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As 10 notícias Omnes mais lidas em 2024

2024 foi um ano de crescimento para a Omnes e gostaríamos de dar as boas-vindas a 2025 com uma retrospetiva das melhores notícias do ano que está a chegar ao fim.

Javier García Herrería-29 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

Ao longo deste ano, Omnes trouxe-lhe notícias diárias de uma perspetiva católica. Eis uma seleção das principais notícias publicadas no nosso sítio durante os últimos doze meses.

Uma coluna de Javier Segura sobre a visão de Bento XVI da Igreja

Entrevista com a mulher "mais poderosa" do Opus Dei sobre a doença e os cuidados

Ideias criativas para aproveitar ao máximo a Quaresma

A proposta do Papa para o caso Torreciudad

Explicação das profecias bíblicas no teto da Capela da Crucificação do Santo Sepulcro

Formação em linha para 6000 catequistas de todo o mundo

Uma devoção que está a crescer na América Central, no México e nos Estados Unidos.

O anúncio da publicação de uma nova encíclica

Celebração de São José a 19 de março

Coluna de Antonio Moreno sobre a abertura dos Jogos Olímpicos

Evangelho

Nas mãos da Virgem. Maria, Mãe de Deus (C)

Joseph Evans comenta as leituras de Maria Mãe de Deus (C) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-29 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Tal como Maria tinha ido "às pressas" ver a sua prima Isabel (Lc 1,39), assim também os pastores vão "às pressas" a Belém para descobrir o "Maria e José, e o bebé deitado na manjedoura". Os acontecimentos da conceção e do nascimento de Cristo parecem ser acompanhados de uma santa pressa, na qual Maria participa plenamente, como se, após séculos de lenta e pecaminosa monotonia, a ação salvadora de Deus apressasse a vida. 

Maria mostra também uma atitude tranquila e contemplativa, como já considerámos (ver a minha meditação do ano A), mas a contemplação não é letargia. Há uma alegria, uma vivacidade, até uma velocidade, que advém da intervenção de Deus na nossa vida. Os apaixonados sabem-no muito bem: as coisas aceleram quando se está apaixonado, até o coração parece bater mais depressa. Não poderia ser menos assim com o amor divino. Este facto é expresso e celebrado no grande cântico de amor divino e humano do Antigo Testamento, o Cântico dos Cânticos: "Um rumor...! meu amado! Vejam-no, aí vem ele, saltando sobre as montanhas, saltando sobre as colinas. " (Cântico 2.8).

A Igreja dá-nos esta festa no início de cada ano, para que nos coloquemos nas mãos de Nossa Senhora e também para que aprendamos com ela a enfrentar o ano que se aproxima. Certamente com a sua atitude orante e contemplativa: "Maria, por seu lado, guardava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração". Mas também com a velocidade do seu amor e da sua generosidade, correndo com ela para ajudar os necessitados, e correndo para ela, porque onde ela está, encontramos sempre Cristo, seu Filho.

E na presença de Maria, como os pastores, temos a coragem e a confiança de proclamar tudo o que vimos e aprendemos sobre Cristo: "... e poderemos proclamar o que vimos e aprendemos sobre Cristo.contou-lhes o que lhes tinha sido dito sobre a criança. Com o encorajamento suave de Maria e de José, cada um sente-se confiante para desempenhar o seu papel e dar o seu contributo: homens, mulheres, ricos, pobres, trabalhadores, estudiosos... E depois deste encontro com a Sagrada Família, os pastores podem regressar ao trabalho "dando glória e louvor a Deus". O encontro com Maria torna-se um encontro com Cristo e leva-nos a encarar a vida - e o novo ano que começa - com uma profunda alegria em Deus.

Mas o sofrimento não tarda a chegar. Maria e José terão de testemunhar o início do sofrimento de Cristo na sua circuncisão, pela qual Jesus entra e se identifica com o povo de Israel. E Maria identifica-se com o sofrimento de Jesus, como o fará mais tarde na Cruz. Assim, ela ensina-nos a pressa santa, o espírito contemplativo e a vontade de sofrer em união com Cristo.

Homilia sobre as leituras de Maria Mãe de Deus (C)

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

América Latina

A passagem do Menino Viajante: uma tradição de Cuenca que renova a fé

O Natal no Equador é uma época de profundo significado religioso e cultural, repleta de tradições que exprimem a fé e a identidade do povo equatoriano.

Juan Carlos Vasconez-28 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Desde os tempos coloniais, a Igreja promoveu a devoção ao Menino Jesus através de novenas, missas e construção de presépios. No entanto, a passagem do Menino, com as suas caraterísticas procissões e riqueza simbólica, é uma tradição mais recente que floresceu com particular força em cidades como Bacia e Riobamba.

A Pase del Niño é uma procissão em que uma imagem do Menino Jesus, geralmente vestida com roupas luxuosas, é transportada pelas ruas. Esta imagem pode ser de diferentes tamanhos e materiais, desde pequenas figuras a grandes esculturas que requerem várias pessoas para as transportar.

Durante o cortejo, participam várias personagens tradicionais como os Curiquingue, Sacha Runa, Yaruquíes e Punín, o chocalho do Diabo, palhaços e até cães. Cada um deles tem um traje específico com significados culturais e simbólicos, executando danças e actuações que contam histórias e representam aspectos da vida e da cosmovisão andina.

A criança que viaja

Uma das manifestações mais singulares e recentes é a Pase del Niño Viajero, uma celebração que em poucas décadas se enraizou profundamente na cidade de Cuenca. Este fenómeno convida-nos a refletir sobre como as tradições se constroem e evoluem, enriquecendo a experiência de fé das comunidades.

A sua origem é recente, trata-se de uma imagem do Menino Jesus esculpida em 1823. Depois de passar por várias gerações de uma família de Cuenca, a imagem chegou às mãos de Monsenhor Miguel Cordero Crespo, que em 1961 a levou em peregrinação a Terra Santa. No seu regresso, a imagem foi baptizada como o "Niño Viajero" (Menino Viajante), dando início a uma tradição que acabaria por se tornar uma das mais importantes da cidade.

Na véspera do cortejo, à porta da casa do prioste (o leigo que organiza a procissão nesse ano), realiza-se uma festa em honra da imagem do Niño Viajero. Começa às 18:00 e conta sempre com a presença dos habitantes do bairro e de convidados especiais. 

O dia seguinte começa com uma missa em honra do Menino, seguida da distribuição de pão e café aos presentes. O programa termina com um espetáculo de fogo de artifício, música e danças folclóricas.

Durante o percurso, as personagens principais são crianças disfarçadas de figuras bíblicas, pastores, ciganos, jíbaros, saraguros, otavalos e mayorales. Estes últimos são particularmente notáveis e interessantes, pois representam os camponeses das províncias de Azuay e Cañar, que gozavam de grande poder e prestígio entre os trabalhadores das fazendas. Os seus trajes (estilizações dos trajes dos cholos e cholas da região) são, por isso, muito coloridos e elegantes, como símbolo de riqueza. 

Conduzem sempre cavalos ou carroças cobertos com mantas finas ou tecidos de lã e seda, e enfeitados com o "castelo" (conjunto de alimentos dispostos em forma de grinaldas com frutas, legumes, chocolates, garrafas de licor, brinquedos, cobaias, porcos, etc.). 

O passe para crianças em viagem 2024

No passado dia 24 de dezembro, Cuenca voltou a vibrar com a fé e o entusiasmo da passagem do Menino Viajante. Milhares de fiéis juntaram-se nas ruas para acompanhar a procissão, que este ano partiu da rotunda de Eloy Alfaro para acolher o grande número de participantes. Carros alegóricos, trupes, bandas municipais e bailarinos encheram de cor e música o percurso, que terminou em San Blas.

Às 10 horas, a imagem do Menino Viajante, vestida com um traje elegante, iniciou a sua viagem num veículo ornamentado com flores. À medida que passava, os fiéis atiravam pétalas de rosa das suas varandas, criando um tapete multicolorido. O ambiente era de alegria e devoção, com cânticos, orações e expressões de gratidão ao Menino Jesus.

O Cardeal Luis Gerardo Cabrera presidiu à Eucaristia na Catedral Metropolitana da Imaculada Conceição de Cuenca, onde se viveram momentos de profunda emoção. No dia anterior, teve lugar a tradicional mudança de padrinhos, na qual a família salesiana, os comerciantes da Feira Livre de El Arenal e o Exército receberam a responsabilidade de guardar o Niño Viajero até ao próximo ano.

Curiosidades que enriquecem a tradição

O Passe do Menino Viajante é uma tradição cheia de singularidades que a tornam ainda mais atractiva:

  • O Viajante Rapaz, globetrotter: A imagem original do Menino Jesus percorreu sítios religiosos de todo o mundo em 1961.
  • Duas réplicas para a festa: São utilizadas duas réplicas para a maioria dos eventos, incluindo a procissão de 24 de dezembro.
  • General da Polícia: O Travelling Boy foi nomeado General de Polícia e até vestiu o uniforme dos granadeiros de Tarqui.
  • Mayorales, símbolos de tradição: Os "mayorales" representam os empregados mais importantes das haciendas de Azuay e Cañar. Os seus trajes e as decorações dos seus cavalos são muito caros.
  • Chicha para todos: Há 40 anos que uma família prepara e oferece milhares de litros de chicha aos participantes.
  • Uma mistura entre o sagrado e o profano: O Passe do Viajante Infantil inclui personagens bíblicas, bem como "diablo humas", "cholos" e até personagens da cultura popular.
  • Uma festa para o paladar: A comida é abundante durante o desfile. Podem encontrar-se pratos tradicionais como o hornado e o cuy, bem como pão, fruta e doces.

A passagem do Menino Viajante é um exemplo de como a fé popular se expressa com criatividade e originalidade, gerando novas tradições que enriquecem a vida da comunidade e reforçam a identidade cultural. É uma celebração que convida à reflexão sobre o sentido profundo do Natal e a sua capacidade de unir as pessoas em torno da figura do Menino Jesus.

Jesús Poveda e o protesto silenciado: onde estão os limites da defesa da vida?

A detenção do Dr. Jesús Poveda permite-nos refletir sobre os limites éticos e jurídicos na defesa da vida. A crítica de Michael Sandel à posição pró-vida levanta a necessidade de um debate honesto e livre sobre o valor da vida e o aborto.

28 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Por mais um ano, o Dr. Jesús Poveda foi à sua consulta em frente à clínica Dator, em Madrid. É um ritual que este líder pró-vida espanhol cumpre todos os dias 28 de dezembro, dia do martírio dos Santos Inocentes. Poveda aparece à porta da clínica, a polícia pede-lhe que saia, ele senta-se no chão e os agentes levam-no por desacato à autoridade. Como Poveda repete muitas vezes, "prestamos assistência 364 dias por ano e um dia, só um dia, fazemos resistência passiva".

A cena não é mais polémica, mas é muito oportuna para refletir sobre os limites éticos, jurídicos e sociais da defesa da vida, um debate que continua a ser um dos mais polarizadores do nosso tempo. Para além das polémicas e das manchetes, o que é realmente surpreendente é a intensidade do momento: um protesto pacífico e uma detenção que procura silenciar algo mais profundo do que a mera dissidência ideológica.

As críticas de Sandel aos defensores da vida

O filósofo Michael Sandel, laureado com o Prémio Princesa das Astúrias em 2018 e um dos professores mais aclamados de Harvard, argumenta em "Contra a perfeição um argumento que merece a nossa atenção. Como membro do comité consultivo de bioética do Presidente dos EUA, durante anos ouviu as opiniões de médicos de renome pró e contra o aborto. O que o impressionou, no entanto, foi o facto de a maioria dos ginecologistas pró-vida se dar bem com colegas de quem discordam nesta matéria. Segundo Sandel, isto é uma enorme incoerência, pois se ele acreditasse que o aborto envolve a morte de milhões de seres humanos inocentes, a sua reação e ativismo seriam muito mais veementes. 

Na sua opinião, a tibieza com que muitos pró-vida exprimem a sua rejeição do aborto é a prova de que, no fundo, não acreditam plenamente naquilo que defendem. A prova disso é que são muito poucos os que dedicam 50 euros por ano a esta causa e que o seu ativismo se limita geralmente a uma ou duas manifestações. Se olharmos mais de perto, é difícil não reconhecer que, em parte, tem razão.

Incoerência no discurso pró-aborto

Paradoxalmente, a crítica de Sandel à "incoerência" das acções pró-vida também pode ser aplicada ao discurso pró-aborto. Muitos países, incluindo Espanha, avançaram para restrições extremas que procuram proibir até a oração em frente a clínicas de aborto. Isto não só limita o direito à liberdade de expressão e de consciência, como também revela uma contradição na narrativa pró-aborto. Se o aborto é uma intervenção médica legítima e desprovida de implicações éticas graves, porquê reprimir tão veementemente qualquer forma de oposição pacífica? Não estamos numa sociedade pluralista e livre?

A proibição da oração nas imediações das clínicas de aborto é um exemplo claro de como o debate não é apenas sobre a defesa dos direitos individuais, mas sobre o silenciamento do discurso incómodo. Não será isto uma admissão tácita de que a questão é moralmente espinhosa? Em vez de confrontar o debate, parece procurar evitar qualquer lembrança de que o que se passa dentro das clínicas não é um ato eticamente neutro.

Onde estão os limites?

O dilema colocado por Sandel e as acções de activistas como Jesús Poveda confrontam-nos com questões essenciais sobre os limites da defesa da vida: o que estamos dispostos a sacrificar por aquilo que consideramos justo? Que tipo de protesto é válido e proporcional quando se trata de questões tão fundamentais como a vida humana?

Para aqueles que acreditam que a vida começa na conceção, a defesa da vida não pode limitar-se a palavras. Nem pode recorrer à violência ou à imposição coerciva, pois isso comprometeria a sua legitimidade moral. Mas, entre estes dois extremos, não haverá lugar para gestos e acções que procurem sensibilizar a opinião pública para este problema? Não será válido oferecer uma ecografia a quem pensa em abortar? Não será legítimo oferecer ajuda, pública e privada, a mulheres que enfrentam o drama e a dificuldade de prosseguir a gravidez?

Não se pode exigir coerência àqueles que defendem a vida e, ao mesmo tempo, proibi-los de exprimir livremente as suas convicções. A detenção do Dr. Poveda durante um protesto pacífico evidencia esta contradição: por um lado, os pró-vida são acusados de não serem coerentes com as suas convicções e, por outro lado, são-lhes impostas restrições legais, limitando até actos simbólicos como rezar em frente a uma clínica de aborto. Esta abordagem impede um debate honesto sobre o valor da vida e do aborto, silenciando um dos lados. Temos de garantir o direito de todos a exprimirem as suas posições, só assim é possível um diálogo genuíno e justo.

O autorJavier García Herrería

Editor da Omnes. Anteriormente, foi colaborador de vários meios de comunicação social e leccionou filosofia ao nível do Bachillerato durante 18 anos.

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Evangelização

Os Santos Inocentes, vanguarda dos mártires

No dia 28 de dezembro, a Igreja recorda o massacre das crianças de Belém e de todo o distrito, com dois anos ou menos, ordenado pelo rei Herodes na sua tentativa de matar Jesus, tal como é narrado no Evangelho de São Mateus (2,1-18).   

Francisco Otamendi-28 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

Os frades franciscanos da Custódia da Terra Santa frequentemente comemorar Este episódio passa-se na Gruta dos Santos Inocentes, ligada por uma passagem à Gruta da Natividade em Belém. A poucos metros, encontra-se a gruta de S. José, o lugar onde o anjo, em sonho, falou a S. José, pedindo-lhe que fugisse para o Egito, "porque Herodes vai procurar a Criança para o matar".

A Igreja venera estes inocentes como mártires e celebra-as perto do Natal. Por vontade de Pio V, a celebração foi elevada a dia de festa. Alguns duvidaram da veracidade do relato de S. Mateus, mas o Concílio Vaticano II, na sua Constituição Dogmática Dei Verbum reafirmou o carácter histórico dos Evangelhos.

Bento XVI, em "Jesus de Nazaré", salienta que "é verdade que não sabemos nada sobre este facto a partir de fontes não bíblicas, mas tendo em conta as muitas crueldades cometidas por Herodes, isto não prova que o crime não tenha acontecido". O Papa Francisco lamentou o "massacre de inocentes em todo o mundo: no ventre materno, nas estradas dos desesperados em busca de esperança, na vida de tantas crianças cuja infância é devastada pela guerra".

O autorFrancisco Otamendi

Recursos

"O Tannenbaum": a história da famosa canção de Natal

"O Tannenbaum", "Árvore de Natal", é uma das canções de Natal mais famosas do mundo e faz 200 anos este ano.

Veit-Mario Thiede-28 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

No último trimestre de 1824, Ernst Anschütz (1780-1861) publicou o "Musikalisches Schulgesangbuch". Este contém o cântico "O Tannenbaum", que ele próprio escreveu. A canção tornou-se uma canção de Natal cantada em todo o mundo e tem antecessores consagrados e sucessores curiosos.

O seu autor é muito menos conhecido do que a própria canção. Ernst Anschütz nasceu em 1780 na aldeia montanhosa de Goldlauter, perto de Suhl. O seu pai era um vigário local e queria que Ernst o sucedesse um dia. Embora tenha estudado teologia, filosofia e pedagogia em Leipzig, decidiu não aceitar o pastorado de Goldlauter, que lhe tinha sido reservado durante dois anos após a morte do seu pai. Permaneceu em Leipzig para trabalhar como professor na Erste Bürgerschule, organista e cantor na Neue Kirche e como professor particular de canto, piano, viola, violino, violoncelo e clarinete. No entanto, o seu salário era tão baixo que tinha dificuldade em sustentar a mulher e os sete filhos. Apesar disso, era um homem respeitado em Leipzig.

"O abeto e muito mais

No entanto, não deixou aí qualquer vestígio público. Nem a Escola de Cidadãos, nem a Igreja Nova, nem o seu túmulo sobreviveram à passagem do tempo. No entanto, os arquivos da cidade conservaram fotografias de Anschütz e os manuscritos de algumas das suas canções mais conhecidas. Entre elas, "Der Tannebaum", escrita em outubro de 1824 e hoje conhecida como "O Tannenbaum". Também escreveu a letra de "Raposa, roubaste o ganso" em junho de 1824. Seguiu-se "O moinho vibra à beira do riacho", em abril de 1835, e pode pedir para ver estas peças.

O mesmo se aplica à cópia da sua autobiografia de oito páginas, não publicada, que se encontra no Museu de História da Cidade. Nela fala longamente sobre o seu "Hinário da Escola Musical", publicado em quatro volumes de 1824 a 1830 por Carl Ernst Reclam. Contém sobretudo cânticos de louvor ao Senhor, bem como alegres canções de caça, de passeio e infantis, mas também repetidas lamentações sobre a rápida passagem do tempo.

No hinário, as peças compostas ou dotadas de letra por Anschütz são acompanhadas por canções e melodias de outros compositores, como Lutero, Bach, Klopstock ou Mozart. Anschütz escreve: "Se eu calcular todos os custos envolvidos, pouco ou nada ganhei com este trabalho. O facto de estranhos e amigos me roubarem e encherem os seus cadernos e livros de exercícios com as minhas obras mostra que este trabalho não era inútil. Mas a minha sorte na vida foi sempre que onde semeei, outros colheram; onde plantei, outros colheram o fruto".

Natal em vez de tristezas de amor

Mas Anschütz também se inspirou noutros compositores e letristas. O antecessor imediato da sua Canção da Árvore de Natal vem de Joachim August Zarnack. Em 1820, este publicou uma coleção de canções que continha a trágica canção de amor "O Tannenbaum". Anschütz adoptou em grande parte o seu primeiro verso. Transformou o verso de Zarnack "És verde não só no verão, mas também no inverno, quando gela e neva" em "És verde não só no verão, mas também no inverno, quando neva". Para Zarnack, o abeto sempre verde simboliza o amor eterno. Em contrapartida, os outros três versos da sua canção lamentam a infidelidade: "Ó rapariga, ó rapariga, como é falsa a tua disposição". Anschütz, pelo contrário, consola-se cantando um Natal de esperança em vez da tristeza do amor: "Quantas vezes uma árvore tua não me encantou no Natal". A última estrofe diz: "Ó abeto, o teu vestido vai ensinar-me uma coisa: a esperança e a constância dão força e conforto em todos os momentos".

Tal como Zarnack, Anschütz adaptou a sua Canção da Árvore de Natal à melodia da canção "Viva o companheiro do carpinteiro", que apareceu pela primeira vez na imprensa em 1799. Numerosos textos são cantados com esta melodia, com ou sem referência direta a Anschütz. Por exemplo, o hino "Red Flag" do Partido Trabalhista britânico ou o hino de Maryland e de outros estados norte-americanos. Durante a Primeira Guerra Mundial, havia a versão "O Hindenburg, O Hindenburg, quão belas são as tuas vitórias". Após a derrota e abdicação de Wilhelm II, surgiu a canção de escárnio "Ó árvore de Natal, ó árvore de Natal, o imperador cortou-se em saco".

Um ramo nobre

A canção do abeto de folha perene tem uma longa tradição. Zarnack inspirou-se numa canção infantil publicada por Clemens Brentano no terceiro volume da coleção de canções "A Trompa Mágica da Criança" (1808): "Ó abeto, ó abeto, és para mim um ramo nobre, és tão fiel, difícil de acreditar, verde tanto no verão como no inverno". Brentano, por sua vez, inspirou-se numa antiga canção popular da Silésia, que diz: "Ó abeto, ó abeto, és um ramo nobre. Cresces no inverno como no verão". O compositor da corte de Coburgo, Melchior Franck (1579-1639), escreveu então: "Ó abeto, ó abeto, és um ramo nobre! Tu és o verde do nosso inverno, do nosso querido verão". Para além das palavras iniciais "Ó abeto", esta versão corresponde a um verso da canção de amor do século XVI "Um rapaz de estábulo pendura o seu freio no alto de uma árvore de Natal".

Por iniciativa do presidente da câmara do distrito de Goldlauter-Heidersbach, Matthias Gering, e dos seus companheiros de campanha, a Deutsche Post vai emitir em dezembro um selo especial intitulado "200 anos do cântico O Tannenbaum". Infelizmente, os promotores não conseguiram incluir o nome de Ernst Anschütz no selo. Assim, a homenagem pública a Anschütz continua a ser uma caraterística única da sua cidade natal. Em frente à casa paroquial onde nasceu, existe uma lápide. O seu relevo metálico enumera as canções mais famosas de Anschütz e apresenta o seu retrato. O modelo foi o retrato que Willibald Ryno Anschütz pintou do seu pai por volta de 1830. O trilho de canções em honra de Anschütz também termina no vicariato e percorre quatro quilómetros, subindo e descendo, à volta de Goldlauter, na encosta sul da Floresta da Turíngia, com seis estações que convidam a cantar.

As letras das canções são escritas em quadros. A melodia correspondente pode ser consultada através de uma aplicação. A estação em frente ao vicariato incentiva-o a cantar "O Tannenbaum".


Esta é uma tradução de um artigo que apareceu pela primeira vez no sítio Web Die-Tagespost. Para consultar o artigo original em alemão, ver aqui . Republicado em Omnes com autorização.

O autorVeit-Mario Thiede

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Iniciativas

DECRUX: Evangelizar os lares com luz e oração

As velas decorativas são um dos acessórios de decoração mais em voga neste momento. Com engenho e vontade de evangelizar, um jovem madrileno lançou a DECRUX, velas de oração que, neste Natal, são uma versão da tradição germânica das Crianças cantoras do Star ou SternsingerTrazem bênçãos aos lares e recordam os Três Reis Magos.

Maria José Atienza-27 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Há menos de um ano, Borja Pérez de Brea não sabia muito bem o que estava a "formar" com DECRUX. Este jovem madrileno, membro da Hospitalidade de Lourdes e servidor da Emaús, decidiu pôr em prática um projeto original de evangelização: velas de alta qualidade, cuidadosamente concebidas.

Estas velas são abençoadas simbolicamente, são personalizáveis e todas têm uma oração para diferentes intenções. Uma forma de levar a presença cristã a todas as casas e de ajudar diferentes causas caritativas.

Lourdes, a origem de DECRUX

"DECRUX nasceu em Lourdes", sublinha o seu fundador, Borja, à Omnes. "Somos hospitaleiros e acompanhamos os doentes para que peçam a cura. E foi aí que nos apercebemos do poder da luz para uma pessoa doente pedir a cura. Foi aí que me surgiu a ideia: combinar a vela de oração - que é um símbolo profundamente cristão, porque Jesus é a luz do mundo - com a vela decorativa doméstica.

Borja Pérez de Brea

A partir dessa primeira ideia, Borja começou a desenvolver o que é hoje DECRUXA primeira coisa que surgiu foi o facto de terem começado a surgir muitos pormenores. Desde o nome, DECRUXque remete para a cruz que cada um de nós tem a sua e para a qual pedimos, ou o logótipo, que são as três cruzes do Calvário juntas e que evocam também uma vela acesa, o que também é muito bonito. A tampa é de madeira, lembrando também a madeira da cruz e até, no pack de três velas C+M+B, os fósforos são pretos, simbolizando os pregos da cruz do Senhor".

DECRUX nasceu em março de 2024 e, desde então, milhares de velas foram vendidas através do seu site ou em pontos de venda como o espaço Baluarte em Madrid. "Tem tido muito sucesso devido à personalização.

Através do sítio Web, pode não só escolher uma oração que já temos - para a família, para as crianças... - mas também personalizar a sua própria oração, que será entregue em sua casa. Além disso, os lucros são doados a uma instituição ou a um projeto à sua escolha.

As velas são também simbolicamente abençoadas por várias comunidades, paróquias e entidades religiosas com as quais este projeto colabora através de subsídios.

Projectos e iniciativas de solidariedade

Desde o nascimento, DECRUX pretende ser um meio de apoio a projectos e iniciativas promovidos por comunidades católicas ou de cunho cristão, quer sejam de solidariedade, de evangelização, etc.

Atualmente, são muitos os projectos com os quais colabora e muitos outros com os quais está em vias de o fazer: "ajudamos as mães solteiras que escolheram a vida, os doentes; temos um projeto de eletrificação de missões na Guatemala que ajudamos, ajudamos os deficientes com lesões cerebrais e estamos a preparar uma colaboração destinada a crianças com autismo. Agora, estamos a colaborar com as Irmãs da Caridade de PaiportaEstão a fazer um trabalho impressionante no rescaldo do DANA, e é um dos projectos em que as pessoas mais gastam atualmente.

"A ideia de encontrar uma realidade e um projeto social que a vela possa ajudar a financiar", sublinha Borja, "é uma forma de angariação de fundos para os projectos com os quais partilhamos ideais. E fazemo-lo através da introdução de um objeto católico em torno de uma oração, como forma de evangelizar o lar.

Um projeto de vida

"DECRUX É o meu projeto de vida", diz Pérez de Brea, "trabalho numa multinacional, não 'vivo' disso, no sentido material, mas é, sem dúvida, o meu projeto de vida. Em DECRUX Combino a minha vocação profissional como empresário com a minha vocação para servir Deus e ajudar os doentes e os deficientes como trabalhador hospitalar. Isto marcou um antes e um depois. Tudo o que faço, ou que me acontece, é tão grande e vem de Deus que me obriga a continuar. Ou seja, há como que uma força acima de mim que torna impossível parar. É por isso que digo que o projeto é guiado pelo Espírito Santo e pela Virgem".

