Vaticano

Diálogo inter-religioso e ecuménico, uma arma para desanuviar qualquer conflito

A recente viagem do Papa Francisco ao Bahrein partiu como um equilíbrio, um apelo ao diálogo, especialmente com o mundo muçulmano, e à unidade cristã. 

Antonino Piccione-9 de Novembro de 2022-Tempo de leitura: 5 acta
Papa Francisco Barém

O Papa Francisco no seu voo de regresso da sua viagem ao Bahrein ©CNS Photo

"Uma viagem de encontro porque o objectivo era precisamente estar em diálogo inter-religioso com o Islão e o diálogo ecuménico com Bartolomeu. As ideias apresentadas pelo grande Imã de al Azhar foram no sentido de procurar a unidade dentro do Islão, respeitando as diferenças, e a unidade com os cristãos e outras religiões".

No seu voo de regresso do Bahrein, respondendo a perguntas de jornalistas, o Papa Francisco fez um balanço da viagem apostólica que terminou no domingo, 6 de Novembro.

Uma viagem nascida do Documento de Abu Dhabi, cuja génese Bergoglio reconstrói, contando que no final de uma audiência no Vaticano o grande imã de Al Azhar o convidou para almoçar "e sentados à mesa pegámos no pão, partimo-lo e demos um ao outro". Foi um almoço fraternal e no final nasceu a ideia do Documento da Irmandade Humana assinado em 2019. Foi uma coisa de Deus, que saiu de um "almoço amigável".

O texto, revela o Pontífice, "foi para mim a base da Irmandade Humana". Creio que não se pode pensar num tal caminho sem uma bênção especial do Senhor neste caminho".
Já demos conta de as conclusões do Fórum sobre o diálogo com os líderes das diferentes confissões.

Recordemos agora outros destaques da visita: o abraço da comunidade católica com a Missa presidida por Francisco no Estádio Nacional do Bahrein, o encontro com os jovens na Escola do Sagrado Coração e, finalmente, com os bispos, o clero local, os consagrados, os seminaristas e os agentes pastorais.

"A fé não é um privilégio mas um dom a ser partilhado".

Na entrada da Catedral de Nossa Senhora da Arábia para o encontro ecuménico e oração pela paz, o Papa foi recebido por D. Paul Hinder, Administrador Apostólico do Vicariato Apostólico da Arábia do Norte. Aqui, na presença de representantes de outras denominações cristãs, o Pontífice expressou a sua consciência de que "o que nos une supera de longe o que nos separa, e que quanto mais andarmos segundo o Espírito, mais nos levará a desejar e, com a ajuda de Deus, a restaurar a plena unidade entre nós".

Daí o convite para dar testemunho. "O nosso não é tanto um discurso de palavras, mas uma testemunha a ser mostrada nos actos; a fé não é um privilégio a ser reivindicado, mas um dom a ser partilhado". Finalmente, o "distintivo cristão, a essência da testemunha": amar a todos.

No terceiro dia da viagem apostólica, Francisco celebrou a Missa pela manhã no Estádio Nacional do Bahrein. À tarde, encontrou-se com cerca de 800 jovens no Sacred Heart College, dirigindo três convites: "não tanto para vos ensinar alguma coisa, mas para vos encorajar".

Abraçai a cultura do cuidado", começou o Papa, "em primeiro lugar para vós próprios: não tanto para o exterior, mas para o interior, para a parte mais escondida e preciosa de vós, para a vossa alma, para o vosso coração". A cultura do cuidado, portanto, como "um antídoto para um mundo fechado e impregnado de individualismo, presa da tristeza, que gera indiferença e solidão".

Porque se não aprendermos a cuidar do que nos rodeia - dos outros, da cidade, da sociedade, da criação - acabamos por passar as nossas vidas como aqueles que correm, trabalham no duro, fazem muitas coisas, mas, no final, permanecem tristes e solitários porque nunca provaram plenamente a alegria da amizade e da gratuidade". O segundo convite: semeiam fraternidade e "serão colhedores do futuro, porque o mundo só terá um futuro em fraternidade". Estar perto de todos, sem fazer diferenças porque "as palavras não são suficientes: precisamos de gestos concretos feitos no dia-a-dia".

