Vaticano

O Papa promove uma teologia renovada com um motu proprio

Paloma López Campos-1 de novembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta
Francisco

A Sala Stampa anunciou na manhã de 1 de novembro que o Pontifícia Academia de Teologia tem novos estatutos. O Papa Francisco assinou o motu proprio "Ad Theologiam promovendam", aprovando o regime modificado desta sociedade científica.

Os novos estatutos visam garantir que a academia cumpra melhor o seu objetivo. O Santo Padre explica que "promover a teologia no futuro não pode limitar-se a repropor abstratamente fórmulas e esquemas do passado". A teologia é "chamada a interpretar profeticamente o presente e a discernir novos caminhos para o futuro". Para isso, "terá de se confrontar com as profundas transformações culturais" que a sociedade está a viver.

Renovar a teologia

À luz da nova era, o Papa Francisco quer promover "a missão que o nosso tempo impõe à teologia". O Pontífice considera que "para uma Igreja que é sinodalA chave para o conseguir é um "repensar epistemológico e metodológico" da teologia. A chave para alcançar este objetivo é um "repensar epistemológico e metodológico" da teologia.

No motu proprio, o Papa sublinha que a reflexão teológica "é chamada a uma viragem, a uma mudança de paradigma". Esta mudança favorecerá uma "teologia fundamentalmente contextual, capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que os homens e as mulheres vivem quotidianamente". Este repensar "não pode deixar de se desenvolver numa cultura de diálogo e de encontro entre diferentes tradições e diferentes saberes, entre diferentes confissões cristãs e diferentes religiões, confrontando abertamente todos, crentes e não crentes".

O Papa Francisco adverte que a teologia não pode ser autorreferencial. A teologia deve "ver-se como parte de uma rede de relações, antes de mais com outras disciplinas e outros saberes". Por outras palavras, tem de adotar a abordagem da transdisciplinaridade, ou seja, "a partilha e a fermentação de todos os saberes no espaço de Luz e Vida oferecido pela Sabedoria que brota da Revelação de Deus" (Constituição Apostólica "Veritatis gaudium"). Esta perspetiva tem outras consequências, pois "o diálogo com outros saberes pressupõe claramente o diálogo no seio da comunidade eclesial e a consciência da essencial dimensão sinodal e comunitária do fazer teológico".

Os novos estatutos da academia prevêem a colaboração de interlocutores-chave: académicos de diferentes confissões cristãs ou de outras religiões. Juntamente com eles, o objetivo é "identificar e abrir áreas e espaços de diálogo que favoreçam o diálogo inter e transdisciplinar".

Teologia: verdade e caridade

Para além do diálogo, Francisco acredita que a teologia deve estar impregnada de caridade. Ele afirma que "é impossível conhecer a verdade sem praticar a caridade". Por isso, a teologia deve mostrar-se como "um verdadeiro saber crítico como saber sapiencial, não abstrato e ideológico, mas espiritual, trabalhado de joelhos, cheio de adoração e oração". A reflexão teológica deve dirigir-se "às feridas abertas da humanidade e da criação e nas dobras da história humana, para as quais profetiza a esperança de uma realização única".

O Papa pede que a teologia seja desenvolvida com um "método indutivo". Convida-a a "partir dos diferentes contextos e situações concretas em que as pessoas se encontram, deixando-se interpelar seriamente pela realidade, para se tornar um discernimento dos 'sinais dos tempos'". Encoraja também a reflexão teológica a impregnar-se do "senso comum do povo".

Praticamente no final do motu proprio, Francisco detalha que "a teologia está ao serviço da evangelização da Igreja e da transmissão da fé". Graças a ela, a fé torna-se cultura, ou seja, "o 'ethos' sapiencial do povo de Deus, uma proposta de beleza humana e humanizadora para todos".

Reflexão comunitária

Considerando a missão renovada da teologia, "a Pontifícia Academia de Teologia é chamada a desenvolver, em constante atenção à natureza científica da reflexão teológica, um diálogo transdisciplinar com outros campos do saber". Deve abrir-se também um espaço para os contributos que podem ser dados no diálogo entre crentes e não crentes, entre "homens e mulheres de diferentes confissões cristãs e de diferentes religiões".

O Santo Padre convida-nos, portanto, a criar "uma comunidade académica de fé e de estudo partilhados, que tece uma rede de relações com outras instituições formativas, educativas e culturais e que sabe penetrar, com originalidade e espírito de imaginação, nos lugares existenciais da elaboração dos saberes, das profissões e das comunidades cristãs".

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