Para além de Borja, existem mais duas pessoas como parceiros de DECRUX mas, acima de tudo, uma comunidade de pessoas que "se colocam ao serviço do projeto de forma desinteressada, filantrópica e cada um com o que pensa poder contribuir" e que, retomando o termo da Emaús, são chamados "servidores": "Há aqueles que contribuem com os seus conhecimentos de design, ou que ajudam a descobrir novos projectos, ou aqueles que vão para a oficina e ajudam a manusear as velas".

Tratados por pessoas com deficiência

Uma das caraterísticas destas velas é que, desde a sua criação, já têm um objetivo de integração sócio-ocupacional.

As velas são montadas numa oficina de PRODISuma fundação empenhada em ajudar as pessoas com deficiências intelectuais no seu desenvolvimento pessoal e na sua inclusão no mercado de trabalho.

Cada vela tem um pequeno sinal que indica este facto: "é por isso que nenhuma vela é igual, porque tudo é feito à mão e por rapazes e raparigas com deficiência intelectual".

No início, recorda Borja, "eu fazia tudo sozinho em casa. As pessoas começaram a vir ajudar-me e apercebemo-nos de que tínhamos de fazer as coisas de outra maneira. Foi assim que entrámos em contacto com o PRODIS e estamos felizes.

C+M+B, a tradição germânica da bênção do lar

Na altura do Natal, DECRUX recuperou, para Espanha uma bela e antiga tradição germânica, (explicada para o Omnes neste artigo)Os "Três Reis Magos": visitas de crianças vestidas de Reis Magos às casas de uma paróquia, levando a bênção do pároco e recolhendo dinheiro para os pobres.

As casas visitadas estão assinaladas com *C+M+B que significa "Christus mansionem benedicat" ("Cristo abençoe esta casa") e tem também a conotação de se referir às iniciais dos nomes dos Reis na sua língua original: Caspar, Melchior e Balthasar.

Um padre explicou este costume a Borja, que viu a possibilidade de o "transferir" para as velas. DECRUX criar um Conjunto de três pequenos tealights com as iniciais C+M+Bque são vendidos juntamente com um pedaço de giz para marcar a porta da casa, porque "a ideia é que as casas sejam abençoadas com o maço. É isso que queremos, abençoar as casas de Espanha", diz Borja.

Evangelização

São João Apóstolo acolheu a maternidade universal de Maria

São João Apóstolo e Evangelista, que a Igreja celebra a 27 de dezembro, foi portador de sinais de predileção por Jesus Cristo. Foi o único apóstolo ao pé da Cruz e aí recebeu a Mãe de Jesus como Mãe espiritual de todos os homens.   

Francisco Otamendi-27 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

No seu Evangelho, São João relata a vocação dos primeiros apóstolos, incluindo a sua: "João (o Batista) e dois dos seus discípulos estavam de novo ali e, ao ver passar Jesus, disse: "Este é o Cordeiro de Deus". Os dois discípulos (André e o jovem João) perguntaram a Jesus: "Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras? Ele respondeu-lhes: "Vinde ver. Eles foram e ficaram com ele naquele dia. Era quase a décima hora". 

André contou a seu irmão Simão (a quem Jesus chamou Cefas, o primeiro Papa), e João contou a seu irmão Tiago, filhos de Zebedeu e Salomé. Eram pescadores da Galileia. São João é mencionado nos Evangelhos, por exemplo, quando pergunta a Jesus no Última Ceia que O ia trair, e por ter ficado no Calvário ao lado do Senhor na Cruz, com Maria Madalena, Maria de Cléofas e outras mulheres, quando todos fugiram.

Jesus, vendo a sua mãe e o discípulo a quem amava" (escreve o evangelista), disse à sua mãe do madeiro: "Mulher, eis o teu filho! Depois disse ao discípulo: "Eis a tua mãe"" (Jo 19,25-27). É aí que se estabelece a maternidade de Maria, notas o Igreja. Em quatro linhas, o Evangelho de João cita 5 vezes a palavra mãe. Ele escreveu o Apocalipse (Apocalipse), e com a Virgem Maria viveu em Éfeso, de onde evangelizou a Ásia Menor.

O autorFrancisco Otamendi

Recursos

Via pulchritudinis: A experiência da beleza e o seu significado transcendente

A experiência da beleza liga-se ao conhecimento transcendente de Deus. A "Via Pulchritudinis" integra as vias cosmológica e antropológica. Através da criação, do amor e da vocação humana, a beleza divina revela-se como plenitude última, orientando o ser humano para a comunhão com o Criador.

José Miguel Granados-27 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

As formas de conhecer a existência e o ser de Deus são de dois tipos. Por um lado, as cosmológicas: as famosas CINCO MANEIRAS a partir de São Tomás de Aquino são certamente a melhor síntese do pensamento filosófico e cristão sobre o assunto. Através deles descobrimos o verdadeiro Deus como o motor imóvel, a causa não causada, o ser necessário, a perfeição suprema e o fim último de todas as criaturas. 

Em última análise, Deus é alcançado pela razão humana como o Logótipos pessoais que está na origem da criação e assegura a harmonia de tudo o que existe. "O Deus verdadeiramente divino é o Deus que se manifestou como logótipos e actuou e actua como logótipos cheio de amor por nós" (Bento XVI, Discurso na Universidade de Regensburg, 12-9-2006). Esta reflexão fundamental sobre o Criador do mundo demonstra a fiabilidade do pensamento, da linguagem e da ciência. Deus constitui o sabedoria infinitao ordenamento, a mente e o coração do universo. 

Percursos antropológicos

Por outro lado, muitos pensadores (como S. Boaventura, Descartes) e místicos (como Santa Teresa de JesusSão João da Cruz, Santa Teresa Benedicta da Cruz) reflectiram sobre os percursos antropológicos para o conhecimento de Deus, em um viagem interior que explora a intimidade do ser humano, a sua anseios mais profundos e a sua consciência moral. Aqui Deus aparece como o significado último da dignidade humana, da vida, da justiça, da liberdade, do amor e da história. Esta plenitude humana, que encontra a sua raiz e o seu ponto culminante em Deus, manifesta-se nas pessoas virtuosas de humanidade elevada e, sobretudo, no testemunho - luminoso, atraente e convincente - da vida dos santos.

A ligação entre os dois tipos de caminhos pode ser descoberta na compreensão de Deus como a perfeição suprema e a fonte inesgotável das melhores bênçãos: para Só Deus cumpre a promessa de vida gravada nos grandes desejos O ser humano, com a abundância de dons materiais e espirituais que nos concede. Provavelmente, o expoente mais eloquente neste domínio da investigação interior é Agostinho de Hiponaque inicia a sua autobiografia intelectual e espiritual com a esplêndida declaração: "Fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em ti" (Confissões, Livro I, Capítulo 1).

A experiência da beleza como vocação

O ser humano - ao contrário dos animais e dos robots, que não têm conhecimento racional, consciência de si e livre arbítrio - é capaz de encontrar muitas formas e expressões de beleza que o atraem na sua busca espiritual de realização e felicidade. São inúmeros os exemplos da experiência da beleza na naturezano arte e no vida das pessoas. Com efeito, uma paisagem maravilhosa, o estudo do mundo mineral, vegetal e animal pelas ciências naturais, uma sinfonia ou melodia musical de perfeição matemática, a bela obra de um génio das artes figurativas, a história literária ou o relato real de uma existência que vale pela sua dedicação e generosidade... fascinar e encher de encanto a existência humana.

Uma manifestação necessária de grande sabedoria é descobrir isso, na sua própria essência, a beleza da criação remete para a sua origem, que é a beleza infinita do Criador, fonte misteriosa e inesgotável de vida e de bondade. Para, separados da sua fonte original, a beleza do mundo e da existência humana torna-se algo pobre, ultrapassado e vão que, no final, acaba por ser nocivo e causa cansaço, porque prende a pessoa a objectivos baixos e frustra as expectativas do desejo humano ilimitado.

Com efeito, aquele que põe o seu coração nas coisas criadas com uma afetividade desordenada, à margem do seu autor divino e das suas santas leis - que estão inscritas na natureza humana e podem ser descobertas pela consciência bem formada - permanecerá infelizmente desiludidoporque o anseio infinito da nossa coração inquieto não pode ser saciado por meras realidades finitas.

Por outro lado, aquele que é capaz de encontrar nas maravilhas da criação, e especialmente nas inúmeras expressões do amor humano, um vislumbre ou reflexo e participação na beleza infinita do Senhor, e, além disso, na sua ação intencional, coloca verdadeiramente o seu coração em Deus, encontrará plenamente a beleza infinita de Deus. cumpriu a promessa da esperança de vida plena contida como apelo existencial em cada lampejo de beleza e em cada desejo humano.

Eros como promessa

Um domínio importante desta experiência do belo é a experiência do enamoramento entre o homem e a mulher (atração amorosa ou eros); onde interpretações redutoras e erróneas, como a rigorista puritana, a hedonista utilitarista ou a emotivista romântica, conduzem necessariamente ao fracasso destrutivo dos indivíduos e das sociedades. 

Por outro lado, uma compreensão correta da amor conjugal -que corresponde à "experiência essencialmente humana", iluminada pela revelação do Verbo divino, como ensinam os teologia do corpo João Paulo II - permite-nos descobri-la como vocação para tecer uma comunhão fiel e fecunda: um lar como lugar de acolhimento e de doação, berço, escola e santuário da vida, e isto através do compromisso de doação total na aliança conjugal. Deste modo, o projeto divino inscrito no corpo e no desejo do coração do homem, criado homem e mulher à imagem de Deus, alcança o seu verdadeiro sentido. dimensão de transcendênciaA Igreja, enquanto orientada para refletir e expandir a beleza do amor eterno, para entrar na comunhão familiar das pessoas divinas. 

A idolatria e a redenção do coração

Há um sério risco de sermos arrastados, batota e presos pela sedução das coisas que seduzem com grande intensidade, aumentada pela propaganda confusa e mendaz das ideologias, até se tornarem falsos ídolos, que se revelam parasitas que roubam e escravizam os anseios infinitos do coração. Esta experiência profunda de frustração -e o consequente superação A experiência desta com a ajuda da graça do Espírito Santo - é justamente expressa pelo próprio Santo Agostinho como uma experiência decisiva para ele: "Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro de mim e eu estava fora, e assim, por fora, procurei-te; e, deformado como estava, atirei-me a estas coisas que criaste. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Estava afastado de ti por aquelas coisas que, se não estivessem em ti, não existiriam. Chamaste-me e gritaste, e quebraste a minha surdez; brilhaste e resplandeceste, e curaste a minha cegueira; exalaste o teu perfume, e eu respirei-o, e agora anseio por ti; provei de ti, e agora tenho fome e sede de ti; tocaste-me, e anseio pela paz que vem de ti". (Confissões, Livro X, Capítulo 27).

Acompanhando no caminho da beleza eterna

Por todas estas razões, é necessário professorese as comunidades educativas para orientar as pessoas neste indispensável caminho interior de transformação em direção à causa última e à fonte inesgotável da beleza da vida humana e do verdadeiro amor. São também necessários especialistas em oração, porque, como dizia João Paulo II, "precisamos de ser especialistas em oração, "o belo amor aprende-se sobretudo rezando" (Carta às famílias, n. 20). 

Neste caminho em direção à plenitude sonhada por Deus para os seus filhos, a Igreja, perita em humanidade, tem a missão urgente de acompanhar, instruir, curar e restituir a esperança, seguindo a luz da beleza que brilha em Jesus Cristo. Porque "o Filho de Deus, ao fazer-se homem, trouxe para a história da humanidade a humanidade inteira a riqueza evangélica da verdade e do beme com ele também declarou uma nova dimensão de beleza" (João Paulo II, Carta aos artistas, n. 5).

Em suma, o Senhor deixou vestígios e vislumbres da sua infinita beleza nas criaturas e no coração humano, como sinais ou indicações claras para os seus filhos, para que possamos encontrar caminhos para o mistériodo seu coração, o único que salva porque satisfaz as nossas grandes aspirações de beleza eterna.

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Evangelização

Santo Estêvão, protomártir: apedrejado, morreu perdoando

A Igreja celebra o primeiro mártir (protomártir), Santo Estêvão, a 26 de dezembro, oitava do Natal e dia de festa em muitos lugares. Um dos primeiros a seguir os Apóstolos, foi apedrejado depois do seu testemunho sobre a história da Salvação, tendo perdoado aos seus assassinos.        

Francisco Otamendi-26 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

Grego ou judeu, educado na cultura helenística, Santo Estêvão era muito estimado na comunidade de Jerusalém. O seu nome aparece nos Actos dos Apóstolos (capítulo 6) como o primeiro dos sete escolhidos para ajudar os Apóstolos na sua missão, e é descrito como "um homem cheio de fé e do Espírito Santo".

Depois de explicar a sua detenção e prisão, o capítulo 7 do Factos o seu discurso sobre a história de Israel, e o seu martírio. Depois das suas últimas palavras - "Vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé à direita de Deus" - apedrejaram-no até à morte. Morreu com estas palavras: "Senhor, não lhes imputes este pecado". "Saulo aprovou a sua morte", escreve São Lucas.

O local do martírio de Santo Estêvão em Jerusalém situa-se tradicionalmente em frente à Porta de Damasco, atualmente a igreja de Saint-Etienne. No cristianismo, a devoção Santo Estêvão foi forte desde o início. O seu martírio está registado na arte. Dante fala dele na "Divina Comédia". Só em Itália, 14 municípios têm o seu nome.

O autorFrancisco Otamendi

Cultura

A música de Bach para o Rei que vem

No tempo do Advento, a esperança da Parusia de Jesus Cristo como Rei e Salvador de todos os povos funde-se com a memória da sua primeira vinda na Encarnação. Perante isto, o crente cultiva a virtude da esperança e procura recordar com gratidão, apresentar as suas petições ao Salvador e preparar-se para lhe abrir as portas do seu coração. Tudo isto é expresso musicalmente nesta cantata.

Antonio de la Torre-26 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

J.S. Bach, Cantata BWV 61, Nun komm, der Heiden Heiland

A celebração do primeiro domingo de Advento de 1714 foi a ocasião que levou Johann Sebastian Bach (1685-1750) a compor a cantata que leva o número 61 no seu catálogo de obras, e cujo título (retirado da primeira frase do seu texto, como em todas as cantatas de Bach) é Nun komm, der Heiden Heiland ("Vem agora, Salvador das nações"). Esta é a primeira estrofe de um hino muito popular na liturgia luterana, que por sua vez se baseia na tradução alemã do hino gregoriano Veni Redemptor gentiumque a tradição atribui a Santo Ambrósio.

Nessa altura, o génio alemão, depois de ter passado por Mühlhausen e Arnstadt, trabalhava como compositor na corte de Weimar, onde era empregado como Konzertmeister dos duques protestantes Wilhelm Ernst e Ernst Augustus de Saxe-Weimar. Como tal, foi obrigado a compor uma cantata por mês para as celebrações religiosas, onde os duques amantes da música queriam a melhor música possível para o culto divino.

Cantatas de Bach

Com esta cantata, conseguiram-no certamente, pois o início do Advento era um momento litúrgico em que a música assumia particular importância. Os outros três domingos do Advento eram normalmente celebrados nas igrejas luteranas com composições mais simples, à espera do esplendor musical do Natal. Isto explica o facto de terem sobrevivido até três cantatas escritas por Bach para o primeiro domingo de Advento.

A primeira é a que nos ocupa aqui, do seu primeiro ano em Weimar, e portanto com um certo carácter de estreia da nova Konzertmeister no novo ano litúrgico. As outras duas são as compostas em 1724 (BWV 62, já no seu segundo ano como Cantor de S. Tomás em Leipzig) e em 1731 (a cantata BWV 36). As três exprimem musicalmente o conteúdo das leituras bíblicas lidas nesse dia: a entrada de Jesus como rei davídico em Jerusalém (Mateus 21,1-9) e a exortação a permanecer acordado (Romanos 13,11-14).

Para a sua primeira cantata de Advento em Weimar, Bach tem uma equipa musical bastante reduzida: três solistas vocais (tenor soprano e baixo), um pequeno coro a quatro vozes e o habitual conjunto de cordas barroco com baixo contínuo. A economia de meios, conveniente face ao grande investimento musical que a época natalícia que se aproximava exigiria, não impede que o resultado seja brilhante, pois nesta cantata é particularmente notório o talento de Bach como dramaturgo e o seu génio como compositor, que já se manifesta num estilo maduro e consolidado.

A entrada do Rei na sua Corte

Esta cantata começa, de facto, com um gesto de notável carácter dramático, pois o coro de abertura que esperamos encontrar numa cantata é apresentado sobre uma abertura ao estilo da ópera francesa, nada menos. A partir do final do século XVII, as óperas representadas na corte de Versalhes de Luís XIV, e mais tarde nas da maior parte da Europa, começavam com uma abertura em três partes tocada à entrada do Rei.

A primeira parte é uma marcha solene, anunciando a vinda do monarca ao teatro, a seguinte é uma secção de fugato rápido que energiza a presença do rei, e a terceira é uma repetição da marcha de abertura para assinalar o início da atuação. Pois bem, sendo o Advento o tempo de esperar a chegada do Rei, Bach concebe o coro de abertura segundo o esquema da abertura francesa, com uma intenção que qualquer dos seus ouvintes instruídos de Weimar perceberia claramente.

Na marcha de abertura, o coro canta voz a voz a primeira estrofe do hino que dá título à cantata ("Vinde agora, Salvador das nações"); depois, as quatro vozes cantam a segunda estrofe em uníssono ("mostrai a Virgem que nasceu"). Segue-se uma fuga coral rápida e animada em que o coro canta a terceira estrofe ("que todo o mundo o admire"). Finalmente, repete-se a marcha inicial e o coro repete em uníssono a melodia coral cantando a quarta estrofe ("porque Deus dispôs um tal nascimento"). O Filho de Deus e da Virgem está prestes a entrar como Rei Salvador na sua Corte, onde estão reunidas todas as nações da terra.

Anúncio e fé

Nas cantatas maduras de Bach (as do período de Weimar e, mais ainda, as compostas em Leipzig), o coro inicial é seguido por uma sucessão de recitativos e árias. Os primeiros, com um acompanhamento simples, servem geralmente para a voz solista anunciar e expor o conteúdo da fé. Nos segundos, com um amplo e cuidado enquadramento instrumental, o solista canta expressivamente a sua fé feita oração. Embora esta divisão entre proclamação (o recitativo) e fé (a ária) nem sempre se verifique, ela pode ajudar-nos a compreender e a seguir o caminho espiritual que Bach propõe em cada uma das suas cantatas.

No caso da BWV 61, o tenor anuncia num recitativo a fé na Encarnação do Salvador como princípio e raiz de todas as suas vindas a este mundo. Depois de uma exposição simples, o violoncelo, que até agora só acompanhava como baixo contínuo, é maravilhosamente animado nas palavras finais do anúncio: "Tu vens e brilha a Tua luz cheia de bênçãos". Um novo dispositivo dramático que nos recorda a necessidade de anunciar a luz abençoada que o Rei Salvador trará. O tenor transforma então o seu anúncio numa expressão de fé na ária que se segue ao recitativo. É uma oração de proteção e de bênção a Jesus, cantada com um ritmo imparável de jig (dança animada que se dançava nos casamentos e nas festas populares) que evoca a alegria do amor e da fé no Salvador.

A Palavra e a música

Depois desta coreografia de fé, Bach atinge-nos com um novo gesto dramático. Um recitativo em tonalidade menor confiado ao baixo, que representa o Vox Christirebenta contra um pano de fundo de cordas em pizzicato. A cor menor evoca a escuridão e a noite, o pizzicato que toca as cordas dos instrumentos, sugere a batida aguda de uma porta. O contraste com a ária precedente não podia ser mais dramático, para preparar o ouvinte a ouvir as palavras deste recitativo, que anuncia a presença de Jesus à porta de cada crente com as próprias palavras do Apocalipse: "Eis que estou à porta e bato..." (Apocalipse 3,20).

Com esta dura mudança de tom, o percurso espiritual desta cantata conduz-nos da vinda do Rei à presença efectiva de Cristo que bate à porta de cada coração. Perante este anúncio, o coração crente canta com fé um cântico de acolhimento ao Deus que nos chama. É o que faz a soprano na ária que se segue a este imponente recitativo. Uma ária de doçura e intimidade, onde a fé medita na sua melodia sobre um simples acompanhamento de violoncelo, onde se responde ao apelo do Salvador ("Abre-te, coração, abre-te, porque Jesus vem e vai entrar").

A soprano canta aberto sobre uma figura de três notas ascendentes que o violoncelo recordará ao longo de toda a ária, na qual, de facto, o coração se eleva; no entanto, quando o soprano canta o último verso ("Oh, como serei feliz!"), o violoncelo faz fluir uma corrente ondulante de colcheias, que parecem evocar o mar de felicidade que o coração recebe quando escutou desperto o chamamento do Rei que bate à porta e soube abrir-se a Ele. Mais uma vez, a Palavra de Deus encontra na música de Bach um reflexo admirável.

Para concluir a cantata, Bach não recorre ao austero coral final que será de rigueur nas cantatas de Leipzig, mas compõe uma breve mas animada fantasia coral. As vozes e os instrumentos exprimem a alegria e a viva expetativa contidas no texto que encerra a cantata ("Amém, amém! Vem, bela coroa de alegria, não te demores! Espero-te ansiosamente").

O caminho espiritual conduziu-nos desde a proclamação solene da entrada do Rei na corte até à pintura musical das atitudes que ela desperta no crente: alegria, súplica, disponibilidade, dedicação e esperança certa. Quem escutou a cantata com que Bach estreou a sua produção musical para o Advento na capela do Tribunal Ducal de Weimar pode ter experimentado algumas destas atitudes graças à força espiritual sugestiva do seu compositor. Talvez ainda hoje continue a despertar no coração de muitos ouvintes estas atitudes que a chegada do Advento nos sugere. Isto pode ser comprovado pela audição desta versão cuidadosamente elaborada do Sociedade de Bach dos Países Baixosque inclui legendas em inglês para saborear a música e as palavras ao mesmo tempo.

O autorAntonio de la Torre

Doutor em Teologia

Recursos

A cidade de Belém: história e arqueologia

A importância histórica de Belém é inegável: para os judeus, porque David nasceu ali e deveria reinar sobre Judá e Israel de 1013 a 966 AC. Para os cristãos, porque é o lugar onde o Salvador, Jesus, nasceu, segundo os Evangelhos de Mateus e Lucas.

Gustavo Milano-26 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 11 acta

Muito antes da chegada de Abraão à Terra Santa, os cananeus viviam lá com pequenas cidades construídas e fortificadas com muros. Este é o caso, entre outros, de Belém, cujas origens remontam a cerca de 3000 a.C. É uma cidade situada numa colina a quase 800 m acima do nível do mar Mediterrâneo. De facto, o seu nome original não é "Belém", uma vez que a sua versão hebraica transliterada a transmite. Lahmo é o deus caldeu da fertilidade, chamado pelos cananeus "Lahama", e a ele dedicaram a cidade, considerando os campos férteis que a cobrem. Há indícios de que estes primeiros habitantes construíram um templo a este deus na mesma colina onde agora se ergue a Basílica da Natividade. Em 1969 Shmarya Gutman e Ariel Berman identificaram a cidade cananéia na mesma colina, mas a escavação não foi levada a cabo. E cerca de dois quilómetros a sudeste de Belém, a equipa de Lorenzo Nigro descobriu uma necrópole do mesmo período.[1].

Belém de Judá

Embora a apenas 8 km de Jerusalém, a cidade de Belém nunca esteve entre as mais populosas do reino de Judá, que durou entre 928 e 586 a.C. A mais antiga menção extra-bíblica registada de Belém é hoje numa carta encontrada no sítio arqueológico de Amarna, no Egipto, a partir do século XIV a.C. Neste documento Abdi-Heba, então governador egípcio de Jerusalém, pediu ao Faraó Amenhotep III que lhe enviasse arqueiros para que pudesse reconquistar a cidade de "Bit-Lahmi", onde o Hafiru se tinha revoltado.[2].

No entanto, a sua referência na Bíblia é mais abundante. O primeiro é em Gen 35:16-19, quando se narra que Jacob e a sua família estavam de passagem depois de deixar Betel. Nesta passagem menciona-se primeiro a cidade de Ephratah, e depois é mencionada novamente, mas com a clarificação "isto é, Belém". Também o profeta Miquéias chamou-lhe "Belém Efrata" (cf. Miquéias 5:1). A questão é que "Ephrathah", em hebraico, indica a fertilidade da terra, que já tinha dado o nome a esta cidade na época cananéia, embora referindo-se ao deus da fertilidade, e não directamente à fertilidade. O que os hebreus fizeram foi substituir o nome do deus da fertilidade por uma palavra hebraica semelhante em fonética à já mencionada "lahama", tal como "lehem" (pão, que de alguma forma também alude às plantações de trigo e cevada da cidade), e acrescentar uma espécie de apelido que traduzia a palavra substituída. Foi daqui que surgiu o "ephratah". Além disso, em Jos 19:15 é mencionada uma Belém como sendo atribuída à herança de Zebulom, assim localizada no sul da Galileia.[3]. No entanto, "efrata" também poderia ser utilizado para os desambiguar.

Devido à falta de importância desta outra Belém, com o tempo a Belém de Judá ganhou fama, tornando o apelido "Ephratah" dispensável. Isto está implícito na inscrição "Belém" num selo dos séculos VIII-7 a.C. encontrado em 2012 pelo arqueólogo Eli Shukron, do Autoridade das Antiguidades de Israelna periferia da Cidade Velha de Jerusalém[4]. Foi aparentemente um documento administrativo ou fiscal enviado da capital.

Continuando com a questão da fertilidade da região, um factor fundamental para que a vida exista, Francisco Varo explica que "a cidade estava situada numa colina, e aos seus pés estavam os campos de trigo e cevada, bem como os olivais e vinhedos. Economicamente era de alguma importância, pois era um mercado para pequenos animais, uma vez que os pastores de ovelhas e cabras, que vagueavam pelo deserto vizinho de Judá com os seus rebanhos, costumavam acampar nos arredores da aldeia".[5].

Na mesma linha, o livro de Rute refere que "Boaz veio de Belém" (Rute 2,4) e que ele era o proprietário de terras cultivadas, nas quais a própria Rute estava a trabalhar quando o conheceu. E 2Sm 23,16 fala de um "poço junto à porta de Belém", de onde os que foram com David o deram de beber e ele recusou, mesmo depois de dizer: "Quem me daria água para beber do poço de Belém, que está junto à porta? A este respeito, González Echegaray diz que "como não havia fontes no recinto, Belém foi abastecida com água da chuva contida em cisternas frescas escavadas na rocha, já famosa dos tempos antigos".[6]. Segundo Cabello, "parece que o aqueduto romano que passou pela cidade tornou a sua situação um pouco melhor, pois não havia fontes de água nos seus recintos. Ser uma cidade de trânsito para as fortalezas de Herodião e Masada no tempo de Herodes o Grande e controlar a rota principal que liga Jerusalém a Hebron também lhe deu alguma vida".[7]. Estas duas últimas cidades estavam a cerca de 30 km de distância, e foi bom poder parar quase a meio caminho em Belém para reabastecer e descansar durante algum tempo.

