Vaticano

"Qual é para S. Paulo o papel da Lei?"

O Santo Padre reflectiu sobre o valor da Lei de acordo com a Carta aos Gálatas, sublinhando que "far-nos-ia bem perguntarmo-nos se ainda vivemos numa época em que precisamos da Lei, ou se estamos conscientes de ter recebido a graça de nos termos tornado filhos de Deus para viver no amor".

David Fernández Alonso-18 de Agosto de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
audiência papal

Foto: ©2021 Catholic News Service / U.S. Conference of Catholic Bishops.

O Papa Francisco realizou uma audiência geral na qual questionou o papel da "Lei" comentando a Carta de São Paulo aos Gálatas: "São Paulo ensinou-nos que os "filhos da Promessa" (Gal 4,28), através da fé em Jesus Cristo, não estão sob o vínculo da Lei, mas são chamados à dura forma de vida na liberdade do Evangelho. Mas a Lei existe. Portanto, na catequese de hoje, perguntamo-nos: qual é, segundo a Carta aos Gálatas, o papel da Lei? Na passagem que acabámos de ouvir, Paul argumenta que a Lei tem sido como um professor. É uma bela imagem, que merece ser compreendida no seu verdadeiro significado".

"O apóstolo", diz o Papa, "parece sugerir aos cristãos que dividam a história da salvação, e também a sua história pessoal, em dois momentos: antes de se tornarem crentes e depois de terem recebido a fé. No centro está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus, que Paulo pregou a fim de suscitar a fé no Filho de Deus, a fonte da salvação. Portanto, da fé em Cristo há um "antes" e um "depois" no que diz respeito à própria Lei. A história precedente é determinada por estar "sob a Lei"; a história seguinte é vivida seguindo o Espírito Santo (cfr. Gal 5,25). Esta é a primeira vez que Paulo usa esta expressão: estar "sob a Lei". O significado subjacente transporta a ideia de uma subjugação negativa, típica dos escravos. O Apóstolo torna-o explícito ao dizer que quando se está "sob a Lei" está-se como que "vigiado" ou "fechado", uma espécie de custódia preventiva. Desta vez, diz S. Paulo, durou muito tempo, e perpetua-se até se viver em pecado".

"A relação entre a Lei e o pecado será explicada mais sistematicamente pelo apóstolo na sua Carta aos Romanos, escrita alguns anos após a Carta aos Gálatas. Em suma, a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas conscientes do seu próprio pecado. Além disso, como ensina a experiência comum, o preceito acaba por encorajar a transgressão. Ele escreve na carta aos Romanos: "Pois quando estávamos na carne, as paixões pecaminosas, excitadas pela Lei, estavam a trabalhar nos nossos membros para dar frutos de morte. Mas agora fomos libertados da lei" (7,5-6). De uma forma lapidária, Paulo expõe a sua visão da Lei: "O aguilhão da morte é o pecado, e o poder do pecado é a Lei" (7,5-6).1 Cor 15,56)".

"Neste contexto", continua Francisco, "a referência ao papel pedagógico desenvolvido pela Lei assume todo o seu significado. No sistema escolar da antiguidade, o pedagogo não tinha a função que lhe atribuímos hoje, ou seja, a de apoiar a educação de um rapaz ou de uma rapariga. Nessa altura ele era um escravo que tinha a tarefa de acompanhar o filho do senhor até à casa do senhor e depois acompanhá-lo de volta a casa. Tinha de o proteger do perigo e velar por ele para que não se comportasse de forma inadequada. O seu papel era mais disciplinar. Quando o jovem se tornou adulto, o pedagogo cessou as suas funções.

"A referência à Lei nestes termos permite a São Paulo clarificar o papel que desempenhou na história de Israel. O Torá tinha sido um acto de magnanimidade da parte de Deus para com o seu povo. Certamente tinha tido funções restritivas, mas ao mesmo tempo tinha protegido o seu povo, educado, disciplinado e sustentado na sua fraqueza. É por isso que o apóstolo continua a descrever a fase da minoria: "Enquanto o herdeiro é menor, ele não difere em nada de um escravo, sendo senhor de todos, mas está sob tutores e mordomos até ao tempo designado pelo pai. Do mesmo modo, também nós, quando éramos menores, vivíamos como escravos sob os elementos do mundo" (Gal 4,1-3). Em suma, a convicção do apóstolo é que a Lei tem certamente a sua própria função positiva, mas é limitada no tempo. A sua duração não pode ser prolongada para além das medidas, porque está ligada à maturação dos indivíduos e à sua escolha de liberdade. Uma vez alcançada a fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade".

Em conclusão, o Papa Francisco salientou que "este ensino sobre o valor da lei é muito importante e merece ser cuidadosamente considerado de modo a não cair em mal-entendidos e dar passos falsos. Faríamos bem em perguntar-nos se ainda vivemos no tempo em que precisamos da Lei, ou se estamos conscientes de ter recebido a graça de nos termos tornado filhos de Deus para viver no amor".

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