como diz Gálatas 5:16: "Andai no Espírito e assim não cumprireis a concupiscência da carne. Ou seja, precisamos do Espírito Santo para vencer a batalha do domínio dos instintos e das tendências humanas. A luta contra os desejos da carne não é apenas uma luta contra a luxúria ou a perversão: é também uma luta contra as tendências para o pessimismo, o egoísmo, a violência física e psicológica, o apego às coisas materiais, a falta de caridade e a rebelião espiritual.
Isaías 11,2 continua a descrever o grande dom do Espírito Santo: diz: "E repousará sobre ele o Espírito de Javé, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor de Deus". Por outras palavras, Ele é o doador da inteligência sobrenatural, da força, do discernimento e do sentido de reverência para com Deus.
Em Filipenses 1,5, S. Paulo deseja "que o mesmo espírito de Cristo esteja em todos nós". Para amar e simpatizar misericordiosamente como Cristo, vamos ter de abandonar a nossa natureza humana e assumir a Sua natureza divina. Caso contrário, nascemos para o egoísmo, o distanciamento, o julgamento severo e até mesmo o comportamento antissocial. Amar à maneira de Deus é aprender a sentir como Cristo sentiu e a agir como Ele agiu quando a misericórdia estava no centro de todas as Suas acções.
Viver no Espírito é viver com coragem, perseverança, alegria, resiliência e santidade. É viver em nobreza espiritual, com discernimento sábio, buscando a vontade de Deus. É estar disposto a travar grandes batalhas com grande coragem, a dominar o humano para viver na dimensão espiritual. Porque se não espiritualizarmos a vida, a vida humanizará a nossa fé. Viver na dimensão espiritual é sempre preferir os caminhos de Deus, as expectativas de Deus, falar com a linguagem da fé, rezar como rezaram as almas puras e santas, e sentir os sentimentos mais sublimes que não são fabricados nas mentes e corações feridos dos seres humanos danificados, mas na mente e intenções santificadas que vemos manifestadas pelos apaixonados por Deus.
Viver no Espírito é desprendermo-nos do que já não nos pertence para irmos em busca do que nos é predestinado. Priorizar sempre as decisões da vida de acordo com a ordem divina, optando pela verdade em detrimento da mentira, sem se preocupar com o que o mundo pensa, julga ou sugere; apenas com o que Deus quer e deseja. Por outras palavras, ser e agir de acordo com o desígnio e a vontade de Deus.
Quem anda no Espírito ama sempre a Deus com reverência, sublinhando a supremacia do seu amor, declarando ter fome e sede da sua palavra, da oração, dos sacramentos, e desejoso de viver experiências mais sublimes, espirituais e sobrenaturais.
Viver no Espírito é ser dimensionado na vida, não pelas feridas do passado, mas em direção à visão do futuro: livre de escravidão, dependências, co-dependências e escravidões. Porque a única maneira de Satanás nos manter na sua é amarrar-nos em cativeiro físico e mental, para criar em nós um espírito de escravidão espiritual. Mais uma razão para precisarmos de ser libertados pelo Espírito Santo. O prazer do inimigo é tornar-nos escravos; o prazer de Deus é libertar-nos.
O Espírito Santo, na sua missão libertadora, gostaria de nos libertar:
1 - memórias persistentes de fracasso,
2 - a dor do abandono ou da deceção de quem precisa,
3 - o sentimento de culpa,
4 - ressentimentos e ódios perniciosos,
5 - estigmatização por abuso, violação, violência,
6 - perdas irreparáveis,
7 - servidão, vícios, escravatura,
8 - pecado pessoal ou dano causado pelo pecado de outros,
9 - depressão, ansiedade, amargura,
11 - sentimento de irrelevância ou crise existencial,
12 - um sentimento de falta de esperança.
O Espírito Santo dá-nos o grande dom da paz do coração. É a paz que nos reconcilia com as histórias e as personagens das nossas histórias. É a paz que se torna a camada impermeável da alma perante o insulto, a ofensa, a rejeição, o desamor. A paz é a irmã da fé e a autora da esperança. É a paz que nos dá autoridade sobre os pensamentos debilitantes e os sentimentos militantes. A paz é a ponte para a felicidade. Sem paz no coração, ninguém é feliz.
Viver no espírito é viver acreditando em Deus e nas suas promessas. Isaías 43,1 diz de forma tão bela: - "Eu criei-te. Não temas, porque eu te salvei. Chamei-te pelo teu nome e tu és meu. Se atravessares um rio, eu estarei contigo e a corrente não te levará. Se passares pelo meio das chamas, não te queimarás, porque eu sou Javé, teu Deus, e para te salvar darei Egipto, Etiópia e Saba em vez de ti, porque te amo e és preciosa para mim.
Quando vivemos no Espírito, podemos experimentar o que São Paulo disse em Romanos 8,31-37, "Se Deus é por vós, quem será contra vós? Quem vos poderá separar do amor de Deus? Nem a provação, nem a aflição, nem a perseguição, nem a fome, nem a angústia, nem a doença, nem a espada, nem o perigo, nem a morte... de tudo isto sairemos mais do que vencedores... porque nada vos pode separar do amor de Deus em Cristo Jesus".
Quando vivemos no Espírito, podemos professar o que São Paulo disse de forma impressionante em Filipenses 4,11-13: "Sei viver humildemente e sei ter abundância; estou preparado para tudo, quer esteja saciado, quer tenha fome, quer tenha abundância, quer tenha necessidade.
As receitas para uma vida saudável em todos os domínios e experiências humanas encontram-se em Gálatas 5, 22-23. Segundo a Bíblia católica, os frutos do Espírito Santo são doze e estão enumerados como Caridade, Alegria, Paz, Paciência, Longanimidade, Bondade, Benevolência, Mansidão, Fidelidade, Modéstia, Continência, Castidade.
Que mais procuramos? Se recebermos o Espírito Santo, os seus dons e frutos, seremos capazes de sentir os sentimentos mais puros e genuínos para atingir a altura e a dignidade dos filhos de Deus. Isso é viver uma vida saudável.
Um jovem estudante conta à Omnes a sua experiência como voluntário na limpeza e ajuda às famílias de Aldaia e Paiporta, afectadas pelo DANA.
Tudo começou com um e-mail da Universidade de Valência: as aulas de amanhã foram canceladas devido às chuvas. A mensagem chegou enquanto eu estava a jantar e fiquei muito surpreendido, pois não fazia ideia da dimensão da situação. Acho que ninguém tinha.
A manhã seguinte passou normalmente, o céu estava nublado, mas quase não caiu uma gota de água durante a manhã. Valência capital. Como estudante universitário, aproveitei a oportunidade para estudar, evitando a catástrofe que estava a acontecer a poucos quilómetros da minha faculdade.
O quadro mudou às oito da noite, quando a mensagem da Proteção Civil chegou ao meu telemóvel. A calma de não ter aulas chegou ao fim, e eu continuava sem saber o que estava a acontecer.
Comecei a aceder às redes sociais e aos principais meios de comunicação social para saber o que se estava a passar. As cidades onde vivem os meus amigos de turma estavam completamente inundadas, os carros estavam a ser arrastados e as pessoas estavam fechadas em casa à espera da resposta de um ente querido à pergunta: "Estás bem? Nunca antes essa pergunta ou a última ligação do Whatsapp tinha feito tanto sentido. Entretanto, sem saber como reagir, saí para o terraço para tentar perceber o que se passava. Recebi a chamada da minha mãe, ela queria saber como eu estava e eu respondi que estava tudo bem. Mas quando desliguei o telefone, perguntei-me se era assim tão grave o que estava a acontecer.
Acordei na manhã seguinte com uma sensação muito estranha. Vejo cada vez mais vídeos do drama. De forma completamente espontânea, organizou-se um carro na residência para ir a uma cidade próxima, Aldaia, para ajudar. Pouco a pouco, a notícia espalhou-se e mais residentes se ofereceram para conduzir mais carros, até que éramos 30 voluntários que partiram sem saber realmente o que nos esperava ou a que horas voltaríamos.
Quando saí do carro, vi a realidade de uma cidade de 31.000 habitantes completamente devastada e enterrada pela lama. Embora pareça que através do ecrã se pode ver o que está realmente a acontecer, não há comparação quando se vive a experiência em primeira mão e se olha para o chão e não se consegue ver o sapato, porque está completamente submerso na lama. Em Aldaia, percorremos as ruas perguntando aos vizinhos se precisavam de ajuda, e aí também me perguntei porque é que eles tinham de viver esta catástrofe e não eu ou a minha família.
Em Aldaia, parámos para ajudar um lar de idosos dirigido por freiras da Imaculada Conceição. Quando nos viram chegar, os seus rostos iluminaram-se; ainda hoje não sei bem porquê. Ter a força de sorrir naqueles momentos de adversidade é algo que certamente ficará comigo para o resto da minha vida, e espero poder seguir esse exemplo. Ajudámos em tudo o que pudemos, levando-lhes comida e tentando salvar os poucos móveis que ainda podiam ser usados.
Nessa mesma tarde, fui trabalhar para o meu jornal, Supersport. Foi nessa altura que tomei plena consciência da catástrofe que ocorreu a poucos minutos de carro do meu colégio. Colegas que considero amigos perderam as suas casas, os seus carros e até as suas mulheres nos seus locais de trabalho, um deles a sua mulher grávida de quatro meses. Pouco depois de chegar, saí à entrada para telefonar aos meus amigos com quem vivo, muitos deles ainda em Aldaia. Organizámos uma excursão para o dia seguinte a Paiporta, a cidade onde a catástrofe teve origem. Caminhámos durante mais de uma hora carregados de mantimentos, mas não estávamos sozinhos; uma enorme fila de milhares de voluntários, cheios de solidariedade e de afeto, acompanhava-nos.
Apesar de serem tantas pessoas, sem qualquer desejo de reconhecimento, nem sequer um simples "obrigado", começámos a ajudar. Lá estava eu em casa de uns idosos, juntamente com um amigo basco do Colegio Mayor, a tirar lama de um quarto. O que mais nos surpreendeu foi ver a parede: viam-se fotografias do casamento dos donos da casa manchadas de lama. A linha que marcava a altura que a água tinha atingido no fatídico dia da inundação tinha um metro e oitenta, uma altura a que eu me teria afogado. E, por alguma razão desconhecida, não fui eu, mas centenas de pessoas.
Quando chegou a hora combinada, partimos para casa e, no regresso, ainda havia uma fila enorme de pessoas prontas a ajudar. Mas não é suficiente. É necessária ajuda profissional para salvar os bens daqueles que perderam absolutamente tudo. E depois de uma viagem de uma hora e meia para lá e de uma hora e meia para cá, penso que as vítimas me ajudaram mais com a sua generosidade e os seus sorrisos do que eu as ajudei a elas.
Fabrice Hadjadj e José Fernández Castiella tiveram uma conversa sobre vocação e liberdade na Librería Modesta.
A agenda preenchida de Fabrice Hadjadj durante a sua recente visita a Espanha incluiu tempo para um animado debate com o padre José Fernández Castiella. Os temas abordados foram o matrimónio, a liberdade, a vocação e o celibato, a propósito do livro "...".O casamento, a grande invenção divina".
O encontro teve lugar na Livraria Modesta, o que foi particularmente oportuno, porque, como salientou Hadjadj, "há uma ligação muito forte entre o casamento e a leitura, a leitura de belas histórias. Porque o facto de nos podermos aventurar no casamento é também porque ouvimos histórias boas e bonitas, porque continuamos a acreditar nesta aventura maravilhosa. Penso que existe uma ligação muito forte entre a livraria, a leitura e o casamento, e hoje em dia estamos a assistir a uma perda do sentido de contar histórias no casamento, porque também perdemos o sentido da leitura. É por isso que é ótimo estarmos nesta livraria 'modesta', uma livraria modesta mas com uma concentração muito forte de inteligência e de palavras".
Fabrice Hadjadj abordou a natureza do matrimónio na perspetiva da "narrativa de um drama", em que o peso de problemas e situações insolúveis se manifesta em muitas dimensões, incluindo a falta de realização no exercício da sexualidade. Esta mesma narrativa dramática pode ser vista como um reflexo do "drama" da História da salvação do povo de Israel por Deus. Fernández Castiella, por sua vez, levou a argumentação para o terreno antropológico, atribuindo ao fim sobrenatural do desejo humano a causa do matrimónio, que "está sempre pendente de uma plenitude a atingir e, por isso, mantém o seu carácter projetivo".
A liberdade pessoal desempenha um papel decisivo na configuração da vocação matrimonial, porque a promessa, a relação incondicional e total que suscita e o compromisso com o futuro, fazem com que o matrimónio deva ser considerado, segundo José Fernández, como "a vocação paradigmática que concentra os elementos essenciais do humano e a partir da qual se devem entender todas as vocações", incluindo a sua, a de sacerdote.
Por isso, sublinhou a confluência entre vocação e liberdade com uma frase do livro de Hadjadj "A Profundidade dos Sexos": "A vontade de Deus é o desejo dos homens".
O filósofo francês abordou a questão do celibato sacerdotal fazendo uma analogia com a circuncisão como mutilação e selo divino no povo de Israel, enquanto o autor espanhol defendeu a ideia de que a Eucaristia é a companhia que tira o celibatário da solidão. Ambos concordam que casamento e celibato que se reclamam mutuamente e se enriquecem mutuamente.
A moderadora do encontro, Paula Hermida, descreveu a castidade em termos do impulso para o imediatismo que caracteriza a nossa sociedade. Se a tradição católica, nomeadamente a de S. Tomás de Aquino, considerou a castidade como parte da virtude da temperança, Hadjadj considera que ela faz parte da justiça, uma vez que se refere às relações com os outros, e a pessoa casta é aquela que é capaz de "dar a cada um o que é seu".
Neste sentido, o autor francês explicou que a castidade intensifica a feminilidade ou a masculinidade, ao que o padre centrou o seu discurso na falta de castidade como fragmentação que reduz a pessoa à sua genitalidade.
"A educação para a castidade não consiste tanto em reprimir uma pulsão como em alargar o olhar para ver o outro no seu ser e na sua biografia completos. Esta é a fonte do respeito. Por isso, é necessária uma educação pela beleza que eduque o olhar e recupere o sentido contemplativo que integra todas as dimensões", afirma Castiella.
Em relação à possibilidade de ser feliz nesta narrativa dramática do matrimónio e aos medos que impedem a audácia de embarcar em aventuras. Hadjadj recorreu a exemplos da literatura para defender a exemplaridade, ao que Castiella defendeu a urgência "de assumir livremente o papel principal no seu próprio drama biográfico e considerou que o problema da falta de audácia não é o medo, mas a falta de grandeza de alma".
Este longo caminho sinodal enriqueceu as Igrejas particulares e toda a Igreja universal, pois constituiu um forte apelo à unidade dos bispos diocesanos e do colégio dos bispos com o Santo Padre, Pastor universal da Igreja de Deus.
Com o Documento Final do Sínodo dos Sínodos, chega ao fim o caminho sinodal, no qual a Igreja universal procurou recuperar a tradição inveterada do encontro e da troca de esperanças, primeiro nas dioceses ou eparquias, depois em conjunto com todas as Igrejas particulares, nas conferências episcopais e, finalmente, no Sínodo Geral dos Bispos, que se realiza de dois em dois anos desde o encerramento do Concílio Vaticano II em Roma.
A corresponsabilidade e o apelo a sentir que somos todos Igreja e que a Igreja de Jesus Cristo está destinada a durar até ao fim dos tempos, sempre jovem e sempre reformada, a escutar o Espírito Santo e a ser dócil às suas indicações e a levar a mensagem da salvação cristã até ao último canto da terra.
O documento final do Sínodo que acaba de terminar é a ser publicado em italiano com data de 26 de outubro de 2024, recorda, nos seus primeiros números, como foi realizado o Sínodo de Roma, após dois anos de intenso trabalho e dois períodos especialmente dedicados a esta tarefa, juntamente com o Santo Padre.
Os frutos deste Sínodo estão expressos no documento final, que será recordado pela sua estatura, profundidade e exposição magistral, que conjuga a universalidade de toda a Igreja com constantes referências à sua aplicação nas Igrejas particulares. Foi elaborado com visão e metodologia sinodais e deverá ser concretizado nas Igrejas particulares através da convocação periódica de Sínodos e Conselhos Provinciais, como recorda o direito em vigor (n. 129).
Foram dois anos de Sínodo em Roma, que estudou as conclusões de muitos Sínodos nas Igrejas particulares e que se resolveu voltando à tradição da Igreja do primeiro milénio, onde caminhámos juntos a Igreja do Oriente e a do Ocidente sob um único Pontífice Romano.
O Documento Final do Sínodo que acaba de terminar em Roma está profundamente ligado ao Concílio Vaticano II e ao recente magistério da Igreja. Desde os seus primeiros números, reflecte o espírito de comunhão de todas as Igrejas particulares com o Romano Pontífice e o entusiasmo ecuménico, mais uma vez expresso como uma súplica ao Espírito Santo.
Sem dúvida, a sinodalidade foi reavivada em torno do chamado universal à santidade, como proclamado na Constituição Apostólica "Lumen Gentium" (n. 11) e que São João Paulo II retomou na "Novo Milenio Ineunte" sob a afirmação "a pastoral do século XX seria a pastoral da santidade" (n. 2). Precisamente durante o pontificado do Papa Francisco houve um ritmo intenso de beatificações e canonizações e também de beatificações de mártires das perseguições religiosas do século XX.