A sua importância histórica para os judeus, de facto, provém precisamente do bisneto de Boaz e Rute, David, que nasceu ali e deveria reinar sobre Judá e Israel de 1013 a 966 AC, quando a monarquia ainda estava unificada, segundo o relato bíblico do Primeiro e Segundo Livros de Samuel e do Primeiro Livro dos Reis. Para os cristãos, por outro lado, acrescenta-se que o nascimento de Jesus também teve lugar ali, de acordo com os Evangelhos de Mateus e Lucas. A relação dos dois personagens bíblicos mais centrais em cada Testamento será discutida a seguir.[8] com a cidade de Belém.

Belém de David

Em Juízo 17,7, quando o autor sagrado diz "Belém de Judá", está a referir-se à região e não à tribo. De facto, a tribo de Judá tinha ocupado grande parte do que mais tarde se tornou o reino do sul, ou seja, desde perto de Belém até ao Cades-Barnea no deserto de Negev, excluindo as proximidades de Beersheba, habitada pela tribo de Simeão. As grandes cidades de Judá eram Hebron na região montanhosa e Laquis na planície do Sefelah. 

Outro factor que tornou Belém relevante é que o túmulo de Raquel, a matriarca esposa de Jacob e mãe de José e Benjamim, e o terceiro lugar mais sagrado no judaísmo, é aí venerado.[9]. Quando deu à luz o seu segundo filho, estava em Belém e aí morreu (cf. Gn 35,16-19). 

Mas de longe, o personagem judeu que tornou Belém mais famosa foi David. É de onde vem a sua família (cf. 1 Sam 17,12-15), e é também de lá que foi ungido pelo profeta Samuel. A partir daí, o jovem pastor serviu Saul, o velho rei de Israel, e tocou a lira por ele quando se sentia mal, o que o acalmou. Após a vitória de David sobre Golias, num contexto em que Saul já não gozava de tanto prestígio entre o povo, David tornou-se genro do rei e grande amigo de Jonathan, filho de Saul. Em suma, depois de perseguir David, Saul suicida-se após ter sido ferido numa batalha contra os filisteus. Algumas divisões surgem sobre o possível sucessor, mas David ganha a confiança dos chefes e é feito rei em Hebron. Escolhe então como cidade neutra para ser a capital do reino a chamada Jebus, ou seja, a cidade dos jebuseus, que corresponde a parte do que se tornaria Jerusalém. E ali reinou durante décadas. 

Um episódio interessante é que mais tarde Belém foi sitiada pelos filisteus, quando o rei David lá esteve (cf. 2Sm 23:14). González Echegaray acrescenta que "parece que na parte oriental alta da cidade [de Belém], onde hoje se encontra a basílica da Natividade, as memórias da família de David ainda estavam preservadas, e provavelmente viviam alguns que se consideravam seus descendentes" (cf. 2Sm 23:14).[10]. David morreu e está enterrado na antiga área de Jebusite de Jerusalém, agora chamada a "Cidade de David".

Foi sucedido pelo seu filho Salomão, que reinou de 965 a 928 AC. No final do seu reinado, os seus filhos estavam divididos, tal como o reino. Em Jerusalém, Gibeon e Jericó, muito perto do norte de Belém, viviam a tribo de Benjamim, onde as tribos de Judá e Benjamim foram convocadas por Roboão após a morte do seu pai Salomão (cf. 2Ch 11,1-12). A tribo de Simeão, por sua vez, diminuiu ao longo do tempo até ser assimilada à tribo de Judá. Assim, Roboão unificou as tribos de Judá e Benjamim, e tornou-se rei de Judá, com a sua capital em Jerusalém, enquanto o general Jeroboão se tornou rei de Israel, com a sua capital em Samaria, governando o território das outras tribos israelitas.

Para além das antigas muralhas cananéias, a cidade de Belém foi fortificada e amuralhada por Roboão, neto de David (cf. 2 Cr 11,5-12). Neste contexto, as cidades mais proeminentes foram Jerusalém, Laquis e Beersheba, esta última na zona mais meridional do deserto de Hebron. "A cidade [de Belém] tinha sido repovoada no seu regresso do exílio babilónico com exilados nativos do lugar (cf. Ezc 2,21; Ne 7,26), e uma das suas fontes de rendimento deve ter sido o comércio de ovelhas, que pastavam, como hoje, nas proximidades do deserto adjacente de Judá (Lc 2,8,15; 1Sam 16,11,19; 17,15,34-35)".[11].

Embora citado anteriormente para outro propósito, historicamente é nesta altura que se situa o profeta Miqueias, que viveu nos séculos VIII-7 a.C. Em Mc 5,1 lemos: "Mas vós, Belém Efrata, embora tão pequenos entre os clãs de Judá, de vós sairá para mim um que há-de ser governante em Israel; as suas origens são muito antigas, desde os tempos antigos". Feita séculos depois de David, esta profecia é interpretada como messiânica, e aplica-se a Jesus.

Belém de Jesus

A relação entre a cidade de Belém e Jesus foi objecto de numerosos estudos, o que permitiu uma maior precisão nos dados, em comparação com David e todas as personagens anteriores. Desde a data e local precisos do seu nascimento na cidade até à razão pela qual Maria e José estiveram lá. Nesta secção discutiremos também a Basílica da Natividade que se encontra na parte elevada da cidade de Belém.

Embora os Evangelhos de Marcos e João não digam que Maria deu à luz em Belém, nem dizem o contrário, nem colocam o acontecimento em qualquer outra localidade. Por conseguinte, não surge mais nenhuma disputa sobre o assunto. Contudo, os Evangelhos Mateus e Lucan, ao localizarem o nascimento de Jesus naquela cidade, fazem-no no contexto de um censo, e sobre isto existem diferenças de opinião.

O primeiro Evangelho diz simplesmente: "Depois de Jesus ter nascido em Belém de Judá no tempo do Rei Herodes" (Mt 2,1), e um pouco mais adiante cita a conhecida profecia de Miqueias. Lucas, por outro lado, contextualiza mais a viagem da Sagrada Família à cidade de David: "Naqueles dias foi emitido um édito por César Augusto para que o mundo inteiro fosse registado. Este primeiro registo teve lugar quando Quirinus era governador da Síria. Cada um foi registar-se, cada um para a sua própria cidade. José, sendo da casa e família de David, subiu de Nazaré, uma cidade da Galileia, para a cidade de David, chamada Belém, na Judeia, para se registar com Maria, sua esposa, que estava grávida" (Lc 2,1-4). Uma vez que o nascimento de Jesus teve lugar entre 6 e 4 a.C., e o censo de Quirinus teve lugar dez ou doze anos mais tarde, parece que a informação não se encaixa.[12].

Citando o estudo de Pierre Benoit, González Echegaray resume-o da seguinte forma: "O recenseamento referido no Evangelho deve-se, de facto, como diz, a uma tentativa geral de recenseamento da população do império, pelo menos na sua zona oriental, de acordo com as disposições do Imperador Augusto. Também incluiu os estados associados, como o reino de Herodes. Deve ter começado por volta de 7 AC, quando Saturno era governador da Síria, e depois continuou sob Varus no fim do reinado de Herodes, para concluir no tempo de P. Sulpicius Quirinus (6 DC) com a mudança de administração (...). Este censo, portanto, deu na Judeia o nome de Quirinius, e o Evangelho cita-o como tal, embora de facto tivesse começado mais cedo, mesmo alguns anos antes do nascimento de Jesus".[13].

O mesmo autor esclarece porque era necessária a viagem ao lugar de origem de cada família: "O facto de o Evangelho de Lucas o indicar como o motivo da viagem de Nazaré a Belém implica, com efeito, que se tratou de um recenseamento anterior ao directamente relacionado com o capite do tributumO censo não foi um censo, uma vez que afectou igualmente os habitantes da Judeia e da Galileia. Além disso, pensar-se-ia que de alguma forma também estava relacionado com a situação cadastral, uma vez que não seria necessário ir ao "local de origem" para se registar apenas para um recenseamento individual, se não estivesse ligado ao problema da identificação dos bens familiares no campo".

Por sua vez, Murphy-O'Connor não hesita em afirmar que "Maria e José eram nativos de Belém, e só foram para Nazaré por causa da atmosfera de insegurança gerada pela dinastia Herodiana (cf. Mt 2). A sua longa residência na Galileia deu a Lc 2,1-7 a impressão de que sempre lá tinham vivido, pelo que ele teve de encontrar uma razão para os colocar em Belém no momento do nascimento de Jesus. Ele invocou erroneamente o censo de Quirinus, mas este teve lugar no dia 6 DC".[14]. Por outro lado, outro autor menciona um certo plano de Judaísmo da Galileia, do qual José e muitos outros judeus teriam feito parte, e é por isso que ele foi para lá com a sua família.[15]. Por enquanto, no entanto, a questão só pode ser mantida em aberto, dada a limitada informação disponível.

Além disso, segundo o relato Lucan, o nascimento de Jesus teve lugar num estábulo (cf. Lc 2,6-7): "E quando lá estiveram [em Belém], chegou o momento de ela [Maria] dar à luz, e ela deu à luz o seu filho primogénito, e envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles no quarto". O estudo dos termos utilizados pelo evangelista leva-nos a compreender que o nascimento não teve lugar numa estalagem, mas numa casa construída numa caverna na encosta de uma montanha.[16]. Talvez a casa em questão, ou parte dela, tenha sido utilizada como estábulo, uma vez que continha uma manjedoura. De acordo com Pfeiffer[17]A tradição de que Jesus nasceu numa caverna em Belém data do segundo século, ou seja, não é propriamente do período apostólico. Mas Murphy-O'Connor, por sua vez, retoma o facto de que "a cerâmica e alvenaria pré-constantina sugerem que estas grutas [a caverna tradicionalmente pensada como sendo aquela em que Jesus nasceu e outras grutas mais a norte] foram utilizadas no primeiro e segundo séculos AD" (Murphy-O'Connor, p. 4).[18]. Neste sentido, a tese de que foi uma casa convencional construída em frente a uma caverna, e não uma estalagem, é plausível. O facto de o nascimento ter ocorrido na área dedicada aos animais pode ter sido para preservar a intimidade do momento familiar, porque é possível que eles não estivessem sozinhos naquela casa.

Finalmente, como um facto curioso, apesar de Jesus ter estado em tantas cidades durante a sua vida pública, incluindo muitas perto de Jerusalém, não há registo de que alguma vez tenha visitado Belém como adulto. Talvez seja por isso que o filho de Maria não é conhecido como "Jesus de Belém", mas sim como "Jesus de Nazaré", não obstante a ligação conveniente com o Rei David que isso implicaria.[19].

Contudo, ao chegar a Belém, o visitante é confrontado com a Basílica da Natividade. Se na época romana a caverna onde Jesus nasceu originalmente e os seus arredores tivesse sido coberta por uma "madeira sagrada" de Adónis, em 325 d.C. o imperador Constantino mandou construir uma basílica no local.[20]. Segundo Eutychius de Alexandria (séculos IX-10), após a revolta samaritana de 529 d.C., "o Imperador Justiniano ordenou ao seu enviado que demolisse a igreja de Belém, que era pequena, e que construísse outra de tal esplendor, tamanho e beleza que nenhuma outra igreja na Cidade Santa a pudesse ultrapassar".[21]. De facto, em 1934, os arqueólogos William Harvey, Ernest Tatham Richmond, Hugues Vincent e Robert William Hamilton confirmaram que o edifício remonta ao tempo de Justiniano e conseguiram reconstruir o plano da basílica de Constantino, que se encontrava no mesmo local que a actual[22]. A obra de Justinian foi concluída em 565 d.C., e a actual Basílica da Natividade é essencialmente a estrutura construída por Justinian com algumas pequenas manutenções ou adições não estruturais.


[1] Cf. Pedro Cabello, Arqueologia bíblica. Córdoba: Almuzara, 2019, p. 494.

[2] Cf. Jerome Murphy-O'Connor, A Terra Santa. Oxford: Oxford University Press, 2007, p. 229.

[3] Adrian Curtis, Atlas Bíblico de Oxford. Oxford: Oxford University Press, 2007, p. 132.

[4] Cabelo, op. cit., p. 494.

[5] Francisco Varo em: A Bíblia no seu ambiente. Estella: Verbo Divino, 2013, p. 48.

[6] Joaquín González Echegaray, Arqueologia e os Evangelhos. Estella: Verbo Divino, 1994, p. 99.

[7] Cabelo, op. cit., p. 494.

[8] Esta é a opinião de John Bergsma no livro A Bíblia passo a passo (Madrid: Rialp, 2019), que David é o personagem central de todo o Antigo Testamento, já que Jesus é mais conhecido como o filho de David do que como o filho de Abraão ou o filho de Moisés, por exemplo. E, obviamente, Jesus é o personagem central do Novo Testamento.

[9] Cabelo, op. cit., p. 494.

[10] González Echegaray, op. cit., p. 100.

[11] González Echegaray, op. cit., p. 99.

[12] González Echegaray, op. cit., p. 70.

[13] González Echegaray, op. cit., p. 70.

[14] Murphy-O'Connor, op. cit.p. 230.

[15] González Echegaray, op. cit., p. 40.

[16] González Echegaray, op. cit.., p. 100.

[17] Charles Pfeiffer, Dicionário bíblico-arqueológico. El Paso: Mundo Hispano, 2002, p. 68.

[18] Murphy-O'Connor, op. cit.., p. 237.

[19] Curtis, op. cit.., p. 149.

[20] Pfeiffer, op. cit.., p. 68.

[21] Em Murphy-O'Connor, op. cit., p. 233.

[22] Cabelo, op. cit., p. 494.

O autorGustavo Milano

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Evangelho

De pais e filhos. Sagrada Família (C)

Joseph Evans comenta as leituras da Sagrada Família (C) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-26 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Não é de admirar que as famílias possam ter problemas e mal-entendidos. Mesmo a melhor família de todas, a Sagrada Família, teve um mal-entendido, como lemos no Evangelho de hoje (Lc 2,41-52). Parece que houve um mal-entendido: Jesus ficou no Templo e não disse nada aos seus pais. Quando finalmente o encontram, preocupado e doente, depois de três dias de procura, ele não se compadece e fica surpreendido por não terem pensado que ele estaria no Templo, a casa de seu Pai. 

Jesus é o homem perfeito e põe Deus à frente de tudo, embora, como homem real e, portanto, limitado (o que faz parte da sua natureza humana), não tenha em conta, de forma algo adolescente, a preocupação que causaria aos seus pais ao fazê-lo. Dizem-nos que os seus pais "não compreendeu"Eu estava a dizer.

Jesus mostra-nos a atitude que os filhos devem ter para com os pais. Primeiro para com Deus, mas depois para com os pais. "Desceu com eles, veio para Nazaré e ficou-lhes sujeito".. Mas Nossa Senhora mostra-nos a atitude que os pais devem ter: rezar. "A mãe dele guardou tudo isto no seu coração". Mais a rezar do que a falar. Vemos também a relação perfeita entre José e Maria, que é um ótimo exemplo para os cônjuges. José toma geralmente a iniciativa, como quando levou Maria e Jesus para o Egito e voltou.

Mas, nesta ocasião, ele retém-se e deixa Maria falar, uma vez que o questionamento das acções de Jesus seria mais apropriado vindo dela do que dele. José e Maria mostram-nos uma equipa perfeita de marido e mulher. Cada um respeita a competência e a autoridade do outro. 

A primeira leitura ensina-nos uma bela lição. Ana concebeu milagrosamente Samuel, quando pensava que nunca iria conceber. Mas agora devolve-o a Deus. Está disposta a dedicar o seu filho ao Senhor e vai ao templo para o fazer. Os pais têm de receber os seus filhos como uma dádiva de Deus e estar preparados para lhos devolver. E talvez tenhamos de estar preparados para sermos surpreendidos pelos nossos filhos. Até Maria e José tiveram de ser surpreendidos. Por vezes, Deus tem de nos dar uma lição, de nos surpreender através dos nossos filhos e das escolhas livres e inesperadas que eles fazem. Eles pertencem a si próprios, não a nós; além disso, pertencem a Deus.

Homilia sobre as leituras da Sagrada Família (C)

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Vaticano

Começa o Jubileu 2025: uma Igreja de portas abertas e com uma perspetiva de esperança

O Papa Francisco abriu o Ano Jubilar da Esperança com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, numa cerimónia que foi um resumo e o culminar do seu pontificado.

Maria Candela Temes-26 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No dia 24, às 19 horas, hora de Roma, o Papa Francisco lançou uma nova Ano Jubilarcom o rito de abertura da Porta Santa no átrio de São Pedro.

Foi uma cerimónia de grande beleza litúrgica e carregada de simbolismo, que precedeu a celebração da Santa Missa da Natividade do Senhor na Basílica do Vaticano.

A chamada Jubileu de Esperança que a Igreja acaba de lançar, decorrerá até 6 de janeiro de 2026.

Recordação do Jubileu do Ano 2000

No átrio da imponente igreja, diante de uma porta rodeada de flores, o Papa realizou um rito que é celebrado há 600 anos, desde que Martinho V abriu pela primeira vez a porta da Basílica de São João de Latrão.

A memória remete inevitavelmente para o que aconteceu há um quarto de século, quando João Paulo II Entrou pela porta de S. Pedro envolto numa capa de chuva de cores vivas, comemorativa dos dois mil anos de redenção.

O Papa no limiar da Porta Santa da Basílica de São Pedro, depois de a ter aberto e inaugurado o Jubileu 2025. (Foto CNS/Vatican Media)

O mesmo gesto de cansaço e oração do Papa polaco nessa noite foi também visto em Francisco, que vestia uma simples túnica branca e estava sentado numa cadeira de rodas, devido ao seu delicado estado de saúde.

Com 88 anos de idade e mais de uma década de ministério petrino, vê-lo atravessar a porta santa teve uma força expressiva especial, pois testemunhámos uma imagem que resumia o magistério com que ele guia a Igreja há onze anos.

Já no Exortação Apostólica Evangelii Gaudiumque é a carta programática do seu pontificado, publicada em novembro de 2013, falou do seu desejo de "uma Igreja de portas abertas".

Uma outra frase, "há lugar para todos na Igreja", tem sido a leitmotiv da sua pregação nos últimos meses, uma vez que a repetiu com insistência no Dia Mundial da Juventude em Lisboa, em agosto de 2023. 

O primeiro a atravessar o portão sagrado

Esta abertura e universalidade estiveram presentes em toda a cerimónia. Depois do Papa, 54 fiéis dos cinco continentes - alguns de lugares como o Egito, a Eritreia, o Vietname, Samoa ou Papua Nova Guiné - entraram pela porta santa.

Na missa, a oração dos fiéis começou com um pedido em chinês e incluiu, não por acaso, um pedido de paz em árabe.

As oferendas eram transportadas por pessoas vestidas com os seus trajes regionais: trajes asiáticos, árabes e africanos, as penas e o cobertor de um índio americano e o traje típico dos gaúchos argentinos.

Noutro momento, crianças de vários países levaram uma oferenda de flores ao Menino Deus.

Crianças de 10 países levam flores a uma estátua do Menino Jesus em frente ao altar para a missa da véspera de Natal (CNS Photo/Lola Gomez)

Um pontificado de esperança

A celebração da véspera de Natal foi o culminar de um pontificado que sublinhou a centralidade da misericórdia na vida da Igreja.

Vimos um Papa recolhido em oração, esgotado, apoiado para atravessar uma porta que simboliza a reconciliação com Deus e, sobretudo, simboliza Jesus Cristo, que se proclamou "a porta das ovelhas". 

O próprio Francisco encarna a esperança que a Igreja prega aos seus filhos neste Ano Santo. Esta virtude teologal foi o tema do seu homilia da missaIrmãos e irmãs, este é o Jubileu, este é o tempo da esperança. Convida-nos a redescobrir a alegria do encontro com o Senhor, chama-nos à renovação espiritual e compromete-nos na transformação do mundo, para que este se torne verdadeiramente um tempo de Jubileu". Num mundo dilacerado pela guerra e pela dor, o Papa, que veio do novo mundo deixa-nos um legado de esperança.

Vaticano

Histórias de esperança em vésperas do Jubileu

O Papa Francisco abriu finalmente a Porta Santa da Basílica de São Pedro, inaugurando o Ano Jubilar. O primeiro dia trouxe consigo histórias de esperança no meio da espera e do frio de Roma.

Luísa Laval-25 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

O dia tão anunciado pelo Papa Francisco finalmente chegou, e a igreja abriu as suas portas para os Ano Jubilar da Esperança. A espera pela inauguração e pela Missa de Natal foi marcada pelo frio e pelo vento forte na Praça de São Pedro. Mesmo assim, isso não impediu que cerca de 25.000 pessoas assistissem à cerimónia do lado de fora (enquanto 6.000 estavam no interior). Neste primeiro dia do Jubileu, foi possível encontrar rostos e histórias que transmitem esperança.

A cerca de uma hora e meia do início da missa e com o frio a aumentar, um grupo de estudantes internacionais do coro Nuova Voce começaram a cantar canções típicas de Natal para animar o ambiente. Cantaram em diferentes línguas: inglês, espanhol e até polaco.

"A espera estava a ser longa e o frio também, por isso decidimos começar a cantar para que o tempo passasse mais depressa", diz a diretora do coro, Ana Serrano. "Foi um bom momento para partilhar a beleza do Natal. No final, os italianos pediram-nos para cantar Tu scendi dalle StelleA mais famosa canção de Natal italiana, e muitos juntaram-se a ela".

Embora muitos se tenham retirado após o Abertura da Porta SantaOs membros do coro ficaram impressionados com a participação ativa dos fiéis durante a missa. As pessoas acompanharam os cânticos, ajoelharam-se no cimento e guardaram longos momentos de silêncio em oração. As filas de centenas de padres a distribuir a comunhão à multidão após a cerimónia nos ecrãs gigantes da praça permanecerão na memória dos presentes.

Cruzamento de caminhos

A programadora de software Balita Diaz testemunhou um encontro pouco convencional. Uma mulher brasileira explicava todos os passos da missa em inglês a um homem sul-coreano. No final da cerimónia, descobriu que a jovem se tinha convertido ao catolicismo há apenas três anos e que tinha vindo sozinha para participar na abertura da Jubileu. Nunca se tinham encontrado antes, e a única coisa que os unia era o banco junto ao Altar da Confissão, na Basílica de São Pedro.

Durante os dois dias que esteve em Roma, a brasileira disse que rezou para poder entrar na Basílica no dia da Missa, pois havia um controlo rigoroso das entradas. Quando chegou o dia, conseguiu finalmente passar as filas (talvez com um pouco de "jeitinho brasileiro", como se diz no seu país).

O sul-coreano, por seu lado, não é católico, mas disse que há muito desejava atravessar uma Porta Santa. "Ao estar aqui, sinto-me realmente como um homem de fé", disse ele. A jovem encorajou-o a aproximar-se mais da fé e, quem sabe, talvez se possam encontrar na próxima Jornada Mundial da Juventude, em Seul, em 2027, já convertidos.

A realização de um sonho

Chegar a Roma é para muitos um grande sonho, especialmente para aqueles que vêm de longe. As brasileiras Sofia Valadares e Ana Cecília, ambas com 22 anos, partilham a sua emoção na abertura da Porta Santa.

"O meu sonho sempre foi visitar Roma e ver o Vaticano. Alimentei este desejo durante muitos anos e finalmente consegui realizá-lo em 2024. No final, como Deus tem sempre planos melhores do que os nossos, pude estar em Roma no Natal e, adivinhem, no próprio dia em que o Jubileu! Não podia estar mais feliz com as 'coincidências' que aconteceram nesta viagem", diz Sofia, uma psicóloga de 22 anos.

"Vir a Roma foi sempre um sonho desde a minha infância. Cresci numa casa onde a decoração central da sala de estar era uma miniatura da Pietá. Assim, não só os objectos, mas também todos os meus princípios e valores foram formados e amadurecidos na fé católica", diz Ana Cecília, estudante de medicina. "Conhecer este lugar, berço de tantas decisões importantes, onde está o nosso querido Papa, e expressar o nosso carinho por ele, significa muito para mim". 

Quando lhes perguntamos o que significa o Jubileu para cada um deles, dizem que ficaram impressionados com a universalidade da Igreja.

"É muito bonito ver o significado da palavra Católico diante dos meus olhos. Ver tantas pessoas unidas pela mesma fé encheu-me de esperança", diz Sofia. "Não é surpresa para ninguém que o mundo precise desesperadamente de fé. Ver tantas guerras e desgraças todos os dias pode entristecer qualquer coração. O Jubileu é importante precisamente por isso: representa uma luz que brilha, é a vela no altar que arde com amor. O mundo precisa disto. Eu preciso disso. Esse amor alimenta a esperança de que tanto precisamos no mundo atual".

Ana Cecília acrescenta: "Embora não seja italiana, senti-me em casa quando aqui cheguei. As primeiras impressões do Jubileu encheram-me o coração de alegria. Este é o primeiro na minha vida, uma vez que não nasci no anterior. Vejo o Jubileu como uma oportunidade para nos encontrarmos connosco, com os outros e com Jesus. Vim a Roma para me encontrar com os pilares da minha fé, e recebi muitas outras bênçãos de Deus.

À saída da Basílica, o vento era frio, mas havia o calor dos sorrisos nos rostos acolhedores dos voluntários, muitos dos quais sacrificaram parte da sua noite de Natal para apoiar a cerimónia. Esta foi a primeira noite do Jubileu de 2025. A praça reforça o seu papel de ponto de encontro de caminhos e histórias. Esperamos que muitos outros testemunhos de esperança cheguem à Cidade Eterna.

Vaticano

Foi assim que se desenrolou a cerimónia de abertura da Porta Santa

Relatórios de Roma-25 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

A abertura solene da Porta Santa marcou o início do Jubileu da Esperança. A cerimónia, cheia de simbolismo e tradição, reuniu pessoas de todo o mundo, que participaram num momento histórico. O Santo Padre abriu a porta a partir de uma cadeira de rodas.

O Papa Francisco sublinhou que o Jubileu Ordinário, que terá lugar ao longo de 2025, será um Ano Santo centrado numa esperança inabalável. Esta esperança transcende a esfera pessoal de cada crente, abrangendo também a sociedade no seu conjunto, as relações humanas e a defesa da dignidade de cada indivíduo.


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Zoom

O Papa abre a Porta Santa do Jubileu da Esperança

Francisco faz uma pausa na oração antes de abrir a Porta Santa que inaugura o Jubileu de 2025.

Redação Omnes-25 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Recursos

Nove poemas para rezar junto ao presépio

Descubra 9 poemas inspiradores para rezar junto ao presépio neste Natal. Versos que ligam a alma à beleza do mistério da Natividade.

Javier García Herrería-24 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Quem é que entrou no portal de Belém?

Gerardo Diego

Quem entrou no portal,
no portal de Belém?
Quem é que entrou pela porta?
quem entrou, quem?

A noite, o frio, a geada
e a espada de uma estrela.
Um macho - haste de floração
e uma donzela.

Quem entrou no portal
pelo teto aberto e partido?
Quem é que entrou que soe assim
alvoroço celestial?

Uma balança de ouro e música,
sustenidos e bemóis
e anjos com tamborins
dorremifasoles.

Quem entrou no portal,
no portal de Belém,
não para a porta e o teto
nem o ar do ar, quem?

