Vaticano

Francisco apela a "uma grande aliança espiritual e social" dos Gemelli

A recuperação pós-operatória do Papa Francisco no Hospital Gemelli é satisfatória. "Tudo está a correr muito bem", afirmam os médicos, que aconselharam o Santo Padre a rezar o Angelus este domingo em privado e a suspender a sua atividade pública até ao dia 18. No sábado, o Pontífice qualificou o Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana como "uma grande aliança espiritual e social".

Francisco Otamendi-12 de junho de 2023-Tempo de leitura: 4 acta
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"O Papa está bem, tudo está a correr muito bem", confirmou o Professor Sergio Alfieri, o cirurgião que operou o Papa na passada quarta-feira. Como diretor do Departamento de Ciências Médico-Cirúrgicas Abdominais e Endócrino-Metabólicas da Policlínica Gemelli, Alfieri explicou que "o Santo Padre aceitou o conselho médico e amanhã (domingo) rezará a oração do Angelus em privadoEstá espiritualmente unido, com afeto e gratidão, aos fiéis que desejam acompanhá-lo, onde quer que se encontrem. Demos-lhe uma sugestão médica, e ele decidiu-se.

O Santo Padre passou o fim de semana "entre o descanso e o trabalho" e "recebeu a Eucaristia", informou a Sala de Imprensa da Santa Sé. Foi na véspera da celebração da Solenidade da Corpus Christi em algumas cidades e países, embora noutros, como no Vaticano, tenha sido celebrado na quinta-feira. O Papa estava a recuperar da cirurgia a que foi submetido na quinta-feira.

Num discurso dirigido aos trinta laureados com o Prémio Nobel, a artistas de renome mundial como Andrea Bocelli, Al Bano, Amara e Roberto Bolle, e aos fiéis que participaram no Encontro Mundial Na sua homilia sobre a Fraternidade Humana, realizada na Praça de S. Pedro, o Papa Francisco apelou: "Sintamo-nos chamados a aplicar o bálsamo da ternura nas relações que se desgastaram, tanto entre as pessoas como entre os povos. Não nos cansemos de gritar "não à guerra", em nome de Deus e em nome de todos os homens e mulheres que aspiram à paz.

"Inviolabilidade da dignidade humana".

Numa mensagem para o evento do Vaticano, intitulada #Não está sozinho (não só), que foi lido pelo Cardeal Mauro Gambetti, Vigário do Papa para a Cidade do Vaticano e Presidente da Fundação Fratelli tutti, o Pontífice começou por dizer que "embora não vos possa receber pessoalmente, gostaria de vos dar as boas-vindas e agradecer-vos do fundo do coração pela vossa presença. Sinto-me feliz por poder reafirmar convosco o desejo de fraternidade e de paz para a vida do mundo".

O Papa prossegue afirmando: "Na Encíclica Fratelli tutti Escrevi que 'a fraternidade tem algo de positivo a oferecer à liberdade e à igualdade' (n. 103), porque quem vê um irmão vê no outro um rosto, não um número: é sempre 'alguém' que tem uma dignidade e merece respeito, não 'algo' a ser usado, explorado ou descartado". 

"No nosso mundo, dilacerado pela violência e pela guerra, não bastam os remendos e os ajustamentos", acrescentou Francisco, apelando, como já foi referido, a que "só uma grande aliança espiritual e social, nascida dos corações e em torno da fraternidade, pode recolocar no centro das relações a sacralidade e a inviolabilidade da dignidade humana". 

"É por isso que a fraternidade não precisa de teorias, mas de gestos concretos e de escolhas partilhadas que façam dela uma cultura de paz. A questão que devemos colocar-nos não é tanto o que a sociedade ou o mundo me podem dar, mas o que eu posso dar aos meus irmãos e irmãs", acrescentou.

"De regresso a casa", precisou o Pontífice, "pensemos no gesto concreto de fraternidade que podemos fazer: reconciliarmo-nos com a família, com os amigos ou com os vizinhos, rezar por aqueles que nos magoaram, reconhecer e ajudar os necessitados, levar uma palavra de paz à escola, à universidade ou à vida social, ungir com a nossa proximidade alguém que se sente só".

Ao escolher a fraternidade, as coisas mudam

O Papa também citou a parábola do Bom Samaritano, muito comum nas mensagens do Pontífice. "Penso na parábola do samaritano (cf. Lc 10, 29-37), que se detém com compaixão diante do judeu que precisa de ajuda. As suas culturas eram inimigas, as suas histórias diferentes, as suas religiões hostis uma à outra, mas para aquele homem a pessoa que encontrou na estrada e a sua necessidade estavam acima de tudo". 

Francisco sublinhou: "Quando as pessoas e as sociedades escolhem a fraternidade, mudam também as políticas: a pessoa tem precedência sobre o lucro; a casa comum que todos habitamos sobre o ambiente que é explorado para os nossos próprios interesses; o trabalho recebe um salário justo; o acolhimento torna-se riqueza; a vida torna-se esperança; a justiça abre-se à reparação e a memória do mal feito cura-se no encontro entre vítimas e culpados". 

No final, o Papa Francisco quis abraçar todos, mesmo que ontem não o tenha podido fazer fisicamente: "A partir desta noite que passámos juntos, peço-vos que guardeis nos vossos corações e nas vossas memórias o desejo de abraçar as mulheres e os homens do mundo inteiro para construirmos juntos uma cultura de paz. A paz precisa da fraternidade e a fraternidade precisa do encontro. Que o abraço dado e recebido hoje, simbolizado na praça onde estais reunidos, se torne um compromisso de vida. E uma profecia de esperança.

Cardeal Parolin: mensagem de diálogo e de paz

O Secretário de Estado da Santa Sé, Cardeal Pietro Parolin, na sua mensagem final, referiu-se ao diálogo e a negociação transparente: "Unidos ao Papa Francisco, queremos reafirmar que 'a verdadeira reconciliação não escapa ao conflito, mas realiza-se no conflito, superando-o através do diálogo e da negociação transparente, sincera e paciente' (Fratelli tutti, n. 244). Tudo isto no quadro da arquitetura dos direitos humanos". 

"Queremos gritar ao mundo em nome da fraternidade", prosseguiu: "Nunca mais a guerra! É a paz, a justiça, a igualdade que orientam o destino de toda a humanidade. Não ao medo, não à violência sexual e doméstica! Nunca mais conflitos armados. Nunca mais armas nucleares e minas terrestres. Chega de migrações forçadas, de limpezas étnicas, de ditaduras, de corrupção e de escravatura. Acabemos com a utilização manipuladora da tecnologia e da inteligência artificial, ponhamos em primeiro lugar o desenvolvimento tecnológico e fecundemo-lo com a fraternidade. Encorajamos os países a promoverem esforços conjuntos para criar sociedades de paz, como a criação de um Ministério para a Paz".

O autorFrancisco Otamendi

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