O Documento Sinodal está solidamente fundamentado nas Fontes da Revelação transmitidas ao Magistério da Igreja e renovadas nos últimos anos nos trabalhos teológicos e universitários de todo o mundo. As constantes referências à Tradição Apostólica e à Sagrada Escritura constituem as raízes de um documento destinado a perdurar por muitos anos. Às fontes teológicas junta-se a metodologia sinodal aplicada nas fases diocesana e nacional e também na aula do próprio Sínodo em Roma.
A primeira coisa que chama a atenção no Documento Final do Sínodo que acaba de se concluir em Roma é o facto de o Santo Padre o ter assumido como seu, uma vez que esteve a trabalhar nele, a discuti-lo na própria sala sinodal e, com a autoridade suprema que lhe corresponde, expressa que é um fruto do Espírito Santo.
De imediato, o documento expressa a importância da conversão pessoal para poder produzir os escritos e conduzir as sessões sinodais. A graça da conversão era necessária para escutar o Espírito Santo falando a cada um dos padres sinodais. Como no documento do Santo Padre de convocação do 25º Jubileu em Roma, o documento final do Sínodo expressa a importância de pedir perdão pelos danos causados à "criação, aos migrantes, aos mais necessitados, aos povos indígenas, às crianças, às mulheres, aos doentes e aos descartados" (n.6).
O Papa Francisco recordar-nos-á neste documento final que toda a Igreja sinodalmente convertida deve renovar o seu compromisso com as missões e o espírito missionário, também no primeiro mundo, onde devemos levar a semente do Evangelho e o anúncio da salvação (n. 11).
Como é sabido, o Papa João Paulo II, na Encíclica "Ut unum sint", recordou a importância de estudar o exercício do ministério petrino no primeiro milénio do cristianismo, quando ainda não existia a Cisma oriental de Miguel Cerularius de 1054. Uma das conclusões do Congresso organizado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé para responder a este desafio foi a de recuperar a sinodalidade (nn. 18, 28, 31) que na Igreja Ortodoxa tinha continuado a ser vivida desde então, enquanto na Igreja Católica tinha permanecido apenas para a aplicação dos grandes concílios, Trento ou o Concílio Vaticano II e outras ocasiões previstas pela Lei (n. 129).
Conhecer este facto ajuda a compreender a ênfase do Sínodo na sinodalidade e o horizonte ecuménico de que este documento final do Sínodo está profundamente imbuído (n. 139).
Resumo esquemático dos principais discursos e audiências que tiveram lugar no Vaticano durante o mês de novembro.
No seu discurso aos participantes no Conferência de todas as religiõesFrancisco sublinha o valor do diálogo num contexto global marcado pela "intolerância e pelo ódio".
Na mensagem do Cardeal Koch ao Patriarca Ecuménico Bartolomeu I Por ocasião da festa de Santo André, Francisco apela a um esforço comum e à oração para "acolher o dom divino da unidade".
O Papa Francisco recebe a Comissão Teológica Internacional e encoraja-a a desenvolver uma teologia da sinodalidade.
O Papa disse a uma audiência que pretende deslocar-se a Niceia (atual Turquia) em 2025 para celebrar o 1700º aniversário do primeiro concílio.
Audiência com os religiosos e religiosas do Família Calasanctiana.
Na Audiência Geral, o Papa encoraja "evangelizar com alegriae apoiar os ucranianos". No seu discurso aos peregrinos de diferentes línguas, às quais se juntará em breve o chinês, Francisco encorajou-os a irradiar a alegria, fruto do encontro com Jesus, no Advento que começa no domingo.
"Praça de São Pedro"A nova revista em que o Papa responde aos fiéis. Nas suas páginas serão abordados temas actuais, desde os desafios da família até às várias formas de exclusão. Foram também anunciadas duas novas webcams no Vaticano, uma no túmulo do apóstolo Pedro e outra na Porta Santa, para viver o Jubileu também "de longe".
O documento final do Sínodo será aceite como magistério pontifício ordinário. O Papa pede que seja implementado nas dioceses e que os bispos comentem os progressos efectuados durante as suas visitas "ad limina".
Num encontro com a comunidade académica do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II, o Papa Francisco sublinhou a importância de a Igreja não só promover o casamento como base da família, mas também promover a família como base da família. alargar a sua ação pastoral as pessoas que vivem em união de facto e as divorciadas que voltaram a casar.
O Santo Padre participa num evento para comemorar o 40º aniversário da tratado de paz entre a Argentina e o Chile em 1984, que determina a solução completa e definitiva para o litígio sobre o Canal de Beagle.
O Papa recorda que o diálogo é o único caminho possível para a paz e a reconciliação a paz na Terra Santa. O Papa recebeu em audiência o Conselho Universal para a Paz, que envolve jovens de diferentes culturas e credos na promoção da paz no Médio Oriente.
Na solenidade de Cristo Rei do Universo, durante a meditação que acompanha a AngelusO Papa Francisco salientou que "Jesus salva a criação, porque Jesus liberta, Jesus perdoa, Jesus dá paz e justiça. Mas é essencial escutar a sua voz e reconhecê-lo como "Rei" nos nossos corações.
No Público, o Papa afirmou que "os leigos não são uma espécie de colaboradores externos ou de tropas auxiliares do clero, mas têm os seus próprios carismas e dons com os quais podem contribuir para a missão da Igreja".
O Papa Francisco anunciou esta manhã a canonização do Beato Carlo AcutisO jovem italiano que morreu aos 15 anos de leucemia fulminante e que se caracterizava por um grande amor à Eucaristia.
O Papa envia um mensagem para a reunião do G20. O texto foi lido pelo Cardeal Parolin e apela à reorientação dos fundos militares para a luta contra a desigualdade e à tomada de decisões corajosas para garantir a dignidade e a alimentação de todos.
O Papa Francisco convida para o Angelus dar às coisas "o seu devido peso" e refletir sobre "o que acontece e o que fica na nossa vida", lembrando que não devemos apegar-nos às coisas da terra, mas às palavras de Jesus que nos guiam para a vida eterna.
O Pontífice preside à Santa Missa por ocasião da 8º Dia Mundial dos Pobres e apela a toda a Igreja, aos governos dos Estados e às organizações internacionais: "por favor, não esqueçam os pobres".
O Papa irá reúne-se com seminaristas de Pamplona, Tudela e San Sebastian.
Francisco envia uma carta aos sacerdotes, religiosos e clérigos da sua diocese, convidando, na perspetiva do Jubileu, as várias realidades eclesiais a disponibilizarem alojamentos ou apartamentos próprios vazios para "travar a emergência habitacional", "gerar esperança" e ativar "formas de proteção" para os sem-abrigo ou em risco de perder a casa.
Na primeira assembleia sinodal das Igrejas em Itália, na basílica de S. Paulo Fora dos Muros, de 15 a 17 de novembro, Francisco dirige uma mensagem de encorajamento para que o que foi recolhido nestes últimos anos se traduza em escolhas e decisões evangélicas, como uma Igreja aberta à escuta do Espírito. Ele exorta os bispos a serem paternais e amorosos, assumindo a responsabilidade do que será decidido.
O Papa encontrou-se com um grupo de Libertação de reféns israelitas em Gaza.
Numa mensagem dirigida aos participantes de uma reunião sobre o bem comum organizado pela Pontifícia Academia para a Vida, o Papa Francisco sublinhou a necessidade de procurar a justiça em "toda a defesa da vida humana". Para ele, "é muito importante recordar o bem comum, uma das pedras angulares da doutrina social da Igreja".
Francisco saúda os participantes na conferência dos Dicastério para as Causas dos Santos.
O Santo Padre continuou a sua catequese sobre o Espírito Santo, nesta ocasião O Papa sublinhou a relação entre o Paráclito e a Virgem Maria. Começou por recordar a expressão tradicional "Ad Iesum per Mariam", ou seja, "a Jesus por Maria".
Nada de relevante.
O Santo Padre recebido em audiência os membros do Santo Sínodo da Igreja Siro-Malankar Mar Thoma, que visitam pela primeira vez a Igreja de Roma para trocar o abraço da paz com o seu Bispo. A eles, o Pontífice encorajou-os a "continuar o diálogo", na esperança "de que isso apresse o dia em que possamos partilhar a mesma Eucaristia".
Durante o Angelus No domingo, o Pontífice reflectiu sobre a responsabilidade social de cada cristão, baseada no Evangelho. O Santo Padre pediu aos católicos que se distanciassem da hipocrisia dos fariseus que Cristo denuncia, e encorajou todos a "fazer o bem sem aparências e com simplicidade".
O Papa Francisco recebeu o Patriarca Assírio Mar Awa trinta anos após a assinatura da "Declaração Cristológica Comum" por João Paulo II e Mar Dinkha IV, que pôs fim a 1500 anos de controvérsia doutrinal entre a Igreja Católica e as Igrejas Orientais. A audiência contou com a presença de membros da Comissão Mista para o Diálogo Teológico.
Num comunicado, a Universidade Lateranense apresenta a nova estrutura da universidade, composta por muitos leigos. Uma mudança em conformidade com os estatutos da Pul e que será articulada em várias frentes para relançar o seu desenvolvimento e a sua vocação inata de ser um lugar de encontro e de diálogo.
O Papa nomeia Frei Pasolini como o novo pregador da Casa PontifíciaSucede a Cantalamessa, outro franciscano famoso que ocupava este cargo desde 1980.
O Papa recebeu em audiência os voluntários e os sem-abrigo do grupo "O Papa e os sem-abrigo".A gravidez no centro"Recordou que a ajuda é também "um simples sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito".
O Santo Padre encontrou-se com o seminaristas em Toledo.
No Público em geral O Papa Francisco voltou a rezar por Valência diante da imagem da sua Padroeira, Nossa Senhora dos Abandonados, presente na Praça de São Pedro. Além disso, o Santo Padre encorajou-nos a rezar com o coração e como filhos de Deus ao Espírito Santo, "o advogado que nos defende".
Fernando Enrique Ramon Casas e Arturo Javier Garcia Perez nomeados bispos auxiliares de ValênciaA diocese teve de esperar muito tempo pelo desastre da DANA.
O Papa profere uma conferência magisterial na Universidade Gregoriana. No regresso da conferência visitou Emma BoninoAntigo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, que teve recentemente alta do hospital.
O Vaticano anuncia que o Papa vai criar um novo cardeal, para além dos já anunciados. Será o Arcebispo de Nápoles, Domenico Battaglia.
O Papa recebe os participantes do terceiro encontro de "O Papa e o mundo".Hospital de campanha de Igrejas". Francisco agradeceu-lhes o seu empenho a favor dos refugiados, dos pobres e dos sem-abrigo.
O Santo Padre continua a apelar a orações por Valência e reflecte no Angelus deste domingo sobre se "o amor a Deus é o centro da minha vida".
Do Cemitério LaurencianoEm Roma, o Santo Padre preside a uma missa por todos os fiéis defuntos.
O Papa celebra a festa de Todos os Santos e reza pela paz na oração do Angelus.
As imagens das trágicas inundações que varreram as cidades da Comunidade Valenciana deram a volta ao mundo. Muitas paróquias e propriedades eclesiásticas foram danificadas, mas a partir desses mesmos lugares, os crentes têm trabalhado para ajudar os afectados.
Mais de vinte sacerdotes diocesanos estão a desenvolver o seu trabalho pastoral nas zonas mais afectadas pela tragédia. A partir dos seus centros paroquiais, por vezes convertidos em centros logísticos de alimentos e materiais, tentam aliviar as necessidades básicas das populações. Como é sabido, a ajuda está a demorar muito tempo a chegar e há ainda muito trabalho a fazer em termos de reconstrução e acompanhamento. Para além da ajuda direta que milhares de voluntários enviaram durante este fim de semana prolongado, em muitas paróquias espanholas as recolhas deste domingo destinaram-se à Caritas de Valência. A bizum criado por esta entidade (38026) pode ser uma forma simples e segura de colaborar.
O delegado episcopal da Cáritas Espanhola, Luis Miguel Rojo, salientou em Alfa y Omega que "muitos dos nossos voluntários foram afectados, perderam as suas casas ou, pior ainda, os seus familiares ou amigos. Os nossos voluntários fazem parte do tecido social: estavam lá antes, estão lá agora e continuarão a estar lá quando quase não nos lembrarmos do que aconteceu".
O padre Gustavo Riveiro, mostra uma imagem recuperada do Cristo reclinado da paróquia de São Jorge: "a sua imagem com o rosto cheio de lama lembra-nos os mais de cem mortos em Paiporta, o número de desaparecidos ainda não quantificável, e as suas famílias, que é a verdadeira tragédia, a das pessoas que perderam a vida. Tudo o resto será recuperado quando for possível, e se for possível...".
Outra imagem que deu a volta ao mundo mostra o padre Federico Ferrando com uma freira e alguns voluntários na cidade de Paiporta.
A paróquia de Nuestra Señora de Gracia em La Torre, cuja foto está no topo deste artigo, tornou-se um centro de recolha de alimentos e bens de primeira necessidade. É a imagem viva da Igreja como hospital de campanha. Juntamente com a colaboração da Câmara Municipal e da Proteção Civil, coordena mais de 200 voluntários que diariamente levam a cabo este centro logístico que atende às necessidades primárias da população.
O Arcebispo de Valência, Enrique Benavent, visitou a paróquia e as principais localidades destruídas para acompanhar os afectados e manifestar a sua proximidade e apoio. A Diocese de Valência agradece as manifestações de solidariedade que chegam constantemente, tanto de Espanha como de outros países.
No angelus que o Papa No domingo, dia 3, na Praça de São Pedro, pediu que se continuasse a rezar por Valência, "que sofre tanto nestes dias", e interpelou diretamente os fiéis com duas perguntas: "O que é que eu faço pelo povo de Valência? Rezo, ofereço alguma coisa? Pensem nesta pergunta.
Alguns dias antes, a 31 de outubro, tinha manifestado a sua solidariedade num vídeo enviado a Luis Argüello, presidente da Conferência Episcopal Espanhola.
Durante a sua visita à Bélgica e ao Luxemburgo, o Papa Francisco levou uma mensagem de esperança e um espírito de serviço às pessoas com quem se encontrou.
O Papa Francisco efectuou uma visita pastoral à Bélgica de 26 a 29 de setembro. e o Luxemburgo.
As lições que emergiram desta breve e intensa visita foram organizadas em torno de dois slogans: "Servir" e "A caminho, com esperança".
"Servir" era o seu lema no LuxemburgoUm país empenhado, após a Segunda Guerra Mundial, em promover a unidade e a solidariedade na Europa.
No seu encontro com a comunidade católica na catedral de Notre-Dame de Luxembourg, inaugurou um Jubileu Mariano para assinalar quatro séculos de devoção à Virgem Maria. Maria, Consoladora dos aflitos, Padroeira do país.
Fez uma pausa para pensar em três palavras: serviço, missão e alegria.. Em relação ao serviço, sublinhou o espírito de acolhimento: "Encorajo-vos a permanecerem fiéis a esta herança, a esta riqueza que possuem, a continuarem a fazer do vosso país uma casa acolhedora para todos os que batem à vossa porta pedindo ajuda e hospitalidade."(Discurso, 26-IX-2024). Um dever de justiça e de caridade, que leva, como disse João Paulo II neste país em 1985, a partilhar a mensagem do Evangelho "na palavra do anúncio e nos sinais do amor".. Francisco insistiu na unidade entre a palavra do anúncio e os sinais do amor, neste momento na Europa e no mundo.
No que diz respeito ao missãoEle salientou que a Igreja, no contexto de uma sociedade secularizada como a europeia, deve progredir, amadurecer e crescer: "...a Igreja, no contexto de uma sociedade secularizada como a europeia, deve progredir, amadurecer e crescer: ".Não se fecha em si mesma, triste, resignada, ressentida, não; mas aceita o desafio, na fidelidade aos valores de sempre, de redescobrir e revalorizar de forma nova os caminhos da evangelização, passando cada vez mais de uma simples proposta de pastoral para uma proposta de anúncio missionário.".
Em terceiro lugar, sublinhou que a nossa fé ".é alegre, "dançante", porque nos mostra que somos filhos de um Deus amigo do homem, que nos quer felizes e unidos, e que nada o faz mais feliz do que a nossa salvação.".
Ya na Bélgica A visita papal - uma ponte entre o mundo germânico e o mundo latino, entre o sul e o norte da Europa, entre o continente e as ilhas britânicas - decorreu sob o lema "A caminho, com esperança".
Para além de constatar as "duas calamidades" do tempo presente, o inverno demográfico e o inferno da guerra, Francisco sublinhou que a Igreja está consciente das dolorosas anti-testemunhas que existem no seu seio, a saber abuso de criançasTanto o Rei da Bélgica como o Primeiro-Ministro referiram-se a eles nos seus discursos. O Papa indicou que é necessário pedir perdão e resolver esta situação com humildade. É necessário, acrescentou, "que a Igreja encontrará sempre em si mesma a força para agir com lucidez e não se conformar com a cultura dominante, mesmo quando esta utiliza - manipulando-os - valores que derivam do Evangelho, mas apenas para deles tirar conclusões ilegítimas, com o consequente peso do sofrimento e da exclusão". (Reunião com as autoridades e a sociedade civil, Bruxelas, 27-IX-2024).
No mesmo dia 27 de setembro, o sucessor de Pedro reuniu-se com os professores universitários da Universidade Católica de Lovaina. Começou por enunciar a primeira tarefa da universidade: ".Oferecer uma formação completa para que as pessoas adquiram as ferramentas necessárias para interpretar o presente e projetar o futuro". Nesta linha, salientou que as universidades devem ser "espaços geradores" de cultura, de paixão pela busca da verdade e ao serviço do progresso humano".Em particular, os ateneus católicos, como este, são chamados "a dar o contributo decisivo do fermento, do sal e da luz do Evangelho de Jesus Cristo e da Tradição viva da Igreja, sempre aberta a novos cenários e a novas propostas"." (Const. ap. Veritatis gaudium, 3).