Impacto da flor no botão,
orvalho na flor.
Ninguém sabe como surgiu
meu filho, meu amor...


Canção de embalar de São José

Lope de Vega

José: Dorme, e eu olharei por ti.
o sonho, e eu cantarei para ti
mil canções, como vem
a que está na tua alma,
para vos dar leite do peito.

Minha filha, como estás
Não me respondes: "
Bem, podes, se quiseres,
que língua para as pedras que dá.
Ei, meus olhos, não falas?

Estou a ouvir.

Igreja da Natividade em Belém. @OSV News/Debbie Hill

As palhinhas na manjedoura

Lope de Vega

As palhinhas na manjedoura
Criança de Belém
hoje são flores e rosas,
amanhã serão galos.

Choras entre palhas,
do frio que tem,
minha linda filha,
e também do calor.

Dorme, Cordeiro santo;
a minha vida, não chores;
se o lobo vos ouvir,
virá por ti, meu bem.

Dormir entre palhinhas
que, apesar de frios, os vêem,
hoje são flores e rosas,
amanhã serão galos.

Aqueles que vos mantêm quentes
tão suaves que parecem hoje,
amanhã serão espinhos
numa coroa cruel.

Mas eu não quero contar-te,
embora o saibas,
palavras de pesar
em dias de prazer;

que, apesar de dívidas tão elevadas
em palhinhas que lhes cobra,
hoje são flores e rosas,
amanhã serão galos.

Deixar em terno choro,
divino Emmanüel;
que as pérolas entre palhinhas
perdem-se sem razão aparente.

Não penses que a tua Mãe
que já Jerusalém
prevenir a sua dor
e chora com José;

que mesmo que não sejam palhinhas
coroa para rei,
hoje são flores e rosas,
amanhã serão galos.


Juan Ruiz, Arcipreste de Hita

Santa Maria,
luz do dia,
sê o meu guia
ainda.

Dai-me a graça e a bênção,
da consolação de Jesus,
para que com devoção
Posso cantar a vossa alegria.

Tiveste sete alegrias:
um quando recebeu
saudação
do Anjo; quando o ouviste
tu, Maria, concebeste
Deus-Salvação.

A segunda foi cumprida
quando ele nasceu de ti
sem dor,
dos anjos servidos;
e mais tarde conhecido como
por Salvador.

E foi a tua terceira alegria
quando a estrela apareceu
para demonstrar
o verdadeiro caminho;
ao Rei e à Rainha, camarada
estava a orientar.


Lope de Vega

O que é que eu tenho para que procureis a minha amizade?
Que interesse te segue, meu Jesus,
que à minha porta coberto de orvalho
passa as suas noites de inverno no escuro?
Oh, como as minhas entranhas estavam duras
Eu não me abriria para ti! Que estranha divagação e delírio
se da minha ingratidão o gelo frio
secaram as feridas das vossas plantas puras!
Quantas vezes o Anjo me disse:
"Alma, inclina-te agora para fora da janela,
verás quanto amor deves pedir!"
E quantas, soberana beleza!
"Amanhã abrimo-la para si", respondeu,
para obter a mesma resposta amanhã!

Palma Vecchio, Conversa Sagrada. @WebWalleryofArt

Porque vieste, filha?

Alejandro Domingo

Porque vieste, filha?
porque viestes,
para esta terra fria;
desperdício de vida.

Queres os nossos braços
para o manter quente,
e o meu coração;
uma efusão de amor.

Vem então, se quiseres,
já que desejas tanto a nossa companhia,
para esta pobre casa que está tão vazia,
que tanto vos espera e tanto suspira

Dá-lhe o seu dono, a sua luz e a sua vida,
que sem o teu calor, não podes ser.
Fica comigo, não me deixes agora.
E eu, como José e sem fazer barulho
Quero cuidar de ti com muito carinho.


Rubén Darío

-Eu sou Gaspar. Aqui trago o incenso.
Venho dizer: A vida é pura e bela.
Deus existe. O amor é imenso.
Sei tudo isto pela Estrela divina!

-Eu sou Melchior. A minha mirra perfuma tudo.
Existe um Deus, Ele é a luz do dia.
A flor branca tem os pés na lama.
E no prazer há melancolia!

-Eu sou Baltazar. Eu trago o ouro. Eu asseguro
Ele é o grande e forte.
Eu sei tudo pela estrela pura
que brilha no diadema da Morte.

-Gaspar, Melchior e Baltazar, estejam calados.
O amor triunfa e convida-vos para o seu banquete.
Cristo ergue-se, faz luz no caos
e tem a coroa da Vida.


Alargar a porta, Padre

Miguel de Unamuno

Alargar a porta, Padre
porque não consigo passar;
fê-lo para as crianças.
Eu cresci, apesar de mim próprio.

Se não alargar a porta,
Encolham-me, por amor de Deus,
traz-me de volta à idade abençoada
em que viver é sonhar.

Vitral da Igreja de St. Aloysius em Nova Iorque. @OSV News/Gregory A. Shemitz

Eu venho de ver 

Lope de Vega

Acabo de vir de assistir, Antón,
uma criança de tal pobreza,
Dei-lhe para as fraldas
os tecidos do coração.

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Belém está a morrer e a sua estrela apaga-se em cada um de nós.

A nossa fé tem uma geografia, um lugar preciso, e há quem, desde há mais de dois mil anos, guarde esses lugares e perpetue a presença cristã.

24 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Falei com Rony Tabash ao telefone no outro dia e fiquei com o coração partido. Ouvia-o a mexer-se no balcão da sua loja e, ao fundo, ouvia o apelo à oração da mesquita vizinha. Esse canto inconfundível transportou-me imediatamente para Belém, para a central Praça da Manjedoura, onde também tocam os sinos da emblemática Igreja da Natividade, cujas paredes se erguem desde o tempo de Justiniano. 

No entanto, as minhas recordações nostálgicas depararam-se com a realidade: "Belém está a morrer", disse-me Rony. "Aqui não se sente o Natal. Não há decorações, não há luzes, nada. É assustador entrar na Igreja da Natividade; está vazia.

Ao ouvir isto de Rony, uma das pessoas mais teimosamente optimistas que já conheci na minha vida, nunca fui capaz de Terra Santa, é muito sombrio. "No ano passado, tínhamos esperança de que a guerra terminasse antes do Natal, mas este ano... As pessoas não esperam uma vida boa ou boas notícias, perderam a esperança". 

A sombra do conflito em Gaza é longa. Para além das vítimas diretas - cerca de 45.000 mortos, dezenas de milhares de feridos e mais de um milhão de deslocados - a guerra pôs em perigo a vida e as empresas de muitas pessoas fora da Faixa de Gaza, nos territórios palestinianos da Cisjordânia. É o caso da pequena cidade de Belémcuja economia gira em torno do turismo religioso cristão: hotéis, restaurantes, lojas de lembranças e de artesanato, guias, transportes... 

A família Tabash tem vindo a apoiar, desde 1927, A loja de presépiosuma das primeiras lojas de recordações de Belém. Vendem jóias e todo o tipo de artigos religiosos. Foi criada na altura do Mandato Britânico da Palestina, sobreviveu às guerras de 48 e 67 e foi testemunha das intifadas. Nos últimos anos, os encerramentos impostos pela pandemia de coronavírus, que durou dois anos, foram um duro golpe para todo o sector turístico de Belém. Terra Santaque atingiram níveis recorde. As filas para se ajoelharem por apenas alguns segundos no local onde Jesus nasceu chegavam a durar duas ou três horas e estendiam-se a meio da praça em frente à basílica. 

Quando o turismo começava a retomar e a recuperar os valores anteriores à pandemia, o início da guerra em Gaza voltou a toldar o horizonte. Catorze meses depois, não se vê nenhuma luz, nem sequer a luz da estrela da emblemática árvore de Natal que todos os anos era montada na Praça da Manjedoura. Nem no ano passado, nem este ano, houve uma árvore. A terrível guerra na Faixa de Gaza e as duras condições em que se encontram ensombram uma festa que até há pouco tempo reunia peregrinos de todo o mundo.  

"Abrimos porque o meu pai quer abrir a loja, mas não temos vendas. É um milagre estarmos a aguentar". De facto, muitos não o fazem. Cerca de 70 famílias da minoria cristã de Belém partiram este ano, perpetuando uma sangria de 100 anos que dizimou a população cristã da Terra Santa. "A minha experiência diz-me que aqueles que partem não voltam", diz Rony. 

No entanto, o que realmente me abalou na minha conversa com ele não foi a tristeza pelos cristãos de Belénmas a nossa indiferença. Uma indiferença que é o resultado da ignorância, da cegueira. Porque Belém não é um lugar mítico, é real. HIC (aqui) é a palavra que se lê em muitos lugares santos, juntamente com o versículo evangélico correspondente. A nossa fé tem uma geografia, uma localização precisa, e há quem, desde há mais de dois mil anos, guarde estes lugares e perpetue a presença cristã. "Somos soldados que estão aqui para resistir, somos as 'pedras vivas'", disse-me Rony com a força de quem acredita firmemente na sua missão. "Mas os cristãos têm de vir, a responsabilidade também é deles", diz-me com uma ponta de frustração, de cansaço. "Não nos podem deixar sozinhos. 

Nós deixámo-los sozinhos. Onde a estrela brilhou, onde os anjos cantaram, onde a esperança nasceu, eles só vêem escuridão. E eles vão-se embora. Deixam Jerusalém, Nazaré e Belém, esses lugares que nos são tão queridos e que, insisto, não são lugares de histórias ou de lendas, são o lugar onde Jesus Cristo quis habitar na terra. "É preciso vir, tocar, fazer parte deste lugar". Nós fazemos parte destes lugares e estes lugares fazem parte de nós, e devemos isso, em parte, a pessoas com nomes e apelidos. Rony Tabash é apenas uma delas. 

"O Natal é a luz na escuridão", disse-me ele, "mas precisamos de orações, porque perdemos a esperança. Se o Natal morrer em Belém, alguma coisa terá morrido em cada um de nós, mas só aqueles que estiveram lá e foram tocados podem compreender isso. Esta é a Terra Santa. Aqueles que a provaram sabem-no. 

Cultura

São João de Kety, professor na Universidade de Cracóvia e pároco

No dia 23 de dezembro, véspera do nascimento de Jesus, a Igreja celebra São João de Kety, professor e teólogo da Universidade de Cracóvia no século XV, mais tarde pároco durante alguns anos. No mesmo dia, comemora-se Santa Vitória de Tivoli, virgem e mártir do século III, que não deve ser confundida com Santa Vitória de Córdova, também mártir (17 de novembro).      

Francisco Otamendi-23 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

São João de Kety ou Kanty (1390-1473), nome do seu local de nascimento na Polónia, também conhecido como São João Câncio, foi um sacerdote e teólogo polaco que ensinou durante muitos anos na Universidade de Cracóvia ou Jagielloniki, em cuja faculdade de teologia estudou no século XX, até à sua ordenação sacerdotal em 1946, por São João Paulo II. De facto, o Papa polaco era muito devoto de São João de Kety.

O professor era estimado pela sua austeridade e pelo seu amor à pobre e doentes. Quando se tornou professor universitário, todos os dias dava o almoço a uma pessoa pobre. Dizia: "Jesus Cristo está a chegar". O Papa Francisco, num mensagem enviado em 2022 ao Grão-Chanceler da Universidade Pontifícia João Paulo II de Cracóvia, afirmou que a sua história é marcada por realizações científicas e educativas e pela "espiritualidade criada pelos seus santos fundadores, professores e estudantes".

Santa Vitória (séc. III) foi uma jovem mártir cristã de Tivoli, perto de Roma, aparentemente irmã de Santa Anatólia. Recusou-se a casar ou a sacrificar aos ídolos, e um carrasco cravou-lhe uma faca no coração.

O autorFrancisco Otamendi

Paris vale bem uma missa (ou não)

A ausência do primeiro-ministro Pedro Sánchez em eventos religiosos importantes é uma imposição de uma visão secularista que silencia a dimensão religiosa na vida pública.

23 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Há já algum tempo que penso na falta de comparência das nossas autoridades, e mais concretamente do Primeiro-Ministro espanhol, Pedro Sánchez, em várias eucaristias realizadas por razões sociais reconhecidas. Os dois últimos casos foram a reabertura da Catedral de Notre Dame em Paris e o funeral dos mortos no DANA em Valência. Em ambos os casos, a normalidade da vida social teria tornado aconselhável a presença do representante de todos os espanhóis.

Na capital francesa, as mais altas autoridades do mundo reuniram-se num ato altamente simbólico devido à natureza única do edifício que estava a ser restaurado. Em Valência, a dor das vítimas tinha de ser acompanhada pela mais alta autoridade do país, fosse ela crente ou não. Todos sabemos que num funeral não participam apenas os crentes, mas todos aqueles que querem exprimir os seus sentimentos de pesar e acompanhar quem está a sofrer a perda de um ente querido. O Rei e a Rainha estavam presentes, mas o Primeiro-Ministro não quis estar presente.

Para além do ateísmo confesso do Presidente do nosso país, há uma opção laicista nesta decisão de não assistir a qualquer evento religioso, através da qual ele procura impor a toda a sociedade a sua visão particular do lugar da religião na vida social. Na realidade, ao apelar à neutralidade do Estado neste domínio, está a impor um silenciamento da presença de Deus, que é a forma atual de impor, de facto, o ateísmo a todos os cidadãos.

Ainda me lembro do funeral de Estado laico que foi inventado para substituir a cerimónia religiosa durante a pandemia da COVID 19. De facto, o governo apresentou-o como um grande marco, como um avanço social, o facto de, pela primeira vez, não haver uma cerimónia religiosa para rezar pelo falecido e de esta ser substituída por uma cerimónia civil, sem qualquer menção a Deus, e assim é. E assim é. Não é um laicismo saudável, ao qual o Papa Francisco apelou durante a sua última visita a Roma, que não é um laicismo saudável. E assim é. Não é um laicismo saudável, ao qual o Papa Francisco apelou durante a sua última visita a França, que está a ser promovido por este tipo de ação. Trata-se, de facto, de uma substituição. O que se pretende é que seja o Estado a canalizar e a dar a resposta às questões sobre o sentido da vida. Uma resposta que dispensa Deus e a crença numa vida após a morte. Uma resposta alegadamente neutromas que é materialista e ateu.

Todos sabemos que a laicidade saudável do Estado implica o respeito e a liberdade de todas as religiões contribuírem com os seus princípios e actividades para a construção de uma sociedade mais humana. A religião é uma das facetas mais importantes para muitas pessoas. A laicidade deve ser o espaço em que cada um de nós pode exprimir-se tal como é, e não o espaço em que todos temos de deixar de ser nós próprios e manter o silêncio sobre as nossas crenças.

É evidente que esta não é a visão dos nossos actuais dirigentes e que, por isso, nós, crentes, somos desafiados a tornar visível a presença da religião na nossa vida quotidiana, tanto na esfera pública como na esfera privada.

E essa é uma tarefa para todos nós. Sobretudo os leigos.

O autorJavier Segura

Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.

Livros

Álvaro Núñez Iglesias: "A única coisa que explica a Trégua de 1914 na Grande Guerra é o Natal".

Quando chegou o Natal de 1914, os soldados de ambos os lados da Primeira Guerra Mundial saltaram das suas trincheiras e foram ao encontro do inimigo, desarmados, e trocaram presentes, cantaram canções de Natal e outras canções, e felicitaram-se mutuamente pelo Natal. Foi uma grande história de Natal. Álvaro Núñez Iglesias conta os seus pormenores à Omnes.  

Francisco Otamendi-23 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

"A única coisa que explica a Trégua de Natal de 1914 é o Natal", diz o Professor Álvaro Núñez a propósito do seu livro. Porque a Trégua da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) não foi apenas uma cessação das hostilidades: foi um ato de fraternidade, de confraternização, de celebração conjunta, de canções de Natal em uníssono. "Sim, a música de Natal foi decisiva. Era a "língua" comum em que os adversários se podiam entender". 

O autor publicou em Reunião Este relato comovente e documentado reúne centenas de testemunhos de soldados britânicos, franceses, belgas e alemães que cantavam, bebiam, brincavam, trocavam objectos e endereços com o inimigo, e centenas de excertos de diários da Primeira Guerra Mundial, na qual morreram entre 9 e 11 milhões de soldados, a grande maioria militares, e outros milhões de civis, para além de cerca de 20 milhões de feridos. 

Os acontecimentos tiveram lugar enquanto o alto comando militar proibia qualquer trégua e os políticos a deploravam. Álvaro Núñez (Quetzaltenango, 1955), professor na Universidade de Almería, pai de três filhos, revela à Omnes o que o levou a escrever o livro, os apelos dos Papas, as palavras premonitórias de Churchill, a carta de um tenente alemão à sua amada Trude, o cântico da "Noite Feliz"...

Porquê este livro? Foi advogado, magistrado.

- Sim, é verdade, mas como professor universitário, escrevo há mais de quarenta anos e, sempre que o assunto o permitiu, pus paixão nos meus escritos jurídicos. E paixão é o que sinto pelo Natal e, sobretudo, por este acontecimento único, no verdadeiro espírito do Natal, que foi a Trégua de 1914.

Razões para estudar a Trégua de 14 e escrever sobre ela? Acima de tudo, o desejo de contar uma verdade (com todas as suas evidências) que é bela e que, além disso, nos convida a ser bons, e porque as dimensões colossais do que aconteceu na Frente Ocidental no Natal de 1914 são desconhecidas em Espanha. 

No entanto, o facto de um Comissário Europeu ter querido impedir que o Natal fosse celebrado explicitamente há alguns anos e de há vinte e cinco anos - lembro-me bem - alguém me ter dito: "Álvaro, o Natal ainda tem vinte anos pela frente" também teve o seu papel. Não vai acontecer que eu morra, claro, mas se acontecer, eu gostaria de morrer primeiro. No fundo, se não foi essa a razão principal deste livro, foi um grande incentivo: colaborar com a história dessa enorme verdade para que isso não aconteça.

O verão de 1914 era suposto ser calmo e pacífico na Europa, mas o que aconteceu para desencadear uma Grande Guerra com milhões de mortos?

- Como digo nas primeiras linhas do livro, as guerras, tal como as doenças mortais, começam muito antes da sua terrível manifestação. No caso da Grande Guerra, as potências da época estavam há muito tempo a preparar o terreno para uma possível guerra. 

O assassinato do herdeiro do Império Austro-Húngaro e da sua mulher em Sarajevo também não foi necessariamente determinante para a guerra. A verdadeira causa, o que tornou a guerra imparável e "global", foi, creio eu, o ultimato de 23 de julho da Áustria-Hungria à Sérvia: a Sérvia não podia aceitá-lo em todos os seus termos, e a guerra daí resultante não podia ser apenas regional, dado o sistema de alianças que ia ser imediatamente posto em marcha.

O Papa Pio XO seu apelo à paz foi feito em agosto, mas morreu no mesmo mês. Porque é que a cessação das hostilidades que propôs falhou? Bento XV?

- Antes de dizer por que razão falhou, gostaria de salientar que a trégua foi aceite por vários países: O Reino Unido, a Bélgica, a Alemanha e até a Turquia aceitaram. Nem a Rússia nem a França aceitaram. A primeira porque o Natal ortodoxo russo é celebrado a 7 de janeiro, mais de duas semanas depois do Natal católico, protestante e anglicano. A segunda porque não queria perturbar as suas operações em curso.

É preciso dizer também que os "patriotas" católicos - austríacos, alemães e franceses - eram mais patriotas do que católicos (refiro-me aos que estavam nos seus gabinetes, nos seus jornais, nas suas casas, não aos que estavam na frente de combate) e pouco fizeram para fazer eco do apelo do Papa. 

Um jovem Churchill tinha-se perguntado o que aconteceria se os exércitos depusessem as armas ao mesmo tempo. O que aconteceu para que, no Natal de 1914, os soldados depusessem as armas e quisessem celebrar o Natal com o seu inimigo?

- Sim, as palavras de Churchill, numa carta à sua mulher, eram prescientes. Churchill, pela sua experiência como militar e como antigo repórter de guerra, sabia que poderia surgir, a dada altura, algures, um sentimento de compreensão, um desejo de aproximação entre inimigos; que algum soldado poderia ver no inimigo um irmão que sofreu o mesmo infortúnio que ele e contra o qual nada tinha. 

Isto explica, no contexto da guerra de trincheiras, a existência de tréguas curtas, de entendimentos entre os contendores para tornar a guerra mais suave (o sistema "viver e deixar viver), mas não explica a Trégua de Natal. A única coisa que explica a Trégua de Natal é o Natal. Porque a Trégua não foi apenas uma trégua, ou seja, uma cessação das hostilidades: foi um ato de fraternidade, de confraternização, de celebração conjunta, de canções de Natal em uníssono. Sim, a música de Natal foi decisiva. Era a "língua" comum em que os contendores se podiam entender. Foi, em muitos casos, a faísca que fez com que os ânimos se exaltassem e os homens saíssem das suas trincheiras para se abraçarem. 

Qual foi a atitude dos comandantes militares, dos soldados e dos políticos?

- O Alto Comando, em cada um dos exércitos, proibiu qualquer trégua e, em relação a essa trégua de Natal, responsabilizou os envolvidos, mas acabou por não tomar medidas disciplinares (com algumas excepções).

Os oficiais da linha da frente eram outra questão. Estes aceitaram e, em muitos casos, concordaram com as tréguas e participaram na confraternização. A Trégua de Natal não foi apenas uma trégua dos soldados. 

Os políticos de todos os casos, de todos os países, deploraram a trégua.

Como é que conseguiu documentar estas numerosas tréguas, resumidas naquilo a que chama "O Natal que parou a Grande Guerra"? O trabalho é laborioso, com 886 notas.

- O livro é o produto de uma pessoa que não sabe escrever de outra forma, que precisa de provar tudo o que diz. É uma falha profissional como qualquer outra. Daí toda a documentação, todas as fontes, todas as citações. A recolha de fontes foi certamente trabalhosa, mas tive ajuda e também a sorte de as fontes oficiais, britânicas e francesas, serem muito acessíveis.

No livro há muitas histórias de soldados que contaram as suas tréguas aos meios de comunicação social, em plena guerra. Para citar uma, uma carta publicada no "The Times" de 2 de janeiro de 1915. Pode mencionar uma ou mais que o tenham comovido mais?

- Sim, o livro conta muitas pequenas histórias desses dias de Natal. Poderia ter escrito o livro de outra forma, mas desde o início quis dar voz aos protagonistas. As cartas são a fonte mais preciosa, não a mais surpreendente, porque o mais surpreendente é que o diário de um batalhão conta em pormenor o que aconteceu. As cartas são comoventes pelo que contam, pela forma como os soldados o contam - é duvidoso que hoje, rapazes de dezoito ou vinte e poucos anos, escrevam tão bem - e porque o contam a partir da lama das suas trincheiras, com as mãos geladas - de luvas - e com toda a emoção de algo que viveram e que, como muitos dizem, não esquecerão enquanto viverem. 

As cartas são realmente comoventes...

- Emocional? Chorei muitas vezes e, ainda hoje, após quatro anos de trabalho e dois anos passados desde que terminei o livro, a minha voz quebra quando leio uma carta. 

Mas ele pede-me uma, e eu não sei qual lhe oferecer... Bem, esta é uma entre muitas: a de um tenente alemão que começa: "Minha querida Trude, [...] desde então tem chovido incessantemente, e lá fora, nas trincheiras, a água está de novo até aos joelhos. Por outro lado, o oposto inglês tornou-se bastante calmo desde o Natal. Na véspera de Natal, não foi disparado um único tiro. Os soldados fizeram um armistício, apesar de os comandantes o terem proibido. Ingleses e alemães saíram das suas trincheiras no primeiro dia do feriado, ofereceram presentes uns aos outros e sentaram-se juntos durante muito tempo no meio das trincheiras inimigas. Depois, o nosso povo cantou "Silent Night" e levou uma árvore de Natal aos seus inimigos. 

Adorei duas páginas com o Cancioneiro da Trégua. 

- Fico muito contente por ouvir isso. É a prova de que a música teve muito a ver com isso. A propósito, organizei dentro de alguns dias um concerto coral com alguns dos cânticos dessa lista.

Por último, será que tentaram outra Trégua de Natal em 1915 ou mais tarde? Dado que a Grande Guerra durou quatro anos, esta iniciativa é de alguma forma transferível para as guerras actuais?

Não houve trégua no Natal de 1915, no sentido de uma paragem da guerra e de confraternização entre inimigos, como tinha acontecido em 1914, mas houve algumas tréguas, uma das quais foi contada por Robert Graves. 

A razão pela qual não voltou a acontecer é muito simples: o Alto Comando foi avisado e impediu qualquer tentativa de tréguas de Natal.

Quanto à possibilidade de essas tréguas voltarem a acontecer, não quero excluí-la, mesmo que o Natal já não represente para muitos europeus o momento sagrado do nascimento de Cristo, em que é inconcebível matarem-se uns aos outros e, em vez disso, é muito natural abraçarem-se. No entanto, para que isso acontecesse, seria necessária uma guerra de trincheiras.

O autorFrancisco Otamendi

Evangelho

Um antegozo do céu. Natal (C)

Joseph Evans comenta as leituras de Natal (C) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo no seu canal do YouTube.

Joseph Evans-22 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

A leitura do dia de Natal é sempre o prólogo profundo do Evangelho de João. É como se - depois da excitação da noite de Natal, com os anjos a cantar e os pastores a apressarem-se a ver o Deus menino - a Igreja quisesse que fizéssemos uma pausa e considerássemos a profundidade do mistério.

Através do testemunho de São João, somos convidados a meditar sobre o que é literalmente o acontecimento mais extraordinário de toda a história: o Deus todo-poderoso, a Palavra eterna com o Pai, que desceu para assumir a condição humana. 

Ele, o Criador, torna-se - na sua natureza humana - uma criatura. Ele, que é luz em si mesmo - "Deus de Deus, luz da luz"Ele entra na escuridão humana, como dizemos no Credo. Ele, que é a revelação plena do Pai, aceita não ser conhecido, ignorado por todos no seu humilde nascimento, exceto por alguns pobres pastores e estrangeiros exóticos. O Criador amoroso aceita ser rejeitado pelas suas criaturas - a maioria é indiferente, Herodes persegue-o - e é rejeitado pelas suas criaturas - a maioria é indiferente, Herodes persegue-o. "Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome".

Os Padres da Igreja afirmam em linguagem ousada: Deus fez-se homem para que nós nos tornássemos Deus. Ou seja, para participarmos da natureza divina (cf. 2 Pedro 1,4). No Filho divino feito homem, somos divinizados, tornados semelhantes a Deus. 

O menino deitado na manjedoura oferece-nos a sua própria divindade, da qual participamos através da graça, da oração, da leitura da Escritura, das obras de amor e da sua receção na Eucaristia. Quantas mães, adorando o seu filho, dizem: "Quero comer-te", palavras que apenas exprimem o seu desejo de união com o seu filho. O que para elas é apenas um desejo, para nós torna-se realidade na Eucaristia. O Deus menino que contemplamos com amorosa admiração entra em nós na hóstia e, de uma forma mística, nós entramos nele. "E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós.(Eucaristicamente, em nós) e vimos a sua glória: glória como do Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade."Mas eram apenas reflexos da glória, e glória ainda velada, como quando os anjos celebraram o nascimento de Cristo, ou na Transfiguração, ou na Ressurreição. Através destes reflexos, desejamos a visão plena, quando "...".veremos Deus tal como Ele é"(1Jo 3,2). Jesus, "É o Deus unigénito, que está no seio do Pai, que o deu a conhecer".. É o conhecimento através da fé, como a luz através da nuvem. A alegria do Natal impele-nos a procurar essa visão plena de Deus no além. Se o Natal é uma época de alegria, apesar de todas as formas que encontramos para a estragar, quão infinitamente maravilhosa deve ser a alegria eterna do céu.

