Os pobres não são um número, mas um rosto que deve ser abordado, acolhido, apoiado económica e politicamente.
A exortação a não desviar o olhar dos que sofrem: as crianças em zonas de guerra, os que lutam para sobreviver, os trabalhadores obrigados a sofrer tratamentos desumanos com salários inadequados ou o peso da precariedade.
O olhar de uma pessoa pobre muda o rumo da vida de quem a encontra, mas é preciso ter a coragem de se colocar diante desses olhos e depois agir, ajudando no que a outra pessoa precisa.
Este é o coração do Mensagem do Papa Francisco para o 7º Dia Mundial dos PobresO evento está previsto para 19 de novembro.
No texto sobre o tema "Não desvieis os olhos dos pobres", faz-se referência ao Livro de Tobias e a uma interpretação da realidade que parte de reconhecer nos mais frágeis "o rosto do Senhor Jesus", para além da cor da pele, do estatuto social e da origem. Nele há um irmão a quem estender a mão, "sacudindo de nós a indiferença e a obviedade com que protegemos um bem-estar ilusório".
A realidade em que vivemos, sublinha o Papa, é marcada pelo volume excessivo do apelo à opulência e, portanto, pelo silenciamento das vozes dos pobres. "Há uma tendência para ignorar tudo o que não se enquadra nos modelos de vida destinados sobretudo às gerações mais jovens, que são as mais frágeis perante a mudança cultural que está a acontecer". O que causa sofrimento é posto entre parênteses, o físico é exaltado como um objetivo a atingir, a realidade virtual é confundida com a vida real.
"Os pobres", escreve o bispo de Roma, "tornam-se imagens que nos podem comover por alguns momentos, mas quando os encontramos em carne e osso na rua, então o aborrecimento e a marginalização apoderam-se de nós". No entanto, "o envolvimento pessoal é a vocação de cada cristão".
Há ainda muito trabalho a fazer para garantir uma vida digna a muitos, para assegurar que os Pacem in Terris de João XXIIIescrito há 60 anos, se torne realidade, "também através de um sério e efetivo empenho político e legislativo"!
Tirando partido da "solidariedade e subsidiariedade de tantos cidadãos que acreditam no valor do empenhamento voluntário a favor dos pobres" face aos fracassos da política ao serviço do bem comum.
O Santo Padre olha para os novos pobres. Para as crianças que vivem um presente difícil e vêem o seu futuro comprometido pela guerra. Ninguém - escreve - se pode habituar a esta situação; mantenhamos viva toda a tentativa para que a paz se afirme como dom do Senhor ressuscitado e fruto do empenhamento na justiça e no diálogo".
A proximidade do Papa estende-se também àqueles que, confrontados com "custos dramaticamente crescentes", são obrigados a escolher entre alimentos e medicamentos, daí o convite a erguer a voz para garantir o direito a ambos os bens, "em nome da dignidade da pessoa humana".
Manifestando a sua preocupação com os jovens - "quantas vidas frustradas e até suicídios de jovens, enganados por uma cultura que os leva a sentirem-se 'inacabados' e 'falhados'" - Francisco pede ajuda "para que cada um encontre o caminho a seguir para adquirir uma identidade forte e generosa".
Por isso, "a gratidão a tantos voluntários - pessoas capazes de escutar, de dialogar e de aconselhar - exige que se reze para que o seu testemunho seja frutuoso".
Para concluir, citando Santa Teresa do Menino Jesus, 150 anos depois do seu nascimento, Francisco recordou que "todos têm o direito de ser iluminados pela caridade que dá sentido a toda a vida cristã".
Entrevistado por vaticanews.va Não esqueçamos que o Papa nos transmite esta mensagem enquanto está numa cama de hospital e, portanto, partilha o sofrimento com tantos outros pobres", afirmou Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização. A mensagem que nos dá é muito atual porque, em primeiro lugar, diz-nos que é o testamento que um pai deixa ao seu filho e, portanto, há esta transmissão de conteúdos importantes que não podemos esquecer. E, entre eles, diz-nos que há uma atenção aos pobres, que não é uma atenção retórica. É uma atenção que toca cada pessoa, seguindo o exemplo de Jesus que respondia a cada doente que se aproximava dele e, portanto, às multidões, olhando para a profunda necessidade que tinham". Aqui, diante dos pobres, diz-nos o Papa, não há retórica (...) observou o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.
O Papa, continuou Fisichella, "provoca-nos mais uma vez a tocar o sentido profundo da vida. Não é por acaso que ele diz repetidamente que os pobres nos evangelizam. Esta expressão não significa outra coisa senão que os pobres nos fazem ver e tocar o essencial da vida".