Neste contexto, o Papa convidou-os a "alargar as fronteiras do conhecimento".. "Não se trata de -explicou. para aumentar noções ou teorias, mas para fazer da formação académica e cultural um espaço vital que abraça a vida e a questiona.".
Desta forma, será possível vencer as tentações do pensamento fraco (e relativista) e do racionalismo cientificista ou materialista. Duas tentações relacionadas entre si por uma renúncia ou reducionismo em relação à verdade.
"Por um lado, estamos imersos numa cultura marcada pela renúncia à procura da verdade; perdemos a paixão inquieta de investigar, para nos refugiarmos no conforto do pensamento fraco - o drama do pensamento fraco - para nos refugiarmos na convicção de que tudo é igual, de que uma coisa vale o mesmo que outra, de que tudo é relativo".
"Por outro lado, quando se fala de verdade na universidade e noutros contextos, cai-se muitas vezes numa atitude racionalista, segundo a qual só pode ser considerado verdadeiro aquilo que podemos medir, experimentar e tocar, como se a vida se reduzisse apenas à matéria e ao visível. Em ambos os casos, os limites são reduzidos".
Em relação a estas duas atitudes, o Papa falou de "cansaço do espírito" e de "racionalismo sem alma", ilustrando-os com Kafka e Guardini. A procura da verdade é certamente cansativa", disse, "porque nos envolve, nos interpela e nos interroga; e por isso "Somos mais atraídos por uma 'fé' fácil, leve e cómoda, que nunca questiona nada".. Por outro lado, se a razão se reduz ao material, perde-se a maravilha, e então o itinerário do pensamento falha e a questão do sentido da vida, que só pode ser plenamente reconhecido em Deus, é silenciada.
Por isso, é necessário invocar o Espírito Santo para alargar as fronteiras, não só dos refugiados, mas também da cultura e do conhecimento, sobretudo ao serviço dos mais fracos (cf. A. GeschéDeus para pensar, Salamanca 2010).
No sábado, 28 de setembro, o Papa encontrou-se com bispos, sacerdotes e agentes pastorais belgas na Basílica de São Pedro. Sagrado Coração de Koekelberg. Para enfrentar o momento atual, propôs três caminhos: a evangelização, a alegria e a misericórdia..
Estamos no meio de um tempo e de uma crise que nos convida a regressar ao caminho essencial: a evangelização. "Um tempo - a Bíblia chama-lhe 'kairos' - que nos foi oferecido para nos abalar, desafiar e mudar.". A crise manifesta-se no facto de que ".passámos de um cristianismo estabelecido num quadro social acolhedor para um cristianismo "minoritário", ou melhor, um cristianismo de testemunho.".
Isto, observa Francisco, exige a coragem de uma conversão eclesial, para enfrentar as transformações necessárias em termos de costumes, modelos de referência e linguagens de fé, para que possam estar melhor ao serviço da evangelização (cfr. Evangelii gaudium, 27). Concretamente, precisamos de estar mais abertos às exigências do Evangelho para superar a uniformidade e abrirmo-nos à diversidade, para chegarmos mais e melhor a uma sociedade que já não o escuta ou que se afasta da fé.
O segundo caminho a seguir é a alegria. "Não se trata de -O Papa explica. das alegrias associadas a algo momentâneo, nem de se entregar a modelos de escapismo ou de divertimento consumista; mas de uma alegria maior, que acompanha e sustenta a vida mesmo nos momentos sombrios ou dolorosos, e essa é uma dádiva que vem do alto, de Deus.".
É, portanto, a alegria do coração que o Evangelho suscita: "...".É saber que, ao longo do caminho, não estamos sozinhos e que, mesmo em situações de pobreza, pecado e aflição, Deus está perto de nós, cuida de nós e não permitirá que a morte tenha a última palavra.". Deus está perto, próximo.
Neste ponto, Francisco citou uma frase de Joseph Ratzinger, antes de se tornar papa, quando escreveu que uma regra de discernimento é a seguinte: "onde morre o humor, nem sequer existe o Espírito Santo (...) E vice-versa: a alegria é um sinal da graça." (O Deus de Jesus Cristo, Brescia 1978).
Em terceiro lugar, há o itinerário da misericórdia., A misericórdia é necessária para mudar os nossos corações de pedra perante o sofrimento, especialmente o das vítimas de abusos ou daqueles que estão presos por erros cometidos, porque ninguém está perdido para sempre.
Antes de se despedir, o Papa evocou um quadro do pintor belga René Magritte, intitulado O ato de fé: "Representa uma porta fechada por dentro, mas com uma abertura no centro, aberta para o céu. É uma abertura que nos convida a ir mais além, a olhar para a frente e para cima, a nunca nos fecharmos em nós próprios, a nunca nos fecharmos em nós próprios.".
E acrescentou: "Deixo-vos com esta imagem, como símbolo de uma Igreja que nunca fecha as suas portas - por favor, nunca fecha as suas portas -, que oferece a todos uma abertura ao infinito, que sabe olhar para além. Esta é a Igreja que evangeliza, que vive a alegria do Evangelho, que pratica a misericórdia.".
O Papa alegrou-se com o encontro com os estudantes universitários na Aula Magna da Universidade Católica de Lovaina (28-IX-2024). Saudaram-no com um hino alusivo à encíclica Laudato si' em estilo jazz. De seguida, foi-lhe lida uma carta em que lhe eram lançados alguns desafios, incluindo a crítica a certos aspectos da doutrina católica. Francisco, na sua resposta, retomou as preocupações sobre o futuro e as ansiedades sobre a incerteza, ao mesmo tempo que sublinhou que a esperança é da nossa responsabilidade.
No que se refere ao desenvolvimento integral, salientou que "refere-se a todas as pessoas em todos os aspectos da sua vida: físico, moral, cultural, sócio-político; e opõe-se a qualquer forma de opressão e de descarte. A Igreja denuncia estes abusos, comprometendo-se antes de mais com a conversão de cada um dos seus membros, de nós próprios, à justiça e à verdade. Neste sentido, o desenvolvimento integral apela à nossa santidade: é uma vocação para uma vida justa e feliz, para todos.".
Depois de aludir ao papel da mulher na Igreja e à importância do estudo, referiu-se à busca da verdade, sem a qual a vida perde o sentido. "O estudo faz sentido quando procura a verdade, quando tenta encontrá-la, mas com espírito crítico [...]. E ao procurá-la, compreendemos que somos feitos para a encontrar. A verdade faz-se encontrar, é acolhedora, disponível, generosa. Se desistirmos de procurar a verdade em conjunto, o estudo torna-se um instrumento de poder, de controlo sobre os outros". Acrescentou: "E confesso que me entristece quando encontro, em qualquer parte do mundo, universidades que apenas procuram preparar os estudantes para o lucro ou para o poder. É demasiado individualista, sem comunidade".
O deputado quis também sublinhar a relação entre verdade e liberdade: "Se quereis liberdade, procurai e testemunhai a verdade! Tentando ser credíveis e coerentes através das mais simples decisões quotidianas.".
Finalmente, na homilia da missa de domingo, 29 de setembro, o Papa desenvolveu o trinómio abertura, comunhão e testemunho. E anunciou que iria iniciar o processo de beatificação do rei Balduíno, para que "pelo seu exemplo de homem de fé, iluminar os governantes".. Na véspera, junto ao túmulo deste soberano católico (que em 1992 abdicou durante 36 horas para não assinar a lei sobre a legalização do aborto provocado), Francisco pediu para imitar o seu exemplo numa altura em que o ".leis penais". e desejou que a sua causa de beatificação avançasse.
Recensão do livro recentemente publicado por José Francisco Serrano Oceja, Igreja e poder em Espanhauma síntese para compreender o desenvolvimento da Igreja no último século.
José Francisco Serrano Oceja. Igreja e poder em Espanha. Do Vaticano II à atualidade. Arzalia ediciones, Madrid 2024, 375 pp.
José Francisco Serrano Oceja (Santander, 1968), professor de jornalismo na Universidade San Pablo-CEU de Madrid e professor de história contemporânea, acaba de publicar um interessante ensaio sobre as relações entre a Igreja e a sociedade civil, desde o Concílio Vaticano II até aos nossos dias. Vejamos o que se passa.
Neste ensaio, o Professor Serrano Oceja mostra uma mistura natural entre a sua faceta de historiador e a de comunicador religioso, conseguindo uma síntese aceitável tanto em termos do seu estilo de escrita como do tratamento diferente das questões.
De facto, o livro começa com uma exposição extraordinária das relações entre a Igreja e o Estado no século XIX, o século mais complicado da nossa história. Por um lado, descreve esta parte da história do século XIX centrando-se nas relações entre liberais conservadores e liberais progressistas e no seu reflexo constante ao longo do século na sua animosidade comum contra a Igreja Católica. De facto, os detentores do poder praticaram a descristianização de um país que não tinha passado pelo verdadeiro iluminismo.
O desmoronamento da confiança na Igreja, a destruição gradual dos argumentos católicos na vida social e cultural e a destruição gradual dos argumentos católicos na vida social e cultural tornar-se-ão cada vez mais visíveis.
Tentaram mudar o modo de pensar através de Constituições, mudanças de governo, escárnio na imprensa, nos teatros e através de blasfémias e, sobretudo, de um anticlericalismo atroz misturado com sucessivas desvinculações que deixaram a Igreja Católica espanhola incapaz de exercer a caridade para com os necessitados ou de prover às suas necessidades mais precárias.
Desde a chegada do século XX e a chegada do krausismo e da formação de uma nova intelligentsia, serão dados cada vez mais passos para conduzir a uma guerra civil de extermínio e destruição fraterna. O país será dividido até ao âmago, família a família e ambiente a ambiente.
O estudo de Serrano Oceja sobre o século XX e a Guerra Civil de Espanha é exato, breve e contundente. As coisas só podiam acontecer como aconteceram, porque tudo estava perfeitamente programado para fazer de Espanha um banco de ensaio do que viria a ser a emergência das ideologias e o seu confronto até à morte, primeiro na Península Ibérica e depois no velho continente europeu.
No final da Segunda Guerra Mundial, tanto a Espanha como a Europa estavam a reconstruir-se, e a Espanha estava presa à presença de uma ditadura e à conivência da Igreja com um regime que não tinha outras armas para se sustentar senão evitar a todo o custo a liberdade política.
A partir dos anos 60, o livro torna-se um estudo das relações dos bispos com um regime que estava a ser derrotado pela cultura e nas ruas, tanto na universidade como na classe operária que lhe virava as costas.
Como afirmou o Professor Julio Montero, tanto os intelectuais como os profissionais liberais viveram à margem da política até à morte do ditador, altura em que tomaram o poder.
A base documental com que o autor aborda a segunda parte do livro, desde o Concílio Vaticano II até à atualidade, é retirada do ensaio publicado em 2016 com Pablo Martín de Santa Olalla (Encuentro, 294 pp). Daí a confiança com que expressa, sobretudo, a difícil situação da Igreja sob os governos de Felipe González, sobretudo em matéria de educação.
Antes de mais, é de louvar a delicadeza com que foi tratada a Assembleia Paritária de bispos e padres, que deveria terminar em setembro de 1971 e cujas actas o Cardeal Tarancón entregaria ao próprio Paulo VI antes do início do Sínodo dos Bispos desse ano.
O fenómeno da contestação e da manipulação dos votos levou a conclusões que não correspondiam ao pensamento da maioria do clero, mas de alguns que acabariam por abandonar o ministério sacerdotal.
O autor faz um esforço para tentar desviar as culpas e aproximar-se da origem da divisão do clero em Espanha e do início da animosidade de parte do clero contra o Opus Dei, por causa da questão do "documento romano". É claro que os mesmos que capitalizaram a manobra acabaram por suprimir a condenação do clero pelo Dicastério, em troca de enterrar o Conjuncto.
Logicamente, Serrano Oceja, evita entrar no fenómeno do protesto que ocorreu após o conclusão do Concílio Vaticano II e que o Papa Bento XVI resumiu com o dilema entre a hermenêutica da continuidade com a tradição da Igreja e a hermenêutica da rutura, como a dos neo-modernistas que ainda hoje existem, metamorfoseados na "ditadura do relativismo".
No final deste trabalho, devemos perguntar-nos porque é que a Igreja e, especificamente, os bispos, quase não têm eco na opinião pública e porque é que os seus documentos perderam interesse e influência entre os intelectuais espanhóis. Talvez a explicação se deva à secularização da sociedade espanhola, como reflectirá Serrano Oceja ao falar de uma sociedade que votou sucessivamente no PSOE, enquanto recebia com grande entusiasmo as visitas de São João Paulo II a Espanha. Também pode acontecer que a Igreja deva apresentar as suas propostas para os problemas com maior clareza, com base na revelação cristã e apelando às raízes cristãs da Europa, como recordaram João Paulo II e Francisco.
A súplica a "Maria, Rainha dos Santos, para que nos ajude a "fazer da nossa vida um caminho de santidade"; a oração pelos mortos, especialmente pelos nascituros, e por Valência, com a pergunta "o que estou a fazer pelo povo de Valência"; e a reflexão no Angelus deste domingo sobre se "o amor a Deus é o centro da minha vida", marcam estes dias do Papa Francisco.
O Vaticano, as instituições eclesiásticas como a Cáritas e muitas outras, com o Papa Francisco à cabeça, habituado à inclemência e à guerra, estiveram e continuam a estar muito atentos à dura situação que se vive na Comunidade Valenciana, provocada por uma gota de frio ou Dana, que levou centenas de pessoas, as suas casas, os seus pertences e os seus bens, deixando tantas famílias a sofrer e arruinadas.
Hoje, no Angelus, o Romano Pontífice dedicou a última parte do Angelus a pedir que "as armas sejam silenciadas, que as conversações prossigam" (para a paz), que "rezemos pelos mártires da Ucrânia, da Palestina, de Israel, de Myanmar, do Sudão do Sul" e que "continuemos a rezar por Valência e pelos outros povos de Espanha que sofrem tanto nestes dias. O que estou a fazer pelo povo de Valência? Rezo, ofereço alguma coisa? Reflictam sobre estas questões", disse o Santo Padre.
A noite de 29 de outubro e a madrugada de 30 de outubro marcaram a vida e a morte de centenas de espanhóis, vítimas do Dana. O Romano Pontífice enviou uma mensagem de vídeo e falou por telefone com o Arcebispo de Valência, Monsenhor Enrique Benavent, na qual reiterou o seu "....proximidade ao povo de Valência".
Na sexta-feira, dia de Todos os Santos, 1 de outubro, no oração No Angelus, o Papa rezou "pelos defuntos e seus entes queridos e por todas as famílias. Que o Senhor sustente os que sofrem e os que os ajudam. A nossa proximidade ao povo de Valência.
Ao mesmo tempo, milhares de voluntários deslocavam-se para ajudar, como mostram as imagens, de muitas partes de Espanha e também da vizinha França.
Pouco antes de rezar a oração mariana da AngelusNo seu discurso, o Papa tinha recordado que "hoje, solenidade de Todos os Santos, Jesus proclama no Evangelho as Bem-aventuranças, documento de identidade do cristão e caminho de santidade (cf. Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, 63)".
Ele mostra-nos um caminho, o caminho do amor, que ele próprio percorreu ao fazer-se homem, e que para nós é simultaneamente um dom de Deus e a nossa resposta". E, depois de citar o Beato Carlo Acutis, Francisco disse que "isto leva-nos ao segundo ponto: a nossa resposta".
"De facto, o Pai celeste oferece-nos a sua santidade, mas não no-la impõe. Ele semeia-a em nós, faz-nos saboreá-la e ver a sua beleza, mas depois espera e respeita o nosso "sim". Deixa-nos a liberdade de seguir as suas boas inspirações, de nos deixarmos envolver pelos seus projectos, de fazer nossos os seus sentimentos (cf. Dilexit nos, 179), colocando-nos, como Ele nos ensinou, ao serviço dos outros, com uma caridade cada vez mais universal, aberta e dirigida a todos, ao mundo inteiro".
Vemos este serviço na vida dos santos, acrescentou o Papa. "Pensemos, por exemplo, em São Maximiliano Kolbe, que em Auschwitz pediu para tomar o lugar de um pai de família condenado à morte; ou em Santa Teresa de Calcutá, que passou a vida ao serviço dos mais pobres entre os pobres; ou em Dom Óscar Romero, assassinado no altar por ter defendido os direitos dos últimos contra os abusos dos bandidos.
Neles, como em tantos outros santos - os que veneramos nos altares e os da "porta ao lado", com os quais convivemos todos os dias -, reconhecemos irmãos e irmãs modelados pelas bem-aventuranças: pobres, mansos, misericordiosos, famintos e sedentos de justiça, pacificadores. São pessoas 'cheias de Deus', incapazes de ficar indiferentes às necessidades do próximo; testemunhas de caminhos luminosos, que também são possíveis para nós".
E depois as perguntas: "Peço a Deus, na oração, o dom de uma vida santa? Deixo-me guiar pelos bons impulsos que o seu Espírito suscita em mim? E comprometo-me pessoalmente a praticar as bem-aventuranças do Evangelho nos ambientes em que vivo? Que Maria, Rainha de todos Santosajuda-nos a fazer da nossa vida um caminho de santidade".