Homilia sobre as leituras de Natal

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Cultura

O Sentido do Pavor" de Rachel Carson: da beleza ao compromisso ético

Nesta altura do século XXI, a voz de Rachel Carson continua a convidar-nos não só a admirar a natureza, mas também a empenharmo-nos na sua proteção, convencidos de que está em jogo algo muito mais profundo.

Marta Revuelta e Jaime Nubiola-22 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Rachel Carson (1907-1964) foi uma bióloga marinha, escritora e ecologista, muito conhecida e amada nos Estados Unidos da América, onde nasceu e viveu. Foi uma figura-chave no movimento ambientalista do século XX. Nascida em 1907, na Pensilvânia, demonstrou desde cedo um enorme fascínio pela natureza, que acabou por se transformar numa carreira centrada na proteção do ambiente e na sensibilização para os perigos que o ameaçam.

Ele era o famoso professor Jordi PuigA Universidade de Navarra, que nos falou de Carson quando manifestámos o nosso interesse pela área do pensamento ambiental. O seu livro O sentido da maravilha 1956 foi o livro de partida, a porta de entrada, um rito de passagem. É um pequeno ensaio que demora menos de duas horas a ler. Na agradável publicação feita pelas Edições Encuentro em 2021, o manuscrito original do livro é reproduzido nas últimas páginas, escrito numa caligrafia rápida e com muitos riscados, como se alguém estivesse a anotar as suas ideias e impressões com urgência, para não se esquecer de nada.

Um mundo de pequenas coisas

O sentido da maravilha reúne algumas das experiências da autora com o seu sobrinho-neto Roger, de vinte meses, de quem cuidou quando ele ficou órfão. Pequenas aventuras: uma incursão nocturna no meio de uma tempestade, um passeio matinal na floresta, nomes inventados para animais, plantas, líquenes, um jogo para não pisar as árvores... "E depois há um mundo de pequenas coisas que raramente é visto. Muitas crianças, talvez por serem elas próprias pequenas e estarem mais perto do chão do que nós, reparam e apreciam o que é pequeno e passa despercebido. Talvez por isso seja fácil partilhar com elas a beleza que tendemos a perder porque olhamos demasiado depressa, vendo o todo e não as partes". (p. 49).

Um talento precoce

Rachel Carson começou a estudar Língua e Literatura Inglesa no College for Women em Pittsburgh, mas depressa mudou para biologia. Desde criança que lia e escrevia muito; começou a escrever aos oito anos e publicou o seu primeiro conto aos onze. Por isso, a primeira coisa que se nota quando se lê este livro é que está muito bem escrito. Tem uma linguagem muito simples e as ideias aparecem com grande precisão. Pode dizer-se que "se lê sozinho", porque é natural e sincero. Esta é uma caraterística dos seus textos, mesmo os mais técnicos. Escreve sempre de forma simples e bela. E, certamente, este é o segredo para chegar a toda uma legião de leitores que foram inspirados a passar da leitura à ação. 

Pesticidas e devastação ecológica

Na sua obra mais conhecida e mais influente, primavera silenciosa (1962), Carson descreveu os efeitos devastadores da utilização de pesticidas como o DDT nos ecossistemas, utilizando uma metáfora: um futuro sem o canto dos pássaros e o som da vida. A publicação deste trabalho provocou uma polémica imediata. Ao denunciar as consequências negativas da utilização de pesticidas, Carson desafiava as grandes indústrias químicas e a perceção pública da segurança duvidosa de alguns dos seus produtos. A sua narrativa mobilizou uma sociedade americana que, até então, se tinha mostrado cega aos efeitos secundários da modernização e do progresso neste domínio. Com uma voz clara e empática, Carson não só apresentou factos, como humanizou a devastação ecológica, tornando-a palpável e emotiva para os seus leitores. Esta obra, embora matizada e até contestada com o tempo e a investigação subsequente, foi um catalisador do movimento ambientalista moderno, levando a reformas da política ambiental e à criação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) nos Estados Unidos.

O poder de persuasão de Carson provém, em nossa opinião, da fonte das suas ideias. Ela não se limita a relatar factos, mas partilha o seu entusiasmo pela beleza da natureza. Só a beleza nos pode levar ao empenhamento, porque aponta para aquele lugar íntimo onde somos parte da natureza: Uma forma de abrir os olhos para a beleza não apreciada é perguntar a si próprio: "E se eu nunca a tivesse visto, e se soubesse que nunca mais a voltaria a ver?" (p. 44).

Surpreender-se com a natureza

Numa altura em que nos afastamos cada vez mais do contacto efetivo com a natureza, é reconfortante deixarmo-nos levar por Carson: "O jogo consiste em ouvir, não tanto a orquestra inteira, mas em discernir os instrumentos individuais e tentar localizar os músicos". (p. 57). Vivemos longe da natureza sob muitos pontos de vista. Não só vivemos nas grandes cidades, como vivemos rodeados de artificialidade. As nossas vidas estão cada vez mais imersas em ambientes artificiais, criados pelo homem, que nos conduzem subtilmente a uma visão relativista da moral, da cultura e da verdade. Por isso, quando Rachel Carson pergunta "Qual é o valor de preservar e reforçar este sentimento de admiração e espanto, este reconhecimento de algo que está para além dos limites da existência humana? Explorar a natureza é apenas uma forma agradável de passar as horas douradas da infância ou há algo mais profundo?"responde ele: "Tenho a certeza de que há algo mais profundo, algo que perdura e tem significado". (p. 63).

O pequeno livro O sentido da maravilha é um convite para nos reconectarmos com a natureza e apreciarmos a sua beleza com os olhos de uma criança, lembrando-nos que só através desta ligação profunda podemos comprometer-nos verdadeiramente com a sua proteção.

O autorMarta Revuelta e Jaime Nubiola

ColaboradoresAntónio Basanta

O presépio fala-nos

Nada na tradição e na devoção cristãs é tão inseparável do Natal como os presépios, nascidos precisamente no momento em que a Igreja oficializou a celebração do nascimento de Jesus no Concílio de Niceia, o primeiro dos Concílios ecuménicos, em 325.

21 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Dessas primeiras representações em torno do berço de Jesus, com cânticos, diálogos, ritos e encenações - tão intimamente ligadas às formas teatrais primitivas - derivariam os presépios vivos, muito anteriores àqueles que, em meados do século XIII, começaram a ser representados com figuras redondas, primeiro nos mosteiros e conventos, depois nas igrejas, mais tarde nos palácios reais ou nobres e, no século XVII, nas casas da nobreza, Começaram a ser representados com figuras redondas, primeiro nos mosteiros e conventos, depois nas igrejas, mais tarde nos palácios reais ou nobres e, no século XVII, nas casas da burguesia abastada, preâmbulo da democratização absoluta dos presépios; quando o povo, o povo simples e humilde, se apropriou também desta manifestação nas suas casas, dando origem ao presépio popular que, nas suas diferentes versões, sobreviveu até aos nossos dias.

Tão cheio de ingenuidade, de simpatia e de imaginação. Um presépio "de proximidade", sobretudo para as crianças que brincam e se divertem com ele, porque não há nada mais próximo do Amor que Jesus redefine e projecta do que a alegria e a felicidade que rodeiam a sua generosa vinda. 

Falar sobre o berço é falar de fé, de história, de cultura, de arte e de artesanato. E submergir num número infinito de pistas etnográficas, antropológicas e, sobretudo, poéticas, simbólicas e religiosas, porque não há nada que não obedeça a uma finalidade de aprendizagem, a uma didática doutrinária. Pelo contrário, tudo obedece a um código que é preciso redescobrir para compreender quantas pistas contém. 

Assim, num presépio, o rio não é um leito qualquer, mas o próprio rio da Vida, onde se encontra também o seu principal peixe, o TICYSque vem redimir todos os outros peixinhos que bebemos e bebemos e bebemos de novo, sem nunca nos saciarmos com a sua água batismal. 

O moinho torna-se o lugar onde a colheita, o trigo, as espigas de milho - sempre metáforas de Jesus e da comunidade cristã - se transformam na farinha com que se faz o Pão que Cristo quer partilhar connosco, mesmo que nenhum de nós seja digno de que ele entre em nossa casa. No moinho, esta farinha marca também uma sequência e um destino. É por isso que, quando vemos as suas pás a rodar num presépio, sabemos que elas indicam a passagem inexorável do tempo. Mas se permanecerem estáticas, serão um sinal esperançoso de eternidade. 

A ponte é sempre uma evocação do próprio Jesus, que, pela sua mão, nos conduz de uma margem à outra: do terreno ao celeste, do natural ao sobrenatural, do pecado ao perdão e à fraternidade.

As fontes e os poços representam a figura essencial da Virgem Maria. Uma, como alusão à pureza e à geração da vida, pois todo o presépio é também um tributo à maternidade, as outras, como elementos de transição, de ligação e de intermediação entre o oculto e o diáfano. Os outros, como elementos de transição, de ligação e de intermediação entre o oculto e o diáfano. E o que é Maria senão um elo por excelência, a nossa protetora mais amorosa, sempre conciliadora, sempre abrigo, sempre refúgio?

Esta condição alegórica está também presente em muitas das figuras que povoam os nossos presépios. Como os pastores que carregam um feixe de lenha aos ombros, uma alusão direta ao fogo e, por extensão, ao nevoeiroO calor especial que só pode ser encontrado no coração da família. 

E os que dão frutos de todo o género: castanhas da virtude, cerejas do casamento (que nascem sempre aos pares) e da fidelidade conjugal, figos da fertilidade e da sorte, romãs da amizade, maçãs do pecado redimido, laranjas evocativas de um dos nossos mais belos romances de Natal? Ou que dizer daqueles que representam os mais variados ofícios, os mais diversos trabalhos - ferreiros, carpinteiros, pescadores, fiandeiros, lavadeiras, carroceiros, ceifeiros, semeadores... -, que o trabalho deve ser uma oferta permanente em resposta a tudo o que Deus nos concedeu.

As palmeiras estão cheias de lendas. As montanhas são escarpadas, como as dificuldades que temos de enfrentar na vida. Estreitas as gargantas, profundos os vales, tantas vezes copiosos de lágrimas. E caminhos sinuosos, sempre sinuosos, traçados pela dúvida que nos acompanha como humanos, só abertos e francos quando chegam ao Portal; quando nos aproximam do Amor que nele reside, pois só no Amor de Jesus a vida se alarga, a luz dissipa as trevas e o frio dá lugar ao bater mais quente do coração.

Tudo o que está no presépio está lá porque Ele o quer. E fá-lo como sempre nos ensinou: através da simplicidade e da humildade. É por isso que só poderemos seguir a sua proposta se, como diz o ditado clássico, nos baixarmos. Como foi generoso quando, sem deixar de ser Deus, quis fazer-se homem! E, desta forma, habitar não só em, com, com, de, de, para, antes, debaixo, sob, para, por, em direção a, até, depois, sobre, e nunca contra ou sem, mas, sobretudo e carinhosamente, "entre nós". 

Uma escolha preposicional que é o testemunho mais expressivo da Sua graça e benevolência abençoada.

O autorAntónio Basanta

Doutoramento em Literatura Hispânica pela Universidade Complutense de Madrid.

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Vocações

Pamela Egas. Mãe e apóstolo digital

Comunicadora, esposa e mãe, Pame descobriu a sua fé inspirada em São Josemaria. Esta peruana promove o apostolado digital em TalkWithJesus.com, motivar os voluntários e encorajar as conversões. A sua vida reflecte a santidade na vida quotidiana e a confiança em Deus.

Juan Carlos Vasconez-21 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O seu nome é Pamela, embora seja conhecida por Pame. Esta comunicadora social de profissão, esposa e mãe de três filhos, caracteriza-se por uma personalidade serena e afável.

Podemos dizer que procura sempre o lado positivo nas pessoas que a rodeiam e distingue-se pelo seu tratamento amigável e cordial para com todos.

Embora a sua infância e adolescência tenham sido passadas num ambiente alheio à prática religiosa, quando vivia noutro país, a semente da fé germinou dentro de si graças à leitura de um livro de São Josemaría Escrivá sobre a família. Este encontro casual com a obra do santo espanhol despertou nela uma inquietação espiritual que a levou a procurar uma relação mais estreita com Deus.

O despertar da fé

Motivado pela leitura, Pame começou a assistir à missa com mais frequência e a receber o sacramento da reconciliação com regularidade.

No entanto, foi o nascimento do seu terceiro filho, Alonso, e uma nova mudança no trabalho do marido que a levaram a dar um passo mais determinado no seu caminho de fé. Com o desejo de reforçar a sua vida espiritual e de a transmitir aos seus filhos, decidiu aprofundar a sua formação religiosa.

Movida por esta inquietação e desejo de melhorar, dirigiu-se ao capelão do colégio do seu filho mais velho para pedir-lhe orientação e pediu-lhe a localização do centro do Opus Dei mais próximo da sua casa. Assim, começou a participar nas actividades do Educação cristãEstão a receber cuidados espirituais personalizados, a praticar a oração mental e a frequentar os sacramentos de forma mais consistente.

Foi em Quito, durante uma viagem há sete anos, que finalmente se comprometeu com Deus de uma forma mais profunda, entrando no Opus Dei como supranumerária.

O apostolado na era digital

Pame encontra grande satisfação pessoal em servir e construir relações sinceras com as pessoas que a rodeiam, sabendo que Deus usa toda a gente para chegar aos outros.

A sua vontade de transmitir a fé levou-a a empenhar-se em diversas iniciativas apostólicas, como por exemplo, iniciar palestras de formação para os seus amigos ou conhecidos dos seus amigos.

Destaca-se, em particular, a sua participação em TalkWithJesus.comonde tem estado desde o início. Esta plataforma em linha, dirigida por voluntários e sacerdotes, oferece um espaço de encontro com Jesus Cristo através de recursos como podcasts, conteúdos para as redes sociais e cursos de formação. O objetivo é que as pessoas conheçam Jesus, entrem em diálogo com ele, interiorizem a sua mensagem e a ponham em prática na sua vida quotidiana.

Com os voluntários

O seu trabalho consiste em manter o entusiasmo dos mais de 70 voluntários que colaboram com a iniciativa. Há também muitas histórias de conversões e de aproximação a Deus. Pame vê cada uma delas como um verdadeiro milagre e um dom de Deus.

A sua história encoraja-nos a seguir o seu exemplo, procurando a santidade nas circunstâncias normais da nossa vida e confiando na ação da graça divina que actua nos corações.

Evangelização

São Domingos de Silos, abade exemplar dos mosteiros

Abade espanhol da ordem beneditina, São Domingos de Silos foi prior, no século XI, dos mosteiros de Santa Maria de Cañas, San Millán de la Cogolla e Silos, mais tarde chamado São Domingos de Silos em honra do seu nome. Este santo, que a Igreja celebra hoje, 20 de dezembro, é considerado um grande restaurador de mosteiros, também em termos de espiritualidade e conhecimento.  

Francisco Otamendi-20 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

Nascido no alvorecer do ano 1000, no seio de uma família modesta dedicada à criação de gado, desde jovem que se dedicou ao cuidado do rebanho do seu pai, mas depressa se dedicou aos estudos para se ordenar sacerdote. Candidatou-se ao Mosteiro de San Millán de la Cogolla, que praticava a Regra de São Bento. Após alguns anos de vida monástica, foi nomeado prior do Mosteiro de Santa Maria de Cañas, que dependia de San Millán. Domingo restaurou-o e a igreja foi consagrada.

Os monges de San Millán repararam no seu trabalho e pediram-lhe para ser seu prior. Nesta comissão, o rei Dom García de Navarra pediu-lhe os bens da igreja, mas Domingo defendida o património da casa e da igreja. Esta atitude levou-o a ser demitido e a ser confinado em Castela, onde procurou o apoio do rei D. Fernando, que o nomeou abade de Silos.

Santo Domingo de Silos reformou este mosteiroEm dificuldades, construiu uma grande biblioteca que enriqueceu a cultura, renovou e promoveu a vida espiritual dos beneditinos e da Igreja, até à sua morte em 1073.

O autorFrancisco Otamendi

Evangelização

Kénosis: "Todas as canções que compomos nascem da oração".

Kénosis não é um grupo musical, mas um apostolado Regnum Christi nascido de um profundo desejo de evangelizar através da música. O seu próximo álbum, "Don y tarea", responde a este apelo e coloca o seu trabalho ao "serviço da Igreja".

Paloma López Campos-20 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Os componentes do Kénosis não se definem como um grupo musical, preferem falar de apostolado. Transformam a sua oração em cânticos, de modo que os 32 membros que se juntam para compor e cantar fazem do dom da música uma tarefa que colocam "ao serviço da Igreja".

Kénosis acaba de lançar "Cuando Él reina", o primeiro single do seu novo álbum "Don y tarea". Nesta entrevista a Omnes partilham o seu processo criativo e mostram a riqueza que a música católica pode trazer à vida de oração de cada um.

O que é que inspirou o tema deste primeiro single e porque é que decidiram fazer dele a primeira faixa a ser lançada do álbum?

- A inspiração é um encontro com Cristo, que se deu num momento de oração que a comunidade teve durante uma atividade do Reino de Cristo. Para nós, como apóstolos do Reino, estávamos a rezar e a perguntar-nos em que é que colocamos a nossa segurança. Dessa oração nasceu uma reflexão muito bonita, pois descobrimos que Deus nos dá um dom e nos confia uma tarefa. Com a canção destacámos esse apelo a seguir Cristo, percebendo que o que é impossível para o homem é possível para Deus, e quisemos que fosse a primeira canção do álbum porque mostra a essência do Regnum Christi.

Que papel desempenham a espiritualidade e a fé do Regnum Christi no vosso processo criativo?

- Neste processo, temos bem claro que o protagonista é Deus. O nosso objetivo é evangelizar, antes de ser um grupo musical, somos um apostolado do Regnum Christi e o nosso objetivo é levar Deus aos outros através da música. Por isso, qualquer canção que compomos tem de nascer da oração, é a oração feita canção.

Como é que se gere a colaboração entre os diferentes membros do grupo para garantir que cada membro traz o seu cunho pessoal sem perder a unidade da mensagem?

- Somos uma família e todos identificamos no nosso coração uma semente colocada por Deus, que nos chama a evangelizar através da música. Como todos temos este desejo no coração, é mais fácil estarmos disponíveis. Identificamos este apostolado como um dom e uma tarefa, o que facilita o respeito, a disponibilidade e a organização.

O que torna o vosso novo álbum único no género da música católica?

- Mais do que algo diferente, o nosso álbum complementa muito bem o apelo da Igreja. Há muita gente a compor coisas muito boas, por isso o nosso objetivo não é oferecer algo melhor do que o resto, mas algo que mostre essa complementaridade e seja uma resposta para corresponder à Igreja e ao dom de Deus. Queremos dar-nos através deste trabalho.

Foto do Padre Nicolás Núñez @RC

O que é que a música católica pode oferecer aos jovens de hoje?

- A música católica que nasce da oração permite que as pessoas rezem através dela. Isto facilita a criação de uma comunidade e o encontro com Cristo, que é algo de que os jovens têm sede. Além disso, graças à música, podemos exprimir com palavras o que sentimos, mesmo quando não sabemos exatamente o que é.

No caso específico do nosso novo álbum, com cada canção queremos acompanhar um tipo de oração. Queremos que os jovens encontrem nas canções uma mensagem agradável ao ouvido e que Jesus os alcance através da música.

Como é que relaciona isto com o título do álbum, "Gift and Task"?

- Foi-nos dado o dom de nos podermos exprimir através da música. Como qualquer dom, este traz consigo uma responsabilidade, exige uma resposta. Decidimos colocar este dom ao serviço da Igreja, que se concretiza agora neste novo álbum.

Como é que vê a música a reforçar a sua espiritualidade e a sua relação com Deus?

- Muitas vezes, quando as palavras não são suficientes, a música pode exprimir o que está no nosso coração. A música pode unir-nos a Deus de alguma forma e pode até ajudar-nos a identificar coisas que trazemos dentro de nós, porque a letra de uma canção toca-nos de uma forma especial. Por outro lado, graças à música, podemos entrar em comunhão com outras pessoas. A oração dos outros, transformada em canção, torna-se também a nossa oração.

Para nós, enquanto Kenosis, estamos conscientes de que, mais do que um grupo musical, somos participantes no ministério da música. Como Igreja militante, somos chamados a unir-nos aos anjos e à Igreja triunfante. Somos chamados a ser um na comunhão dos santos, a ser Igreja nessa comunhão. Através deste ministério da música, podemos ver o Céu tocar a Terra e aproximar a Terra do Céu.

A esperança gera alegria

A alegria e a esperança não são posturas fictícias ou ingénuas, são frutos do Espírito Santo. O Advento é um bom momento para prepararmos o nosso coração para acolher estes frutos, respondendo assim ao convite do Papa Francisco na sua Bula: a esperança não desilude.

20 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Conta-se que, numa noite silenciosa, quatro velas acesas conversavam entre si. A primeira disse: "Eu sou a paz, mas as pessoas não me podem ter entre elas, por isso vou-me apagar". E assim fez. A segunda dizia: "Eu sou a fé, mas neste mundo já sou como um acessório, acho que não vou mais", e apagou-se também. A terceira reclamava: "Eu sou o amor, mas as pessoas não sabem a minha importância, não vale a pena mantê-la acesa". A quarta vela ainda estava acesa quando um rapazinho entrou na sala. Ficou triste por ver as suas velas apagadas, começou a chorar quando ouviu a quarta vela falar e lhe disse: "não te preocupes, nada está perdido se eu ainda estiver acesa, eu sou a esperança, usa-me para acender de novo as outras três velas".

A esperança leva-nos a começar de novo!

A neurociência relaciona a esperança com a alegria de uma forma diretamente proporcional. Acreditar que o melhor virá ajuda a enfrentar o dia a dia de forma eficaz. Manter uma atitude alegre é um bom augúrio para o futuro. O Dr. Rodrigo Ramos Zúñga escreveu um livro intitulado: "Neuroanatomia da esperança". Nele, apresenta alguns estudos científicos que identificam claramente as zonas do cérebro que são estimuladas por processos psico-emocionais como a esperança e a sua relação com a alegria de viver. 

dezembro é um mês que nos chama à alegria, pois, apesar de tudo, a esperança ressurge quando nos damos conta de que a mudança positiva que Cristo traz a cada alma renova verdadeiramente as famílias e toda a sociedade. Nas palavras de São Josemaria: "A alegria é uma consequência necessária da filiação divina, de nos sabermos amados com predileção pelo nosso Pai Deus, que nos acolhe, nos ajuda e nos perdoa.

A Palavra de Deus chama-nos fortemente: "Alegrai-vos sempre, orai sem cessar, dai graças a Deus em todas as situações, porque esta é a sua vontade para convosco em Cristo Jesus. Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias, ponde tudo à prova, apegai-vos ao que é bom, evitai toda a espécie de mal" (1 Coríntios 1,1). Tessalonicenses 5, 16-21).

O exemplo da minha mãe

De uma forma muito especial, penso que a minha mãe personifica este apelo. Há algumas horas, fui buscá-la ao aeroporto, pois vinha passar uns dias connosco. Ela tem o dom da alegria e sabe levá-la para todo o lado com os seus formidáveis 82 anos de idade. 

Cheguei ao aeroporto para a receber e, quando a vi, senti o seu coração bater a cantar a alegria do reencontro. O seu olhar brilha e o seu sorriso irrompe. Assim que a vi, o meu coração já estava infetado... um abraço caloroso e as palavras doces: "Bem-vinda!

Antes de chegarmos ao carro, ele já me tinha enriquecido com os seus comentários esperançosos. Contou-me que tinha tido um encontro especial com uma mulher sábia no mesmo voo. Enquanto faziam os respectivos controlos, a minha mãe foi chamada para um controlo suplementar da sua pequena bagagem de mão. Estava preocupada, parecia nervosa e ouviu a senhora atrás dela dizer: "não te preocupes, vai correr tudo bem". E assim foi. A senhora só verificou e deixou-a passar de imediato.  

Seguiram juntas para a sala de embarque e, pelo caminho, foram conversando; a senhora bonita repetiu mais duas ou três vezes esta frase: "vai correr tudo bem". A minha mãe perguntou-lhe porquê. "É o maior ensinamento que a minha avó me deixou", diz ela, "Deus é o pai do amor e olha sempre por nós, temos de ter confiança. E continuou: "Perdeste a tua paz por um minuto e temos de evitar isso, perante qualquer contrariedade, diz sempre 'vai correr tudo bem'".

Quando a minha mãe acabou de contar a história, disse-me: "Isto deixou-me um alívio no coração. Aprendi uma coisa nova e gostei. Por isso, contei-lhe e agradeci-lhe.

Nessa altura, senti também esperança. A alegria não é uma atitude fictícia ou ingénua, é o fruto do Espírito Santo! Não é preciso que tudo esteja bem para que experimentemos a alegria; ela é compatível com a adversidade, até com a dor. De uma forma poética e realista, São Josemaria dizia que a alegria tem as suas raízes na forma da cruz. Implica aceitar a nossa realidade com paz, com a certeza de que Deus está aí para nos tornar melhores pessoas, para guiar os nossos passos pelo caminho da esperança, sabendo com certeza que cumpre as suas promessas. 

Neste Advento, preparemos os nossos corações e atendamos ao convite do Senhor Jesus Cristo. Papa Francisco na sua bula: a esperança não desilude. Nela, convida-nos a viver um ano jubilar que reacenda a esperança. Sejamos "aves de bom augúrio" e partilhemos as boas notícias, as boas experiências, as boas recordações e os bons desejos e resoluções. Não haverá um futuro melhor se não falarmos dele e não nos esforçarmos por o construir juntos.

Lupita Venegas cumprimenta o Papa Francisco durante uma audiência (Osservatore Romano)
Argumentos

Isaías e o Advento: a vinda do Salvador

O autor propõe para cada semana do Advento um versículo-chave do livro de Isaías, a fim de captar a essência da mensagem deste tempo litúrgico e de facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do coração de Cristo.

Rafael Sanz Carrera-20 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta
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Durante o tempo litúrgico do Advento, três figuras bíblicas destacam-se de forma especial: o profeta IsaíasJoão Batista e Maria de Nazaré. Nesta reflexão, centrar-nos-emos na figura de Isaías. Desde a antiguidade, uma tradição universal reservou às suas palavras muitas das primeiras leituras deste tempo. Talvez porque, nele, a grande esperança messiânica ressoa com uma força única, oferecendo um anúncio perene de salvação para a humanidade de todos os tempos.

Ao contemplarmos as leituras para o tempo de Advento deste ano (ciclo C), apercebemo-nos da presença abundante de Isaías. Embora possa parecer ambicioso, tenciono selecionar, para cada semana do Advento, um dos textos que nos são propostos, juntamente com um versículo-chave. Desta forma, espero captar a essência da mensagem do Advento e facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do seu coração.

