Vaticano

"As palavras em oração podem moldar sentimentos".

O Papa Francisco garantiu à audiência geral que "a oração vocal é a oração mais segura e podemos sempre exercê-la".

David Fernández Alonso-21 de Abril de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
o papa na audiência

Foto: ©2021 Catholic News Service / U.S. Conference of Catholic Bishops.

O Papa Francisco começou a sua catequese reflectindo sobre o carácter dialógico da oração: "A oração é diálogo com Deus; e toda a criatura, num certo sentido, 'diálogos' com Deus. No ser humano, a oração torna-se palavra, invocação, canto, poesia... A Palavra divina tornou-se carne, e na carne de cada ser humano a palavra volta a Deus em oração".

As palavras moldam-nos

É através de palavras que expressamos o nosso eu interior. Portanto, explica Francisco, "as palavras são as nossas criaturas, mas são também as nossas mães, e de alguma forma moldam-nos. As palavras de uma oração conduzem-nos em segurança através de um vale escuro, dirigem-nos para prados verdes ricos em água, fazem-nos banquetear sob os olhos de um inimigo, como o salmo nos ensina a recitar (cf. Salmo 23). As palavras escondem sentimentos, mas há também o caminho oposto: as palavras moldam os sentimentos. A Bíblia educa o homem para que tudo saia à luz da palavra, para que nada do que é humano seja excluído, censurado. Acima de tudo, a dor é perigosa se permanecer coberta, fechada dentro de nós...".

As palavras de uma oração conduzem-nos em segurança através de um vale escuro, em direcção a prados verdes e águas ricas.

Papa Francisco

Por esta razão a Sagrada Escritura ensina-nos a rezar também com palavras por vezes ousadas: "Os escritores sagrados não nos querem enganar sobre o homem: sabem que nos seus corações também abrigam sentimentos pouco edificantes, até mesmo de ódio. Nenhum de nós nasce santo, e quando estes maus sentimentos batem à porta do nosso coração devemos ser capazes de os desarmar com a oração e com as palavras de Deus".

Também nos salmos encontramos expressões muito duras contra os inimigos: "expressões que os mestres espirituais nos ensinam a referir-nos ao diabo e aos nossos pecados, e são também palavras que pertencem à realidade humana e que acabaram no canal das Sagradas Escrituras. Estão lá para nos testemunhar que, se não existissem palavras perante a violência, para tornar inofensivos os maus sentimentos, para os canalizar de modo a que não prejudiquem, o mundo estaria completamente afundado".

A primeira oração humana

O Papa assegurou que "a primeira oração humana é sempre uma recitação vocal". Antes de mais, os lábios movem-se sempre. Embora, como todos sabemos, rezar não signifique repetir palavras, a oração vocal é no entanto a oração mais segura e é sempre possível exercitá-la. Os sentimentos, porém, por mais nobres que sejam, são sempre incertos: eles vêm e vão, deixam-nos e regressam. Não só isso, as graças da oração são também imprevisíveis: a dada altura, as consolações abundam, mas nos dias mais escuros parecem evaporar-se por completo.

A oração vocal é a mais segura e pode sempre ser exercida.

Papa Francisco

"A oração do coração é misteriosa e, em certos momentos, ausente. A oração dos lábios, aquela que é sussurrada ou recitada em coro, no entanto, está sempre disponível, e é tão necessária como o trabalho manual. O Catecismo afirma: "A oração vocal é um elemento indispensável da vida cristã. Aos discípulos, atraídos pela oração silenciosa do seu Mestre, é ensinada uma oração vocal: o "Pai Nosso"".

A humildade é fundamental para aqueles que querem estabelecer uma relação com Deus: "Todos devemos ter a humildade de certos idosos que, na igreja, talvez porque a sua audição já não é boa, recitam em meia voz as orações que aprenderam quando crianças, enchendo o corredor com sussurros. Esta oração não perturba o silêncio, mas testemunha a fidelidade ao dever da oração, praticada ao longo da vida, sem nunca falhar. Estas pessoas de oração humilde são frequentemente os grandes intercessores das paróquias: são os carvalhos que todos os anos espalham os seus ramos, para dar sombra ao maior número de pessoas. Só Deus sabe o quanto e quando o seu coração está unido a estas orações recitadas: certamente estas pessoas também tiveram de enfrentar noites e momentos vazios. Mas é sempre possível permanecer fiel à oração vocal.

A oração vocal desperta

Francisco recordou a história do peregrino russo: "Todos devemos aprender com a constância daquele peregrino russo, de quem fala uma famosa obra de espiritualidade, que aprendeu a arte da oração repetindo repetidamente a mesma invocação: 'Jesus, Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de nós pecadores' (cf. CCC, 2616; 2667). Se as graças entram na sua vida, se um dia a oração se torna suficientemente quente para perceber a presença do Reino aqui no nosso meio, se o seu olhar se transforma até se tornar como o de uma criança, é porque insistiu em recitar uma simples oração ejaculatória cristã. No final, torna-se parte da sua respiração".

A oração vocal desperta mesmo o coração mais adormecido; desperta sentimentos dos quais tínhamos perdido a memória.

Papa Francisco

Finalmente, concluiu que "não devemos, portanto, desprezar a oração vocal. As palavras que proferimos levam-nos pela mão; às vezes trazem de volta o sabor, despertam até o coração mais adormecido; despertam sentimentos dos quais tínhamos perdido a memória. E acima de tudo são os únicos, de uma forma segura, que dirigem a Deus as perguntas que Ele quer ouvir. Jesus não nos deixou numa névoa. Ele disse-nos: "Quando rezares, diz assim". E ensinou-nos a oração da Oração do Senhor (cf. Mt 6,9)".

Boletim informativo La Brújula Deixe-nos o seu e-mail e receba todas as semanas as últimas notícias curadas com um ponto de vista católico.
Banner publicitário
Banner publicitário