Este sábado, o Papa celebrou a liturgia do dia 2 de novembro em comemoração do falecido no Cemitério Laurenciano de Roma. Antes, parou no Jardim dos Anjos, uma área dedicada ao enterro de crianças que não viram a luz, onde rezou diante das lápides rodeadas de jogos e estatuetas e cumprimentou um pai que perdeu a sua filha. A missa não teve homilia, mas um momento de meditação e oração.
No Evangelho deste Domingo XXXI No primeiro dia do Tempo Comum, a liturgia apresenta-nos uma das muitas discussões que Jesus teve no Templo de Jerusalém. Um dos escribas aproxima-se dele e pergunta-lhe qual é o primeiro de todos os mandamentos, explicou o Papa no início do seu discurso antes da recitação do Angelus.
"Jesus responde juntando duas palavras fundamentais da lei mosaica: 'Amarás o Senhor teu Deus e amarás o teu próximo'". A questão é também essencial para nós, para a nossa vida e para o nosso caminho de fé: onde é que posso encontrar o centro da minha vida", prosseguiu Francisco.
"Jesus dá-nos a resposta unindo dois mandamentos que são os principais: amarás o Senhor teu Deus e amarás o teu próximo. Este é o coração (...) Jesus diz-nos que a fonte de tudo é o amor, que nunca devemos separar Deus do homem. Tudo deve ser feito com amor. O Senhor perguntar-nos-á, antes de mais, sobre o amor".
"Façamos o nosso exame de consciência quotidiano e perguntemo-nos: o amor a Deus e ao próximo está no centro da minha vida? Reconheço a presença do Senhor no rosto dos outros? Que a Virgem Maria, que trazia a lei de Deus impressa no seu coração imaculado, nos ajude a amar a Deus e aos irmãos", concluiu o Papa antes de rezar o Angelus com os romanos e os peregrinos na Praça de São Pedro.
Temos de adotar um estilo de vida em que cultivemos todas as nossas capacidades e cresçamos como seres humanos. Este é um dos maiores desafios sociais que enfrentamos nesta era da Internet.
Nicholas Carr, no seu livro de 2010 "Superficial, what is the internet doing to our minds?" analisa a forma como o advento da Internet afectou a nossa forma de pensar. Uma das conclusões a que este autor chega é que, tal como o título sugestivo do livro indica, a Internet tornou-nos mais superficiais.
Na sua reflexão, Nicholas Carr lamenta ter perdido a capacidade de concentração. A sua mente costumava ser como uma picareta que concentrava toda a sua energia na ponta para abrir caminho através da terra. Agora, tornou-se uma bola de aço que, quando atinge a terra, dispersa toda a energia numa miríade de pontos e é incapaz de abrir uma vala. Apenas consegue amolgar o solo.
O facto é que, por muito que nos digam e até valorizem positivamente, as pessoas não são multitarefas. Não podemos ocupar-nos de várias frentes ao mesmo tempo. Só podemos concentrar a nossa capacidade numa. O resto das acções que realizamos nesse momento, fá-lo-emos automaticamente. Na realidade, quando dizemos que fazemos várias operações ao mesmo tempo - o que definimos como multitarefa - tudo o que estamos a fazer é dirigir a nossa atenção de uma tarefa para outra alternadamente, gastando muita energia em cada mudança. Com a agravante de que, como muitos autores descrevem, esta forma de utilizar a nossa mente torna-a mais frágil e dispersa.
É por isso que o aparecimento da Internet afectou a nossa capacidade de atenção. Analisando a sua própria experiência, Nicholas Carr comentou que a vida na Internet alterou a forma como o seu cérebro procurava informação, mesmo quando estava "offline", quando não estava na Internet e tentava, por exemplo, simplesmente ler um livro. Descobriu que a sua capacidade de se concentrar e refletir diminuiu porque agora ansiava por um fluxo constante de estímulos.
De facto, todos nós já experimentámos a forma como a leitura de textos na Web nos leva constantemente a atender às chamadas de atenção das notícias ligadas. Saltamos de uma notícia para outra, sem as terminar. Ficamos dispersos. É por isso que, muitas vezes, começamos a ler um artigo, mas acabamos por navegar na Internet durante muito tempo antes de acabarmos de ler o que era a nossa primeira intenção.
Nicolas Carr resume tudo numa frase significativa: "No passado, eu era um mergulhador num mar de palavras. Agora deslizo pela superfície como um tipo num jet ski. Estou certo de que muitos de nós nos vemos reflectidos nesta afirmação.
Esta situação só se multiplicou desde o ano de publicação deste livro. O ano de 2010 é o ano da chegada maciça do smartphone aos nossos bolsos. A partir desse momento, com a última geração de telemóveis, passámos a ter a Internet constantemente na ponta dos dedos. Desde o nosso bolso até à nossa mesa de cabeceira. Desde então, temos podido navegar nesse sexto continente, como lhe chamei Bento XVIA nova tecnologia é muito mais fácil do que antes, quando precisávamos de um computador para nos ligarmos à rede.
A chegada do smartphone às nossas vidas foi uma mudança revolucionária. Está verdadeiramente a mudar as nossas mentes e está a ter consequências que mal conseguimos vislumbrar. Talvez a mais dramática seja o impacto que está a ter na saúde mental dos nossos jovens.
Jonathan Haidt, autor do livro "A Geração Ansiosa"., analisa o impacto que este dispositivo teve nos jovens. Estudando as estatísticas, confirma o aumento exponencial dos suicídios e dos problemas de saúde mental entre os jovens nos últimos anos. Aponta precisamente 2010, o ano em que o telemóvel com Internet foi massivamente incorporado, como o momento em que esta estatística disparou.
O telemóvel com acesso à Internet teve um grande impacto em todos nós. Moldou as nossas mentes e as nossas vidas. A começar pelo facto mais simples. A imensa quantidade de tempo gasto, que nos retirou tempo para socializar. Mas também nos tirou o tempo de sono a todos, sobretudo aos mais novos. A acessibilidade do smartphone, presente na mesa de cabeceira quando nos deitamos, as séries da plataforma, que consumimos compulsivamente, em capítulos curtos, uns atrás dos outros, perturbam seriamente o sono. Esta diminuição do sono é um dos factores que mais tem contribuído para o tsunami de doenças mentais nos adolescentes.
Não podemos esquecer que as redes sociais, e a Internet em geral, foram concebidas para serem viciantes. Dispõem de um processo comportamental perfeitamente estudado para nos viciar e manter o mais tempo possível. Equipas de psicólogos, especialistas em marketing, dinheiro em abundância estão do outro lado do ecrã à procura de formas de gerar essa dependência e fazer com que precisemos de estar constantemente ligados. E por uma razão simples. Nada é gratuito na Internet. Nós próprios, o nosso tempo, a nossa informação é o pagamento que sustenta o negócio.
A par das inúmeras possibilidades que esta rede de redes nos oferece, é cada vez mais evidente a necessidade de aprender a gerir a sua utilização, se não quisermos naufragar ao navegar nas suas tempestuosas águas virtuais. É necessário adotar algumas regras de convivência entre todos nós. É preciso cultivar uma ascese no seu uso que nos torne verdadeiramente livres e senhores da situação, e não o contrário. Precisamos, em suma, de adotar um estilo de vida em que cultivemos todas as nossas capacidades e que nos faça crescer como seres humanos.
Este é um dos maiores desafios sociais que enfrentamos no nosso tempo. Penso que vale a pena prestar-lhe atenção. E não será fácil, porque há um grande negócio construído em torno da Internet, das redes sociais, das plataformas e dos telemóveis, que moverá as suas alavancas para travar qualquer iniciativa que considere ir contra o seu negócio. Foi o que aconteceu com o recente cancelamento da META (Facebook) das contas da prestigiada educadora Catherine l'Ecuyer, apenas por ter ousado propor uma abordagem educativa em que a utilização da tecnologia é racionalizada.
Parafraseando o ditado que diz que a tecnologia foi feita para o homem e não o homem para a tecnologia. É altura de acordar do sonho e de perceber o que está em jogo.
Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.
Explicar o que é o celibato, especialmente o dos leigos não consagrados, não é uma tarefa simples. Em "Uma sedução misteriosa", Javier Aguirremalloa propõe uma explicação deste conceito, entendendo-o como uma relação conjugal.
Há livros curtos que lançam muita luz sobre questões relevantes ainda por iluminar. "Uma sedução misteriosa"O tema que aborda é a natureza do celibato, em particular a dos celibatários que vivem a sua vida como cristãos comuns, ou seja, sem aderir ao estado religioso ou ao sacerdócio.
Esta obra tem uma abordagem muito pessoal, do tipo que compromete um autor, embora ele dificilmente forneça os seus próprios testemunhos. Aguirreamalloa combina uma boa dose de teologia bíblica, patrística, magistério da Igreja, antropologia filosófica e cultura contemporânea (há citações brilhantes de Bono, Paul McCartney, William Faulkner e Aleksandr Solzhenitsyn). A leitura é muito fluida e permite vislumbrar o passado do autor como argumentista e crítico de cinema.
Na introdução, indica o objetivo do ensaio: explicar a si próprio a sua identidade, encontrar um "logos", uma resposta da razão, para a vida daqueles que, como ele (um leigo celibatário do Opus Dei), escolhem o caminho do celibato.
A explicação do celibato A proposta do autor sublinha o carácter esponsal, o que pode surpreender muitos leigos, porque a parceria esponsal com Jesus é um conceito frequentemente aplicado ao estado religioso. No entanto, a lógica argumentativa do texto é convincente e é certamente um herdeiro do seu livro anterior, "A maior história de amor jamais contada", uma exposição sistemática do cristianismo.
Uma das explicações habituais para o celibato é a analogia com a amizade, uma vez que Cristo chama amigos aos seus discípulos. No entanto, Aguirremalloa salienta que a amizade não exige exclusividade nem frequência diária, mas o esponsal sim. Na amizade não se procura apaixonar-se, no esponsal sim, pelo que faz sentido alargar a compreensão do celibato neste sentido.
Em contraste com paradigmas alternativos do celibato laical (celibato como identificação com Jesus celibatário ou como amizade com Jesus), "Uma Sedução Misteriosa" defende que o celibato laical é esponsal. De facto, para o autor, a nupcialidade é uma caraterística fundamental de cada cristão, enquanto membro da Igreja, a esposa de Cristo.
Se o aspeto mais essencial do cristão (o seu "quê") é a filiação divina, o ser filho de Deus, o "como" desta relação é um "como" sacramental, eucarístico. E, portanto, esponsal. Aguirreamalloa inscreve-se aqui numa ampla tradição da Igreja (encurralada durante séculos e recentemente revitalizada) que viu na Eucaristia (atualização do mistério pascal) o "sacrum connubium" (o casamento sagrado) que produz o "admirabile commercium" (o admirável intercâmbio) das naturezas humana e divina.
É neste ponto que surge a maior originalidade do livro. Se o núcleo do matrimónio é a presença do cônjuge para curar a solidão do ser humano ("Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma ajuda adequada", Gn 2, 18), o seu paralelo na vida do celibatário é uma outra presença, não a de um outro, mas a do Outro; a de Jesus na Eucaristia.
Presença real para curar a solidão, uma cura que já não será necessária no céu, presença pura do Outro sem qualquer mediação, pois na vida eterna não há matrimónio homem-mulher, nem sacramento da Eucaristia. Este é o cerne da questão, que necessariamente deixa de fora mil nuances e outros tesouros preciosos presentes no livro.
Uma segunda parte do livro (intitulada "Celibato ou matrimónio") é dedicada ao discernimento vocacional. Também aqui a abordagem é fresca e original. Muitos disseram que a livre escolha de vida de quem tem a intenção correta e as aptidões mínimas para o caminho em questão é uma manifestação da verdadeira vocação divina.
Mas, segundo o autor, isto não só é compatível com o "Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi..." como, de facto, é a forma mais coerente com a natureza divina da relação entre as liberdades de Deus e do homem. É uma perspetiva atraente, construída sobre duas visões sugestivas (e pouco percorridas) da liberdade, uma da filosofia e outra da teologia.
A verdadeira reflexão não é sobre a sociedade, o que lhe falta ou o que lhe falta, mas sobre como somos, o que está dentro de cada um de nós, qual é a nossa verdadeira natureza.
Na passada quinta-feira, 24 de outubro, o livro "O livro do futuro" foi apresentado em Madrid Lobos em pele de cordeiro. Reflexão sobre os abusos da Igreja (Encounter, 2024), do pensador francês Fabrice Hadjadj, num evento organizado pela revista Omnes e a editora que traz o ensaio à luz.
Aí, HadjadjNum exercício brutal de honestidade, chegou ao ponto de dizer a um dos participantes algo do género: "Nunca abusei de uma mulher e, no entanto, sei que no fundo do meu coração existem todas as condições necessárias para o fazer. Isso e muito mais".
Enquanto isto, um certo porta-voz de um grupo parlamentar que defendia a luta feminista demitiu-se do seu cargo, precisamente devido a acusações de abuso sexual de várias mulheres. Resumindo um pouco à nossa maneira, mas sem perder o sentido do original, a sua declaração diria qualquer coisa como "abusei de uma mulher e, no entanto, sei que no fundo do meu coração não estão reunidas as condições para o fazer", o que conduz inevitavelmente à frase "a culpa está fora de mim, não dentro de mim".
A política, o patriarcado, os anos de ditadura, o aroma de machismo em que todos nós fomos criados. Não se pode entrar, mas sim sair.
É claro que haverá aqueles que hoje lincham aqueles que ontem admiravam, assim como aqueles que louvam o gesto da demissão, como que tentando desesperadamente salvaguardar a reputação do homem que idolatravam e que agora se vê caído do altar que outros - e não só ele - lhe construíram. Mas ficar por aí seria perder uma preciosa oportunidade de verdadeira reflexão, que deve começar pela honestidade consigo mesmo e que não visa tanto dizer como é - ou deveria ser - a sociedade, o que lhe falta ou o que tem em excesso, mas sim como somos, o que está dentro de cada um de nós, qual é a nossa verdadeira natureza.
E só a partir daí, conhecendo o húmus, a lama que todos trazemos dentro de nós, é que será possível começar a construir algo que não se desfaça à primeira tentativa.
Ao contrário de outros países, onde a Igreja é apoiada por outros sistemas, na Alemanha a Igreja é financiada por um imposto eclesiástico obrigatório para todos os que a ela pertencem. A renúncia a este imposto eclesiástico implica a formalização da apostasia.
O sistema de financiamento das igrejas na Alemanha tem caraterísticas próprias, o chamado imposto eclesiástico ("Kirchensteuer"), que assegura a manutenção tanto da Igreja Católica como da Igreja Evangélica, tal como previsto na Constituição alemã. O imposto é cobrado pelo Estado, nomeadamente pelas repartições de finanças. A taxa do imposto é geralmente de 9 % do imposto sobre o rendimento (IRPF) na maior parte dos Länder, mas na Baviera e em Baden-Württemberg é reduzida para 8 %.
De acordo com o sítio Web do Conferência Episcopal Alemã (DBK), o imposto eclesiástico é definido como "uma contribuição que os membros da igreja fazem para financiar a sua comunidade religiosa. Não se trata de um subsídio estatal, mas de um mecanismo através do qual a igreja obtém recursos diretamente dos seus membros.
Este sistema deve-se a razões históricas, nomeadamente a "secularização" da propriedade eclesiástica na Alemanha, um fenómeno conhecido em Espanha como "desamortización".
Durante as guerras napoleónicas, os territórios alemães a oeste do Reno foram incorporados em França e, como compensação pela perda de bens, a Dieta do Sacro Império Romano-Germânico, na sua sessão de 1803 - a última a realizar-se antes da sua dissolução - aprovou a resolução (ratificada pelo Imperador Francisco II a 27 de abril do mesmo ano) denominada "Reichsdeputationshauptschluss", pela qual os bens da Igreja foram expropriados. Em contrapartida, os Estados alemães assumiram a obrigação de garantir a missão das Igrejas através de dotações estatais.
No entanto, factores económicos e políticos levaram à introdução do imposto eclesiástico no século XIX. O crescimento demográfico e as consequências da industrialização aumentaram as necessidades da Igreja, e a crescente separação entre o Estado e a Igreja, iniciada com a Revolução Francesa, consolidou este sistema. A partir de 1827, com Lippe-Detmold, foi instituído o imposto eclesiástico, transferindo a responsabilidade pelo financiamento das igrejas estatais para os seus membros.
No decurso do século XIX, os outros territórios adoptaram este sistema, sendo a Prússia o último a fazê-lo, em 1905. O imposto tornou-se parte da soberania do Estado e foi incorporado na Constituição da República de Weimar em 1919 e, após a Segunda Guerra Mundial, na Lei Fundamental da República Federal da Alemanha. O artigo 140.º desta lei incorpora as disposições da Constituição de Weimar, incluindo o direito das confissões religiosas a cobrar impostos. Assim, o artigo 137.º da Constituição de 1919 mantém-se em vigor: "As confissões religiosas que sejam pessoas colectivas de direito público têm o direito de cobrar impostos com base nas listas de impostos civis, de acordo com as disposições do direito estatal".
Este sistema, consagrado na Constituição, prevê que qualquer pessoa que pertença a uma comunidade religiosa reconhecida pelo Estado, como a Igreja Católica, deve pagar o imposto eclesiástico se pagar impostos estatais. No entanto, o DBK afirma: "Quem não paga imposto sobre o rendimento também não é contribuinte da igreja", o que isenta os desempregados ou reformados sem outras fontes de rendimento. Os residentes e contribuintes estrangeiros na Alemanha também são obrigados a pagar o imposto sobre o rendimento, mesmo que não exista tal obrigação no seu país de origem.