Semana da Natividade do Senhor

Nos dias que precedem e na solenidade da Natividade do Senhor, as leituras de Isaías põem em evidência momentos proféticos e profundos do amor e da redenção de Deus pelo seu povo:

  • Missa da Vigília de Natal: Isaías 62,1-5 - Promessa de restauração para Jerusalém, a que Deus chama "Minha Delícia", reflectindo o seu amor pelo seu povo.
  • Missa da meia-noite: Isaías 9, 1-6 - Profecia do nascimento de um rei que trará paz e justiça, identificado com Jesus.
  • Missa da madrugada: Isaías 62, 11-12 - Anúncio da vinda da salvação; Jerusalém será reconhecida como "Cidade Santa".
  • Missa do dia: Isaías 52, 7-10 - Celebração da vinda do Reino de Deus e da salvação do seu povo.

Profecia e versículo-chave (Natal)

Entre estes textos, Isaías 9, 1-6 surge como a passagem central da NatalO povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitava na terra da sombra da morte, e uma luz brilhou sobre ele. Aumentaste-lhes o gozo, aumentaste-lhes a alegria; exultam na tua presença, como se exultam na ceifa, como se exultam na partilha do despojo... Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; ele traz sobre os seus ombros o governo, e o seu nome é: 'Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz'...".

Versículo-chave: Isaías 9:5

"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; ele traz sobre os seus ombros o governo, e o seu nome é: "Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz"".

Temas-chave que fazem de Isaías 9,1-6 um texto particularmente relevante para esta semana:

  1. Contexto profético de luz e salvação. Esta passagem anuncia a vinda de um menino que trará luz e salvação a um povo que andava nas trevas. No contexto do Natal, esta imagem da luz a vencer as trevas é profundamente significativa: "O povo que andava nas trevas viu uma grande luz...". A vinda de Jesus, simbolizada por esta luz, enche a humanidade de alegria e de esperança.
  2. Profundidade da mensagem de Isaías 9,5: "Nasceu-nos um menino" aponta para o nascimento de Jesus, o cumprimento desta profecia. Lucas 2, 11 confirma esta verdade quando os anjos anunciam aos pastores: "Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, o Senhor". Os títulos que Isaías atribui a este menino (Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz) evidenciam tanto a sua humanidade (menino nascido) como a sua divindade, captando a essência de Jesus como Messias e Deus encarnado:
    • Conselheiro maravilhoso: Jesus traz a sabedoria divina e ensina o caminho da salvação.
    • Deus Poderoso: Como Deus feito homem, Jesus tem o poder de vencer o pecado e a morte.
    • Pai Eterno: Jesus guia e cuida da humanidade eternamente.
    • Príncipe da Paz: Jesus instaura uma paz duradoura entre Deus e a humanidade, que é o ponto central da sua missão redentora.
  3. Ligação profética ao Natal. Isaías 9,5 exprime o espírito do Natal, celebrando não só o nascimento de Cristo, mas também o seu reinado de paz e justiça, tão desejado durante o Advento e celebrado no Natal.

Isaías 9,5 sintetiza a alegria e a esperança do Natal: a vinda de um Salvador que cumpre as promessas de Deus, trazendo paz, luz e redenção. Em Jesus, esta profecia cumpre-se plenamente, desde o seu nascimento até à sua missão redentora. Ele é a criança prometida que reina como Rei eterno e Deus encarnado, oferecendo ao mundo sabedoria, poder e paz. A sua vida, os seus ensinamentos, a sua morte e a sua ressurreição estabelecem o Reino de Deus e uma relação eterna com o Pai, fazendo do Natal a celebração de uma promessa cumprida na sua totalidade.

Em jeito de epílogo

A viagem pelas leituras de Isaías durante o Advento mergulha-nos na profundidade da esperança messiânica que define este tempo de preparação. Desde a primeira semana, Isaías abre-nos à promessa de um "ramo do tronco de Jessé", uma imagem de Jesus como o Messias há muito esperado. À medida que as semanas avançam, esta esperança ganha forma: na segunda semana, o apelo a preparar o caminho do Senhor suscita uma conversão interior, uma missão que encontra eco em João Batista. Na terceira semana, o anúncio do nascimento do Emanuel, "Deus connosco", aproxima-nos do mistério central do Advento: a incarnação de Deus em Jesus. Finalmente, na semana do Natal, Isaías coroa a sua mensagem com a profecia do "Príncipe da Paz", o menino que vem trazer luz e salvação a um mundo necessitado.

Estas leituras convidam-nos a meditar sobre o cumprimento das promessas de Deus em Jesus Cristo, o Salvador que não só resgata Israel, mas estende a sua salvação a toda a humanidade. Isaías, com a sua linguagem cheia de esperança e a sua visão profética do Messias, guia-nos nesta viagem rumo ao Natal, renovando a nossa fé no Deus que não permanece distante, mas entra na nossa história para caminhar connosco.

O autorRafael Sanz Carrera

Doutor em Direito Canónico

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Belém: vazia de turistas, cheia de orações

Os cristãos palestinianos Alek Kahkejian, 25 anos, e Joy Kharoufeh, 21 anos, rezam na gruta da Igreja da Natividade em Belém. A cidade está vazia de turistas antes do Natal por causa da guerra entre o Hamas e Israel, que já vai no seu 14º mês.

Maria José Atienza-19 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Evangelização

Urbano V, o Papa que tentou trazer a Sé de Pedro de Avinhão para Roma

No dia 19 de dezembro, a Igreja celebra o Beato Urbano V, Papa, falecido em 1370. Na época dos Papas de Avinhão, tentou devolver a Sé de Pedro a Roma, mas não conseguiu. Foi Gregório XI quem regressou definitivamente a Roma.  

Francisco Otamendi-19 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

O francês Guilherme de Grimoard, monge beneditino, foi eleito Papa em Avinhão (1362-1370) com o nome de Urbano V. Tentou em vão devolver a Sé Apostólica a Roma e reunir as Igrejas do Ocidente e do Oriente. Tentou em vão devolver a Sé Apostólica a Roma e reunir a Igreja do Ocidente e do Oriente. De vida austera, ajudou os pobres e combateu a corrupção no clero. 

O grande objetivo do seu pontificado era restabelecer a sede papal em Roma, mas não conseguiu. De facto, em 1366, perante a oposição do rei de França e dos cardeais franceses, partiu para Roma. Chorou ao entrar na Cidade Eterna, onde nenhum Papa tinha estado durante 50 anos. As grandes basílicas estavam em ruínas e ele começou a repará-las e a alimentar os pobres.  

No entanto, a França estava em guerra com a Inglaterra, a sua saúde deteriorou-se e Urbano V decidiu regressar a França, apesar dos apelos dos romanos e de Santa Brígida da Suécia, entre outros. Em 1370, declarou que marchava para o bem da Igreja, para ajudar a França, mas morreu a 19 de dezembro.

O autorFrancisco Otamendi

Cultura

Eva Leitman-Bohrer: "Nasci na pior altura, durante o Holocausto húngaro".

O Centro Sefarad-Israel de Madrid acolheu a apresentação da edição húngara de "Os Documentos Secretos de Pape", que conta a história de Eva Leitman-Bohrer, uma sobrevivente húngara do Holocausto judeu, da sua família e de milhões de famílias judias que morreram às mãos dos nazis. Leitman-Bohrer e a autora panamiana Alexandra Ciniglio contam a história ao Omnes.   

Francisco Otamendi-19 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Esta é uma entrevista a duas vozes. A de Eva Leitman-Bohrer (Budapeste, 29 de junho de 1944), judia húngara e sobrevivente do Holocausto, que conta a história. E a da jornalista panamiana Alexandra Ciniglio, autora de "Os Documentos Secretos de Pape" (editora Nagrela), que ajudou a Eva Leitman-Bohrer para conhecer o seu passado e o da sua família, de Budapeste a Madrid, passando por Tânger e pelo campo de concentração de Mauthausen.

São também a voz das vítimas da Shoah (hebraico para Holocausto), o assassinato de seis milhões de judeus europeus pelos nazis na Segunda Guerra Mundial.

Agora, a embaixadora húngara em Espanha, Katalin Tóth, e o diretor do Centro Sefarad-Israel, Jaime Moreno Bau, apresentaram a edição húngara do livro acompanhada de por Leitman-Bohrer, Alexandra Ciniglio e familiares do Anjo de Budapeste, o diplomata aragonês Ángel Sanz Briz, que salvou mais de 5.000 judeus da morte na Hungria, explicam os entrevistados.

Eva, o livro em húngaro chama-se "Pápe titkos iratai". Fale-nos de Pápe e do seu apelido, Leitman-Bohrer.

- Leitman é o nome do meu pai biológico que nunca conheci e que morreu nas "marchas da morte", porque era judeu. Bohrer (Pape) é a pessoa que casou com a minha mãe quando eu tinha quatro anos, que viveu 98 anos e que morreu há 8 anos: é o pai que tive durante toda a minha vida. O meu nome é o nome de dois pais, Leitman-Bohrer.

Alexandra, qual foi o seu objetivo com o livro?

- O que tentei fazer no livro não foi apenas contar a história de Eva, mas através da sua história, contar a história de milhões de famílias, milhões de judeus que morreram nas mesmas circunstâncias. Por isso, não conto apenas anedotas que podem ser familiares, mas também fiz um esforço para contextualizar a história. Para que o leitor, se não souber nada sobre a Segunda Guerra Mundial ou o Holocausto, possa compreender porque é que esta ou aquela situação foi importante na altura.

 O que eram as "marchas da morte"?

- (Alexandra) Eva sabia que Pape era o seu pai adotivo, porque o seu pai biológico, que ela não conhecia, tinha morrido nas chamadas "marchas da morte", que ocorreram no final da guerra, quando as forças militares alemãs estavam em colapso. Os alemães, em desespero, começaram a retirar prisioneiros dos campos perto da frente e a utilizá-los para trabalhos forçados em campos no interior da Alemanha. 

Centenas de milhares de homens, mulheres e até crianças foram obrigados a caminhar quilómetros e quilómetros através das fronteiras, sem roupa e calçado adequados no inverno e sem comida. Eram levados para campos de trabalho, campos de concentração ou campos de extermínio, e muitos morriam pelo caminho, sendo os corpos deixados à solta.      

 Será que um bebé de uma família judia tinha hipóteses de sobreviver em 1944 na Hungria?

 - (Eva) Praticamente nenhuma. Nasci a 29 de junho de 1944, e a minha mãe dizia sempre que era a pior altura para nascer, porque nessa altura Budapeste estava sob bombardeamentos dos Aliados que caíam do céu; e no chão havia as "setas cruzadas" do partido nazi húngaro à procura de judeus para nos matar; e por outro lado, desde 19 de março de 1944, a Hungria foi invadida pelos alemães. Hitler tinha enviado para a Hungria o seu melhor especialista em deportações para os campos de extermínio, que se encontrava em Budapeste nessa altura, Adolf Eichmann. Nessa altura, a minha mãe, coitada, já era viúva e ainda não o sabia.

O meu avô ainda tinha um pouco de ouro e conseguiu pôr a minha mãe numa clínica, mas ela foi atirada para a rua e estava à procura de um abrigo subterrâneo, por causa dos bombardeamentos. A minha mãe não tinha nada para me dar, porque estava esquelética, e acho que me davam cascas de batata cozidas e cenouras.

Referiu-se ao Anjo de Budapeste e a um Anjo sueco.

Quando os bombardeamentos pararam, a minha mãe soube pelo porteiro da sua antiga casa que estavam a chegar cartas de Espanha da minha avó, que tinha ido para Tânger em 1939 e depois para Madrid. O porteiro falou-lhe de algumas casas protegidas pelo governo espanhol. Ali estava o nosso anjo salvador, o Embaixador Ángel Sanz Briz, que na altura era um jovem de 30 anos, corajoso, generoso, que não podia ver esses massacres de judeus nas ruas - como outras pessoas justas de várias nações, como o grande Raoul Wallemberg, sueco e também diplomata - e que salvou a vida de cerca de 5 200 judeus.

 Como é que ele o fez?

 - (Eva) O Anjo de Budapeste salvou-nos de uma deportação certa. Colocou a bandeira espanhola nos apartamentos e nas casas, para que ficassem sob proteção espanhola. Não havia comida, mas já estávamos no fim de 44 e em 45 chegaram os russos. Tenho uma grande admiração e um dever de memória e gratidão para com Ángel Sanz Briz e a sua família, com quem tenho uma grande amizade. Com os meus filhos, dou muitas vezes palestras em escolas e instituições.

Chegámos a Espanha em 1954. Éramos apátridas, porque a Hungria tinha sido ocupada pelos soviéticos, que passaram de aliados na libertação da Europa a ocupantes da Hungria e a fechar as fronteiras.

Como é que Eva e a sua família se saíram depois deste Holocausto judeu?

 - (Alexandra) A família conseguiu fugir da Hungria sob o domínio soviético e, ao fugir, foi registada como apátrida. Durante muitos anos, Eva e a sua família sofreram com o facto de não terem uma nacionalidade. É por isso que este reencontro com a Hungria é importante para Eva. A publicação do livro em húngaro é uma questão de justiça histórica. É bom realçar este facto, porque sinto que esta publicação é uma forma de a Hungria se reconciliar com o seu próprio passado. No livro, a Hungria não fica bem, obviamente, porque é um facto histórico que colaborou com os nazis e, na nossa investigação, destacamos a figura dos "Flechas Cruzadas", os nazis húngaros, que eram iguais ou, por vezes, até piores do que os alemães.

Não é um livro bonito para a Hungria, e é por isso que sublinho a importância de não negar o seu passado. Em Budapeste, é possível visitar a Casa do Terror, um museu onde se mostra como se interrogavam os judeus, os locais de tortura, etc., e onde se expõe tudo isso. O mais curioso é que o mesmo local foi mais tarde utilizado pelos soviéticos para fazer a mesma coisa.

Estão a reconstruir a memória...

- (Eva) Durante muitos anos fui húngara sem ser húngara, ou seja, sem me preocupar muito com isso. Em casa, falava húngaro com o meu pai e a minha mãe, é a minha língua materna, e de repente uma embaixadora pediu-me para a ajudar a reconstruir a memória, porque em Espanha havia muitos refugiados judeus húngaros.

Depois, com o atual embaixador, que é meu amigo, ensinaram-me a apreciar o país, que é o país dos meus pais, com 10 prémios Nobel, cerca de 10 milhões de habitantes, que teve artistas, músicos, intelectuais... Fui várias vezes a Budapeste e fiquei viciado no país, o meu pai nunca mais voltou porque esteve em três campos de trabalho, e sobreviveu porque era contabilista e estava nas cozinhas.

A iniciativa da Hungria de traduzir este livro é louvável.

- (Eva) Estou profundamente grato. Recebi a Grande Cruz de Ouro Húngara de Mérito Nacional, pelo trabalho de recordação do Holocausto Húngaro, dos húngaros em Espanha. Estou muito grato pela tradução do livro para húngaro, na qual não participei. O meu nível de húngaro é familiar, em casa, não para traduzir um livro. Estou também muito grato à Alexandra, que conseguiu dar-me uma voz no livro.

(Alexandra) Espero que agora, estando em húngaro, a história possa chegar aos mais jovens, que não têm conhecimento destas questões. Atualmente, Eva é uma das poucas sobreviventes do Holocausto a viver em Espanha e está a fazer um trabalho muito bonito ao contar a história, com o livro, e gostaria que pudesse fazer o mesmo na Hungria. É dar um rosto à história e ser capaz de compreender que, sim, morreram seis milhões de judeus, mas que cada um deles tinha uma história, uma família, é humanizar a história para que possamos relacionar-nos com o que aconteceu e aprender.

O que é mais marcante no seu trabalho com Eva Leitman-Bohrer?

 - (Alexandra) Quando conheci Eva, ela não era capaz de me contar a sua história. Tal como muitos outros sobreviventes do Holocausto, os seus pais não falaram sobre o assunto: "tábua rasa". Também vivia com os avós e nem os pais nem os avós falavam sobre o assunto, e ela não lhes perguntava. Era como um código partilhado: era melhor não falar de assuntos dolorosos.

Imaginem uma pessoa que, depois dos setenta anos de idade, começa a descobrir a sua própria história. O dia em que apresentámos o livro na sua versão espanhola foi muito emocionante para mim, porque foi a primeira vez que pude ouvir Eva contar a sua história de uma forma coerente, depois da investigação que fez, e poder deixá-la documentada para os seus filhos e netos.

Quantas pessoas morreram em Mauthausen, perto de Linz?

- (Alexandra) Pessoalmente, desloquei-me a Budapeste, a Tânger, a Mauthausen, o campo de concentração situado a cerca de 20 quilómetros de Linz e a cerca de 150 quilómetros de Viena (entre 1938 e 1945, foram deportadas para este campo cerca de 190 000 pessoas, talvez mais, e mais de 100 000 delas foram espancadas até à morte, fuziladas ou mortas por injecções ou gás letal: a maioria eram polacos, soviéticos e húngaros), e a outros locais, para ser o mais exaustivo possível na investigação.

Do livro, gostaria de sublinhar o valor documental de conseguir reconstruir factos históricos a partir de documentos reais, como certidões, cartas e fotografias, oferecendo um testemunho valioso sobre as experiências das vítimas do Holocausto e as acções desta família. Por outro lado, tentei manter a escrita simples e emotiva, tornando uma história complexa acessível a um público alargado. Foram três anos de trabalho e estamos muito orgulhosos do que conseguimos com o livro.

O autorFrancisco Otamendi

Vocações

"Mais um para o Natal", a campanha da Fundação CARF para apoiar as vocações

A Fundação CARF encoraja-o a "pôr um prato extra" de forma simbólica nestas datas e a ajudar um seminarista ou um padre diocesano.

Maria José Atienza-19 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Natal é sinónimo de união e de reunião familiar. Por esta razão, a Fundação CARF quis lançar uma campanha de solidariedade nesta altura do ano Mais um para o Natal, uma iniciativa através da qual esta Fundação encoraja um convite simbólico para colocar um prato extra na véspera de Natal ou na mesa de Natal da família de um seminarista ou de um padre diocesano.  

O Fundação CARFfundada em 1989 e que já ajudou quase 40 000 estudantes de 131 países com escassos recursos económicos para estudar teologia e filosofia em Roma e Pamplona, quer apoiar a vocação dos seminaristas e dos sacerdotes diocesanos, bem como dos religiosos e religiosas de todo o mundo, recordando "o costume cristão da caridade em muitos países de acrescentar um prato extra ao jantar da véspera de Natal ou ao almoço de Natal, ou das famílias que convidam pessoas da rua para passarem com elas um dia tão especial".

Para aderir a esta campanha original, o Fundação CARF propõe três ideias: "rezar pelos sacerdotes após a bênção da mesa, neste Natal e todos os dias, partilhar este gesto através das redes sociais, inspirando outros a participarem ou fazer um donativo especial de Natal através do forma que criaram para o efeito no sítio Web da Fundação CARF.

Através deste donativo, as famílias e os indivíduos terão mais uma pessoa à mesa de Natal e ajudarão estes jovens a formarem-se nas faculdades eclesiásticas de Roma e Pamplona, a fim de regressarem aos seus países de origem e promoverem o trabalho pastoral e ministerial nas igrejas locais.

Nas páginas do Omnes, muitos seminaristas e sacerdotes partilharam as suas histórias e a importância da ajuda da Fundação CARF para a sua formação sacerdotal: Vinel Rosier, Vedastus machibula, Mathias Soiza o Carmelo Fidel Marcaida são alguns dos testemunhos que pode ler no nosso sítio Web.

Evangelho

Gritemos de alegria. Quarto Domingo do Advento

Joseph Evans comenta as leituras do quarto domingo do Advento e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-19 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

A ação de Nossa Senhora ajuda a despertar em nós um maior sentido da vinda de Deus, um maior desejo de que Ele venha até nós. É exatamente isso que vemos no Evangelho de hoje: "Assim que Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou-lhe no ventre".. São João Batista já estava a cumprir a sua missão de precursor de Cristo no seio de sua mãe Isabel. Ficou tão comovido com a presença de Jesus que deu um salto de alegria. Quem dera que fosse essa a nossa reação. 

Algumas pessoas olham para o Natal com receio, pensando simplesmente no trabalho extra que pode implicar ou nas tensões que podem surgir quando os membros da família se reúnem. Mas, em vez de dar ouvidos ao nosso medo, devemos ouvir a voz de Maria: "... não temos medo.Assim que Isabel ouviu a saudação de Maria...". Só a voz de Maria, o facto de a ouvirmos falar-nos no mais profundo do nosso coração, pode despertar-nos para a presença de Deus e renovar a nossa alegria e a nossa expetativa da sua vinda. A fé de Maria é contagiosa.Bem-aventurada aquela que acreditou...".

Especialmente no Rosário, Maria vem até nós com alegria, trazendo-nos o seu Filho escondido, pois foi apressadamente visitar a sua prima idosa com o Menino Deus dentro de si.. "Maria levantou-se e apressou-se a seguir o seu caminho."Ela levanta-se da glória celeste para vir também apressadamente ao encontro das nossas necessidades e levar-nos a Cristo. As nossas súplicas e necessidades impelem-na a apressar-se, tal como a notícia da necessidade de Isabel - grávida numa idade avançada - a impeliu a ir rapidamente em seu auxílio. 

Mas se imitar Maria pode parecer um padrão demasiado elevado, podemos pelo menos imitar Isabel e aprender com ela. Ouvimos nas palavras de Maria quatro belas afirmações que nos podem ensinar muito. Cheia do Espírito Santo, ela exclamou com uma voz poderosa: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. Cheios do nosso próprio espírito de orgulho e de cólera, é melhor ficarmos calados. Mas, cheios do Espírito Santo, fazemos bem em gritar. 

Isabel, com a perspicácia que lhe foi dada por Deus, percebe em primeiro lugar a grandeza de Maria (bendita entre as mulheres), certamente pela sua resposta total a Deus, mas sobretudo porque é a Mãe de Deus, pela graça que recebeu (o fruto do seu ventre). 

Em seguida, reconhece a graça que ela própria recebeu com a visita de Maria. ("Quem sou eu?"). Depois, compreende o papel de Maria na inspiração do salto do menino João e, finalmente, elogia a sua fé. 

Isabel pode ajudar-nos a apreciar quão grande é o dom de Deus que vem até nós como uma criança através de Maria e quão importante é a fé para receber este dom.

Homilia sobre as leituras do IV Domingo do Advento

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Cultura

Cientistas católicos: Leonardo Torres Quevedo, engenheiro e matemático

Leonardo Torres Quevedo, o engenheiro e matemático que patenteou o teleférico, morreu a 18 de dezembro de 1936. Esta série de pequenas biografias de cientistas católicos é publicada graças à colaboração da Sociedade de Cientistas Católicos de Espanha.

Ignacio del Villar-19 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Leonardo Torres Quevedo (28 de dezembro de 1852 - 18 de dezembro de 1936) foi um engenheiro civil, matemático e inventor. Em 1887, patenteou o teleférico, um dos quais foi encomendado pela empresa Whirpool para as Cataratas do Niágara, onde ainda está em funcionamento no século XXI. Também melhorou a tecnologia dos dirigíveis, fazendo com que praticamente todos os modelos construídos ao longo dos séculos XX e XXI se baseassem nas suas patentes, e criou o primeiro telecomando (a que chamou telekino), um dispositivo com o qual conseguiu deslocar um barco em Bilbau em qualquer direção e até uma distância de dois quilómetros, perante o olhar espantado de uma multidão de pessoas, incluindo o próprio Rei de Espanha. Este telekino foi o primeiro exemplo da nova ciência que fundou, a automação, baseada no controlo de accionamentos por meio de mecanismos electromecânicos. Mais tarde, desenvolveu o primeiro jogo de computador, um robot que jogava xadrez contra uma pessoa. Por esta razão, é também considerado um pioneiro da inteligência artificial. Mas a sua maior obra, datada de 1920, é o aritmómetro. Foi a primeira calculadora digital, a antecessora do computador moderno. Este equipamento era constituído por uma memória, uma unidade aritmética-lógica que incluía um totalizador, um multiplicador e um comparador, e uma unidade de controlo que permitia escolher o tipo de operação. Finalmente, uma máquina de escrever servia de interface gráfica, uma vez que os dados das operações eram introduzidos através do seu teclado e os resultados eram impressos em papel. Leonardo também trabalhou no domínio da matemática. Em 1893, publicou a sua "Memória sobre as máquinas algébricas", na qual demonstrou, com ideias inovadoras, como resolver mecanicamente equações de oito termos, como obter raízes imaginárias e não apenas raízes reais, ou equações do segundo grau com coeficientes complexos. Também se destacou no campo da literatura, ocupando a cadeira do famoso escritor Benito Pérez Galdós na Real Academia Española de la Lengua (Real Academia Espanhola da Língua). Mas, acima de tudo, era um católico devoto que se maravilhava com a leitura do catecismo e tinha o hábito de comungar todas as primeiras sextas-feiras do mês, de acordo com as aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Alacoque.

O autorIgnacio del Villar

Universidade Pública de Navarra.

Sociedade de Cientistas Católicos de Espanha

Mundo

Eduard Profittlich SJ. O bispo que partilhou a sorte do seu povo, no caminho para os altares

Eduard Profittlich SJ poderá tornar-se, dentro de alguns meses, o primeiro santo da nação estónia. Profittlich foi Administrador Apostólico da Estónia de 1931 até à sua morte numa prisão comunista soviética em 1942. A sua vida resume a história da Estónia na primeira metade do século XX, e os católicos estónios aguardam ansiosamente a sua elevação aos altares.

Maria José Atienza-18 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No dia 18 de dezembro, o Boletim da Santa Sé publicou a autorização do Santo Padre ao Dicastério para promulgar o decreto de martírio do Servo de Deus Edward Profittlich, da Companhia de Jesus, Tit. Arcebispo de Adrianópolis, Administrador Apostólico da Estónia. Mais um passo para a beatificação e canonização do primeiro bispo da Estónia, que os católicos deste país báltico aguardavam com grande expetativa.

Profittlich está a caminho de se tornar o primeiro santo da Estónia e, como salienta D. Philippe Jourdan, bispo desta diocese recentemente nomeada, "o facto de a Igreja proclamar beato o meu antecessor, Eduard Profittlich SJ, é muito importante para os estónios. Obviamente para os católicos, mas também para os não católicos, porque ele partilhou o destino de 20 % da população do país: a deportação e a morte. Representa um momento-chave na história do povo estónio no século XX. Quando me encontro com o Presidente do país, ele pergunta-me sempre como está a decorrer o processo de Monsenhor Profittlich, porque seria muito importante para todo o país.

Uma beatificação precoce

A causa deste bispo jesuíta começou em 2014. Nessa altura, iniciou-se o trabalho de documentação, o que foi difícil, uma vez que quase não se ouviu falar dele durante o período da sua detenção.

Em 2017, o bispo Philippe Jourdan iniciou uma investigação sobre o processo diocesano para a beatificação oficial de Profittlich, que foi concluída em 2019, e todos os documentos foram entregues à Congregação para as Causas dos Santos em Roma.