Finalmente, o último convite, para fazer escolhas na vida. "Como numa encruzilhada", sublinhou, "é preciso escolher, envolver-se, correr riscos, decidir. Mas isto requer uma boa estratégia: não se pode improvisar, viver por instinto sozinho ou de uma forma improvisada! Mas como podemos treinar a nossa "capacidade de escolha", a nossa criatividade, a nossa coragem, a nossa tenacidade, como podemos aguçar o nosso olhar interior, aprender a julgar situações, a compreender o que é essencial? Em "oração silenciosa", confiando na presença constante de Deus que "não te deixa sozinho, pronto a dar-te uma mão quando lhe pedires". Ele acompanha-nos e guia-nos. Não com maravilhas e milagres, mas falando gentilmente através dos nossos pensamentos e sentimentos".

"O essencial para um cristão é saber amar como Cristo".

Pela manhã, o Papa encontrou-se com a comunidade católica na Missa pela Paz e Justiça no Estádio Nacional do Bahrein. Cerca de 30.000 pessoas estavam presentes dos quatro países do Vicariato Apostólico da Arábia do Norte - Bahrain, Kuwait, Qatar e Arábia Saudita - mas também de outros países do Golfo e outros territórios.

Na sua homilia, Francisco tomou uma nota elevada, convidando os fiéis a reflectir sobre a força de Cristo: amor, exortando todos a "amar em seu nome, a amar como ele amou". E o que Cristo propõe "não é um amor sentimental e romântico", explicou o Papa, mas um amor concreto e realista, porque "ele fala explicitamente dos ímpios e dos inimigos". E a paz não pode ser restaurada, disse o Papa, se uma palavra má for respondida com uma palavra ainda pior, se uma bofetada for seguida de outra: não, "é necessário 'desactivar', quebrar a cadeia do mal, quebrar a espiral de violência, parar de criar ressentimentos, parar de reclamar e deixar de sentir pena um do outro". Mas o amor não é suficiente "se o limitarmos à esfera estreita daqueles de quem recebemos tanto amor".

O verdadeiro desafio, para serem filhos do Pai e construírem um mundo de irmãos e irmãs, é aprender a amar todos, mesmo o inimigo, e isto "significa trazer à terra o reflexo do Céu", acrescentou, "significa fazer cair sobre o mundo o olhar e o coração do Pai, que não faz distinções, não discrimina".
E esta capacidade", concluiu, "não pode ser apenas fruto dos nossos esforços, é sobretudo uma graça" que temos de pedir a Deus, porque muitas vezes trazemos muitos pedidos ao Senhor, mas isto é o essencial para o cristão, para saber amar como Cristo. Amar é o maior presente.

A última paragem foi uma visita, na manhã de domingo 6 de Novembro, à Igreja do Sagrado Coração de Manama, a igreja mais antiga do país, fundada em 1939. O Papa encontrou-se com agentes pastorais, que lhe deram um caloroso acolhimento.

Exortou-os a "construir firmemente o Reino de Deus no qual o amor, a justiça e a paz se opõem a todas as formas de egoísmo, violência e degradação". Em seguida, recorreu ao serviço entre mulheres prisioneiras, nas prisões, realizado pelas freiras.

Dirigindo-se ao Ministro da Justiça do Bahrein, presente na reunião como representante do governo, o Papa recordou: "Cuidar dos prisioneiros é bom para todos, como comunidade humana, porque é pela forma como os últimos são tratados que se mede a dignidade e a esperança de uma sociedade".

Finalmente, agradeceu ao Rei as magníficas boas-vindas que tinha recebido nos últimos dias, bem como àqueles que tinham organizado a visita. Num salão do complexo do Sagrado Coração, recebeu alguns dos fiéis de outras partes da região do Golfo como último acto da viagem, agradecendo-lhes pela sua testemunha.

No seu regresso a Roma após ter acompanhado o Papa Francisco ao país do Golfo, Miguel Angel Ayuso Guixot, Cardeal Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, expressou a sua satisfação pela continuidade das relações entre muçulmanos e cristãos e a importância do diálogo como "habilidade existencial". Uma oportunidade de encontro num mundo em conflito: "Diálogo, respeito mútuo, fraternidade e paz". Se queremos realmente caminhar nos caminhos da paz, devemos continuar a promover estes aspectos".

O autorAntonino Piccione

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