Embora tenha havido iniciativas para abolir este sistema, tanto a Igreja como o Estado consideram-no benéfico. Em 2023, a Igreja Católica arrecadou cerca de 6,51 mil milhões de euros, menos 5 % do que no ano anterior, enquanto a Igreja Evangélica arrecadou 5,9 mil milhões, menos 5,3 %. Para além disso, o Estado beneficia ao receber entre 2 % e 4 % da cobrança deste imposto através das suas repartições de finanças. Além disso, se o Estado assumisse as actividades de assistência social e de saúde que a Igreja financia com estas receitas, o custo seria consideravelmente mais elevado.
Um dos aspectos mais criticados da situação atual é o facto de a pertença à Igreja tornar obrigatório o pagamento do imposto eclesiástico. Isto significa que uma pessoa que, por qualquer motivo, não queira continuar a pagar o imposto eclesiástico - por exemplo, por razões puramente financeiras, uma vez que, ao contrário do que acontece noutros países, não é obrigada a utilizar os % ou % adicionais do seu imposto sobre o rendimento para outros fins - tem de se retirar da Igreja ("Kirchenaustritt") perante uma autoridade estatal. Consoante o Land, isto é feito no tribunal local ou na conservatória do registo civil.
Após anos de debate, o Tribunal Administrativo Federal decidiu, em 2012, que não é possível desassociar-se da Igreja enquanto pessoa colectiva e, ao mesmo tempo, continuar a ser membro da comunidade religiosa. Por outras palavras, a dissociação implica formalmente apostasia.
Por outro lado, o imposto eclesiástico é um pilar fundamental para manter a unidade da Igreja na Alemanha com Roma. Durante o chamado "Caminho sinodal" alemãoNa eventualidade de um cisma, foram levantadas preocupações. No caso hipotético de tal cisma se concretizar e a Igreja Católica na Alemanha romper a sua comunhão com Roma, perderia também o seu estatuto de "pessoa colectiva de direito público" (pois esta é a "Igreja Católica Romana"), um estatuto que lhe permite receber o imposto eclesiástico reconhecido pelo Estado. A nova entidade resultante do cisma seria privada da sua base económica, a menos que conseguisse obter o reconhecimento do Estado, o que seria um processo complicado.
As Edições Cristandade publicaram um ensaio do filósofo britânico Roger Scruton (1944-2020), intitulado "Os animais têm direitos? Entre o certo e o errado". O livro é breve, mas com uma clareza que é especialmente apreciada numa altura em que parece difícil distinguir entre um chihuahua e um filho.
Os animais têm direitos? Esta é a questão que se coloca Roger Scruton em um teste agora publicado em espanhol pelas Ediciones Cristiandad. Nesta obra, o filósofo britânico esquece deliberadamente os pormenores técnicos, para dar lugar a uma explicação acessível e incrivelmente luminosa deste debate, tão aceso atualmente.
Logo nas primeiras páginas, a discussão gira em torno do escorregadio conceito de direitos. Federico de Montalvo escreve um prefácio que já aponta um dos principais obstáculos à questão: "O paradoxo do discurso dos direitos humanos é que a proliferação descontrolada de novos direitos e de novos titulares de direitos teria muito mais probabilidades de contribuir para uma desvalorização em série da moeda dos direitos humanos do que de enriquecer significativamente a cobertura global proporcionada pelos direitos existentes".
Esta importância de cuidar dos conceitos é também assinalada por Roger Scruton no prefácio, denunciando a perda de valores que sofremos no Ocidente: "As velhas ideias da alma, do livre arbítrio e do julgamento eterno, que tornavam a distinção entre animais e pessoas tão importante e tão clara, perderam a sua autoridade e não foram substituídas por ideias melhores".
É esta falta de clareza que o autor pretende resolver. Por isso, não tem medo de abordar temas como o sacrifício de animais, as touradas, os jardins zoológicos ou a caça, desvendando conceitos que confundimos num discurso em que o sentimentalismo é mais importante do que a razão ou uma moral bem definida.
O leitor não se deve deixar enganar ao pensar que Scruton não aprecia os animais e que está inclinado para a superioridade do homem. Embora assinale que os humanos têm, de facto, um papel dominante na hierarquia da natureza, é esse papel que também exige responsabilidade.
E dentro da própria categoria animal há também níveis. Um leão não é o mesmo que o cão anão do vizinho, quer se goste ou não. Um cão é um animal de estimação, definido por Roger Scruton como "um membro honorário da comunidade moral, embora isento do ónus do dever que essa condição normalmente exige".
Ter afeto pelo seu gato é normal e saudável, saber que ele precisa de si para se desenvolver é tomar consciência da sua responsabilidade para com ele. Esta ideia é importante para reconhecer que não basta não fazer mal aos animais e deixá-los viver em paz. O autor esclarece que "se a moral não fosse mais do que um mecanismo para minimizar o sofrimento, bastaria manter os nossos animais de estimação num estado de sonolência mimosa, acordando-os de vez em quando com um prato das suas guloseimas preferidas. No entanto, temos uma conceção mais completa da vida animal, que se relaciona, embora de forma distante, com a nossa conceção da felicidade humana".
Capítulo a capítulo, Scruton aborda questões fundamentais no debate sobre os animais. A discussão começa a um nível filosófico, tocando a metafísica e a moralidade. Para aqueles que procuram uma compreensão mais profunda, o autor também fornece apêndices sobre criação de animais, caça e pesca, bem como um glossário de termos filosóficos.
O melhor do livro é que não se esquece que, de facto, acha o seu cão giro e deixá-lo na rua abandonado à sua sorte não parece ser uma opção. Mas as formigas metem-lhe nojo e pisar uma na rua não o incomoda nada. Isto não faz de si um hipócrita, mas tem um significado profundo que, se bem orientado, nos ajuda a viver a responsabilidade que temos para com as outras criaturas.
Sem sentimentalismos, sem extremismos e com uma consciência ecológica, Roger Scruton conseguiu lançar luz sobre um debate complexo, cujos termos esclarece num livro curto e altamente recomendável.
O Dia das Bruxas é, no Dia de Todos os Santos, como a reação infantil de tapar os ouvidos e cantarolar alto uma canção para não ter de ouvir o que não nos interessa.
"Se eu não acredito na minha religião católica, que é a verdadeira, quanto menos acreditarei na vossa? A frase paradoxal com que um velho terá respondido ao casal de mórmones que lhe bateu à porta ajuda-nos a compreender o sucesso igualmente paradoxal do Halloween nos países de tradição católica.
A citação original parece ter vindo do presidente colombiano Tomás Cipriano de Mosquera, anti-clerical, do século XIX, contra os protestantes, mas a cultura popular tomou a ideia para significar qualquer circunstância em que uma pessoa tem de confrontar as suas crenças tradicionais com novas propostas, mesmo que para ela a fé já não seja (ou nunca tenha sido) particularmente significativa na sua vida quotidiana.
É bom que nós, na Igreja, analisemos o que fizemos de errado para que tantos tenham abandonado a fé que lhes foi transmitida pelos pais, avós, paróquias ou escolas; é bom que revejamos a forma como apresentamos o Evangelho, por palavras e acções, para evitar perder fiéis; mas a anedota bem conhecida revela que há também um grande número deles que conscientemente rejeita Deus, porque não se interessa por Ele. Apesar de terem (pelo menos) intuído a verdade revelada por Jesus Cristo, preferem manter a discrição, viver como se Deus não existisse, sem se molharem e, claro, sem que essa fé os leve a agir em conformidade. É a dupla moral do fariseu, mas ao contrário.
Neste terreno fértil, o Halloween enraizou-se rapidamente porque, afinal de contas, a festa da abóbora é para gozar com a morte, a transcendência e a vida depois da morte. É uma festa para nos divertirmos com sustos que não passam disso mesmo. É mais cómodo para nós do que ter de refletir sobre a inevitabilidade da morte, essa realidade que nos aterroriza e nos enche de incertezas. Porque ter de refletir sobre o que Jesus Cristo nos disse sobre ela e o que a Igreja diz sobre ela significaria que teríamos de mudar as nossas vidas, deixar de olhar para nós próprios e começar a olhar para os outros como a Igreja nos ensina. parábola do pobre Lázaro e do rico Epulão. O Halloween é, em Dia de Todos os Santoss, como a reação infantil de tapar os ouvidos e começar a cantarolar uma canção bem alto para não ter de ouvir o que não nos interessa. Assim, passados os primeiros dias de novembro, ninguém se lembrará da morte até ao próximo ano e..: "segue em frente, borboleta".
Mais uma prova que desmascara a duplicidade de critérios de uma sociedade que diz não acreditar, mas que, no fundo, sabe que a mensagem do Evangelho é muito séria, são os filmes de terror de Hollywood, cada vez mais populares nos dias que correm. Nos filmes de "terror assustador", há sempre uma igreja velha, uma freira ou um padre, se possível um exorcista. É curioso, porque o número de católicos nos EUA ainda é uma minoria, mas funciona em termos de audiência, porque o público em geral suspeita que a força espiritual da Igreja, mesmo que alguns dos seus membros não sejam um exemplo de nada, tem muito de verdade.
Para que todos os ateus ou agnósticos se tornem públicos, há também o número de pessoas que pedem um funeral religioso para si ou para os seus familiares. Nove em cada dez espanhóis escolhem uma despedida "pela Igreja", apesar de apenas cinco em cada dez se declararem católicos. E o facto é que, quando se trata de morrer, é melhor não brincar, para não...
O icónico ator francês Alain Delon, que morreu este verão, deve ter pensado algo semelhante quando se mandou enterrar, após um funeral católico, na capela privada que mandou construir na sua propriedade, apesar de não ser conhecido pela sua prática religiosa. Ele afirmava ter uma paixão pela Virgem Maria e falar muito com ela - Maria deve ter-lhe dado uma ajuda para chegar ao seu Filho!
Por último, quando surge o tema dos fariseus invertidos - exteriormente incrédulos, mas interiormente crentes - gosto sempre de recordar a anedota que um velho jornalista meu amigo me contou sobre a altura em que estava a cobrir a guerra do Sara com outro repórter que se gabava do seu ateísmo. Um dia foram apanhados no fogo cruzado e tiveram de se abrigar na carroçaria de um veículo durante cinco intermináveis minutos, durante os quais se viram a morrer. "Nunca ouvi um Pai-Nosso rezado com mais fé e devoção", recorda o meu amigo, "do que aquele que ouvi o meu colega, que se gabava de ser ateu, rezar nesse dia.
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.
Joseph Evans comenta as leituras do 31º Domingo do Tempo Comum e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.
No mundo antigo, lidar com os deuses era uma tarefa delicada. Era preciso apaziguá-los, mantê-los felizes; era um ato de equilíbrio, colocando uns contra os outros. Um deles podia ficar ciumento: Júpiter podia não gostar que Vénus recebesse demasiada atenção.
O antigo Israel compreendeu que só existia um Deus verdadeiro, um Deus que se esforçava por lhe revelar e mostrar o seu amor. O Antigo Testamento está cheio de belas declarações do amor de Deus, mas, com algumas excepções, como a do autor do salmo de hoje (Sl 17), que diz a Deus "Amo-te, Senhor, tu és a minha força".Israel nunca entendeu completamente a mensagem de que deveria retribuir a Deus. O judeu piedoso podia mostrar uma tremenda fidelidade e fé em Deus, mas não um amor terno por Deus. Deus estava a tentar cortejar Israel, mas Israel nunca "percebeu" o nível de romance esperado.
Nós podemos ser um pouco assim. Deus oferece e pede amor, como faz na primeira leitura de hoje - procura uma relação de amor - e nós só retribuímos o respeito. Ele fez-nos por amor, para o amor e para amar. O nosso "ADN" é o amor. É a nossa identidade fundamental. E Deus pede-nos com urgência que o amemos também: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, de todo o teu ser.".
"Amarás o Senhor teu Deus". Ele não só ordena, mas, de certa forma, pede amor. No Evangelho de hoje, Jesus repete e confirma esta mensagem do Antigo Testamento, mas de uma forma ainda mais poderosa se considerarmos que ele próprio é Deus feito homem.
E é isso que é fundamentalmente diferente no cristianismo, porque não é uma religião inventada pelo homem. O homem nem sequer a poderia ter imaginado. Porque a realidade está muito para além da nossa compreensão. A realidade é que Deus é amor: a sua própria vida é amor. É por isso que a doutrina da Trindade não é um dogma abstrato: ela fala-nos da vida íntima de Deus, que é comunhão, relação, amor.
Nunca ninguém poderia imaginar uma religião em que o próprio Deus se tornasse vulnerável, porque tornar-se vulnerável é uma parte essencial do amor e uma parte essencial do cristianismo. Se não nos tornarmos vulneráveis, não amamos. Se não revelamos o nosso coração, os nossos sentimentos, até mesmo a nossa fraqueza ao outro, correndo o risco de rejeição ou traição, não amamos. E o cristianismo tem a ver com o facto de Deus se tornar vulnerável para merecer o nosso amor. Amar a Deus porque Deus nos criou e depois se fez homem, para que o pudéssemos amar em troca.
O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.
A leitura da longa carta que Oscar Wilde escreveu da prisão, em 1897, ao jovem Bosie - que tinha sido seu amante nos cinco anos anteriores - não deixa ninguém indiferente, pois mostra com uma profundidade admirável como a dor pode conduzir ao sagrado.
Oscar Wilde nasceu a 16 de outubro de 1854 e dedicou a sua vida à literatura, à poesia e, em particular, ao teatro. As suas obras -A importância de ser chamado Ernesto, O leque de Lady Windermere, O Retrato de Dorian Gray e tantos outros - tiveram um enorme sucesso na sociedade inglesa do seu tempo e ainda hoje são lidos ou representados.
Muito menos conhecida, porém, é a longa carta a Lord Alfred Douglas, apelidado de "Bosie", o jovem com quem teve um caso amoroso destrutivo e pelo qual viria a ser acusado de sodomia e condenado a dois anos de prisão (1895-1897). Os sentimentos de Wilde estão reflectidos nesta carta, datada da prisão de Reading em janeiro-março de 1897. O título De Profundis é devida ao seu amigo Robert Ross, que a publicou parcialmente em 1905.
Depois de sair da prisão, Wilde mudou-se para o continente e morreu de meningite em Paris, a 30 de novembro de 1900, com 46 anos, depois de ter sido batizado. subcondição na Igreja Católica pelo Passionista Cuthbert Dunne, também de Dublin, tal como Wilde.
Estou a copiar o que escreve um jovem licenciado, impactado pelo texto de Wilde: "Não há vida que possa ser alheia à dor. No entanto, uma vida guiada por um olhar para o sobrenatural é capaz de transformar essa dor num objeto de valor. Por outras palavras, quando a dor é capaz de se transformar em amor, o sofrimento é visto sob uma nova e melhor luz. Esse amor tem a capacidade de colorir tudo - sem esconder a sua realidade - e obriga-nos a focar a beleza, por vezes escondida, que o mundo nos dá. Tal como a luz que brilha por baixo de uma porta fechada, funciona como um sino triunfal que anuncia a chegada de tempos melhores.
Quando li este texto pela primeira vez, esperava encontrar uma atitude de queixa e lamentação pelas injustiças de que foi vítima. No entanto, fiquei muito surpreendido ao descobrir que o que saiu da pena de Wilde foi a esperança e o desejo de se agarrar ao bem. Hoje em dia, a ideia de alguém ser condenado a uma pena de prisão devido à sua orientação sexual é alarmante; no entanto, não era esse o caso no passado. Fiquei impressionado com o facto de, mesmo no meio da sua dor, Wilde ter sido capaz de ver e continuar a ver com um olhar amoroso aqueles que o tinham magoado tanto.
"Relativamente à sua relação com o Bosie, -continua- Wilde reconhece que foi muito prejudicial para ambos. Como acontece frequentemente nas relações ditas "tóxicas" dos nossos dias, as pessoas têm a sensação de estar fora de controlo por causa da relação, o que leva à destruição mútua. Apesar de ter sido gravemente prejudicado por Bosie, Wilde não hesita em colocar a culpa nos seus próprios ombros: "Nem tu nem o teu pai, multiplicados mil vezes, poderiam arruinar um homem como eu; que eu me arruinei a mim próprio e que ninguém, grande ou pequeno, pode ser arruinado senão pela sua própria mão.
Estou absolutamente disposto a dizê-lo. Estou a tentar dizê-lo, mesmo que não acreditem em mim neste momento. Se eu lançar esta acusação implacável contra si, pense na acusação impiedosa que lanço contra mim próprio. Por mais terrível que tenha sido o que me fizeste, foi muito mais terrível o que eu fiz a mim próprio" (p. 105).
Considero esta passagem particularmente esclarecedora porque ilustra a completa ausência de rancor de Wilde. Uma leitura superficial da obra poderia colocá-la na categoria de literatura de desgosto ou rancor. No entanto, a dor que é de facto evidente nas belas palavras de Wilde não é equivalente a ódio. Ele ficou magoado com o que aconteceu porque só quando chegou à prisão é que se apercebeu da sua triste realidade. Apercebeu-se da dor que estava a causar à sua família e de como se tinha deixado levar por vaidades e prazeres momentâneos.
É essa a dor que se sente palavra por palavra. Mas não deve ser confundida com a dor de um homem ferido pela traição e que espera amargamente o momento de retribuir o dano. No meio do arrependimento pelos seus erros, é também evidente o desejo de Wilde de ser um homem melhor, de amar a sua mulher e de compensar o tempo perdido a cuidar dos seus dois filhos pequenos."