Alemão de nascimento, estónio de coração

De origem alemã, Profittlich nasceu a 11 de setembro de 1890 em Birresdorf, Alemanha. Em 1913, entrou no noviciado da Companhia de Jesus em Heerenberg. Foi ordenado sacerdote em 1922 e mudou-se para Cracóvia para continuar os seus estudos; depois de várias missões pastorais, emitiu os seus últimos votos como jesuíta a 2 de fevereiro de 1930.

A sua atenção para com os fiéis e a sua intensa vida pastoral fizeram com que o então administrador apostólico na Estónia, D. António Zecchini, se interessasse por este religioso que, em 1931, lhe sucedeu à frente da pequena comunidade católica da Estónia. Aprendeu a língua e, em 1935, obteve a cidadania estónia. Foi ordenado bispo em 1936, o primeiro bispo católico na Estónia após a Reforma Luterana. 

Apesar dos poucos anos em que pôde desenvolver o seu trabalho pastoral, a marca de Eduard Profittlich na Igreja da Estónia foi profunda e duradoura. Renovou a estrutura católica daquela comunidade, reforçou a fé dos católicos estónios e foi um promotor da cultura estónia através de publicações literárias.

O historiador Toomas Abilis, que estudou em profundidade a vida e a personalidade do bispo Profittlich, observa que ele era "educado, disciplinado e resoluto no desempenho das suas funções. Era profundamente fiel aos ensinamentos da Igreja e da sua hierarquia. Homem dedicado ao trabalho pastoral, tinha muitos amigos e era um grande pregador.

Detenção e morte

No início da Segunda Guerra Mundial, ele e a sua pequena comunidade foram presos em 27 de junho de 1941 pelas autoridades soviéticas.

Eduard Profittlich foi transferido para Kirov, na Rússia, a 2.000 quilómetros da Estónia. Durante vários meses, esteve detido na Prisão n.º 1. Outros nomes proeminentes da nação estónia, como o intelectual Eduard Laaman e o político e empresário Joakim Puhk, foram também aí fuzilados. Era uma prisão inóspita e sobrelotada. Cada cela, com cerca de 50 metros quadrados, podia albergar até 100 reclusos. Não havia aquecimento e as mortes por hipotermia eram frequentes.

Durante o período em que esteve preso em Kirov, o Bispo Profittlich foi continuamente interrogado com métodos desumanos.

Em 21 de novembro de 1941, foi julgado e acusado de "difundir calúnias anti-soviéticas, de ocultar a fuga de católicos para o estrangeiro, de elogiar o exército alemão e de agitação contrarrevolucionária".

O veredito de culpado condenou-o à morte por fuzilamento. Nessa altura, a saúde do Bispo Profittlich já estava extremamente debilitada devido aos interrogatórios noturnos que impediam os prisioneiros de dormir, ao frio e à fome. Eduard Profittlich morreu a 22 de fevereiro de 1942 na sua cela de prisão, um dia antes da sua execução.

Na sua última carta aos seus familiares, Eduard Profittlich pede-lhes mais uma vez que rezem por ele, "para que a graça de Deus continue a acompanhar-me, a fim de que em tudo o que me espera eu permaneça fiel à minha santa vocação e dever e a Cristo e sacrifique toda a minha vitalidade pela minha pátria, e se for da sua santa vontade, até a minha vida". Uma dedicação que, como ele escreveu nesta carta, "seria o mais belo fim da minha vida".

Vaticano

O Papa sublinha que o presépio é "importante na nossa espiritualidade e cultura".

"O Natal está próximo e gosto de pensar que nas vossas casas há um presépio: este importante elemento da nossa espiritualidade e da nossa cultura é uma forma evocativa de recordar Jesus, que veio 'habitar entre nós'", disse hoje o Papa Francisco, ao iniciar um novo ciclo de catequeses, "Jesus Cristo nossa Esperança", para todo o Ano Jubilar.    

Francisco Otamendi-18 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Com a aproximação do nascimento de Jesus, nosso Salvador, e o início de um novo ciclo de catequeses ao longo do Jubileu sobre o tema "Jesus Cristo, nossa esperança", a presépio nos lares, a oração pela paz, a proximidade com as vítimas e as famílias do arquipélago de Mayotte, devastado pelo ciclone, e a sua recente viagem à Córsega, marcaram o Público do Papa Francisco esta manhã na Sala Paulo VI.

A Sala Paulo VI, onde o Papa, as relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus e cerca de 900 membros da Congregação para a Evangelização dos Povos do Santo Padre estiveram presentes esta quarta-feira, perto do Natal. Irmandade de Nossa Senhora de El Rocío, acompanhado pelo Bispo de Huelva, D. Santiago Gómez, em memória da peregrinação de São João Paulo II à Virgem de El Rocío em 1993.

Na Córsega, "a fé não é um assunto privado".

Na sua recente viagem a CórsegaO Papa sublinhou que foi "recebido calorosamente, fiquei particularmente impressionado com o fervor do povo, onde a fé não é um assunto privado, e com o número de crianças presentes: uma grande alegria e uma grande esperança! Um tema, o da natalidade e das crianças, sobre o qual Francisco tem insistido de forma especial neste ano de 2024.

No seu apelo à paz, pouco antes de dar a Bênção, o Romano Pontífice pediu que "rezemos pela paz, não podemos deixar que as pessoas sofram por causa das guerras, a Palestina, Israel e todos aqueles que sofrem, a Ucrânia, Myanmar, não nos esqueçamos de rezar pela paz, para que as guerras acabem, peçamos ao Príncipe da Paz que nos dê esta graça, a paz no mundo, a guerra é sempre uma derrota".

Avós e idosos: não os deixem sozinhos no Natal

Nas palavras que dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa, o Papa sublinhou um outro tema que lhe é caro e que está relacionado com o assunto abordado na catequese de hoje: "A genealogia de Jesus faz-nos pensar nos nossos antepassados, nos nossos avós e na riqueza de todos os idosos. Eles são um dom de Deus que devemos agradecer e cuidar. Não os deixemos sozinhos durante as próximas férias de Natal, que Nossa Senhora e São José os protejam".

A infância de Jesus

O tema abordado pelo Papa esta manhã foiA infância de Jesus - Genealogia de Jesus (Mt 1,1-17). A entrada do Filho de Deus na história". 

Assim resumiu o Santo Padre: "Iniciamos hoje um novo ciclo de catequeses para o Ano Jubilar, com o tema "Jesus Cristo, nossa esperança". Nesta primeira parte, reflectimos sobre a infância de Jesus, que encontramos narrada nos primeiros capítulos dos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Enquanto Lucas descreve os acontecimentos do ponto de vista de Maria, Mateus fá-lo na perspetiva de José, o que é particularmente evidente na genealogia".

A figura de Maria: Jesus nasceu dela

Os Evangelhos da infância, sublinhou o Papa, narram a conceção virginal de Jesus e o seu nascimento do seio de Maria; recordam as profecias messiânicas nele realizadas e falam da paternidade legal de José, que enxertou o Filho de Deus no "tronco" da dinastia davídica". 

"Na genealogia apresentada por Mateus, onde são mencionados homens e mulheres, destaca-se a figura de Maria, que marca um novo começo: a partir dela Jesus nasceuverdadeiro homem e verdadeiro Deus". 

Recordação grata dos nossos antepassados

O Papa Francisco sublinhou que "ao contrário das genealogias do Antigo Testamento, nas quais só aparecem nomes masculinos, porque em Israel é o pai que impõe o nome ao filho, na lista de Mateus dos antepassados de Jesus também há mulheres". 

"O que Mateus sublinha", disse, "é que, como escreveu Bento XVI, 'através deles... o mundo dos gentios entra na genealogia de Jesus: a sua missão junto dos judeus e dos pagãos é manifestada' (A Infância de Jesus, Milão-Cidade do Vaticano 2012, 15)".

Ao concluir a sua catequese, o Papa encorajou-nos a "despertar em nós uma recordação agradecida dos nossos antepassados. E, acima de tudo, demos graças a Deus que, através da Mãe Igreja, nos deu a vida eterna, a vida de Jesus, a nossa esperança.

O autorFrancisco Otamendi

A Igreja em socorro da universidade pública

Uma controvérsia na Universidade Complutense de Madrid, desencadeada pelas reflexões de um capelão sobre a liberdade académica e o debate, suscitou uma discussão sobre a finalidade da universidade. O caso sublinha a importância de recuperar a essência do ensino superior como um espaço para a busca livre e corajosa da verdade, face ao risco de auto-censura.

18 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Surgiu uma polémica na Universidade Complutense de Madrid que toca em fibras profundas sobre o objetivo e a liberdade no ambiente universitário. Tudo começou com um entrevista com o capelão Juan Carlos Guirao, das faculdades de Filosofia e Filologia, que reflectiu sobre os grandes desafios da sociedade atual: o wokismo, o secularismo, o multiculturalismo e o valor da liberdade no debate académico.

O que era suposto ser um contributo para a reflexão acabou numa discussão acesa quando o reitor de Biologia manifestou a sua "preocupação" no Conselho Diretivo da universidade, sugerindo ao reitor que o capelão deveria limitar as suas opiniões à esfera da sua capela e da sua comunidade, e não permitir que fossem divulgadas na universidade. A reação foi rápida, e o Padre Guirao respondeu com uma carta pública que não só defendia o seu direito a expressar a sua opinião, mas também apontava problemas estruturais no mundo académico.

As raízes da universidade e a perda do debate 

As universidades nasceram no século XIII como um espaço de busca de conhecimento, promovido por intelectuais cristãos que não tinham medo de submeter as suas próprias crenças a uma análise crítica. Em Bolonha, Paris, Salamanca ou Oxford, não só se aceitava o debate, como se considerava essencial para o avanço do conhecimento.

No entanto, hoje em dia, encontramo-nos na situação paradoxal de, no Ocidente, haver um medo crescente de discutir ideias que não se alinham com o politicamente correto. Temas controversos como a ideologia de género, o aborto, a eutanásia, a história recente ou mesmo a natureza do Estado são muitas vezes tratados a partir de perspectivas unilaterais, excluindo as vozes discordantes.

O capelão Guirao, em sua carta, não faz mais do que lembrar o que deveria ser óbvio num espaço de ensino superior: a universidade deve ser um lugar de livre debate, onde nenhuma posição é excluída a priori. "O silêncio e a invisibilização não são opções válidas num ambiente que busca a verdade", afirma com firmeza. 

Uma recordação incómoda

Para além da controvérsia, o caso do capelão põe em evidência uma questão crucial: o que queremos que as nossas universidades sejam: espaços de reflexão e de procura da verdade ou zonas de conforto ideológico onde só se ouvem determinadas vozes?

A crítica do capelão não é isenta de humor. Salienta que, depois de mais de 20 anos a trabalhar como capelão na Complutense, o seu "contrato" foi de 0 euros, o que lhe dá uma liberdade que outros podem não ter. Responde também ao reitor com uma lista de questões que convidam ao diálogo: nascemos homens ou mulheres, ou escolhemos sê-lo? O que nos impede de autodeterminar a nossa idade, raça ou mesmo espécie? Qual é a base antropológica das nossas leis?

As suas reflexões são incómodas, e é exatamente isso que é necessário numa universidade viva. O conforto nunca foi um aliado do progresso intelectual.

Recuperar o espírito universitário

O debate levantado pelo capelão Guirao transcende a universidade onde ele trabalha. É uma oportunidade para recuperar o sentido original da instituição universitária: um lugar onde a verdade é perseguida com rigor, liberdade e coragem. Como ele bem assinala na sua carta, o que denigre a universidade não é a divergência de opiniões, mas a censura, a arbitrariedade na gestão dos recursos e a falta de mérito de alguns cargos académicos.

O capelão não está a pedir privilégios para as ideias cristãs, mas sim igualdade de oportunidades para todas as perspectivas se exprimirem. Três anos após o célebre debate sobre o papel dos intelectuais cristãos na esfera pública, este padre é um bom exemplo do que significa levantar-se com coragem, bons argumentos e caridade cristã. 

Em última análise, o que está em causa não é apenas a liberdade de expressão de um capelão, mas a própria essência do que significa ser uma universidade. Permitiremos que as nossas instituições sigam o caminho da auto-censura? Ou, como os intelectuais do século XIII, teremos a coragem de debater mesmo o que é incómodo? 

O autorJavier García Herrería

Editor da Omnes. Anteriormente, foi colaborador de vários meios de comunicação social e leccionou filosofia ao nível do Bachillerato durante 18 anos.

Vaticano

Paz e vida, dois critérios para encontrar esperança no próximo ano

Nas suas mensagens para os Dias da Paz e da Vida, o Papa e os bispos italianos abordam a urgência de promover a justiça, a reconciliação e a esperança, enquadrando as suas reflexões no contexto do próximo Ano Jubilar.

Giovanni Tridente-18 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Nos últimos dias, o ".Mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial da Paz"Mensagem do Conselho Episcopal Permanente da Conferência Episcopal Italiana" para a 47ª Jornada Nacional pela Vida, prevista para 2 de fevereiro.

Ambos os documentos - embora com impacto diferente em termos de público-alvo e do "peso" de quem os promove - são enquadrados pelo iminente Ano Jubilar e, precisamente por isso, apresentam apelos diretos à esperança e à responsabilidade para com os outros e para com o futuro. Com base no respeito pela vida e na construção da paz, que são as ideias centrais de ambos os textos, a sociedade pode finalmente recuperar a sua auto-confiança.

A esperança que traz justiça e paz

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa insiste na urgência de escutar o "grito desesperado de socorro" que surge das injustiças sociais, ambientais e económicas, como já tinha sublinhado na Bula de convocação do Ano Santo. "Romper as cadeias da injustiça" torna-se um imperativo, com um convite à mudança cultural e estrutural que reconhece a responsabilidade partilhada pelo bem comum. 

Neste contexto, Francisco propõe gestos concretos de reconciliação: a anulação da dívida internacional, a abolição da pena de morte e a criação de um fundo mundial de luta contra a fome e as alterações climáticas. Assim, a paz é fruto de um "coração desarmado" - expressão tão cara ao seu antecessor São João XXIII - capaz de reconhecer as dívidas para com Deus e para com o próximo, mas também de perdoar e construir pontes.

"O amor e a verdade encontrar-se-ão, a justiça e a paz beijar-se-ão", sublinhou o Pontífice, referindo-se ao Salmo 85, indicando que a verdadeira paz nunca é um mero compromisso, mas o resultado de um desarmamento interior que vence o egoísmo e, consequentemente, abre-se à esperança.

A vida como esperança feita carne

Na mensagem dos bispos italianos, o tema da esperança ressoa no apelo a transmitir a vida como um ato de confiança no futuro. Perante o "grande massacre de inocentes" provocado pelas guerras, as migrações e a fome, mas também pela diminuição da natalidade e pelo aborto, a Conferência Episcopal Italiana denuncia a lógica do utilitarismo que desvaloriza a vida humana. "Cada nova vida é esperança feita carne", afirma a Mensagem, apelando a uma "aliança social" que promova políticas pró-natalidade e de apoio às famílias, contra a cultura de morte e o cinismo.

Os Bispos recordam também a necessidade de superar a mentalidade que reduz o aborto a um direito, sublinhando que a defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de todos os direitos humanos. Também aqui o Jubileu se torna uma ocasião para começar de novo com "novos começos": perdão, justiça e esperança como dons divinos para um mundo que olha para o futuro com confiança.

Um único horizonte

Como nos recorda o Papa, "a paz não vem apenas com o fim da guerra, mas com o início de um mundo novo"; um mundo em que a vida é acolhida como um dom e a justiça é vivida como uma responsabilidade mútua.

A "cultura da vida" invocada pelos bispos italianos e o "coração desarmado" promovido pelo Pontífice representam, portanto, as duas faces da mesma moeda: uma humanidade reconciliada com Deus e consigo mesma, capaz de dar perspectivas de futuro às novas gerações. E cada um é chamado a não permanecer espetador, mas a comprometer-se pessoalmente, através de gestos concretos que possam responder à sede de esperança que o mundo está a clamar.

Tudo o que eu quero para o Natal é...

É engraçado que uma canção que fala da importância do Natal ser sobre pessoas em vez de coisas materiais seja uma das minas de ouro na história do mundo da música.

18 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta
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Três milhões de euros. É quanto a cantora e compositora americana Mariah Carey ganha todos os Natais em direitos de autor e direitos de transmissão da sua canção de Natal de sucesso "All I Want for Christmas is You". É curioso que uma canção que fala da importância do Natal ser sobre as pessoas e não sobre as coisas materiais seja uma das minas de ouro da história do mundo da música. E para si, o que é mais importante: o dinheiro ou a sua família, o seu bolso ou as pessoas que o rodeiam?

A batalha entre dois senhores

A luta constante entre o egoísmo e a generosidade faz parte da condição humana. Todos os dias temos de escolher entre partilhar e acumular; entre os outros e eu; entre Deus e o dinheiro.

Jesus, no Evangelhoadverte-nos muito seriamente sobre esta batalha, porque ela ultrapassa as forças humanas. Ele coloca o dinheiro ao nível de Deus e ensina-nos que: "Ninguém pode servir a dois senhores. Porque desprezará um e amará o outro; ou então dedicar-se-á ao primeiro e ignorará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro". Nem mesmo Satanás se importa tanto com isso! O dinheiro é a verdadeira némesis de Deus, é ele que nos confronta com o nosso Criador que está presente em cada um dos nossos irmãos e irmãs, especialmente nos mais pobres. É ele que quebra a comunhão entre os seres humanos e está por detrás de tantas guerras, assassínios, rupturas familiares e exploração das pessoas.

É por isso que, no Natal, quando é suposto estarmos mais unidos, irrompe o "outro" Natal: o comercial, o do consumo acima das nossas possibilidades, o do salário extra, o das vendas antecipadas, o dos subsídios de Natal, o das prendas ou o da lotaria e dos sorteios especiais.

É difícil nadar contra a corrente deste rio que nos arrasta todos os anos (quem não tiver pecado que atire a primeira pedra), mas vale a pena recordar-nos, ano após ano, que o Natal é a grande festa dos pobres, dos "anawin" - a palavra hebraica utilizada na Bíblia para designar as pessoas simples que estão dispostas a deixar-se encontrar por Deus, como aqueles pastores. Bento XVI Explicou assim o significado da pobreza para Jesus: "Ela pressupõe, antes de mais, uma libertação interior da ânsia de posse e da ânsia de poder. É uma realidade maior do que uma simples distribuição diferente dos bens, que se limitaria ao domínio material e endureceria os corações. Trata-se, sobretudo, da purificação do coração, graças à qual a posse é reconhecida como uma responsabilidade, como uma tarefa para com os outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se guiar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós. A liberdade interior é a condição prévia para vencer a corrupção e a avareza que arruínam o mundo; esta liberdade só pode ser encontrada se Deus se tornar a nossa riqueza; só pode ser encontrada na paciência da renúncia quotidiana, na qual se desenvolve em verdadeira liberdade.

Falsa liberdade

E o facto é que, ao contrário da falsa liberdade que o dinheiro nos oferece (promete-nos que podemos fazer muitas coisas com ele, mas a verdade é que nos condena a sermos seus escravos porque parece nunca ser suficiente), a pobreza de espírito, a renúncia a tudo o que o mercado nos oferece, colocando sempre Deus à frente do desejo de dinheiro, liberta-nos das amarras.

Alguns poderão pensar que esta advertência de Jesus se dirige apenas aos membros da lista da Forbes, mas mesmo uma pessoa materialmente pobre - prossegue o Papa alemão - pode "ter o coração cheio de cobiça pelas riquezas materiais e pelo poder que advém da riqueza. O próprio facto de viver na inveja e na cobiça mostra que, no seu coração, pertence aos ricos. Ela quer mudar a distribuição dos bens, mas para se colocar na situação dos antigos ricos". 

Verifiquemos então onde temos o nosso tesouro, porque é aí que está o nosso coração, e o dinheiro é um mau pagador. Por isso, neste Natal, talvez devêssemos comprar menos bilhetes de lotaria, largar o lastro, porque há muitos necessitados à nossa volta, e aproximarmo-nos do portal para contemplar a criança, a criança pobre, que nasce em Belém. Uma vez lá, aconselho-vos a olhá-lo nos olhos e a cantar-lhe, mesmo que seja mal e mesmo que isso signifique pôr mais uns tostões no boné saliente da Mariah Carey, "All I want for Christmas is you".

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

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Zoom

A relíquia da coroa de espinhos regressa a Notre Dame

A relíquia da coroa de espinhos regressa à catedral, cinco anos e meio depois de um incêndio ter devastado o templo parisiense.

Redação Omnes-17 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Espanha

O Cristo de La Laguna e o cesaropapismo constitucional

O artigo analisa a decisão do Tribunal Constitucional espanhol sobre o caso de uma mulher que processou uma associação religiosa masculina por discriminação. O acórdão põe em causa a neutralidade do Estado em matéria religiosa e constitui um precedente perigoso.

Rafael Palomino Lozano-17 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Qualquer pessoa que se interesse pela história das relações entre a Igreja e o Estado recordará que, sob Constantino, o Grande, ocorreu um fenómeno conhecido como cesaropapismo. O cesaropapismo é a intervenção da autoridade política secular nos assuntos espirituais, nomeando e destituindo bispos, convocando concílios e guardando fielmente a ortodoxia. Carlos Magno foi também um claro expoente desta política imperial, que ressurgiu após a Reforma Protestante nos reinos católicos europeus sob o nome de "monarquismo".

Os séculos passaram, mas o cesaropapismo continua a ser uma tentação à qual se pode facilmente sucumbir. Mesmo em sociedades religiosamente plurais. E o Tribunal Constitucional espanhol não está imune a esta tentação: de facto, caiu nela na sua recente decisão de 4 de novembro. Analisemos o caso e o curioso raciocínio do tribunal superior.

O caso de Tenerife

Mas antes, um parêntesis para perspetivar a questão. Até 4 de novembro do ano passado, o Tribunal Constitucional considerava que a não confessionalidade exigida pelo nº 3 do artigo 16º da Constituição significava a proibição de qualquer confusão entre funções religiosas e funções estatais. Assim, o Estado é incompetente em matéria religiosa e, por isso, a título de exemplo, não pode decidir o que é que se ensina nas aulas de religião nas escolas públicas (isso é decidido pelas confissões religiosas que assinaram acordos) nem quais os professores que ensinam (estes também são propostos por essas confissões). Este Estado, que não tem competência em matéria religiosa, é obrigado a manter-se neutro neste domínio e a respeitar a autonomia das confissões religiosas nos seus próprios assuntos. Esta neutralidade e esta autonomia são uma garantia da liberdade religiosa dos cidadãos, crentes ou não crentes, e das comunidades, religiosas ou não, de que são membros.

A sentença de 4 de novembro baseia-se no seguinte caso. Dona María Teresita Laborda Sanz quer tornar-se membro do Pontifício, Real y Venerable Esclavitud del Santísimo Cristo de La Laguna (Escravatura Real e Venerável do Santo Cristo de La Laguna) (Tenerife), uma associação de direito canónico cujas origens remontam ao século XVII. O problema fundamental para os seus membros é que, de acordo com os seus estatutos, a associação só admite homens. A requerente pretende que esta situação se altere e, por conseguinte, recorre aos tribunais espanhóis para que este impedimento estatutário seja declarado nulo, por violar a igualdade e o direito de associação. 

Tanto o tribunal de primeira instância como o Tribunal Provincial decidiram que os estatutos eram nulos e que, por conseguinte, o obstáculo devia ser removido para dar efeito à vontade de Dona María Teresita. No entanto, a associação canónica recorreu para o Supremo Tribunal, que lhe deu razão. E fê-lo por uma razão simples: a autonomia associativa (admitir ou não admitir de acordo com as próprias regras) é algo normal e, se não se é admitido numa associação, então cria-se outra... 

Direitos fundamentais

Só se pode considerar que existe um obstáculo aos direitos fundamentais do membro potencial quando a associação, de direito ou de facto, ocupa uma posição dominante no domínio económico, cultural, social ou profissional, de tal forma que a adesão ou a exclusão causaria um prejuízo significativo ao indivíduo em causa. Por outras palavras, por comparação: existe um obstáculo aos direitos de María Teresita se ela quisesse, por exemplo, participar em concursos de poesia, mas para isso tinha de pertencer à única associação espanhola de poetas que organiza concursos de poesia, e essa associação só admitia homens. 

Para já, quem conseguiu ler pacientemente até aqui, fica com a ideia de que a "posição dominante" é no "domínio económico, cultural, social ou profissional" e que a adesão ou exclusão deve resultar em "prejuízo significativo".

Voltemos aos factos. Perante o revés sofrido no Supremo Tribunal, a protagonista do processo dirigiu-se ao Tribunal Constitucional. Este decidiu que o direito da recorrente à não discriminação em razão do sexo e o seu direito de associação tinham sido violados.

A influência "woke"

Como é que se chegou a este resultado, contrário ao alcançado pelo Supremo Tribunal? Simples: a teoria crítica do género (uma vertente do "wokismo") que preside ao pensamento jurídico de uma parte significativa dos membros do Tribunal Constitucional prenunciou o resultado. É verdade que, em muitas ocasiões, a primeira coisa que move o juiz (ou a juíza) é um palpite, o resultado que pretende alcançar: "aqui temos de dar o direito a Doña María Teresita, sim ou sim". E depois constrói-se todo um complexo raciocínio jurídico para sustentar o palpite. O problema é quando esse raciocínio jurídico é incorreto. E é precisamente isso que acontece neste caso. 

Porquê? Porque, quando se trata de analisar a posição dominante da associação que impede os direitos de uma pessoa, recordemos que o Estado, através dos seus órgãos judiciais, pode entrar sem qualquer problema no domínio económico, cultural, social ou profissional, mas não no domínio religioso, porque aí o Estado é incompetente, é neutro, respeita a autonomia dos grupos religiosos. E o que faz então o Tribunal Constitucional? Muito simples: entra no domínio religioso, que lhe estava vedado, através do domínio cultural. 

Nas palavras do acórdão: "Os actos devocionais e religiosos (...) são actos "cúlticos" (...) Mas o facto de serem actos de culto não exclui que estes actos possam ter também uma projeção social ou cultural (...) consequentemente, as associações que organizam e participam nestas manifestações públicas e festivas de fé podem também ter uma posição dominante ou privilegiada em função da relevância social e cultural que estas manifestações adquirem". Em suma: o acessório (o cultural) torna-se o principal para impor uma visão partidária ao principal (o religioso).

Os desejos devem ser direitos

Mas a questão não se fica por aqui: que provas temos de que ocorreu um prejuízo significativo? Parte-se do princípio de que esse prejuízo pode ter ocorrido em dois domínios. O primeiro é a religiosidade do recorrente: pode o Tribunal Constitucional medir isso? Receio que não. A liberdade religiosa de Maria Teresita? Bem, não foi impedida de a exercer, dentro dos limites do respeito pelos direitos dos outros (em particular, os dos membros da associação canónica em causa). Economia, posição social, situação laboral? Não há registo disso. E, no entanto, no entender do Tribunal Constitucional, a ideia de que a recorrente foi simplesmente impedida de fazer o que queria, expressando o individualismo ao poder, dentro ou fora da Igreja, é um preconceito fundamental.

