Vaticano

O Papa propõe o cultivo das virtudes: "O ser humano foi feito para o bem".

Na audiência desta manhã, o Papa iniciou um ciclo de catequeses dedicado às virtudes, depois de ter concluído o ciclo sobre os vícios na passada quarta-feira. Neste 11º aniversário da sua eleição como Papa, Francisco recordou que a virtude é um dom que pode ser cultivado através da nossa liberdade e das nossas escolhas quotidianas.

Loreto Rios-13 de março de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Papa Francisco durante a audiência de 13 de março de 2024 ©OSV

O Papa Francisco lançou hoje uma nova ciclo de catequese centrado nas virtudes. Por estar ainda um pouco constipado, como explicou no início da audiência, a catequese foi lida por um dos seus colaboradores, Monsenhor Pierluigi Giroli.

A leitura proposta para a reflexão de hoje foi a carta de Paulo aos Filipenses, capítulo 4, versículos 8 e 9: "Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é digno de louvor, tudo o que é virtuoso ou louvável, tende em mente estas coisas. Tudo o que aprendestes, tudo o que recebestes, tudo o que ouvistes, tudo o que vistes em mim, ponde-o em prática. E o Deus da paz estará convosco".

Nesta base, Francisco começou por explicar que, "concluída a panorâmica dos vícios, chegou o momento de voltar o olhar para a imagem daquilo que se opõe à experiência do mal. O coração humano pode entregar-se a paixões más, pode prestar atenção a tentações nocivas, disfarçadas com roupagens sedutoras, mas pode também opor-se a tudo isto".

Porque, sublinhou o Pontífice, "os seres humanos são feitos para o bem" e "podem praticar esta arte tornando permanentes certas disposições".

Virtude e filosofia clássica

Nesta linha, Francisco recordou que esta reflexão "sobre esta nossa maravilhosa possibilidade" remonta a tempos anteriores ao cristianismo, uma vez que o tema das virtudes "constitui um capítulo clássico da filosofia moral". Por um lado, "os filósofos romanos chamavam-lhe 'virtus'", enquanto a palavra grega era "areté".

O Papa explicou ainda que "o termo latino sublinha sobretudo que a pessoa virtuosa é forte, corajosa, capaz de disciplina e ascese. Por isso, o exercício da virtude é o fruto de uma longa germinação que exige esforço e até sofrimento". Por seu lado, a palavra grega "indica algo que se destaca, algo que sobressai, algo que suscita admiração. A pessoa virtuosa é, portanto, aquela que não se desnatura deformando-se, mas que é fiel à sua própria vocação, que realiza plenamente o seu ser".

Redescobrir a imagem de Deus em nós

Por isso, o Papa sublinhou que a santidade é possível e está ao alcance de todos: "Estaríamos enganados se pensássemos que os santos são excepções à humanidade, uma espécie de círculo restrito de campeões, que vivem para além dos limites da nossa espécie. Os santos, nesta perspetiva que acabámos de introduzir sobre as virtudes, são, pelo contrário, aqueles que querem ser plenamente eles mesmos, que realizam a vocação própria de cada ser humano. Que mundo feliz seria se a justiça, o respeito, a benevolência mútua, a largueza de coração e a esperança fossem a normalidade comum e não uma rara anomalia".

O Pontífice sublinhou que é importante que o caminho da virtude, "nestes tempos dramáticos em que muitas vezes encontramos o pior do que é humano", "seja redescoberto e praticado por todos", porque "num mundo deformado devemos recordar a forma em que fomos moldados, ou seja, a imagem de Deus que está para sempre impressa em nós".

O que é a virtude?

Francisco reflectiu depois sobre a definição de virtude, explicando que o catecismo indica que "a virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem". Por isso, o Papa sublinhou que a virtude "não é um bem improvisado ou algo casual que cai do céu episodicamente. A história diz-nos que até os criminosos, num momento de lucidez, praticaram boas acções. Certamente que essas acções estão escritas no livro de Deus, mas a virtude é outra coisa. É um bem que nasce de um lento amadurecimento da pessoa, até se tornar uma caraterística interior. A virtude é um habitus de liberdade. Se somos livres em cada ato, e cada vez que somos chamados a escolher entre o bem e o mal, a virtude é o que nos permite ter um habitus para a escolha certa".

Mas como é que se adquire este dom da virtude? O Papa Francisco admitiu que a "resposta a esta pergunta não é simples, mas complexa".

Graça e ascese

A primeira ajuda com que podemos contar é "a graça de Deus". De facto, o Espírito Santo actua em nós, baptizados, trabalhando na nossa alma para a conduzir a uma vida virtuosa. Quantos cristãos chegaram à santidade através das lágrimas, quando se aperceberam de que não podiam vencer certas fraquezas", explicou o Papa. "Mas experimentaram que Deus completou aquela boa obra que para eles era apenas um esboço. A graça precede sempre o nosso empenhamento moral".

O Papa recordou também a importância da tradição, "a sabedoria dos antigos", "que nos diz que a virtude cresce e pode ser cultivada".

Para isso, "o primeiro dom do Espírito a pedir é precisamente a sabedoria. O ser humano não é um território livre para a conquista dos prazeres, das emoções, dos instintos, das paixões", mas "um dom inestimável que possuímos é (...) a sabedoria que sabe aprender com os erros para dirigir bem a vida". Por outro lado, "é necessária a boa vontade, a capacidade de escolher o bem" através do "exercício ascético, evitando os excessos".

Rezar pelo fim da guerra

O Papa convidou-nos a iniciar "a nossa viagem através das virtudes neste universo sereno que é um desafio, mas decisivo para a nossa felicidade".

Para concluir a audiência, vários leitores leram um resumo da catequese em diferentes línguas. O Papa pediu-nos para "perseverar na oração" pelo fim da guerra e contou que hoje lhe foi entregue um terço e um Evangelho com o qual rezou um jovem soldado que morreu na frente de batalha. O Papa lamentou a morte de tantos jovens e pediu que se reze ao Senhor para "vencer a loucura da guerra".

Depois de rezar o Pai-Nosso em latim, o Santo Padre deu a bênção apostólica, encerrando a audiência de hoje.

Boletim informativo La Brújula Deixe-nos o seu e-mail e receba todas as semanas as últimas notícias curadas com um ponto de vista católico.
Banner publicitário
Banner publicitário