"Na sua carta, Wilde afirma também ter sido confortado pela figura de Cristo. Na sua reflexão cristológica, argumenta que o Filho de Deus entende a dor e o pecado como um caminho para a perfeição humana. Por esta razão, Cristo nunca despreza os pecadores, pois vê para além dos pecados que contaminam as suas almas e concentra-se, com um olhar amoroso e compassivo, na melhoria que podem experimentar por causa desse pecado (pp. 125-148).
A dor ao longo da vida é uma experiência inevitável e transformadora. Se for vivida na chave da esperança, pode tornar-se um ponto de encontro com o que de mais sagrado podemos ser participantes: o amor"..
Eis o que me escreve Maris Stella Fernández, o que mostra que vale a pena ler De Profundis 125 anos depois de Wilde ter escrito essa carta, ela convida-nos a refletir sobre a dor e o amor. "Era" - citando Pearce (p. 379) - "a mensagem da sua alma para as almas dos homens"..
Diz-se que, depois da Confirmação, os jovens "deixam" a Igreja e não voltam a ser vistos até ao matrimónio. O sacramento da Confirmação deve ser um "início e um crescimento" na vida cristã, e não um "adeus" à Igreja até ao matrimónio", exortou o Papa na Audiência de quarta-feira. Recordou também a festa de Todos os Santos.
Após a catequese sobre o Espírito Santo sobre o matrimónio e as famílias na passada quarta-feira, "hoje continuamos a nossa reflexão sobre a presença e a ação do Espírito Santo na vida da Igreja através dos Sacramentos", o Papa Francisco iniciou a sua catequese sobre o Público em geral na quarta-feira, 30 de outubro, numa manhã de sol na Praça de São Pedro.
"A ação santificadora do Espírito Santo chega até nós, em primeiro lugar, através de dois canais: a Palavra de Deus e os Sacramentos. E entre todos os Sacramentos, há um que é, por excelência, o Sacramento do Espírito Santo, e é sobre ele que eu gostaria de me debruçar hoje. É, como compreenderam, o Sacramento da Crisma ou Confirmação", disse.
Dos sete sacramentos, "a Confirmação é o sacramento do Espírito Santo por excelência. No Novo Testamento vemos alguns elementos do sacramento da confirmação. Por exemplo, quando se fala da "imposição das mãos", que comunica o Espírito Santo de forma visível e carismática. Encontramos também a "unção" e o "selamento" que manifestam o carácter indelével deste sacramento".
Podemos dizer que se o Batismo é o sacramento do nascimento para a vida em Cristo, a Confirmação é o sacramento do crescimento", disse o Romano Pontífice. "Isto significa o início de uma etapa de maturidade cristã, que implica dar testemunho da própria fé.
Para levar a cabo esta missão, é importante não deixar de cultivar os dons do Espírito que recebemos".
O que é o sacramento da Confirmação no entendimento da Igreja, parece-me - acrescentou o Papa - é descrito, simples e claramente, pelo Catecismo para Adultos da Conferência Episcopal Italiana. Diz: "A Confirmação é para cada fiel o que o Pentecostes foi para toda a Igreja. [Reforça a incorporação batismal em Cristo e na Igreja, e a consagração à missão profética, real e sacerdotal. Comunica a abundância dos dons do Espírito [...]".
"Se, portanto, o Batismo é o sacramento do nascimento, a Confirmação é o sacramento do crescimento. Por isso mesmo, é também o sacramento do testemunho, porque está intimamente ligado à maturidade da vida cristã".
O problema é como fazer com que o sacramento da Confirmação não se reduza, na prática, à "extrema-unção", ou seja, ao sacramento da "saída" da Igreja, mas que seja o sacramento da iniciação de participação ativa nas suas vidas, continuou o Pontífice.
"É um objetivo que pode parecer impossível, dada a situação atual em quase toda a Igreja, mas isso não significa que devamos deixar de o perseguir. Não será assim para todos os crismandos, sejam crianças ou adultos, mas é importante que seja assim pelo menos para alguns que mais tarde se tornarão os animadores da comunidade", disse.
Para o efeito, "pode ser útil ser assistido, na preparação da Sacramentopor fiéis leigos que tiveram um encontro pessoal com Cristo e fizeram uma verdadeira experiência do Espírito", disse.
Na sua saudação aos peregrinos de diferentes línguas, o Santo Padre encorajou: "Peçamos ao Espírito Santo que reacenda o fogo do amor nos nossos corações e nos impulsione a dar um testemunho alegre da sua presença na nossa vida. Que Jesus vos abençoe e a Virgem Santa vos guarde".
Concluindo as suas palavras em italiano, antes do "Pater Noster" latino da Bênção Final, referiu-se ao facto de "estarmos já próximos da solenidade da festa de Nossa Senhora dos Anjos". Todos os SantosConvido-vos a viver esta festa do ano litúrgico em que a Igreja quer recordar-nos um aspeto essencial da sua realidade: a glória celeste dos irmãos e irmãs que nos precederam no caminho da vida presente e que agora, na visão do Pai, querem estar em comunhão connosco para nos ajudar a alcançar a meta que nos espera".
Por fim, como de costume, o Papa pediu-nos para "rezar pela paz, que é um dom do Espírito Santo". Paz na Ucrânia atormentada, na Palestina, em Israel, em Myanmar e em tantos outros países que vivem em tempo de guerra. "Ontem vi 150 pessoas inocentes serem metralhadas. O que é que as crianças têm a ver com a guerra? Elas são as primeiras vítimas. Rezemos pela paz. E a todos a minha Bênção".
As recomendações de séries e filmes para este mês são "The Big Warning" e "Masters of the Air", duas produções diferentes mas muito interessantes.
Recomendamos novos lançamentos, clássicos ou conteúdos que ainda não viu nas suas plataformas favoritas.
Baseado no romance "O Aviso", um bestseller durante três anos consecutivos, "O Grande Aviso" é um documentário que nos leva ao mundo do inexplicável através de entrevistas diretas, intrigantes e dinâmicas. As entrevistas relatam as experiências de pessoas relevantes e interessantes.
Através destas histórias, descobrimos profecias passagens bíblicas que se vivem ou se cumpriram atualmente, unindo pessoas de diferentes continentes. Um visionamento cativante que despertará o interesse de todos os espectadores, questionando a nossa perfeição da realidade e aumentando a nossa expetativa em relação ao futuro.
"Masters of the Air" conta a história do 100º Grupo de Bombardeiros, uma unidade de bombardeiros pesados durante a Segunda Guerra Mundial, e segue as tripulações dos bombardeiros em missões perigosas para destruir alvos na Europa ocupada pelos alemães.
O espetáculo retrata a intensidade da guerra, os perigos enfrentados pelos aviadores e as amizades e relações que se desenvolvem.
Criado por e para Apple TV+. Baseada no livro homónimo de Donald L. Miller, de 2007, a série tem sido promovida como companheira de "Band of Brothers" (2001) e "The Pacific" (2010). É composta por nove episódios.
A posição geográfica da Albânia e o seu estatuto de fronteira entre o Oriente e o Ocidente fazem dela um país rico em tradições culturais.
De um ponto de vista puramente étnico, a Albânia é um país bastante homogéneo. De facto, a etnia albanesa constitui a maioria absoluta da população, cerca de 98 % da população total de cerca de 2,8 milhões de pessoas. A sua caraterística distintiva é, antes de mais, a língua albanesa, uma língua indo-europeia mas de um ramo isolado dos outros (ao contrário das línguas neolatinas ou germânicas, por exemplo). As origens da língua albanesa são controversas, embora se pense que deriva do ilírico ou do trácio antigo.
Uma caraterística típica do albanês é o facto de estar dividido em duas variantes principais que têm a mesma dignidade (pelo menos costumavam ter), à semelhança do norueguês (cujas duas variantes, Bokmål e Nynorsk, são co-oficiais na Noruega).
No caso do albanês, temos o Tosk (no sul) e o Guego (no norte da Albânia, Kosovo, Macedónia do Norte e partes do Montenegro). Existem diferenças consideráveis entre o Tosk e o Guego, principalmente na fonética, mas também na morfologia e na sintaxe.
Como já foi referido no artigo anterior, o regime comunista de Enver Hoxha (que durou de 1944 a 1985), com a sua ilusão de omnipotência e omnipresença em todos os aspectos da vida albanesa, aplicou uma "normalização" linguística forçada, a fim de normalizar culturalmente o país, e impôs a variante tosk para o desenvolvimento de uma língua albanesa "padrão" ("shqipja standarde"). Esta variante foi também escolhida pelo facto de Hoxha ser originário de Gjirokastra, no sul, uma região onde esta variante é falada, e de o Partido Comunista ter as suas bases históricas e culturais no sul.
Obviamente, a adoção forçada de uma língua baseada na variante de uma parte da população penalizou a outra parte e alimentou divisões e tensões no seio da nação, também a nível religioso (por exemplo, os cristãos ortodoxos estão concentrados no sul, os católicos no norte, etc.).
O tosco é também a variante falada pelos albaneses de Itália (chamados "arbëreshë" em arbërisht, a língua dos ítalo-albaneses), uma comunidade estabelecida no sul da península entre os séculos XV e XVIII, após a invasão otomana dos Balcãs. No entanto, esta língua tem caraterísticas arcaicas que já não se encontram no albanês moderno, além de ser fortemente influenciada pelos dialectos italianos e do sul da Itália. O "arbërisht" é reconhecido e protegido em Itália como língua minoritária. Os albaneses representam também 92,9 % da população do Kosovo (um Estado com reconhecimento limitado, reivindicado pela Sérvia como parte do seu território), quase 9 % da população da República do Montenegro e 25 % da Macedónia do Norte.
A maior minoria étnica presente na Albânia é a dos gregos, que representam cerca de 2 % da população. Concentram-se sobretudo no sul do país, especialmente nas regiões de Gjirokastra e Saranda, perto da fronteira com a Grécia. Trata-se de uma comunidade com origens muito antigas, que remontam ao tempo das colónias gregas na costa jónica. Até hoje, os gregos albaneses gozam de uma certa autonomia cultural e linguística, apesar de terem estado no centro de várias tensões com a Grécia, nomeadamente durante os anos do regime de Hoxha, que suprimiu todas as formas de autonomia cultural, linguística e religiosa.
Outras minorias incluem os macedónios (de língua eslava, aparentada com o búlgaro), cerca de 0,2 % da população, no sudeste do país (perto da fronteira com a Macedónia do Norte); os arménios (que falam uma língua neolatina muito semelhante ao romeno e que se diz serem descendentes das populações românicas, ou seja, latinizadas, da região) nas montanhas do sul (entre alguns milhares e 30 000 indivíduos); os ciganos (entre 10 000 e 100 000) que, tal como noutros países europeus, vivem em condições económicas e sociais muitas vezes precárias.
Há um ditado na Albânia que diz: "a religião dos albaneses é a 'albanidade'" ("Feja e shqiptarit është shqiptaria"). Isto deve-se ao facto de o sentimento de pertença a um grupo étnico e não religioso ser muito forte no país e de a cultura da tolerância e da coexistência pacífica entre as diferentes comunidades estar também muito desenvolvida, apesar de na era otomana ter havido uma islamização progressiva, seguida da supressão do direito à prática religiosa durante o regime comunista, em especial a partir de 1967, que impôs o ateísmo de Estado até 1991. Após essa data, a prática religiosa foi retomada, mas a sociedade manteve-se essencialmente laica.
O Islão é a religião mais difundida na Albânia, com cerca de 58,8 % da população a declarar-se muçulmana (de acordo com o censo de 2011, o último censo oficial disponível). A maioria dos muçulmanos é sunita (cerca de 56,7 % dos albaneses), sobretudo no centro e no sul do país.
Existe também uma minoria xiita Bektashi. Os Bektashi fazem parte de uma corrente (ou irmandade) sufi xiita e representam entre 2 % e 5 % da população, o que os torna uma pequena minoria; No entanto, a sua comunidade (cuja doutrina se desenvolveu no século XIII na Anatólia e depois se espalhou pelos Balcãs) tem raízes históricas e culturais tão importantes na Albânia que vários líderes políticos albaneses são ou foram Bektashi (incluindo o próprio Enver Hoxha, que, no entanto, instituiu um sistema de, pelo menos, 31 lagers, de acordo com um relatório da Amnistia Internacional de 1991, visando opositores e membros de ordens religiosas, ou seja, padres católicos e ortodoxos, imãs, etc.).).
A comunidade Bektashi é um exemplo particular de coexistência pacífica e de tolerância religiosa, ambas promovidas pela sua doutrina, e tem desempenhado um papel importante na manutenção do equilíbrio inter-religioso do país.
Durante o domínio otomano, os Bektashis estavam ligados aos janízaros, as tropas de elite da Sublime Porte, mas com a chegada de Atatürk, o Bektashismo foi proibido na Turquia (1925) e os seus membros foram obrigados a abandonar o país, encontrando refúgio na Albânia, com o apoio do monarca local da época, Zog I.
De facto, foi em Tirana que se instalou o centro espiritual mundial bektashi (Tekke) e, no país balcânico, a irmandade sufi continuou a promover os valores da abertura e do diálogo inter-religioso, encontrando um terreno fértil porque a Albânia nunca tinha desenvolvido uma identidade nacional baseada na pertença a uma fé e não a outra e o diálogo inter-religioso era já uma realidade testada e comprovada.
Em setembro de 2024, o primeiro-ministro Edi Rama (católico de batismo, mas agnóstico declarado) propôs a criação de um micro-Estado bektashi em Tirana (uma espécie de Vaticano 27 acres de instalações religiosas e residenciais em miniatura), a fim de proporcionar à comunidade um espaço autónomo para praticar a sua fé e preservar as suas tradições. Nas intenções do atual governo, esta seria também uma forma de garantir mais voz e visibilidade a uma visão mais tolerante do Islão. No entanto, a proposta foi alvo de críticas, tanto porque a Albânia não é verdadeiramente um país islâmico, como porque os Bektashis nem sequer representam a maioria dos muçulmanos e porque, finalmente, o laicismo é um elemento fundador da sociedade e da cultura da pequena nação balcânica.
Os cristãos albaneses representam cerca de 16,9 % da população, divididos entre católicos (10 %) e ortodoxos (6,8 %).
Os católicos estão especialmente concentrados nas regiões setentrionais. A tradição católica na Albânia tem raízes profundas que remontam ao tempo em que o país fazia parte do Império Romano. A Igreja Católica albanesa distingue-se, segundo as palavras do Arcebispo de Tirana, Monsenhor Giuseppe Kolli, por ser uma Igreja de origem e de origem cristã. Arjan DodajFoi uma Igreja mártir ao longo da sua história, perseguida na época romana, na era otomana e, sobretudo, durante o regime comunista. Está muito presente na vida do país, em constante harmonia com as outras confissões religiosas, com as quais mantém um diálogo e uma cooperação baseados em iniciativas comuns em vários domínios.
Os ortodoxos, por seu lado, concentram-se sobretudo nas regiões meridionais, junto à fronteira grega. A Igreja Ortodoxa tem também uma longa tradição (que remonta à época bizantina) e está ligada ao Patriarcado de Constantinopla, mas foi-lhe concedida a autocefalia (autonomia eclesiástica) em 1937.
Enquanto menos de 90 % dos albaneses declaram ter qualquer filiação religiosa, mais de 10 % não se reconhecem em nenhuma religião (é um dos países europeus com maior percentagem de ateus e agnósticos). Por conseguinte, muitos descrevem-se a si próprios como essencialmente albaneses e depois como adeptos de uma determinada seita.
Entre outras coisas, uma curiosidade deste pequeno país é a presença de um antigo código de leis consuetudinárias, o Kanun (do árabe "qanun", lei), transmitido oralmente durante séculos, mas que foi consagrado por escrito no século XV por Lekë Dukagjini, um líder do século XV e contemporâneo de Scanderbeg. O Kanun regula vários aspectos da vida social e familiar, abordando questões como os direitos de propriedade, a honra e a vingança.
Uma das suas noções-chave é a "besa", baseada na palavra de honra e na hospitalidade sagrada, conceitos fundamentais nas comunidades albanesas, especialmente nas rurais. O Kanun regula igualmente a vingança de sangue ("gjakmarrja"), estabelecendo regras precisas sobre o modo e o momento de a exercer (se um membro do clã for morto, a família tem o direito e o dever de se vingar, o que conduz frequentemente a longos conflitos entre clãs rivais, mas o Kanun estabelece limites precisos para o exercício da "gjakmarrja"), e protege a honra das mulheres, que, no entanto, têm um papel subordinado na sociedade tradicional.
Nos últimos anos, a influência do kanun diminuiu, mas continua a ser uma parte fundamental da identidade cultural albanesa, especialmente nas regiões montanhosas do norte, e é comum a todas as denominações religiosas.
Este poderia ser também um exemplo de "communitas", um conceito que, segundo o antropólogo Victor Turner, representa uma espécie de "anti-estrutura", uma condição em que os indivíduos transcendem as divisões religiosas para formar laços comunitários através de outros elementos. Assim, no caso da Albânia, existem também cultos, festas e santuários partilhados pelas diferentes confissões. Um exemplo disso é São Jorge (pense-se também na importância do nome Scanderbeg, também George, ou no facto de os muçulmanos identificarem frequentemente São Jorge com Al-Khadr, o profeta verde, que aparece na Sura XVIII para ajudar Moisés, ou de os Bektashi o conhecerem como Hidrellez, ligado à primavera e à fertilidade). De facto, segundo o historiador Frederick William Hasluck, existem "santuários ambíguos" que simbolizam muitas vezes um sincretismo cultural e religioso que transcende as doutrinas individuais.
Em conclusão, num território minúsculo como a Albânia, coexistem tradições culturais e religiosas incrivelmente ricas. É por isso que, como italiano, tenho vergonha de ainda não ter estado lá!