Em conclusão rápida: para ganhar a cruzada da igualdade proposta por uma secção do Tribunal Constitucional, aboliu-se a neutralidade do Estado, a autonomia dos grupos religiosos e uma forma peculiar de cesaropapismo. A confusão só é comparável a um Acórdão do Tribunal Constitucional da Colômbia (nunca poderia imaginar que chegaria a isso aqui, mas a imaginação é sempre curta), de 23 de setembro de 2013, em que a Igreja Católica foi obrigada (!) a readmitir uma freira no mosteiro, após dois anos de exclaustração.

Mas a história não fica por aqui. Como se recorda, a magistrada María Luisa Balaguer Callejón, no Acórdão 44/2023, de 9 de maio de 2023, sobre o aborto, permitiu-se dar uma pequena lição de teologia católica sobre a animação retardada, etc. Neste acórdão, volta a atacar, dando alguns "conselhos úteis" aos grupos religiosos: "embora não caiba ao Estado modificar as tradições religiosas, o direito à liberdade religiosa deve abranger o direito dos dissidentes internos, incluindo as mulheres, a apresentarem pontos de vista alternativos no seio das associações religiosas". 

Mas o que é que isto tem a ver com o caso? E depois de terem exercido este direito de dissidência interna, estas associações religiosas não podem também, educadamente, mandar embora os dissidentes, como faria um partido político a um dissidente que propusesse a dissolução do partido ou a fusão com o partido da oposição? Pois bem, não. Pelo contrário, Balaguer Callejón parece aconselhar as associações religiosas, se quiserem entender-se com o Tribunal de Justiça, a serem simpáticas, a ligarem as lanternas dos seus smartphones e a cantarem ao som de "Imagine", de John Lennon.

Evangelização

"A Palavra fez-se barro", a melhor saudação de Natal deste ano?

O vídeo merece aplausos não só pela sua qualidade técnica e narrativa, mas pela sua capacidade de unir a profundidade teológica à sensibilidade contemporânea, ligando o mistério do Natal à realidade concreta dos que sofreram.

Javier García Herrería-16 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O vídeo da Universidade Católica de Valência ultrapassou as 250.000 visualizações em todas as plataformas, o que faz dele uma das melhores saudações de Natal. Num ano marcado pela catástrofe natural de Valência, esta saudação conseguiu captar a essência mais profunda do Natal: a encarnação do Verbo no coração do mundo, mesmo no meio da lama.

A ideia do vídeo é o resultado de uma encomenda de Carola Minguet, diretora de comunicação da universidade, a Lucía Garijo, que dirige o Laboratório do Pensamento Visível, dedicado a explorar fórmulas audiovisuais para comunicar a antropologia cristã: "Nunca imaginei que chegasse tão longe", diz Lucía, emocionada com a receção do público. "Penso que o vídeo toca em algo universal: todos temos momentos de lama nas nossas vidas, e ver como Deus entra nessa lama dá-nos esperança.

A DANA e o Natal

O vídeo combina imagens de ruas inundadas e pessoas cobertas de lama a limpar os estragos da tempestade. A narração, em voz off lenta, recorda o mistério da Encarnação, pois "o Verbo fez-se carne e habitou entre nós". Numa reviravolta poética, mostra como Deus se fez lama, para estar com aqueles que andam na lama da vida.

Através de cenas quotidianas de solidariedade, o anúncio mostra como as coisas mais simples e mais frágeis podem tornar-se um sinal de redenção. A música acompanha a transformação do barro, que passa de símbolo de desastre a matéria-prima de um presépio feito à mão. Deus não tem medo do barro, porque vê nele a possibilidade de criar algo novo. Neste Natal, a Palavra continua a encarnar-se nas nossas vidas.

A gestação do vídeo

A realização do vídeo não foi apenas uma questão profissional para Lucía, mas também uma questão profundamente pessoal, uma vez que perdeu a sua avó nas cheias. "Foi muito difícil. No início, estava doente por causa do impacto emocional, mas depois decidi sair e ajudar na limpeza. Precisava de fazer algo pelos outros.

Um momento-chave no processo criativo ocorreu quando regressou a casa depois de um dia de lama a ajudar as pessoas afectadas pelo furacão: a sua mãe, uma ceramista, estava a trabalhar num presépio de barro. "Aquela imagem marcou-me. No meio do caos, vi como a lama podia ser transformada em algo cheio de vida e esperança". Inspirada por esta experiência, Lúcia começou a pesquisar o simbolismo do barro na Bíblia e na teologia.

Pouco tempo depois, recebeu a encomenda do vídeo de Natal. Na sua busca de inspiração, deparou-se com o artigo "Un Dios que se embarra", do Professor Leopoldo Quílez, da Faculdade de Teologia da sua universidade. "Lê-lo foi uma revelação. Ajudou-me a relacionar a fragilidade do barro com o escândalo do nascimento de Cristo num estábulo. Agradece também o vídeo "Os jovens desfilam na lama", realizado pela produtora Ongaku para o Opus Dei.

Todos nós temos uma DANA interior

Reflectindo sobre o resultado, Lúcia explica que este ano compreendeu o Natal de uma forma nova: "A nossa fé é um escândalo. É aceitar a indefensabilidade, a fragilidade, o facto de Deus ter escolhido nascer num estábulo lamacento para se encarnar e nos salvar". Na sua opinião, a lama torna-se um símbolo universal do sofrimento humano: "Todos nós temos uma DANA na nossa vida, uma dor próxima de nós. Mas quando se encontra o rosto de Deus, é possível lidar com ela. Esta é a principal aprendizagem que tive desde a trágica inundação.

Numa época em que a esperança parece escassa, esta peça é um lembrete de que a verdadeira luz brilha mesmo nos lugares mais lamacentos. O Natal, afinal, não é mais do que isso: a certeza de que Deus se aproxima, não do mundo perfeito, mas das nossas vidas tal como elas são, com a sua lama e a sua beleza. Este vídeo é um bom enquadramento para nos introduzir na Jubileu que começa na próxima semana e tem como tema a Esperança.

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Notícias

Hans Zimmer oferece o melhor da sua música aos pobres num concerto no Vaticano

No dia 7 de novembro, realizou-se na Sala Paulo VI o tradicional concerto para os pobres, uma iniciativa que se tornou parte integrante do calendário de Natal do Vaticano.

Relatórios de Roma-16 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

O "Concerto com os Pobres" nasceu em 2015 sob a direção artística do compositor e maestro Monsenhor Marco Frisina. Desde a sua criação, teve a bênção do Papa Francisco, que o descreveu como "um belo momento para partilhar com os nossos irmãos e irmãs a beleza da música que une os corações e eleva o espírito".

Na sua quinta edição, o evento acolheu três mil pessoas carenciadas no Vaticano, combinando arte e solidariedade. Este ano, o célebre compositor de cinema Hans Zimmer iluminou o palco com interpretações das suas obras mais emblemáticas. "É essencial olhar nos olhos dos mais desfavorecidos e tratá-los como irmãos e irmãs", afirmou.


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Livros

Pablo Blanco: "O interesse por Bento XVI está a aumentar, especialmente entre os jovens".

Por ocasião do centenário do nascimento de Joseph Ratzinger, o seu biógrafo Pablo Blanco apresenta o primeiro volume de uma biografia crítica que se debruça sobre a sua vida e o seu pensamento inicial, fornecendo um contexto histórico, cultural e teológico.

Javier García Herrería-16 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No âmbito do centenário do nascimento de Joseph Ratzingero seu mais conhecido biógrafo em língua espanhola publica o primeiro volume de uma biografia crítica que combina crónica e ensaio. Para além de relatar uma série de acontecimentos, centra-se na sua vida e no seu pensamento durante os primeiros anos da sua carreira. Para compreender melhor o "Papa do logos", conhecido pela sua ênfase na razão e na palavra, falámos com Pablo Blanco sobre esta nova obra.

O que é que esta nova biografia de Bento XVI acrescenta às que escreveu anteriormente?

Fornece mais informação, cruzada com outras fontes, razão pela qual lhe chamei "crítica", bem como muito contexto para uma melhor compreensão do biógrafo: sobre a história das ideias na Alemanha, cultura, literatura, filosofia e teologia. Penso que pode ser um novo instrumento para uma melhor receção da figura e do pensamento de Joseph Ratzinger / Bento XVI. Até agora, na minha opinião, temos estado muito condicionados pela proximidade, de modo que a sua personalidade tem despertado filias ou fobias de uma forma algo temperamental. Penso que chegou a altura de o compreender no seu contexto e com uma certa distância histórica.

Como serão os próximos três volumes?

-Para já, a editora programou: "De Tübingen a Roma (1966-2005)", "O início do pontificado (2005-2010) e "O fim do pontificado e a demissão (2010-2022)". Mas será preciso algum tempo, pois um certo distanciamento crítico é sempre útil. Este primeiro volume trata da primeira parte da sua vida: as terras da Baviera e da Alemanha, a sua infância e adolescência, a sua formação e a sua participação no Concílio Vaticano II. Tudo isto me ajudou a compreender melhor a sua personalidade, o seu pensamento e a sua teologia.

A frase emblemática de João Paulo II foi "Não tenhais medo". Qual acha que será a frase que marcará o pontificado de Bento XVI? 

-Comentando esta frase do Papa polaco, Bento XVI disse: "Deus dá tudo e não tira nada". Penso que isso resume bem a sua vida e a sua vocação: como se deixou conduzir por Deus, sem confiar demasiado nas suas próprias possibilidades. É por isso que ele se define como "um humilde trabalhador na vinha do Senhor". Penso que é um bom autorretrato, uma boa definição de si próprio.

Passados dois anos sobre a sua morte, continuamos a assistir à publicação de textos inéditos de Joseph Ratzinger. Quanto do seu pensamento e da sua reflexão precisamos ainda de conhecer? Será ele um dos autores fundamentais para a Igreja do futuro?

-A sua aceitação e interesse estão a aumentar, especialmente entre os jovens. Fico impressionado com o entusiasmo que suscita ao longo dos anos. Há muitos dias que recebo mensagens electrónicas de pessoas interessadas num ou noutro assunto, em que talvez eu seja mais ou menos competente. Não sei, o tempo o dirá, mas parece-me que estamos perante uma das grandes figuras desta mudança de milénio.

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Cultura

Será ela a Virgem Maria palestiniana?

As redes sociais criticam o facto de o papel principal do filme "Maria" ser desempenhado por uma atriz judia israelita. No entanto, na altura, Judeia era o nome comum da região.

José M. García Pelegrín-16 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Foi desencadeada uma campanha contra o filme. "Maria O filme tem sido um enorme sucesso nas redes sociais porque tanto o papel principal como o papel de José são interpretados por jovens actores judeus, Noa Cohen e Ido Tako, que partilham o ecrã com o famoso ator britânico Anthony Hopkins, que interpreta o Rei Herodes.

Os críticos acusam os realizadores de ignorar a "identidade palestiniana" dos pais de Jesus. Consideram este facto particularmente escandaloso no contexto da ofensiva das forças israelitas sobre a Faixa de GazaNo entanto, foi iniciada após o assassinato de 1200 pessoas e o rapto de 251 reféns pelos terroristas do Hamas.

"É profundamente ofensivo que uma atriz israelita faça o papel de Maria, a mãe de Jesus, enquanto Israel comete genocídio contra os palestinianos, matando algumas das mais antigas comunidades cristãs do mundo e destruindo os seus monumentos culturais", lê-se num post. "A Netflix pensou que seria uma boa ideia escolher uma [israelita] para representar a Mãe Maria enquanto bombardeiam a pátria de Jesus e todas as igrejas", critica outro utilizador. Outro comentário é ainda mais duro: "Um filme sobre uma mulher palestiniana interpretado por actores do Estado colonizador que está atualmente a cometer assassínios em massa de mulheres palestinianas. Que audácia nojenta. Israel rejeita firmemente todas as acusações de genocídio.

As chaves da Bíblia

Mas será verdade que Maria e José eram palestinianos? A invocação "Rainha da Palestina", por exemplo, pode contribuir para uma certa confusão: a Ordem do Santo Sepulcro celebra a festa de "Nossa Senhora, Rainha da Palestina" no dia 25 de outubro, como indica o calendário litúrgico do Patriarcado Latino. Maria foi mencionada pela primeira vez com este título pelo Patriarca Luigi Barlassina (1920-1947), por ocasião da sua entrada solene na Igreja do Santo Sepulcro e da consagração da diocese a Maria, a 15 de julho de 1920.

No entanto, o nome "Palestina" não aparece nos Evangelhos. Herodes é referido como o "rei da Judeia" (Lucas 1,5). Belém está em território "judaico": "Também José partiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a terra da Judeia, para a cidade de David, chamada Belém, porque era da casa e da linhagem de David" (Lucas 2,4). Pilatos mandou colocar na cruz a inscrição "I.N.R.I." em hebraico, grego e latim: Jesus como "Rex Judaeorum" (Rei dos Judeus).

A terra "entre o rio e o mar" reivindicada hoje pelos palestinianos, a zona a oeste do rio Jordão, era conhecida como a "Terra de Canaã" antes da imigração dos israelitas. Além disso, os povos que aí viviam não formavam uma unidade política, mas estavam organizados em cidades-estado que actuavam de forma independente. Após a conquista da terra por Josué, passou a ser conhecida como "Terra de Israel", nome que também é usado no Novo Testamento, embora nessa altura fosse uma província do Império Romano.

Quer o nome "Palestina" provenha dos "filisteus", como escreve Flávio Josefo, quer Heródoto (que morreu por volta de 425 a.C.) tenha usado o termo, este nome não era conhecido nem de uso comum na época romano-bíblica, ou seja, durante a vida de Maria e José. Após a morte de Herodes "o Grande", em 4 a.C., o seu reino foi dividido. No tempo de Jesus, a região era uma província romana chamada Judeia, administrada por um funcionário do governo, entre os quais Pôncio Pilatos.

Só depois da revolta judaica de Bar Kochba, em 132-135 d.C., sob o domínio de Adriano, quando o povo filisteu já tinha desaparecido, é que o imperador mudou o nome de "Judeia" para "Palestina" (na realidade, "Síria Palestina"), como sinal da sua política anti-judaica de assimilação dos judeus ao Império Romano. No entanto, desde a época romana, o nome deixou de ter qualquer significado político. Não existe nenhuma nação histórica com este nome. Durante séculos, "Palestina" foi utilizado como um termo geográfico sem fronteiras claras. Era também chamada "Surya al-Janubiyya" (Síria do Sul) porque fazia parte da Síria geográfica, como explica o académico palestiniano Muhammad Y. Muslih em "As Origens do Nacionalismo Palestiniano". Até à Primeira Guerra Mundial, a região pertencia ao Império Otomano e estava dividida em várias províncias e províncias. Nunca constituiu uma unidade administrativa.

O realizador de "Maria", D.J. Caruso, não comentou diretamente o debate, mas foi pragmático, dizendo à Entertainment Weekly: "Era importante para nós que Maria, tal como a maioria dos nossos actores principais, fosse de Israel para garantir a autenticidade.


Esta é uma tradução de um artigo que apareceu pela primeira vez no sítio Web Die-Tagespost. Para consultar o artigo original em alemão, ver aqui . Republicado em Omnes com autorização.

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Vaticano

Francisco: "Há o risco de que a piedade popular se limite a aspectos exteriores, sem conduzir ao encontro com Cristo".

O Papa Francisco visitou a cidade de Ajaccio, na ilha da Córsega, no âmbito da sua missão pastoral no Mediterrâneo. Durante a sua breve estadia, o Santo Padre transmitiu uma mensagem forte centrada na fé, no cuidado mútuo e na esperança.

Javier García Herrería-15 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Este domingo, 15 de dezembro, o Papa Francisco efectuou uma importante visita pastoral à cidade de AjaccioO Papa esteve na Córsega, onde cumpriu um intenso programa de actividades. Após a receção oficial no aeroporto, no início da manhã, o Papa encerrou o Congresso "Religiosidade Popular no Mediterrâneo".

Ao meio-dia, rezou o Angelus na catedral e encontrou-se com bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas para lhes dirigir palavras de encorajamento na sua missão pastoral. Depois do almoço, no início da tarde, celebrou a Santa Missa na Place d'Austerlitz, uma Eucaristia ao ar livre onde milhares de fiéis se reuniram para acompanhar o Papa.

Palavras no Angelus

Dirigindo-se aos religiosos e às pessoas consagradas na Catedral de Santa Maria Assunta, o Papa disse: "Estou aqui na vossa bela terra apenas por um dia, mas queria pelo menos um breve momento para vos encontrar e saudar. Isto dá-me a oportunidade, antes de mais, de vos dizer obrigado. Obrigado porque estais aqui, com a vossa vida dedicada; obrigado pelo vosso trabalho, pelo vosso empenho quotidiano; obrigado por serdes sinal do amor misericordioso de Deus e testemunhas do Evangelho.

O Santo Padre sublinhou a importância de reconhecer a fragilidade como uma força espiritual. Num contexto europeu cheio de desafios para a transmissão da fé, exortou a não perder de vista o papel central de Deus: "Não nos esqueçamos disto: no centro está o Senhor. Não sou eu que estou no centro, mas Deus". Recordou também aos consagrados a necessidade de permanecerem em constante discernimento e a renovação espiritual, sublinhando que "a vida sacerdotal ou religiosa não é um 'sim' que tenhamos pronunciado de uma vez por todas".

O Papa fez dois convites fundamentais: "cuidai de vós mesmos e cuidai dos outros". Insistiu na importância da oração quotidiana, da reflexão pessoal e da fraternidade entre os religiosos como pilares de uma vida espiritual sólida e de um ministério eficaz. Sublinhou também a urgência de encontrar novas formas pastorais para levar o Evangelho aos corações necessitados: "Não tenhais medo de mudar, de rever velhos modelos, de renovar a linguagem da fé".

Encerramento do congresso

Durante o congresso, foi sublinhado que a piedade popular tem a capacidade de transmitir a fé através de gestos simples e de linguagens simbólicas, enraizadas na cultura do povo. A sua importância foi sublinhada em contextos onde a prática religiosa está em declínio: "A piedade popular atrai e envolve as pessoas que estão no limiar da fé, permitindo-lhes descobrir nela experiências, raízes e valores úteis para a vida".

No entanto, foram também sublinhados os riscos que podem surgir, como a sua redução a aspectos exteriores ou folclóricos, e foi feito um apelo ao discernimento pastoral: "Há o risco de que as manifestações de piedade popular não conduzam ao encontro com Cristo; ou que se contaminem com "aspectos e crenças fatalistas ou supersticiosas". Outro risco é que a piedade popular seja utilizada ou explorada por grupos que procuram reforçar a sua própria identidade de forma polémica, alimentando particularismos, antagonismos e posições ou atitudes de exclusão. Tudo isto não corresponde ao espírito cristão da piedade popular e desafia-nos a todos, em particular os pastores, a estar atentos, a discernir e a promover uma atenção contínua às formas populares de vida religiosa".

Secularismo sem secularismo

Outro ponto central do discurso foi a relação entre a fé e a sociedade. Foi sublinhado que, no contexto atual, a abertura entre crentes e não crentes é fundamental: "Os crentes estão abertos a viver a sua fé sem a impor, enquanto os não crentes trazem no coração uma grande sede de verdade e de valores fundamentais". Este diálogo é essencial para construir uma "cidadania construtiva" que promova o bem comum.

Foi também defendido um "secularismo saudável", tal como proposto por Bento XVI, em que a religião e a política colaboram sem instrumentalização ou preconceito: "Um secularismo saudável garante que a política não instrumentaliza a religião e que a religião pode ser vivida livremente sem interferência política".

Vocações

Casamento missionário: "Deus tem um projeto de salvação para cada pessoa".

Beatriz e Miguel são um casal em missão em Manchester. O velho continente precisa do testemunho de famílias cristãs que mostrem a beleza da fé e a fecundidade da vida familiar.

Beatriz e Miguel-15 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O meu nome é Beatriz, sou casada com Miguel, temos quatro filhos e nove no céu. O meu único objetivo ao falar da minha experiência de família e de casamento católicos é poder dar glória a Deus e tornar o seu amor presente no meio desta sociedade secularizada. Não está na moda falar de Deus, sem
Mas para nós, a vida sem Deus não teria sentido.

Nasci no seio de uma família católica, sou o segundo de quatro irmãos, os meus pais, a certa altura das suas vidas, conheceram o Via Neocatecumenal através da catequese que receberam na paróquia. Desde então, têm vivido a sua fé numa comunidade onde puderam experimentar o amor de Deus nas suas vidas.

Uma fé de pai para filho

Isto foi fundamental para mim porque, graças ao Caminho Neocatecumenal, os meus pais transmitiram-nos a fé através de uma liturgia doméstica, rezando juntos em família, ajudando-nos e ensinando-nos - tanto a mim como aos meus irmãos - o imenso amor que Deus tem por nós. Como Ele acontece nas nossas vidas, a importância de receber os sacramentos, vendo também que Deus está presente quando surgem problemas ou dificuldades.

E esta fé, que tanto o meu marido como eu recebemos dos nossos pais, é o que, por sua vez, transmitimos aos nossos filhos, para que seja transmitida de geração em geração.

Foram os meus pais que me convidaram a ouvir estas mesmas catequeses. Embora na minha adolescência fosse um pouco rebelde, graças à sua perseverança e oração, escutei estas catequeses. A partir desse momento, começou a minha experiência pessoal no caminho da fé, onde pude ter um encontro profundo com o Senhor. Cresci e amadureci na fé, fazendo parte de uma comunidade na qual o Senhor me mostrou claramente a minha vocação: chamava-me a formar um matrimónio cristão.

Conheci o Miguel, o meu marido, na comunidade, e começámos um namoro em que nos fomos conhecendo.

Dificuldades conjugais

Apesar das nossas boas intenções de formar uma família cristã, os primeiros anos de casamento não foram fáceis: as nossas diferenças apareceram. Sem o amor de Deus, é impossível morrer para o nosso "eu", para a nossa razão, e passar para o outro. Mas, ao longo deste caminho de fé, Deus mostrou-nos o seu amor, através dos sacramentos, iluminando a nossa vida à luz da sua palavra. Vimos a ação do Espírito Santo dando-nos a graça da reconciliação e do perdão quando precisamos.

Quando uma pessoa é baptizada, recebe a fé. Isto significa que tem a vida eterna dentro de si. O Espírito Santo desce sobre ele e entra nele. Esse Espírito dá-nos o fruto da ação de Cristo, que é a ressurreição dos mortos e dá-nos a vida eterna, que nos dá a capacidade de perdoar. Esta imensa graça foi-nos dada a conhecer na Igreja, na comunidade. Foi essencial para o nosso casamento e transmitimo-la aos nossos filhos: Cristo venceu a morte, para que um problema no casamento, uma doença ou mesmo a morte de um ente querido não nos destrua.
porque tendes a vida eterna dentro de vós.

Durante todos estes anos de casamento, vimos como Deus tem um plano de salvação para cada um de nós na nossa vida concreta. A nossa missão é conduzir os nossos filhos num caminho para o céu, para que também eles possam descobrir o amor de Deus nas suas vidas, para que, perante o sofrimento e a perseguição, Deus não os abandone.

Deus tem um plano de salvação

Na nossa família passámos por momentos muito difíceis, como a morte da nossa filha Marta aos três meses e meio de idade. Perante este acontecimento doloroso, pudemos experimentar o imenso amor e consolação de Deus, que nos mostrou que não era o fim da nossa filha, mas o início da sua vida eterna, e do céu intercede por todos nós. Oito outros filhos foram abortos espontâneos, nos quais também vimos a consolação de Deus como um pai que nos ama e nunca nos abandonou.

É esta a nossa missão com os nossos quatro filhos, a que estamos a viver agora: que recebam a fé, que descubram que Deus os ama profundamente.

O autorBeatriz e Miguel

O matrimónio em missão do Caminho Neocatecumenal.

Argumentos

Isaías e Advento: o mistério da Encarnação

O autor propõe para cada semana do Advento um versículo-chave do livro de Isaías, a fim de captar a essência da mensagem deste tempo litúrgico e de facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do coração de Cristo.

Rafael Sanz Carrera-15 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Durante o tempo litúrgico do Advento, três figuras bíblicas destacam-se de forma especial: o profeta IsaíasJoão Batista e Maria de Nazaré. Nesta reflexão, centrar-nos-emos na figura de Isaías. Desde a antiguidade, uma tradição universal reservou às suas palavras muitas das primeiras leituras deste tempo. Talvez porque, nele, a grande esperança messiânica ressoa com uma força única, oferecendo um anúncio perene de salvação para a humanidade de todos os tempos.

Ao contemplarmos as leituras para o tempo de Advento deste ano (ciclo C), apercebemo-nos da presença abundante de Isaías. Embora possa parecer ambicioso, tenciono selecionar, para cada semana do Advento, um dos textos que nos são propostos, juntamente com um versículo-chave. Desta forma, espero captar a essência da mensagem do Advento e facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do seu coração.

Terceira semana do Advento

Nesta terceira semana do Advento, encontramos duas leituras-chave de Isaías:

  • Domingo (Salmo): Isaías 12, 2-6 - Ação de graças pela salvação que Deus oferece.
  • Sexta-feira: Isaías 7, 10-14 - Anúncio do nascimento do Emanuel, "Deus connosco".

Profecia e versículo-chave (3ª semana)

Dos dois textos de Isaías que são lidos na terceira semana do Advento, Isaías 7,10-14 destaca-se pela sua especial relevância. Esta passagem contém uma das mais significativas profecias messiânicas do Antigo Testamento, antecipando a vinda do Emanuel: "Porque o Senhor vos dará um sinal por sua própria causa. Eis que a virgem está grávida e vai dar à luz um filho, a quem chamará Emanuel" (Is 7,14).

Razões para a escolha da profecia e do versículo.

  1. Profecia messiânica do nascimento virginal. Esta passagem contém uma das mais importantes profecias messiânicas do Antigo Testamento. A promessa de um menino nascido de uma virgem, chamado "Emanuel" ("Deus connosco"), aponta diretamente para o nascimento de Jesus Cristo. Este cumprimento reflecte-se no Novo Testamentoonde Mateus 1, 22-23 cita este versículo para mostrar que o nascimento virginal de Jesus é o cumprimento da profecia de Isaías.
  2. Cumprimento em Jesus. A profecia do nascimento virginal em Isaías 7, 14 cumpre-se na Encarnação de Jesus. Mateus 1, 22-23 cita explicitamente este versículo para mostrar que o nascimento de Jesus da Virgem Maria é o cumprimento desta antiga profecia. O nascimento virginal é importante para realçar a natureza divina de Cristo.
  3. Emmanuel, Deus connosco. A promessa do Emanuel, "Deus connosco", indicava que o próprio Deus viria habitar com o seu povo. Em Jesus, Deus não só actua do alto, mas torna-se presente no meio da humanidade para a redimir. Esta verdade ressoa profundamente no Advento, que é um tempo de preparação para a celebração do nascimento de Cristo, o Emanuel.
  4. Necessidade de preparação. A profecia também salienta a necessidade de preparação espiritual para a vinda do Senhor.

Em suma, Isaías 7,14 é central porque profetiza o mistério da Encarnação, o acontecimento crucial do Advento. O sinal da Virgem e o nascimento de uma criança que trará a presença de Deus são centrais para a mensagem de salvação que o Natal celebra. Em Jesus Cristo, através do seu nascimento virginal e da sua identidade como Emanuel, Deus connosco, a profecia de Isaías cumpre-se, trazendo à humanidade o dom supremo da proximidade divina e da redenção.

O autorRafael Sanz Carrera

Doutor em Direito Canónico