O Relatório anual 2023 da Bula de S. Pedro, publicada nos últimos dias, aborda como sempre as actividades financeiras e caritativas da Santa Sé, mas revela como o ano passado foi marcado por alguns desafios económicos, continuando a registar a generosa solidariedade dos fiéis de todo o mundo.
No total, o documento atesta uma receita de 52 milhões de euros, dos quais 48,4 milhões de euros provêm de doações directas e 3,6 milhões de euros de receitas financeiras. No entanto, as despesas excederam largamente as receitas, que ascenderam a 109,4 milhões de euros. O resultado foi um défice de 57,4 milhões de euros, o que obrigou o fundo a retirar 51 milhões de euros do seu património para fazer face aos seus compromissos de solidariedade.
Os donativos ao Obole reflectem o carácter universal da Igreja Católica. As dioceses continuam a ser a principal fonte de contribuições (64,4 %), seguidas das fundações (28,8 %). Os Estados Unidos lideram o ranking dos países doadores com 13,6 milhões de euros, seguidos da Itália (3,1 milhões) e do Brasil (1,9 milhões). São igualmente significativas as contribuições de AlemanhaA presença da missão da Igreja no Sul, na Coreia do Sul e em França demonstra um compromisso verdadeiramente global com a missão da Igreja.
Projectos de caridade
Apesar das dificuldades financeiras, o Óbolo manteve o seu compromisso de apoiar obras de caridade. Em 2023, foram atribuídos 13 milhões de euros a 236 projetos em 76 países. África foi o principal beneficiário, recebendo 41,6 % dos fundos para projetos de ajuda direta, seguida da Ásia (21,4 %) e da Europa (18,5 %).
Especificamente, os projectos centraram-se em três áreas principais: extensão da presença evangelizadora (43 % dos fundos), com a construção de novas igrejas e estruturas pastorais em países como a Guatemala, a Tanzânia e a Albânia; projectos sociais (33 %), incluindo iniciativas como o apoio ao projeto "Hospitais Abertos" na Síria e programas de assistência a mulheres grávidas no México; e, finalmente, apoio a Igrejas locais em dificuldade (24 %), com o financiamento de actividades como a renovação de seminários e casas religiosas em países como o Congo, Angola e Sri Lanka.
Apoiar a missão apostólica
Um número significativo diz respeito ao apoio à missão apostólica do Santo Padre: 90 milhões de euros, ou seja, 24,% da despesa total dos Dicastérios e organismos do Vaticano (370,4 milhões), foram cobertos pela Obrigação.
Estes fundos contribuíram para várias áreas consideradas cruciais: 35 milhões para o apoio às Igrejas locais em dificuldade; 12 milhões para o culto e a evangelização; 11 milhões para a difusão da mensagem; 9 milhões para as nunciaturas apostólicas e 8 milhões para o serviço da caridade.
Impacto humanitário e desafios futuros
Através dos Dicastérios da Cúria Romana, o Papa Francisco doou um total de cerca de 45 milhões de euros para obras de caridade em 2023. No entanto, este compromisso contínuo para com os mais necessitados está a deparar-se com uma realidade financeira cada vez mais complexa. O défice registado também em 2023 levanta dúvidas sobre a sustentabilidade a longo prazo do atual modelo de financiamento.
De facto, a necessidade de recorrer aos activos para cobrir as despesas correntes pode obrigar a Santa Sé a rever as suas estratégias de angariação de fundos e a forma como distribui os recursos.
Transparência e confiança
Isto não invalida o facto de a publicação detalhada destes dados confirmar o desejo de transparência, permitindo aos crentes e aos benfeitores conhecer a utilização dos recursos. É também uma forma de manter e reforçar a confiança dos próprios doadores. Com o entendimento de que, à medida que a Igreja continua a responder às crescentes necessidades humanitárias em todo o mundo, será crucial equilibrar a generosidade com uma gestão financeira prudente para assegurar a continuidade da missão evangelizadora a longo prazo.