Joseph Evans comenta as leituras para o dia de Finados (B) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.
A Igreja Católica desenvolveu a sua compreensão da realidade do purgatório com a ajuda de textos bíblicos que falam da purificação das almas após a morte (cf. 2 Mac 12, 39-45) e de um fogo purificador (1 Cor 3, 12-15).
O livro do Apocalipse (Ap 21,27) também nos diz que nada de impuro entrará no céu, e como ninguém morre totalmente limpo, totalmente sem pecado, isso sugere alguma forma de limpeza espiritual após a morte para que os justos possam então entrar no céu. Esta ideia foi reforçada pelos ensinamentos dos Padres da Igreja e pelos escritos - e visões - dos santos.
O Papa Bento XVI, em Spe Salvi 2007 (cf. nn. 45-48), com um espírito ecuménico refrescante, explora a possibilidade de este fogo salvador ser o olhar ardente e purificador de Cristo (cf. Ap 1,14).
A nossa própria experiência de vida apoia ainda mais este sentido de purificação após a morte. Todos nós que buscamos sinceramente a Deus sabemos que, se morrêssemos hoje, apesar de todos os nossos desejos sinceros, ainda precisaríamos de purificação após a morte para estarmos prontos para vê-Lo. "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus".. Sabemos que os nossos corações ainda não são suficientemente puros para isso: precisam de uma purificação completa e a nossa visão precisa de uma "remoção de cataratas". O castigo espiritual consiste em tirar-lhe as escamas dos olhos, tal como Tobit tinha tirado as escamas dos seus olhos (cf. Tobit 3,17; 11,10-15). Há também um castigo justo a sofrer. Deus perdoou os nossos pecados, mas, por uma questão de justiça e para que possamos ter plena consciência do mal que fizemos (e, portanto, com intenção medicinal), necessitamos de um castigo temporário para compensar a nossa falta.
O purgatório é também como a dor de olhar para o sol: Deus habita na glória e a nossa pobre visão deve começar a habituar-se a essa luz antes de se poder elevar plenamente para a partilhar. Por fim, o purgatório liberta-nos da nossa escravidão, como o sofrimento que um toxicodependente tem de sentir para se libertar do seu vício e assim gozar a liberdade de uma vida sem ele.
Há toda uma série de textos possíveis para as leituras da Missa de hoje, mas todos eles apontam de diferentes maneiras para a realidade da morte e para a vitória de Cristo sobre ela. O dia de hoje - e o mês que se segue - é também uma óptima ocasião para rezar pelos nossos entes queridos que partiram e por todas as almas do Purgatório, vivendo assim de forma prática a doutrina da Comunhão dos Santos e exercendo uma requintada caridade para com aqueles que não se podem ajudar a si próprios, tal como ficaremos profundamente gratos a quem reza por nós quando chegar a nossa hora no Purgatório.
O documentário "Bento XVI, em Honra da Verdade", sobre a demissão do Papa alemão, ganhou um prémio Emmy.
Este fim de semana, teve lugar em Nova Iorque a cerimónia de entrega dos prémios Emmy. O documentário de Relatórios de Roma Bento XVI, em Honra da Verdade", patrocinado por Somos a Community Care foi o vencedor.
A longa-metragem inclui testemunhos de pessoas que assistiram ao seu pontificado e explica as razões da sua demissão, um marco na história da Igreja Católica. O filme foi transmitido em mais de 15 canais em diferentes países e já tinha ganho o prémio de melhor documentário no Festival Mirabile Dictu no Vaticano.
Ramón Tallaj, presidente do patrocinador do documentário, aceitou o prémio com as seguintes palavras: "Antes de mais, obrigado à Academia por esta honra. E dedicamo-la a todos os colaboradores da SOMOS Community Care. Mas, acima de tudo, esperamos que a paz neste mundo possa regressar e que a compreensão entre os seres humanos, independentemente da sua religião, possa emergir novamente. Amém.
A Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores ('Tutela Minorum'), mandatada pelo Papa Francisco, apresentou o primeiro relatório anual do Vaticano sobre as políticas e procedimentos de tutela da Igreja, um "caminho de conversão" para corrigir e curar os abusos, disse o Cardeal Sean O'Malley. As suas recomendações visam melhorar a receção e o acompanhamento das alegações e criar uma "cultura de proteção".
"Quero assegurar a todas as vítimas e sobreviventes (de abusos) que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para continuar a acolher-vos, para vos ajudar a enfrentar todo o sofrimento que sofreram. Respeitamos o vosso corajoso testemunho e reconhecemos que podem estar cansados de palavras vazias", afirmou o relator especial da ONU. Cardeal O'MalleyPresidente da "Tutela minorum", durante a apresentação do Relatório.
"O vosso sofrimento fez-nos ver que, enquanto Igreja, não cuidámos das vítimas, fomos relutantes em compreender-vos e tudo o que fizermos não será suficiente para reparar todos os danos que sofreram", acrescentou.
"Esperamos que este relatório e os sucessivos relatórios, juntamente com a ajuda das vítimas, contribuam para que estes terríveis acontecimentos não voltem a acontecer. Este relatório, que surge por ocasião do décimo aniversário da Comissão, representa um retrato do que é o percurso de conversão que empreendemos.
"É um caminho para um ministério de proteção transparente e responsável", disse o cardeal, "para uma maior proximidade, acolhimento e apoio às vítimas e sobreviventes na sua busca de justiça e cura".
O presidente da "Tutela Minurum" distinguiu duas etapas no itinerário "da nossa caminhada como Igreja", depois "das experiências dolorosas que vivemos". "A primeira vivi-a continuamente durante quase 40 anos como bispo, através da proximidade pessoal com as vítimas, as suas famílias, os seus entes queridos e as comunidades. Ouvi testemunhos poderosos de traição o que se sente quando se é abusado por uma pessoa em quem se depositou confiança e as implicações de tal abuso ao longo da vida.
"Estou imensamente grato às vítimas pela sua abertura", prosseguiu, "que me permitiu caminhar com elas. As suas histórias revelam um período de desconfiança em que os líderes da Igreja falharam tragicamente com aqueles que somos chamados a seguir. Foi também uma altura em que o profissionalismo não reinava".
"Estamos agora a iniciar uma segunda fase que vemos tomar forma em muitas partes do mundo, em que a responsabilização, a preocupação e o cuidado com as vítimas começam a iluminar a escuridão. É um período em que existem fortes sistemas de denúncia, que nos permitem ouvir e responder às vítimas, numa abordagem informada sobre o trauma.
É um período em que os protocolos de gestão de riscos e a monitorização informada promovem ambientes seguros. A Igreja fornece agora serviços profissionais para acompanhar as vítimas à medida que estas se envolvem nesta jornada de cura e promovem uma cultura de proteção." "Este é um momento em que a Igreja abraça plenamente o seu ministério de proteção."
No entanto, há ainda pontos obscuros. Por exemplo, durante a audição, os membros da Comissão Pontifícia confirmaram um ponto do relatório: apenas 20% das dioceses mexicanas responderam ao questionário enviado. O secretário da Comissão confirmou este facto, mas acrescentou que algumas conferências episcopais se atrasaram inicialmente, mas que entretanto forneceram mais informações. O Cardeal O'Malley expressou a sua "deceção pela falta de resposta mexicana".
Em resposta a outra pergunta, o Cardeal O'Malley disse que não tinha visto nenhum estudo sério que ligasse o celibato sacerdotal ao abuso de crianças, "não há nenhuma ligação". "O celibato não provoca a pedofilia", acrescentou. "As crianças devem ser respeitadas e protegidas", acrescentou outro membro da comissão.
Na conferência de imprensa do Vaticano esteve presente uma vítima que está a trabalhar na comissão, Juan Carlos. Nas suas palavras, disse que o facto de trabalhar nesta comissão o ajudou muito e que espera ajudar outras vítimas a seguir este caminho. Também elogiou o ato pelas vítimas organizado pelo Arcebispo de Madrid, Cardeal José Cobo, há alguns dias, em particular quando salientou que "não vamos virar a página".
"Ouvir e aprender com as vítimas/sobreviventes: de 2014 a 2024 e mais além", é o título da parte final do Relatório recentemente apresentado, depois de recordar no início que se trata de uma comissão do Papa FranciscoO Papa disse que "sem progressos (na proteção de menores e adultos vulneráveis), os fiéis continuariam a perder a confiança nos seus pastores, tornando cada vez mais difícil o anúncio e o testemunho do Evangelho" (Papa Francisco, 29 de abril de 2022).
De facto, "os ensinamentos retirados destes contactos diretos com as vítimas/sobreviventes estão profundamente subjacentes à análise apresentada neste relatório anual. A Comissão está totalmente empenhada em continuar a alargar a participação das vítimas/sobreviventes no processo de elaboração deste relatório cíclico", sublinha-se.
O modelo de "Justiça e Conversão" do Relatório consiste em cinco pilares principais interligados: Conversão para longe do Mal, Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não Repetição.
O Cardeal Presidente resumiu o conteúdo deste primeiro relatório "Tutela Minorum" em dois ou três aspectos. Em primeiro lugar, "a melhoria dos processos canónicos de receção e acompanhamento das queixas, a favor das vítimas/sobreviventes e das suas famílias, que respeite, simultaneamente: o direito de acesso à informação, o direito à privacidade e o direito à proteção dos dados pessoais".
Em segundo lugar, "a profissionalização das pessoas envolvidas na proteção de menores e adultos vulneráveis na Igreja, proporcionando-lhes oportunidades académicas formais e recursos adequados".
Neste ponto, ele mencionou a iniciativa 'Memorare', a primeira palavra do Memorando à Santíssima Virgem, que, a pedido do Santo Padre, desenvolve as tarefas de proteção no Sul Global, de acordo com o Moru Proprio Vos estis lux mundi.
Entre as observações da Comissão, destacam-se os seguintes pontos.
- A necessidade de uma determinação clara da jurisdição dos vários dicastérios da Cúria Romana, procurando assegurar um tratamento eficaz, atempado e rigoroso dos casos de abuso sexual apresentados à Santa Sé".
- A necessidade de um processo simplificado, quando justificado, para a demissão ou destituição de um líder da Igreja".
- A necessidade de desenvolver ainda mais o Magistério da Igreja sobre a proteção dos menores e dos adultos vulneráveis, numa perspetiva teológico-pastoral integral, que promova a conversão da Igreja no que diz respeito à dignidade da criança e aos direitos humanos, e a sua relação com o abuso".
- A necessidade de conhecer as políticas de indemnização e compensação que promovem uma gestão rigorosa das reparações, como parte do compromisso e da responsabilidade da Igreja de apoiar as vítimas/sobreviventes no seu percurso de cura".
Como recordado no início, a Comissão Pontifícia "está empenhada em alargar ainda mais a participação das vítimas/sobreviventes no processo deste relatório cíclico".
O número de setembro da revista Omnes deste ano, dedicado aos abusos, cujo editorial se intitula "Tempo de curar", inclui artigos de especialistas que antecipam alguns dos aspectos do relatório de hoje.
Mais de 12.000 pessoas e 500 voluntários passaram pelo Mirador de Cuatro Vientos num congresso que se tornou um ponto de referência.
De 25 a 27 de outubro, a vigésima primeira edição do EncuentroMadridO objetivo da conferência era examinar se, apesar do contexto atual, que por vezes pode ser visto de forma negativa, se pode dizer que "o tecido da vida é precioso". A frase entre aspas é de Takashi Nagai, um médico japonês que sofreu a queda da bomba atómica e ainda encontrou na fé cristã o impulso para dar uma grande esperança ao povo japonês num contexto muito dramático para a nação.
O filósofo francês Fabrice Hadjadj foi um dos oradores principais. Na sequência das propostas de imortalidade apresentadas pelo transhumanismo, perguntou na sua conferência por que razão queremos preservar a vida indefinidamente quando não aceitamos o risco de a pôr em causa. "Queremos criar pessoas imortais para que possam suicidar-se", provocou Hadjadj, explicando que, se procurarmos apenas preservar a vida, esta está perdida.
Andrés Aziani, um dos protagonistas da exposição "La Plaza del encuentro", "o melhor é a coragem com que cada um deve regressar ao seu próprio caminho para poder dizer sim à vida", com todos os seus desafios e implicações.
Seguindo a proposta de Luigi Giussani, fundador de Comunhão e Libertação, os organizadores do EncuentroMadrid propõem um crescimento e uma maturidade na fé baseados no diálogo e na amizade com pessoas de mentalidades muito diferentes.
Este congresso é um espaço de diálogo e de reconhecimento recíproco com pessoas de diversas tradições éticas e culturais. Como disse o Professor Diego Garrocho, "os lados são porosos... não se trata de ganhar, mas de encontrar esse milímetro de verdade que está na posição do outro. A diferença deve ser sempre respeitada, mas melhor ainda seria fazer dela um objeto de conversa".
A jornada central do EncuentroMadrid 2024 contou com dois dos melhores oradores desta edição: os artistas Antonio López, pintor da geração realista madrilena, e Pedro Chillida Belzunce, também artista e filho e colaborador do seu pai, Eduardo Chillida.
O encontro, apresentado pelo arquiteto Enrique Andreo, foi precedido de um documentário em vídeo realizado por ele, no qual pai e filho Chillida falam da sua relação com a obra.
O vídeo aborda também a relação do artista basco com a fé, num paralelismo entre a criação artística e a Criação com letra maiúscula. "A palavra 'criação' é demasiado grande para o homem. Eu só concebo a criação ao nível de Deus. Foi um desabrochar natural: tive fé toda a minha vida e os desequilíbrios entre a razão e a fé sempre me ajudaram. A verdadeira importância da razão reside no poder que ela tem de nos fazer compreender os seus próprios limites. Se este problema não me tivesse sido colocado, a minha obra não teria certamente tomado o rumo que tomou... e eu também não", reflecte Eduardo Chillida.
O Cardeal José Cobo encerrou o EncuentroMadrid com uma missa em que sublinhou aos presentes que "tendes no vosso ADN duas palavras-chave mais necessárias do que nunca: comunhão e libertação". A partir daí, exortou a continuar a comunicar esta vida ao mar alto, especialmente aos que estão longe ou são mais vulneráveis, para continuar a tecer uma teia de verdadeira fraternidade em que todos possam encontrar o sentido e o acolhimento de que necessitam e esperam.
Numa conferência de imprensa realizada a 28 de outubro, o Arcebispo Fisichella apresentou Luce, a mascote do Ano Jubilar 2025.
No dia 24 de outubro, o Papa Francisco publicou a sua quarta encíclica "Dilexit Nos", um documento que convida os católicos a centrarem o seu olhar no Sagrado Coração de Jesus.
No dia 24 de outubro, o Papa Francisco publicou a sua quarta encíclica "Dilexit Nos".
Todo o documento se baseia na devoção ao Sagrado Coração de Jesus e apela aos católicos para que vivam em abertura aos outros e reconheçam a dignidade intrínseca de cada pessoa.
O trabalho árduo é a virtude que nos ensina a amar o trabalho que Deus arranja para a nossa vida e nos ajuda a dar os frutos que Deus espera.
É sabido que a laboriosidade é uma virtude que leva a trabalhar bem, a utilizar bem o tempo, a pôr amor (a Deus e/ou ao próximo) no trabalho, etc. Mas nada disto é possível se não se amar também, de alguma forma, o seu trabalho. O dicionário define a laboriosidade como "inclinação para o trabalho", mas não como uma bola que rola pela encosta abaixo - por si só - mas como um alpinista é atraído pela montanha. O papel atrativo do amor entra em jogo. Por conseguinte, a diligência implica o amor pelo trabalho, o trabalho que corresponde a cada um de nós: o trabalho em si mesmo, independentemente de um eventual reconhecimento ou remuneração.
Um homem trabalhador é aquele que gosta do seu trabalho e tenta fazê-lo da melhor forma possível. Isso mostra que gosta do trabalho e que esse amor o faz suportar com alegria as dificuldades e os esforços que todo o trabalho implica. Cansa-se de trabalhar, mas não se cansa de trabalhar. Sem trabalho, a vida seria para ele monótona e vazia. Quando descansa, trabalha de uma forma diferente: noutra coisa, com um ritmo diferente, com uma alegria diferente; não compreende bem a ideia de descansar "sem fazer nada". A alegria de criar - uma ideia, uma coisa, um resultado - mais do que compensa a dor escondida nesse nascimento.
Muitos autores actuais descobriram-no e deram-no a conhecer a um vasto público: "O seu trabalho vai ocupar uma grande parte da sua vida, e a única forma de estar verdadeiramente satisfeito é fazer um grande trabalho. E a única forma de fazer um ótimo trabalho é amar o que se faz" (Steve Jobs). "Quando amas o teu trabalho, tornas-te o melhor trabalhador do mundo" (Uri Geller). "Para ter sucesso, a primeira coisa que deve fazer é apaixonar-se pelo seu trabalho" (Mary Lauretta). "Todos os dias, adoro o que faço e acredito que é uma dádiva e um privilégio amar o nosso trabalho" (Sarah Burton). Estas e outras frases semelhantes são o resultado de experiências humanas frutuosas, hoje partilhadas pela rede mundial.
Se, além disso, se acrescentar um sentido transcendente, o resultado é que, amando o trabalho, se ama a Deus e ao próximo. A fé e a esperança colorem inconfundivelmente esse amor, e introduzem a pessoa que trabalha na esfera sobrenatural a que o ser humano está destinado. Dizia São Josemaría Escrivá: "Desempenhai as vossas funções profissionais por Amor: desempenhai tudo por Amor, insisto, e vereis - precisamente porque amais... - as maravilhas que o vosso trabalho produz".
Há casos em que pode parecer difícil - até chocante ou contraditório - a pretensão de amar o trabalho a que nos referimos: ou porque se sofre com o trabalho ingrato (por qualquer razão), ou porque a situação pessoal (saúde, etc.) o torna impossível, ou porque se julga que o amor deve ser reservado para coisas mais elevadas. Poder-se-ia partir do princípio de que todos os homens devem trabalhar, mas que não é obrigatório fazê-lo com prazer.
É evidente que o amor não pode ser imposto. A questão é que o trabalhador, aquele que aprende a amar o seu trabalho - por vezes com esforço e pouco a pouco - tem um longo caminho a percorrer para ser feliz e para fazer felizes os que o rodeiam. "Aquele que é trabalhador aproveita o seu tempo, que não é apenas ouro, é a glória de Deus! Faz o que deve e está no que faz, não por rotina, nem para ocupar as horas... Por isso é diligente [e] diligente vem do verbo 'diligo', que significa amar, apreciar, escolher como fruto de uma atenção cuidadosa e atenta" (São Josemaría Escrivá).
Para além disso, o trabalho é em si mesmo o princípio das relações pessoais e sociais. E a pessoa que está no centro dessas relações deve, com elas, cumprir os deveres razoáveis de convivência que todo o homem tem para com a sociedade. Neste caso, como seria difícil para alguém que trabalha de má vontade - em oposição - ser amável, paciente, responder com doçura, e até mesmo compreender e perdoar os outros! O trabalho árduo permite transmitir à sua volta a visão otimista de quem ama o seu trabalho e sabe gozar as alegrias que este lhe proporciona.
Mesmo fora da esfera profissional, como o mau humor no trabalho pode, involuntariamente, alastrar-se à esfera familiar ou mais íntima! Uma coisa é chegar a casa cansado do trabalho e procurar um descanso natural, e outra coisa é descarregar as frustrações profissionais nos outros. Se, para além de amarmos o nosso trabalho, amarmos Deus e o próximo, o descanso necessário ajudará também a descansar os que nos são mais próximos na vida.
Quando se fala de amor ao trabalho, é necessário especificar que o termo amor contém um conceito análogo. Pode-se amar as pessoas, os animais, as coisas, as ideias, as atitudes, os sentimentos... mas não se ama da mesma maneira. O mais próprio do amor é amar as pessoas: entre elas, Deus. As outras aplicações do termo devem ser entendidas corretamente. Mas, com esta precisão, pode dizer-se que as outras coisas também são amadas.
Como explicou Bento XVI, o amor tem uma primeira dimensão de "eros": que engloba a atração, o desejo de posse. E uma segunda dimensão de "ágape": na medida em que o verdadeiro amor implica a doação, o dom, a entrega. Todo o amor tem uma proporção de cada um destes aspectos. O amor às pessoas, se for grande, implica uma boa dose de doação, até à doação total no amor conjugal. O amor às coisas e às ideias é, de forma dominante, um amor erótico: de posse e de gozo.
Mesmo assim, é legítimo chamar amor, dentro da analogia, ao que se tem, por exemplo, por um animal de estimação, um lugar (de nascimento, de vida familiar...), uma certa paisagem, a arte, o desporto, o futebol... Este amor é o que nos enche de alegria quando o podemos satisfazer, mesmo que isso exija esforço (chegar a um cume...) ou anos de preparação sacrificial (uma Olimpíada...).
Além disso, esse amor é também aquele que permite desenvolver mais perfeitamente a tarefa em questão. Por exemplo, um músico que não amasse a música nunca seria mais do que um pianista ou violinista medíocre; mesmo que tocasse as notas certas, faltar-lhe-ia "espírito" e expressividade; só um amor intenso pela música em si pode levar alguém a ser um músico extraordinário. Ou ainda, num outro domínio, só um bom caçador - um grande amante da caça - pode ser excelente nessa atividade. Os exemplos poderiam ser multiplicados.
Se se argumentar que estes exemplos se referem antes a passatempos ou gostos, mas não propriamente a empregos "profissionais", pode contrapor-se que trabalhar é uma condição humana quase universal, que se aplica de forma especial aos fiéis leigos da Igreja, como reflecte o Concílio Vaticano II em "...".Gaudium et spes". Neste contexto, João Paulo I chegou a escrever: "Francisco de Sales também defende a santidade para todos, mas parece ensinar apenas uma espiritualidade dos leigos, enquanto Escrivá quer uma espiritualidade laical. Ou seja, Francisco sugere quase sempre aos leigos os mesmos meios praticados pelos religiosos, com as devidas adaptações. Escrivá é mais radical: fala de materializar - no bom sentido - a santificação. Para ele, é o próprio trabalho material que deve ser transformado em oração". Todo o trabalho, mesmo intelectual, pressupõe - mais cedo ou mais tarde - resultados materiais que o comprovem. A referida materialização pressupõe amar, de certa forma, tanto o trabalho como a materialidade que ele contém.
Como já dissemos, a diligência é, precisamente, o amor pelo trabalho que cada um de nós tem de realizar. É certo que é possível trabalhar sem amor ao trabalho: como uma obrigação desagradável que não se pode deixar de cumprir. Não são poucas as pessoas que trabalham desta forma. Nesse caso, é muito difícil trabalhar com contentamento, e muito menos trabalhar com perfeição.
É claro que o amor (por Deus, pela família, pela pátria, pelo dinheiro...) pode ser posto em qualquer trabalho. E, nesse caso, o trabalho sacrificado e desagradável será feito com a alegria do cumprimento do dever, o que não é de pouca valia. Mas não é este amor que está implicado no conceito de laboriosidade, ainda que oculte uma certa relação com ele.
Na laboriosidade, ama-se o próprio trabalho - seja ele qual for. Ama-se o ato de trabalhar, a forma de o fazer e o seu fruto. E então o trabalho é profundamente gratificante. E, embora seja sempre possível fazer um trabalho sério e profissional, só com amor é que ele se realiza plenamente: só então é louvável. O amor a Deus ou ao família pode tornar um trabalho sacrificial e compensador, mas é difícil torná-lo humanamente agradável se não se ama o próprio trabalho.
Só o trabalho duro permite trabalhar perseverantemente, dia após dia, sem reconhecimento imediato (financeiro ou outro). E fazê-lo com total retidão de intenções, ou seja, sentir-se "pago" pelo simples facto de trabalhar, de realizar a tarefa, mesmo que ninguém o veja. Não se trata, evidentemente, de renunciar à remuneração devida, mas simplesmente de que o amor ao trabalho faz passar para segundo plano outros interesses materiais.
Como qualquer virtude, a diligência admite graus: é possível amar demasiado ou pouco o trabalho. De facto, é possível pecar contra esta virtude por excesso, se o trabalho chega a prejudicar a saúde ou o tempo devido à família ou a Deus. E também por defeito, quando a preguiça, a desordem ou a rotina transformam o trabalho numa mera "realização" material com repetidas imperfeições.
Ou seja, o amor ao trabalho deve ser ordenado, como tudo o resto. É geralmente a virtude da prudência, humana e sobrenatural, que se encarrega de colocar o trabalho no seu lugar, dentro da complexidade dos interesses que constituem a vida de uma pessoa. Não deve ser necessário esperar por indicações exteriores para se aperceber quando o trabalho está a desorganizar a própria vida.
Em suma, a pessoa diligente, para além de amar Deus e os outros no trabalho, ama o próprio trabalho: como meio, não como fim, mas ama-o. Negar esta dimensão amorosa à diligência é reduzi-la a um mero conjunto de orientações, na sua maioria negativas: não perder tempo, evitar a desordem, não adiar para amanhã o que deve ser feito hoje....
E na vida de qualquer ser humano, porque todas as virtudes estão unidas de certa forma, a laboriosidade facilita virtudes tão distantes, aparentemente, como a temperança: castidade, pobreza, humildade... Por outro lado, a ociosidade - o extremo oposto da laboriosidade -, como resume o ditado ascético, é a origem de muitos vícios.
O amor ao trabalho, juntamente com o amor a Deus e ao próximo, leva as pessoas à maturidade. Facilita essa maturidade humana que se manifesta nos pormenores concretos do espírito de serviço, da entreajuda, do altruísmo, do cumprimento das promessas, etc. Torna as pessoas mais humanas, em conclusão: "pelo seu saber e pelo seu trabalho, tornam mais humana a vida social, tanto na família como em toda a sociedade civil" (Concílio Vaticano II, "Gaudium et spes").
Por outro lado, o mesmo se passa com o trabalho e com outras realidades humanas. No caso de alguém que é obrigado a mudar de país, por motivos profissionais, familiares, etc., é importante - para ele - que aprenda a amar o novo país. Se a estadia durar anos e ele não vier a amar os costumes, o carácter e os modos do lugar, será sempre um desajustado. Será muito difícil para ele ser feliz a viver num ambiente que não ama, ou mesmo que rejeita. Da mesma forma, um caso paralelo seria o de alguém que é forçado a mudar de emprego e a assumir uma nova tarefa que, no início, não lhe parecia atractiva: mais ou menos rapidamente, teria de começar a apreciá-la e a amá-la, ou então estabilizaria como um eterno infeliz.
É bem conhecido o ensinamento de S. Josemaría Escrivá, tantas vezes por ele exposto, sobre a santificação do trabalho e da vida corrente, tendo em conta a chamada à santidade a que todos os baptizados são chamados. Segundo as suas próprias palavras: "para a grande maioria das pessoas, ser santo significa santificar o seu próprio trabalho, santificar-se no seu trabalho e santificar os outros através do seu trabalho, e assim encontrar Deus no caminho da sua vida".
No mesmo livro que acabámos de citar, o entrevistador pergunta-lhe o que São Josemaria entende por "trabalho santificador", já que as outras expressões são mais fáceis de interpretar. Responde que todo o trabalho "deve ser realizado pelo cristão com a maior perfeição possível: ...humana... e cristã... Porque assim feito, esse trabalho humano, por mais humilde e insignificante que pareça, contribui para a ordenação cristã das realidades temporais e é assumido e integrado na obra prodigiosa da Criação e da Redenção do mundo".
Além disso, "a santidade pessoal (santificar-se no trabalho) e o apostolado (santificar-se através do trabalho) não são realidades que se realizam por ocasião do trabalho, como se o trabalho lhes fosse exterior, mas precisamente através do trabalho, que é assim enxertado na dinâmica da vida cristã e, portanto, chamado a santificar-se em si mesmo".
Tendo em conta estas afirmações, é evidente que quem ama o seu trabalho encontrará na sua execução um duplo motivo de satisfação: o trabalho em si e a convicção de que, com ele, não só está a percorrer o caminho da santidade, mas que o trabalho que ama é como que o "motor" para avançar nesse caminho. Sempre com a graça de Deus, é claro.
Perante estas afirmações, poder-se-ia perguntar: como é possível santificar o trabalho se não o amamos? Porque não se trata de uma santificação subjectiva - santificar-se no trabalho - mas de santificar o exercício e a componente material do próprio trabalho: de santificar essa cooperação com a ação criadora divina, que deixou a criação "incompleta" para que o homem a aperfeiçoasse com o seu trabalho.
E, inversamente, como pode um cristão não amar esta tarefa divino-humana de aperfeiçoar o mundo, contribuindo para a sua redenção em união com Jesus Cristo, "cujas mãos se exercitaram no trabalho manual e que continua a trabalhar para a salvação de todos em união com o Pai". Com este amor, "o homem e a mulher (...) desenvolvem com o seu trabalho a obra do Criador, servem o bem dos seus irmãos e contribuem de modo pessoal para a realização dos desígnios de Deus na história".
Por isso, São Josemaria acrescenta: "Vemos no trabalho - na nobre labuta criadora dos homens e das mulheres - não só um dos mais altos valores humanos, um meio indispensável de progresso... mas também um sinal do amor de Deus pelas suas criaturas e do amor dos homens entre si e por Deus: um meio de perfeição, um caminho de santidade. É isto, no fundo, o que o trabalhador ama quando ama o seu trabalho.
Porque o trabalho é um meio e não um fim, como já dissemos. O fim é Jesus Cristo, a instauração do Reino de Deus: a Igreja, enquanto estivermos neste mundo. Mas como será difícil atingir o fim para aqueles que não amam os meios para o alcançar! O próprio Jesus, em obediência ao Pai, amou a sua Paixão e Morte como caminho para a Redenção dos homens. Embora não se possa dizer que Cristo amou a dor em si mesma, pode-se dizer que Ele morreu amando a Cruz e os pregos que O prendiam a ela, como instrumentos da Vontade do Pai.
"O suor e a fadiga, que o trabalho implica necessariamente na atual condição humana, oferecem ao cristão (...) a possibilidade de participar na obra que Cristo veio realizar. Esta obra de salvação foi realizada através do sofrimento e da morte na cruz. Ao suportar as fadigas do trabalho em união com Cristo crucificado por nós, o homem colabora de certo modo com o Filho de Deus na redenção da humanidade. Ele mostra-se verdadeiro discípulo de Jesus carregando a sua cruz quotidiana no trabalho que foi chamado a realizar". (S. João Paulo II, "Laborem ecvercens").
Mais uma vez, só o amor a esse trabalho transformará a dor e o trabalho árduo, não só numa realidade redentora, mas numa realidade profundamente satisfatória: como Cristo morre contente por dar a sua vida pela humanidade. O contrário, sofrer em desgosto e em negação, não é próprio de Cristo nem do seu discípulo.
O objetivo é grande e, como tal, implica muitas dificuldades. Muitas delas são externas: circunstâncias adversas, concorrência leal ou desleal, limitações de saúde... e mil outras razões que não dependem da vontade de quem trabalha. Mas não são as únicas, nem as mais difíceis. No interior do sujeito humano, produzem-se os conflitos mais estreitamente relacionados com esta laboriosidade, de que temos estado a falar.
O Papa Francisco resume em poucas páginas de singular clarividência os problemas "interiores" que surgem na tarefa ministerial. Dirige-se aos sacerdotes, mas as suas considerações são válidas em qualquer domínio. Se "não estão felizes com quem são e com o que fazem, não se sentem identificados com a sua missão". ("Evangelii Gaudium"). "Não se trata de um cansaço feliz, mas de um cansaço tenso, pesado, insatisfatório e, no final, inaceitável". "É assim que se cria a maior ameaça, que é 'o pragmatismo cinzento da vida quotidiana'... desenvolve-se a psicologia do túmulo... que nos transforma em pessimistas queixosos, desencantados e com cara de vinagre". Parece muito negativo, talvez exagerado, mas é uma caricatura daquele trabalhador que não está contente com o que faz, que se sacrifica mas sem amor: sem amor a Deus e ao próximo, e sem amor àquela tarefa concreta que a vontade de Deus - muitas vezes através de intermediários humanos - colocou nas suas mãos.
É evidente que o trabalho árduo - o amor pelo trabalho - não é muitas vezes suficiente para resolver os problemas. Há obstáculos que podem permanecer intransponíveis por enquanto. Nestes casos, não há nada a ganhar com queixas e reclamações; mas se tentarmos amar a situação - o trabalho e as suas circunstâncias - um pouco mais todos os dias, acabaremos por conseguir reduzir significativamente o desconforto que sofremos e que comunicamos aos outros. Dá-se uma circularidade bem conhecida: o amor facilita a dedicação e o sacrifício, e estes aumentam cada vez mais o amor. Como qualquer virtude, a diligência desenvolve-se e cresce precisamente na infirmitate: na provação e na fraqueza (cf. 2 Cor 12, 9).
"Somos chamados a ser pessoas-cântaros para dar de beber aos outros"; a difundir entre os que nos rodeiam a esperança e a alegria que nenhuma obra custosa pode diminuir, se aprendermos a amá-la com a ajuda de Deus. Porque, embora seja uma virtude humana, só a caridade sobrenatural nos permite alcançar aquela altura que, para além das razões da lógica, nos faz superar qualquer inconveniente humano. "Quando compreenderes este ideal de trabalho fraterno por Cristo, sentir-te-ás maior, mais firme e mais feliz do que podes ser neste mundo" (S. Josemaría Escrivá, "Sulco").
E depois não só diz, como São Martinho, "non recuso laborem" ("não recuso o trabalho"), mas agradece a Deus por poder trabalhar sempre, todos os dias, até ao último dia da sua vida.
O que é dito sobre a diligência e o trabalho oferece um claro paralelo com outras dimensões da vida humana. Por exemplo, a piedade: a pessoa piedosa ama tudo o que a aproxima de Deus e dos seus pormenores. A oração será mais ou menos frutuosa, talvez até seca por vezes, mas não se importa: sabe ser feliz na presença de Deus, mesmo que não "sinta" nada. Se não for piedoso, cada ação litúrgica ser-lhe-á pesada e longa, mas se amar a Deus, fá-la-á por Ele, com um sacrifício que tem valor em si mesmo. Mas só se for piedoso - se amar os gestos e as palavras - é que desfrutará das suas próprias orações e das orações litúrgicas.
A conhecida parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-29) ensina-nos que aquele que recebeu apenas um talento não amava a tarefa que lhe tinha sido confiada pelo seu mestre. Pelo contrário, os outros dois, entusiasmados com os talentos que tinham recebido, souberam fazê-los frutificar. Amaram a tarefa que lhes foi confiada e dela tiraram fruto.
O trabalho árduo é a virtude que nos ensina a amar o trabalho que Deus dispõe para a nossa vida e nos ajuda a dar os frutos que Deus espera. Temos de aprender a ser laboriosos, como tantas outras virtudes; mas, uma vez aprendida, dá-nos uma satisfação íntima no que fazemos, o que nos ajuda a ser felizes.